Little Anie
Parte Quatro
O que faz a gente se apaixonar por alguém
não é somente a aparência, mas sim o respeito,
o cuidado, a atenção, o carinho, o colo, o afeto,
coisas que beleza nenhuma consegue superar.
– Silvio Matos
Pov Arthur
Londres | Sexta-feira, 20 de outubro – 5h30 da manhã
Nós chegamos ao estacionamento, desativei o
alarme do carro, Lua entrou, guardei a mala no porta-malas e depois entrei no
carro.
– Você está sentindo muito desconforto? –
Perguntei um pouco preocupado.
– Não. – Disse apesar de ter feito uma careta
de leve. – Só estou sentindo as minhas pernas um pouco pesadas, cansadas… uma
sensação estranha. No voo de ida não foi tão ruim assim. – Contou.
– Acho que agora é porque você está mais
cansada. Posso fazer uma massagem quando chegarmos em casa, se você quiser. –
Ofereci. – Você usou as meias?
– Obrigada, Arthur. Eu vou querer. Mas depois
de tomar um banho… dez horas de voos. – Disse e bocejou. – Sim, a Hanna me
ajudou a colocar. Inclusive, vou tirá-las. – Avisou.
– Você continua muito cheirosa, mesmo depois
de dez horas de voo. – Falei. Lua riu. Amo o sorriso dela.
–
Obrigada, querido. Só não vou dizer que é gentileza sua, porque
realmente estou me sentindo cheirosa. – Disse convencida.
– Você e todos que tem olfato podem sentir,
querida. – Afirmei. E acabamos rindo.
– Você é demais. Senti tantas saudades,
Arthur.
– Eu também senti, Luh. Gostaria que você não
estivesse chateada comigo.
– Não precisamos falar sobre isso agora. O
clima estava mais leve há alguns segundos. Prefiro que permaneça assim.
– Tudo bem. – Concordei. – Acabamos
confundindo os dias. – Mudei de assunto.
– Sim. Pensei nisso quando já estava no avião.
Pensamos na quinta, mas do Texas. A consulta com a Eliza é hoje.
– Sim, daqui a – olhei para o relógio – quatro
horas mais ou menos. – Falei.
– Sim. Quero ver a nossa filha.
– Ela vai ficar muito feliz quando acordar e
te ver. Talvez nem queira ir para a escola.
– Não. Não vou deixar ela faltar. Vamos para a
consulta, nem vou conseguir ficar com ela agora de manhã.
– Então você vai ter que explicar isso a ela.
– Sim. Espero que ela entenda. – Respirei
fundo. – Quero me deitar na nossa cama.
– Já estamos quase chegando. – Sorri de lado.
Sei que ela está cansada. – Sabe, comprei sorvete pra você. O seu preferido.
– Aaah, Arthur… – Lua curvou os
lábios em um sorriso. – Obrigada. Como você adivinhou?
– Hahaha… só para te agradar um pouquinho…
– Sim. – Estacionei na frente de casa.
– Uuhm… nem estou merecendo tanto
assim.
– É claro que está. Afinal, um sorvete nunca é
demais para uma grávida saudável, estou errado?
– Não. – Lua me abraçou. – Obrigada. Você é
incrível! – Me disse. Retribui o abraço. – Mas você entendeu o que eu quis
dizer, não entendeu? – Ela se afastou um pouco.
– Entendi. E continuo achando que você não
merece só um sorvete. – Respondi. Lua encostou a testa na minha. Não falamos
nada durante alguns segundos. – Acho melhor sairmos do carro e entrarmos em
casa. Você precisa descansar. – Falei depois de um tempo. Lua sorriu e
concordou.
– Você pode não se controlar. – Ela ficou me
encarando.
– Ou você. – Respondi e ela assentiu de forma
cínica. – Linda. – Sussurrei.
– Aah, onde está Bart? – Já entramos em casa e
Lua não viu o nosso cachorro na sala.
– Está dormindo no quarto com a Anie. Se ele
estivesse aqui, já teria pulado em você. Ele também está com saudades.
– Eu também estou com saudades dele. –
Confessou e subimos a escada.
– Não. Não quero acordá-la. Porque quero
descansar um pouco.
– Tudo bem. – Seguimos para o nosso quarto. –
Você quer comer ou beber alguma coisa? – Perguntei ao abrir a porta do quarto.
– Não. Só vou tomar um banho. Quero descansar
antes de irmos à consulta.
– Certo. Então vou esperar você tomar banho
para depois fazer a massagem nas suas pernas, tudo bem?
– Sim, tudo. – Lua sorriu sem mostrar os
dentes e foi para o banheiro.
Lua saiu do banheiro e foi direto para o
closet. Estou deitado na cama esperando por ela. Não estou com sono e, por mim,
conversaria com ela sobre o bebê. Mas sei que ela está cansada, que quer e
precisa dormir.
Ela voltou para o quarto vestida com um
pijama. O que me fez lembrar do presente que Anie pediu para comprar para ela e
para o bebê.
– Já? – Perguntei e Lua assentiu. – Você quer
que eu faça massagem com óleo ou creme?
– Pode ser com creme. – Ela se sentou na cama.
– Vou buscar. – Me levantei da cama e fui até
o banheiro.
– Sim. Vamos sair daqui às oito.
– Quer contar a Anie sobre a viagem?
– Não. Semana que vem a gente conversa. A
apresentação será dia vinte e oito? – Voltei para o quarto.
– Sim, a do balé. A da escola será dia trinta
e um mesmo, na terça-feira.
– Acredito que já estarei aqui.
– Eu vou fazer de tudo para estar presente
nessa, isso se ela quiser.
– É claro que ela vai querer, Arthur.
– Ela ainda pode estar chateada. – Me sentei
na cama.
– Duas semanas depois? Eu acho que não… – Lua
colocou as pernas sobre as minhas coxas.
– Vamos ver… – Respondi e comecei a massagear
os seus pés e as suas pernas.
Não falamos mais nada. Eu estava tão
concentrado na massagem, que só notei que Lua havia adormecido quando ergui a
cabeça para olhá-la.
Sorri e me levantei com cuidado, colocando as
pernas dela sobre o colchão, puxei o lençol para cobri-la, apaguei as luzes e
me deitei.
– Bom dia. – Falei assim que acordei e percebi
que Lua já tinha acordado.
– Sim, um pouquinho… – Ela se espreguiçou e
puxou ainda mais o lençol para se cobrir. – Acho que ainda é cedo.
– Deixa eu ver… – Me virei para pegar o
celular que está sobre a mesa de cabeceira. – Sete e vinte.
– Sim. Carol já deve estar com ela. Quer que
eu vá lá e peça para ela vir aqui?
– Não. Não precisa. Deixa que eu vou até o
quarto dela. – Lua se sentou na cama.
– A gente pode levá-la à escola, depois
podemos tomar café em um outro lugar ou sei lá… dar uma volta até a hora da
consulta, pode ser?
– Muito. – Sorri e Lua sorriu de volta.
– Combinado! – Disse e levantou da cama, indo
em direção à porta do quarto.
– Tá… eu já tomei quando cheguei… – Sussurrou
me fazendo rir. – Está frio. – Completou. E de fato hoje amanheceu mais frio do
que nos outros dias.
– Você está se justificando, Lua Blanco?
– Não, não é necessário. Eu estou cheirosa.
– Você é cheirosa. – Pontuei e ela me jogou um
beijo no ar antes de sair do quarto.
Ficar chateada com Arthur é uma das coisas
mais difíceis para mim. Ele é a pessoa mais gentil que eu conheço. Me sinto a
pior pessoa quando isso acontece.
Andei até o quarto da nossa filha, a porta
está entreaberta, provavelmente, Carol já deve estar lá com ela.
– MAAAMÃÃÃEE!!! – ela veio correndo em minha
direção. – Eu estava com saudades… muita, muita, muita saudade…
– Eu também estava, meu amor. – Lhe enchi de
beijos. Anie não me soltou.
– Bom dia, Luh. Eu não sabia que você já tinha
chegado. – Carol falou quando me viu.
– Bom dia. Eu cheguei bem cedo, ainda de
madrugada. Arthur foi me buscar. – Contei.
– Eu já ia ajudá-la a se vestir para ir à
escola.
– Eu posso ajudá-la. – sorri e dei mais um
beijo na bochecha da Anie. – Tudo bem, filha?
– Mamãe, eu ainda preciso ir para a escola?
– Só hoje que não, mamãe. Eu prefilo ficar com
a senhola.
– A mamãe também. – Apertei levemente suas
bochechas e me sentei em sua cama. – A mamãe vai te levar e te buscar na
escola. Pode ser assim?
– Por que eu não posso faltar só hoje?
– Meu amor, a mamãe vai precisar sair daqui a
pouco. Eu tenho uma consulta para ver como o bebê está. Eu não vou poder ficar
com você a manhã inteira, entende? Então é melhor você ir para a escola, eu vou
te levar lá, e depois eu vou para a consulta e à tarde eu vou te buscar. E
ficaremos juntinhas. – Prometi.
– Eu posso dormir com a senhola?
– É claro que eu prometo. – Garanti.
– A gente também pode assistir filme?
– Sim. Vamos fazer o que você quiser. –
Prometi e Anie me deu mais um abraço.
– Eu também te amo, filha. – Lhe dei um beijo
na testa. – Agora vamos vestir o uniforme da escola? Eu te ajudo.
– Mamãe, hoje tem ensaio da dança de Halloween.
– Sim, eu sei. Por isso que também é
importante que você não falte. – Lembrei. – A apresentação já está tão próxima.
Como você está se sentindo? – Ajudei Anie a vestir o uniforme.
– Ansiosa! E eu também quelo logo ver a
minha roupa da outra dança, do balé.
– Talvez ela seja entregue semana que vem,
filha. Deve estar linda!
– Olha só como você está linda, meu amor!
– Obligada, mamãe. A senhola vai mesmo me
levar para a escola?
– Vou, filha. Eu e o seu pai. Eu só vou trocar
de roupa.
– Não, Anie. O seu pai vai comigo ao médico. –
Franzi o cenho. – Filha, tanto eu quanto o teu pai sempre validamos os teus
sentimentos. E eu sei que ele já te pediu desculpas…
– Mesmo assim eu ainda estou chateada…
– Você é muito pequena para estar chateada por
tanto tempo. – Brinquei apertando levemente a ponta do seu nariz. – Você não
está com saudades do seu papai?
– Filha, eu chamo a sua atenção mais vezes do
que o seu pai. E eu não lembro de você ficar tão chateada assim comigo. –
Lembrei ela.
– É difelente. – Ela pontuou. Anie sempre
responde assim quando sabe que não tem o que argumentar.
– Você pode me explicar o porquê de ser tão
diferente assim? – Perguntei. A pequena ficou me encarando. – Filha, você ainda
é muito pequena, mas sei que entende que eu e o seu pai somos responsáveis por
você, e que, consequentemente, vamos chamar a sua atenção vez ou outra. Isso
não significa que gostamos menos de você. Significa que te amamos e que sempre
vamos querer o teu bem. – Falei calmamente. – Ele me explicou o que aconteceu.
– Não. Porque eu não tenho que desculpá-lo de
nada. A situação não foi comigo. Eu estou apenas tentando ajudar vocês dois.
Seu pai está com saudades de você. – Contei. – Você sabe que ele te ama muito.
– Agola ele ama mais o bebê do que eu.
– Não. Isso nunca será verdade, filha. –
Deixei bem claro. – Nós amamos vocês dois igualmente. Pensei que já tivéssemos
conversado sobre esse assunto. Não gosto quando você fala assim.
– Mesmo assim o bebê é mais importante agola.
– Filha, o bebê ainda nem nasceu. Quando eu
estava grávida de você, eu também fiz tudo o que estou fazendo agora e o seu
pai também me acompanhou. Toda mulher grávida precisa fazer exames com mais
frequência, isso tudo é para ver se o bebê está bem, se está saudável. –
Expliquei. – Não é porque eu amo mais ele do que você. Eu também te levo ao
médico ou você não lembra? Mas você é maior, não precisa ir todo mês. Agora
vamos a cada seis meses ou quando você fica doente, o que é raro, graças a
Deus! – Completei. Anie ficou me observando.
– Aah… e você quer que ele vá? – Quase
ri. – Era só já ter falado para ele. Você sabe que o seu pai não recusaria. Ele
não vai porque geralmente está trabalhando… mas se você tivesse nos falado, eu
tenho certeza de que ele teria ido todas às vezes. – Assegurei. Porque eu
conheço o pai que os meus filhos tem.
– É só você falar, meu amor. Agora eu já sei,
posso conversar com ele. – Sorri com carinho. – Você não precisa ficar chateada
ou achar que o seu pai te ama menos por isso, porque não é verdade. – Falei e
Anie me abraçou. – Você sabe que não é verdade, não sabe? – Insisti e ela
assentiu. – Vai conversar com o seu papai?
– Você continua tão chateada assim? – A
pequena ainda abraçada a mim.
– Ai, meu Deus! Você realmente é mais parecida
comigo do que as pessoas pensam. – Admiti. – Escuta só… – nos
afastamos pouco – seu papai viaja hoje
para fazer shows…
– Não. Hoje à noite. E eu não gostaria que ele
viajasse com vocês sem fazerem as pazes.
– Sim, quatro dias. Muitos dias.
– Eu vou sentir saudades do meu papai…
– Eu sei que vai. – Concordei.
Porque além de conhecer muito bem o meu
marido, conheço ainda mais a nossa filha. Sei que essa birra toda é só para
“não dar o braço a torcer”, como se ela soubesse o que isso significa.
