Little Anie - Cap. 93 | 5ª Parte

|

 


Little Anie

Parte Cinco


[...] não escolho mais tirar de mim esse amor

entranhado, pertence a lugares em mim que não mando mais.

Não fico tomando conta, podia ser assim,

podia ser assado, medindo com régua o que falta.

Não quero viver sem ele*, me caso todos os dias com ele, acordo e caso, [...].

Tem dia que ele tá chato de doer, largo pra lá,

vai ser chato longe de mim e pronto.

Ele melhora sozinho, depois piora e torna a melhorar,

e a gente vai assim tomando distância e diminuindo distância. Caminhando.

                    – Carla Madeira


Pov Lua


Londres | Sábado, 30 de setembro de 2017.


Vinte e três semanas e seis dias de Ravi.


– Bom dia, minha gatinha. – Acordei com os beijos de Arthur na minha bochecha. Abri lentamente os meus olhos.

– Bom dia, amor. – Ele me deu um selinho. – Já está de saída?

– Sim. Não fique chateada, por favor. Deixei você dormir porque ontem você disse que estava cansada. – Explicou olhando nos meus olhos.

– Tudo bem. – Toquei o seu rosto com uma das mãos. – Bom trabalho, Arthur.

– Obrigado! – Ele agradeceu e aproximou os lábios dos meus. – Eu não quero dar só um beijinho na minha garota. – Disse. Sorri.

– Você é demais, Arthur!

– Você reclamou do meu beijo, Lua Blanco, mais de doze anos depois. – Lembrou.

– Eu não reclamei. Eu estava chateada. – Me defendi.

– Vou deixar você de castigo.

– Até parece. – Não acreditei.

– Não acredita?

– Nenhum pouco! – Respondi enquanto mexia em alguns fios de cabelos dele.

– Nem eu. – Arthur riu.

– O seu beijo sempre foi o meu preferido. – Contei.


Arthur me encarou, mas não disse nada. Nos beijamos. O beijo começou lento, do jeito que ele gosta, e foi ficando mais intenso, do jeito que eu gosto. Finalizamos com Arthur puxando o meu lábio inferior. Ele tem um beijo incrivelmente gostoso. Eu não sei porque falei aquilo. Ele desceu os beijos para o meu pescoço e depois para o meu colo – ontem eu não vesti a camisa de volta.


– E você inteira é a minha pessoa preferida. – Ele disse ao me olhar. Apenas sorri já querendo chorar. – E não é pra você chorar. – Avisou encostando a testa na minha. – Aproveita o passeio hoje. Me liga se acontecer qualquer coisa… quero saber por onde você anda. – Pediu. Ri.

– Quer me vigiar, Aguiar? – Provoquei.

– Como se eu fosse conseguir. – Fez uma careta. – Mas pode me ligar se acontecer algo, tá? Meu celular nunca está no silencioso pra você. – Avisou.

– Eu sei. – Lhe dei um selinho. – Acho que só vamos ao shopping.

– Tudo bem. – Ele se afastou. – Cuidado, tá? Eu te amo.

– Eu te amo, Arthur. – Falei. Ele se afastou, mas eu o puxei de volta. Arthur riu e me deu mais alguns beijos.

– Vou sentir a sua falta.

– Eu também. – Confessei.


Arthur me deu mais um beijo nos lábios, um beijo bem demorado. Depois me deu um beijo na testa e saiu.


*


– Bom dia! – Falei para a minha sogra assim que cheguei à sala de jantar.

– Bom dia, querida! Dormiu bem?

– Dormi. E a senhora?

– Bem também. Estava tão cansada. A viagem foi tranquila, mas meu plantão foi de setenta e duas horas. – Me disse. Me sentei à mesa.

– Eu imagino. Ontem também tive um dia bem corrido. Nem todos os dias são assim, mas quando saí do trabalho, ainda tive que buscar a Anie na escola e levar para o balé. – Contei. – Arthur quem faz isso, mas ontem ele saiu mais tarde do trabalho, aí eu tive que ir buscá-la.

– E como ela está indo no balé?

– Ela ama o balé. Pensei que fosse algo que ia passar rápido, que depois ela ia se desencantar. Mas segue firme e forte. Fica toda animada quando tem uma apresentação.

– Ela é uma criança muito inteligente. Não parece que tem apenas cinco anos.

– Hahaha… Anie é esperta demais. Às vezes até me surpreendo com algumas falas dela. Eu e Arthur discutimos e ela percebeu. Ficou do lado dele dessa vez, disse que iam embora daqui, que eu ia ficar sozinha, que iam levar até o bebê quando ele nascesse. Vê se eu posso com uma coisa dessas? Que eu não amava mais o pai dela. Tomou todas as dores dele.

– Meu Deus! – Minha sogra disse surpresa. – Ela fez isso?

– Tô dizendo… ela me vem com cada uma. Ontem me disse que fez um trabalho muito legal na escola, que escreveu e leu. Acho que ela acabou esquecendo de mostrar. Disse que ia mostrar para o pai e para a senhora.

– E ela já sabe ler?

– Não. A professora ajudou eles. Ela disse que ainda se lembrava, que ia ler pra gente. Eu também não vi a atividade, só sei porque ela me contou. – Coloquei um pouco de suco em meu copo. – Tem torrada?

– Aqui, minha querida. – Minha sogra me entregou o prato com as torradas. – Aqui estão as geleias.

– Obrigada. – Agradeci. – Daqui a pouco Anie acorda. Ela está animada porque falei que vamos sair. A senhora vai ao shopping com a gente?

– Claro que sim, Luh. Aproveito e compro logo um presentinho para o meu neto.

– Hahaha… eu também quero comprar um sapato pra ele. Combinamos assim, porque Arthur quem pagou as roupas. Ele é muito chato! Sempre quer pagar tudo sozinho.

– Vocês ainda dividem tudo?

– Sim. Porque ele quer pagar tudo sozinho. Ele me irrita com isso. Eu quero pagar e ele não deixa.

– Arthur sempre foi assim… Eu gosto de saber que ele é um bom marido pra você.

– Ele é. – Sorri. – Acho que talvez amanhã eu conte para a minha família.

– Sobre a gravidez?

– Sim. A senhora vai amanhã ou segunda?

– Na segunda de manhã, querida. À noite eu tenho plantão.

– Nem sei por onde começar. Sei que Arthur não vai. E eu queria tanto ter ele por perto. – Suspirei.

– Lua, eu nem sei o que dizer nessa situação. É delicado, e por um lado, eu até entendo a sua mãe. E é difícil para mim admitir isso. Arthur é o meu filho. O meu único filho. Sei que ele é um homem bom, um homem íntegro. Mas se o que aconteceu abalou até a sua confiança nele, o que você imagina que passou pela cabeça da sua família? Eu sei que eles confiavam muito no meu filho. Que o seu pai o ama.

– O meu pai sempre confiou nele. Não teve nada que abalasse a relação deles dois.

– Isso me deixa aliviada.

– Mas a minha mãe não.

– Forçar uma situação não ajudará em nada. Nesse momento, é melhor que Arthur não esteja lá. Na verdade, eu sei que ele não te deixará sozinha… mas estar lá, pode gerar outras coisas que vocês não precisam lidar. Nada impede que você conte à sua família. Tenho certeza de que vão amar a novidade.

– Já eu não tenho tanta certeza assim. – Confessei.

– Apenas relaxa. Você não precisa sofrer por antecipação. Tudo acontecerá como tem que acontecer. Você não está sozinha. Tem a mim, tem o Arthur, tem a sua filha, tem as meninas aqui… e tenho certeza que terá o seu pai também.

– E tenho Harry.

– E o Harry. Ele já sabe?

– Sim, só da gravidez. Não do sexo do bebê. Ainda não tivemos tempo de conversar com ele essa semana.

– Ele deve ter amado.

– Ele ficou muito animado.

– Você tem muitas pessoas que querem te ver bem. Apenas foca nisso, certo?

– Certo. Obrigada! – Eu realmente estou muito agradecida.


Londres | Shopping


Nós chegamos ao shopping perto das dez horas da manhã. Anie está numa animação só.


– O que vamos fazer primeilo? Nós já vamos compar o meu sapato da escola?

– Sim, podemos fazer logo isso. Acho que não vai ser tão difícil achar um sapato preto. O que você acha?

– Mamãe, têm muitos sapatos pletos aqui.

– Tá, vamos entrar nessa loja.


Entramos em uma sapataria infantil. Espero que encontremos logo o sapato aqui. Tem que ser sapato social e preto. Não parece ser tão difícil assim de encontrar.


– Esse daqui! – Anie pegou um tênis preto.

– Não, amor. Não é tênis, filha. É sapato social.

– A senhola gostou desse vovó?

– É um tênis muito estudioso, querida. Mas não é o que pediram na escola.

– Qual é o social então?

– Desse daqui, Anie. Mas tem que ser na cor preta. Vamos perguntar para alguma atendente.

– Tem que ter o meu número também.

– Sim, meu amor. Claro. – sorri.

– Mas desse eu não gostei, mamãe. Não tem de outo?

– Vamos perguntar. Podemos ir em outra loja também.

– Tá. Eu acho que é melhor então, mamãe.

– Vamos ver aqui primeiro.

– Tá.


A pequena concordou. Mas não está muito contente com o sapato que eu tenho em mãos. Talvez tenhamos que ir em outra loja mesmo.


Não tem outra opção de sapato e Anie não gostou da única que tem. Então é melhor eu não levar.


– Vamos em outra loja, amor.

– Outa loja será que vai ter?

– Acredito que sim, meu amor.

– Mamãe, e se não tiver?

– A gente procura em outra e em outra e em outra…

– A senhola não vai ficar cansada? – Anie perguntou e minha sogra sorriu.

– Não, meu amor. Está tudo bem.


Andamos mais um pouco até encontrarmos outra loja. Entramos e há mais opções de sapatos sociais e pretos.


– Gostou de algum?

– Ainda estou vendo, mamãe. A senhola espela mais?

– Eu espero, filha.

– Olha esse aqui, querida. Ele é lindo. Eu gostei. O que você achou? – Minha sogra mostrou um sapato todo preto, envernizado e com lacinho.

– Esse é mesmo bonito, não é, mamãe?

– É sim, filha.

– Será que tem o meu número?

– Vamos perguntar para a atendente.


Fomos até uma funcionária e perguntamos se tem o número da Anie. Ela disse que sim e foi buscar no estoque.


Ficamos aguardando. Anie está mais animada. Ela realmente gostou do sapato.


– O meu papai vai achar bem bonito.

– Sim. Podemos mandar uma foto pra ele. Ele disse que poderia mandar ou você quer fazer uma surpresa?

– Eu pefilo fazer uma surpesa.

– Então é o que faremos.


A funcionária trouxe o sapato, Anie calçou e deu super certo.


– Gostou?

– Adolei. Eu quelo esse mesmo, mamãe.

– Então, ok. Vamos levar esse.


*


– Agora vamos comprar o sapato do seu irmão.

– Ainda é segledo, mamãe?

– Sim, filha. Ainda é segredo. Não precisa dizer que é para o seu irmão.

– Só que é pesente para o bebê.

– Sim. Um presente para um bebê menino. – Esclareci. Anie é muito esperta. Laura sorriu.

– E a vovó vai comprar um presente também. Você me ajuda a escolher?

– Para o meu irmão? – Anie indagou e eu achei a coisa mais fofa do mundo.

– Sim. Para o seu irmão. Você me ajuda?

– Eu ajudo, vovó. Sabia que eu também ajudei os meus papais a compar a roupa do bebê?

– Não. Mas isso é muito legal. Você gostou?

– Eu adolei!


As duas saíram andando por um dos corredores da loja. É uma loja apenas de coisas de bebês, de crianças.


