Little Anie - Cap. 94 | 3ª parte

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Little Anie

Parte Três 


[...]

Porque todas as pequenas coisas que você faz

São o que me lembram por que me apaixonei por você

E quando estamos separados e eu sinto sua falta

Eu fecho meus olhos e tudo que vejo é você

E as pequenas coisas que você faz [...]

                                 – Those Eyes | New West



Pov Lua 


Domingo, Texas – Estados Unidos | 10h depois.


20h35 (Texas) • 2h35 (Londres)


Nós acabamos de desembarcar no Aeroporto Internacional de Dallas/Fort Worth. Estamos aguardando as nossas malas. Adam já entrou em contato com o motorista que o Ryan disponibilizou para nos buscar no aeroporto e nos levar até o hotel onde ficaremos hospedados.


– O motorista disse que chega em quinze minutos mais ou menos. – Adam nos avisou.

– Estou com tanta fome. – Falei.

– Quer comer algo? – Hanna perguntou.

– Eu prefiro comer no hotel. Grávida não pode comer em qualquer lugar.

– Ainda mais em aeroportos. – Adam completou.

– De qualquer forma você só sabe que a procedência é segura na tua casa. – Ela comentou.

– A gente imagina que em hotel, ainda mais nesse que vamos ficar, deva ser também.


Nossas malas chegaram, pegamos e aguardamos mais alguns minutos pelo motorista.


No hotel


O quarto é bem grande e muito confortável. Eu imaginei que teriam duas camas de solteiro, já que dividirei o quarto com a Hanna, mas há duas camas de casal. O que é muito melhor. Nem me recordo da última vez que dormi em uma cama de solteiro.


Deixei a mala perto da cama que escolhi e sentei. Peguei o celular para ligar para o Arthur. Já passou das duas horas da madrugada em Londres, se ele não atender, eu nem vou ficar chateada. Já é bem tarde e ele pode facilmente estar dormindo.


No quarto toque ele atendeu.


Ligação ON


Minha garota… – Arthur falou assim que atendeu a ligação. Sorri. A voz dele está sonolenta. – Já chegou?

– Acabei de chegar no hotel. Você já estava dormindo? Sei que é de madrugada em Londres.

– Cochilando…

– Eu imaginei. Inclusive, pensei que você nem fosse atender. E eu não ficaria chateada.

– Hahaha… deixei o celular bem perto. Se você não ligasse, eu ia ligar. Ou você acha que eu ia conseguir dormir sem notícias suas?

– Chegamos bem. – Pontuei.

– Já comeu alguma coisa?

– Não. E estou com muita fome. – Contei. – No voo deram um lanche…

– Mas não foi o suficiente para uma grávida?

– Nenhum pouco. – Admiti e nós rimos. – Se você estivesse lá…

– Eu teria dado o meu para você.

– Sim, eu sei. – Fiz um bico mesmo que ele não estivesse vendo. Ouvi sua risada do outro lado da linha.

– Toma um banho, janta e depois descansa, loira. Você precisa. Amanhã com certeza o dia será bem corrido aí para vocês e você não está mais sozinha.

– Eu sei, Arthur. Está tudo bem. O bebê está bem.

– E a mamãe dele, hein?

– Eu também estou bem.

– Eu também me preocupo com você, Luh.

– Eu sei, amor. Mas estou bem, de verdade. Fica tranquilo. Não precisa se preocupar à toa.

– Não é à toa. Você é minha esposa, Luh. E eu me preocupo com você desde que namoramos.

– Hahaha… eu sei, Arthur. Eu sei… e agradeço. Mas você realmente precisa confiar em mim. Não vou mentir para você sobre o meu estado. Estou grávida, sei que você se preocupa muito mais agora.

– Ainda bem que você sabe. E eu confio demais em você. – Deixou claro. – Mas, mudando de assunto, gostou do quarto? É espaçoso?

– Sim, gostei. É bem confortável e muito espaçoso. Tem cama de casal.

– Vai dividir a cama com a Hanna?

– Não. São duas camas de casal. Estou te falando que o quarto é muuuuitoo espaçoso.

– Pelo menos parece que o chefe de vocês não é mão fechada.

– Você sabe que ele não é assim, Arthur. – revirei os olhos. – Não me diz que está com ciúmes? – Ri.

Ha-ha-ha… até parece! – Provavelmente ele também revirou os olhos.

– E a nossa filha? – Mudei de assunto.

– Está aqui. Hoje pediu para dormir na nossa cama. – Me contou.

– E deixa eu adivinhar… você deixou?

– Claro. Mas fizemos um trato.

– Um trato?

– Sim. Ela dormirá aqui uma noite sim e outra não, mas isso só enquanto você estiver fora.

Amor…

– É muito sério.

– Arthur, você sabe que esse trato é só seu. – Lembrei.

– Não, nada disso. Eu disse a ela para levar a sério.

– Nossa filha ainda é uma criança, Arthur, esqueceu?

– Óbvio que não. É importante que ela saiba levar a sério o que prometemos às pessoas. Você não vai discordar de mim.

– Pelo amor de Deus, Arthur. Eu nem estou aí, para início de conversa.

– Luh, você sabe exatamente do que eu estou falando.

– Quando foi que o assunto passou a ser sobre mim e não sobre o que vocês dois prometeram um ao outro? – Questionei.

– Você pode facilmente deixar ela dormir aqui na quinta-feira.

– E você não quer isso?

– Não vou responder.

– Hahaha… não quer se comprometer?

– Não quero me sentir um péssimo pai.

– Oh, amor, menos… não é para tanto, Arthur. – Pontuei. – Anie não vai contrariar o papai lindo dela.

Que debochada! – Ele riu e também me fez rir. – Ela sendo tua filha, o que mais faz é me contrariar.

– Para, Arthur. Não é bem assim… – Tentei defendê-la, mesmo sabendo que a Anie é uma mini versão minha.

– Aah, não é? – Questionou irônico. – Você vai ter coragem de me chamar de mentiroso?

– Vamos mudar de assunto? – Pedi entre risos.

– Você sabe que eu estou certo! – Ele aproveitou. Rimos. – Mas ok, vamos mudar de assunto.

– O bebê está mexendo bastante…

– Agora?

– Sim! Acho que ele adivinhou que eu estou falando com você.

– Hahaha… já estou com tanta saudades dele, Luh.

– Eu sei que sim, amor. E nem estou com ciúmes.

– E não é para ficar mesmo. Eu também estou com saudades de você. De te beijar, de te abraçar, de te cheirar…

De fazer amor… – Falei e ouvi sua risada.

– Principalmente, sua safada. – Ele pontuou. – Está sozinha aí?

– Não. Hanna está no banho. Quando ela sair, eu vou.

– Você precisa descansar, amor. – me aconselhou.

– E vou, Arthur. Fica tranquilo. – Pedi. – Vou tomar banho, depois vamos descer para jantar e depois vou descansar.

– Amanhã o dia começará cedo.

– Sim, às sete e meia. Ainda são… nove e vinte. Mas aí já são mais de três. – Lembrei.

– Sim. – Ele confirmou e o ouvi bocejar.

– Vou deixar você descansar também.

– Não estou reclamando.

– Eu sei que não, amor. Mas está tarde e de manhã a Anie tem aula. Diz que deixei um beijo para ela. Eu amo tanto vocês.

– Nós também te amamos. Me manda mensagem ou liga quando acordar.

– Pode deixar.

– Diz que eu também estou deixando um beijo para o meu bebê. Que quando vocês voltarem, o papai vai mimá-lo ainda mais.

– Ele sabe disso…

– E a minha gatinha também.

Hahaha… eu já estou ansiosa! – Confessei.

– Você é a minha vida, Lua.

Amor…

– E não precisa me dizer o mesmo. – Deixou claro.


– Luh, eu já saí do banheiro. – Hanna avisou.


– Ouvi a Hanna, pode ir, amor. – Disse tranquilo.

– Eu te amo.

– Eu também te amo. Um beijo!

– Um beijo.


Ligação OF


– Aaah, você estava falando com o Arthur.

– Sim, mas já estávamos nos despedindo. Lá já é muito tarde.

– Verdade. A diferença são de seis horas.

– Sim, muito grande. Principalmente nesse horário, fica tarde para a gente conversar. Anie tem aula de manhã. – Expliquei me levantando da cama.

– Vou vestir a minha roupa, mas vou esperar você para descermos juntas para jantar.

– Aah sim, obrigada!


Londres | 16 de outubro de 2017, segunda-feira – 7h.


Anie não se mexeu à noite inteira. O que eu achei estranho, já que ela se mexe bastante durante à noite. Ela também não soltou o travesseiro da Lua, dormiu abraçada a ele. O que me fez sorrir. Não queria ter que acordá-la, mas ela tem aula.


Anie… hora de acordar, meu amor. Já amanheceu, filha. – Falei baixo, enquanto passava uma das mãos pelas suas costas.

– Papai… – ela se mexeu e virou o rosto para me olhar – eu posso faltar hoje?

– Filha, você não pode faltar aula assim do nada. Lembra que prometemos à sua mamãe que vamos nos comportar e seguir a nossa rotina?

– Lembo… mas minha mamãe não precisa saber. – Tentou me convencer.

– Não, não podemos fazer isso, Anie. – Me sentei na cama. – Eu vou saber e não quero mentir para a sua mãe. Se a gente mentir e ela descobrir, ela não vai mais confiar em nem um de nós dois.

– Minha mamãe vai ficar triste.

– Sim. Triste e chateada. – Assegurei.

– Tá. Então eu vou para a escola, papai.

– Muito bem! – Sorri. – Você quer que eu te ajude no banho ou quer que eu chame a Carol?

– Papai… – Anie se levantou da cama – minha mamãe disse que o senhor pode me ajudar quando eu precisar. – Ela saiu do quarto para ir ao quarto dela.

– É claro que eu posso, filha. – A acompanhei. Chegamos no quarto dela e Anie foi até o guarda-roupa.

– Tem que polocular o meu uniforme da escola.

– Isso, vamos procurar. Posso te ajudar, se quiser.

– Eu quelo, papai.

– Carol deve ter colocado aqui na parte de cima.

– É. É onde ela sempre coloca. – A pequena concordou.

– Olha aqui… – falei ao mostrar o uniforme para ela.

– Agola vou tomar banho.

– Isso, vamos lá.

– Depois tem que pentear o meu cabelo e prender, papai.

– Eu chamo a Carol quando chegar nessa parte. – Falei divertido.

– Por que os papais não sabem fazer penteados legais?

– Tem alguns papais que sabem, filha. Não são todos assim iguais a mim que não sabem.

– Mas o senhor pode aprender… pode ser com a minha mamãe ou com a Carol.

– Certo. – Ri. – Então eu terei que marcar algumas aulas. Quando a sua mãe chegar, eu falo com ela.