Anie é uma criança de apenas cinco anos, muito
esperta para a idade dela, reconheço. Cheia de personalidade e como todos
dizem: muito parecida comigo. Eu não posso julgá-la por isso. E também
não quero tirar a autoridade do Arthur sobre ela.
– E o que você vai dizer para o seu pai?
– Eu vou pedir desculpas para o meu papai.
– Vai? – Insisti e a pequena assentiu. – E vai
aceitar as desculpas dele?
– Tudo bem. Sabe, eu prefiro mil vezes vocês
dois sendo insuportáveis fazendo ciúmes em mim, do que vocês dois chateados um
com o outro. – Confessei e Anie riu ao me abraçar novamente. – Estou falando
sério.
– Eu sei que você ama, filha. E ele também te
ama. – Afirmei. – Você só precisa entender que haverá momentos em que eu ou o
seu pai vamos precisar chamar a sua atenção, falar mais sério. E isso não vai
acontecer só agora porque você é pequena. Pode acontecer em qualquer momento da
sua vida quando você fizer algo de errado ou algo que não concordamos. – Falei
pacientemente. – Até hoje a sua avó Laura chama a atenção do seu pai. A minha
mãe e o meu pai chamam a minha atenção. A gente pode não gostar, mas escutamos.
Você também precisa escutar e aprender a respeitar. Não queremos ser chatos com
você.
– Sim. Sempre que ele fizer algo que não
concordarmos.
– Eu sei. Mas quando ele começar a engatinhar
e depois andar, ele vai querer fazer algumas coisas que não pode. Aí eu e o seu
pai vamos conversar com ele. Porque ele é bebê, ainda não tem noção de perigo,
não sabe o que é certo ou errado, o que pode ou não pode. Aconteceu o mesmo com
você. E você sempre foi uma garotinha muito serelepe. – Apertei levemente o seu
nariz. – Você entendeu?
– Entendi, mamãe. Mas também não pode bigar
sempre com o bebê. – Ela olhou para a minha barriga.
– Não estamos falando em brigar, estamos
falando sobre conversar, sobre chamar a atenção. Porque tudo será novo para
ele. E você também pode nos ajudar. Você já sabe as coisas que pode ou não
fazer aqui em casa, não sabe?
– Eu sei, mamãe. – Ela sorriu. – Mas eu também
ainda sou criança.
– Eu sei, meu amor. Mas você já é a irmã mais
velha dele. – Lembrei e Anie deu uma risadinha antes de voltar a me abraçar. –
Você entendeu?
– Agora deixa eu terminar de te ajudar. Vamos
prender os seus cabelos. Como você quer?
– Tudo bem… – Sorri lhe dando um beijo na
testa.
Eu comecei a dividir os cabelos dela ao meio.
Pelo menos dessa vez ela me pediu um penteado simples, que eu consigo fazer sem
muita dificuldade. Não sou muito boa com penteados para uma mãe de menina, mas
tenho me esforçado.
Terminei de fazer as duas tranças, ajudei Anie
a calçar os sapatos e pedi que ela descesse e fosse tomar café enquanto eu me
arrumava para levá-la à escola junto com Arthur. Ela não voltou mais a
questionar ou pedir que o pai não fosse.
Voltei para o meu quarto e encontrei Arthur
calçando os sapatos.
– Devia ser proibido você usar camisa branca.
– Falei. Ele riu.
– Fica tão feio assim? – Brincou, pois ele
sabe que é exatamente ao contrário.
– Uuuhm… não seja modesto. – Me aproximei
dele. Arthur colocou as duas mãos na minha cintura. – Você fica irresistível. E
eu fico com ciúmes. – Contei. Ele riu novamente.
– Eu aceito o irresistível, mas os ciúmes não.
Não há motivos. – Respondeu e aproximou os lábios da minha barriga, depositando
um beijo carinhoso. – Você concorda, meu amor? – Perguntou ao bebê. – Hein, meu
garotinho? Você pode dar um chutinho se concorda com o papai. – Deixou claro e
sentimos Ravi chutar. Fiquei sem acreditar. Arthur percebeu e sorriu ao me
olhar. – Posso levantar? – Se referiu a parte de cima do pijama.
– O que você não pode? – Respondi e Arthur
levantou a blusa do pijama. – Não serei eu a impedir esse momento. – Completei
e ele sorriu antes de depositar vários beijos em minha barriga. Terminei de
tirar a blusa, porque vou trocar de roupa.
– Eu te amo, meu garotinho. Eu te amo muito… –
Declarou ainda depositando beijos em minha barriga. – Tua barriga cresceu tanto
nesses últimos dias, Luh… você está tão linda, meu amor. – Ele me olhou tão
apaixonado, que eu não resisti, o beijei. Arthur levou uma das mãos até a minha
nuca e a outra deixou em minha cintura. Ele aprofundou o beijo e eu aproveitei
para empurrá-lo sobre a cama. Ele sorriu entre o beijo e foi cessando com
selinhos. Me deitei ao lado dele na cama. – Eu ficaria aqui o dia inteiro… te
beijando, te olhando, te fazendo carinho… – Ele virou-se de lado e pôs uma das
mãos novamente na minha cintura. – Você acredita? – Me perguntou.
– Sim. – Sussurrei e senti ele subir com as
pontas do dedos, passando por um dos meus seios, meu pescoço até chegar aos
meus lábios.
– Sabia que eu estou feliz porque você não
está mais chateada comigo… – Me disse baixinho. Sorri fazendo carinho em seus
cabelos.
– Eu já não estava mais chateada desde que nos
encontramos. – Confessei. Ele me olhou desconfiado.
– Mas você não me beijou assim quando nos
encontramos. – Lembrou. Acabei rindo.
– Eu só estava cansada. – Contei.
– Sei. Eu te conheço, Lua Blanco. – Ele chegou
mais perto. – Gosto mais quando estamos assim. – acariciou a minha bochecha
antes de me beijar novamente.
– Eu também… – Falei após o beijo. – Eu
conversei com a Anie.
– E aí, ela ainda está muito chateada?
– Não. Me disse que vai te desculpar quando
chegar da escola. – Contei e ele riu.
– Isso é sério? – Arthur parecia incrédulo.
Assenti. – Você vai ficar chateada se eu falar que conheço uma pessoa
exatamente assim?
– Não. – Fiz um bico. – Porque quando ela me
disse isso, eu só lembrei de mim. – Confessei. Arthur riu ao se aproximar de
mim e roçou o nariz no meu pescoço. – Arthur, ela só tem cinco anos. E eu já
sou adulta! – Tentei justificar. Ele continuou rindo. – Paaaaraaa, amor…
– Sendo bem sincero… – Começou, segurando o
riso – se fosse mais uma garotinha – ele acariciou a minha barriga –, como eu
ia viver, Lua Blanco?
– Para a sua sorte, serão só duas mesmo. –
Respondi.
– O que não é pouca coisa, já que é como se
fossem umas dez… – Brincou. Lhe dei um tapa, de leve, no braço.
– Você gosta. Não pode negar. – Não consegui
ser modesta.
– Não sei mais viver sem. – Ele me deu um
beijo. – Eu amo vocês.
– Nós também te amamos. Anie disse que sentirá
a sua falta. Eu sei que talvez você também tenha ficado chateado…
– Um pouco. – Admitiu. – É difícil, Luh…
educar uma criança.
– Sim. Eu também acho que é a parte mais
difícil. Principalmente por eu não ter tanta paciência. Você tem mais do que
eu. É mais compreensivo. Eu também preciso te pedir desculpas… eu não devia ter
ficado chateada com você. Na verdade, fiquei chateada porque você concordou com
a fala de outra pessoa.
– Eu não concordei, Luh. – Ele afirmou.
– Eu só falei da teimosia. Eu te disse. Não
neguei.
– Eu sei. Foi só por isso mesmo e por ter
chamado a nossa filha de mal-educada. Arthur, somos nós quem a educamos. –
Pontuei. – E nos esforçamos tanto. Ela é birrenta, mas não é mal-educada.
– Parece que isso te ofendeu mais do que você
tem admitido. – Notou.
– Não, mas eu penso que se ela for
mal-educada, é porque estamos fazendo algo de errado. – Expliquei. Arthur
sorriu de lado.
– Não estamos fazendo nada de errado, Luh.
Talvez eu só tenha me expressado mal. Não a chamei assim… não do jeito que ela
entendeu. – Me disse sincero.
– Tudo bem. Eu só quero que você entenda, que
em nenhum momento eu quis passar por cima da tua autoridade de pai. Jamais
faria isso, Arthur.
– Você não precisa me explicar, Luh.
– Eu não fiquei chateada ou achei ruim porque
você chamou a atenção dela.
– Eu já entendi. Não precisa ficar preocupada
com isso. – Ele me deu um selinho.
– Está tudo bem. – Assegurou. – Eu não tenho
que te desculpar por nada. Estamos bem agora?
– Eu pensei que já estivéssemos. – Respondi.
– Uuuhmm... – ele me abraçou – você me
entendeu. – Me deu um beijo no rosto.
– Preciso me vestir. – Lembrei e me sentei na
cama.
– Eu também acho… – Arthur apertou levemente a
minha cintura.
Me levantei da cama e fui para o closet.
– Coloca o cinto, filha. – Pedi. Acabamos de
entrar no carro. Arthur ficou aguardando enquanto eu observava Anie prender o
cinto de segurança.
– Então agora podemos ir. – Falei. Arthur
ligou o carro e saímos da garagem.
– Que holas que eu vou sair hoje?
– No horário de sempre, filha.
– A senhola vai me buscar também?
– É que eu tinha esquecido, mamãe. O que mais
a gente vai fazer?
– Assistir filme e ficar juntinhas. O que você
acha?
– Uma ótima ideia. Eu adolei! – A pequena
disse empolgada. Arthur está dirigindo em silêncio e é tão estranho.
– O que tem eu? – Arthur me olhou rapidamente.
– Já sabe onde tomaremos café da manhã?
– Sim. – Sorriu. – Essa semana vi uma
cafeteria nova. Vou te levar lá…
– Não, Luh. Só passei pela frente. – Me
explicou. – Espero que seja boa. – Completou. – Parece que esse será o nosso
único momento.
– Hahahaha... Não, você não precisa ficar com
ciúmes. – Falei e ele riu. – A consulta é às nove e meia. – Mudei de assunto. –
Só precisamos chegar um pouquinho antes.
– Acho que dará tempo de tomar um café. – Me
disse.
– Por que você faz assim? – ele riu. – Eu fico
tão mal-acostumada.
– Por que seria diferente, Luh?
– Não quero que seja. – Sussurrei.
– Você é dengosa demais, isso sim.
– Só com você. – Sussurrei. Arthur me jogou um
beijo.
Nós chegamos em frente a escola alguns minutos
depois. A fila de carros é considerável. E tanto eu quanto Arthur preferimos
deixar Anie em frente ao portão, do que pelo meio do caminho, a sensação de
segurança é maior. Ela ainda é muito pequena.
– A senhola vem mesmo me buscar?
– Eu venho, filha. Você não acredita na mamãe?
– Eu aquedito. – Ela me abraçou. – Eu
te amo, mamãe. – Me deu um beijo na bochecha.
– Eu também te amo, princesa. Boa aula! –
Desejei lhe dando um beijo, também, na bochecha. – Se comporta, ouviu? –
Perguntei e a pequena assentiu.
– É só para você não esquecer. – Dei uma
piscadela. Anie riu.
Eu estou sentindo falta da interação dela com
o Arthur. Mas não vou forçar nada, pois não quero atrapalhar. Anie me soltou e
me deu novamente um beijo na bochecha.
– Tchau, meu amor. – Dei um tchauzinho.
– Tchau, meu papai. – Ela disse e acho que
Arthur ficou surpreso. Mas não conseguiu evitar um sorriu.
– Tchau, filha… boa aula! – Desejou.
Não teve abraço, não teve beijo, mas teve tchau,
meu papai.
– Obligada! – Ela sorriu, pegou a mochila e
saiu do carro.
Arthur me olhou e sua alegria é quase
palpável. Sorri junto com ele.
– Eu pensei que ela fosse continuar me
ignorando. – Comentou enquanto saia com o carro.
– Como é que pode? Ela só tem cinco anos. –
Observei.
– É da personalidade dela. Acho que existem
coisas que não conseguiremos mudar com o nosso jeito de “corrigir” – ele fez
aspas com os dedos –, embora algumas vezes nem sempre pareça certo.
– Sim, e que irrite. Mas eu acho que sempre é
válido sinalizar o que é certo e errado, o que é educado fazer, o que é falta
de educação fazer ou falar, essas coisas… como já fazemos, Luh.
– Concordo. – Sorri sem mostrar os dentes. –
Eu falei que havíamos conversado, lembra?
– Sim. E acho que ajudou bastante. Ela até
falou comigo. – Arthur riu.
– Mas eu acho que a conversa não influenciou…
– Não seja modesta. Eu sei que você está
tentando ajudar.
– Sim, tentei. Mas não tive nada a ver com
essa atitude dela agora, eu tenho certeza. Inclusive, eu até pensei no quanto
faz falta ver a interação entre vocês dois. – Confessei e Arthur me olhou com
carinho.
– É sério. E eu esqueci de te falar uma coisa…
– Durante a nossa conversa, Anie tocou em um
assunto que eu jamais pensei, para ser sincera.