– Pode ser o que a senhola quiser?

– Sim. Mas tem que ser algo bem legal, meu anjo.

– Um binquedo bem legal de bebê.

– Pode ser também. – Minha sogra concordou. Apenas segui elas.

– Eu vou ver se encontro algum sapato, ok? Vou estar ali naquele corredor.

– Mamãe, eu posso ir lá depois?

– Claro, meu amor.

– Tá.


Deixei elas escolherem o presente que minha sogra quer comprar e fui ver se encontro um sapato para o bebê. O primeiro sapatinho dele.


Tem várias opções, muitas sandálias, mas não quero. Quero sapatinho fechado. Não quero cor escura.


Peguei um tênis na cor cinza e outro na cor bege. Os tamanhos são grandes, não são para recém-nascidos, mas não tem problema. Vou escolher o bege e vou ver uma roupinha também.


Fui para o corredor de roupas de bebê masculino. Tem cada roupinha linda. Fica tão difícil escolher. Se Arthur estivesse aqui, certamente, não íamos levar só uma roupinha. Escolhi um body azul marinho, de gola polo e um shortinho bege, social. Vai ficar a coisa mais linda e fofa. Não vejo a hora de ver o bebê vestido com essa roupinha. Arthur vai amar, eu tenho certeza.


Link: Presentes que Lua comprou para o bebê | Clique aqui e veja.


– Mamãe…

– Oi, filha. – Me virei e olhei para a pequena.

– Olha de plesentes para o bebê. – Ela me mostrou a cestinha.

– Meu Deus! Até pra você? – Perguntei. A cestinha está cheia.

– Sim. Minha vovó quis compar também. Ela disse que podia.

– Tudo bem, querida. E o que você escolheu?

– Um vestido, um binquedo de bailalina e um copo de gatinho. Olha só, mamãe… um binquedinho que gila. O meu é de bailalina e do bebê é de bebê no berço. Porque é de criança.

– Olha só, querida. O que você achou? – Me mostrou um kit de introdução alimentar: cara de ovelhinha.

– É a coisa mais fofa. – Respondi. Quando a Anie nasceu não havia esses kits, não assim desse modelo. – Arthur nem vai acreditar quando ver. – Comentei.

– Esse aqui toca uma musiquinha.

– O bebê já tem binquedo agola.

– Você quem escolheu?

– Eu ajudei a minha vovó a escolher.

– Agora eu vou escolher uma roupinha e um sapato também.

– O bebê já vai ter três roupas e dois sapatos. – Anie notou. Acabamos rindo.

– Sim, filha.


Minha sogra está escolhendo uma roupa para o bebê e um sapato. Anie está ajudando ela.


Já até consigo imaginar Arthur dizendo que queria ter estado com a gente. Que queria ter escolhido mais coisas para o nosso filho.


– Um sapato azul desse, mamãe. Olha, vovó!

– Anie pegou o sapatinho e nos mostrou.

– Você gostou desse?

– A vovó gostou desta roupa aqui. E combina com o sapato, que tal?

– É bonita. Eu gostei, vovó. – Anie sorriu.


Link: Presentes do bebê | Clique aqui e veja.


– É bonita mesmo. Eu também gostei. – Falei.

– Pronto, então vamos escolher essas presentes para o bebê. – Minha sogra pegou a cesta da mão da Anie. Caminhamos até o caixa para fazer o pagamento.


*


Almoçamos no shopping e depois fomos assistir um filme com a Anie. Arthur me enviou uma mensagem quando estávamos no cinema.


Mensagem ON


“Vocês estão por onde?”

“Estou com saudades, baby. Você está com saudades de mim?”



“Ainda estamos no shopping. Estamos assistindo um filme com a Anie.”

“E sim, eu estou com saudades, meu amor.”

“Ainda está na produtora?”



“Um filme? Anie conseguiu esse feito ou foi só para agradar a tua sogra preferida? Kkkkkkkkkkk”

“Sim. Mas estamos almoçando.”

“Vocês já almoçaram?”



“Eu não preciso agradar a minha sogra. Já agrado você, por que precisaria fazer algo a mais?”

“Sim. Já almoçamos.”



“Que convencida! Ela sabe disso?”

“Vai contar como me agrada?”



“Eu posso contar quando você estiver em casa.”

“Só não vale ficar sem graça.”



“Hahahaha… nem ouse, Lua Blanco!”

“Fez muitas compras?”

“Achou o sapatinho?”


Ele mudou de assunto. Sei que começa a me provocar, mas não aguenta. Fica sem graça quando pensa que vou falar alguma coisa para a mãe dele.


“Ficou com medo é? Já disse para não me provocar. Você sabe que eu sempre ganho.”

“Fiz algumas. E você vai amar o sapatinho, eu tenho certeza. É a coisa mais fofa.”

“Mas é surpresa!”



“Aaaaah… só porque eu já ia pedir uma foto.”

“Mas tudo bem, quando chegar em casa, eu vejo.”

“Agora eu vou deixar você assistir o filme.”

“Eu te amo.”



“Eu te amo.”

“Até à noite…”

“Beijos!”



“Beijos, gatinha.”


Mensagem OF


Em casa | 15h30 da tarde.


Nós chegamos em casa perto das três horas da tarde. Anie nem pensa em dormir. Está super animada e falante. Já mostrou os presentes dela e do bebê, que ganhou da avó, para a Carla, para a Carol e para o Bart. Já mostrou também os que eu comprei.


Ela não vê a hora do pai chegar em casa, para que ela mostre para ele também. Inclusive, acabou de lembrar da atividade que fez na escola. Foi até o quarto pegar o caderno para nos mostrar.


– Tá aqui, mamãe. Foi nesse caderno de atividade aqui. – Ela desceu a escada e veio até mim. – Nessa parte aqui, que é de dever da escola. – Me explicou e abriu o caderno.

– Deixa a mamãe dar uma olhada… – Peguei o caderno.

– Eu posso ler pra senhola?

– É claro que pode, meu amor. A mamãe quer muito ouvir você ler.

– A senhola também, vovó?

– A vovó também, meu amor. – Laura sorriu. – Você já sabe ler?

– Sim. Ontem. Eu apendi ontem. – Disse toda segura.

– Nossa! Isso é muito incrível, minha querida.

– E é mesmo, vovó. Quer ver escuta… – Ela colocou o caderno em cima do sofá e se ajoelhou no chão. Bart se aproximou dela. – Você também, Bart. – Olhou para o cachorro. – Quer escutar? Hein, hein? Responde… au au… – Disse e não conseguimos segurar a risada. Bart latiu.

Filha! – Falei entre risos.

– Hahahaha… ele gosta de mim! – Disse abraçando o cachorro.

– Vocês dois são demais! – Apertei uma das bochechas dela e fiz carinho em uma das orelhas de Bart.

– Olha aqui, mamãe… sabia que eu já expiquei pra minha mamãe, vovó?

– Não, meu amor. A vovó quer saber também o que você fez…

– Foi assim… a minha pofessola fez válias perguntas pra mim e para os meus colegas da escola, que estudam comigo. Ela quis saber o nome dos nossos papais…

– E o que você respondeu?

– Que o nome da minha mamãe é Lua Blanco e do meu papai é Arthur Aguiar. Não é, mamãe? – Anie me olhou.

– É, meu amor.

– Depois ela perguntou se a gente tinha irmão, um ou mais e se tinha cachorrinho também ou outo animal… que vive em casa com a gente… como é, mamãe?

– Animais de estimação?

– É. Que mora em casa com a gente.

– E você disse o quê? – Minha sogra quis saber.

– Que eu tinha um irmão, mas que ainda tava na barriga da minha mamãe… minha mamãe disse que tudo bem eu ter falado… Olha aqui – ela apontou para o caderno –, eu que escrevi e também olha o desenho… o neném na barriga da minha mamãe…

– Você não me disse desse desenho. – Olhei para o caderno. – Que lindo, meu amor. – Já estou emocionada. – Aaaaiii que vontade de te apertaaaaar… te amo tanto, meu amor.

– A senhola gostou?

– É um dos meus desenhos favoritos, filha.

– Aqui foi o que eu escrevi do meu irmão e do meu cachorro… – Disse e eu tive que me segurar para não chorar. Ouvi-la falando assim me deixa muito emocionada. Anie não cansa de me surpreender. É a melhor filha que eu poderia ter. – Que eu disse que eu tenho um cachorro… vocês estão vendo?

– Sim, meu amor. – Respondi.

– Sim e a vovó está amando.

– Tá, então eu vou continuar… que eu disse que o nome dele é Bart, que ele é o meu cachorrinho. – Ela encostou a testa na cabeça do cachorro. – Depois a minha pofessola perguntou o que a gente mais gosta de fazer… de mais legal, de divertido… aí eu disse que eu gosto muito de dançar. De ser bailalina. Aí eu escrevi isso aqui… olha aqui, mamãe… olha, vovó… – Apontou para o caderno.


A letra é algo que só ela consegue decifrar, mas é uma das coisas mais fofas que eu já presenciei sendo mãe dela. Eu tenho certeza, de que o desenho da bailarina foi feito com muito cuidado e atenção. Sei que ela se dedicou muito, porque é muito perceptível.


– Gostalam?

– Eu amei, filha. Você arrasou demais, minha garotinha! Parabéns! – Parabenizei ela e lhe dei um beijo demorado na bochecha. – Eu te amo tanto.

– Eu também te amo, minha mamãe. –  Anie me abraçou. – A senhola acha que o meu papai vai gostar muito também?

– Ele vai amar muito, filha. Eu tenho certeza! – Garanti.

– E a senhola, vovó?

– O que a vovó tem pra falar? Eu amei, amei, amei demais. É tão fofo. Você é tão caprichosa, minha querida. – Laura deu um beijo carinhoso na testa da neta.


Anie sorriu sem mostrar os dentes. Parece com Arthur quando fica sem graça ao receber elogios. Ela veio para o meu colo e me abraçou. Acomodei ela em meu colo e lhe dei vários beijos na bochecha.


– Você não quer dormir?

– Vou espelar o meu papai. – Me disse.

– Seu pai não vai chegar agora, filha. Ele está trabalhando… não vai chegar cedo. – Expliquei fazendo carinho em seus cabelos.

– Mas, mamãe, se eu dormir agola, não vou ver o meu papai. E eu tô com saudade do meu pai.

– Eu sei que você está com saudades dele. Eu também estou, filha. Sabe o que podemos fazer? Você pode dormir e a mamãe promete que quando o seu papai chegar, vai pedir pra ele te acordar.

– De verdade?

– Claro que sim, meu amor.

– Eu vou ficar chateada se o meu papai não me acordar.

– A mamãe está prometendo, filha. – Afirmei e Anie me abraçou. Sei que ela vai dormir, pois está muito cansada. – Pode confiar na mamãe. – Acrescentei. Anie não disse mais nada. Não está dormindo. Está mexendo no meu cabelo.


Ficamos em silêncio. Anie está piscando longamente, mas está tentando resistir ao sono.


– Você acha que ela vai dormir?

– E não vai demorar muito. – Contei. Laura sorriu. – Ligue a tevê, vamos assistir algo. Eu não sou muito fã, mas vez ou outra assisto alguma coisa. Seu filho e a minha filha são viciados em televisão.

– E o que você faz no tempo livre? – Minha sogra ligou a televisão.

– Eu prefiro ler um livro ou dormir. Dormir é sempre uma boa opção pra mim.

– Eu também gosto de ler, mas ainda prefiro passear no tempo livre.

– É que a sua rotina é muito mais puxada. A senhora precisa se divertir mesmo nas horas livres. E o Robert, como está? Como vocês estão?

– Hahaha… estamos bem, querida. Obrigada por perguntar.

