Little Anie - Cap. 93 | 4ª Parte

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Little Anie

Parte Quatro 


Amo minha mãe e meu pai

Não da forma como amo você

Bem, meu Deus

Você é a menina dos meus olhos

Garota, nunca amei ninguém como você

[...]

Não há nada que me dê mais prazer do que você

Oh, casa, me deixe ir para casa

Casa é qualquer lugar que eu esteja com você

[...]

Casa, me deixe ir para casa

Casa é sempre onde eu estou com você

                              Home – Edith Whiskers 


Pov Arthur 


Quinta-feira à noite – Nove e quarenta.


Cheguei em casa um pouco mais cedo do que estava chegando há alguns dias. Bart foi o primeiro a me receber. Veio correndo até a porta, começou a latir e a pular. Ele sempre fica muito feliz quando me vê. Me abaixei para falar com ele.


– Olá, garotão. Você estava com saudades? – Perguntei e ele latiu. – Ooh, eu também estava com saudades de você. – Fiz carinho em sua cabeça e em sua orelha. Me levantei.


Eu trouxe o buquê. Eu não desisti de entregar a Lua. Quero que ela aceite as minhas desculpas. Ela está em um sofá, Anie está no outro sofá.


– Oi, meu bebê. – Falei com a minha filha. Anie me deu um beijinho na ponta do nariz. Sorrimos. – Tudo bem? Como foi na escola hoje?

– Legal! Sabia que já peguei o meu uniforme novo? Minha mamãe disse que agola só falta o sapato. A gente vai compar um outo dia quando a minha mamãe não for tabalhar. – Me explicou animada. Fiz carinho em suas bochechas.

– Depois o papai quer ver o uniforme novo.

– Tá. Ele tá com a minha mamãe. Papai?

– Sim.

– Por que hoje o senhor não foi me levar na escola?

– O papai teve que sair um pouco mais cedo, meu amor. – Expliquei. – Não daria tempo.

– Amanhã o senhor me leva?

– Amanhã sim. – Afirmei e lhe dei um abraço. – Eu te amo.

– Eu te amo mais. – Ela me abraçou mais apertado. – Floles pra minha mamãe?

– Sim. – Sorri.


Espero que ela aceite dessa vez, completei mentalmente.


Andei até o sofá que Lua está e me sentei.


– Me desculpa, Luh. Eu não quis te magoar. – Entreguei o buquê a ela. – Comprei as tuas flores favoritas. Eu sei que você entendeu o significado.

– Eu não quero flores. – Lua não me olhou ao responder.

– Por favor, Luh. Eu não quero ficar brigado com você.

– Foi você quem começou. – Disse.

– Lua, não foi eu. Eu só tive uma fala infeliz, mas foi você quem começou com as cobranças.

– Tudo bem. – Concordou sem se importar. Sei que ela não quer falar sobre isso e tão pouco, falar comigo.

– Não quero brigar com você. – Falei outra vez.

– Tudo bem. – Disse novamente.

– Aceita as flores, Luh.

– Eu não quero, Arthur. Eu já falei. Vou jogar fora se você insistir. – Me avisou. Fiquei encarando-a sem acreditar.

– Você não faria isso, Lua.

– Você sabe que sim. – Me olhou.

– Você está tão magoada assim? – Sei que ela está magoada. Mas não quero acreditar que ela poderá jogar o buquê fora.

– Estou. – Disse sincera.

– Tudo bem. – Suspirei. – Não vou insistir. Eu tentei. – Falei.


Lua não disse nada. Voltou a olhar para a tevê, mesmo que o programa não seja do interesse dela.


– Quando você quiser conversar, pode me procurar.

– Não precisa esperar. Não quero conversar.

– Por que você faz assim? Algo pequeno e você transformou nisso tudo? Como se eu tivesse te ofendido tanto.

– Você me magoou, foi pior. – Me lembrou. – E eu também estou cansada de levar a culpa por ser como eu sou.

– É você quem tá dizendo isso. Não te culpei de nada. Eu cheguei cedo porque queria conversar com você, pedir desculpa e ficar bem contigo.

– Não precisava ter feito todo esse esforço. – Ironizou. – Achei que tivesse sido bem clara quando devolvi as flores mais cedo.


Ela está bastante magoada. Sei que muito pelos hormônios da gravidez. Em outro momento, ela estaria mais irritada e não machucada assim. Não gosto de vê-la desse jeito.


– Não foi nenhum esforço voltar para casa cedo. Você acha que eu fico melhor estando longe de você e dos nossos filhos? – Questionei. Lua me encarou.

– Eu acho que você só está cansado de muita coisa que não tem coragem de admitir. É isso o que eu acho. – Disse triste.

– Para com isso, Luh. Você fica pensando essas coisas. Não é verdade. – Assegurei. – Quando foi que te fiz pensar isso? – Perguntei realmente preocupado. – Hoje de manhã eu só fiquei irritado porque você me fez essa pergunta. Você sabe a resposta. Não quero que tenha dúvidas! – Expliquei. – Eu também tenho o direito de me chatear vez ou outra. – Acrescentei. Fiquei esperando que ela falasse alguma coisa, mas ela não disse nada. – Hoje por exemplo, o tanto que senti ciúmes de você. Aquele cara idiota e insistente… vi que ele te mandou vinho…

– Eu não bebi.

– Eu sei que não. Eu estava te observando.

– Eu sei que estava, por isso não quis te olhar.

– Eu quase fui lá… mas você estava chateada e eu não queria te irritar ainda mais.

– Ainda bem que você me conhece. – Pontuou.

Muito. – Frizei. – Eu ainda vou estar esperando caso você queira conversar. – Repeti.


Ela não me disse nada. Respirei fundo e me levantei do sofá. Vou dar o buquê para a Anie. Ela também gosta de flores e sempre fica muito feliz quando eu dou flores a ela. Apesar de gostar de “floles cololidas”.


– Pra você. – Me abaixei perto do sofá.

– Obrigada, papai. Eu gostei. – Ela pegou as flores.

– Que bom, meu amor. – Lhe dei um beijo na testa.

– Mas não são da minha mamãe?

– Agora são suas. – Sorri. Anie fechou os olhinhos e cheirou as flores. Depois me olhou.

– A minha mamãe está chateada?

– Sim. Eu falei algo que ela não gostou.

– Pede desculpas.

– Eu já pedi. E tá tudo bem a mamãe não aceitar. – Falei.


Não. Não está tudo bem. Eu quero que ela aceite as minhas desculpas, mas tenho que respeitar o tempo dela.


– Outo dia a minha mamãe vai aceitar. – Anie falou mais baixo. Assenti com um meio sorriso.

– Eu sei. – Sussurrei de volta. – Amanhã o papai vai comprar as flores que você gosta, tá?

– Cololidas.

– Coloridas. – Sorri. – O papai não esqueceu, meu amor. Vou tomar um banho. Você já jantou?

– Já, papai. Eu e a minha mamãe.

– Tudo bem.

– Mas sabia… – Anie me puxou para um abraço. – minha mamãe ama o senhor… só às vezes que ela fica irritada. – Me contou bem baixinho. Sorri quando nos afastamos. – O senhor aquedita? – Me perguntou.

– Acredito. – Respondi e lhe dei um beijo na bochecha.


Pov Lua


Arthur veio novamente me pedir desculpas. Ainda estou magoada e estou no meu direito. Assim como ele também fica magoado comigo em algumas situações. Não aceitei as desculpas. Depois eu sei que vamos conversar, mas no momento eu não quero. É bom que ele siga respeitando isso.


Como eu não aceitei as flores – que são lindas e as minhas preferidas –, ele deu para a nossa filha. Anie ama quando ele faz isso. Eles conversaram um pouco, eu não prestei muito a atenção para esse momento deles. Agora Arthur subiu para o quarto.


– Mamãe…

– Oi, filha. – Virei o rosto para olhá-la. Anie levantou do sofá e veio até mim.

– A senhola tá muito chateada com o meu papai? – Perguntou ao me abraçar. – Ele disse que já pediu desculpas. A senhola diz que tem que pedir desculpas quando a gente faz alguma coisa errada, não é?

– Sim. – Respondi. Ainda me surpreendo com a esperteza que Anie tem. – Mas o seu pai sabe que o falou não foi legal. Ainda estou magoada. Não quero desculpa-lo agora. Eu também falo que a gente só tem que aceitar as desculpas, se a gente realmente estiver bem. Se a gente entendeu e perdoou a pessoa com o coração. – Expliquei.

– A senhola não vai perdoar o meu papai com o colação? – Me perguntou preocupada. Sorri de lado e ajeitei alguns fios de cabelos que estavam em seu rosto.

– Eu vou, meu amor. Em um outro momento. Agora a mamãe ainda está triste. Se perdoasse, não seria verdadeiro. Entendeu?

– Entendi.

– Você não precisa se preocupar, filha. Eu e o seu pai sabemos nos resolver.

– Eu só não quelia que o meu papai saísse daqui.

– Mas o seu pai não vai sair de casa, Anie. Ele te falou isso?

– Não.

– Ele não vai sair, filha. Acho que ele só foi tomar um banho. – Falei em um tom mais baixo e beijei seus cabelos. – Depois ele vai colocar você para dormir.

– E aí o meu papai vai dormir aqui?

– Sim. Aqui em casa, lá no quarto. – Esclareci. – Pode perguntar a ele.

– O que foi de tão ruim que o meu papai fez?

– Filha, às vezes não precisamos fazer algo muito grande ou muito grave para deixar outra pessoa triste. Às vezes só uma fala, mesmo que pequena, pode magoar a outra pessoa.

– Igual a senhola tá magoada?

– Sim.

– Mas o meu papai não é ruim.

– Não, filha. Eu não disse que ele é ruim.

– Eu sei. Eu só tô falando. Sabia que amanhã ele vai me dar floles cololidas? – Disse empolgada. Sorri com carinho.

– Isso é muito legal. Você gostou de saber?

– Sim. E o meu papai ainda vai me levar na escola. Ele disse que amanhã vai dar tempo. – Me contou toda feliz.

– Isso é incrível. – Pontuei e ela concordou. – Ele te ama muito, sabia?

– Sim. – Anie sorriu. – Igual ele ama também a senhola. – Disse me fazendo sorrir. – Aquedita?

– Acredito. – Respondi e a pequena me abraçou.

– E o bebê também…

– E o bebê. – Confirmei.


Londres | Sexta-feira, 29 de setembro de 2017.


Acordei e Arthur não está mais na cama. Como ele tem saído cedo para ir trabalhar e estamos sem nos falar, hoje provavelmente ele já foi, saiu sem avisar. Mas sei que deixaria Anie na escola.


Minha sogra ficou de vir hoje, me avisou na terça-feira. Estou aguardando uma mensagem ou uma ligação dela. Vai ser muito bom tê-lá aqui de novo. Estou com saudades de poder conversar sobre o neném com alguém. Agora que já sabemos o que é, eu e o Arthur poderíamos estar aproveitando, mas fomos brigar logo nesse momento.