– Não, amor. Escuta só, quando começamos a
conversar, eu disse que você também tinha me explicado o que aconteceu. E ela
me perguntou se eu tinha te desculpado, falei que não, porque você não tinha me
feito nada. Que a situação não era comigo. Que eu queria só ajudar vocês dois a
fazerem as pazes. Logo ela me disse que você ama mais o bebê. Falei que não era
verdade e que nós dois amamos eles igualmente. E ela seguiu insistindo, você
conhece a nossa filha, disse que mesmo assim o bebê era mais importante porque
você sempre vai a todas as consultas e às dela, você não vai.
– O quê? – Ele está sem acreditar.
– Sim, exatamente isso. Ela está com ciúmes
porque sempre vamos ao médico ver como o bebê está. E eu expliquei a ela porque
vamos com frequência e que é normal. Que quando eu estive grávida dela, eu
também tive muitas consultas e que você foi em todas junto comigo. Ela
questionou que agora você não vai. E eu disse que você não vai porque ela nunca
disse que gostaria que você fosse. Que se ela pedir, eu tenho certeza que você
vai.
– É claro que eu vou, Luh. Aliás, só não vou à
consulta, mas sempre pergunto como foi, sei sobre os exames, os remédios. Tudo,
amor.
– Eu sei, Arthur. – Apertei levemente uma de
suas coxas. – Você não precisa reafirmar o que eu já sei, querido. – Sorri. –
Agora, é bem provável que ela te peça para ir.
– E eu vou, Luh. – Ele também sorriu.
– Ela disse que vai sentir a tua falta esses
dias de viagem.
– E eu também vou sentir a falta dela… de
vocês, na verdade. – Ele acariciou brevemente a minha barriga.
– Já estamos chegando? – Mudei de assunto. Não
quero lembrar que Arthur viajará daqui a algumas horas e que vamos passar
quatro dias longe.
– Só mais uns dois minutos… – ele olhou para o
relógio. – Acho que você vai gostar do local. Parece ser bem calmo, Luh.
– É que eu já estou com muita fome. O seu
filho já acordou há horas. Ele não está acostumado a comer tão tarde assim. –
Fiz um bico e Arthur sorriu.
– O papai vai se redimir, prometo. Olha só, já
chegamos.
Ele estacionou com facilidade e saímos do
carro.
– Uhm… parece ser bem tranquilo mesmo, amor.
– Vamos ver… – Disse e segurou em uma das
minhas mãos. Adentramos no local.
– Que lugar mais lindinho. – Elogiei.
O local realmente transmite muita
tranquilidade. A música é ambiente, não tem tantas pessoas no momento, as mesas
ficam afastadas e parece ter uma diversidade bem grande de doces e salgados.
Minha boca começou a salivar quando avistei uma torta de banana com uva e
caramelo – bom, pelo menos é o que parece.
– Sim, Luh. – Me olhou quando chegamos à uma
mesa.
– Amor, precisa ter torta de banana com uva e
caramelo. – Falei e ele riu.
– Oh, Luh. É muito específico. Agora eu também
espero que tenha. Não vou deixar você com um desejo desses. – Ele se inclinou e
me deu um selinho, eu já tinha me sentado.
– Eu vou lá. Você quer beber o quê?
Arthur é muito atencioso. É incrível como ele
sempre gosta de deixar todo mundo à vontade.
Ele saiu rumo ao balcão – não havia fila – e
eu voltei a observar o local. As paredes são pintadas de uma cor próxima a
pêssego, as mesas e cadeiras são brancas, há plantas na decoração. Há uma
parede com sofá, almofadas e mesinha de centro. O lugar é realmente muito
aconchegante e o cheiro das comidas é muito agradável, não é nada enjoativo, o
que me surpreendeu. Já que eu ainda tenho ficado enjoada com alguns cheiros.
– Aaah, olha só… você não vai acreditar. –
Arthur colocou a bandeja sobre a mesa.
– De nada, meu amor. – Ele se sentou.
– Café, torradas recheadas e duas fatias de
brownie.
– E olha que eu pensei que eu que estava com
fome…
– Hahaha… você pode pegar uma fatia de brownie
se quiser, amor.
– Não, não. Eu vou saborear a minha torta. –
Avisei empolgada e espero que ela atenda as minhas expectativas. Arthur sorriu
antes de tomar um gole de café. As torradas estão bem bonitas.
– Vamos para casa depois da consulta ou você
quer fazer outra coisa?
– Podemos fazer outra coisa e até almoçar
fora, o que você acha?
– Eu adorei a ideia. – Ele deu uma piscadela.
– Eu acho que Anie não lembrou, mas ela comprou presentes para você e para o
bebê.
– Aaah, verdade. Eu lembro que ela contou em
alguma das ligações. Você não vai me dizer o que é?
– De jeito nenhum. – Negou. – Gostou da torta?
– mudou de assunto.
– Está uma delícia. Quer provar? – Ofereci.
– O que você acha de nós dois fazermos uma
viagem?
– Você quer viajar só comigo? – Ele segurou o
riso.
– Sim. Quero ficar a sós com você. – Respondi
e Arthur segurou as minhas mãos sobre a mesa.
– Eu acho que temos que viajar. Vou adorar
ficar a sós com você. – Ele admitiu. Sorri. – Para quando você pensou essa
viagem?
– Não necessariamente agora. Mas gostaria que
fosse antes do bebê nascer. – Respondi e ele assentiu. – Tenho medo de
perdermos isso aqui. – Confessei.
– Não, meu amor. Claro que não, Luh. Não pensa
isso, não vamos perder nada. Eu te garanto! – Assegurou e beijou o dorso das
minhas duas mãos. – Eu te amo, gatinha.
– Eu também te amo. Mas eu tenho sido tão…
– Luh, você está grávida. Você sabe que eu te
entendo. Não precisa se explicar. – Ele ainda está segurando as minhas mãos.
– É que eu não quero que você pense que eu
estou chateada…
– Agora eu sei que você não está. Relaxa.
Realmente não precisamos falar sobre isso. – Ele assegurou. – É tão importante
assim?
– Eu só queria que você soubesse.
– Eu já sei, meu amor. Vamos aproveitar o
nosso café da manhã. – ele sorriu. – Depois vamos para a consulta…
– Você acha que o bebê ganhou algumas gramas?
– Gramas eu não sei, amor. Mais alguns
centímetros, aaaah… isso com certeza. A tua barriga cresceu bastante nesses
últimos dias. – Ele sorriu outra vez. – Lembra que você ficou preocupada porque
não estava crescendo igual da primeira vez?
– Sim. – Ri. Agora estou mais aliviada. –
Pensei que não fosse crescer tanto. Podia não ser um bom sinal também.
– Não diz isso, Luh. Eliza já falou que a
barriga grande não quer dizer que o bebê também seja grande. – Me lembrou.
Voltamos a tomar o nosso café. Realmente está
delicioso. Eu poderia passar mais algumas horas conversando com Arthur nessa
cafeteria. O ambiente é muito aconchegante. Com certeza vamos voltar mais
vezes.
Arthur pagou a conta e saímos da cafeteria. O
carro está estacionado a poucos metros de distância.
– Acredito que hoje conversaremos sobre o
parto. – Comecei. Estamos caminhando de mãos dadas.
– E o que você tem pensado? Mudou de ideia ou
decidiu algo durante esses dias? – Me perguntou.
– Não. Ainda estou muito em dúvida. Na
verdade, estou nervosa. – Confessei. Chegamos ao carro e Arthur abriu a porta
para mim.
– Eu acho que esse é um dos sentimentos
inevitáveis. Até eu estou nervoso. Não como você, eu tenho consciência disso.
Mas ainda sim, muito nervoso. E não adianta eu mentir, porque você me conhece.
– Ele fechou a porta e deu a volta no carro. – Luh, eu tenho certeza de que
você fará a melhor escolha para vocês dois. – Ele disse assim que sentou-se no
banco do motorista.
– Eu gostaria de ter essa certeza, Arthur.
– Eu estou com você. Vou repetir quantas vezes
forem necessárias. – Sorriu ao acariciar a minha barriga. – O nosso filho será
um bom garoto. – Disse todo confiante. – Ele vai ajudar a mamãe. – Me olhou e
sorriu quando sentiu o bebê chutar. – Está sentindo? Ele concordou com o papai.
– Arthur não escondeu a empolgação.
– É claro que senti. Ele faz questão de deixar
claro que ouve tudo o que você fala. – Agora foi a minha vez de acariciar a
minha barriga. – Espero que ele continue obediente assim depois de nascer. –
Completei. Arthur riu.
– É claro que vai ser. – Assegurou. – Se puxar
para o papai. – Completou.
– Aaah não… – Rimos. Arthur começou a dirigir.
– Tudo bem também se ele puxar para você. Não
é algo que me assusta. Eu saberei lidar sem problema algum. – Garantiu. – Mas
eu acredito que essa personalidade seja exclusiva apenas do sexo feminino. –
Contou.
– Quanto você ficaria assustado se tivesse
outra menina?
– Agora? – Arthur franziu o cenho. Mas não
esperou eu responder. – Muito, Luh. Já até compramos roupinhas. Já chamamos
pelo nome. Eu ficaria muito assustado se tivesse havido um engano, por exemplo.
– Não agora, amor. Em um outro momento… –
Esclareci e Arthur me olhou rapidamente, segurando um sorriso.
– Em um outro momento? Nenhum pouco, loira. Eu
teria dez filhas com você se você quisesse. – Respondeu, mas eu neguei.
Esse número jamais passou pela minha cabeça.
– Amor, dez não. Pelo amor de Deus! Eu já
estou tão nervosa só com dois.
– Hahaha… não precisa se assustar. Sei que
vamos parar no Ravi. Você não precisa me iludir com esse assunto.
– Mas ainda há possibilidades…
– Não. Não faz isso comigo. Você sabe que eu
sou muito bom em criar expectativas quando o assunto é esse.
– E se fossem gêmeos? Duas menininhas. –
Paramos no sinal. Arthur me encarou.
– Seria perfeito, Luh. – Acariciei o rosto
dele.
– Meu amor, a palavra perfeição se tornaria
pequena. – Me disse e depois me deu um selinho. O sinal abriu. – O que foi?
Está pensando seriamente em termos um terceiro bebê? – Brincou. Sorri e dei de
ombros. – Hahaha… você sabe que vou fazer vasectomia, Luh. – Me lembrou.
– Você sabe que pode ser reversível?
– Sei. Eu já pesquisei. Por que? Se eu fizer,
eu sei que dificilmente vou reverter, Luh.
– Você tem tanta certeza assim?
– Eu te conheço, meu amor. Além do mais, já
combinamos isso. E o que foi decidido, assim será, Luh.
– Você não precisa ficar assim como se eu
tivesse tomado essa decisão sozinho. – Me disse. – Você ainda não está cem por
cento segura?
– Eu preferia que a gente não precisasse ter
essa conversa, só isso.
– Mas a gente também não precisa ficar
passando por situações inesperadas, principalmente você. No momento é a melhor
decisão, você é inteligente, sabe que é. – Ele tentou amenizar o clima que
queria se formar. – E se mais na frente, no futuro, você mudar de ideia,
continuará estando tudo bem pra mim. Faremos do jeito que você quiser, você
sabe disso, meu amor.
– Eu sei, Arthur. Está tudo bem…
– Vamos nos preocupar só com esse bebê.
Depois, caso venham mais… a gente se preocupa mais na frente. – Ele riu.
– Você é bobo! – Dei um tapa em sua coxa.
– Hahahaha… você que entrou nesse assunto. Eu
estava quieto. – Se defendeu. – Não quero que fique pensando nisso, Lua.
– Eu sei. Está tudo bem, de verdade! –
Afirmei. – Você está certo. – Admiti. Arthur sorriu.
– Chegamos! – Disse ao estacionar quase em
frente a clínica. – Está preparada?
– Mais ou menos. – Respondi ao pegar a minha
bolsa e a pasta com exames. – Só quero que continue tudo bem com o bebê.
– E eu que esteja tudo bem com vocês dois. –
Ele sorriu de um jeito carinhoso que me deixou emocionada. – Aaaah… Vem
aqui, você não precisa chorar, meu amor. – Ele me abraçou. – Eu te amo!
– Sim. – Nos sentamos em duas cadeiras
disponíveis na fila de espera.
– Parece que não vamos sair tão tarde.
– Acredito que não. Vou avisar a Carla que não
vamos almoçar em casa.
– Já sabe onde vai querer almoçar?
– Pode ser em algum restaurante italiano.
– Sim. E com molho! Um vinho também cairia
muito bem.
– Depois que o bebê nascer e mais alguns
meses… você poderá tomar quantas taças de vinho quiser. – Lembrou.
– Minha sogra disse que poderei fazer isso
mesmo amamentando. – Lembrei porque Arthur não concorda com a ideia.
– Aah não, Lua. Por favor! Você não é
irresponsável assim.
– Mas não quer dizer que você tem liberdade
para ingerir esse tipo de bebida.
– É só eu ficar atenta aos horários das
mamadas…
– Eu não concordo com isso, mas é você quem
sabe. É você quem é a mãe, é você quem vai amamentar. – Falou por fim. Eu quero
rir.
– Arthur, não precisa ficar zangado.
– Não estou zangado! – Afirmou.
– É claro que está. E só estamos conversando…
você não acha que eu faria isso, acha?
– Não, Lua. Eu tenho certeza de que você não
fará, mas você gosta de me irritar. – Revirou os olhos.
– Para com isso. – Apertei levemente uma de
suas mãos. – Fica parecendo que você é um marido muito malcriado. – Pontuei.
Arthur me encarou.
– Você só pode estar de sacanagem com a minha
cara, Lua Blanco.
– Você só está sendo insuportavelmente
irritante. – Sussurrou.
– Só um pouquinho. – Sussurrei de volta.