– A senhora parece tão feliz. Mais do que há muito tempo eu não via…

– E eu sinto que estou mesmo, Lua. É uma sensação, um sentimento tão bom. Não consigo explicar.

– E nem precisa. – Deixei claro. – A senhora merece. Fico feliz por isso.

– Obrigada, Lua. Que bom que tenho uma nora como você.

– E eu, uma sogra como você. – Sorri. – Eu ainda não desisti de fazer Arthur mudar de ideia. – Contei.

– Eu não quero que vocês discutam isso, por favor, Luh.

– Ele só está com ciúmes, embora nunca vá admitir. – Contei. Laura riu.

– Eu não imaginava que ainda fosse passar por isso.

– E eu menos ainda que fosse presenciar essa reação dele. Mês que vem farei uma viagem a trabalho. Quando chegar, podemos ir a Manchester visitar a senhora.

– Eu adoraria. Mas acho que Arthur não gostará muito dessa ideia.

– Se ele não quiser ir, não irá. Mas eu posso ir com a Anie. – Dei de ombros. – Eliza me liberou para fazer a viagem. A senhora acha que é seguro mesmo?

– Se sua gravidez continua indo bem, não há problema nenhum em fazer uma viagem de avião. Só não esqueça de levar o atestado com a autorização dela. Geralmente a companhia aérea pede.

– Sim, sim. Ela já me avisou.


Ficamos conversando sobre vários outros assuntos, até Bart sair correndo até a porta. Anie adormeceu há um tempo. Eu sabia que ela não ia resistir ao sono, embora tivesse tentado muito.


– É o Arthur. – Olhei para a porta. Embora nem tenha escutado nenhum som dele estacionando o carro.

– E ele já sabe?

– Ele conhece o som. E quando o Arthur chega é sempre assim, quando Anie está acordada são os dois correndo até a porta. – Falei e a porta foi aberta e de fato é o Arthur.

– Olá, meu garotão! – disse e o cachorro começou a latir e a pular nele.


Link: Bart | Clique aqui e veja.


– Hahaha… que animação é essa? – Arthur acariciou as orelhas dele. – Tudo isso é saudade? É, é? – O cachorro voltou a latir. – Eu sei. Eu também sinto saudades de você… – Sorriu e andou até onde estamos. – Oi, mãe. Boa noite! – Ele abraçou a mãe e lhe deu um beijo carinhoso nos cabelos. – Como estão? – Perguntou.

– Muito bem! – Minha sogra respondeu. – E você?

– Melhor agora. – Ele disse e se aproximou de mim. – A minha garotinha está dormindo? Que milagre é esse? – Sorriu dando um beijinho na testa da nossa filha.

– É porque ela não parou nenhum pouco hoje. – Contei. Arthur sorriu ao me olhar.

– E você? – Me deu um selinho. – Está tudo bem?

– Sim. – Respondi. Arthur me beijou outra vez. – Não sabia que ia chegar tão cedo assim… – Comentei após o beijo.

– Eu disse a você que chegaria cedo. – Me lembrou e voltou a acariciar o rosto da nossa filha. – Um anjinho…

– Você vai ter que acordá-la. – Avisei.

– Tem certeza?

– Sim. Eu prometi que você acordaria ela assim que chegasse. – Contei e Arthur riu. – Se você não acordar, ela ficará chateada é comigo.

– Eu vou tomar um banho antes… – Ele respondeu. – E o meu garotinho? – Olhou em direção a minha barriga. Anie está em meu colo. A posição dela impede que ele toque em minha barriga.

– Está tudo bem com ele. – Sorri.

– Cadê o sapatinho que você comprou?

– Anie guardou. Ela mesma quer mostrar pra você.

– Tudo bem. O jeito vai ser esperar. – Ele sorriu e passou o polegar pela bochecha da nossa filha. – Já volto. – Me olhou. Apenas assenti.


*


– Se a senhora deixou o celular no quarto, é ele quem está tocando. – Arthur avisou assim que desceu os degraus. Ele tinha subido há alguns minutos para tomar um banho e realmente não demorou a voltar.

– Deve ser. Só instante. Vou ver quem está me ligando. – Minha sogra levantou do sofá e caminhou rumo à escada. Arthur fez uma careta, mas ela não viu.

– Eu vou contar. – Avisei.

– Vai nada. Você não viu nada. – Ele sentou-se ao meu lado.

– Você sabe que isso é ridículo, não sabe?

– O que eu fiz? Do que você tá falando? – Se fez de sonso.

– Você não é inocente assim. Pode parar! – Falei. Ele riu.

– Deixa eu acordar a minha garotinha. – Aproximou o rosto da bochecha da nossa filha. – Ela está dormindo há quanto tempo?

– Acho que quase três horas… eu pensei que você fosse chegar depois das nove.

– Não.

– Hoje deu tudo certo?

– Deu sim, amor. Foi tudo muito tranquilo. – Ele roçou o nariz na bochecha da Anie. – Acorda, meu bebê. – Disse e depois me olhou. – Tem certeza, Lua?

– Tenho. – Ri. – Ela mesma pediu. – Esclareci.

– Se ela acordar zangada, irritada igual a você, a culpa vai ser tua. – Me disse.

– A culpa vai ser dela, ela quem pediu. – Dei de ombros.

– Ei, o papai já chegou, meu amor. – Ele voltou a falar com ela. – Anie… Me dá ela aqui, Luh… – Pegou ela do meu colo e colocou no colo dele. – Garotinha do papai. – Deu um beijo na testa dela.

– Papai…

– Sou eu, meu amor. Eu já cheguei. – Disse com a voz baixa. – Estava com saudades do papai?

– Sim, papai. Muitas saudades. – Ela o abraçou.

– Aaaii, meu Deus! O papai também estava com saudades de você. – Lhe deu um beijo demorado na testa. – O que você fez hoje?

– Papai, sabia que o bebê ganhou um monte de pesentes hoje? Da minha mamãe e da minha vovó. Eu também ganhei pesentes da minha vovó.

– Não. O papai quer ver. Onde estão os presentes?

– Tá, eu vou buscar. – Anie desceu do colo do pai e correu para a brinquedoteca. Foi lá que ela guardou as sacolas com as compras de hoje.

– Presentes? Pensei que tinha comprado só o sapato.

– Sua mãe quem comprou presentes para eles. – Respondi e Arthur roçou os lábios no meu pescoço e com uma das mãos, acariciou a minha barriga. – E você?

– Um par de sapato e uma roupinha muito estilosa. – Contei. Arthur me olhou.

– Deve ser a coisinha mais fofa. Você não me contou.

– É surpresa. – Sussurrei e Anie voltou para a sala.

– Olha aqui, meu papai. Da minha mamãe foi esses e da minha vovó esses aqui… e eu também ganhei, papai. Olha só… – A pequena tirou o vestido de dentro da sacola.

– Uau! Que vestido lindo, filha. A gente precisa sair pra você usar ele.

– Sim, papai. Eu também adolei. Vamos sair amanhã?

– É claro, meu amor. – Arthur garantiu. – Não é, mamãe? – Me olhou.

– Não é a sua mamãe. É a minha mamãe. – A pequena o corrigiu e isso nos fez rir.

– Eu sei. – Arthur disse entre risos. Anie também riu.

– Uma bailalina que gila pra mim e um bebê de binquedo que também gila para o bebê. Olha só que fofinho… toca musiquinha de neném… – A pequena contou.

– Que lindinho, filha. Isso é muito legal! – Arthur colocou a música para tocar. É uma melodia agradável.

– E um copo de gatinho pra mim. – Anie mostrou o copo. – E esses é tudo do bebê. Olha só… roupa e sapato e coisas de comidinha.

– De comidinha? Ele ainda nem nasceu e já têm coisas de comer? – Perguntou divertido. Assenti. – Aaah… não. Isso é fofo. É uma ovelha?

– Parece que sim. E é o kit completo. – Expliquei.

– A minha mãe quem comprou isso?

– Sim.

– É. Foi a minha vovó. Gostou?

– Eu adorei, filha. E tenho certeza que o bebê também vai gostar.

– É… eu também acho que ele vai gostar. Eu gostei. Só que é só de bebezinho, não é?

– Sim. Só de bebezinho, meu amor. – Arthur respondeu pacientemente. – Oh! Um sapatinho de menininho muito estudioso. Foi esse que você comprou, querida? – Ele me olhou.

–  Não. O meu é outro. Esse foi a sua mãe. A roupinha também foi ela.

– É de sair, papai. – Anie suspendeu a roupa para que ele visse.


Link: Presentes do bebê | Clique aqui e veja.


– Hahaha… não vejo a hora de vê-lo vestido com essa roupa. Meu Deus! Vai ser o bebê mais fofo do mundo.

– O meu irmãozinho? – Anie o olhou. Fiquei tão emocionada de ouvi-la falando assim do bebê.

– Sim! – Arthur exclamou super animado e depois me olhou rapidamente. Ele também ficou emocionado. Voltou a olhar para a nossa filha. – O seu irmãozinho vai ser um bebê muito fofo.

– Hahaha… sabia que eu também acho?

Aaaii… – Arthur segurou o rosto da pequena com as duas mãos e lhe deu um beijo na ponta do nariz. – Eu adorei saber. – Confessou. – E o que a sua mamãe comprou?

– Um sapato e uma roupa bem bonita de bebê. – Ela entregou a sacola para ele.

– Aaaaawn… não… – Arthur me olhou assim que abriu a sacola e viu a roupa. – De menininho também? – Indagou. – Gola polo? Eu não estava preparado para ver isso. – Voltou a olhar para a roupa.

– Eu sabia que você ia gostar.

– É claro que sabia. – Me olhou novamente. – Você vai ser mamãe de um garotinho muito estiloso. – Sussurrou.

– Olha só, papai… agola os sapatinhos…

– Que lindos!


Link: Presentes da Lua para o bebê | Clique aqui e veja.


– Combina com a roupinha. Os dois combinam, papai.

– Sim. E os dois são lindos!

– Agola ainda tem a minha roupa da escola e o meu sapato novo que a minha mamãe compou.

– É verdade. E eu ainda nem vi o teu uniforme novo. – Arthur comentou.

– Onde que tá, mamãe?

– Está lá no teu quarto, perto da cama. – Expliquei e Anie foi buscar.

– Foi difícil achar o sapato dela, do modelo que pediram?

– Não, não. Achamos na segunda loja. – Respondi.

– Ela chamou o bebê de irmãozinho, meu amor. – Comentou mais baixo e me deu um selinho. – Eu quase nem acreditei. – Acrescentou. 

– Mais cedo ela chamou ele de irmão, e eu já fiquei tão emocionada. Eu também não estava esperando ouvir ela falar isso.

– Ela surpreende demais a gente. Amo tanto essa garota!

– Olha aqui, papai! – Anie voltou para a sala com a sacola em mãos. – A roupa da escola e o meu sapato.

– Deixa eu ver… – Arthur tirou o sapato da caixa. – Uau! É um sapato bem bonito, filha. Você gostou?

– É mesmo. Eu gostei. Tem meia também, papai.

– Deixa eu ver… – Arthur pegou a meia – Pensei que fosse meia curtinha.

– É cano alto. – Falei.

– O uniforme é bem bonito também. Ficou certinho em você? Achei essa saia grande. –

– Observou.


Link: Uniforme escolar da Anie | Clique aqui e veja.


– Foi feito sob-medida, amor. – Expliquei. – Está tudo ok.

– Tudo bem. – Ele deu de ombros. – Vai lá deixar no quarto, filha. – Pediu e Anie obedeceu.


Horas mais tarde…


Depois que jantamos, assistimos um pouco de televisão e horas mais tarde viemos para o quarto. Anie não custou a dormir. Ela realmente estava bem cansada, não parou quase o dia inteiro. Aproveitou bastante o sábado dela.