Inclusive, ele não tem nem perguntado sobre o bebê e nem pedido para ouvir os batimentos. Caso ele tivesse continuado com o interesse e a preocupação em relação ao nosso filho, eu não teria privado ele disso. Continuaria deixando ele falar com o bebê em minha barriga e escutar a frequência cardíaca. Eu sei separar as coisas. Mas parece que Arthur está desaprendendo.


Passei a mão pela barriga e o bebê chutou. Ter descoberto que é um menino, me deixou muito nervosa e emocionada ao mesmo tempo. Não escondi de Arthur que queria muito que fosse uma menina, mas no fundo, eu aceitaria muito bem se fosse um menino e é o nosso Ravi. Chorei de emoção. Sei que Arthur ficou extremamente feliz com essa descoberta. Sei que ele está completamente realizado. Ele se sente seguro, ao contrário de mim.


Criar uma criança não é nada fácil e eu penso muito na nossa responsabilidade como pais. Eu quero que meus filhos sejam pessoas boas e com valores inegociáveis. Eu e Arthur não somos perfeitos. Estamos sempre buscando melhorar como ser humano.


Eu quero que esse bebê seja muito amado, que seja muito feliz como Anie é. Darei o meu melhor sempre e sei que Arthur também dará. Não sei como a minha mãe receberá a notícia dessa gravidez, na verdade, tenho uma vaga ideia e gostaria de estar completamente enganada.


O meu pai ficará feliz. Preocupado e feliz. Sei que vai dizer que posso contar com ele para o que der e vier. Mel também ficará feliz, Sophia também – embora ainda me doa um pouco o que ela falou sobre a minha gravidez anterior. Procuro não pensar muito nisso, porque ela é a minha irmã e apesar de tudo, amo ela.


O bebê está mexendo demais. Comecei a sorrir e lembrei de que Arthur ia adorar sentir os chutinhos. Comecei a fazer carinho em minha barriga. Está visivelmente maior. Não vou conseguir esconder por mais algumas semanas. Tenho que contar logo.


– Eu te amo tanto… – Falei.


Estou feliz porque Ravi continua mexendo e ele raramente mexe quando sou eu quem estou falando. Ele mexe mais involuntariamente ou quando Arthur fala, do que quando eu converso com ele.


– Estou tão ansiosa para saber com quem você vai se parecer. – Confessei.


Quero tanto que ele se pareça com Arthur. Fiquei mais alguns minutos fazendo carinho em minha barriga, depois levantei e fui tomar banho. Tenho que ir para o trabalho.


*


Fui buscar Anie na escola, Arthur me mandou uma mensagem mais cedo e disse que não daria tempo de ir buscá-la. Minha sogra também me mandou mensagem. Ela chegará perto das dez horas da noite. Estou feliz que ela realmente venha. É uma visita que me tranquiliza, ainda mais nesse momento.


– Minha mamãe! – Anie abriu a porta do carro e entrou. Sorri. – Eu não sabia que era a senhola que vinha me buscar.

– Oi, meu amor. Gostou?

– Eu amei, mamãe! – Disse feliz. – Agola a gente vai pra onde?

– Vamos para casa, filha. Mais tarde você tem aula de balé, esqueceu?

– Hahaha é verdade, mamãe.

– E eu tenho uma novidade!

– Qual?

– Sua vó vem nos visitar.

– A mãe do meu papai?

– Exatamente. A sua avó Laura. – Afirmei. Anie sorriu.

– Gosto quando a minha vovó vem.

– Eu também.

– E a gente pode sair, não é? Pra gente passear, mamãe.

– Pode ser. E podemos ir ao shopping amanhã. Ainda tenho que comprar o teu sapato da escola.

– Eu posso escolher qual eu quiser?

– Não, filha. Tem que ser sapato preto. Sua professora enviou o modelo. – Expliquei.

– Aah, eu entendo, mamãe. Tudo bem!

– E o que você fez hoje na escola?

– Sabia que eu escrevi uma frase? Eu escrevi sozinha.

– Uau! Isso é incrível, filha!

– A minha pofessora disse que estava certo.

– E o que você escreveu? – Perguntei curiosa.

– Primeiro a minha pofessora perguntou o nome dos nossos pais… – Começou.

– E o que você respondeu?

– Que o nome do meu papai é Arthur Aguiar e da minha mamãe é Lua Blanco. – Disse toda contente. Sorri de volta para ela.

– Você é a neném mais fofa que existe. Eu te amo tanto. – Sim. Fiquei emocionada.

– Mamãe, sabia que a minha pofessora conhece o meu papai porque ele canta? E o papai da Kate também.

– Isso é muito legal, filha. – Sorri.

– É. Será que ela é fã da banda dele?

– Hahaha… eu não sei, filha. Você poderia ter perguntado.

– Outo dia eu vou perguntar, mamãe. – Disse e eu assenti. – Depois a minha pofessora perguntou se a gente morava junto com os nossos pais e eu disse que sim, mamãe. Porque eu ainda sou criança. Eu não entendi porque ela perguntou isso…

– Filha, ela perguntou porque nem sempre os filhos moram juntos com o pai e a mãe. Às vezes mora só com o pai, outras vezes só com a mãe.

– Igual na vez que o meu papai foi morar em outa casa?

– Sim. Igual daquela vez.

– Entendi. Aí depois ela perguntou se a gente tinha irmão ou mais de um irmão e se tinha cachorrinho ou bichinho de estimação, que é de morar em casa. – Me contou empolgada.

– E o que você respondeu dessa vez? – Perguntei curiosa e com quase cem por cento de certeza de que ela tinha falado sobre o bebê. Não que eu vá ficar chateada, mas quero ouvir a resposta dela.

– Eu disse que eu ainda ia ter um irmão, mamãe. Mas que ele ainda tá na sua barriga. – Contou me olhando. – Eu contei, mamãe. A senhola vai ficar chateada?

– Não, filha. Claro que não. Está tudo bem. – Assegurei calmamente.

– E que eu tenho um cachorro e que o nome dele é Bart. Que ele é do meu tamanho. Aí só depois que a minha pofessora pediu pra gente escrever uma frase, que é uma resposta, porque ela fez uma pergunta do que a gente mais gosta de fazer.

– E o que você respondeu? Qual o seu passatempo favorito?

– Eu disse que eu gosto muito de dançar. De ser bailalina. – Contou. – Mas eu escrevi no caderno, mamãe. Tudo isso eu escrevi.

– Aah, você escreveu? Eu pensei que você tinha contado, falado em uma conversa com a professora.

– Eu falei, mamãe. Eu li pra minha pofessora, ela me ajudou.

– Você leu? – Virei para o banco de trás completamente surpresa. Anie ainda não sabe ler. Ela conhece as letras, os números, mas ainda não junta as sílabas para fazer uma leitura. – Como assim?

– A minha pofessora me ajudou. Eu respondi e ela me disse qual a letra pra escrever e eu escrevi e depois ela leu comigo. E ela leu com os meus colegas também. De todo mundo ela fez isso.

– Filha, isso é muito legal. – Quero chorar. – O teu pai vai amar saber disso. Você precisa contar a ele. – Falei. Arthur vai ficar tão surpreso quanto eu e emocionado também.

– Tá no meu caderno. A senhola quer ver? Eu ainda me lembo e eu posso ler ainda. – Disse toda orgulhosa.

– É claro que quero, filha. Meu Deus! Eu não estava preparada para isso. – Sorri. Com certeza eu vou chorar. – E o que mais você fez?

– Um desenho de bailalina. Porque tinha que fazer um desenho do que a gente gosta de fazer.

– A mamãe vai querer ver quando chegar em casa. – Falei.

– Tá. Eu vou mostar pra senhola e pra todo mundo. – Contou. – E até pra minha vovó quando ela chegar. – Acrescentou.


Chegamos em casa e eu pedi que Anie fosse comer alguma coisa antes de sairmos para ir à escola de balé.


Subi a escada e fui para o quarto. Tomei um banho e troquei de roupa. Optei por um vestido mais soltinho. Estou usando bastante vestidos, comprei alguns semana passada. Saí do quarto e encontrei com Anie quando cheguei na escada.


– Correndo? – Chamei a atenção dela. – O que eu sempre digo a você?

– Que não pode correr na escada. Que eu posso cair e me machucar.

– E o que a senhorita faz com frequência?

– Eu corro. – Respondeu e me encarou com a cara mais cínica e depois abraçou as minhas pernas. – Desculpa, mamãezinha linda.

– Não vem com essa de mamãezinha que eu conheço todos os teus truques. – Falei e apertei levemente a ponta do nariz dela. – Quero que você obedeça. Não quero que você se machuque. O Bart vê você correndo e ele corre também, ele é mais forte que você. – Avisei.

– Eu sei, mamãe. Eu entendi. O meu papai também sempre fala isso. – Respondeu como se estivesse entediada e Anie nem sabe o que é isso. – Eu já lanchei. – Mudou de assunto para que eu parasse de chamar a atenção dela.

– Agora você vai tomar um banho e se arrumar para ir ao balé.

– Eu pedi que ela esperasse, Luh. Mas ela saiu correndo. – Carol contou assim que chegou perto de nós.

– Eu sei. Conheço bem essa garota. Já está avisada, de novo. – Frisei. – Vai lá tomar banho enquanto eu como algo. O bebê também está com fome.

– Como a senhola sabe que ele tá com fome?

– Porque eu sinto muita – enfatizei – fome. Aí eu sei que ele quer comer também. – Sorri.

– Então o bebê é guloso? – Perguntou apontando para a minha barriga, fazendo eu e Carol rir.

– Hahaha… não, ele só precisa se alimentar igual eu, você, a Carol, todo mundo. – Ela está me olhando com uma carinha muito sapeca. Senti vontade de apertar as bochechas dela.

– Se alimentar de comidas saudáveis, mamãe e não de besteilas, porque ele ainda é bebê.

– Mas a mamãe não come besteiras, meu amor. – Sorri.

– Nem eu, porque a senhola não deixa. – Ela encolheu os ombros.

– Porque você também é uma criança. Tem que se alimentar bem.

– E como é que o bebê come dento da sua barriga? – Questionou curiosa.

– O bebê se alimenta de tudo o que a mamãe come. Tem um cordão que liga ele a mim. Depois a mamãe te explica melhor.

– Tá. Eu vou lembar a senhola depois.

– Hahaha… tá ok, pode lembrar. – Me curvei para lhe dar um beijo na cabeça. – Vai lá tomar banho.


Ballet 


– Mamãe?

– Sim. – Estacionei o carro e tirei o cinto.

– Depois a gente pode tomar só um sorvetinho? – Me pediu daquele jeitinho que sabe que eu não vou negar.

– Vou pensar no teu caso. – Respondi.