– O senhor pode falar com a Carol. Ela sabe fazer mais penteados do que a minha mamãe.

– Aah, então quer dizer que sua mamãe também não sabe? – Pincelei o nariz dela com o dedo indicador.

– Minha mamãe sabe, mas a Carol sabe mais, sabe outos que são mais compicados. – Tentou explicar. Ri.

– É porque é ela quem arruma você para ir à escola. A sua mamãe faz isso só às vezes, filha. Mas ela se dedica bastante. – Defendi Lua, porque sei o quanto ela se esforça para ser presente e fazer as coisas para a nossa filha. Embora não seja habilidosa com penteados, assim como eu também não sou.

– Eu sei, papai. Eu intendo. Eu só estava expicando.

– Tudo bem, meu amor. Eu também entendi. Só quis explicar.

– E defender a minha mamãe. – Ela riu. Fiquei perplexo com a observação dela.

– Ei, você está se saindo uma criança muito espertinha, hein?! – Fiz cócegas em sua barriga. Ela começou a rir e tentou afastar minhas mãos de sua barriga. – É claro que eu vou defender a sua mãe.


Entre um assunto e outro, ajudei ela a tomar banho e depois a vestir o uniforme escolar. Óbvio que na hora de pentear os cabelos eu chamei a Carol e, em seguida, fui para o quarto tomar o meu banho e me arrumar para deixá-la na escola.


Horas depois…


Ouvi o celular tocar assim que entrei no quarto. Eu estava no escritório organizando algumas coisas.


Ligação ON


– Bom dia, gatinha. – Sorri como se Lua pudesse me ver.

– Boa tarde, amor. – Ela também deve estar sorrindo. – O que você está fazendo?

– Eu estava organizando alguns papeis lá no escritório. Quase não ouço a ligação, o celular estava aqui no quarto.

– Eu já ia ficar chateada. – Disse em tom de brincadeira, mas sei que é uma verdade disfarçada.

– Hahaha… eu sei que não é uma brincadeira, loira. – Pontei. Ela riu ainda mais. – E como você está? Dormiu bem?

– Sim. Depois do banho eu desci para jantar com a Hanna e o Adam. Não demoramos muito. Estávamos os três cansados. Amor, quando voltei para o quarto, só escovei os dentes, troquei de roupa e dormi. Foi um sono maravilhoso. Só teria sido melhor se você estivesse aqui.

– É?

Sim… – Foi quase um gemido.

– Manhosa. – Falei. Ela riu. – Ou você aqui.

– Também. – Concordou ainda rindo. – E você, dormiu bem? 

– Sim.

– E Anie?

– Também. Só acordou com uma preguicinha de ir à escola. Queria que eu deixasse ela faltar hoje.

– Meu Deus, isso só acontece quando não estou em casa.

– Pra você ver. Mas eu não cedi. Lembrei que prometemos a você que íamos nos comportar e seguir a nossa rotina.

Uuuhm… muito bem!

– E ela disse que você não estava aqui, não precisava saber.

– Arthur! – Disse chocada.

– Ela é filha de quem mesmo para ser tão esperta?

– Ela só tem cinco anos, amor.

– Você conhece a nossa filha, amor. Quero nem pensar em quando estiver maior e pedir para sair com as amigas, que pode muito bem ser com um amigo, entre aspas.

– Hahaha… só você mesmo, Arthur. Você aprontou tanto que agora tem medo que sua filha faça igual.

– Até parece que foi assim, Lua… – Revirei os olhos.

– Foi exatamente assim. Não adianta você desconversar ou revirar os olhos, como eu sei que deve ter feito. Eu te conheço, esqueceu?

– Você acordou muito engraçadinha pelo que eu estou percebendo, isso sim. Vamos mudar de assunto… E o nosso garotinho, como tem se comportado?

– Muito bem. Parece que ele é mesmo obediente, acho que vai puxar à mãe…

– Você quer me fazer rir, só pode. – Respondi.

– Ué, por quê?

– Lua, por favor, meu amor. – Ri. – Se ele for mesmo obediente, com toda a certeza que há nesse mundo, ele não vai puxar para você.

– E nem para você.

– Hahaha… você não precisa sentir tanto ciúmes assim, querida. Você terá dois garotos. Quem tem tanta sorte assim, hein? – Perguntei e ouvi sua risada.

– Você se acha tanto.

– Você só não gosta de admitir que eu tenho razão.

– Hahaha… você é igual a mim.

– Não mesmo. Eu não tenho nenhum problema em admitir quando a razão está com você.


Ficamos conversando por mais algum tempo até Lua se despedir e encerrar a ligação.


Ligação OF


Ela precisava levantar e se arrumar para ir ao escritório.


Eu ainda não almocei. Tomei um banho rápido, vesti uma roupa e desci para a cozinha.


*


– A minha mamãe ligou? – Foi a primeira pergunta que Anie fez assim que entrou no carro.

– Boa tarde! – Olhei para o banco de trás. Ela deu uma risadinha.

– Desculpa. Boa tarde, papai!

– Agora sim. – sorri. – Sua mãe ligou, mas você estava na escola. Ela te deixou um beijo. Um beijo para a princesinha dela.

– Eu já estou com saudades da minha mamãe.

– Eu também estou, Anie.

– Da sua mamãe? – Ela não entendeu. Ri.

– Da sua mãe, filha. – Expliquei.

– Você não sente falta da sua mamãe?

– Eu sinto. Mas já fazem muitos anos que eu não moro com a minha mãe.

– Quando eu crescer, eu também vou morar com o meu namorado igual você e a minha mamãe?

– Filha, eu sinceramente espero que isso demore muitos anos para acontecer.

– Por que?

– Porque você ainda é muito pequena para pensar em ir morar com um namorado. E não se mora com namorado, se mora com marido. Tem que casar para morar junto. – Expliquei. É muito cedo para termos essa conversa. Anie só tem cinco anos.

– Só estou perguntando.

– E eu estou te respondendo. – Respondi no mesmo tom que ela.

– Eu ainda não tenho namorado. – Contou. A olhei pelo espelho.

– Que bom! Eu ficaria mais surpreso se você me contasse que tinha.

– Hahahaha… eu ainda sou criança, papai.

– Você só poderá namorar depois dos vinte anos.

Uau!

– Sim. – Afirmei.

– O senhor só namorou com vinte anos?

– Não. Mas isso não vem ao caso. Era outra época. – falei como se já tivessem passado muitos e muitos anos. – Além do mais, conheci a sua mãe, namorei e casei com ela. Agora estamos aqui, temos você e logo, logo também chegará o seu irmão.

– Papai, a sua mãe brigou com você porque você já vai ter dois filhos? – Ri da inocência dela.

– Não, filha. Claro que não. Eu já sou adulto, a sua mãe também é. A minha mãe teria ficado chateada se eu tivesse sido pai na adolescência, por exemplo. Quando se tem entre quinze, dezoito, dezenove anos, por aí… Eu e sua mãe fomos pais com vinte cinco anos. Já não dependíamos mais dos seus avós para nada.

– Mas a vovó Emma não gostou. Ela brigou com a minha mamãe.

– Ela não brigou com a sua mãe por isso, filha.

– Mas foi quando a minha mamãe contou do bebê. Eu ouvi, papai.

– Eu acredito que você ouviu. Mas ela não brigou por conta do bebê.

– Como o senhor sabe?

– Sua mãe me contou, oras!

– Mas ela não gostou de saber do bebê.

– Filha, quem precisa gostar do bebê sou eu e a sua mãe, porque ele já é o nosso filho, e você, porque ele é o seu irmão.

– Eu gosto dele, papai. Só às vezes que eu tenho ciuminho… eu já contei.

– Eu sei, meu anjo. Papai já conversou com você.

– Mesmo assim…

– Sim, eu também sei disso, a sua mamãe também sabe…

– Todo mundo sabe!

– Sim, quem te conhece, sabe.

– A gente vai pra onde agola?

– Para onde? Para casa, filha.

– Não, papai. Eu quelo passear. Sabe, a gente pode comprar um presente para a minha mamãe e outo para o bebê.

– Você quer comprar um presente para eles?

– Sim.

– E você tem dinheiro?

Hahaha… eu não. Mas o senhor tem. – Disse divertida. Ri junto com ela. – Pode comprar.

– Tudo bem. É claro que vamos comprar um presente para eles…

– Um para cada um…

– Ok, ok. E você já sabe o que quer comprar?

– Um pijama para a minha mamãe.

– Um pijama?

– Sim. A minha mamãe gosta. Ela vai adolar! – Disse convicta.

– E para o bebê?

– Um binquedo. – Respondeu rapidamente. Sorri.

– Tenho certeza de que eles vão adorar. – Comentei e a pequena sorriu.


Horas mais tarde, já em casa…


– Então que holas é que a minha mamãe vai ligar?

– Acho que só depois, filha.

– Que holas é onde ela tá?

– Ainda é de tarde, filha. São umas… – olhei para o relógio e fiz as contas – duas e pouco da tarde.

– UAU! Aqui já tá de noite. Por que, papai?

– Aah, meu amor, é difícil de explicar. Mas cada país tem o seu horário. E a mamãe está longe, em outro país, nos Estados Unidos.

– Selá que ela tá com saudades da gente? E do Bart?

– Eu tenho certeza que sim, filha. Mas você pode perguntar quando ela ligar. – Apertei levemente a ponta do seu nariz.

– O senhor desenha comigo?

– O que você quer que eu desenhe? – Perguntei animado.

– Pode ser o que o senhor quiser. Pode ser um desenho surpresa!

– Uma ótima ideia, pequena.

– Eu vou pegar os mateliais, tá? Me espela aqui, papai.

– Está bem.


*


– Olha… eu tô desenhando o Bart. Ele já está muito bonito.

– Eu só vou mostrar o meu desenho quando estiver finalizado. – Avisei e Anie fez um esforço para olhar o meu desenho. Começamos a rir. – Sua curiosa!

– A gente pode dar de presente para a minha mamãe. – Sugeriu. – Ela vai gostar muito.

– Ela vai amar, meu amor.

– Então eu vou cololir mais o meu.


Anie voltou a colorir o desenho. Meu talento para pintura e desenho não é um dos mais desenvolvidos. Mas eu dei o meu melhor.


Horas depois…


– Papai?

– Sim.

– Liga logo para a minha mamãe… – Pediu vindo até mim. – É que eu já quelo dormir.

– Não posso ligar assim, filha. Sua mãe está em horário de trabalho.

– Mas já está de noite, papai.

– Aqui, mas onde a sua mãe está ainda é de tarde.

– Mesmo assim…

– Não. Sua mãe pode ficar preocupada. Vamos esperar mais um pouquinho. – Avisei.

– Então eu vou dormir. – Ela logo ficou chateada.