Arthur negou com um gesto de cabeça.
– Muito. Muito. Muito. – Frisou. Respirei
fundo ao sentir o bebê chutar as minhas costelas.
– Parece que o bebê está concordando com você
e está me punindo por isso. – Comentei no auge do meu drama. E coloquei uma das
mãos sobre a minha barriga.
– Ooh, Luh não diz uma coisa dessa, amor. –
Ele acariciou a minha barriga. – Ele só não quer ficar sentado. – riu baixinho.
Franzi o cenho.
– Aah, e eu? E o que eu quero não conta?
– Óbvio que sim. Desde a barriga ele precisa
saber quem é que manda na gente aqui fora. – Disse baixo.
– Eu preciso que você deixe isso bem claro a
ele.
– Ele já sabe, meu amor. – Arthur depositou um
beijo carinhoso em meu ombro. – Sabe… uma diferença que notei entre essa
gravidez e a da Anie, foi que você teve pouco desejo ou não quis me contar. –
Ele não escondeu a leve desconfiança.
– Foram poucos mesmo, Arthur. Nada muito
diferenciado. – Confessei. Embora ele saiba.
Ficamos conversando até eu ser chamada para a
consulta.
Vinte e seis semanas e cinco dias de gestação.
– Olá, Lua. Arthur. Como estão? – Eliza nos
perguntou assim que adentramos o consultório.
– Oi, Eliza. Boa tarde. Estamos bem! –
Respondi e me sentei em uma das cadeiras.
– Boa tarde, Eliza. Estou bem e você?
– Bem também. – Ela sorriu gentilmente.
– E como esse garotinho está? Não faz tanto
tempo assim que nos vimos, mas em uma semana muita coisa pode mudar.
– Isso é verdade. – Concordei com ela.
– A barriga dela deu um salto! – Arthur
comentou e Eliza sorriu outra vez.
– Lua já está no final do segundo semestre.
Agora podemos esperar que a barriga dela cresça cada vez mais.
– É que dessa vez demorou um pouquinho. Fiquei
tão preocupada no início, mas depois, pensando melhor, entendi que realmente
cada gravidez é diferente uma da outra. Não tinha porque eu ficar comparando
tudo com a da Anie.
– Aah que bom, querida! É realmente importante
que não haja essa comparação. Embora saibamos que muitas pessoas fazem,
inclusive, as mamães.
– Sim. E isso estava me deixando tão mal. –
Admiti.
– Tranquila. A volta que foi mais cansativa.
Arthur disse que foi um acúmulo dos outros dias.
– Sim. Uma viagem a trabalho sempre é
cansativa e estressante. Agora imagine tudo isso e grávida? Tudo duplica. Mas
você não sentiu dores e enjoos?
– Não. Dormi bem, me alimentei bem. Andei mais
do que costumo, mas não senti nenhuma dor que me preocupasse. – Contei enquanto
Eliza faz algumas anotações.
– Você tem tomado as vitaminas?
– Muito bem. Vamos ver se você ganhou algumas
gramas, verificar a pressão, temperatura, depois vamos ver o bebê e falar sobre
o parto, se você se sentir à vontade para falarmos hoje.
– Tudo bem. Tenho tentado me preparar para
isso, na verdade.
– Vai ocorrer tudo bem, Luh. – Eliza garantiu.
– Eu tenho dito a ela a mesma coisa. – Arthur
comentou e eu o olhei antes de me levantar da cadeira e seguir a médica.
– Pode subir, Luh. – Ela apontou para a
balança.
– Que nervoso! Não quero ganhar dois quilos a
cada consulta. Não que o peso me preocupe, mas quero que o bebê permaneça
saudável. – Contei. Eliza riu balançando a cabeça.
– Vocês estão saudáveis, Lua. E você está
exagerando – Frisou –, não está ganhando tanto peso assim. Aliás, você perdeu
bastante no início da gravidez que eu lembro. – Parou e olhou para a balança. –
Olha só, permaneceu nos sessenta e oito quilos. – Disse e desci da balança. –
Agora vamos verificar essa pressão. – Me sentei novamente na cadeira. Eliza
colocou o aparelho no meu braço e aguardamos alguns segundos. – Doze por oito.
Está tudo bem. – Me tranquilizou. – Agora vamos ver esse bebê. Que, pelo visto,
cresceu bastante.
– Ele está bem exibido. – Contei acariciando a
barriga e andei até a outra sala com ela e com Arthur.
– É uma das formas que ele encontrou de dizer
que está crescendo muito bem. – Disse divertida.
– Arthur tem o mesmo pensamento, além de
assegurar que ele será um bom garoto.
– Claro que será. Vocês são pais maravilhosos.
– Ooh, Eliza. Obrigada! – Agradeci emocionada.
Arthur me olhou do mesmo jeito.
– Obrigado, Eliza. – Ele também agradeceu.
– Pode deitar. – Ela apontou para a maca.
Arthur ficou na lateral, virado de frente para o monitor. Eliza se sentou e eu
levantei o vestido até na altura dos seios. Ela me deu um lençol para pôr sobre
as minhas pernas. – Vamos ver esse menininho. – Sorriu animada.
– Será que ele ganhou algum peso? – Arthur
perguntou um pouco ansioso.
– Talvez sim. Mas como foi apenas uma semana
desde que o vimos pela última vez, não será tão evidente… cem, duzentos ou
trezentos gramas, por exemplo, como vocês têm visto.
– Aah sim, entendi. – Arthur respondeu atento
ao monitor. Eliza já tinha depositado o gel em minha barriga e começou a
movimentar o ultrassom.
– Olhem só como ele está mexendo… – As
mãozinhas e os pezinhos não param. – Olhem só a boquinha…
– Parece que ele está bocejando. – Notei.
Eliza assentiu.
– Aaah não… – Arthur reclamou assim que
Ravi colocou um dos bracinhos sobre o rosto.
– Parece que hoje temos um bebê que não quer
aparecer. – Eliza disse e ligou o som para ouvirmos o coração do bebê. É sempre
emocionante. Sorri e apertei uma das mãos de Arthur. – Continua tudo muito bem
com o bebê de vocês. – Ela nos tranquilizou. – E Olhem só… ele não cresceu em
centímetros, porém, ganhou quase vinte e cinco gramas nessa última semana. Pelo
que tenho notado, embora seja muito cedo para afirmar alguma coisa, Ravi será
um bebê que não terá muita dificuldade em ganhar peso. É claro que aqui fora
muita coisa muda, como vocês já sabem. Mas ele será um bebê bem grandão, como
eu já disse a vocês na última consulta. Ainda faltam três meses e algumas
semanas, e eu aposto que na próxima consulta ele passará de um quilo e algumas
gramas. – disse. Arthur sorriu. Eu fiquei um pouco preocupada ao pensar no
parto.
– Lembro que nas últimas semanas a Anie ganhou
bastante peso. – Arthur comentou.
– Sim. O ganho de peso é mais acentuado na
reta final da gravidez. O peso total do bebê é nesse período.
– Você ainda tem três longos meses e algumas
semanas pela frente, mamãe. – Eliza me lembrou. – Mas você está indo muito bem,
Lua. Pode ficar tranquila. Tem feito alguma atividade física além da caminhada?
– Ainda não saí da caminhada, Eliza. Sei que
preciso fazer mais, por mim e pelo bebê. Mas ainda não decidi o que fazer.
Estou pensando em hidroginástica. Eu nunca fui muito ativa quando a questão era
exercícios físicos. – Confessei.
– Mas você precisa fazer, Luh. A caminhada
ajuda, mas ela sozinha não faz muita coisa. Se você quer uma via de parto
normal, precisa se exercitar mais. Precisa estar mais ativa. Isso vai ajudar
muito quando a hora chegar. – Ela me entregou um lenço para limpar o gel da
barriga. – Está tudo bem com você e com o Ravi. Ele é um bebê bem ativo, como
vocês tem notado. – Ela sorriu para nós dois. Me sentei na maca. – Vamos voltar
para a sala e conversar sobre o parto.
– Vamos. – Concordei e Arthur me ajudou a
descer da maca. Ele parece apreensivo, um pouco ansioso, mas sei que é porque
sabe que eu ainda estou muito indecisa em relação ao parto. – Vou começar, tudo
bem?
– Sim, claro. – Respondi e me sentei. Arthur
fez o mesmo.
– Você, como já é minha paciente há muitos
anos, conhece o meu trabalho. E eu jamais indicaria uma via de parto que
colocasse a sua vida ou a vida do seu bebê em risco. O que eu quero dizer com
isso, Luh… que você está perfeitamente apta para um parto normal, sem nenhuma
intervenção ou indução, isso até o momento. Sabemos que quando a hora chegar,
muitas coisas fogem do nosso controle.
– Como aconteceu da primeira vez… – Lembrei.
– Sim, querida. E eu entendo perfeitamente que
essa situação pode ter te gerado algum trauma. E por isso você esteja
preocupada em relação a esse assunto, mas não é algo que podemos fugir, Luh.
– Eu sei que não. O bebê precisa nascer. –
Instantaneamente levei uma das mãos até a minha barriga. – Eu fico preocupada
porque me preparei tanto da primeira vez… e foi de uma forma que jamais
imaginei. Agora tenho medo de acontecer a mesma coisa. Da Anie eu não tive
nenhuma complicação e mesmo assim não consegui ter um parto normal.
– Você teve uma hemorragia. Seria arriscado
demais tentar um parto normal em vez de uma cesária. A cirurgia foi a escolha
mais inteligente para aquele momento, você sabe disso. O parto mais adequado
será sempre aquele que é mais seguro para a mãe e para o bebê e assegurar você
e a Anie vivas, foi a nossa prioridade. E será assim com o Ravi. A vida de
vocês segue sendo prioridade. Independente do que aconteça. – Assegurou. – Não tem porque eu permitir ou
concordar com uma cesariana, se você está perfeitamente apta a um parto normal.
– voltou a dizer. – O parto normal é sempre a primeira opção porque oferece
mais segurança e uma recuperação mais rápida para a maioria das mamães. Isso
claro, quando não há nenhum sinal de risco para ambos. Já a cesariana, é mais
indicada nas situações de riscos. Ela é muito mais invasiva e tem mais riscos
no sentido das complicações no pós, uma recuperação mais lenta, você já passou
por ela, sabe disso. Há mulheres que não sentem muitas dores no pós, mas há
outras que sim. Isso difere bastante, porque cada mulher sente de um jeito
diferente. Eu sei que você conseguirá.
– Eu também sei que sim… – Arthur concordou e
segurou uma das minhas mãos.
– Vocês estão confiando mais em mim do que eu
mesma. – Confessei.
– Porque conhecemos você… – Eliza começou.
– Exatamente. E você tem sido muito mais forte
do que eu já sabia que era, Luh. – Arthur completou. – Eu tenho certeza de que
vai conseguir. Vai ficar tudo bem, querida. – Assegurou.
– E então, você vai começar a pensar nessa
possibilidade?
– Sim. E vou procurar fazer outras atividades
para ajudar.
– É melhor, Luh. Tem muitas vantagens para
você. A principal é a recuperação. Tem menos riscos de complicações, de
sangramento, de infecção, o bebê vai nascer no tempo dele e corre menos riscos
de ter problemas respiratórios. As desvantagens são a duração, que pode ser
longa. Varia demais de mulher para mulher. É um pouco imprevisível. Não vamos
seguir um roteiro, mas você é ciente disso. E pode ocorrer laceração perineal.
Muitas mulheres ficam preocupadas quando chegamos nessa parte. Você já sabe ou
quer que eu explique?
– Eu prefiro que você explique, por favor.
– Luh, há quatro graus de laceração, o grau
um atinge apenas a pele e a mucosa vaginal ou do períneo, e geralmente não
precisa suturar, já que a lesão é superficial e cicatriza espontaneamente. O grau
dois envolve a pele, a mucosa e os músculos perineais, e vai precisar de
sutura para ajudar na cicatrização. O grau três já alarga um pouco mais,
para incluir o esfíncter anal, que é o músculo que controla o ânus. Nesse caso,
precisará de cuidados mais específicos e especiais para evitar complicações
como incontinência fecal. E não apenas suturar. O último grau, o quatro
é a laceração mais grave. Ela vai do esfíncter anal, o músculo que controla o
ânus, até a mucosa do reto. E assim como o grau três, precisa de cuidados mais
específicos. – Eliza explicou tudo calmamente. Não sei se saber disso me ajudou
ou me deixou ainda mais nervosa. – Você entendeu ou tem alguma dúvida?
– Eu não sei se saber disso me deixou mais tranquila ou
preocupada. – Confessei.
– Lua, o seu corpo já está sendo preparado
para esse momento. O nervosismo é super normal. – Eliza está tentando me
tranquilizar. Arthur ainda está segurando uma das minhas mãos. – Eu já estou
aqui há muitos anos e sei que a laceração deixa as mulheres mais preocupadas e
até inseguras. Mas para chegar a um grau três ou quatro, talvez a paciente
tenha passado até por violência obstétrica com o uso de instrumentos que nem
são mais recomendados durante o trabalho de parto. A primeira gestação e até o
tamanho do bebê também podem contribuir para que ocorra laceração nesses graus,
mas não é o seu caso, querida.
– É o processo do parto que me preocupa e não
a laceração em si, para ser sincera. Eu entendi que ela é quase inevitável. E
ela realmente não me assusta. Eu só ficaria muito chateada se em algum momento
isso incomodasse o meu marido. – Olhei para o Arthur. E pude perceber ele ficar
um pouco vermelho por ter sido pego de surpresa. Depois voltei a olhar para a
Eliza. – Eu sei que às vezes as mulheres se preocupam porque incomoda mais os
maridos… A gente acaba lendo alguns relatos…
– Realmente há bastante casos assim. Nem todos
os homens são compreensíveis com as suas parceiras, com a mãe dos seus filhos.