– Só um pequeno, mamãe. Bem pequeno. – Insistiu.

– Já disse que vou pensar. Vamos lá ou senão você vai se atrasar para a aula. – Falei.


Anie está com um collant verde e uma saia verde. A sapatilha e a meia são bege. Está tão fofa. Nunca pensei que ela fosse gostar tanto de fazer balé.


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Entramos no prédio e fomos até a sala onde ela faz balé. A professora acabou de chegar, nos cumprimentou assim que nos viu.


São quase quinze crianças. Todas fofas e cheias de energia. Fazia um tempo que eu não acompanhava Anie na aula de ballet. Ela tem se saído muito bem. Ela leva muito a sério tudo o que a professora explica e quer fazer tudo igual a professora – embora ainda não consiga fazer com tanta perfeição. Sei que Anie continuará no balé por muito tempo, ela gosta do que faz, gosta de vir para as aulas. Não é só um passatempo. Ela é tão determinada, mesmo sendo pequena. Anie tem uma empolgação genuína dentro dela.


Quase uma hora e meia depois a aula foi finalizada. Anie está suada e bastante feliz.


– Mamãe! – Correu até mim.

– Oi, meu anjo.

– A senhola viu o que eu fiz?

– Vi. Você foi tão incrível. – Elogiei. – A mamãe está tão orgulhosa de você. – Confessei.

– Obligada, mamãe. Eu te amo! Eu estava com saudades da senhola vim ver eu dançar.

– A mamãe também estava, meu anjo.

– Agola vamos pra casa?

– Sim. – Sorri e Anie me deu a mão para que eu segurasse. – Podemos comprar sorvete e tomar em casa, o que você acha?

– Eu adolei a ideia, mamãe. – Anie bateu palmas toda animada. Chegamos onde o carro está estacionado e eu destravei o alarme e abri a porta para ela entrar. – Onde que a gente vai?

– Vamos ver se no caminho encontramos uma sorveteria ou podemos ir ao supermercado. – Sugeri e entrei no carro. Já passava das seis e meia da noite.

– Que holas que a minha vovó vai chegar?

– Lá pelas dez horas…

– Ainda vai demolar?

– Um pouco, filha. Talvez você até já esteja dormindo.

– Não, mamãe. Eu quelo espelar a minha vovó. – Disse, mas eu não falei nada.


*


Fomos ao supermercado. Senti tanta vontade de comer melão com mel, que tive que comprar – e eu nem sou fã de melão. Aproveitei para comprar dois potes de sorvete, deixei que Anie escolhesse e o sabor chocolate não me surpreendeu.


Já chegamos em casa. Ela está animada para comer o sorvete. Entramos e eu levei as frutas para a cozinha.


– Olá, Carla.

– Oi, Luh. Tudo bem?

– Tudo certo. Coloca esse melão no congelador. – Pedi e ela me olhou de cenho franzido.

– No congelador? Tem certeza, Lua? – Insistiu.

– Sim. Quero comer ele bem gelado e com bastante mel. – Expliquei. Ela riu.

– Ok, ok. Eu não vou questionar o desejo de uma grávida. – Disse divertida e fez o que eu pedi.

– Obrigada, querida. – Sorri agradecida. – Vou subir e tomar um banho. Vou aproveitar e banhar a Anie também. – Falei. – Eu disse a você que a minha sogra vem hoje?

– Disse sim. Inclusive, já vou começar a preparar o jantar. – Me disse. – Sabe me dizer se o Arthur vai chegar para o jantar?

– Não sei, Carla. Talvez não. Ele tem chegado tarde. – Respondi como se eu não ligasse.

– Certo. Quer escolher o cardápio?

– Não. Eu confio no teu bom gosto. – Afirmei. Carla sorriu. Saí da cozinha.


*


– Mamãe, eu posso vestir um pijama? – Anie perguntou assim que saímos do banheiro. Já são quase oito horas da noite.

– Pode, filha. Me espera, vou ajudar você.

– A senhola vai vestir uma roupa antes?

– Isso. – Respondi.

– Mamãe, quando a senhola vai tá com a barriga grande? – Me perguntou e eu sorri.

– Eu não sei, meu amor. Daqui a algumas semanas quem sabe…

– Que o bebê vai crescer rápido?

– Sim. Na verdade, às vezes sim e outras nem tanto. Depende bastante da gravidez. – Tentei explicar, embora saiba que Anie não irá entender.


Comecei a vestir a minha roupa. Anie está no closet comigo, abrindo e fechando algumas gavetas enquanto faz perguntas sem parar.


Ouvimos a porta do quarto ser aberta.


– É o meu papai! – Anie correu para o quarto. Estou até surpresa que ele tenha chegado cedo. – Eu sabia que era o senhor! – Ouvi a pequena exclamar toda animada.

– Boa noite, meu amor. – Ouvi Arthur dizer. Provavelmente deve ter pegado ela no colo. – O que está fazendo aqui? Cadê a sua mãe?

– Espelando a minha mamãe. Eu tomei banho com ela e agola ela tá vestindo a roupa dela. – Anie explicou. – Minha mamãe vai me ajudar a vestir um pijama.

– Você já vai dormir?

– Não, papai.

– Já jantaram?

– Não, papai. – Anie respondeu novamente. – Não. O senhor não pode ver a minha mamãe. – Ouvi Anie dizer. Provavelmente Arthur quis entrar no closet.

– Por que? – Arthur questionou.

– Porque a minha mamãe tá sem roupa. O senhor não pode ver. – Disse. Comecei a rir sozinha dentro do closet.

– Aah claro. Eu não posso ver a sua mãe. Como eu pude esquecer, não é mesmo?

– É. Não pode esquecer. – Anie pontuou. Eu acho tão fofa a inocência dela.

– Não mexa aí. – Arthur avisou. – A sua mãe não vai gostar. – Saí do closet e encontrei Arthur sentado na cama e Anie mexendo em uma das minhas gavetas da mesinha de cabeceira.

– Oi. – Falei com Arthur.

– Oi. – Ele me respondeu da mesma forma.

– O que você está procurando aí, hein?

– Eu disse a ela para não mexer. – Arthur contou.

– Nada, mamãe. Não tem nada aqui. – Ela fechou a gaveta.

– Realmente não tem nada do seu interesse aí.

– Sabia que a minha mamãe foi me ver dançar hoje? – Ela se aproximou do pai.

– Foi? E o quanto você amou isso?

– Muito assim. – Ela abriu os dos bracinhos. Arthur sorriu e lhe deu um beijo na testa.

– Papai trouxe uma surpresa pra você.

– Minhas floles?

– Suas flores preferidas. – Os dois encostaram as testas.

– Eu te amo, papai.

– Eu amo você, meu anjo. – Arthur lhe deu outro beijo na testa e depois os dois se abraçaram.


Eu amo a relação que esses dois construíram. Sinto um pouco de ciúmes, mas não queria jamais que fosse diferente. Arthur é um bom pai, sempre dá o melhor mesmo quando não está em um dia legal.


– Cadê as minhas floles?

– Está lá embaixo. Papai quis fazer uma surpresa. – Arthur contou. – Vai lá vestir o pijama com a sua mamãe. Eu vou tomar um banho e depois o papai te entrega o buquê, pode ser assim?

– Pode, papai. Mas o senhor vai demolar?

– Não, filha. – Arthur se levantou da cama.

– Tá. – Anie saiu do quarto.

– Minha mãe falou com você? – Arthur me perguntou. Ele está bem estranho, cauteloso, na verdade, é ele não é assim.

– Agora não. Mas me mandou mensagem mais cedo. Disse que chega lá pelas dez… – Respondi. – Por quê?

– Ela pediu pra você ir buscá-la?

– Não. Eu me ofereci, mas ela disse que vem de táxi sem problemas. Ela falou com você?

– Não. – Disse.

– Algum problema? – Insisti. Mas Arthur apenas negou com um gesto de cabeça. – Você está chateado?

– Tô de boas, Lua.

– Tudo bem. – Aceitei, porque entendi que ele não quer falar. Saí do quarto e fui até o quarto da nossa filha. – Anie?

– Aqui, mamãe. Olha só… e esse pijama aqui?

– Você quer vestir esse?

– É ou esse aqui que é da Magalida. Qual a senhola gosta mais?

– O da Margarida, meu amor. – Respondi.

– Então tá. A senhola me ajuda?

– Claro. – Me sentei na cama dela e a ajudei a vestir o pijama.

– Minha vovó já tá vindo?

– Já.

– Agola, agola?

– Daqui a pouco, filha… faltam algumas horinhas. – Respondi enquanto penteava os cabelos dela. – Agora nós vamos jantar. Eu, você e o seu pai. – Expliquei.

– Mas antes, mamãe, o meu papai vai me dar o meu pesente, minha surpesa de floles. – Me lembrou.

– Sim, claro. – Sorri.

– A senhola acha que é bonito?

– Eu tenho certeza que sim. – Garanti. – Vamos lá?

– Vamos. Eu acho que o meu papai já terminou de tomar banho.

– Bata à porta antes de entrar. – Avisei.

– Tá bom, mamãe. – Anie foi até o nosso quarto e eu desci a escada para ir até a cozinha.


*


– Já terminou o jantar? – Perguntei assim que cheguei à cozinha.

– Sim. Inclusive, já estou terminando a sobremesa.

– Qual você fez?

– Pudim de frutas vermelhas.

– Nossa! Já estou com água na boca. Laura ama frutas vermelhas. – Falei animada.

– A janta será frango empanado, farofa e creme de batata com queijo. – Carla me contou.

– Carla, desse jeito eu vou engordar tudo o que eu não posso. – Comentei tentando não rir. Carla sorriu de volta.

– Você pode. Que horas a Laura chegará?

– Perto das dez. – Me sentei em frente a bancada. – O melão já deve ter gelado, não é mesmo?

– Sim. Eu vou buscar para você. – Carla foi até a geladeira.

– Vou pegar o mel. – Fui até o armário, peguei o pote de mel e me sentei de volta em frente a bancada.

– Você vai comer melão com mel?

– E sorvete de creme. – Completei. Carla riu. Ela cortou o melão e colocou duas fatias em um prato e me entregou. – Me dá a faca, por favor. – Pedi para que eu cortasse em cubinhos.

– Aqui está o sorvete.


Pov Arthur


Eu já tinha tomado banho, estava terminando de fazer a barba quando ouvi batidas na porta. Com certeza deve ser a Anie. Lua não bateria à porta.


– Entra, filha. – Gritei do banheiro.

– Cadê o senhor, papai?

– Estou no banheiro. Me espera aí no quarto, Anie.

– Tá. Sabia que eu vesti o meu pijama da Margalida? Foi a minha mamãe quem escolheu. Ela disse que esse é mais bonito. – Me contou.

– Deixa eu ver… – Saí do banheiro e Anie ficou em pé na cama. – Que neném mais linda! – Me aproximei da cama e Anie me abraçou. – Vou vestir uma roupa. Fica aqui. Já, já a gente desce. – Avisei e a pequena concordou.