Eu já fui ao banheiro, já vesti uma camisola e estou aguardando Arthur vir para a cama. Quero conversar com ele. Ainda não tivemos tempo de ficar a sós depois que ele chegou em casa.


– Amanhã podemos almoçar fora, o que você acha? Aproveitar que a minha mãe está aqui. Que tal? – Ele sugeriu ao sair do banheiro. Foi até as janelas e ajeitou as cortinas, depois se virou e caminhou até o meu lado da cama. Sentou-se na cama e me olhou. Sorri.

– É uma boa ideia. – Respondi. Arthur pendeu a cabeça para o lado e ficou aguardando que eu acrescentasse mais alguma coisa.

Mas, só que… – Disse distraidamente. Ri.

– Eu quero conversar com você sobre um assunto específico… – Começou.

– Eu imaginei que quisesse mesmo. – Pontuou e me abraçou, cheirou o meu pescoço, depositou vários beijos em meu pescoço. O abracei de volta e fiquei fazendo carinho em suas costas. – Posso te pedir uma coisa antes? – Sussurrou ainda com os lábios em meu pescoço.

– Pode. – Respondi. Ele se afastou e me olhou.

– Você pode vestir um pijama com short e top? – Perguntou meio que na dúvida. Franzi o cenho. – Quero dormir fazendo carinho na barriga, no bebê. – Explicou. Achei fofo. – Assim com a camisola não dá. – Acrescentou. – Mas só se você quiser também, se for confortável pra você. – Deixou claro.

– Posso. – Respondi. Arthur me deu um beijo carinhoso e demorado nos lábios. – Confortável pra mim é dormir sem roupa. – Murmurei. Ele riu.

– Pra mim já é provocação demais. – Confessou. Rimos.

– Pega lá um pijama desses… – pedi – por favor.

– Qualquer um?

– Pode ser. Pega uma caixa no lado que eu guardo as minhas bolsas, por favor. E não abre. – Avisei.

– O que você vai aprontar?

– Faz parte da conversa. – Falei e Arthur voltou com o pijama e a caixa em mãos.

– Essa daqui?

– Essa mesma. – Peguei a caixa e deixei sobre a mesinha de cabeceira. – Obrigada! – Ele me entregou o pijama. Tirei minha camisola e vesti o top, Arthur está acompanhando cada movimento meu, depois vesti o short. – Prontinho, você já pode mimar o seu filho antes de dormir.

– Ele e a minha esposa. – Voltou a sentar na cama e a me abraçou. – É que eu ainda estou com muitas saudades. – Confessou. Não falei nada. Apenas aproveitei o abraço. – Mas… – se afastou – o que você quer conversar? Parece muito importante. – Se sentou de frente para mim.

– Eu estive pensando bastante sobre isso desde terça. – Comecei. – A gente se desentendeu e por esse motivo eu não comentei com você antes. Já contamos para a sua mãe, para as meninas, para o Harry, eu já contei para o Ryan. Nossa filha já sabe e até já falou na escola…

– Como assim?

– Ela fez uma atividade, contou para a professora. Na verdade, ela ainda vai te falar sobre isso.

– Quando ela contou?

– Sexta-feira. Ela fez uma atividade de escrita e leitura.

– Anie não sabe ler, Luh. – Arthur pareceu bastante confuso e surpreso, igual a mim.

– Pois é. Ela vai te explicar. Mas esse momento, embora muito emocionante, não faz parte dessa conversa que quero ter com você.

– Ok, ok.

– Bom, voltando… quero contar para a minha família, para os meus pais, especificamente. – Mordi o lábio inferior. Arthur está me encarando bem atento. – Semana que vem eu nem precisarei falar mais nada, minha barriga já falará por si só. Não quero que eles descubram assim…

– Tudo bem. – Foi só o que ele disse.

– Você acha que é uma péssima ideia?

– Claro que não, Luh. É a sua família, são importantes para você.

– Eu queria você lá…

– Luh… – Arthur suspirou – eu disse que não vou deixar você sozinha. Mas isso que você quer, você sabe, nós dois sabemos que é complicado. – Ele está falando cautelosamente – A gente sabe o que pode acontecer.

– Eu sei, amor. Eu entendo, mas… – Não consegui dizer mais nada. Arthur me abraçou.

– Eu não quero que você pense que eu não concordo com a tua decisão. Não é isso! Você pode contar, e eu acho até melhor que seja logo. Porque se você ficar adiando, só quem vai sofrer, quem vai ficar ansiosa com isso é você. Eu tenho notado. Você pensa que não? – Me perguntou. Ainda estamos abraçados. – E não tem problema algum que seja amanhã. Eu vou levar você. – Me deu um beijo no rosto, depois segurou com as duas mãos e acariciou as minhas bochechas com o polegar. – E qualquer coisa você pode me ligar, que eu vou lá te buscar. – Garantiu.

– Obrigada.

– Não por isso, meu amor. – Me deu um beijo demorado nos lábios. – Eu estou com você, Luh, para tudo. – Me deu vários beijos.

– Eu sei. – Sussurrei.

– Que bom. – Arthur sorriu. – Se você acha que é o momento certo, que você está preparada, a gente vai lá amanhã. Eu levo você…

– Na quinta eu fiquei tão magoada… eu fui ao shopping depois que saí do trabalho. – Comecei. Arthur ficou me encarando com atenção. – Eu comprei algo para fazer uma surpresa. Não quero que fique chateado com isso.

– Ei, por que eu ficaria chateado? – Sorriu com carinho. – Não há motivos, meu amor. Foi igual a surpresa que você fez para a minha mãe?

– Sim. Mas o body tem outra frase. – Expliquei e peguei a caixa que estava sobre a mesinha de cabeceira.

– Aliás, foi uma surpresa muito delicada e linda. – Me disse.

– Eu não fui até lá com a intenção de comprar essas coisas. Eu só fui dar uma volta para ver se eu me acalmava.

– Ooh, meu amor. – Arthur roçou o nariz no meu pescoço. – Eu adorei. Achei muito lindo! Com certeza a minha mãe amou. O seu pai também vai amar, Luh.

– Abre. – Pedi que ele abrisse a caixa. – Parece que estava lá me esperando. – Contei. Arthur abriu a caixa e tirou o body de dentro.


Link: Body para os avós | Clique aqui e veja.


Oi, vovó e vovô. Nos vemos em janeiro. Hahaha… Luh, meu amor, é a surpresa mais fofa que eu já vi. Nossa, seu pai vai amar demais. – Ele assegurou. Somos adultos e somos conscientes de que o meu pai amará cento e um por cento essa novidade. Ele também sempre quis ter um neto.

– Eu amei! – Sei que meus olhos estão cheios de lágrimas. Arthur me puxou para um abraço.

– Vai ficar tudo bem, Luh. – Beijou os meus cabelos. – Amanhã nós vamos a Bibury e você contará para os teus pais. As coisas acontecerão como tem que acontecer e como nós já sabemos que podem acontecer. Só quero que você esteja em paz, esteja bem, meu amor. Não estarei tão longe como você pensa. – Garantiu. E essa é toda a certeza que eu posso ter. Nos afastamos e Arthur me entregou a roupinha. – Guarda. – Pediu. Dobrei o body e coloquei de volta dentro da caixa. Coloquei a caixa novamente em cima da mesinha de cabeceira. – De manhã resolveremos sobre o horário ou você já tem uma preferência?

– Só quero que seja de manhã. Não quero voltar tarde para casa. Eu trabalho na segunda-feira. – Expliquei. Arthur assentiu. – Pode ser depois que a Anie acordar.

– Tudo bem. – Arthur se ajeitou na cama e passou para o lado que ele dorme.

– Se a sua mãe não quiser ir, tudo bem você não ficar lá me esperando. Pode voltar para almoçar com ela.

– Lua, a minha mãe não terá nenhum problema de ir a Bibury. Eu posso garantir. – Afirmou. – Não querer que ela vá é outra situação.

– Não. Não é isso, Arthur. Só não quero que a Laura passe por nenhuma situação constrangedora. Ela é sua mãe, Arthur. A minha mãe pode facilmente fazer algum comentário, você sabe.

– Você não precisa se preocupar com isso, Lua. Não mesmo! – Ele se deitou na cama. – Vem, deita. Vamos dormir. Você precisa descansar. – Me disse. – E eu quero fazer carinho no meu bebê. – Sorriu. Sorri também e me deitei. – Vem aqui… vamos dormir de conchinha… – Disse divertido. Me acomodei em seus braços e Arthur levou uma das mãos até a minha barriga. É incrível como basta um simples toque dele para que o bebê retribua com um chutinho. – Hahaha… sentiu isso? – Me perguntou e eu assenti. – O nosso bebê já me faz tão feliz, querida. – Ele roçou o nariz no meu pescoço e depois beijou. – Se essa posição ficar desconfortável para você, podemos trocar. – Me avisou.

– Essa posição está incrivelmente confortável. – Confessei. Arthur beijou novamente o meu pescoço.


Ficamos em silêncio por longos minutos. Comecei a piscar longamente. O sono está chegando. Arthur não parou de fazer carinho em minha barriga e o bebê não parou de chutar em nenhum momento. Arthur colou ainda mais o corpo ao meu.


– Quer colocar um travesseiro entre as pernas? – Perguntou baixo. Neguei. – Então deixa eu colocar uma das minhas pernas…– Soltou um risinho. Ajeitou a posição e entrelaçou os dedos de uma de nossas mãos. – Boa noite, meu amor. Durma bem. – Me deu um beijo demorado na nuca. Encolhi os meus ombros.

– Boa noite. Eu te amo! – Falei. Arthur me abraçou mais apertado.

– Eu também te amo.


Domingo, 1 de outubro de 2017 – Manhã.


Rumo a Bibury


Faz uns trinta minutos que saímos de Londres. São quase dez horas da manhã. Acordei bem disposta e melhor do que imaginei. Estou tentando não pensar muito na reação da minha mãe, não quero ficar sofrendo por antecedência. Quero estar tranquila. Arthur disse que eu também posso estar enganada e que minha mãe pode me surpreender positivamente. E, talvez, ele possa até estar certo.


A minha sogra veio. Eles combinaram de almoçar por Bibury mesmo. Eu também não quero pensar nesse clima estranho que insiste em pairar entre nós. Arthur disse que está tudo bem. Que eu não devia estar me preocupando com isso. Se tem algo que Arthur puxou da Laura, com certeza é essa capacidade de não dar tanta importância a certas coisas.


Peensativaaaa… – Ouvi Arthur comentar. Eu estava olhando distraidamente pela janela.

– Um pouco.

– Espero que seja só em coisas boas. – Disse. Sorri de lado.

– É o que eu estou tentando.

– Já é um começo, Luh. – Disse e colocou uma das mãos em minha coxa.

– Ainda vai demolar muito? – Anie perguntou. Ela parece bem entediada para uma criança que ama passear.

– Mais uns trinta minutinhos, filha. Por quê?

– É que tá demolando.

– A viagem está tão chata assim?

– Não, papai. Só tô cansada. – disse e suspirou. Arthur e minha sogra riram. Eu me controlei.


Bart ficou em casa com as meninas. Seria uma viagem muito estressante para ele.


– Cansada? Você acabou de acordar, filha. – Arthur falou.

– Não foi não, papai.

– Para de implicar com ela, amor.

– Mamãe, a senhola sabia que o meu papai tá impicando comigo desde de manhã? Eu vou ficar irritada. – Avisou. Eu quero rir, mas se fizer isso, ela ficará chateada.

– Eu sabia, filha. Eu conheço muito bem esse seu pai.

– É o que, Anie? – Arthur olhou para o banco de trás.