O parto não termina no momento em que o bebê nasce, há todo um pós. Um pós
muitas vezes doloroso fisicamente, psicologicamente e emocionalmente. Em muitos
casos, os maridos nem querem esperar o resguardo. Outro processo muito
importante, delicado e que precisa ser respeitado. A quebra do resguardo pode
não apresentar consequências logo no início, mas no futuro com certeza. – Eliza
continuou explicando. – Eu não sou o Arthur. Só vocês se conhecendo como
conhecem, na intimidade de vocês, é que poderão responder essas perguntas.
– Querida, pode ter certeza de que você não
precisa se preocupar em relação a isso. – Arthur garantiu e apertou a minha
mão. – Na verdade, pensei que você já soubesse.
– Eu sei. Só disse que me chatearia se você se
incomodasse… Acho que é constrangedor para uma mulher ouvir isso do próprio
parceiro. – Falei.
Eu conheço o meu marido. Sei o quanto ele é
preocupado comigo e com os nossos filhos e que jamais seria insensível a esse
ponto.
– Com certeza. Além de, toda a situação de uma
laceração grau três e, mais ainda, de uma grau quatro, mexer com a autoestima
da mulher, ela ainda ter que lidar com comentários machistas e desrespeitosos,
é demais. Não é um momento para o homem se preocupar com isso. Aliás, diz
respeito apenas à mulher.
– Eu concordo. – Pontuei. – Sei que não
devemos esquecer de nós, mas nas primeiras semanas é impossível ligar para
qualquer coisa voltada para a aparência… pelo menos para mim foi assim da
primeira vez… – Lembrei. – O bebê precisa tanto da gente, apesar de eu ter uma
rede de apoio maravilhosa e ter o Arthur, que é um marido e um pai incrível que
entende o papel dele e faz de tudo para nos ver bem. Ainda sim, o bebê é muito
dependente da mãe.
– A mãe tem um instinto de proteção muito
forte. Eu entendo… ouço muitos relatos… algumas sempre acham que o bebê estará
mais protegido só com elas ou que só elas podem ou só elas sabem fazer o certo
para ele. Mas não é assim. Precisam confiar mais nos pais, deixar que eles
façam as mesmas coisas, exceto, amamentar – rimos –, confiar na rede de apoio,
as babás, por exemplo. Sei que Anie tem uma.
– Sim, tem. E confiamos muito na Carol.
– Eu penso que não sou uma mãe muito neurótica
ou preocupada a esse ponto. Arthur é bem mais ciumento e preocupado. – Contei.
– Sou preocupado. Não tenho ciúmes de você com
a nossa filha, Luh. Já você… – Me entregou. Fiz uma careta.
– É tudo brincadeira. – Me defendi e eles
riram. – Mas não sou neurótica.
– É claro que não, amor. – Arthur pontuou e
sei que não sou.
– Vamos ver agora com um garotinho. – Eliza
disse divertida. – Talvez os papéis se invertam.
– Hahaha… Lua já sente ciúmes e o bebê ainda
nem nasceu.
– Talvez eu continue sendo a mais
ciumenta. – Admiti.
– Geralmente os meninos são mais apegados às
mães. Talvez dessa vez o papai sinta ciúmes. – Eliza comentou. Dificilmente
Arthur sentirá ciúme igual eu sinto. – Está tudo bem? Ou você tem mais alguma
dúvida?
– Está tudo muito esclarecido. Obrigada,
Eliza. Você é maravilhosa! – Falei sincera.
Eliza é uma profissional excelente e empática.
– Vou me esforçar para que continue indo tudo
bem e também praticar alguma outra atividade física além da caminhada.
– Certo. Vou anotar aqui e cobrar na próxima
consulta. – Disse dando uma piscadela. Ri. – Que será dia vinte e quatro de
novembro, ok?
– E você vai trazer esses exames de sangue e
urina para eu verificar a anemia, a função renal e possíveis infecções, como a
gente já vem acompanhando. – ela me entregou a guia com os nomes dos exames. –
Você pode fazer na semana da consulta.
– De nada, querida. Tenham um excelente
restante de dia. – Nos desejou.
– Obrigado! – Arthur e eu agradecemos. Nos
despedimos e saímos do consultório.
– O que você achou? – Arthur me perguntou
enquanto caminhamos pelo corredor em direção à saída.
– Foi uma consulta bem esclarecedora. Eu
gostei e você? – O olhei. Estamos caminhando de mãos dadas.
– Eu também gostei. Você está mais tranquila?
– Agora sim. Mas na hora eu ainda estava
nervosa. Principalmente quando ela começou a explicar tudo detalhadamente.
Pareceu que o bebê já nasceria essa semana. – Contei e Arthur sorriu de lado.
– Sim. Gosto porque a Eliza explica tudo com
muita paciência.
– Você ficou vermelho com aquele meu
comentário… – Falei quando chegamos ao carro. Arthur abriu a porta para mim.
– Eu fiquei um pouco constrangido. Não
esperava aquele comentário. – Admitiu. – E também não imaginei que você
estivesse pensando assim… – Acrescentou ao ligar o carro.
– Eu não quis te constranger. – Falei sincera.
– Você acha que foi desnecessário?
– Claro que não, Luh. Se era uma dúvida sua,
era importante falar.
– Não, amor. Não uma dúvida em relação a você.
Foi um comentário de modo geral. Mas eu me chatearia.
– Eu imagino que sim, Luh. Mas você também me
conhece e sabe que não precisa se preocupar. Você terá o tempo que quiser e que
se sentir preparada para voltarmos a ter a nossa intimidade… igual foi da
primeira vez.
– Eu sei, amor. – Respondi e Arthur me chamou
para um abraço. – Desculpa.
– Não precisa se desculpar por nada. Está tudo
bem. – Me deu vários beijos no pescoço. – Para onde vamos agora? – mudou de
assunto e saímos do abraço.
– Já está quase na hora do almoço. Podemos
procurar algum restaurante para almoçarmos.
– Você quer escolher? – Ele começou a dirigir.
– Tudo bem. Como você quiser, querida. – Disse
e eu sorri.
Não canso de dizer o quanto o meu marido é a
pessoa mais gentil que eu conheço.
Chegamos em casa há algumas horas. Tomamos
banho e agora estou deitada. Já Arthur, ainda não resolveu se começa a arrumar
a mala agora ou só mais tarde.
– O que você acha? – Me perguntou, agora
virando de frente para mim.
– Que é melhor organizar agora, com mais
calma. Mais tarde ficará corrido. Lembra que ainda vamos buscar Anie na escola?
– Sim, eu lembro. Você tem razão. – Ele foi
até o closet. – Me ajuda a escolher os looks para os shows. – Pediu.
Concordei com um gesto de cabeça, mas Arthur não viu.
– Ajudo. Mas você vai precisar trazer todas as
opções aqui. – Avisei. Arthur riu ao se aproximar com uma mala.
– Você está tão disposta assim?
– Demais! – Afirmei passando as duas mãos pela
barriga. – O bebê está chutando tanto, amor. Aqui embaixo – apertei levemente
abaixo do umbigo – já está tão dolorido. – Contei. Arthur depositou um beijo em
minha testa.
– Eu gostaria de poder ajudar mais…
– Eu sei, amor… – Fechei os meus olhos.
Para algumas pessoas pode até parecer
frescura, mas só quem está grávida sabe o quão incômodo são esses desconfortos
abaixo do umbigo. Nada passa. Alguns exercícios até ajudam a amenizar a dor, o
desconforto, mas não a cessar cem por cento.
Arthur se afastou e voltou para o closet. Foi
terminar de separar as roupas para que eu pudesse ajudá-lo a escolher quais ele
levará para a viagem.
– Quantos looks você pensa em levar? –
perguntei vendo ele se aproximar novamente da cama com algumas opções de
roupas.
– Três, um para cada show e cinco opções para
vestir durante os dias. – Me explicou. – Dois tênis. – Acrescentou.
– Depois dizem que são as mulheres que levam
muitas roupas para as viagens…
– São quatro dias, amor. – Ele se defendeu.
– Essa calça preta com a blusa branca e a
jaqueta combinam muito. – Falei com a jaqueta nas mãos. – Eu gosto dessa calça
e da jaqueta, na verdade.
– Então o primeiro já foi decidido. – Ele
sorriu, me fazendo sorrir junto. – O que você acha dessa calça com essa camisa?
– Você vai usar jaqueta nos três shows?
– Não, Luh. Acho que só no primeiro mesmo.
E assim seguimos conversando para decidir
quais roupas Arthur levará na mala para a viagem.
– Estou com tanto sono… Eu não pensei muito
bem quando prometi à Anie que buscarei ela na escola. – Falei. Arthur riu ao
levantar-se da cama. Não faz nem uma hora que terminamos de arrumar a mala
dele.
– Anie vai gostar de ver você. – Ele seguiu
para o banheiro.
– Eu sei. Mas o sono é maior do que qualquer
coisa que eu possa raciocinar. – Justifiquei e acabei me levantando também. –
Espero que ela queira vir direto para casa. – Acrescentei, também, entrando no
banheiro.
– Não esqueça que você prometeu assistir a
filmes com ela.
– Sim. Eu prometi muitas coisas. Mas ainda bem
que foi para ela e não para você. – Brinquei. Arthur riu.
– E você pensa que me engana? Blanco, eu te
conheço muito bem. Eu só relevei porque tem um bebê entre nós que tem tirado,
praticamente, toda a disposição da minha esposa. – Ele se aproximou de mim
segurando o riso.
– Uuuhm… não. Não é bem assim. Eu sei que você
não relevou – frisei – só por isso. Você é um marido muito respeitoso. –
Elogiei e Arthur me deu um beijo. – Você sabe que foi uma viagem cansativa.
– Eu sei, meu amor. – Depositou um beijo em
minha testa. – Podemos nos acertar quando eu voltar. – Ele deu uma piscadela.
Ri concordando.
– Mamãe! – A pequena correu assim que me
avistou. – Sabia que eu aqueditei mesmo que a senhola vinha? Eu amei! –
Ela está bastante eufórica. Sorri quando ela me abraçou.
– A mamãe prometeu, querida. – Lhe dei um
beijo no topo da cabeça. – Como foi a aula hoje?
– Legal! Mais legal a parte da dança. – Disse
com a cara mais cínica.
– Ei, mas eu perguntei sobre a aula de
matérias… tipo, inglês, francês, história, geografia, matemática… entendeu? –
Expliquei enquanto caminhamos para o carro. Arthur ficou no estacionamento.
– Mas é artes! – Ela insistiu.
– Você está muito espertinha. Mas eu sou mais
do que você. – Semicerrei os olhos e Anie soltou uma risada sapeca.
– Mas mamãe, é muito legal na hora da dança.
Já está muito bonita. A senhola vai gostar muito. Eu tô amando. Eu gosto de
dançar. – Me disse.
– Eu imagino que esteja linda, meu anjo. Você
vai deixar a mamãe muito emocionada.
– Não. O seu pai ficou no carro. – Respondi.
– Mas essa dança é difelente da outa do balé.
– Ela voltou para o assunto anterior.
– Porque são escolas diferentes, filha. Além
do mais, antes da apresentação vocês terão um momento de brincadeira.
– Dos doces ou travessuras! – Exclamou muito
empolgada.
– Isso mesmo. Será bem divertido! – Chegamos
no estacionamento.
– Minha fantasia já está pronta?
– Não. Assim que ficarem, vão nos avisar.
– Sim, filha. Entra. – Abri a porta do carro.
– Oi, querida. – Arthur virou o rosto para
olhá-la. Fechei a porta do carro e dei a volta. – Como foi a aula hoje?
– Legal. Mas só a parte de dançar.
– Uuhm… mas, pelo que eu sei, essa não é a sua
escola de dança. – Arthur falou e Anie ficou um pouco desconfiada.
– Eu disse isso a ela. – Falei assim que me
sentei no banco do passageiro.
– Tá. Eu já entendi. – Ela ficou um pouco sem
paciência. Mas fingimos não notar. Arthur ligou o carro.
– Teve aula de francês, de inglês, de história
e de dança. – Ela nos explicou.
– Olha aí! Isso também é muito legal. Você não
acha? – Arthur perguntou.
– Não é sempre. – A pequena foi bem sincera.
– E o que você pode me falar em francês, já
que você teve aula hoje? – Arthur continuou indagando.
Não esperamos que Anie converse conosco em
francês, pois sabemos que agora que começaram as aulas dessa disciplina.
– Ei, sabia que o seu pai sabe falar muito bem
francês?
– Não, Luh. Nem vem! – Ele riu.
Mas sabe que é verdade. Arthur entende e fala
muito bem francês. Embora não se considere fluente.
– Mas foi você quem teve aula hoje.
– Hahaha – ri –... não, nem vem você, isso
sim.
– Fala sim, papai. Aí eu falo depois.
– Você está se saindo uma criança muito
esperta. – Notou e acabamos rindo.
– Então fala isso em francês… – A pequena
pediu.
– Tu deviens un enfant très rusé. –
Disse e Anie ficou abismada.
– É sim, amor… só mais uma última vez. – Pedi.
Eu acho o francês uma das línguas mais lindas.
– É sim, papai. Eu só sei duas palavras.
– Então pode falar. Eu quero escutar. – Ele
pediu.
– Só depois. Diz primeiro o senhor.