*


– Vamos lá? – Chamei Anie. Ela estava com o meu celular nas mãos. – O que está fazendo?

– Papai, eu não consegui. – Me mostrou o celular.

– Nem você e nem eu. – Respondi pegando o celular. – Você bloqueou, filha. Já disse que não pode mexer. Quando eu der ele a você, ok. – Expliquei e deixei o celular em cima da mesinha que fica do lado que Lua dorme.

– Desculpa, papai. Eu só quelia mexer um pouco no joguinho.

– Vem, vamos descer. – Não quero me zangar com ela.

– Me desculpa, papai.

– Tudo bem, filha. Só não quero que mexa no meu celular sem permissão. Vem, vamos…

– Desculpa de colação?

– Sim, meu amor. Estou te desculpando de coração. – Peguei ela no colo. – Onde está Bart que não está aqui com você?

– Acho que ele tá descansando. – Ela me respondeu.


Saímos do quarto rumo à sala.


– Cadê, papai?

– Está bem aqui. – Peguei o buquê que havia deixado sobre o sofá.

– Cololidas!!! – Anie disse toda feliz.


Link: Buquê que Anie ganhou do pai | Clique aqui e veja.


– Gostou?

– Eu amei, papai. São lindas! Obligada!

– De nada, meu amor. – Lhe dei um beijo demorado na bochecha. – O importante é que você gostou. – Completei.

– Eu te amo, meu papai. Muito, muito, muito!

– Hahaha… eu também te amo muito, muito, muito, meu anjo. – Lhe dei mais um beijo. – Minha garotinha linda.

– Papai?

– Oi.

– Só eu?

– Só você. – Afirmei enquanto caminhávamos até a cozinha. Anie está com o buquê em mãos.

– Vou mostar pra minha mamãe, pra Carla, pra Carol e pro Bart. E quando a minha vovó chegar, eu vou mostar pra ela também. As minhas floles lindas cololidas. – Ela cheirou as flores.


Anie é a criança mais fofa que eu conheço. Sou tão grato por ser pai dela.


– Olha o que eu ganhei do meu papai lindo! – Anie mostrou o buquê para as meninas.

– Uau! Que flores lindas! Você tem um papai muito incrível! – Carla disse e Anie concordou. Me abraçou pelo pescoço.

– Meu papai é o melhor do mundo. Não é, papai?

– É você quem tem que dizer. – Respondi.

– Pra mim é.

– Então é isso que importa. – Sorri.

– O seu papai já te deu floles?

– Hahaha… não, querida. Meu pai nunca me deu flores. – Carla respondeu.

– E o seu, Carol?

– Também não, pequena…

– Por que?

– É uma boa pergunta, querida. – Carla sorriu de lado.

– Nem sempre as pessoas presenteiam com flores, filha. – Tentei explicar. – Agora vamos mudar de assunto. – Pedi. Não sabemos como foi e nem como é a relação das meninas com o pai. Então é melhor que Anie não faça perguntas.

– Entendi. Me desce, papai. – Anie pediu para eu colocá-la no chão. O fiz.

– Olha, mamãe.

– São lindas, filha. Você gostou?

– Eu amei, mamãe. São as minhas pefelidas. O meu papai sabe. – Anie disse contente. – Agola eu vou mostar as minhas floles para o Bart. – E ela foi atrás do cachorro.

– O que você está comendo? – Me encostei na bancada. Lua está comendo uma “gororoba” que eu nem consigo identificar.

– Melão.

– Não mesmo. – Franzi o cenho.

– Com mel e sorvete. – Completou.

– Meu Deus, Lua! – Exclamei sem acreditar e com um pouco de nojo também. Não gosto de melão. E nem ela. – Desde quando você come melão?

– Desde que o seu filho resolveu pedir. – Me disse e eu me virei para olhá-la.

– Desejo? – Segurei um pouco a minha empolgação. Gostaria que Lua tivesse me contado. Ela ainda não tinha tido nem um desejo assim.

– Sim. – Respondeu enquanto comia.

– Nossa, isso pode te dar dor de barriga. – Comentei.

– Claro que não. – Ela pareceu ofendida. – Quer um pouco?

– Não mesmo. – Garanti. – Isso é muito nojento.

– É o que o seu filho quer comer. – Insistiu me oferecendo a colher. – Só prova. Não é tão ruim quanto parece. – Neguei com a cabeça.

– Ele já tem uma mamãe que faz tudo por ele. – Falei. Lua ficou me encarando.

– E um pai também. – Ela acrescentou. – Está chateado com algo além da nossa discussão? – Me perguntou, mas eu neguei.

– Quando você sentir outro desejo, você me diz? – Perguntei. Lua ficou me encarando. – Quero saber… quero ir comprar pra você. Quero realizar os desejos da mãe do meu filho. – Lua continuou me encarando como se eu tivesse falado uma coisa muito absurda.


Eu gostaria que ela tivesse compartilhado comigo isso, sei que ela ainda está magoada. Não consigo pensar em mais nada para me desculpar.


– Aaaah… Isso foi muito fofo. – Ouvi Carla comentar e fiquei completamente sem graça. Lua percebeu e segurou o riso.

– Você é demais. – Ouvi Lua dizer. Fiz uma careta. – Vem aqui. – Ela abriu os braços e me chamou.

– Eu vou… – Sussurrei. Estou com saudades dela, da gente, de tudo o que somos quando estamos bem.

– E o que estou fazendo? Não estou te chamando? – Insistiu. Andei até ela e a abracei. Lua retribuiu o abraço. Quero ficar aqui por mais tempo do que sei que esse momento durará. – Não quero que fique assim porque não te falei de um desejo bobo. – Me disse.

– Não é bobo. – Pontuei. – Você está grávida. Desejo de grávida é diferente. Não acontece sempre. – Justifiquei. – Quero só… só ajudar você. – Completei.

– Você me ajuda de outras formas. – Ela franziu o cenho.

– Eu sei. Eu não queria ter te magoado. Eu queria ter estado mais presente nessas últimas semanas… eu estou com ciúmes de você… – Confessei.


Estou abraçado a ela. Estou aproveitando cada segundo. Meus lábios tocam o seu pescoço à medida que eu falo. Lua está acariciando os meus cabelos com uma das mãos, a outra está nas minhas costas.


– Ciúmes de mim? O que eu fiz para você sentir ciúmes? – Perguntou baixo.

– Nada. É que estamos brigados e eu não sei mais o que fazer… sinto ciúmes e estou tão chateado comigo. Sinto… eu tenho sentimentos que não gostaria de estar sentindo. – Confessei. Lua se afastou um pouco.

– Está com raiva?

– Não de você. – Respondi.

– Nós vamos conversar, você sabe disso… – Me disse. Assenti. – Eu também tive sentimentos que não gostaria de ter sentido. – Confessou.

– Eu sei, Lua. E eu não queria ter feito você se sentir assim. – Enterrei ainda mais o meu rosto no pescoço dela. Lua apertou a minha cintura. Ficamos um tempo assim. Os únicos barulhos ouvidos são das nossas respirações e das louças que Carla está mexendo. – Agora estou com vergonha. – Sussurrei. Lua riu.

– De saí daqui?

– Sim…

– Não é você que é engraçadinho? – Debochou.

– Não na frente de outras pessoas… – Contei. Lua riu.

– Você já quer jantar? – Me perguntou. Neguei.

– E você?

– Só depois. Já comi bastante melão com mel e sorvete.

– Nossa, Lua. – Me afastei. – Isso não parece bom. – Completei. – Podemos esperar a minha mãe.

– Podemos sim. – Ela concordou.

– Vou lá pra sala. – Avisei e ela concordou. Saí da cozinha sem olhar para Carla, fiquei com vergonha.


Pov Lua


Ainda estou chateada. Mas não gosto de ver Arthur assim. Ele é uma pessoa muito boa e sempre fica sem saber o que fazer quando faz algo de errado. A culpa que sente não é normal.


– O que foi isso? – Carla perguntou depois que Arthur saiu da cozinha. Olhei para a porta para constatar que ele realmente não está mais ali.

– Está chateado. – Comecei. – Nós tivemos uma discussão no início da semana. Estamos meio que sem nos falar. – Expliquei. – Ele já me pediu desculpas de muitas formas, mas eu fiquei muito magoada. Senti raiva e mágoa ao mesmo tempo, ele sabe disso. – Contei.

– Entendi. E agora? – Me questionou ao colocar o pudim na geladeira. Suspirei.

– Não quero ter essa conversa com ele. Sinto que posso complicar as coisas, porque ainda estou magoada. Eu sei que muito por conta da gravidez… eu sei disso. Mas também não gosto de vê-lo assim.

– No meu ponto de vista, se vocês estiverem dispostos a conversar para se entenderem, é bem melhor do que ficar nesse clima. Arthur é um bom homem, um bom pai e um bom marido. A gente que convive com ele sabe disso. Mas ninguém é perfeito.

– Não mesmo. – Concordei. – Eu disse isso a ele.

– Eu sei que vocês vão se acertar.

– Er… vamos. – Afirmei. – Eu imagino que ele também esteja assim, porque teve uma discussão com a mãe, quando ela veio da última vez.

– Por conta do padrasto?

– Sim.

– Lua, é quase inacreditável que o Arthur esteja com ciúmes da mãe dele. – Ela quis rir e eu também.

– Eu sei. Às vezes eu também não acredito nisso. – Contei.

– Ele é tão maduro em muitos assuntos.

– E ele não admite que seja ciúmes, o que se torna pior.

– Mamãe?

– Sim. – Me virei para ver Anie.

– Cadê o meu papai?

– Ele disse que ia ficar lá na sala. Não viu ele?

Paaaaapaaaaaaiii… paaaaapaaaaaiii… – Anie saiu correndo para a sala. – Achei o senhor! – Disse e também pude ouvir a risada dela.

– Bom, Laura vai chegar daqui a pouco e ao contrário de mim, ela ignora muito bem as discussões que tem com ele. Arthur pensou que o namorado dela viesse. Na verdade, com o ciúmes que ele está, deve pensar que Robert venha mesmo. – Falei. Carla riu.

– Você acha que ela traria?

– Não sem comunicar. Por isso discutiram. Ela pediu para trazer e ele não concordou. Eu não sabia disso, soube dias depois. Nossa, fiquei tão chateada com ele.

– Isso é sério?

– Muito sério. Nossa, chamei ele de machista, fica pra morrer quando chamo ele assim. Arthur às vezes testa muito a minha pouca paciência para esses assuntos.

– Você falou com ela sobre isso?

– Sim. Mas ela não quis mais tocar no assunto.

– Minha mamãe… – Anie voltou para a cozinha. – Meu papai tá calente. Vem aqui, vamos ficar com ele. – Me chamou. – Ele tá triste. – Acrescentou.