– Vem aqui… – Chamei ela para o meu colo. – você não pode ficar chateada com isso, filha. Eu já conversei com você. Sua mãe foi viajar a trabalho, ela não foi passear. Não podemos ligar a toda hora ou a qualquer hora.

– Mas eu já estou com saudades da minha mamãe… – Ela começou a choramingar.

– Anie, e eu te entendo, minha filha. Eu também estou com saudades da sua mãe. – Lhe beijei os cabelos. – Daqui a pouco a sua mamãe liga, eu tenho certeza. – Garanti.

– Ela tá demolando…

– Os horários que são diferentes, meu amor.

– Então por que quando o senhor viaja, a gente pode ligar toda hora? – Questionou. – E o senhor nem briga.

– A sua mãe também não vai brigar. – Esclareci. – É que o meu trabalho, diferente do trabalho da sua mãe, é mais flexível. O da sua mãe tem mais regras. Ela pode estar em uma reunião muito séria nesse momento. Não é legal para ela ligarmos agora. Eu sei que você entende. Você é uma garotinha muito inteligente. – Lhe dei um beijo na ponta do nariz.

– Eu tô chateada!

– Aah não, filha… não quero que você fique chateada. – Lhe dei um beijo na bochecha. Logo ouvi o celular tocar. – Escuta só, acho que pode ser a sua mamãe.

– Eu que vou falar primeiro com a minha mamãe.

– Tudo bem. Só não é para falar que está chateada. – Pedi. Não quero que Lua se sinta culpada.


Ligação ON


Mamãe!

– Eu te amo mais. E eu que tô com mais saudades. – Anie está animada e eu estou sorrindo igual um bobo.

– Eu tô bem, mamãe. E a senhola?

– Agola que eu tô mais feliz. Mamãe, sabia que eu e o meu papai compramos plesentes?

– É, para a senhola e para o bebê. É surplesaaaa! – Anie deu uma risadinha.

– Três plesentes pra senhola e um para o bebê.

– É. Melece sim, mamãe. Melece todos os plesentes do mundo. O meu papai que vai comprar. – Ela me olhou e riu.

Eu? – Fingi surpresa.

– É. O meu papai.

– Ele tá aqui, mamãe. Quer falar com ele agola?

– Tá, tá bom, mamãe. Eu te amo!

– Eu te amo muito mais! – Disse e me entregou o celular.

– Oi, minha gatinha.

– Eu estou com saudades, Arthur.

– Eu também, Luh. Você está bem?

– Sim, estou. E vocês dois?

– Estamos bem. Só sentindo tanto a tua falta, meu amor. – Confessei. – E o meu garoto, como tem se comportado?

– Bem. Ele tem mexido tanto, amor. Ele nunca mexeu tanto só para mim. – Parece que eu consigo visualizar a felicidade dela.

– Aaaaah… você quer me deixar com ciúmes? – Brinquei. Lua riu. – Em menos de dois dias ele já mudou a pessoa preferida dele?

– Acho que sim. Eu estou feliz, não vou negar.

– Hahaha… você nem conseguiria. Parece que eu consigo ver o seu sorriso, meu amor. Fico mais tranquilo quando falo com você e sinto que está bem.

– Estamos muito bem, Arthur. – Assegurou.

– Eu te amo, Luh. Entre eu e Anie, não sei quem está com mais saudades… – Contei. Lua riu.

– Eu também amo vocês. E te quero tanto… – Disse mais baixo. Não consegui segurar o riso.

– Aaaah… está assim também?

– Sim. Eu não consigo pensar em outra coisa quando lembro de você.

– Hahaha… e eu estava sendo romântico.

– E eu safada.

– Nada diferente do que eu conheço. Não coloque culpa nos hormônios.

– Hahahaha… mas são eles! – Insistiu entre risos.

– Não mesmo Lua Blanco! – Continuamos rindo os dois. – Que quinta-feira chegue logo.

– Sim. Não vejo a hora de abraçar vocês. Sério, parece que é a primeira viagem que faço depois que Anie nasceu. Você acredita?

– Você está mais sensível, Luh. Deve ser por isso.

– Estou precisando tanto de você.

– E eu de você, meu amor. Ei, não fica assim… você estava  mais animada.

– É que agora eu senti mais saudade.

– Estou aqui, Luh e na quinta-feira estarei aqui só para você. Você sabe disso, amor.

– Depois você viaja.

– Aah não, gatinha. Não pensa nisso. Ainda vamos nos encontrar. Vai ficar tudo bem, eu te prometo. Não pensa nessa viagem… ainda teremos um dia inteiro só nosso, Luh. Não vou te deixar com tanta saudade assim.

Vai sim!

– Hahaha… Luh, você me entendeu. Eu não quero que você fique assim. Você já está no hotel? – Mudei de assunto.

– Sim.

– Já acabou o trabalho por hoje?

– Já. Finalizamos um pouco mais cedo.

– Então aproveita para descansar. Toma um banho, relaxa, come alguma coisa gostosa.

– Você não está aqui.

– Ai que safada! – Ri. – Você não vai me provocar assim estando tão longe não. – Avisei.

Só um pouquinho…

– Você dengosa é o meu ponto fraco. Mas eu não vou deixar não… Vamos pular essa parte das provocações. Quero que você descanse, que se alimente bem. O meu garoto está mexendo agora?

– Sim. Acho que ele adivinhou que eu estou falando com você.

– É que você está manhosa, ele já sabe que isso só acontece quando o assunto sou eu.

– Aaaii que convencido!

– Estou mentindo?

– Você se acha demais.

– Essa é sempre a sua resposta quando você não quer admitir que eu estou com a razão.

– E você continua convencido.

– Não tenho outra opção. – Rimos. – Luh, infelizmente eu vou ter que desligar. Anie está cochilando aqui. Ela só estava esperando você ligar. – Falei enquanto observava a pequena dar longas piscadas.

– Uhm… minha bebê. Estou com muitas saudades. Vou liberar você, sei que amanhã ela tem aula.

– Hahaha… só por isso?

– Sim.

– Um beijo gostoso igual a você.

– Uuuhm… que delícia. Você só precisa dizer onde.

– Na boca, sua safada. – Rimos. – Eu te amo muito.

– Eu te amo, vida.


Lua deve está com muita saudade mesmo, para me chamar de vida. Já que ela não usa esse apelido com frequência.


– Boa noite. Dorme bem. Qualquer coisa me liga, sabe disso, não é mesmo?

– Eu sei. Vocês também. Eu amo os dois!

– Nós também te amamos. Um beijo no meu garotinho. Quando nos encontrarmos, vou encher sua barriga de beijos.

– Você vai ficar surpreso com o tamanho.

– Não, não me deixa ansioso. Eu sei que cresceu.

– Arthur, não fazem nem dois dias e hoje já vi uma diferença muito grande.

– Me manda uma foto, por favor. Preciso ver como o meu garotinho está. E você também, minha linda.

– Vou te enviar.

– Vou esperar. Um beijo.

– Um beijo, amor e outro na nossa filha.

– Pode deixar. Descansa, Luh. Me liga assim que acordar.

– Vou ligar.

– Tchau.

– Tchau.


Ligação OF


Link | Foto que Lua enviou por mensagem - Clique aqui e veja.


Eu fiquei encarando a foto por alguns minutos, sem acreditar no quanto a barriga dela havia crescido desde que ela saiu daqui no domingo.


Como pode?


Mensagem ON


“Amor, parece que eu não te vejo há semanas.”


“Nosso menino está muito exibido. Estou com ciúmes.”



“Hahaha… eu te disse. Mas acho que amanhã vai amanhecer menor. Já percebi que no final do dia sempre está maior do que quando eu acordo.”



“Agora eu quero uma foto de bom dia.”



“De manhã eu te mando.”



“Eu te amo, Luh. Você é a mamãe mais linda que eu conheço.”



“Obrigada, amor. E você é o melhor marido do mundo. Eu também te amo!”


Mensagem OF


– Aah, vem aqui, minha garotinha. – Deixei o celular de lado e peguei Anie no colo. Ela está mais dormindo do que acordada. – Não aguentou o pique de hoje, hein? – Brinquei, mas ela não deu a mínima.


Subi com ela para o quarto.


Quarta-feira, 18 de outubro – Manhã.


– Minha mamãe vem hoje?

– Amanhã, meu amor. – Respondi. Estamos tomando café da manhã.

– Que holas?

– Acho que a tarde. Sua mãe não me falou o horário.

– Eu vou está na escola?

– Provavelmente sim.

– Então amanhã eu não quelo ir.

– Você não pode faltar a aula, tem ensaio, esqueceu? Além do mais, nem sabemos a hora que sua mãe vai chegar. – Voltei a lembrá-la. – Você pode até já ter chegado da escola.

– Eu vou perguntar quando a minha mamãe ligar. Ela já ligou?

– Não. Ainda é muito cedo onde a sua mãe está.

– Ainda é de noite?

– Não. De madrugada, filha. Sua mãe deve estar dormindo. Ela precisa descansar.

– Ela vai viajar de novo?

– Por agora eu acho que não. Por quê?

– E o senhor?

– Eu viajo depois de amanhã, filha.

– A minha mamãe sabe?

– Sabe, é claro que sabe. – Passei geleia em duas torradas.

– Ela deixou? – Acrescentou e eu fiquei encarando-a.

– Por que ela não deixaria?

– Porque ela é a sua namorada.

– Sim, mas a sua mãe manda em você e não em mim. – Ri e Anie também riu. – Ai, garota, às vezes parece que você não existe, sério mesmo. – Ainda estamos rindo.

– Não é assim?

– Não, filha. Eu e sua mãe brincamos com isso, mas a gente se respeita. Bom, eu tenho que saber onde ela vai e ela também tem que saber onde eu vou, porque a gente se preocupa um com o outro.

– Eu vou perguntar para a minha mamãe. – Avisou desconfiada. Ri.

– Hahaha… pode perguntar!

– O senhor me dá colinho? – Pediu com a voz mais dengosa que ela conseguiu fazer.

– Ai, meu Deus! Você quer um colinho? – Insisti e ela assentiu. – Que neném mais dengosa que eu tenho. – Me afastei um pouco da mesa e abri os braços. – Vem aqui, meu amor. – Chamei ela. Anie soltou um risinho e veio para o meu colo. Me abraçou apertado pelo pescoço. – Eu te amo, meu amor.

– Eu também te amo, papai.

– Eu não sei como seria a minha vida sem você, filha e nem quero pensar. – Fiz carinho em uma de suas bochechas.

– Você sempre foi o meu papai.

– Sempre?

– Sim. O papai que eu escolhi.

– Você me escolheu? – Perguntei emocionado.

– Sim. – Disse convicta e eu acreditei. – Eu já sabia que você seria o melhor papai.

– Eu estou acreditando em tudo.

– Mas é verdade, papai.