– Tu deviens un enfant très rusé. – Ele
falou mais devagar. – Agora é a sua vez.
– Eu só sei falar bonjour, cours. Que a
minha professora falou.
Anie falou de uma maneira muito fofa. Óbvio
que entendemos o que ela nos disse, mas ainda sim, Arthur perguntou.
– Bom dia, turma. – Falou toda
contente.
– Ai, meu Deus! Você é uma garotinha muito
inteligente. – não consegui me conter. – Você é muito filha do seu pai mesmo. –
Elogiei. Arthur tem muita facilidade para aprender outras línguas.
– Ei, você fala como se também não fosse
inteligente, meu amor. – Ele chamou a minha atenção. – E você sabe que é mais
do que eu. – Completou.
– Você fala um pouco de alemão e entende,
praticamente, tudo. – Ele me encarou.
– Não… eu falava mais na época da escola e da
faculdade, você sabe.
– Mas eu vou aprender outas palavras. – Anie
comentou.
– É claro que vai, filha. E eu já estou muito
feliz com essas duas que você já sabe. – Arthur contou.
– Você vai ficar muito mais empolgada quando
estiver compreendendo e falando mais palavras. – Assegurei e Anie concordou.
– Não, filha. Só na segunda, na terça e na
sexta-feira.
– Do balé? – Perguntei e Anie assentiu. – No
sábado. No outro sábado. – Expliquei.
– Agola que eu tô mais ansiosa. – A pequena
confessou.
– Você vai se sair muito bem, eu tenho
certeza, filha. – Arthur garantiu.
– Obligada, papai. Mas mesmo assim eu ainda tô
nervosa.
– É super normal, filha. Você ainda é muito
pequena. – Acrescentei.
– Agola a gente vai para casa?
– Sim. Para onde você acha que deveríamos ir?
– Ao parque com o Bart. Nunca mais a gente
foi. E ele gosta e eu também.
– Nunca mais, parece que faz muito
tempo.
– E faz mesmo, Luh. – Arthur também concordou.
– Tudo bem. Podemos ir ao parque. – Cedi. Os
dois riram.
– Você precisa trocar de roupa, filha.
– Não. Troque a roupa antes. – Pedi. – Algo
mais leve.
– Eu vou escolher então… – Ela correu para o
quarto.
– Amor, eu vou retornar uma ligação do John,
tá? Qualquer coisa estarei lá no escritório. – Arthur me avisou enquanto mexia
no celular.
– Está bem. Espero que não seja nada grave.
– Deve ser algo sobre a viagem. – Me disse
antes de entrar no escritório e fechar a porta.
Subi para o quarto para ver a roupa que Anie
está escolhendo.
– Esse short e essa blusa. – Me mostrou um
short de linho na cor marrom claro e uma bata de alcinha na cor branca.
– Uuuuuhm… – Anie parou na frente das prateleiras com os sapatos. – Deixa eu ver… a minha sandália de cachorrinho. – Pegou a sandália com estampa do Snoopy. A senhola acha que combina?
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– Combina muito, meu amor.
– Vem aqui. – Chamei ela. – Você não quer
lanchar algo antes de irmos?
– Não, mamãe. Eu nem estou com fome.
– Tudo bem. Terminando aqui, a gente vai
esperar o seu pai terminar de falar com o John, para irmos. Certo?
– Sim. Selá que ele vai demolar muito?
– Não sei. Acredito que não. Aliás – me
lembrei –, a senhorita disse que ia conversar com ele quando chegasse da
escola, você esqueceu?
– Não esqueci, mamãe. Mas eu já desculpei o
meu papai e eu acho que ele também já me desculpou.
– Não quero que você fique só “achando”. É
melhor vocês conversarem e se desculparem de verdade.
– Tá bom, mamãe. Então quando o meu papai
terminar de conversar com o John, aí eu falo com ele.
– Peça para a Carol a guia do Bart. Não
podemos esquecer.
– No parque ele não vai precisar.
– Eu sei, filha. Mas durante o trajeto ele não
pode ir solto.
– Ele só gosta de brincar. Ele não é mau. –
Ela está fazendo carinho nele.
– Mesmo assim ele precisa estar com a coleira
e com a guia, você sabe disso, Anie. – Falei e ela foi atrás da Carol para
pegar a guia do cachorro. – Vem aqui, Bart. Eu sei que você é um garoto muito
bonzinho. – fiz carinho nas orelhas dele. Arthur abriu a porta do escritório e
caminhou até a sala.
– Que garoto mimado… – Disse ao se aproximar
do sofá e ver que Bart está com a cabeça sobre as minhas pernas. Eu continuei
fazendo carinho nele.
– Sim. Não era nada grave. – Lhe dei um beijo
na bochecha. – Foi sobre a viagem. O voo vai atrasar duas horas.
– Sim. Ainda bem que a companhia entrou em
contato. Senão, íamos ficar lá perdendo tempo.
– Então agora vocês vão um pouco mais tarde?
– Sim. – Rocei o nariz na bochecha dela e
levei uma das mãos até sua barriga e comecei a fazer carinho. Bart saiu da sala
e foi para a cozinha atrás da Anie. – Vai dar tempo de eu colocar as minhas
garotas para dormir. – Contei baixinho. Lua sorriu.
– Ou – virou o rosto para me olhar – podemos
fazer amor. – Sugeriu. Sorri e pressionei os lábios contra os dela.
– Eu adoraria… mas acho que Anie não vai
deixar. — lembrei. – Eu estou com saudades… – Confessei.
– Falando nela… Me disse que vai conversar com
você antes de irmos ao parque.
– Você lembrou ela? – Perguntei ao me sentar
direito no sofá.
– Sim. Segundo ela, ela já te desculpou e você
já desculpou ela. – Contou.
– Ela é sua filha mesmo. – Falei e Lua deu de
ombros. – Ser casado com você é a melhor parte da minha vida. – Confessei. Lua
me olhou já com os olhos marejados. Sei que ela anda bem mais sensível agora na
gravidez.
– Maaamãããee! Paaapaaaaiiiii! – Ouvimos
Anie nos chamar.
– Eu adoraria ficar aqui só com você –
Sussurrei – mas nós somos pais – sorrimos – e essa é a segunda melhor parte da
minha vida. – Falei. Ela sorriu.
– É a minha também. Na mesma ordem. – Confessou baixo. Lhe beijei antes da nossa
filha aparecer na sala.
– Olha aqui a guia do Bart, mamãe. Papai, o
senhor já pode colocar nele? – Anie me entregou a guia.
– Claro, filha. Vem aqui, Bart. – Eu o chamei.
– Ele é um bom garoto.
– Minha mamãe disse que precisa mesmo assim…
Papai?
– Sim. Pode falar, filha. – Ergui o olhar para
ela.
– Papai, eu quelo pedir desculpas. O senhor me
desculpa? – Perguntou baixo.
Anie parece constrangida, embora não entenda
muito bem esse sentimento. Ela ainda é uma criança, mesmo que seja muito
inteligente.
– Eu te desculpo, meu amor. Vem aqui… – Chamei
ela para um abraço. – Mas você também tem que desculpar o papai. Eu não
gostaria de ter falado com você daquele jeito…
– Eu já desculpei, papai. – Ela me abraçou.
–...e nem gostaria que você também falasse
daquele jeito comigo ou com a sua mãe.
– Eu sei, papai. Eu já entendi que não é
legal. Eu nunca mais vou falar assim, eu prometo.
– O papai também promete, meu anjo. – Lhe dei
um beijo na testa.
– Pronto, agora sim está tudo bem. Não suporto
ver vocês dois brigados. – Lua falou e nos abraçou. – Lhe dei um beijo na
bochecha.
Eu reconheço que ela tem uma participação
muito grande nesse pedido de desculpas.
– Eu amo muito vocês duas, sabia? – Falei. –
Vocês três, na verdade. – Corrigi.
– Mas o senhor ama mais eu, a minha mamãe ou o
bebê?
– Uuuuhm… como eu posso escolher? O amor que
sinto pela sua mãe é completamente diferente do amor que sinto por você e pelo
seu irmão, filha. – Tentei explicar.
– E você consegue escolher? Ama mais eu ou o
seu pai? – Lua perguntou. Só espero que ela não fique chateada com a resposta.
– Eu amo o meu papai. – Anie me abraçou mais
forte.
– Hahahaha… que puxa-saco! – Lua exclamou. –
Só porque acabou de fazer as pazes com ele. – Anie riu ainda abraçada a mim.
– Uuuhm… sua mamãe ficou com ciúmes.
– Que nada! – Lua discordou. Mas já estou
acostumado, ela dificilmente dá o braço a torcer.
– É mentila, mamãe! – Anie negou, agora
abraçando a mãe. – Eu também amo muito a senhola. Eu não gosto de ter que
escolher, mamãe. – A pequena falou. Sorri fazendo carinho em seus cabelos.
– Eu sei, filha. E não precisa escolher… nós
te amamos muito e também sabemos que você nos ama. Está tudo bem. – Lua a
tranquilizou.
– SIIIIIMM! – Anie gritou empolgada. – Nós
também amamos o Bart. – Ela correu até o cachorro.
– É claro que amamos, filha. – Concordei com
ela. – Vamos lá!
– Só não deixa a Anie levá-lo. – Lua me pediu
mais baixo.
Anie está na nossa frente segurando a guia do
cachorro.
– Calma, gatinha. Ainda nem saímos de casa.
– Tudo bem. Eu sei. Não vou deixá-la ir
segurando ele. – Afirmei.
– Ora, mas é claro. É uma caminhada! Além do
mais, faz muito bem para a saúde.
– Depois a gente pode comer em algum lugar?
– Se a sua mamãe quiser, podemos sim. – Deixei
claro.
– Uuuhmm… vamos ver se você vai se comportar.
– Lua comentou.
Anie nos olhou com uma cara muito sapeca. Abri
a porta de casa e elas saíram. Bart ficou rapidamente animado.
– Ei, filha! Espere! Não vá na frente com ele.
Bart tem mais força do que você. – Avisei. – Só estou fechando a porta. –
Acrescentei.
– Tá. Nós vamos espelar, papai.
A pequena falou e me entregou a guia do Bart
assim que eu me aproximei deles e, em seguida, voltou a caminhar.
– Eu ainda não tinha falado nada… – comecei
quando fiquei ao lado de Lua – mas você fica irresistível quando está com essas
roupas. – Elogiei. Lua é minha esposa, e não vejo problema nenhum em dizer isso
a ela desse jeito. Ela riu.
– Não… – Entrelaçamos nossos dedos. – Eu sou
gentil quando te dou flores, bombons, faço massagens ou outros favores sem
esperar nada em troca – rimos – quando pergunto se você quer alguma coisa… mas
agora, eu estou elogiando a minha mulher que a cada dia fica mais gostosa.
– Sussurrei a última palavra. Há pessoas passando ao nosso lado na calçada.
– Eu posso correr? – Anie nos interrompeu.
– Não, filha. Só quando chegarmos ao parque.
Senão, o Bart vai querer fazer o mesmo. Olha só como ele já está todo animado.
– Mas ele ainda é um cachorro bebê.
– Uhm! Serelepe igual a você. – Acrescentei. –
De nada! – Me voltei para Lua. – Era para te deixar feliz. – Ressaltei, porque
ela parece preocupada.
– Sabe… Eu amo a nossa vida, Arthur.
– Eu também amo, Luh. – Lhe dei um selinho
rápido. – O que foi?
– Só estou pensando no quanto vou sentir a sua
falta nesses dias que virão.
– Eu também vou sentir a sua em cada segundo
de todos eles, meu amor. – Assegurei. – Se eu pudesse escolher, ficaria com
você. Mas eu não posso. Não agora, você sabe.
– Eu sei. E está tudo bem. Nós vamos
sobreviver. – Ela sorriu.
– Quando você está com a gente, o nosso dia
fica mais preenchido.
– Você está se declarando para mim, Lua
Blanco?
– Uuhm… você não precisa zoar.
– Hahahaha… eu não estou zoando, meu amor. São
umas das palavras mais sinceras e cheias de amor que você já me disse.
– Sim. – Ela concordou. A puxei para mais
perto.
– Você é a minha garota. Sempre será a minha
garota, Luh. A dona da minha vida.
– É uma responsabilidade e tanto.
– Sim. Você dá conta. – Assegurei. Ela ergueu
o rosto para me olhar e eu a beijei.
Eu estou caminhando há alguns minutos desde
que chegamos ao parque. Arthur está me acompanhando. Anie está brincando com
Bart e algumas crianças mais à frente.
Nesses momentos a companhia do Arthur faz
muita diferença para mim. Ele sabe que esse não é um dos meus pontos mais
fortes e que só estou fazendo isso pelo bebê, para ter uma gravidez mais
saudável, para que ele continue bem e que tenha um nascimento tranquilo.
Me sinto muito cansada e gostaria de ficar
deitada a maior parte do tempo. Eu não me lembro de ter ficado assim na
gravidez da Anie. Eu fui mais ativa e não faz tanto tempo assim.
– Você quer parar um pouco? – Ele me
perguntou. – Beber uma água?
– Não. Eu prefiro completar os trinta minutos.
– Tudo bem. – Ele concordou e continuamos
andando.
– Mas você pode parar se quiser.
– Não. Eu não me canso tão rápido assim. – Ele
me olhou e sorriu.
– Obrigada! – Agradeci. Na verdade, tenho
agradecido ele por muitas coisas, muitas vezes.
– Sabe, parece que não foi uma boa ideia ter
essa viagem marcada para hoje. Você parece mais…
– Eu estava tentando procurar uma outra
palavra, porque já tivemos problema por conta dessa. – Lembrou. – Mas o sentido
é o mesmo.