– Vai lá ficar com ele. Aposto que ele vai melhorar.

– Mas sou eu e a senhola. Tem que ser nós duas. – Afirmou. Neguei. – Por quê?

– Eu estou conversando com a Carla, filha.

– Mas mesmo assim…

– Você sabe que eu estou chateada com o seu pai.

– Por isso ele tá triste. – Disse ela também triste.

– Ele está cansado. E nós já conversamos, eu e ele, então ele sabe…

– Por isso que ele vai embola…

– Seu pai vai embora? Ele te disse isso? – Indaguei. Sei que Anie está tentando fazer chantagem, embora ela não saiba o que seja.

– Outo dia que ele vai…

– Ele te disse isso? – Insisti.

– Eu vou com o meu papai, eu e o Bart também. – Me disse muito chateada. Ela é oito ou oitenta. Ora toma todas as dores dele, ora toma as minhas dores.

– Tudo bem. – Respondi. – Eu ainda tenho o bebê, não ficarei sozinha.

– E o bebê também, quando o bebê nascer. Quando o bebê nascer, o meu papai vem buscar ele.

– A é? E vocês dois e o Bart irão cuidar de um bebê muito chorão?

– Sim. O meu papai vai cuidar. – Ela garantiu.

– Tudo bem então. Eu vou aproveitar e tirar umas férias na praia.

– Só a senhola então.

– Só eu. – Pisquei um olho e Anie cruzou os braços.

– Eu vou contar para o meu papai.

– Vai lá… – Ela saiu correndo. – Vê se eu posso com isso? – Olhei desacreditada para a Carla.

– Agora ela está do lado dele.

– Raam… e só não está quando ele implica com ela.

– Isso é verdade. – Carla riu.


Fiquei mais um tempo conversando com Carla sobre vários assuntos. Já são quase nove e meia da noite, está ficando tarde e Anie ainda não jantou. Fui até a sala para chamá-la.


– Ei, mocinha. Vamos jantar? Já até passou da hora. – Falei quando me aproximei do sofá. – Bart não está aqui com vocês? – Estranhei ao sentir a falta dele na sala.

– Acho que está na cama dele. – Arthur respondeu. Assenti.

– Anie, eu falei com você. – Frisei. Ela continuou abraçada ao pai.

– Vai lá, filha. Sua mamãe está chamando. – Arthur disse mais baixo. Ela negou.

– Não quelo jantar ainda. Vou espelar a minha vovó.

– Está tarde. – Pontuei.

– A senhola não gosta mais da gente. Nem de mim e nem do meu papai. – Ela começou. – Minha mamãe vai pra praia sem a gente. – Completou. Notei que Arthur queria rir.

– Mas não foi você quem disse que iam embora e eu ia ficar sozinha? Só falei que vou aproveitar, oras…

– A senhola não ama mais o meu papai.

– Tá bom. Isso é você quem está dizendo. Vem, vamos logo. – Chamei outra vez. – Você está se saindo uma criança muito malcriada. Isso é muito feio. – Falei mais sério.

– Me defende, papai. – Ela pediu.


Arthur me olhou e depois olhou para a nossa filha. Se ele der razão a ela, vou ficar ainda mais chateada com ele. Anie às vezes têm atitudes que eu não concordo e Arthur sabe quais são.


– Filha, sua mãe está falando com você. Não está sendo grossa, você quem está fazendo birra. Minha discussão com a sua mamãe é só entre eu e ela e não tem nada a ver com você. Não quero que você seja mal educada com a sua mãe. Não quero que vocês duas briguem. – Explicou. – O papai já não falou pra você que fui eu quem chateou a mamãe? Já não expliquei pra você? – Perguntou. Anie assentiu. – Não vou sair de casa, não vou levar você e nem o bebê a lugar algum, não vou deixar a sua mamãe sozinha. Vamos ficar todos aqui. – Afirmou em um tom de voz baixo. Arthur sempre é muito paciente ao explicar as coisas à nossa filha. – Sua mãe sabe que podemos conversar a qualquer momento. Agora vamos lá, eu janto com você. – Completou. – Mas antes, peça desculpas a sua mãe. – Disse. Anie me olhou. Não quero que ela se desculpe. Não me ofendeu em nada. Sei que ela toma as nossas dores.

– Não precisa. – Falei.

– É claro que precisa. Não estamos criando uma mocinha para nos desrespeitar.

– Mas eu não briguei com a minha mamãe.

– Eu não disse que brigou. Eu disse para se desculpar. Você falou de um jeito que crianças não podem falar com a mamãe. Se fosse comigo, eu tenho certeza que a sua mãe chamaria a sua atenção do mesmo jeito.

– Desculpa, mamãe. – A pequena me olhou e abriu os braços para me abraçar. A abracei. – A gente não vai embola.

– É claro que não vão. – Ri.

– E você acha que íamos para onde? – Arthur perguntou.

– Pra outa casa que é sua.

– E você acha que passa pela minha cabeça deixar a minha mulher sozinha aqui? – Perguntou olhando para a nossa filha e depois olhou para mim.

– Minha mamãe é sua namolada.

– Ela é minha esposa. Não vou deixá-la sozinha aqui. – Afirmou. A campainha tocou e Anie se levantou muito rápido do sofá.

– É a minha vovó! – Ela correu.

– Ei, veja antes. Só abra a porta se for a sua avó. – Arthur avisou. – Senão, deixa que eu abro. – Ele também se levantou.

– Acho que é a sua mãe.

– Tua sogra que te defende. – Implicou.

– O meu sogro pode ter vindo também. – Impliquei de volta.

– Não brinca, Lua Blanco. Você está tão engraçadinha. – Arthur semicerrou os olhos ao me encarar. Ele parece desconfiado. Dei de ombros. Sei que minha sogra veio sozinha.

– É a vovó, papai! – Anie deu pulinhos de alegria. – Vou abrir. – Ela já chega na maçaneta. Girou a chave, depois a maçaneta e abriu a porta. – Vovó!!! – Exclamou muito animada.

– Olá, meu anjinho. Que linda! Você está uma mocinha muito linda. – Laura a pegou no colo e lhe deu vários beijos. – Eu estava com saudades de você.

– Eu também estava com saudades, vovó. Sabia que eu tenho uma surpesa?

– Uma surpresa?

– Sim. – Disse e quis descer do colo da avó. – Eu vou buscar. Eu ganhei do meu papai. – Disse indo para a brinquedoteca.

– Eu também estou aqui. – Arthur pontuou.

– Eu não sabia que você era tão ciumento assim. – Minha sogra o abraçou. Eu ri.

– A senhora fez uma boa viagem? – Ele ignorou a parte do ciúme.

– Sim. Foi uma viagem tranquila. – Eles saíram do abraço. – E você, minha querida, como está? – Minha sogra veio me abraçar.

– Estou bem. – Retribui o abraço. – Estou feliz que a senhora tenha vindo. – Acrescentei.

– Eu também estou feliz de estar aqui, Luh. – Ela apertou as minhas mãos. – E esse bebê, como está? – Perguntou.


Olhei para Arthur. Quero tanto contar logo que é um menino. Ele pareceu adivinhar meus pensamentos, apenas assentiu com um sorriso contido. Ele não sabe, mas, na quinta-feira, fui ao shopping e comprei duas roupinhas. Não fui até lá com essa intenção, mas quando vi, não poderia deixar de comprar. Quero que seja uma notícia especial para a minha sogra e para os meus pais – pelo menos da minha parte.


– Só um momento. – Pedi e fui até o quarto.

– Ei! O que você vai aprontar? – Ouvi Arthur perguntar e espero que ele não conte à minha sogra que nosso bebê é um menino. Não antes de eu entregar a ela a surpresa. Voltei para a sala e sob o olhar curioso dos dois.

Ele está ótimo! – Respondi bastante empolgada e entreguei uma caixa para a minha sogra.

Ele? – Ela abriu um largo sorriso e olhou de mim para o Arthur. Arthur também está sorrindo. Minha sogra abriu a caixa e me olhou com os olhos cheios de lágrimas.

– Sim. É um menino, Ravi! – Afirmei e comecei a chorar. Laura me abraçou.

– Estou tão feliz por vocês. Um garotinho? Isso é incrível! – Ela beijou os meus cabelos. – Ravi? É um nome lindo. – Ela pegou o body de dentro da caixa e leu a frase: “Primeiro neto em breve.” Laura sorriu.


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– Como você está se sentindo? – Me olhou muito emocionada.

– Um pouco nervosa…

– Nervosa? – Minha sogra questionou. Arthur se aproximou.

– Está com receio de não saber cuidar de um menino. Já disse que não há possibilidade disso acontecer. – Arthur acariciou as minhas costas, minha sogra se afastou e ele me abraçou.

– Mas eu também estou feliz. – Falei em meio ao choro. Não queria estar chorando tanto. – Só estou chorando demais. – Contei mais baixo.

– Está tudo bem, querida. É completamente compreensível. – Minha sogra tentou me tranquilizar. Arthur ainda está me abraçando. – E eu sei que está feliz. Que estão felizes.

– Lua me faz muito feliz, já disse isso a ela. – Arthur beijou os meus cabelos. O abracei mais forte.

– Quando descobriram?

– Na terça. – Arthur respondeu.

– Anie já sabe?

– Sim. Chorou, sentiu ciúmes, mas depois já estava falando sobre o bebê… – Arthur contou. – Foi uma reação dentro do que nós esperávamos.

– Preciso comprar um presente para o meu netinho. – Minha sogra está feliz, está animada. Sei que é um sentimento sincero.

– Já compramos a primeira roupinha dele. Na verdade, compramos antes de sabermos se era menino ou menina. Compramos uma de menina também. – Disse animado. Me afastei dele. Arthur segurou o meu rosto e acariciou a minha bochecha com o polegar. – Está tudo bem agora? – Assenti.

– Desculpa. – Pedi me virando para a minha sogra.

– Não precisa de desculpar. Eu também já estive grávida. Sei como é… e sou médica. Conheço muito bem como as mamães ficam nessa fase. – Laura soou completamente compreensível.

– Já contou para mais alguém?

– Harry, Carla e a Carol. – Respondi. Laura olhou para a minha barriga. – Eu sei que não vou conseguir esconder por muito tempo.

– Não mesmo. Mas não quero me meter na decisão de vocês. Façam como achar melhor.

– Nós contaremos quando a Lua estiver preparada. Além do mais, não é da conta de ninguém. Não temos essa obrigação. – Arthur me defendeu.

– Eu sei, querido. Vocês não estão errados. – Laura sorriu. – Você já sente o bebê mexer bastante? – Minha sogra mudou de assunto.

– Sim. – Sorri. – Chuta bastante. – Acariciei a minha barriga.

– Até eu já consigo sentir. – Arthur falou muito empolgado. – É uma sensação muito emocionante e gostosa. O bebê já me conhece. A minha voz, no caso.