– A minha mamãe aquedita em mim.

– Sua mãe está puxando o teu saco.

– A minha vovó também, não é, vovó?

– Eu acredito, meu amor. Seu pai é implicante mesmo.

– Vocês são todas puxa-sacos uma da outra. Nem vou ligar. – Deu de ombros.

– Mamãe, não deixa ele falar assim…

– Você pode implicar com ele de volta, que tal?

– Lua, não dá ideia.

– Foi você quem começou. – Avisei.

– Me defende, Luh. – Me olhou.

– Nem começa, Arthur. Por favor. – Falei e minha sogra riu.

– Não, mas olha só esse trânsito na volta.

– Espero que na nossa volta não esteja assim.


Falta bem pouco para chegarmos à casa dos meus pais.


– Já decidiu onde vão almoçar?

– Ainda não, Luh. Mas não se preocupa com isso. Relaxa! – Me pediu concentrado na direção.

– Como não vou me preocupar, Arthur? – Indaguei. Arthur segurou uma das minhas mãos e levou até os lábios.

– Minha mãe vai cuidar de mim. – Riu. Eu também ri. Arthur depositou um beijo no dorso da minha mão.

– A senhora ouviu isso?

– Doze anos depois. É isso mesmo, filho? – Laura debochou.

– Uuhm… nem vem… – Arthur fez uma careta.

– Eu não cozinho.

– Nem a Lua, mãe.

– Ei! – Lhe dei um tapa. – Pode parar! Você não casou comigo por isso.

– Foram por outras coisas, loira.

Arthur! – Chamei a atenção dele e olhei para o banco de trás.

– Só estou sendo verdadeiro.

Engraçadinho! – Exclamei.


Arthur entrou na rua da casa dos meus pais.


– Você pode me ligar a qualquer momento, Luh. Sabe disso, não sabe?

– Eu sei, amor. Mas eu espero que não precise ligar tão rápido.

– Eu também espero, Luh. – Me olhou. – Espero que você seja surpreendida positivamente. – sorriu.

– Eu te amo. – Sussurrei. Ele sorriu outra vez.


Estou mais calma do que pensei que estaria.


– Chegamos, gatinha. – Me disse ao estacionar o carro em frente a casa dos meus pais. – Chegamos, dona Anie. Agora você pode descansar. – Implicou com a nossa filha.

– Arthur, por favor, amor. – Olhei para ele que apenas riu.

– Eu não vou me irritar com você. – A garotinha retrucou. Ri.

– Ai, meu Deus! Parece que ouvi Lua Blanco falar. – Arthur comentou.

Arthur… depois você reclama. – Avisei e ele abriu a porta do carro e desceu.

–  Filha, para começar, você nem tem idade para ficar irritada. Vamos começar por aí… – Abriu a porta de trás para a nossa filha. Depois passou por trás e abriu a porta do lado da minha sogra e a minha. – Prontinho. – Disse ao estender a mão para mim.

– Uuhm… que marido cavalheiro. – Segurei a mão dele e saí do carro.

– E ainda tem muito mais… – Sussurrei. Sorri com a provocação.

– Depois você fica dizendo que eu sou safada. – Sussurrei.

– Isso te ofende?

– Não, mas às vezes você se faz de sonso.

– Lua, Lua… em casa você se arrepende desses comentários. – Me encarou.

– Já posso tocar a campainha? – Anie perguntou empolgada.

– Espere a sua mãe. – Arthur pediu.

– Vai ficar tudo bem mesmo? – Perguntei. Arthur voltou a me encarar.

– Você não confia na minha mãe cuidando de mim? – Ele quis soar sério, mas com essa pergunta é impossível. Acabamos os dois rindo.

– Amor, eu falei sério. – Espalmei as mãos no peito dele. Arthur colocou as mãos em minha cintura.

– Eu também estou falando sério desde ontem… relaxa! – Me deu um selinho. – Vai ficar tudo bem. – Me abraçou e beijou a minha testa. – Mãe, Lua não confia na senhora para cuidar de mim. – Comentou todo cheio de graça.

– Como que leva você a sério? – Me afastei dele. Minha sogra riu.

– Eu acho que é ao contrário. Ela deve não confiar em você para cuidar de mim. Eu não conheço nada em Bibury.

– É por aí… – Comentei. Arthur me encarou novamente, agora de olhos semicerrados.

– Atrevida. – Disse e aproximou os lábios do meu ouvido. – Em casa vamos resolver isso. – Sussurrou e se afastou.

– Aaah… não quer que a tua mãe escute? Hein? Fala aí, mais alto…

– Hahaha… nem vem… – Ele foi andando na frente, segurando uma das minhas mãos. – Eu tenho certeza, de que você não quer que a tua sogra escute as coisas que prometo no teu ouvido. – Ele virou um pouco, só para me olhar.


Eu nem fui capaz de pensar em nenhuma resposta a altura.


– Posso? – Anie perguntou outra vez. Arthur me olhou.

– Pode. – Respondi.


Nós estamos em frente à porta da casa dos meus pais. Eles devem estar em casa, o carro está estacionado na garagem. Minha sogra está logo atrás da gente, eu nem sei se eles entrarão na casa. De tudo o que me preocupei, essa foi a pergunta que não lembrei de fazer.


Anie tocou a campainha, ficou na ponta dos pés para isso.


– Eu cresci! – Disse muito contente. Arthur sorriu.

– Você já é quase uma adolescente. – Comentou. Ele não consegue deixar passar uma quando escolhe o dia para implicar com a nossa filha.

– É. Eu sei! – Anie apenas concordou. Realmente às vezes ela se parece muito comigo. Em especial, nos dias em que não quer se irritar com o pai.

– De novo. – Anie ficou novamente na ponta dos pés e voltou a tocar a campainha.

– Filha, tá bom, meu amor. – Pedi para que ela parasse de apertar o botão.

– Selá que eles saíram? – Nos perguntou.

– Eu acho que não, meu amor. – Respondi e ouvimos a porta ser destrancada. Apertei a mão de Arthur. Ele me olhou.


Pov Arthur 


– Ei, relaxa, Luh. – Eu pedi baixo.

Ooh! – Meu sogro exclamou surpreso. Fazia tantos meses que ele não nos via. – Que surpresa maravilhosa! – Disse sincero. Anie o abraçou. Eu percebi que Lua sorriu já querendo chorar. Acariciei a mão dela com o polegar.

– Sabia que eu estava com saudades, vovô?

– Aah, meu anjinho, o vovô também estava com muitas saudades de você. – Ele lhe deu um beijo na testa. Depois colocou a pequena no chão e veio abraçar a Lua. – E você, minha querida? Quantas saudades eu senti de você, minha filha. – John disse abraçado a filha. – Está tudo bem?

– Está. – Lua respondeu. – Eu também estou com saudades. – Confessou. Eles se afastaram e John foi falar com a minha mãe.

– Laura, quanto tempo, hein?! – Eles também se abraçaram. – Como você está?

– Eu estou muito bem e você?

– Bem também. – O homem sorriu. – E você, Arthur? Pensei que vocês tivessem desaprendido o caminho aqui de casa. – Meu sogro comentou.

– Estou bem… só estamos muito ocupados, só isso. – Respondi.

–  Vem, entrem… vamos entrar! – Nos convidou.


Eu não vou entrar. E espero que Lua entenda e que meu sogro não se magoe com isso. Emma deve está em casa. Não quero causar nenhum desconforto, nem para ela, nem para a minha mãe e menos ainda para a Lua. A chance disso abala-la é enorme e ela pode ter uma crise de choro que poderá piorar tudo.


– Eu só vim deixar a Lua. – Comecei. Ela me olhou e desejo de todo coração que não fique magoada. – Ela e a Anie.

– Arthur, não pense que não será bem recebido em minha casa.

– Eu não estou pensando nisso. Só combinei com a minha mãe de ficarmos um tempo a sós, só isso. – Expliquei. – E Lua também está com saudades do senhor. – Completei.

– Eu não quero que a sua mãe pense que…

– A minha mãe não pensará nada. Não se preocupe. Acho que… – olhei para a minha mãe – ela pode responder por ela. – Sei que minha mãe não irá se importar.

– John, está tudo bem. – Minha mãe garantiu. – Vou passar esse tempo com Arthur, temos algumas coisas para conversar. – Minha mãe me olhou e, de fato, temos mesmo.

– Você sempre será bem-vindo aqui, Arthur.

– Eu sei e agradeço. – Falei sincero. Meu receio não tem nada a ver com a recepção de John. – Só… está indo tudo bem. É melhor continuar assim. – Falei.

– Tudo bem. Mas se mudar de ideia, a porta continua aberta. – Me disse.

– Obrigado! – Agradeci. – Ei, – chamei Anie e me abaixei para ficar do tamanho dela – vem aqui. – A pequena se aproximou de mim. – É para obedecer a sua mamãe, está me ouvindo? – Perguntei. – A sua mamãe e os seus avós, tá?

– Tá bom, papai. – Me disse e me abraçou. – O senhor já vai embola? Vai me deixar aqui com a minha mamãe?

– Não, meu amor. O papai não vai embora. Eu vou só ficar um tempo com a minha mamãe, assim como você vai ficar com a sua, tá bom? Depois quando a sua mamãe quiser ir embora, ela vai me ligar e eu venho buscar vocês. Combinado?

– Tá bom então, papai. – Anie me deu um beijo na bochecha. – Combinado! – Retribui o beijo na bochecha dela e me levantei. – E você – abracei Lua –, fica bem. Pode me ligar a qualquer momento. – Lhe dei um beijo demorado ao pé do ouvido. Lua assentiu. – Tenta ficar calma, só isso que te peço, meu amor. Pensa em você primeiro, Lua. Por favor!

– Tudo bem. – Me disse.

– Eu vou ficar pensando em você. – Sussurrei. Lua sorriu. Nos afastamos. – Já sabe, não é?

– Já. Vou ficar bem. – Me garantiu e me deu um beijo rápido.

– Se não se sentir segura para contar, não tem problema. – Avisei.

– Se eu não conseguir contar, vou precisar de você aqui. – Me disse. Sorri.

– Eu vou estar se você precisar. – Respondi baixinho. – E você sabe disso. – Pontuei e Lua assentiu. – Até mais tarde. – Me despedi do meu sogro, dei um tchauzinho para a minha filha e um selinho em Lua.

– Até mais, gente. – Minha mãe também se despediu. – Um beijo, meu anjo. – Se abaixou para abraçar e beijar a neta.

– Um beijo, vovó.


Eles entraram em casa e eu segui de volta com a minha mãe até o carro.


– Espero que dê tudo certo. – Minha mãe disse assim que entrou no carro e fechou a porta.

– Lua saberá o que fazer. – Comentei.


Confio nela. Sei que ela vai evitar qualquer desentendimento com a Emma, por ela e pelo bebê. Mas de todo o meu coração, eu desejo que ocorra tudo bem e que Lua consiga contar sobre a gravidez para os pais.


– Não está preocupado?

– Não com o que Lua irá fazer ou falar. Confio nela. – Liguei o carro. – Onde a senhora quer almoçar?

– Eu falei sério quando disse que não conheço Bibury, Arthur.

– Tudo bem… vamos ver se achamos um lugar legal.

– E eu também falei sério sobre termos algumas coisas para conversar…

– Eu sabia.


Pov Lua


Arthur não quis entrar na casa dos meus pais. Não vou julgá-lo. O conheço e sei que ele fez isso para evitar qualquer, eventual, situação constrangedora.


Minha mãe está em casa.


– Agola a gente vai fazer o quê, mamãe? – Anie perguntou quando o meu pai fechou a porta.