– Eu sei. Eu me sinto carente mesmo… – Admiti.
– Mas estou no meu direito – fiz um bico –, vamos ficar juntos menos de vinte e
quatro horas.
– É, eu também acho muito injusto. – Arthur
acariciou o meu rosto. – Você quer um abraço?
Arthur sorriu, me deu um beijo no canto da
boca e depois beijou a minha bochecha até chegar a minha orelha.
– Aaah, não… você não vai me provocar. – Ri
encolhendo os ombros.
– Eu te amo! – Ele exclamou baixo e me olhou
nos olhos antes de beijar os meus lábios.
– Eu também amo você. – Declarei após o beijo.
– Eu quero ir para casa. – Respondi. Ele riu.
– Você acha engraçado?
– Não vamos para casa agora, meu amor. – Me
deu um beijo na testa. – Olha lá a sua filha totalmente independente fazendo
amizade com outras crianças.
– Para mim ela ainda é um bebê. – Falei
enquanto observava Anie brincar com as outras crianças e o nosso cachorro.
– Você não quer mesmo beber ou comer algo? –
Arthur insistiu.
– Pode ser um picolé, Arthur. – Aceitei.
– Tudo bem. Mas se quiser ir para casa podemos
ir, Luh.
– Obrigada, amor. Mas Anie está se divertindo.
Eu não quero acabar com isso.
Arthur saiu para comprar o picolé. Anie
percebeu uns cinco minutos depois e veio correndo até mim, Bart a acompanhou.
– Não. Ele não sabia que você ia querer. –
Expliquei. – Mas você pode ir lá com ele. Olha lá onde ele está… – Apontei para
o lugar que o Arthur está. – Eu vou ficar aqui te olhando…
– Não, filha. Deixa o Bart aqui comigo. –
Pedi.
– Pode comprar pra ele também?
– Meu amor, ele não pode comer picolé. Mas
peça para o seu pai comprar água para ele.
– Então tá bom… – Ela concordou e saiu
correndo. Arthur está olhando em nossa direção.
– E você garoto, está gostando do passeio,
hein? Hein? – Perguntei para o cachorro. Ele apoiou as duas patas da frente em
minhas coxas. – Está cansado, é?
Bart latiu assim que viu Arthur e Anie se
aproximarem, mas não saiu de perto de mim.
– E aí, garotão, está com sede? – Arthur
perguntou. – Olha aqui, amor… – Ele me entregou o picolé. – De limão como você
pediu. E água.
– De nada, querida. – Ele me jogou um beijo no
ar. – Segura aqui o meu. Deixa eu dar essa água para esse danadinho aqui…
– O meu é de chocolate. É o melhor! – Anie
comentou ao sentar-se ao meu lado no banco.
– Sim. O meu papai também comprou pra mim. A
senhola quer?
– O seu pai também comprou para mim, filha.
Obrigada!
– Então depois daqui a gente já vai embora?
– Sim, filha. Vocês já brincaram, já se
divertiram, correram… agora vamos para casa.
– Eu ainda quelia ficar mais um pouco aqui.
– Mas o seu pai viaja daqui a pouco, ele
precisa descansar. – Expliquei. Arthur me olhou desconfiado. Mas não disse
nada. Eu quis rir.
– Então tá bom… – Anie concordou. – Mas
primeiro eu vou terminar o meu sorvete.
– Tudo bem. Eu também vou terminar o meu.
– Prontinho, agora você já está hidratado! –
Arthur fez carinho nas orelhas do Bart e depois se sentou ao meu lado. Lhe
entreguei o picolé. – Então eu vou descansar quando chegar em casa? – Perguntou
baixinho.
– Sim. Você precisa. Gostou da ideia?
– Hahaha… se eu não te conhecesse, eu
ia cair direitinho nesse teu papo.
– Credo, Arthur! – Dei um tapa em sua coxa ao
me fingir ofendida.
– Você fala como se não tivesse gostado da
ideia.
– Na verdade, nós dois sabemos que
dificilmente faremos alguma coisa hoje.
– Pior é que eu sei mesmo. – Concordei
desanimada. Eu estou com muita saudades dele.
– Não precisa ficar tão desanimada assim. –
Ele notou. – Ainda podemos tomar um bom banho juntos. Eu não quero abrir mão
desse banho.
– Nem eu… e talvez não seja só um banho…
– Vai ser ainda mais delicioso. – Ele
sussurrou ao acariciar o meu rosto, depois me deu um beijo na testa. – Eu
amo você!
– Você está preocupado com algo?
– Com você, loira. Você não descansou desde
que chegou de viagem.
– Mas eu estou bem. Estar cansada é normal.
Olha só o tamanho da minha barriga?! Eu também vou te entender… – Falei, mesmo
me sentindo um pouco frustrada.
– Vai entender é? Assim com essa cara? –
Implicou. Talvez eu tenha esquecido de disfarçar. Não respondi nada. – Estamos
conversando, Lua Blanco.
– Ora, mas eu não quero que você só escute,
quero que você também fale. – Ele me olhou.
– Eu tenho o direito de não querer falar…
– Uhm, uhm… – Murmurou. – Quando sou eu essa
resposta não cola. – Lembrou. – Você não pode querer brigar uma hora dessas.
– Nem pensei nisso, Arthur. – Retruquei.
– Você disse que me ama há alguns minutos.
– E isso não mudou. – Pontuei ao olhá-lo.
– Que bom! – Ele sorriu sem mostrar os dentes.
– Os meus sentimentos também permanecem os mesmos. – Completou.
Logo Arthur iniciou um outro assunto e
voltamos a conversar. Até esqueci de que estava chateada com o fato de que não
faremos amor quando chegarmos em casa.
Anie voltou a brincar com as crianças que
havia conhecido quando chegamos ao parque. Arthur a fez prometer que seriam
apenas dez minutos. E que quando ele chamá-la, ela virá sem reclamar.
Bart parece cansado demais para acompanhar o
pique das crianças e resolveu ficar conosco, deitado bem na nossa frente.
– Banho, dona Anie! – É a terceira vez que
repito a mesma frase.
Nós chegamos em casa há alguns minutos. Lua
subiu para tomar banho, mas Anie não quis ir com ela.
É quase inacreditável que ela não esteja
cansada, o tanto que correu hoje à tarde. Bart não quer brincadeira nenhuma.
Chegou e logo se deitou na cama dele. O que é de se estranhar, já que ele tem a
mesma energia da dona dele.
– Anie, eu não estou brincando com você.
Depois você reclama que eu sou chato, mas você está sendo desobediente. Eu não
vou falar novamente. – Avisei subindo a escada.
– Por que eu não posso tomar banho só na hora
que eu quiser? – Ela me seguiu.
– Ora, porque você é criança! E criança não
tem muito o que querer. Eu sei que você sabe disso.
– Só adultos. Por que sempre só quando
crescer?
– Porque a vida é assim! – Respondi
simplesmente. – Manda quem pode, obedece quem tem juízo. E no momento, você não
está podendo nada. Só precisa obedecer mesmo. – Completei.
– Eu ainda não entendi. – A pequena insistiu.
– Filha, é muito simples. Você ainda é
criança, não pode decidir nada sem antes eu ou a sua mãe autorizarmos. No seu
caso, você tem que obedecer o que nós dois estamos pedindo a você. Sem
discussão, sem porquês. Você sabe que tem que tomar banho. Quando você tiver
trinta anos, aí você pode fazer o que quiser. – Expliquei.
Anie ainda não entende muito bem a diferença
entre dezoito e trinta anos. Então, eu não preciso me explicar tanto.
– Trinta anos só quando eu crescer?
– Exatamente! De preferência, quando você for
maior que a sua mãe. – Completei.
A pequena ficou me encarando. Eu não sou tão
mais alto do que a Lua, mas gosto de fazer essa comparação.
– Sim. Ainda bem! Vá chamar a Carol e obedeça
ela. Eu vou tomar banho. – Avisei.
– Eu vou tomar banho com a minha mamãe.
– Um hora dessas a sua mãe já terminou de
tomar banho. – Respondi. – Ela te convidou e você não quis. – Lembrei.
– Agola que eu quelo. – Ela entrou no quarto
junto comigo.
Eu sei que Lua está chateada. O nosso plano de
tomar banho juntos não deu certo.
– Depois não diga que eu não avisei. – Fui
para o closet. Anie veio atrás de mim.
– Eu? Não mesmo. Peça você. – Abri uma das
gavetas para pegar uma roupa.
– Arthur, eu já… – Lua já tinha saído do
banheiro. Parou assim que Notou a presença da nossa filha. – Ainda não foi
tomar banho? – Questionou.
– O que foi que eu te falei e você ignorou? –
Lua perguntou. Eu saí do closet e deixei as duas lá.
– Mas só agola que eu quis tomar banho.
– Uuuhm… como se você fosse grande o
suficiente para querer alguma coisa. – Lua retrucou.
– Só com trinta anos que o meu papai falou. –
A pequena respondeu. E eu tive que segurar uma risada.
– Olha só… espero que você tenha entendido que
agora que tem cinco. – Pontuou.
– Só quando eu for grande. Quando eu for maior
do que a senhola.
– Aaaah é? Seu pai é muito bom em
explicar as coisas. – Lua enfatizou e veio caminhando para o quarto. Estou
sentado na cama. – Você me paga. – Sussurrou ao se aproximar de mim.
– Aaaah é? – A imitei e ganhei um tapa.
– Não seja má. Pede pra ela chamar a Carol e você fica aqui comigo. – Pedi.
– Você me deixou tomar banho sozinha. – Me
lembrou. Comecei a acariciar sua cintura por cima da toalha.
– Não foi por mal. Você viu que não foi fácil
fazê-la aceitar tomar banho.
– Não é desculpa, loira. É a nossa filha. –
Respondi e acabamos rindo.
– Papai! – Anie subiu na cama.
– Não. Eu ainda vou jantar com vocês. –
Respondi. – Vá logo tomar banho.
– Pede então pra minha mamãe me ajudar.
– Eu não. Quando ela queria, você não quis.
Peça você. – Respondi.
– Não. Eu já tomei banho. Eu disse que só te
chamaria uma vez, você ficou brincando. – Lua falou. Ela consegue ser mais
firme que eu.
– Agora sou eu que não quero. – Pontuou e Anie
desceu da cama.
– Tá bom! Agola então eu vou chamar a Carol.
– Pode ir. Tome banho direitinho. Não esqueça
de lavar os cabelos. – Lua avisou antes de Anie sair do quarto.
– E agora, será que a minha resposta também
será não? – Perguntei ainda fazendo carinho em sua cintura.
– Você ainda está com alguma dúvida? – Me
perguntou.
– Não precisa ser tão má assim, Lua Blanco!
– Você não pode ter tudo na hora que quiser.
– Hahahaha… não, meu amor, você não me falou
isso. – Comecei a rir.
– Claro! Não tenho outra opção. Hoje você está
muito engraçadinha… – me inclinei um pouco para depositar um beijo em sua
barriga. – Amor do papai. – Sussurrei contra a barriga dela.
– Sabe… – Lua se afastou e sentou-se ao meu
lado. – Eu estive pensando… eu acho que vou passar o final de semana em Bibury.
Você acha que é uma boa ideia?
– Eu não quero passar o final de semana aqui
sem você. Só eu e a Anie… as meninas pediram para visitarem a mãe, eu
concordei.
– Você não me disse isso, loira.
– Eu prefiro que você não fique sozinha aqui
com a Anie. Mas se vocês forem, precisam levar o Bart. Ele não pode ficar
sozinho em casa o final de semana inteiro. – Lembrei.
– Você já falou com os seus pais?
– Não, amor. Pensei agora durante o banho. Mas
ainda não sei… tem a minha mãe…
– Relaxa, Luh. A tua mãe acaba implicando só
quando sabe que eu estou por perto. – Comentei. – E eu também não acho que ela
vá ficar fazendo comentários para te deixar desconfortável ou irritada, você
estando grávida. Antes era diferente, não tinha um bebê e ela podia te chatear
sem grandes preocupações.
– Arthur, até parece que você não conhece a
minha mãe. Ainda é tão difícil para ela. Na verdade, às vezes parece que sou eu
quem não a conheço.
– Não fala assim, Luh. Eu nunca quis que a
relação de vocês se tornasse essa.
– Você é o melhor marido que eu poderia ter.
– Olha só… eu sabendo que você sabe disso, é o
que me deixa muito feliz, meu amor. – Pontuei e lhe dei um beijo. – Eu amo
você. O que a sua mãe ou a minha mãe ou qualquer outra pessoa pensa, não faz
diferença alguma na minha vida ou na minha relação com você. – Deixei bem
claro. Lua me abraçou. – Você pode ir e se, por acaso, Emma começar a falar
alguma coisa, você pode voltar para casa, meu amor. Pode ligar, podemos
conversar. Ficará tudo bem, minha loira.
– Você realmente me faz acreditar que tudo
ficará bem…
– É porque ficará, meu amor. – A beijei outra
vez. – Agora eu vou tomar o meu banho, já que você não quer me acompanhar.
– Hahaha… você é muito cínico. – Lua
levantou-se da cama. – Vou esperar você lá na sala.
– Assim, sem roupa? – Apontei para ela que
está apenas de toalha. – Agora é você quem está fugindo?
– Óbvio que não. Eu vou vestir minha roupa
antes. Você vai sair que horas?
– Está bem. – Lua voltou para o closet.
– Sabia que a minha mamãe disse que a gente
vai lá pra casa do vovô John e da vovó Emma?