– E o toque. – Pontuei. – Porque é incrível como ele reconhece quando é o Arthur e não eu. O bebê não chuta quando eu converso ou mexo na minha barriga…

– Luuh, ei, não é assim… – Arthur sorriu de lado.

– É claro que é. O bebê mexe mais quando é o Arthur quem fala. – O olhei e depois olhei para a minha sogra. – A senhora pode sentir se quiser.

– Oh, é claro que quero! – Laura sorriu. – Quando estiver mexendo, vou adorar sentir. E os enjoos cessaram? Você tem se alimentado bem?

– Sim. Cessaram. Tenho comido bastante, até melhor do que imaginei.

– Inclusive, teve um desejo estranho hoje e não me contou nada.

– E ele ficou triste por isso.

– Fiquei mesmo. Gostaria que você tivesse me contado. Queria ter ido comprar.

– E qual foi o desejo? – Minha sogra sorriu.

– Melão, mel e sorvete. – Respondi.

– Ooh… bem…

– No mínimo estranho, mãe.

– Arthur ficou com nojo.

– É algo que eu não comeria.

– Seu filho quem quis comer.

– Aposto que ele se arrependeu. – Disse divertido e nós rimos.

– Estou feliz. Vocês merecem. Torço para que esse bebê venha com muita saúde, que seja feliz, que faça vocês muito felizes, a família de vocês. Que dê tudo muito certo. Que seja um parto tranquilo. – Minha sogra se aproximou de mim e acariciou o meu rosto. Vou começar a chorar. Estou com tanto medo do parto. – Que você esteja bem. Você precisa estar bem, minha querida. Que a sua cabeça e o seu coração estejam em paz. Você e o bebê merecem ter um momento especial. Você não está sozinha…

– Não mesmo. – Arthur afirmou. Já estou com os olhos cheios de lágrimas, se eu piscar, elas caem e eu pisquei. Arthur apertou um dos meus ombros. Laura me abraçou.

– Você é tão forte, Luh. Você precisa acreditar nisso. Além do Arthur, que eu sei que te ama mais do que qualquer pessoa nesta vida… – Olhei para ele depois dessa fala de Laura.

– Precisou a minha mãe vir aqui dizer para você acreditar que, nesta vida, você é a alma que mais importa para mim? Que eu te amo além do que você possa imaginar? – Perguntou.


Eu jamais conseguiria responder a essa pergunta. Fiquei surpresa com a declaração, não com o amor que sei que ele sente por mim, mas com essas palavras. Eu não estava esperando nada parecido com isso. Minha sogra sorriu emocionada.


– Você também tem a mim. Pode contar comigo para o que precisar. Você é uma pessoa muito especial para mim. A minha nora preferida. – Disse e acabamos rindo. Porque eu sou a única nora dela. Sei que todos tivemos o mesmo pensamento. – Você pode pensar, “Aah, mas eu sou a única.” E sim, e eu não precisaria de nenhuma outra.

– Oow! Ei, você acabou de ganhar uma declaração da minha mãe. Eu nunca ganhei nada parecido. – Arthur parece muito surpreso. Surpreso e emocionado. – Isso não é justo! – Brincou. – Você é uma nora muito mimada! – Completou.


Seus olhos estão brilhando de tanto amor, que me sinto culpada por ainda estar chateada com ele e por ter pensado que ele é mais feliz quando está longe de mim.


– Paaaraa… – Pedi. Pois fiquei completamente sem graça.

– Nesse momento, ainda bem que eu não tenho irmão. Assim eu não tenho que dividir esse amor da minha mãe por você. – Me disse.

– Bobo.

– Você faz o meu filho feliz e isso me deixa mil vezes mais feliz.

– É porque a senhora não sabe o que ela faz comigo quando não tem ninguém vendo. – Começou. Minha sogra voltou a me abraçar.

– E o que ela faz?

– Só coisas que ele gosta… – Comentei. Arthur riu desconcertado.

– Lua Blanco, Lua Blanco. – Disse meio sem graça. Laura riu.

– Vocês são demais! – Ela se afastou depositando um beijo na minha testa.

– Eu ainda estou surpreso com o que eu ouvi. – Ele voltou a dizer.

– Qual a surpresa? Sempre deixei claro que amo a Lua.

– Eu sei. – Arthur afirmou. – Eu sei que lhe dei uma nora muito incrível. Mas a senhora nunca tinha falado assim. – Ele esclareceu. Laura riu. – Você sabe que se um dia pedir o divórcio, a minha mãe vai ficar com raiva é de mim, não sabe?

– Sei.

– Pois é. Que bom. Então, não peça! – Exclamou.

– É só você não aprontar nenhuma. – Minha sogra respondeu por mim. Concordei.

– Alguém para ao menos me defender? – Perguntou. Anie voltou para a sala. – Aah! Ali a minha resposta! – Apontou para a nossa filha. Rimos.

– Aqui. Olha, minha vovó. Meu papai que me deu. – Mostrou o buquê de flores para a avó.

– Que lindo, meu amor. São as flores mais lindas que eu já vi. – Laura comentou.

– São floles lindas mesmo. Meu papai sabe qual é a que eu gosto. Ele sempre acerta! – Anie foi abraçar o pai. Ganhou beijinhos dele na bochecha.

– Que papai legal!

– O melhor do mundo pra sempre. – Anie declarou e Arthur a abraçou.


Conversamos mais um pouco, ali na sala mesmo, e depois a minha sogra subiu para tomar um banho e depois jantarmos. Arthur foi deixar as malas dela no quarto de hóspedes.


Um tempo depois Laura desceu. Jantamos todos juntos. Voltamos a conversar sobre vários assuntos. Ela elogiou bastante a comida que Carla fez, e mais ainda a sobremesa.


Pov Arthur 


– Que horas você vai decidir dormir, hein? – Perguntei para Anie.


Estamos na sala. Já são quase meia noite. Não é possível que ela não esteja com sono. Ela teve um dia bastante agitado, foi para a escola, foi para a aula de balé e quando chegou, não descansou nenhum pouco.


Lua já subiu para o quarto. Provavelmente não irá mais descer. Ela já se despediu da minha mãe. Disse que estava muito cansada e com um pouco de dor nas costas. Ela também teve uma sexta-feira muito corrida.


– Só depois, papai… uma outa hora. – Ela respondeu.

– Pois então você vai ficar acordada sozinha. Porque eu já estou caindo de sono. – Falei. A pequena me olhou.

– De verdade?

– As mais sinceras possíveis.

– Mas o senhor não dorme cedo.

– Filha, eu passei o dia na produtora. Estou bem cansado. – Expliquei.

– E a minha mamãe?

– Sua mãe já deve estar deitada.

– O bebê que quis? – Indagou.

– Na verdade, a mamãe precisa descansar. – Respondi. Não quero dizer que foi o bebê, Anie pode entender de outra maneira. – Não foi o bebê quem pediu. – Acrescentei.

– Então tá bom. Mas eu posso dar um beijo na minha mamãe?

– É claro que pode. – Sorri. Anie se levantou do sofá. – Vovó, eu já vou dormir. – Disse ao abraçar a minha mãe.

– Durma bem, meu anjinho. – Minha mãe lhe deu um beijo na testa. – Até de manhã.

– Até, vovó.

– Boa noite, mãe.

– Boa noite, meu filho.


Subimos a escada enquanto Anie não parava de falar.


– Amanhã o senhor vai sair com a gente?

– Não, filha. O papai vai trabalhar amanhã.

– De novo?

– Sim. Mas eu tenho certeza de que você e a sua mãe irão fazer coisas muito legais. Além do mais, a sua avó está aqui. Vocês podem se divertir bastante. – Contei. Anie me olhou.

– Mas eu gosto mais quando é o senhor. Papai, o senhor ainda é o meu pefelido. – Declarou.

– O seu preferido?

– Sim. O amor da minha vida, papai. – Disse. Fiquei emocionado.

– Oh, meu amor. Você que é o amor da vida do papai. – A peguei no colo e a abracei forte. – Eu te amo, filha. – Entramos no quarto.

– A minha mamãe… – Anie quis descer do meu colo.

– Achei que você já estivesse dormindo. – Falei parado na porta do quarto. Lua está deitada, mas ainda está acordada.

– Já vai dormir, querida?

– Sim, mamãe. Boa noite! Sabia que eu vim dar um beijo na senhola?

– Aah, meu amor. Obrigada! A mamãe não sabia, mas a mamãe amou saber agora. – Lua sorriu. Anie a abraçou. – Dorme bem, filha. Eu te amo. – Lua lhe beijou os cabelos.

– A senhola também, mamãe. Eu te amo! Amanhã a gente vai sair?

– Sim… – Lua acariciou o rosto da nossa filha. – Vamos fazer algumas coisas.

– Tá bom, mamãe. Eu já tô muito animada.

– Hahaha… a mamãe também.

– Sabia que o meu papai vai me colocar pra dormir.

– A é? Que legal! – Lua lhe deu mais um beijo na testa. – Vai lá, meu amor. Bons sonhos.

– Tchau, mamãe.

– Tchau. – Lua lhe jogou um beijinho, que foi retribuído pela nossa filha.


Sai do nosso quarto com Anie. Chegamos ao quarto dela, ajudei ela a escovar os dentes, ela fez xixi e depois veio deitar na cama. Me pediu que cantasse “Brilha, brilha, estrelinha”, é uma música que ela ama. Não demorou muito para que ela pegasse no sono.


Voltei para o quarto. Lua continua acordada.


– Está tudo bem? – Fechei a porta. – Está sentindo alguma dor? – Me aproximei da cama.

– Estou bem. Na verdade, com um pouco de dor nas costas. Como se tivesse um peso. Acho que foi porque fiquei muito tempo sentada hoje. – Me contou. Sentei na cama. – Mas é normal…

– Quer que eu faça uma massagem nas suas pernas e nas costas? – Perguntei. – Sei que ainda está chateada. Mas posso te ajudar. – Fiz carinho em suas mãos. – Se quiser… – Fiquei esperando ela dizer algo, mas o silêncio prevaleceu. – Tudo bem. – Entendi o silêncio como uma resposta e me levantei da cama.


Lua não disse nada. Fui até o banheiro e depois voltei para o quarto. Fechei as cortinas, porque ela nunca fecha e caminhei até a cama.


– Arthur… eu, eu quero falar com você.

– Pode falar. – Respondi e virei o rosto para olhá-la.

– O que foi aquilo lá na sala? – Me perguntou. Franzi o cenho.

– Aquilo? Aquilo o quê? Em qual momento? – Indaguei por não ter entendido a pergunta dela.

– Senta aqui… – Pediu. – Aquela declaração, Arthur. – Esclareceu. Sorri e me sentei na cama, de frente para ela.

– Aah, a declaração te surpreendeu, foi isso? – Perguntei, Lua sorriu e depois negou com um gesto de cabeça.

– Eu sei que você me ama. – Disse.