– Você que é a melhor filha do mundo. – Lhe dei um beijo demorado na bochecha. – É você quem me ensina a ser sempre melhor.

– Porque eu te amo e você me ama.

– Sempre, filha, sempre. – Afirmei.

Aaah… que amor. – Carla comentou ao nos ver. Sorri. Anie me abraçou mais forte ainda.

– Ela acordou dengosa. – Dei um beijo na bochecha da pequena.

– Eu quis o colinho do meu papai.

– Sabe, eu conheço uma pessoa que ficaria com muito ciúmes.

– Eu também! – Anie exclamou e riu ao meu olhar. – A minha mamãe. – Completou me fazendo rir. – Mas de mim.

– De mim. – Impliquei com ela.

– Não. Porque eu sou a princesinha da minha mamãe.

– Ai, que mimaaadaa! Não nega ser filha da Lua mesmo. – Rimos.


Terminamos de tomar o café e eu levei Anie para a escola.


*


Já está perto da hora do almoço, estou em casa. Mais cedo fui passear com Bart no parque, ele estava precisando. Agora está descansando, deitado em sua caminha. Vai ficar sossegado até Anie chegar da escola.


Meu celular vibrou, indicando que há uma nova mensagem.


Link | Foto que Lua enviou de 'bom dia' - Clique aqui e veja.


“Bom dia, papai.”


Ela me enviou uma foto da barriga. Sorri. Estou com saudades de acordar ao lado dela, de abraçá-la, beijá-la e desejar bom dia pessoalmente.


“Ainda não acordei. Vou puxar para a minha mamãe, não gosto de acordar cedo.”


Sorri ainda mais com a outra mensagem. Preciso ligar e ouvir a voz dela.


Ligação ON


– Bom dia, meu amor! – Falei assim que Lua atendeu. Ouvi sua risada sonolenta e sorri. – Que barriga mais linda. Você está me deixando ainda mais apaixonado. – Confessei.

– Hahaha… bom dia, amor. Estou com mais saudades ainda. Leu que o seu garotinho tem preguicinha de acordar cedo?

– Não. Não é preguicinha – rimos –, ele é apenas um bebê. – O defendi e Lua riu. – O papai vai defendê-lo. – Ela continuou rindo. –  Você dormiu bem? – Perguntei.

– Eu teria dormindo melhor se estivesse com você.

– Huum… disso eu não tenho dúvidas. – Concordei.

– E você? E a Anie? Ela foi para a escola direitinho?

– Você faz muita falta, Luh. Para mim e para a nossa filha. Estamos contando os minutos. Anie não quer ir à escola amanhã. Disse que quer te esperar.

– Oh, amor. Eu só vou chegar a tarde. Acho que ela já estará em casa. – Explicou.

– Eu disse isso a ela. Hoje ela acordou muito dengosa. Quis colo na hora do café. Me disse coisas lindas. Fiquei todo bobo, você sabe que isso nem é difícil para mim.

– Que amor. Eu nem presenciei a cena e já quero chorar. – Disse emocionada. – Você é um pai incrível, Arthur.

– Nós dois somos, Luh. Tudo o que eu sei, aprendemos juntos. Sou tão grato e feliz por ser com você. Eu teria tantos filhos com você, Luh. Só com você.

– Eu sei que sim, Arthur. – Ela riu. – Eu também sou muito grata e feliz que seja com você.

Quero te beijar. – Confessei.

Quero ser beijada. – Ela respondeu. Rimos. – Você está em casa?

– Estou, gatinha. Mais cedo fui passear com o Bart. Agora estamos aqui, os dois descansando.

– Você já almoçou?

– Ainda não, amor.

– Você vai sair à tarde?

– Só para buscar a Anie na escola. Ei, o que é isso? Está me interrogando? – Questionei divertido.

– Desculpa.

– Ei, estou brincando, amor. Na verdade, talvez eu vá à produtora. Mas se eu for, vou só depois que buscar a nossa filha na escola. Não sei se os caras estarão lá. Vou perguntar para o John.

– Tudo bem. Só perguntei porque estamos longe…

– Eu sei, Luh. Eu só estava brincando. Não fica chateada.

– Não estou chateada. Fica tranquilo.

– De verdade?

– Claro.

– Sabe, hoje durante o café, Anie perguntou se você viajaria novamente. Eu falei que por agora, não. Depois ela perguntou se eu vou viajar, falei que sim, depois de amanhã. Acredita que ela me perguntou se você sabia e se havia deixado? Ela realmente acredita que você manda em mim, Lua Blanco. – Ri.

– E ela está errada? – O deboche é quase palpável.

– Oh, não… gatinha, você sabe que não é assim.

– Hahaha… por que essa possibilidade te deixa tão nervoso?

– Não é uma possibilidade, amor. Já é mais de cinquenta por cento de realidade. – Rimos juntos.

Bobo!

– Só para eu não perder a moral com ela, você sabe que eu não admito isso.

– Sei… – Ela ainda está rindo. – Nós vamos sentir a tua falta. É sempre tão difícil quando as viagens voltam. Já estamos tão acostumadas com você em casa.

– Ainda estou tentando me conformar de que não estarei aqui em uma das apresentações dela. Não sei nem como contar a ela.

– Vamos fazer isso juntos, Arthur. Não se preocupa, vamos encontrar um jeito de contar. Mesmo que ela fique chateada no começo, depois ela vai entender. Ainda posso fazer uma chamada de vídeo. Talvez os horários não coincidam. – disse e eu nem havia pensando nisso.

– Nem pensei nisso, amor. – Admiti.

– Não vou deixar Anie ficar chateada com você. – Assegurou e eu sorri.

– Eu te amo tanto, Luh.

– Eu também te amo tanto, Arthur.

– Você precisa chegar looogoo!

– Hahaha… já pensou se fosse uma semana inteira?

– Não e nem quero pensar. Só três dias e eu já estou assim. Não só eu, como a nossa filha também, a nossa casa, Luh.

– Aaah, meu amor. Você está tão dengoso hahahaha

– Ninguém precisa saber. – Deixei claro. Lua riu mais ainda.

– Um segredo nosso. – Sussurrou me fazendo rir ainda mais.

– Eu espero que você se lembre disso. – Ressaltei.

– Quando foi que eu te entreguei? – Provoquei.

– Para o Harry? Várias vezes. – Rimos.

– Tudo bem. Eu perdi os meus argumentos. – Admitiu. – Amor, vou desligar. Preciso me levantar, senão, vou acabar me atrasando.

– Tá bom. Vou liberar você. – Rimos outra vez. – Um bom trabalho, Luh. Qualquer coisa, me liga. Eu te amo.

– Obrigada. Eu também te amo. Um beijo.

– Um beijo.


Ligação OF


Carla apareceu na sala assim que Lua encerrou a ligação.


– Licença, Arthur. Já posso servir o almoço?

– Aah sim, claro. – Respondi e me levantei.

– Lua ligou?

– Sim. Acabei de falar com ela.

– Espero que esteja tudo bem.

– Segundo ela, está. – Respondi e segui Carla até a cozinha. – Vou almoçar aqui mesmo. A mesa fica enorme sem aquelas duas. – Falei. Carla concordou. – Ela volta amanhã à tarde. Talvez chegue aqui no início da noite. – Contei.

– Você vai quando?

– Sexta-feira à noite. Lua ainda tem uma consulta na sexta, vou acompanhá-la.

– De manhã?

– Sim.


Continuamos a conversa enquanto ela serve o meu almoço.


*


– Nossa, Anie. Eu já estou aqui há quase trinta minutos. – Falei assim que a pequena abriu a porta do carro.

– Eu estava brincando.

– Filha, não é hora de brincar. Eu já conversei com você sobre isso. Na hora da saída é para você ficar aqui nos esperando. Eu, a sua mãe ou a Carol.

– Eu nem demolei tanto.

– Eu tenho um compromisso agora.

– Mas eu sou mais importante.

– Eu não disse que não é. Mas eu tenho um compromisso e gosto de cumprir com as minhas obrigações. – Pontuei. – Coloca o cinto. – Pedi olhando para o banco de trás.

– Já estou colocando. Não precisa brigar.

– Eu não estou brigando com você. Nós estamos conversando.

– Tá brigando sim. Você está chateado. – Notou.

– Estou chateado, mas estou conversando com você.

– Quelo ir pra casa.

– Mas antes nós vamos à produtora. Eu tenho uma reunião. – Expliquei.

– Me deixa em casa antes.

– Não dá tempo. Por favor, filha, drama agora não. – Pedi olhando pelo retrovisor. Agora é ela quem está chateada.

– Eu quelo a minha mãe. Eu prefiro a minha mamãe. – Disse já querendo chorar.

– Anie, você sabe que não precisa de tudo isso. A sua mãe chega amanhã, já te falei.


Ela não respondeu. Ficou olhando pela janela. Dirigir em silêncio quando se tem companhia no carro é muito desconfortável.


Chegamos à produtora quase vinte minutos depois e eu atrasado mais de trinta minutos para a reunião.


– Vamos sair do carro.

– Não quelo.

– Filha, por favor, não quero brigar com você. Vamos sair. Você não pode ficar sozinha aqui dentro do carro.

– Eu quelo ir pra casa, já disse.

– Nós vamos para casa depois da reunião, pronto. – Abri a porta do carro e saí. – Vem, vamos logo. Seu tio Harry também está lá dentro. Aposto que você vai adorar vê-lo. – Contei ao abrir a porta do banco de trás do carro.

– Liga para a minha mãe. Eu quelo falar com a minha mamãe! – Exigiu.

– Sua mãe está trabalhando, filha. Lembra que os horários são diferentes? Ainda é muito cedo lá. Ela deve estar muito ocupada. – Tentei explicar com toda a calma que eu tenho enquanto caminhamos até o prédio.

– Ela disse que eu podia ligar a qualquer hora. – Lembrou e eu respirei fundo.

– Vamos entrar.

– Não quelo!

– Anie, você não é uma criança mal-educada. Por que está agindo como uma?

– Eeei, olha só quem está aqui. – Harry veio todo animado cumprimentar a afilhada. – Não vai me dar um abraço?

– Fale com o seu tio, Anie. Que coisa é essa?

– Você está zangada? – disse divertido, mas Anie não riu. – O que aconteceu? – Perguntou para ela e depois me olhou.

– Quer ir para casa. – Respondi.

– Eu também quero. Mas não tenho essa opção. – Ele respondeu. Balancei a cabeça. Anie sentou-se em uma poltrona na recepção.

– Não, filha. Vamos entrar. Você não pode ficar sozinha aqui.

– Não quelo entrar!

– Nossa, que chata, hein?! Teimosa igual a tua mãe, sabia? – Harry falou.

– Porque eu sou filha dela. – Anie rebateu. Eu quis rir.