Eu conversei com ela antes de sair de casa e pedi que não contasse nada sobre a gravidez ou o bebê. A não ser que eu conte para os meus pais. Ela entendeu. Anie é uma garotinha muito inteligente.


– Vamos esperar a sua avó. Vamos falar com ela. – Respondi.

– Querem beber ou comer algo?

– Não, pai. Obrigada! Você quer, filha?

– Não. Obligada, vovô. – Anie sentou-se no sofá.

– Sua mãe estava no banho. Ela nem vai acreditar quando ver vocês aqui. – meu pai comentou. – Eu gostaria que Arthur tivesse ficado. – Acrescentou. – Laura pode pensar que…

– Laura entende. – Afirmei. – Eu também gostaria que ele tivesse ficado. Mas nós dois conhecemos a minha mãe. Arthur só quis evitar qualquer situação chata.

– Não é como se ele não pudesse pôr os pés aqui.

– Ele sabe. Não tem nada a ver com o senhor. Aliás, o senhor também pode nos visitar. Esses meses foram tão corridos para a gente.

– Eu imagino.

– Sabia que eu já voltei para a escola de novo? – Anie não está prestando atenção na nossa conversa.

– Aah foi? E como está sendo essa nova fase na escola? Você passou de série? – Meu pai sentou-se ao lado dela no sofá.

– Sim. Agola estou em outa sala.

– Esta gostando?

– Adolando! – Disse bastante empolgada. – Minha mamãe compou meu uniforme novo. E um sapato também.

– Você já usou o uniforme novo?

– Não. Só no outo dia quando eu for para a aula.

– Amanhã, meu amor.

– É, amanhã. E eu já sei escrever o meu nome e também eu já sei ler. – Disse.

– Meu Deus! Tudo isso? Quanto tempo o vovô perdeu? Você já sabe ler?

– É. Mas só com a ajuda da minha pofessola. – Explicou.

– Oh! Mas é assim que começa mesmo. – Ele a abraçou. – E você, o que tem de novidade? – Meu pai me olhou.

– O senhor ficará surpreso. – Respondi. Minha mãe apareceu na sala.

– Que surpresa! – Exclamou sem deixar de sorrir. Sinto tanta saudades dela, que me seguro para não começar a chorar.

– Vovó! – Anie correu para abraçá-la. O abraço foi retribuído.

– Oi, meu anjo. A vovó estava com tantas saudades de você. Você está tão crescida! – Minha mãe se afastou e observou a neta.

– Eu também estava com saudades da senhola. Sabia que a minha outa vovó, a vovó Laura está aqui? A mãe do meu papai. – A pequena contou. Minha mãe sorriu.

– Não. A sua avó está aqui?

– Agola não. Ela saiu com o meu papai. Não foi, mamãe?

– Foi, querida.

– E você, minha filha, como está? – Minha mãe se aproximou de mim e eu me levantei para abraçá-la.

– Eu estou bem. – A abracei apertado. – Senti a sua falta.

– Eu também senti a sua. Você é a minha minha filha, Lua. – Disse me abraçando apertado de volta. – Está tudo bem mesmo? Insistiu. Assenti quando nos afastamos. – Por que Laura não ficou? E nem o Arthur?

– Eles preferiram ficar um tempo a sós, tem algumas coisas para conversarem. Foi isso.

– Mamãe?

– Sim, Anie.

– Posso bincar com o cachorrinho? Ele é bem fofinho.

– Ele não é o Bart, filha. Não te conhece. Pode te morder.

– Ele é mansinho, filha. Não vai machucá-la. – Meu pai garantiu.

– Posso?

– Só toma cuidado, por favor. Não vai machucá-lo. – Pedi e Anie concordou. Saiu correndo até onde o cachorro está.

– Fica tranquila. Ele não vai morde-la.

– E está tudo bem? – Minha mãe parece desconfiada.

– Sim. Eles só…

– Lua, eu e seu pai conversamos bastante. Há coisas que não cabem mais a nós dois. Muitas coisas… Sou a sua mãe, lógico que tomarei as tuas dores. Mas conversamos… é difícil aceitar algumas escolhas. Só que agora, você e a Sophia é quem devem saber o que é o melhor para a vida de vocês. Não é como se eu fosse tratar mal a tua sogra ou até mesmo… o teu marido. – Minha mãe disse muito sincera e cautelosa. Me surpreendi. Não estava esperando por essa conversa.

– Sei que ainda conhece o Arthur… – comecei tentando controlar a minha voz – ele só quis evitar alguma situação e além do mais, eles realmente precisam conversar.

– Aconteceu alguma coisa?

– Laura está namorando. – Contei. Meus pais sorriram.

– Isso não é ruim. – Meu pai pontuou.

– Arthur ainda não sabe? – Minha mãe perguntou.

– Ele sabe…

– Entendi. – Meu pai riu. – Mas e vocês, como estão?

– Eu tenho algo para falar, na verdade… já era para eu ter contado há um tempo, mas não… eu não sabia como vir… como contar… – Confessei. Meus pais me olharam com atenção.

– Lua, você não precisa pisar em ovos ou ter receio, medo de voltar para casa, minha querida. – Minha mãe disse carinhosamente. – A casa é sua, sempre estará de portas abertas para você, para a Sophia a qualquer hora. – Acrescentou.


Não faço ideia de como se deu a conversa deles dois, mas estou tão surpresa.


– Passei algumas semanas tentando pensar em como contar, mas sei que não há uma maneira certa… – estou sem saber como dizer, estou nervosa, não consigo pensar em outro jeito a não ser entregar a eles a caixa com a roupinha de bebê escrito: Oi, vovó e vovô. Nos vemos em janeiro. Abri a minha bolsa e tirei a caixa de dentro e entreguei para a minha mãe. – É para vocês dois, na verdade.

– Um presente? – Meu pai indagou.

– Eu espero que vocês gostem. – Desejei. Minha mãe abriu a caixa.


Link caixa com a roupinha de bebê 


– Você está grávida? – Minha mãe perguntou completamente surpresa, quase chocada. Apenas assenti. Meu pai pegou a caixa da mão dela e tirou a roupinha de dentro.

– Um bebê? – ele perguntou. – “Oi, vovó e vovô. Nos vemos em janeiro.” – Ele leu a frase que está estampada na frente do body.

– Em janeiro, Lua? – Minha mãe está sem acreditar.

– Estou com quase seis meses. – Contei. Ela me abraçou. Comecei a chorar.

– Filha, quase seis meses. – Meu pai repetiu. – Por que não contou antes, meu amor?

– Eu… eu não sabia como…

– Lua, minha filha… é uma notícia maravilhosa, meu amor. – Minha mãe se afastou e meu pai me abraçou. – Eu vou ser vovô mais uma vez? Eu amei saber disso, minha querida. – Ele beijou a minha testa.

– Eu também amei a novidade, filha. Você não devia ter ficado com tanto receio de nos contar. – Minha mãe disse ao segurar a minha mão.

– É que foi tão difícil no início… – Ainda estou chorando. – Eu tive tanto medo. Arthur tem sido tão incrível…

– Eu não tenho dúvidas disso, Lua. – Meu pai deixou bem claro. – E eu me sinto muito aliviado por isso, filha.

– Agora está tudo bem. Por isso me senti mais segura de contar. Eu tive medo de perder o bebê. Arthur teve muito medo de que acontecesse alguma coisa comigo e com o bebê. Vivemos semanas de muitas incertezas até tudo começar a se acalmar.

– Agora está tudo tranquilo? – Minha mamãe quis saber.

– Sim. O bebê está bem.

– E você? Eu também quero saber de você.

– Eu ainda me sinto insegura em algumas situações, com alguns pensamentos. Eu e Arthur temos conversado muito. Ele tem feito de tudo para que eu deixe esses pensamentos de lado. Ele está muito seguro de que tudo continuará bem.

– Isso é bom, filha. – Meu pai pontuou. – Você precisa acreditar que continuará dando certo. Que bom que você tem o Arthur ao teu lado. E tem a gente também. Agora que já estamos sabendo, não vamos te deixar sem o nosso apoio.

– Estaremos aqui para o que você precisar, Lua. – Minha mãe afirmou.

– Obrigada. – Agradeci em meio às lágrimas.

– Vocês já sabem o sexo? – Minha mãe perguntou. Assenti.

– É um menino. – Respondi. Meu pai voltou a me abraçar.

– Eu vou ganhar um neto? – Perguntou muito animado e emocionado. Sorri.

– Sim… Ravi. – Falei o nome do bebê.

– Que nome lindo, filha. – Minha mãe elogiou.

– Estou tão feliz, Lua. – Meu pai disse bastante sincero. – Você não poderia ter me dado uma notícia melhor. Arthur também deve estar muito feliz. – Comentou.

– Sim, ele está. Tirando toda a preocupação dele com tudo, ele está muito feliz. O bebê já reconhece a voz e o toque, quando ele faz carinho em minha barriga. – Contei.

– Vou ser vovô de um garotinho, Emma! Não posso negar que não sonhei com isso. – Meu pai está muito animado.

– Anie já sabe?

– Sim, mãe. Ela ficou com muito ciúmes, chorou, fez muitas perguntas se ainda íamos amá-la e ontem já estava chamando o bebê de irmãozinho. Foi a coisa mais fofa e emocionante. – Confessei.

– Ela é uma garotinha muito especial. – Minha mãe disse.

– Anie sempre nos surpreende.

– O bebê já mexe bastante?

– Sim. Na verdade, mexe mais quando o Arthur conversa com ele. – Passei a mão pela minha barriga. – Raramente mexe quando eu faço o mesmo. – Contei e meu pai riu.

– Talvez, só talvez, ele já tenha um preferido.

– John, não diz isso! – Minha mãe chamou a atenção dele. Ri, porque tenho o mesmo pensamento. – Nenhuma mãe gosta dessa ideia. – Completou.

– Tudo bem, mãe. Eu tenho o mesmo pensamento. Inclusive, Arthur sabe. Eu já reclamei tanto. Mas ele diz que não é verdade. Que eu sou mais importante porque estou gerando bebê e que, com certeza, o bebê me ama mais. Mas com Anie foi a mesma coisa e olha hoje em dia…

– Eu estou brincando, minha querida. – Meu pai voltou atrás, mas sei que só porque a minha mãe falou.

– Que continue indo tudo bem, Lua. Agora você também pode contar comigo e com o seu pai. Independente de qualquer coisa. – Minha mãe esclareceu. Sinto que suas palavras são sinceras. E penso que Arthur estava certo outra vez.

– Obrigada! Nós contamos à Laura primeiro, porque estávamos tão preocupados. Foi quando tudo parecia tão incerto.

– Está tudo bem, filha. Que bom que vocês puderam contar com ela nesse momento tão delicado. Não estou chateada com isso e tenho certeza que nem o seu pai. – Ela olhou para ele, que negou. – Mas agora, se vocês precisarem, nós também podemos ajudá-los.

– Obrigada! – Agradeci novamente. Minha mãe me abraçou e me deu um beijo carinhoso nos cabelos.

– Eu tenho que comprar um presente para o meu netinho. – disse meu pai.

– Hahaha… Laura disse a mesma coisa. Ela só soube que é um menino na sexta-feira. Da gravidez que ela soube antes.

– Vocês descobriram o sexo só agora?

– Sim. Não quisemos saber antes, porque tivemos receio de que acontecesse algo. Soubemos na terça-feira.

– Você descobriu quando?

– Em junho, no início de junho. Contei para Arthur no dia dos pais.

– Oow! Realmente foi uma grande surpresa.

– Sim.

– O importante é que agora está tudo bem, filha. – meu pai segurou as minhas mãos. – Eu estou tão feliz, Lua. Que esse bebê nasça com muita saúde. – disse. Comecei a chorar e ele me abraçou. – Se acalma. Você é tão forte. Vai ficar tudo bem, meu amor. – Começou a me consolar. – Agora você também pode contar com a gente, como a sua mãe já disse. – Ele se afastou. – Para tudo.