– Que bom que não restam dúvidas. – Eu também sorri. – O que aconteceu então?

– Só fiquei surpresa com as palavras que você usou…

– Surpresa? Eu sempre me declaro pra você, Luh.

– Eu sei… mas não daquele jeito, Arthur. Não com aquelas palavras… – Disse baixo. Sorri com carinho.

– Vem, aqui. – Chamei ela para um abraço. – Eu amo você. Minhas declarações não deveriam te assustar.

– Não me assustei. Fiquei surpresa, fiquei emocionada. – Me contou. – Foi uma das declarações mais lindas que você já me fez.

– Você merece, meu amor. – Encostei a testa na dela.

– Eu fiquei mal porque estava chateada com você. – Confessou. Me afastei.

– Não precisa se sentir assim, Lua. Eu fiz por onde, não fiz? Fui eu que magoei você. Fui eu que falei aquelas coisas… – Assumi minha culpa, como já havia feito ontem.

– Eu sei… não deveria ter te cobrado daquele jeito. Eu já estava mal acostumada a ter você sempre comigo. Quando os ensaios voltaram, eu senti falta de ter você aqui. Quando eu chego do trabalho, sinto a tua falta… sinto falta de acordar com você, de conversar na hora do almoço… de você perguntar como foi o meu dia e de eu fazer a mesma pergunta para você. De você querer saber sobre o bebê e de pedir para falar com ele. Dos nossos jantares em família. De tudo o que estávamos fazendo juntos. Eu, você, a Anie e até o Bart. – Ela desabafou. Sinto que ainda está mal.

– Não é errado se acostumar a ser tratada assim… eu sempre te tratei muito bem, Lua. Do jeito que você merece. O que aconteceu ontem, foi uma falta de interpretação imensa. Eu fiquei tão chateado quando você insinuou que eu estava melhor, me sentindo melhor estando longe de você, da nossa família. Isso não é verdade. Jamais será verdade. Sou mais feliz quando estou com você. Isso me chateou mesmo. Por isso fiz aquela fala infeliz. Eu não imaginei que você fosse levar tão a sério. Você sempre foi tão boa em entender o meu sarcasmo, as minhas ironias. Quase não acreditei na tua reação. – Estamos sentados um de frente para o outro. Estou segurando as suas mãos.

– Estou grávida. – Pontuou. – Nem eu consigo entender os meus sentimentos muitas vezes. – Confessou.

– Eu vou me lembrar de não ser mais tão irônico. Não até esse bebê nascer. Tudo bem? Não quero que se sinta mal. Não quero mais discutir com você. Não quero ficar sem falar com você, sem te tocar, sem te beijar.

– Senti tanto a tua falta. Queria ter te beijado todas as vezes que você me pediu desculpas. Mas eu fiquei tão magoada, nem eu entendia o porquê. Eu amei as rosas, e pedi internamente que você não insistisse para que eu as aceitasse. Eu não teria coragem de jogar fora. – Me disse sincera. Ri.

– Fiquei triste, Lua, confesso. Fiquei triste e com tantos ciúmes de você. Senti raiva de mim por ter agido daquele jeito. Te magoar não está nos meus planos, pode ter certeza.

– Eu sei.

– Você é a minha esposa, é a mulher mais importante para mim. – Olhei em seus olhos. – Nosso casamento é importante para mim. Você sempre estará acima de qualquer outra pessoa aqui nessa vida. Se eu não estiver por perto e você ligar, eu virei. Não já te prometi isso? Parece que você ainda não acredita. Tenho me esforçado tanto para não errar com você, com a nossa família. Com tudo o que eu sempre sonhei. Você, nosso casamento, nossos filhos, nossa família… Lua, são as minha prioridades. O que eu preciso fazer para que você não duvide disso? – Perguntei.


Lua ficou me encarando. Seus olhos estão tão cheios de lágrimas, que eu não faço ideia do que está se passando pela cabeça dela, e poucas vezes isso aconteceu. Lua levou as mãos até o meu pescoço e me puxou para um beijo. Deixei que ela ditasse o ritmo por alguns segundos. Depois a puxei para o meu colo e intensifiquei o beijo. Estava com muita saudade de senti-la assim.


– Você não precisa fazer nada. Você não precisa provar nada. – Me disse depois de um tempo, ainda tentando controlar a respiração.

– Me desculpa, Lua. Me desculpa de verdade! – Pedi.

– Shhii… – Ela colocou o polegar sobre os meus lábios. – Eu já desculpei você.

– De todo o teu coração?

– De corpo e de alma também. – Respondeu. Sorrimos.

– Que saudades eu senti de ter você assim… de te beijar… Ontem eu fui tão testado. – ri. – Não me diz que acontece com frequência. – Desci os beijos pelo pescoço dela.

– Só às vezes. – Me respondeu. Fiz uma expressão de desconfiado.

– Você estava tão linda, tão sexy, tão gostosa. Você não tem ideia do quanto o Nick me provocou com isso. Se ele não fosse gay, eu teria dado uns socos nele. – Contei. Lua riu.

– Até parece.

– Não duvide. – Avisei. – Você nem sabe… – me afastei um pouco – Além dele ficar me provocando, ainda teve a audácia de dizer que, ainda bem que não chamou a tua colega de gostosa, a Rose. Porque ela está grávida. Ele devia respeitar. Fiquei pasmo com a cara de pau dele. Você também está grávida!

– Mas ele não sabe, Arthur. – Lua riu.

– Mas você é casada. Inclusive, mandei um recado assim para aquele desavisado que deu em cima de você. Não é ele que gosta de bilhete? Mandei pra ele também! – Não escondi meus ciúmes. Lua percebeu.

– Tá. Eu já entendi que você sentiu muitos ciúmes ontem.

– Demais. Quando ele disse que alguém na mesa de vocês estava grávida, pensei que você tivesse resolvido contar. – Mudei de assunto.

– Não. Eu quis, na verdade. Mas ainda não contamos para a minha família. Rose está grávida de uma menininha. – Contou.

– Eu vi… digo, a cor dos sapatinhos.

– Eles também não estavam esperando. Mas estão felizes. O nome da bebê é Claire.

– Um nome muito lindo.

– Adam também gosta de saber o significado das coisas, dos nomes… Ele queria Ellie, Olivia ou Elouise.

– Mas Claire é um nome muito bonito.

– Sim. Eu disse isso a eles. Ela está com quatro meses.

– E você com cinco. – Sorri. – Vai nascer um mês depois.

– Sim.

– Seu chefe vai perder duas funcionárias por uns meses.

– Falando nisso… – Lua começou. Fiquei atento. – Contei a ele sobre a gravidez.

– Falou para o Ryan?

– Sim. Por conta da viagem. Lembra que eu tinha que dar uma resposta? Não quero que fique chateado. Sei que combinei de te falar quando fosse contar a outras pessoas.

– Não ficarei chateado por isso. Relaxa! E o que ele disse?

– Ele ficou surpreso. Mas me deu parabéns pelo bebê. Disse que eu não precisava fazer a viagem.

– E parece que ele não te conhece. – Ressaltei.

– Pois é. Mas ele ficou preocupado. Disse que se acontecer algo, não quer confusão com você. Que você pode culpá-lo.

– Ele acha que eu sou o quê? Um descontrolado? Só vou culpá-lo se realmente a culpa for dele. Que idiota!

– Ele têm motivos.

– Eu também tenho os meus. Que bom que ele não esqueceu.

– Disse para eu conversar com você sobre a viagem… – Falou e eu ri.

– Definitivamente ele não está no normal dele. Tem certeza que essa conversa foi com o Ryan mesmo? – Indaguei. Lua colocou as mãos em volta do meu pescoço.

– Ele disse que eu estou grávida e que é diferente.

– E olha que ele convive com você diariamente. – Dei um selinho nela. – No mundo dele,  eu tenho tanta influência assim no teu trabalho? – Ri desacreditado.

– Se ele pensava assim, agora não pensa mais. Deixei bem claro que a nossa relação não é assim.

– Quando será a viagem?

– Mês que vem, antes do meu retorno com a Eliza. Eu expliquei a ele sobre as datas.

– Tudo bem?

– Sim. Ele entendeu.

– Quantos dias?

– Três. Talvez a gente vá dia quinze ou dia dezesseis. Só que antes de irmos, quero fazer um ultrassom.

– Então está tudo bem, gatinha. – Rocei os lábios na bochecha dela.

– Só vou se realmente estiver tudo bem com o bebê, Arthur.

– Eu sei, querida. – Encostei a testa na dela. – Eu sei. Confio em você. – Deixei bem claro.

– Eu te amo, Arthur.

– Repete. – Pedi baixinho.

– Eu te amo, Arthur. – Sussurrou em meu ouvido. – Eu – se afastou e me olhou nos olhos – preciso pensar em uma declaração bem além de um eu te amo.

– Não mesmo. Você não precisa se preocupar com isso. – Garanti. – Sabe de uma coisa muito além de um eu te amo?

– O quê? – Me perguntou curiosa.

– Nossos filhos. Os filhos que você me deu. – Respondi. Lua sorriu emocionada. – Quer declaração mais linda do que essa?

– Você não tem esse direito. – Disse. Sua voz falhou e algumas lágrimas caíram. Ela envolveu o meu pescoço com os braços e encostou a cabeça em meu peito.

– Eu não disse nada demais. Só quis esclarecer que nada do que eu diga, é mais lindo do que os filhos que você quis ter comigo. – Acariciei os seus cabelos. Lua está chorando. – Como vou lidar com você chorando assim sempre que eu falo algo? – Perguntei.

– É que eu fico emocionada. Não consigo me controlar. – Confessou e se afastou. – Arthur, não quero que fique chateado… mas… mas eu me sinto tão insegura. – Contou. Franzi o cenho. Não entendi.

– Insegura com o que, Luh? Com o meu amor?


Não sei bem o que pensar. Não estou entendendo mais nada. Quando foi que ficou tão confuso entendê-la?


– Não. Com o seu amor não, Arthur.

– Lua, calma. Ei… você está falando sobre o que, querida? – Não escondi a minha confusão.

– Sobre você está aqui.

– Aqui? Agora?

– A qualquer hora. Foi por isso que fiquei chateada… Eu fiquei me sentindo sozinha. Eu tenho tanto medo de acontecer igual a primeira vez. De você não estar aqui, de não dar tempo de você chegar. Por mais que eu tente me preparar, não vou conseguir, Arthur. Se eu não falar disso com você, não tenho mais ninguém com quem falar. Eu só confio em você.

– Eeeii… Não te deixei sozinha. Não vou te deixar sozinha, meu amor. – Segurei o seu rosto entre as minhas mãos. – Foi só uma semana corrida, Luh. Quero que você confie em mim. Não quero te ver insegura em relação a isso. A nada, na verdade. Vamos fazer shows até a metade do mês de dezembro. Depois… depois eu não vou desgrudar de você, meu amor. Vamos ficar juntinhos na reta final da gravidez. Você não precisa se preocupar. Estamos e estaremos juntos. Confia em mim, Luh. Por favor!