– De tudo o que ela poderia puxar da Lua, a teimosia realmente reina. – Concordei e me abaixei para ficar na direção dela. – E se eu ligar e a sua mãe não atender? Você sabe que ela está trabalhando e eu já estou tão atrasado. – Expliquei, mesmo que para ela não fizesse nenhuma diferença. – Você não poderia ter escolhido outro dia para fazer birra? – Tirei o celular do bolso.

– Só estou com saudades da minha mamãe. – Ela começou a choramingar. 

– Não precisa chorar, pequena. Daqui a pouco você vai encontrar a tua mãe. – Harry tentou consolá-la, mas ele não sabe que Lua está no Texas. – E vai poder reclamar que o teu pai te trouxe para uma reunião chata. – Acrescentou.

– Não. Lua viajou domingo para o Texas. – Falei.

– Aaah… então agora tudo faz sentido. Você não está dando conta de uma criança, Aguiar? Como fará com duas? – Brincou. Revirei os olhos.

– Sua mãe não está atendendo, filha. E ela vai ficar muito preocupada quando ver essas ligações nesse horário. – Chamou mais umas três vezes até Lua, finalmente, atender a ligação.


Ligação ON


– Oi, Arthur. Aconteceu alguma coisa?

– Não. Nada de grave. Pode ficar tranquila. A Anie quer falar com você. Eu não consegui convencê-la do contrário. – Expliquei.

– Tudo bem. Já foi buscá-la na escola?

– Sim. Estamos aqui na produtora…


“Deixa eu falar com a minha mamãe…”


– Estou tão atrasado para uma reunião, Luh. – Contei.

– Entendi. Mas eu também estou muito ocupada.

– Eu expliquei isso a ela.

– Passa o celular para ela. – Me pediu. Não consegui mudar meu tom de voz e Lua deve ter percebido a minha chateação. – Vocês brigaram?

– Anie não escolheu um bom dia para fazer birra. Está chata e mandona.

– É só uma criança de cinco anos, Arthur.

– Não acredita?

– Na verdade, nem sei o que aconteceu para ela agir assim e você também. Você costuma ser mais paciente do que eu.

– Tem dias que é impossível, hoje só foi um dia desses…

– Passa o celular para ela. – Pediu novamente e eu entreguei o celular para a Anie.


“Vou para a reunião. Não saia daqui, tudo bem?” Falei e Anie assentiu ao pegar o celular. “Fica de olho nela para mim?” Pedi à moça da recepção. “Qualquer coisa pode me chamar lá na sala.”


Pov Lua


– Filha, o que aconteceu? – Perguntei depois de ouvir Arthur fazer alguns pedidos a nossa filha e para mais uma pessoa.

– Mamãe, eu estou com saudades.

– Eu também estou, meu amor. – Confessei. – Mas a mamãe está a trabalho. A gente não pode ficar conversando assim, não esse horário. Lembra que aqui o horário é diferente?

– Eu sei, mamãe. Mesmo assim eu tô com saudades. Eu quelia que a senhola viesse logo. – ela começou a chorar e eu tive que me controlar para não chorar junto.

– Anie, meu amor, não precisa chorar. Eu chego amanhã. Já está tão perto, filha. Faltam só algumas horas. – Expliquei calmamente. – O que aconteceu? Você e seu pai brigaram, foi isso?

– Ele brigou comigo. – Me disse.

– Assim, do nada ou você fez alguma coisa?

– Eu não fiz nada. – Ela se defendeu com muita segurança.

– Tudo bem. Mas o seu pai não ia brigar assim com você, se não tivesse acontecido nada.

– Mas ele brigou. Eu só estava brincando com os meus amigos da escola quando ele chegou. Eu só demolei um pouco.

– Aah sim, entendi. Mas ele também tinha um compromisso, uma reunião. Pessoas adultas têm suas responsabilidades. E às vezes, outras pessoas não são tão compreensivas com adultos, como são com crianças. – Expliquei.

– Ele me chamou de mal-educada. Eu não sou mal-educada.

– Seu pai? Anie, por que ele te chamaria de mal-educada? Tem certeza de que foi exatamente assim? Você não é mal-educada, filha. – Estou confusa, um pouco perplexa a cada confissão dela. Parece que a discussão foi mais séria do que imaginei.

– Sim. Eu não sei. Meu tio Harry disse que eu também sou chata. Chata igual a senhola. Meu papai concordou. Eu disse que sou sua filha.

– Anie… – Eu nem mais o que responder. Mas sei que ela não mentiria e nem tão pouco inventaria essa história.

– Eu só tô falando a verdade. Eu estou chateada.

– Eu sei. Eu imagino, meu amor. Parece que a minha fama não é muito boa… – Comentei. Por que me colocaram no meio dessa história? – Tudo bem para você ser parecida com a mamãe? – Não é a primeira vez que faço essa pergunta a ela.

– Sim. Eu amo ser parecida com você, mamãe. – Respondeu e fiquei aliviada.

– A mamãe também ama que você seja parecida comigo, filha. Não é ruim como as pessoas falam. Elas não são como nós e isso é bom. Está tudo bem. Não é errado.

– Eu sei, mamãe. Eu intendo. Mas o bebê pode ser…

– É, talvez ele seja. Mas nós só vamos ficar sabendo quando ele estiver maiorzinho. Não é assim também…

– Não selá quando ele nascer?

– Não tão cedo assim, filha. Só quando ele começar a se comunicar.

– A falar?

– Sim. Ou a resmungar. – Falei e Anie acabou rindo e me fazendo rir junto. – Eu te amo, filha. Prefiro mil vezes você sorrindo, do que chorando, meu anjo.

– Mas eu tô com saudades, mamãe.

– Eu também estou, filha. Amanhã a gente se encontra. Eu prometo. Você confia na mamãe?

– Eu confio, mamãe. Mas mesmo assim…

– Eu sei, meu anjo. Não quero te ver triste, filha. A mamãe não vai mais viajar. Não por agora, entende?

– Promete?

– Eu prometo, filha. Agora eu vou precisar desligar, meu amor. Preciso voltar ao trabalho. 

– Tudo bem, mamãe. Eu intendo…

– Eu sei que sim. Você é uma mocinha muito inteligente. Eu te amo muito!

– Eu também te amo muito. Eu quelo que chegue logo amanhã.

– Eu também quero. – Confessei. – Um beijo, meu amor. Fica bem, tá? Obedeça o seu pai. Amanhã nós conversaremos melhor, pode ser? Mais tarde eu ligarei para falar com o seu pai. – Expliquei. Anie não disse nada. – Você está ouvindo?

– Sim, mamãe.

– Então tudo bem. Eu te amo. Um beijo!

– Um beijo, mamãe. Eu te amo mais! 


Me disse e eu sorri ao encerrar a ligação.


Ligação OF


Eu quero entender melhor o que de fato aconteceu. Não que eu duvide do que Anie me contou, eu a conheço, sei que ela não inventaria uma história dessas. Arthur e Harry devem ter feito algum comentário mesmo, só quero entender o porquê.


Voltei para a sala, para a reunião. Não temos hora para finalizar, há bastante casos a serem analisados. Talvez Ryan e Adam precisem voltar mais vezes. Eu adoraria estar presente, mas preciso pensar na gravidez, no bebê e na Anie.


Pov Arthur


Se passou um pouco mais de uma hora de reunião. Talvez Anie esteja comportada. Se ela estivesse dando trabalho, a recepcionista já teria vindo me avisar. Finalizamos a reunião e saímos da sala.


Anie está sentada no sofá, muito alheia a qualquer movimento. O meu celular está ao seu lado, na poltrona. Ela realmente deve estar bem chateada e triste, pois não fez caso de mexer no celular enquanto eu estava na sala.


– Pronto, a reunião acabou. Vamos para casa? Você está mais calma depois de falar com sua mãe? – Perguntei divertido, mas ela não correspondeu. Se levantou do sofá e caminhou em minha frente.

– Quase uma mini Lua, a diferença é que ela retrucaria. – Harry comentou divertido.

– Com certeza! – Concordei. – E Lua só volta amanhã, ou seja, Anie ficará sem falar comigo até lá.

– Como assim? Você já foi melhor em contornar essa situação. – Ele me zoou.

– Talvez eu devesse ter me controlado mais. Falei irritado com ela sobre a demora. Eu realmente não gostaria de ter chegado atrasado.

– Se você tivesse falado que Lua não estava aqui, que estava viajando e que você precisava buscar a pequena na escola, entenderíamos. Só faltou um pouco de comunicação.

– Talvez tenha sido isso mesmo. – Concordei.

– Foi. Não é tão difícil admitir. Podemos tentar animá-la com um sorvete. Ela ama sorvete. – Ele lembrou.

– Pode tentar. – Dei o consentimento mesmo sabendo que Anie não vai aceitar.

– Ei, pequena! – Ele a chamou. Ela está parada na porta, fitando a rua. – Ei, vamos tomar um sorvete? Você pode escolher quantos sabores quiser. – Ele deixou claro.

– Obligada. Mas eu prefilo ir pra minha casa. – Ela respondeu com tanta calma, que eu me senti muito culpado de ter chamado a atenção dela da forma que chamei quando ela entrou no carro.

– Você adora sorvete, filha. Sua mãe não vai brigar.

– Eu quelo ir pra casa. – Ela pontuou muito decidida. Olhei para o Harry.

– Tudo bem. Um outro dia então, pode ser? – Harry perguntou. Anie deu de ombros. – Você está chateada comigo? – ele quis saber.

– Eu só quelo ir pra minha casa, é só isso.

– Está bem. Vamos para casa. – Falei. Não quis mais insistir ou ela só ficaria mais irritada.  – Até mais Judd. – Me despedi do Harry.

– Até, Arthur. Tchau, pequena.

– Tchau.

– Vamos lá. – Saímos da produtora.


Anie está completamente em silêncio. Abri a porta do carro e ela entrou.


– E aí, como foi a conversa com a sua mãe? – Perguntei assim que entrei no carro. Ela está sentada na cadeirinha e já está colocando o cinto. – Está melhor?

– Não. Eu ainda estou com saudades da minha mamãe.

– Eu sei que sim, filha. – Liguei o carro.

– Mas a minha mamãe disse que vem amanhã.

– Sim. Só faltam algumas horas. Agora nós vamos para casa. – Falei, mas Anie não disse mais nada. Ficou apenas olhando pela janela do carro.


Eu sei que ela ainda está muito chateada comigo e vai permanecer assim até a Lua chegar, não adianta eu me desculpar. Eu não deveria ter falado com ela daquele jeito, não foi nada tão grave. Eu deveria ter sido mais paciente ou ter pedido à Carol para buscá-la na escola e ter ido à reunião despreocupado e chegado pontualmente.


– Você quer cookies? – Perguntei ao me aproximar de uma doceria que sempre frequentamos. – Anie, eu estou falando com você.

– Não, obligada!