– Obrigada, pai. Eu precisava tanto disso. Eu tenho o Arthur… mas é tão diferente. – Confessei.

– Eu sei, filha. Nós sabemos. – Ele olhou novamente para a minha mãe.

– Mamãããee… – Anie voltou  correndo para a sala. Olhei atenta para ela.

– O que aconteceu, filha? – Franzi o cenho.

– O cachorrinho já é meu amigo! – Disse toda feliz e me abraçou. – A senhola já contou para os seus papais? – Perguntou baixinho. Sorri com carinho. – Do bebê, mamãe… – Acrescentou como se eu não soubesse.

– Sim. – Respondi baixinho também. Anie sorriu abertamente e olhou para os avós.

– Você vai ganhar um irmãozinho, é isso mesmo? – Meu pai perguntou.

– Sim. Um nenenzinho que ainda tá na barriga da minha mamãe. – A pequena respondeu e apontou para a minha barriga. Anie ainda não tocou em minha barriga. Ela só faz perguntas.

– E o que você acha disso? – Meu pai continuou.

– Eu ainda não sei… minha mamãe disse que é legal ter irmãos. O papai disse que não sabe. O meu papai não tem irmãos, sabia?

– Sim, querida. Nós sabemos. – Meu pai sorriu com carinho. – Mas realmente é muito legal ter irmãos. Ele será seu amigo.

– E se ele não quiser?

– Eu tenho certeza de que ele irá querer. – Meu pai afirmou.

– Como o senhor sabe? – Ela questionou. Começamos a rir e ela me abraçou.

– Porque você é uma garotinha muito legal… tenho certeza de que será uma irmã legal também. – Ele explicou. Anie não disse nada. Fiquei fazendo carinho nos cabelos dela.


Voltamos a conversar, agora sobre outros assuntos: sobre o meu trabalho, sobre a vida deles nos últimos meses e sobre os dias da Anie na escola.


Não falamos sobre Arthur, não falamos sobre as minhas escolhas, não falamos sobre o que aconteceu ano passado.


Não sei se é bom ou ruim. Não sei se minha mãe o perdoou ou se apenas quer ignorar o assunto, pois sabe que eu não mudarei de ideia.


Horas depois…


Almoçamos há alguns minutos. Depois Anie quis dormir, mas antes ficou perguntando que horas Arthur vinha nos buscar, que ela já estava com saudades, que queria voltar para casa, se ele ainda ia voltar hoje, se ia deixar Laura em Manchester e tantas outras perguntas e manhas.


São quase três horas da tarde.


– Já tem uma data para o bebê nascer?

– No final de janeiro. Ainda não conversei com Eliza sobre datas. Nem como será o parto. Eu quero tentar normal, mas não sei se consigo. – Contei para a minha mãe.

– É arriscado? Eliza falou sobre isso?

– Não. Ela disse que eu posso tentar. Bom, até o momento está tudo bem. Eu posso ter um parto normal se quiser… – Expliquei.

– Você estava tentando? Eu pensei que não quisesse mais depois que… depois… você sabe, filha.

– Não. Não estávamos tentando. Já tínhamos até aceitado que seria só a Anie mesmo. Mas aconteceu…

– Não só “acontece”, Lua. Não hoje em dia. Não com os conhecimentos que vocês têm. – Minha mãe me disse.

– Eu sei. É modo de dizer, mas não estávamos esperando mesmo. – Deixei bem claro. – Estávamos bem, estávamos felizes. Eu fiz alguns exames porque Arthur insistiu bastante. Inclusive, chegamos até a discutir sobre isso. Ele ficou muito preocupado. A realidade é que ele é muito preocupado. Eu estava passando mal, coisa que não acontecia antes do… antes de perder o bebê. Foi uma época bem conturbada para nós dois. Eu não queria aceitar o diagnóstico porque eu já tinha colocado na minha cabeça a ideia de que teríamos outro filho.

– Lua, você acha que realmente foi uma boa ideia insistir nisso?


Nisso?


– Nisso? Não insistimos na gravidez. A senhora não está entendendo…

– Eu não estou te julgando. Só fiz uma pergunta. Eu também me preocupo com você. Sou a tua mãe.

– A senhora deve estar pensando que o Arthur insistiu…

– Eu não estou pensando nada, Lua.

– Mas ele era o mais preocupado comigo. Eu que… eu que não… eu que pedi que ele relaxasse um pouco. Estávamos nos prevenindo. Nós somos adultos. Em nenhum momento pensamos em fugir da nossa responsabilidade.

– Eu sei que não. Não pensei nisso. Só quero entender.

– Eu fiz vários exames, a maioria invasivos. Passei por coisas que não quero passar novamente. Eliza disse que a chance de eu engravidar era perto de zero. Praticamente não existiam porque eu passei por uma curetagem tão mal feita naquela época e a hemorragia foi mais grave do que pensei que tivesse sido. Talvez a causa do aborto tenha sido o fator Rh do bebê, já que o tipo sanguíneo do Arthur é negativo e o meu positivo. Mas não foi uma conclusão, foi só uma hipótese. Houve a possibilidade de ter acontecido isso.

– E nessa gravidez?

– O tipo sanguíneo do bebê é o mesmo do meu, o mesmo da Anie. – Respondi. – Enfim, depois dessa resposta, conversamos e Arthur optou por não tentarmos mais uma nova gravidez, nem por meio de nenhum procedimento. Porque os riscos de uma gravidez complicada eram grandes e ele não quis nem pensar nessa possibilidade. Arthur foi o primeiro a desistir. Mas eu não… e discutimos muito, muito mesmo até eu realmente aceitar. Eu não estava usando nenhum método contraceptivo, eu não queria mais tomar pílula. Eu vinha me sentindo tão mal – eu não quis dizer que às vezes eu também esquecia – e Arthur sugeriu que usássemos preservativo, só para não ficarmos sem nos prevenir. E ele não esquecia, eu que insistia que estava tudo bem vez ou outra não usarmos. E foi em uma dessas vezes que aconteceu… – Omiti o fato de ter sido no nosso aniversário de casamento.

– Lua, você sempre foi tão cautelosa filha.

– Não com essas prevenções, mãe. – Confessei.

Lua! – Minha mãe reagiu com um certo espanto.


Não é um assunto que eu falo  com outras pessoas, só com o meu marido mesmo, que é com quem o assunto interessa.



– Eu estou sendo sincera. Arthur sempre foi mais consciente do que eu. E sempre deixou claro que é nossa responsabilidade enquanto casal, não só minha.

– Mas você deveria ter se cuidado mais.


Com o andar dessa conversa, eu já não sei se ela realmente está feliz com o fato de ser avó novamente.


– Eu sei. A senhora acha que eu também não me culpei?

– Mas eu não estou te culpando. – Disse. Não acreditei muito. – Como você mesmo acabou de falar, a responsabilidade é do casal.

– Sim. E não fizemos nada de errado. Tudo o que fizemos foi porque os dois queriam. A  gravidez foi uma consequência. Uma consequência de um ato que fizemos cientes. Nenhum dos dois estava bêbado ou algo do tipo.

– É você quem sabe. – Minha mãe encerrou o assunto assim que o meu pai voltou para a sala. Eu não retruquei.

– Você quer comer algo? – Meu pai perguntou.

– Não, pai. Obrigada. – Sorri.

– Você tem se alimentado bem?

– Sim. Eu estou fazendo acompanhamento com uma nutricionista que a Eliza indicou. Emagreci bastante no início da gravidez. Foi bem complicado mesmo. Mas agora já recuperei o meu peso e até já ganhei mais alguns quilos. – Contei. Meu pai sentou-se ao meu lado. – Eu acredito que nessa gravidez a minha barriga não ficará tão grande, como na da Anie.

– Eu não perguntei por isso, filha. – Meu pai justificou. – Até porque, uma gravidez é diferente da outra. – Acrescentou.

– É o que Arthur tem me falado. Porque muitas vezes isso já me preocupou, e ainda tem me preocupado, embora saiba que o bebê está crescendo bem, saudável. Ele não tem nenhum problema.

– Isso é maravilhoso, filha. Eu farei visitas mais frequentes a você em Londres, pode aguardar. – Me avisou e eu confio no meu pai.

– Eu vou adorar. – Afirmei.

– O que já prepararam para o neném?

– Nada. – Falei sincera. – Como eu disse, descobrimos na terça-feira. Já conversamos sobre, mas decidimos ver as coisas dele só lá para o sétimo mês. Na verdade, compramos uma roupinha antes de saber se era menino ou menina. Ontem comprei mais uma roupinha e o primeiro sapatinho. Minha sogra também comprou uma roupinha, um sapatinho e mais algumas coisas.

– Eu vou a Londres essa semana. Vou comprar um presentinho para ele também. – Garantiu.

– O senhor não precisa se preocupar com isso.

– Até parece que você não me conhece, filha. Quando vai contar para a sua irmã?

– Essa semana… para ela e para o restante das pessoas. Eu quis contar logo antes que vocês ficassem sabendo pelos outros.

– Cinco meses, Lua.

– Emma. – Meu pai chamou a atenção da minha mãe. Mas estou levando muito a sério o pedido do Arthur: não estou me importando tanto.


E falando nele. Meu celular vibrou:


Mensagem ON


“Já estou com saudades, gatinha.”

“Como estão as coisas aí? Está tudo bem?”

“Só estou pensando em você…”



– Só um momento. – Pedi a eles e levantei para responder as mensagens de Arthur.



“Estão bem.”

“Vem me buscar, amor. Eu também estou com saudades.”

“Anie dormiu.”



“Está tudo bem mesmo?”



“Sim.”



“Ok. Já estou indo. Te aviso quando estiver aí na frente.”

“Beijos.”



“Estou te esperando. Beijos!”


Mensagem OF


Voltei para perto dos meus pais e me sentei no sofá.


– Era o Arthur. Ele já está vindo nos buscar. – Falei.

– Ainda está cedo, filha.

– Não quero chegar a noite em Londres. Amanhã nós trabalhamos, Anie tem escola e Laura viajará para Manchester de manhã, ela tem plantão a noite. – Expliquei.

– Os shows já irão voltar?

– Sim, esse mês. Eles estão ensaiando desde o mês passado.

– Quando irão dar uma pausa? – Meu pai quis saber.

– O Arthur disse que na segunda semana de dezembro.

– Você está bem com isso? – Minha mãe perguntou.

– Por que não estaria? – Questionei.

– Você estará com quase nove meses, Lua. Aliás, você pretende trabalhar até quando?

– Até quando eu me sentir bem. Eu já conversei com Arthur. Não tem nada com o que a senhora se preocupar. Já está tudo muito conversado entre nós dois. – Esclareci.

– Emma, na gravidez da Anie ela trabalhou até umas duas semanas antes da pequena nascer. – Meu pai lembrou.

– E as coisas não saíram como foram planejadas, nem a pausa nos shows, nem a data prevista para o parto. É uma gravidez, a criança pode nascer a qualquer momento depois das trinta e oito semanas.

– A senhora não precisa me lembrar de algo que eu nunca esqueci. Nem eu, nem ele. – Me referi ao Arthur.


Mensagem ON


“Já estou aqui na frente, Luh.”



– O Arthur acabou de chegar. – Graças a Deus! Pensei mentalmente. Me levantei do sofá e respondi a mensagem.



“Já estamos indo.”

“Anie ainda está dormindo.”



“Eu vou sair do carro.”

“Não carrega ela, Luh. Deixa que eu carrego.”


Mensagem OF


– Vou abrir a porta. – Meu pai avisou.