– Sim. Ela já falou comigo. Você gostou da
ideia?
– Mais ou menos. Eu gostava mais antes… quando
a minha vovó não falava coisas ruins do senhor. – A pequena foi bem sincera.
– Aah, filha… mas quem te disse que ela
continuará falando coisas ruins de mim?
– É difelente da minha vovó Laura. Ela não
fala mal da minha mamãe. – Pontuou. Olhei para Lua e depois voltei a olhar para
a nossa filha.
– E por que a sua avó Laura falaria algo da
sua mamãe? A sua mamãe é incrível, meu amor. – Respondi.
– Mas o senhor também é incrível e bom. Igual
a minha mamãe.
– Ooh, filha… – Lua tentou completar,
mas acabou ficando com a voz embargada.
– Você me acha incrível, e saber disso é mais
importante do que a opinião de qualquer outra pessoa. Você não precisa se
preocupar com o que acham de mim, filha. – Garanti. – As únicas opiniões
importantes para mim são, a da sua mãe e a sua. Enquanto eu estiver sendo bom e
incrível para vocês, está tudo muito bem. Você entendeu?
– Sim, papai. Mas mesmo assim… Então, por que
a vovó Emma não gosta mais do senhor?
– Ela ainda está muito chateada porque eu
magoei a sua mãe. Lembra quando o papai teve que sair de casa?
– Mas papai, já faz um monte de tempo… até a
minha mamãe já te desculpou. Não foi, mamãe?
– Desculpou de verdade! A minha mamãe até quis
ter outro bebê, não é, mamãe? – Anie comentou inocentemente. Foi impossível
segurar a risada. Olhei para Lua e começamos a rir.
– É, meu amor. – Lua concordou com a nossa
filha em meio ao riso.
– Isso é verdade. – Eu afirmei. – Sabia que
quando as pessoas se amam muito, elas tem filhos que é para amar ainda mais? –
Perguntei. Anie me encarou.
– Isso mesmo, meu anjo. – Concordei e Anie
desceu da cadeira dela e veio para o meu colo.
– Ooh, meu amor… eu também te amo,
minha garotinha. – A enchi de beijos carinhosos pelo rosto. – Sabia que você é
uma menininha muito esperta?
– Eu sou muito inteligente! – Ela afirmou. Só
tenho que concordar.
– E você é mesmo. – Pontuei antes de olhar
para a Lua que está nos observando. Lhe joguei um beijo no ar.
– Mamãe, eu lembrei agola que eu não entreguei
o seu presente que a gente comprou. Não é, papai?
– Verdade, filha. Até eu tinha esquecido…
– Está vendo como vocês são? – Lua fez drama.
– Nós fizemos muitas coisas hoje desde que
você chegou, meu amor. – Tentei nos defender.
– Já estou ansiosa para ver o que é.
– É mesmo. A gente pode ver logo?
– Vamos subir então… até eu estou ansioso e
olha que já até sei o que é. – Respondi e levantamos da cadeira.
– Eu vou primeiro. Eu vou na frente! – Anie
correu na nossa frente.
– É quase inacreditável que Anie ainda esteja
com toda essa energia. – Lua comentou ao se aproximar de mim. A abracei pela
cintura.
– O que foi? Não tem mais pique? – Brinquei.
– Pelo amor de Deus. Eu só quero me deitar e
descansar. – Desabafou. – Há alguns minutos eu até estava disposta.
– Hahaha… eu sei. Eu vi… senti…
– Não fez tanta diferença – desdenhou –, você
não quis do mesmo jeito.
– Não fala assim, loira. “Você não quis.” –
fiz aspas – Fica parecendo que te desprezei.
Você sabe que não foi isso.
– Você anda mais indisposto do que eu.
– Não é bem assim… fiquei preocupado, você
sabe… E você também precisa descansar.
– Daqui a pouco vou fazer exatamente isso. –
Lua pontuou e chegamos ao quarto.
– Eu vou aproveitar para descansar um pouco
com você antes da viagem. – Sorri. Lua sentou-se na cama. – Ou você não quer? –
Pendi a cabeça para o lado.
– Eu vou adorar. – Confessou. Me aproximei
dela.
– Você é linda! – Falei antes de beijá-la.
Eu vou sentir muita saudade, muita mesmo. O
beijo foi ficando mais intenso. Nenhum dos dois quer cessá-lo. Lua passou as
mãos pelas minhas costas, por dentro da minha camisa. Senti meus pelos se
eriçarem com os arranhões dela. Nem me atrevo a reclamar.
– Como você não quer que eu fique excitada com
um beijo desse?
– Vou sentir tanto a tua falta.
– Eu também, meu anjo. – Lhe dei um beijo
carinhoso na testa. – Sua sorte é que a Anie já, já aparece aqui… – Sussurrei.
Lua riu outra vez. – O que foi?
– Até parece, amor. – Pontuou ainda rindo.
– Você está duvidando de mim, Blanco?
– Como você disse, Anie está prestes a
aparecer por aqui.
– Arthur, está tudo bem. Temos uma filha
pequena…
– Isso nunca nos impediu antes, meu amor.
Ouvimos o barulho de Anie correndo até o
quarto.
– Eu cheguei! – Disse empolgada. – Olha só,
mamãe. Olha aqui o seu presente! – Ela entregou a sacola à Lua. – Eu já tô
ansiosa, mamãe.
– E eu também. – Lua confessou e pegou a
sacola das mãos da nossa filha. – Uuuhm… vamos ver.
– Eu quelo que a senhola goste.
– Você espera que ela goste, meu amor.
– A corrigi.
– É, mamãe. Eu espelo. – Anie está bastante
ansiosa.
Lua abriu a sacola e retirou a primeira
embalagem.
– Uau! – Ela disse após abrir a
embalagem com o pijama amarelo clarinho: calça comprida e uma blusa com
“babado” nas mangas. – Esse foi você quem escolheu?
– Sim, mamãe. A senhola gostou?
– Filha, eu amei! A mamãe vai precisar
bastante. Nossa… é lindo! – Lua sorriu e estendeu os braços para abraçar a
nossa filha. – Obrigada, meu amor. Eu amei a blusa. – Pontuou.
– Essa daqui também foi eu… – Anie pegou a
segunda embalagem.
– Uuuuhmm… vamos ver. – Lua abriu e pegou a camisola. – Também é linda, meu amor. – Lua lhe deu um beijo na testa.
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– Parece que eu não vou mais precisar comprar camisolas. – Ela me olhou. – Dessa vez você não palpitou em nada? – Me perguntou. Neguei com um gesto de cabeça.
– Foi ideia da nossa filha. – Verbalizei.
– O meu papai só pagou. Porque ele que tem dinheiro. Eu ainda não tenho. – Anie comentou. Acabamos rindo.
– Foi isso aí, Lua Blanco. – Falei entre risos.
– Ooh, meu amor. – Lua abraçou novamente a nossa filha. – Tudo bem, querida. A mamãe sabe…
– E também tem o plesente do bebê. Olha só, mamãe… – Anie pegou a naninha de ovelhinha e entregou para a mãe.
– Oh, meu Deus! É muito fofa, filha. – Lua sorriu completamente emocionada.
– Eu tenho certeza de que o bebê vai amar, meu anjo. – Lua ainda está sorrindo. – Você é uma irmã muito especial, sabia?
– De verdade, mamãe? – A pequena perguntou um pouco contida. Lua sorriu.
– Claro, meu amor. – Lua a puxou para um abraço e lhe deu um beijo em seguida. – Eu amo tanto você, meu amor.
– Mamãe, eu também amo tanto a senhola. – Ela a abraçou de volta ainda mais forte.
– E eu? Quem me ama? – Perguntei e as duas riram antes de me abraçar.
– Eu também amo você, papai…
– Tanto?
– Hahaha… você não está fazendo isso, Arthur Aguiar?! – Lua pareceu incrédula.
– Tanto, papai. – A pequena me deu um beijo na bochecha.
– Uuuhm… Você está com ciúmes, querida?
– Eu não, mas parece que você sim. – Pontuou entre risos.
– Você está vendo coisas… – Retruquei. As duas riram.
Nós ficamos conversando e rindo por um bom tempo. Anie acabou dormindo. E como, mais cedo, Lua havia deixado ela dormir com ela na cama, fui até o quarto pegar o pijama dela para que Lua trocasse e a deixamos dormir no meu lado da cama.
– São quase dez horas, amor. – Lua me disse assim que olhou as horas.
– Ainda temos alguns minutos, querida. Você já está com saudades? – Sorri roçando a ponta do nariz em uma das bochechas dela. – Ainda podemos dormir um pouquinho.
– Não. – Negou. – Se eu dormir, você não vai me acordar. Eu te conheço.
– Você precisa descansar, amor. – Lhe dei um beijo na testa. – Vou ao banheiro. Não demoro. – Avisei.
– Eu não vou dormir. – Afirmou.
– Na teimosia você nunca perde. – Falei antes de sair andando em direção ao banheiro.
– Você arrumou a mala?
– Ontem, Luh… – Respondi antes de entrar no
banheiro.
– Vou me deitar aqui. Fica mais fácil na hora de levantar. – Falei. Lua chegou um pouco mais para perto da nossa filha.
– Se você quiser dormir um pouco, tudo bem. –
Ela disse. Sorri.
– Só se você dormir também.
– Não, Arthur. Quero me despedir de você.
– Podemos nos despedir agora. E serão menos de quatro dias, Luh. – Lembrei.
– Mesmo assim… preciso de você. – Ela me abraçou assim que me deitei na cama. – Estou me sentindo
muito dependente. – Admitiu.
– Eu também acredito que não seja. – Concordou.
– Nosso garotinho está bem? – Preferi mudar de assunto e comecei a acariciar a barriga dela por cima dacamisola.
– Está. Na verdade, ele está bem quieto desde de que voltamos para casa. Eu acho que ele já notou que
você vai nos deixar por alguns dias…
– O papai vai sentir muita falta dele. – Falei baixo. – Eu não vejo a hora de conhecê-lo, Luh. Eu estou mais ansioso do que consigo admitir.
– Eu sei que sim, Arthur. – Lua sorriu de lado. – Ele já é muito amado.
– Muito mesmo. – Afirmei. – Eu tenho certeza que será um bebê muito lindo.
– Será seu filho. Não teria porque ser diferente.
– Uma vez, uma loira muito atrevida me disse que a genética dela também é maravilhosa.Então, é isso que me faz acreditar que nosso bebê será tão lindo quanto a irmã dele… e você.
– Às vezes ainda me assusto quando lembro que criaremos mais uma criança, Arthur. É muita
responsa bilidade. – Disse preocupada. Senti vontade de rir.
– Amor, nós daremos conta. – Beijei os seus cabelos. – Eu amo você. – Declarei. Lua acariciou o meu
rosto.
– Eu acredito que te amo mais… – Disse.
– Dificilmente… – Sussurrei antes de beijá-la.
Nós dormimos. Me acordei sentindo o celular vibrar em cima da mesinha de cabeceira. Ainda bem que eu tinha ativado o alarme antes de deitar.
Eu me levantei com cuidado para não acordar Lua. Fui ao banheiro lavar meu rosto e escovar os meus dentes.
Eu vou chamá-la antes de sair. Senão, elaficará chateada. Terminei de escovar os meus dentes e fui até o closet trocar de roupa.
*
– Luh… – Chamei baixo ao me aproximar
da cama e sentar no colchão. – Acorda, meu amor. Eu já estou de saída. – Continuei falando baixo. Lua se mexeu minimamente. – Eu já estou indo… – Sussurrei. Ela abriu os olhos vagarosamente. – Só chamei porque sabia que você ia ficar chateada se eu não fizesse isso.
– Sim. – Ela afirmou. – Você dormiu?
– Só não perdi a hora porque ativei o alarme. – Rimos. – Qualquer coisa, você sabe que pode me ligar, tudo bem?
– Sei. Tudo bem. – Lua está muito sonolenta. Sei que ela está cansada. – Boa viagem. Não demora…
– Os dias vão passar bem rápido. – Afirmei.
Ela sorriu de olhos fechados. Depositei um beijo demorado em seus lábios. – Eu
amo você. Se cuida, meu amor. – Lua me abraçou. – Você não vai querer me
soltar?
– Na verdade, eu estou prestes a fazer birra igual a nossa filha. – Disse e acabamos rindo.
– Você é demais, loira. Eu também vou sentir muita falta sua. – Confessei. – Se você estiver bem, eu sei que todo o restante também estará. – Completei.
– Tudo bem.
– Mais um beijo – lhe beijei – e eu te amo.
– Eu te amo. Boa viagem!
– Me liga assim que chegar. Não vai fazer igual da última vez. – Me lembrou.
– Uuuuhmm… vou mandar uma mensagem. Não quero te acordar tão cedo. E assim que você acordar, você pode me ligar. – Avisei. Ela, felizmente, concordou. – Tchau.
Saí do quarto fechando a porta. Lua voltará a dormir e eu seguirei para o aeroporto deixando o que eu mais tenho de importante aqui em Londres, em casa.
Continua…
SE LEU, COMENTE. NÃO CUSTA NADA!

Não demora a postar, Mille! Já estou com saudades ❤️
ResponderExcluirE tão lindo esse cuidado que o Arthur tem com a lua...
ResponderExcluirCara Arthur é um marido incrível, sei que tem seus defeitos, mas esse carinho que ele tem com a família dele é inesquecível
ResponderExcluirQue capítulo lindo ,como sempre
ResponderExcluirJá estava com saudades 🥹
Que capítulo maravilhoso, amei 💖
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