– Filha, você não precisa ficar tão chateada assim. São cookies e você ama. Pode ser muffins também, que tal? – Sugeri.

– Não quelo. – Ela pontuou.

– Anie, eu não briguei com você. Você sabe disso. Eu só falei um pouco mais sério porque eu tinha uma reunião muito importante. É sobre o meu trabalho. E, também, tanto eu quanto a sua mãe já falamos sobre a hora da saída. Não é para você brincar, é para você nos esperar. Ou eu, ou ela ou a Carol. – Expliquei. – Não é assim? – Perguntei, mas Anie não respondeu. – Vai continuar sem falar comigo? Sabia que é falta de educação quando uma pessoa nos faz uma pergunta e não respondemos?

– Minha mamãe falou que eu não sou mal-educada. – Ela se defendeu querendo chorar.

– É claro que você não é. – Concordei com ela. – Eu e a sua mãe estamos nos esforçamos muito para educar você, e eu acredito que estamos no caminho certo. O que eu falei foi sobre as pessoas que não respondem as outras. Só isso… – Expliquei. – Você disse a ela que eu te chamei de mal-educada? – Perguntei.

– Sim. E o tio Harry me chamou de chata igual a minha mãe.

– Anie! – Exclamei. – Filha, você sabe como o seu tio é cheio de graça. Não precisava ter falado isso para a sua mãe. – Agora, com toda a certeza, Lua também deve estar chateada.

– Mas eu falei. É a minha mamãe. Ela disse que tudo bem eu ser parecida com ela.

– Claro que sim, filha. Por que não estaria? Sua mãe é incrível!

– Você concordou com o tio Harry.

– Não. Eu disse que você puxou a teimosia da sua mãe, é bem diferente. Sua mãe sabe que é teimosa e você é igual a ela.

– Minha mamãe é legal.

– Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. – Esclareci. – Você ficou magoada?

– Sim.

– Me desculpa, filha. Eu não quis te magoar. Eu amo que você seja parecida com a sua mãe. Eu já te disse isso outras vezes. Vocês duas são os amores da minha vida exatamente por serem quem vocês são. E nem por um segundo eu gostaria que vocês fossem diferentes.

– As pessoas sempre falam…

– Não importa o que as pessoas falam. As pessoas adoram falar sobre tudo. O importante é você estar bem com você mesma, filha. Eu não quero te ver triste por isso. – Pedi. – Eu sei que você está chateada comigo. Eu não queria isso, confesso. Mas eu te entendo e vou esperar você me desculpar, tudo bem assim? – Perguntei e ela apenas assentiu. – E a gente sempre pode conversar, principalmente quando você ficar chateada ou magoada com alguma coisa que eu falei. – Deixei claro.


Segui para casa. Anie não quis mesmo que parássemos na doceria. Chegamos em casa um pouco mais de seis e meia da noite. Anie acabou adormecendo no caminho. Não quero acordá-la.


Horas depois…


Anie dormiu até depois das sete, quando acordou, tomou banho e já jantamos, em completo silêncio. Já são quase nove horas da noite, ela já foi para o quarto. Hoje não pediu para dormir comigo. Nem com Bart ela quis brincar e ele ficou atrás dela desde que chegamos em casa. Inclusive, está dormindo no quarto dela, ao lado da cama.


Eu estou esperando a ligação da Lua, que pode acontecer a qualquer momento. Estou com muito sono, me sinto cansado e levemente estressado. É bem provável que ela me questione o porquê da Anie ter ficado tão chateada ao ponto de ter pedido para ligar para ela.


Pelo que Anie me disse, contou à Lua que a chamei de mal-educada e Harry a chamou de chata, e eu concordei. O que não foi bem assim. Lua se sente muito mal quando as pessoas pegam os defeitos dela e apontam em nossa filha. As duas são parecidas, isso é indiscutível, mas são parecidas na personalidade como um todo.


Agora, levando em conta a gravidez, que ela está mais sensível, é que ficará ainda mais chateada com esse apontamento.


Meu celular começou a tocar, quando olhei, vi a foto da Lua piscar na tela.


Ligação ON


– Oi, boa noite. – falei assim que atendi a ligação. E é muito estranho falar desse jeito com ela, quando sei que ela está chateada comigo.

– Boa noite. – O tom de voz dela foi bem parecido com o meu.

– Está tudo bem? Já chegou no hotel?

– Sim. Cheguei há uns vinte minutos mais ou menos. Estou esperando a Hanna. Eu estou bem e vocês aí?

– Estamos bem. – Respondi. – O bebê tem se comportado?

– Ele tem sido um bom garoto. – Me respondeu.

– Isso é muito bom, principalmente porque vocês estão longe. Fico mais tranquilo. – Contei.

– Anie já está dormindo?

– Sim. Há alguns minutos.

– Ela me contou algumas coisas, como você deve saber…

– Sim, sei.

– Eu não entendi muito bem, Arthur. Fiquei até surpresa, mas eu conheço a nossa filha, sei que ela não inventaria isso.

– Não brigamos, Luh. Mas ela ficou magoada com o jeito que falei com ela. – Confessei.

– Não foi só o jeito, não foi só o tom de voz. Foram algumas palavras. O que aconteceu realmente?

– Eu fui buscá-la na escola, eu tinha uma reunião na produtora, quando cheguei lá, ela não estava me esperando, disse que ficou brincando com alguns colegas. Luh, ela sabe que a hora da saída, não é a hora de brincar. Mas eu não teria me importado se fosse em um dia que eu não tivesse nenhum compromisso, o que não era o caso e eu já estava atrasado. Ela veio aparecer uns trinta minutos depois. Falei sério com ela e ela já veio dizendo que eu estava brigando. Eu não briguei, só falei, só conversei, em um tom mais sério. Foi isso que aconteceu. – Expliquei. – Mas ela ficou logo chateada. Disse que queria falar com você. Expliquei que não podia naquele horário, que você estava no trabalho, que podia não atender. Mesmo assim ela insistiu, por isso que eu liguei.

– Você podia ter pedido para a Carol ir buscá-la, se tinha outro compromisso. Sempre fizemos assim, Arthur. – Me lembrou. – Por que não fez assim dessa vez? Eu entendo o fato de você querer ser pontual com os teus compromissos, mas isso não quer dizer que você pode se estressar com a nossa filha, com algo que você mesmo poderia evitar. Ela não tem culpa, nem sabia da reunião e não é obrigação dela saber. Você poderia ter se organizado mais.

– Tá bom, já entendi. – Respondi só isso porque não quero discutir com ela.

– Eu não quero que você pense que estou invalidando o teu compromisso. Só acho que todo o estresse poderia ter sido evitado. Você não concorda?

– Eu concordo. Já pensei sobre isso. Já conversei com ela também.

– E vocês ficaram bem depois dessa conversa?

– Não, Luh. Anie ainda está muito chateada, ela está triste. Eu disse que ela pode me desculpar depois, que eu vou esperar, que sempre podemos conversar, principalmente quando eu falar algo que a deixará magoada. Você me conhece.

– Sim, conheço. Por isso custei acreditar no que Anie me contou. Você a chamou de mal-educada?

– Não foi bem assim, Lua. Eu disse que é falta de educação não responder quando as pessoas nos fazem uma pergunta. E ela estava fazendo exatamente isso, me ignorando.

– Porque estava chateada com você.

– Eu entendo.

– Não porque é mal-educada.

– Lua, eu sei que nossa filha não é mal-educada. Eu crio ela junto com você, pelo amor de Deus. Você acha que agi muito errado?

– O ponto não é esse. Combinamos de não passar por cima do outro quando chamarmos a atenção da nossa filha. E eu não quero ser a primeira a fazer isso. Assim como você respeita a minha forma de repreender a Anie, eu quero respeitar a sua. Mas mal-educada, Arthur?

– Eu já entendi que você deu a razão toda para ela. Por que quer continuar essa conversa?

– Você acha que estou te atacando?

– Na verdade, você quer que eu fale o que você quer ouvir.

– Claro que não.

– Vamos acabar brigando, Lua. E tudo isso porque eu me estressei com a nossa filha e você também teria se estressado se estivesse no meu lugar.

– É claro, seria mais fácil comigo. Sou a mais estressada, a mais chata. Não foi isso que você concordou com o Harry?

– Não. Eu não concordei com isso. Falei que Anie é teimosa e essa teimosia ela puxou de você. – Expliquei. Estou odiando o rumo dessa conversa. Mas não quero perder a paciência. – Estou errado? Você sabe que Anie é uma mini versão sua. Eu te falo isso com frequência. Você quer mesmo brigar?

– Parece que é você quem quer. – Me acusou.

– Eu? Você está me acusando desde que atendi a ligação.

– Então vou encerrá-la.

– Lua, por favor. Não faz assim. – Pedi.

– Vou desligar, é melhor.

– O melhor é conversarmos.

– Não está sendo um bom diálogo para nem um dos dois.

– É que quando você quer, você usa a sua profissão contra mim. E eu não gosto, você sabe. Sou teu marido e você está defendendo a nossa filha como se ela fosse uma cliente sua, e eu, o acusado.

– Você está assistindo filmes de ação demais. – Debochou.

– Você sabe que não é exagero da minha parte. Que você está agindo assim agora. Não vai confessar, eu te conheço. E tudo bem. – Se tem um lugar que essa conversa não vai chegar, é a lugar nenhum. Suspirei.

– Boa noite, Arthur.

– Lua, não pode ser sério. – É quase inacreditável. – Tudo isso porque combinamos de não julgar a forma que repreendemos a nossa filha, como você mesmo lembrou. Vamos ter outro filho e como será? Serão novos acordos?

– Você pode educá-lo do seu jeito certo, assim ele será mais educado, menos teimoso e menos chato. Quase um príncipe, se você tivesse esse título.

– Ok. Eu nem vou mais falar nada. Porque se em algum momento passou pela tua cabeça que eu pensei que o fato da Anie ter agido assim, é culpa sua, você está completamente equivocada.

– Boa noite, Arthur.


*


Lua.


Ligação OF


Ela encerrou a ligação antes que eu pudesse responder.


Como ela quer que eu ignore o fato dela ser realmente teimosa?


Se já está difícil fazer as pazes com a minha filha, uma criança de cinco anos. Imagina fazer as pazes com a minha mulher?


Não vai ser nada fácil fazê-la tirar da cabeça que a personalidade dela, não tem nada a ver com a educação das crianças. Não no meu ponto de vista.


Personalidade é muito diferente de educação.


Fiquei olhando a tela do celular com muita vontade de ligar para ela novamente, mesmo sabendo que todas as ligações serão recusadas e as mensagens ignoradas.


Pov Lua


Texas | Quinta-feira, 19 de outubro – Manhã.


Vinte e seis semanas e quatro dias de gestação, seis meses de gestação, final do segundo trimestre.