– Não precisa convidá-lo para entrar. – Pedi. E desejo que Arthur recuse novamente o convite, caso houver.

– Filha, como não? Vou deixá-los do lado de fora?

– Nós já estamos indo, pai.

– Não vou tratar mal, nem o teu marido e nem a tua sogra. – Ouvi a minha mãe dizer.

– Mas também não precisa fingir que ele é bem-vindo aqui. Sabemos que não é. – Pontuei.


No fundo, sei que Arthur está certo. É melhor deixar as coisas como estão mesmo.


– Não estou fingindo. – Minha mãe afirmou.

– Vocês não vão brigar agora, não é? – Meu pai questionou frustrado.

– Não. Não vim aqui para isso. Só vou buscar a Anie… na verdade, o senhor pode carregá-lá e entregar ao Arthur? Ele pediu que eu não carregue, por conta do peso.

– Claro que posso, Luh.

– Deixa que eu vou buscá-la. – Minha mãe avisou. Concordei. Só quero voltar com Arthur, com a minha família.


Meu pai abriu a porta. Arthur está em frente, junto com a minha sogra. Notei que automaticamente ele me procurou com os olhos, quando me viu, sorriu.


– Olá, boa tarde.

– Boa tarde, John. – Minha sogra respondeu.

– Boa tarde! – Arthur disse e eu me aproximei dele e o abracei de lado. – Tudo bem? – Sussurrou. Assenti ao olhá-lo.

– Podem entrar. – Meu pai falou. Apertei levemente a cintura de Arthur. Ele pareceu entender.

– Nós já estamos indo, John… amanhã trabalhamos, não quero chegar em casa tarde. Além do mais, minha mãe – olhou para a minha sogra – vai viajar amanhã cedo. Então é melhor estarmos todos descansados. Principalmente – me olhou –, essa daqui. – me deu um beijo na testa. – Você conhece… – Acrescentei e o meu pai assentiu.

– Você não precisa dizer isso para o meu pai, Arthur…

– Hahaha… ele te conhece, Luh. – Pontuou.

– E muito bem também. – Meu pai afirmou. Arthur riu. – Almoçaram onde? – Mudou de assunto.

– No Catherine Wheel, um restaurante bem agradável. Bom, pelo menos a nossa experiência foi não. Concorda, filho? – Laura o perguntou.

– Sim, claro. – Arthur concordou. – A comida estava muito boa. – Acrescentou. Minha mãe apareceu na sala com Anie no colo. Arthur se afastou de mim para ir pegar a nossa filha.

– Ela está dormindo mesmo. – Minha mãe comentou.

– Obrigado. – Arthur agradeceu assim que pegou a pequena no colo.

– Hoje ela dará um trabalhão para dormir cedo. – Contei.


Arthur concordou com um gesto de cabeça. Quando ela dorme à tarde, a noite só quer dormir depois das onze horas.


– Arthur já tem uma programação caso isso aconteça. – Avisei. Ele apenas riu e depositou um beijo na cabeça da nossa filha.

– Bom, já estamos indo. – Ele avisou. – Até qualquer dia. – Disse.


Minha sogra se despediu dos meus pais, eu também fiz o mesmo. Arthur ficou nos aguardando na porta de casa, com Anie no colo.


–  Não quero que vá embora chateada. – Minha mãe disse ao me abraçar.

– Não estou chateada. – Afirmei. – Posso voltar outro dia ou vocês também podem nos fazer uma visita.

– Com certeza faremos. – Meu pai afirmou. – E vamos aguardar vocês de volta aqui em casa. Todos vocês. Está ouvindo Arthur? Laura?


*


– Obrigada, John. Da próxima vez conversaremos mais. – Minha sogra disse.

– Arthur?

– Tudo bem. Dá próxima vez.

– Promete? – Meu pai insistiu.

– Sim, prometo.


Não sei se ele prometeu só por educação. De qualquer forma, se acontecer, vou gostar. Isso se minha mãe não fizer nenhum comentário mal intencionado.


– Tchau.

– Tchau, tchau. Até outro dia!


Saímos da casa dos meus pais.


– Eu vou no banco de trás com ela. – Falei.

– A chave está aqui no meu bolso. – Me avisou.

– Qual?

– No direito, Luh. – Respondeu e parou de andar para que eu tirasse a chave do carro, do bolso dele.

– Você bebeu? – Perguntei baixo e Arthur me encarou.

– Só uma cerveja. Credo, Lua. – Ele riu. – Por quê? – Destravei as portas do carro e minha sogra entrou.

– Só uma?

– Sim. Pode perguntar pra minha mãe. – ele ainda ri. Minha sogra também riu.

– Quer que eu dirija? – ela perguntou.

– Ei, eu não sou nenhum irresponsável. Vocês acham que eu iria colocá-las em risco?

– Não perguntei por isso. – Me sentei no banco de trás enquanto Arthur coloca Anie na cadeirinha. – É que comigo você não bebe.

Aaaah… – ele riu – está com ciúmes, é isso? – Perguntou segurando o riso. – Querida, você nem pode beber.

– Antes da gravidez você também não estava bebendo.

– Tá bom, tá bom… – Se inclinou um pouco para aproximar os lábios dos meus. – Sairemos para beber depois que o bebê nascer, depois que passar o resguardado, depois…

– Quando ele fizer um ano? – Questionei Irônica. Arthur riu e deu um beijo no canto da minha boca.

– Quando você puder, baby. Tudo bem assim?

– Depois que o bebê nasce – minha sogra começou a falar, Arthur fechou a porta do banco de trás e sentou-se no banco do motorista – não é um conselho médico, que fique bem claro, são só estudos que já foram feitos e estão aí para quem quiser saber a respeito, a mãe pode ingerir bebida alcoólica e ficar um tempo sem amamentar o bebê…

– E é seguro? – Arthur indagou. – Quer dizer… eu não ia gostar de saber que Lua bebeu durante a amamentação. – Ele me olhou. Eu não disse nada. Não sou irresponsável assim.

– Como eu disse, os médicos não aconselham, mas há mães, há lactentes que ingerem bebidas alcoólicas nesse período, por vários fatores inclusive. Não estou incentivando Lua a fazer isso – ela me olhou –, só estou explicando.

– Arthur entendeu. Ele sabe que não vou beber enquanto estiver amamentando exclusivamente. Mas a senhora pode continuar a explicação… – Pedi.

– Bom, há um limite de drinks, de bebidas a serem consumidas pela mãe nesse momento… o peso tem que ser levado em conta em relação a quantidade de bebida ingerida, para se saber o tempo que essa bebida demorará a sair do organismo e a amamentação terá que ser suspendida. Por exemplo, a cada drink ingerido, serão mais ou menos umas duas horas para se ter a ausência de álcool no leite materno.

– Isso apenas para um drink? – Arthur está bem surpreso. – Tudo isso de tempo? Eu sabia que não era tão seguro assim.

– Por isso não é aconselhável ingerir bebidas alcoólicas durante a amamentação, ainda mais se for exclusiva. Para uma lactante que ingerir mais de três drinks, serão mais de seis horas sem poder amamentar. Um recém-nascido ou um bebê, até os seis meses tem que ser alimentado a cada duas horas, mas cada bebê tem seu ritmo. O normal é a mamada durar de quinze a trinta minutos, aí o bebê estará satisfeito. Nesse intervalo a mãe saberá quando ele sentirá fome novamente. Mas ficar seis horas sem se alimentar, é demais para um bebê. – Deixou bem claro. – Depois dos seis meses o bebê já tem começado a introdução alimentar, as mamadas podem ficar mais espaçadas. Cada mãe conhece o seu filho, então saberá a hora certa para sair e se divertir dessa maneira. – Concluiu. – Com mais responsabilidade. – Acrescentou.

– Depois dos seis meses é mais seguro?

– Sim. Porque o bebê já começou a se alimentar com outros alimentos. A não ser que ele seja muito apegado ao peito e, por exemplo, só durma se estiver mamando. Isso acontece bastante antes dos doze meses.

– Interessante. Você pode cumprir a sua promessa depois dos seis meses, amor.

– É você quem sabe, Lua Blanco. – Arthur respondeu. Quando fala o sobrenome é porque não gostou nadinha da ideia.

– Lua Blanco. – Repeti. Ele me olhou pelo retrovisor. – Você não confia na sua mãe?

– Quem tem que confiar ou não, é você que vai estar amamentando. – Disse. Ri. Minha sogra também riu.

– Você acha que eu vou fazer isso, Arthur Aguiar? – Também falei o sobrenome.

– Não antes dos seis meses, Lua Blanco. Eu sei que você pensa. – Disse. O que me fez rir ainda mais. – Você testa demais a minha paciência.

– Eu? Eu não estou fazendo nada. Estamos conversando sobre um assunto muito importante. Inclusive, muitas pessoas nem sabem dessas informações…

– Você estava com ciúmes porque eu bebi com a minha mãe. – Me acusou. Ele também quer rir. Ele se diverte quando sou eu quem sinto ciúmes por bobagens.

– Não foi ciúmes. – Me defendi.

– Tá bom. Você não vai admitir, mas eu te conheço. – Me olhou outra vez pelo retrovisor. Revirei os olhos.


Continua…


SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.


N/A: Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim!


Escrevi esse capítulo com muito carinho. Espero que tenham gostado, que tenham feito uma boa leitura. Que o capítulo tenha alcançado as expectativas de vocês. Sei que estavam ansiosas para saber a reação dos pais da Lua, especialmente, da mãe dela. Confesso que demorei para decidir como seria. Eu não queria escrever uma reação extremamente negativa, eu acredito que não teria nada a ver com a personalidade criada para a da personagem, embora todos aqui saibamos como ela reagiu com a separação deles e depois com a volta deles. E também eu não podia escrever que ela ficaria super feliz e empolgada, ninguém muda assim de uma hora para a outra, ainda mais sem nenhuma conversa. No fim, eu gostei do resultado. O pai da Lua foi um amor de pessoa como sempre. <3


Mas o capítulo não foi apenas isso, não é mesmo? Anie está cada vez mais inteligente e surpreendendo a todos. Será que isso mudará? Hahaha O que acharam dos presentinhos para o bebê? Já estou empolgada para escrever os próximos capítulos e as próximas comprinhas.


Abriram os links? Bart está cada vez mais fofo, não é mesmo? Ainda vai aprontar bastante com a Anie hahaha


Até a próxima atualização.

Um beijo e tenham uma excelente semana!

7 comentários:

  1. Sinceramente não achei a mãe da lua tão verdadeira assim não, e depois que ela chamou o bebê de nisso pronto,eu sei q a lua passou por uma situação e tanta com aquela armação pra cima do Arthur, mas já está desnecessário isso, enfim a anis é muito fofa poxa e ela chamando de irmãozinho, o pai da lua sempre um amor

    ResponderExcluir
  2. Eu acho que a mae da Lua ainda vai dar um trabalho não acreditei muito nela não.

    ResponderExcluir
  3. Mais a Anie chamando de irmãozinho é a coisa mais fofa que existe.

    ResponderExcluir
  4. Os capítulos sempre superam as expectativas. Eu não aguento com a Anie, sério, um amooor

    ResponderExcluir
  5. Amei o capítulo...
    Tomara que a mãe de Lua amoleça o coração com a chegada do neto. Anie surpreende cada vez mais, tomara que ela ajude na escolha do quartinho do Ravi.

    ResponderExcluir
  6. Que capítulo maravilhoso.
    Bem que o Arthur e mãe de Lua poderiam ter uma conversa sem a Lua saber e se acertarem e faz uma surpresa para Lua. Anie da vontade de colocar no potinho. Qual será que foi a conversa da da Laura com Arthur estou ansiosa pra saber.

    ResponderExcluir