Talvez eu tenha exagerado um pouco nos questionamentos que fiz ao Arthur ontem a noite. Desde que Anie nasceu, temos muito bem conversado sobre o fato de respeitarmos a forma dos dois de chamarmos a atenção da nossa filha.


Eu e Arthur temos personalidades bem diferentes, mas sempre nos respeitamos. Não quero que agora mude. Não quero que isso se torne um problema para nós e muitos menos atrapalhe o modo como educamos a Anie e daqui a alguns meses, o Ravi.


– Bom dia, Luh! – Ouvi Hanna falar. – Acabou de amanhecer e você parece tão pensativa. – Notou. – Está tudo bem?

– Bom dia, querida. Está tudo bem… – Não consegui evitar um suspiro.

– Não parece, Luh. – Ela se ajeitou na cama e me encarou. – Está tudo bem com o bebê? Não me deixa nervosa. Eu não tenho tanta experiência assim com mulheres grávidas. – Contou me fazendo rir.

– O bebê está melhor do que eu, pode ter certeza. – Garanti.

– Então é você que não está legal. Tem haver com a gravidez?

– Não, Hanna. Tem haver com casamento, com marido.

– Uuuhm… infelizmente os meus conselhos podem soar absurdos.

– Eu sei que sim.

– Tudo por falta de experiência.

– Hahahahaha… – Acabamos rindo.

– A gente pode facilmente adiar a volta e aproveitar mais um dia no Texas. No shopping, por exemplo.

– Eu tenho uma filha, Hanna. Só para caso você tenha se esquecido.

– Mas ela tem um pai, ora.

– Ela já me ligou ontem, disse que está com saudades e eu também estou com saudades dela.

– Uuuhmm… que fofinha! – Hanna disse com uma voz mais fina, me fazendo rir novamente. – Você já vai tomar banho? Só vamos tomar café e partiu aeroporto, é isso?

– É isso mesmo. O roteiro é esse. – Me espreguicei. – Mas pode ir você primeiro.

– Tudo bem. – Ela sentou-se na cama. – Apesar da prioridade ser sua.

– Você acordou muito engraçadinha. – Semicerrei os olhos.

– Estou com tanta saudade de um pub e bebida gelada. – Contou ao se levantar da cama.

– E um boy, aposto. – Brinquei.

– Principalmente. – Ela semicerrou os olhos. – Um morena alto, forte e com pegada.

– Interessante. – Pontuei.

– Uuhm, você sabe que é mais do que isso, Lua Blanco.

– Você está me fazendo sentir falta do meu marido e eu estou chateada com ele.

– Hahahaha… querida, no seu caso é mais fácil acabar em sexo, do que no meu.

– Você pensa que é tão fácil assim?

– E por que seria tão complicado?

– Porque é um casamento. As pessoas dialogam quando estão chateadas, elas não transam assim, como você pensa.

– Conversas são tão chatas. Dúvido que não acabe em sexo às vezes.

– Às vezes sim, mas não com a frequência que você pensa. Além do mais, ele não resolve os problemas.

– Verdade, pode trazer outros… tipo, nove meses depois…

– Tipo isso. Não que eu pense que o meu filho seja um problema. – Deixei claro. – Mas às vezes acontece.

– Eu sei que sim.


*


Eu já tomei banho, vesti a minha roupa e agora estou penteando os meus cabelos. E embora eu tenha entrado no banheiro depois da Hanna, estou praticamente pronta, enquanto ela ainda está tentando encontrar uma roupa que combine.


– Hanna, definitivamente, você é mais chata do que eu.

– Não, o seu corpo é mais bonito do que o meu. Consequentemente, qualquer roupa fica boa em você.

– Até parece. Para de falar bobagem – revirei os olhos –, eu estou grávida, se é que você esqueceu.

– E está ainda mais linda! – ela deu de ombros. Sorri. Um elogio nunca é demais. Talvez eu esteja precisando, depois de ontem.

– Obrigada, querida. Mas você também é linda. Deveria se olhar com mais carinho.

– Obrigada, Luh. Mas eu realmente não estou gostando de nenhuma roupa. – A cama dela está uma bagunça. Com certeza ela jogará tudo de qualquer jeito dentro da mala. Não temos tempo para organizar.

– Eu trouxe vários vestidos. Se você quiser, pode escolher um.

– Claro que não, Luh.

– Por que não? Eu não ligo para isso, Hanna. Não sou apegada a esse tipo de coisa. – Terminei de pentear os meus cabelos. – O que você acha? Pode gostar de alguma coisa. Mas só são vestidos. – Expliquei. – É a peça de roupa mais fácil de caber em mim por conta da barriga. – Completei.

– Você não se importaria mesmo?

– Não, claro que não. – Garanti e abri a minha mala. – Você pode escolher. Só bagunça como fez na tua ou você vai arrumar. – Avisei.

– Lua, tuas roupas são perfeitas! – Elogiou. – E sexys!

– Eu sou uma mulher casada. – Pontei. – E estou grávida. – Acrescentei.

– Mesmo assim. – Insistiu e acabamos rindo. – Eu fico até com vergonha.

– Para com isso, Hanna.

– Esse branco é lindo. Parece um sobretudo.

– Sim, ele é mesmo. Eu tenho um preto. Você pode escolher esse se quiser.

– É sério mesmo?

– Claro que sim. Não aguento mais ouvir você reclamar que não têm roupas. – Brinquei.

– Aaaii, Luh! Obrigada! Obrigada! Obrigada! – Ela começou a dar pulinhos e veio me abraçar. – Eu amei! Esse vestido é lindo, perfeito!

– Aah, querida, que bom que gostou. – Sorri. – Você vai arrasar!


Link | Look Lua e Hanna - Clique aqui e veja.


Hora do café da manhã.


Nós duas chegamos ao restaurante do hotel. Adam e Ryan já estão sentados à mesa.


– Bom dia, meninas! – Adam nos cumprimentou.

– Bom dia, querido. – Respondi. – Bom dia, Ryan.

– Bom dia, Lua. Hanna.

– Bom dia! – Hanna respondeu.

– Eu pensei que também fosse um querido.

– Uuhm… quase. – Respondi ao me sentar à mesa e eles riram. – Ainda não pediram?

– Não. Estávamos esperando por vocês.

– Não seja por isso. – Respondi.


Hanna fica antissocial quando Ryan está conosco. O que é até engraçado, já que ela fala sem parar e, às vezes, até sem pensar.


Adam chamou o garçom e fizemos os nossos pedidos e ficamos conversando até o café da manhã ser trazido.


– Conseguimos resolver bastante coisa nessa viagem. – Ryan comentou.

– Concordo. Foi bem produtiva! – Concordei com ele.

– Eu estava conversando com o Adam sobre uma possível viagem, daqui há uns dois ou três meses.

– Nossa, eu adoraria vir novamente. Mas acredito que a médica não vai me liberar. – Contei.

– Sua médica saberá o que é melhor, Lua. – Ryan pontuou.

– Com dois meses você acha que não dá para vir? – Hanna me perguntou.

– Eu estarei com oito meses, talvez Eliza não ache uma boa ideia.

– O bebê pode nascer?

– Claro, Hanna. – Adam se apressou em responder. – Pode haver problemas com a circulação, além de não ser tão confortável.

– Como você sabe?

– Minha mulher está grávida. Perguntamos sobre essas coisas. – Ele explicou. Achei fofo da parte dele também estar interessado.

– E é isso mesmo. Embora agora a minha gravidez não apresente riscos, no início foi bem complicada. Então eu preciso tomar todos os cuidados possíveis.

– Então você já sabe que só participará de uma nova viagem quando o seu bebê nascer. – Ryan lembrou. Acabamos rindo e eu concordei com ele. Além do mais, se eu fizer uma nova viagem nos próximos meses, Arthur ficará extremamente preocupado.

– Provavelmente sim.


Continuamos a conversa, agora falando sobre outros assuntos e, finalmente, o nosso café da manhã chegou.


*


– Eu confesso que o lado ruim de viajar é fazer a mala, da volta, é claro. – Hanna reclamou assim que voltamos para o quarto.

– Você é bagunceira, por isso é tão ruim. A minha já está praticamente pronta. – Apontei para a mala em cima da cama. – Falta só eu colocar os meus produtos de higiene.

– Pois a minha falta eu encontrar as minhas roupaaaas… – Ela fez um gesto desesperado.

– Pois então comece logo. Não temos tanto tempo assim. – Lembrei.

– Você poderia me ajudaaaar…

– Aah não, querida. Não mesmo! – Me sentei na cama. – Não vejo a hora de chegar em casa.

– Imagino o porquê. – Ela insinuou semicerrando os olhos. Acabamos rindo.

– Ai, Hanna. Você é demais!

– Você não negou!

– Esqueceu que estou chateada com o Arthur?

– Você tem umas dez horas para “desficar” – ela fez aspas no ar – chateada com ele. – Deu de ombros. – Além do mais, ele com certeza vai te esperar no aeroporto.

– Uuhm… não sei, ele ainda não me mandou mensagem. Eu conheço o meu marido, Hanna. Ele deve estar extremamente ansioso para saber se eu quero ou não que ele vá me encontrar.

– E você, como uma mulher que faz jus à classe feminina, vai deixar ele sofrer um pouquinho?

– Talvez sim… sou muito má?

– Depende da raiva que ele te fez. E você está grávida, tem seus direitos. – Disse e rimos outra vez.

– Eu não vou ficar ainda mais chateada se ele não estiver lá me esperando. – Deixei claro.

– Acho que você até prefere, pelo visto. – Notou.

– Não sei. Só não quero brigar.

– Então espera ele mandar mensagem. É melhor assim. Está vendo? Eu dou bons conselhos às vezes.

– Sim, uma raridade. Estou lisonjeada.

– Ai que debochada!


Hanna começou a procurar pelas roupas dela, para pôr tudo na mala. Eu fiquei com o celular na mão, mas nenhum sinal de mensagem do Arthur. Aliás, ele não mandou nenhuma desde que amanheceu. Em Londres já são quase quatro horas da tarde.


11h20 (Texas) • 17h20 (Londres)


Mensagem ON


“Lua, bom dia!”


“Eu sei que você está chateada, mas eu quero saber se você quer que eu vá te buscar no aeroporto.”


“Estou com saudades, mesmo sabendo que você deve estar muito chateada.”



Eu conheço o Arthur, sei que ele está com a sensação de “estar pisando em ovos” em relação a mim. É fato que estou chateada, mas não quero brigar com ele. Sei que ele se preocupa, se eu falar não, ele vai se sentir muito ruim. Além do mais, eu também estou com saudades dele.



“Oi, Arthur. Boa tarde!”


“Sim, estou chateada mesmo. Mas também estou com saudades.”


“Você pode me encontrar no aeroporto.”


“O voo está marcado para às 12h40, horário aqui do Texas.”


“Ainda estamos no hotel.”



“Eu sei :( ”


“Me manda mensagem quando embarcar.”



“Tudo bem.”



“Boa viagem.”



“Obrigada!”


Mensagem OF 


– Aposto que Arthur deu o braço a torcer. Não é assim que falam?

– Ele mandou mensagem. Na verdade, eu sabia que a qualquer momento ele mandaria.

– Hahaha… é até engraçado. Mas ele deve estar duplamente preocupado. Já pensou se você foge com o filho dele?

– Já pensou? – Questionei também. Hanna riu. – Eu não tenho nem disposição para isso. Na verdade, essa ideia jamais passaria pela minha cabeça.

– Eu sei. Por isso eu pensei por você.

– Obrigada, mas o Arthur odiaria saber que você tem me dado essas ideias.

– Ele não precisa saber. Vai cancelar a minha viagem de ano novo. – Ela lembrou.

– Hahahaha… Eu nem acredito que ele te prometeu isso.

– E ele estava sóbrio. – Ela pontuou.

– Preocupante!

– O bebê nasce em janeiro?

– Sim, final de janeiro mais ou menos.

– Quanto mais ou menos?

– A partir do dia catorze, para não ser considerado mais prematuro. Aí tem até a primeira semana de fevereiro…

– Nossa, tudo isso ainda? Ai meu Deus!

– Sim. – Acabei rindo. – Apesar de achar que vem antes do dia vinte e cinco, sei lá… quarenta semanas está ótimo!

– Você vai tentar parto normal?

– É uma possibilidade. Mas eu realmente ainda não decidi. – Expliquei. – Antes eu parecia ter mais certeza, agora parece que fiquei insegura de não conseguir, igual quando foi o da Anie.

– Aah Luh, é outra gravidez. Eu não entendo muito desse assunto, mas, com certeza, deve ser totalmente diferente uma da outra. Você não devia pensar assim.

– Eu sei. Arthur fala a mesma coisa. Apesar de deixar claro que vai me apoiar em qualquer decisão.

– Isso é o mais importante.

– Sim. – Concordei com ela.

– O que o restante da sua família acha? Eles não opinam?

– Na verdade, eu não tenho discutido com eles sobre essa nova gravidez.

– Aah sim… eu não quis ser indelicada.

– Eu sei, Hanna. Está tudo bem. O clima só não é mais o mesmo de antes da separação.

– E já se passaram quase dois anos…

– Para você ver.

– Mas o importante é que quem deveria estar do teu lado, realmente está. O restante, se não for pra ajudar, melhor não atrapalhar mesmo.

– Eu compartilho do mesmo pensamento. E Arthur realmente está cem por cento comigo, igual todas as outras vezes.

– Então está tudo bem.

– Sim. E Laura também tem sido incrível. Ela é uma sogra maravilhosa.

– Eu não acho. Ela só fez um filho, o que custava fazer mais um ou dois? Eu hein… – Hanna brincou.

– O Arthur não acredita quando eu exponho essas tuas falas.

– É que eu ainda tenho credibilidade.

– Eu penso que não seja isso.

– Você só não quer admitir. – Ela deu de ombros. – Olha só como estou sendo bastante organizada. – Ela sorriu olhando para a própria mala.

– Merece uma comemoração!

– Sim. Tequila?

– Com água talvez. – Respondi.

– Um suco.

– Pode ser.


Aeroporto Internacional de Dallas/Fort Worth – Hora do embarque.


12h20


Faz vinte minutos que nosso voo foi anunciado. Já estamos na fila de embarque. Ainda bem que não precisamos despachar nenhuma mala.


Não almoçamos, porém, não estou com fome. O nosso café da manhã no hotel foi bem reforçado. Apesar de que dez horas de voo não são nada fáceis.


Mensagem ON


“Arthur, já estou na fila de embarque.”


“Se não houver atrasos, talvez eu chegue lá pelas cinco horas da manhã, horário aí de Londres.”



“Certo. Vou te esperar no aeroporto.”


“Boa viagem.”



“Obrigada!”


Mensagem OF


*


Londres | Sexta-feira, 20 de outubro – Madrugada.


Ontem, Anie não quis que eu a levasse até a escola. Pediu que Carol fizesse isso e eu deixei. Não quis discutir com ela sem motivos, sei que ela só está agindo assim, porque ainda está muito chateada comigo.


Não almoçamos juntos porque ela almoça na escola, mas jantamos juntos. Em meio, é claro, a um silêncio absurdo. Acho que até Bart estranhou.


Lua chegará daqui a menos de uma hora, mas Anie não perguntou ontem pela mãe.


É muito estranho conversar com Lua como se ela fosse qualquer pessoa, menos a minha esposa. Parece que até desaprendo a falar/conversar com ela quando isso acontece – principalmente quando está longe.


Já vesti a minha roupa e estou quase pronto para sair de casa. Espero que o voo não tenha atrasado, que não tenha tido turbulências e que Lua esteja fazendo uma boa viagem e que tenha conseguido se alimentar. Dez horas de voo é muito tempo. Eu também espero que ela tenha se lembrado das meias de compreensão.


Peguei meu celular e as chaves, de casa e do carro, e saí do quarto.


*


Aeroporto de Heathrow | 4h45 da madrugada.


O aeroporto está com o fluxo de pessoas tranquilo. Ainda é muito cedo. Normalmente os voos saem mais tarde, porém, chegam cedo em alguns dias da semana.


Eu estou muito ansioso para ver Lua, para abraçá-la, mesmo sem ter tanta certeza de que ela quer o mesmo. Apesar de ter me dito que também está com saudades.


Sei que vamos conversar e, no fundo, isso me tranquiliza. Sempre conseguimos resolver pacificamente as nossas questões, principalmente, quando o assunto é a nossa filha.


Me sentei em uma cadeira um pouco distante do portão de desembarque. Ainda faltam alguns minutos para o avião de Lua pousar.


5h15


Talvez eu esteja um pouco inquieto – para não dizer, preocupado. Só se passaram quinze minutos, mas é como se tivesse se passado uma hora ou mais.


Já estou em frente ao portão de desembarque há mais ou menos vinte e cinco minutos. Mesmo sabendo que a chegada do voo ainda não foi anunciada.


Não sei porque está atrasado. O tempo parece ótimo para pousos e decolagens.


Minutos depois…


Eu já tinha saído da porta de desembarque umas duas vezes e voltado, mas o quadro de voos permanece o mesmo, o voo está com previsão de chegar nos próximos minutos – que para mim mais parecem horas.


Logo algumas pessoas começaram a passar pelo portão. Eu não voltei a olhar para a tela de voos. Fiquei aguardando pela Lua.


Mais alguns minutos e a vi caminhar enquanto conversava com Hanna. Comecei a sorrir, quero muito abraçá-la e desejo que ela queira o mesmo.


– Arthur! – Hanna me cumprimentou.

– Hanna! E aí, como foi a viagem? Parece que acabou atrasando.

– Sim. Na hora do pouso. Mas o restante foi tranquilo. – Ela sorriu.

– Que bom. – Sorri de volta. – E você, como está? – Perguntei olhando-a. Hanna se afastou um pouco para falar com Adam.

– Estou bem. – Lua respondeu. – Como Hanna disse, a viagem foi tranquila. – Assegurou. Me aproximei mais dela para abraçá-la.

– Eu estava com saudades de você. – Falei assim que nos abraçamos. – De vocês… – Acariciei levemente sua barriga, que por sinal, parece que duplicou.

– Nós também sentimos a tua falta. – Ela confessou. Inspirei seu perfume e soltei o ar vagarosamente.

– E como o nosso bebê se comportou? – perguntei assim que nos afastamos.

– Muito bem. Ele foi um bom garoto. – Lua acariciou a barriga.

– Você está linda! Está perfeita! – A elogiei.

Aah, Arthur… obrigada…

– Eu sei que está chateada. Mas quero tanto te beijar. Não devia ser tão errado assim…

– E quem disse que é errado?

– Então… – me aproximei um pouco mais dela – quer dizer que se eu tentar, você não vai me parar? – Sussurrei.

– Quer tentar? – Me provocou e eu aproximei ainda mais os lábios dos dela.


O beijo foi carinhoso, calmo e um pouco mais rápido do que eu queria.


Huum… tudo bem. – Me afastei. – Vamos para casa. Você precisa descansar.

– Tenho que concordar. Estou sentindo as minhas pernas pesadas.

– Você colocou as meias?

– Sim. A Hanna me ajudou. – Disse e eu peguei a mala dela. – Vou só me despedir deles – apontou para onde os colegas dela estão –, eu não demoro. – Completou e eu assenti.


Continua…


SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

12 comentários:

  1. Adorei, esperando ansiosa pra ver anie com a Lua

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  2. Ahhh como eu amo esse casal e essa família!! Arthur e Lua estão muito apegados nessa gravidez!! Só me chatea como, na minha visão, o Arthur sempre tem que pedir desculpas e ser a pessoa mais errada da história, entendo que Lua esteja sensível e tudo mais porém não é justificativa pra tudo...ela diz não querer passar por cima da repreensão dele com a filha, mas foi exatamente o que ela fez, colocou ele como todo o errado da história, quando acredito que até o que ele errou foi tentando ser um bom pai...por Lua estar ausente, Arthur não quis deixar de buscar a Anie, errou nas palavras e esta certo em pedir desculpas pra Anie,mas em nenhum momento foi grosseiro ou ruim com a pequena para ser visto de forma tal errada e ter essa recepção depois de dias longe :/ espero que se acertem como sempre pq são lindos juntos

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    1. Concordo com vc, ele sempre é o que tem que pedir desculpas sempre, ele sempre tão carinhoso com ela e sempre tenta entender ela ainda mais com a gravidez que ela está sensível, mas acredito vão se acertar logo!

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  3. Capítulo maravilhoso. Parou na melhor parte.

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  4. Lua pega muito no pé do Arthur ela é muito dura com ele.

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  5. Mas ansiosa pelo próximo capítulo

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  6. Amei o capítulo...
    Lindo eles com saudades um do outro. Que pena esse desentendimento entre Anie e Arthur. Acho Lua um pouco dura com Arthur, dá a impressão que ele sempre tá errado e ela certa e tem situação que não é para tanto (entendo também que por causa da gravidez), mas o cap foi lindo!

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  7. Entendo que lua está sensível pela gravidez, mas ela tem que uma criança chateada pode sim exagerar, não digo que ela mentiu, Arthur fez certo ao pedir desculpas a anie, mas lua não precisava fica chateada com ele

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  8. não acho que o arthur tenha que pedir desculpa a lua, ele não tá totalmente errado nessa situação. sabemos que anie ainda é criança e sente falta da mãe, mas ela foi super birrenta!

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  9. O Arthur sempre que tem que pedir desculpa para lua até para anie

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  10. Ansiosa pelo proximo capítulo

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