Não sei mais o que fazer para provar que estarei ao lado dela quando chegar a hora do nosso filho nascer. Sei que a primeira vez foi traumatizante, que foi difícil e que Lua se sentiu sozinha, mesmo com a Sophia ao lado dela.


Sophia não era eu.


– Eu só tenho você.

– E eu estou cem por cento com você. – Afirmei. – Ei, meu amor… Pode acreditar. – Encostei os lábios nos dela. – Você e os nossos filhos são a minha prioridade. Entenda isso, por favor. Me beija. – Pedi.


Lua encostou os lábios nos meus. O beijo foi lento, carregado de emoção. Não queria que ela estivesse com tanto medo assim.


– Vou estar com você. Vou segurar a sua mão, vou te dar beijos, vou te falar palavras de segurança, vou te dar força…

– Eu sei. – Ela sorriu.

– Então fica bem, meu amor. Vem, me abraça. – Chamei. Ela me abraçou apertado. Beijei um de seus ombros e também o seu pescoço. – Eu te amo.


Ficamos um tempo abraçados, depois nos afastamos.


– Quer que eu faça massagem? – Perguntei.

– Sim. Acho que vai me ajudar a dormir melhor. – Lua respondeu e eu assenti.

– Vou pegar o creme, tá?

– Eu deixei no banheiro. É outro. Comprei um novo. – Me avisou.

– Por que? – Me levantei da cama.

– Porque enjoei do cheiro. Já é o terceiro.

– Esse é de quê?

– Não tem fragrância. – Respondeu e eu ri indo para o banheiro. – É um vidro de tampa lilás. – Me disse.

– Já achei. – Voltei para o quarto. – Prefiro os com cheiro. – Falei assim que me sentei na cama.

– Eu também. Mas o seu filho não. – Fez um bico.

– Eu tenho certeza de que o meu garoto não implica com isso. – Passei uma das mãos pela barriga dela e levantei um pouco a camisa que ela está vestida.

– Aaah não? – Ironizou.

– Você sentiu? – Perguntei animado. O bebê chutou.

– Claro que senti. Foi bem na minha costela. – Lua riu e colocou a mão um pouco acima da minha.

– Aqui é o pé dele? Ele está de cabeça para baixo?

– De lado, amor. A cabeça está bem aqui… – Ela colocou a mão do outro lado.

–  Que garotinho sapeca. – Depositei um beijo em sua barriga. – Já está tarde. Você deveria estar dormindo. – Falei com os lábios bem próximos da barriga dela.

– Agora que ele não vai dormir mesmo, escutou a tua voz.

– Mas ele é um bebezinho muito obediente, não é, meu amor? Pode dar um chutinho, só pra mamãe ficar sabendo. – Falei outra vez com a barriga dela. Lua riu. – Olha só como ele obedece o papai dele. – Dei um beijo demorado na barriga dela.

– É bom que ele me obedeça também. Que tal? Está na minha barriga, chuta as minhas costelas e a minha bexiga. Exige que eu mude os meus cremes. Escolhe o que quer comer. É o mínimo, meu filho. O mínimo. Mas nem quer mexer quando eu falo com ele. – Lua fez o desabafo dela enquanto acariciava a barriga, mas o bebê não chutou. Eu senti vontade de rir. Mas ela ficará chateada. – Está vendo só? Depois diz que eu sou dramática e ciumenta. Mas você está vendo…

– Deita, relaxa um pouco… vou começar a massagear as tuas pernas. – Mudei de assunto. Porque sei que ela levará isso muito a sério.

– Meus pés incharam um pouco.

– É porque você não parou. – Comecei a massagear uma das pernas dela, depois fui descendo para a panturrilha e depois para o pé.

Nossa… – Murmurou. Sei que sou muito bom em massagens.

– Amanhã vocês vão ao shopping?

– Sim. Tenho que comprar o sapato da Anie. Você viu o uniforme?

– Não. Você não me mostrou.

– Amanhã eu te mostro. Você podia ter me lembrado.

– Me dá a outra perna… – Pedi. – Depois você tira a camisa para eu massagear as tuas costas.

– Tá… – Concordou. Comecei a massagear a outra perna dela. – Vou aproveitar e comprar o sapatinho do bebê. O primeiro sapatinho dele.

– Mal posso esperar para ver. – Comentei enquanto massageava seu pé. – Quando vamos começar a ver as coisas para montar o quarto?

– Acho que com uns sete meses. O que acha? Já quer começar a ver?

– Só podíamos ver… comprar só quando você achar melhor. Já tem alguma ideia?

– Nenhuma. E você?

– Também não.

Aaaii, amor… – Soltou um gemido.

– O que foi? – Levantei o olhar para ela.

– Doeu um pouco.

– Uuhm… deixa eu dar um beijinho então. Porque não foi a minha intenção. – Levantei um pouco o pé dela e depositei um beijo. Lua puxou o pé.

– Tenho cócegas. – Riu me fazendo rir também. Me inclinei e beijei os seus lábios, em seguida, desci os beijos para o pescoço.

– Tira a camisa pra eu fazer a massagem nas tuas costas. – Pedi. Lua me olhou desconfiada.

– É só a massagem mesmo, Aguiar.

– Eu sei. A minha garota está cansada. – Respondi. Nos afastamos e Lua tirou a camisa. – Vira de costas. Quer que eu faça aqui? – Apertei levemente os ombros dela.

– Sim. E no meu quadril também. Estou com uma dor tão chata.

– Você ficou muito tempo sentada, Luh… deve ter sido isso. Está tão tensa. – Comentei enquanto massageava os ombros dela.

– Hoje eu realmente não parei. Mas não são todos os dias assim.

– Você passou o creme na barriga?

– Passei. Por quê? – Ela soltou um risinho ao final da pergunta.

– Porque se não tivesse passado, eu ia pedir pra passar.

– Eu não esqueço de passar, amor. Passei depois do banho.

– Sua barriga está tão lindinha, Luh. Já está dando para notar. – Comentei.

– As pessoas devem achar que eu engordei. – Falou. – Acho que não ficará tão grande igual foi da Anie.

– Pois eu acho que pode crescer bastante nos últimos meses. Você já está uma grávida tão linda. – Elogiei.

– Acho que ontem foi a última vez que usei aquele vestido marrom…

– Depois que o bebê nascer, você poderá usar novamente. Ele ficou perfeito em você. – Subi uma das mãos para a nuca dela e comecei a massageá-la. Lua relaxou jogando um pouco a cabeça para trás.

– Você está me provocando.

– Eu não. Eu estou apenas fazendo uma massagem, você está mais relaxada. É só isso…

– Eu tenho me sentido tão linda mesmo.

– É porque você está mesmo. – Sussurrei em seu ouvido. Lua encolheu os ombros.

Aaaii… amor…

– Hahaha… você está se arrepiando com tanta facilidade assim, hein? – Tentei mordiscar a sua orelha, mas ela foi mais rápida e se afastou.

– Assim não, Arthur. Pode parar! – Pediu ao virar o rosto para me olhar.

– Não tem autocontrole é?

– Você que não tem!

– Eu não estou fazendo nada de mais. – Me defendi. – Deixa eu terminar a massagem. – Coloquei mais um pouco de creme nas mãos e espalhei pelo quadril da Lua.

– Arthur…

– Sim.

– Você trabalha amanhã?

– Sim, Luh. – Parei os movimentos e Lua virou o rosto para me olhar. – Mas eu vou tentar chegar cedo para ficar um pouco com você, antes de você dormir. – Falei e Lua torceu os lábios. Lhe dei um beijo. – Mas domingo estarei de folga e serei todo seu. Pode fazer o que quiser. – Acrescentei e ela sorriu.

– Eu nem quero muita coisa. – Me disse. Rocei o nariz na bochecha dela.

– Não? Tudo bem também.

– Só quero fazer amor. – Murmurou.

Só? – Insisti. Ela assentiu. – Faremos. Podemos até começar amanhã à noite e terminar domingo de madrugada…

– Hahahaha…

– Isso claro, se a minha garota estiver disposta.

– Você já deixou a sua garota descansar por quase uma semana.

– Que mentirosa! Três dias, Lua Blanco. Para de graça! – Comecei a rir e voltei a fazer os movimentos no quadril dela. – Está mais relaxada?

– Sim. Você sabe que tem mãos maravilhosas.

– São os elogios que eu recebo.

– Engraçadinho! – Ela virou a mão e deu um tapa em um dos meus braços.

– E eu estou mentindo?

– Você gosta é de graça, Arthur!

– Ora… mas o que eu fiz? – Me fiz de desentendido.

– Depois você fica fazendo drama.

– Eu fiz drama?

– Você sabe que fez.

– Eu fiquei mal mesmo, Luh. Não foi drama não.


Finalizei a massagem, depositei um beijo na nuca dela antes de me levantar da cama.


– Obrigada!

– De nada, baby. – Deixei o creme em cima da mesinha de cabeceira dela. – Já volto. – Fui até o banheiro lavar as minhas mãos que estavam cheias de creme.


Continua…


SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.


N/A: Olá, tudo bem com vocês? Espero que sim!


Os dias foram muito corridos. Eu gostaria de ter atualizado antes – e ainda, postar a reação da mãe da Lua. Confesso que estou na dúvida de como será a reação, ainda não escrevi. Eles já chegaram a Brighton na parte que eu estou escrevendo atualmente, mas não encontraram com ela.


Agora a noite parei para reler e corrigir essa parte do capítulo que eu optei por postar agora. Espero que tenham gostado da leitura, que a espera tenha valido a pena novamente.


Sempre fico muito ansiosa para saber o que vocês acharam do capítulo. E confesso, um pouco frustrada com a quantidade de comentários sobre as atualizações. Quando demoro sempre tem muitas cobranças e quando eu posto, não tem a mesma quantidade de comentários. #desabafo


No mais, que tenham gostado da atualização. Que tenham se emocionado com a conversa do casal, com a fofura da Anie, com a reação da Laura. <3


O quão feliz vocês ficaram com o casal fazendo as pazes? Aaaaawwn <3 as declarações, a fofura da Anie e as conversas com o bebê muito me emocionam.


Abriram os links?


Me contem tudo!!!


Tenham um ótimo final de semana!


Beijos e até a próxima atualização.

7 comentários:

  1. Sempre que leio fico emocionada..

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  2. Eu amei a conversa dois dois a declaração que ele fez pra ela, e tal, e eu acho que o medo dela era passar pelo parto sozinha por isso ela ficou tão chateada
    Mas que bom que eles se resolveram

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  3. Eu sou uma leitora que vc nao vai deixa de ver meu comentários pq eu sou apaixonada por essa webs
    Creio eu que não está tendo tanto comentário, que como vc sempre explica que tem muitos compromissos e as vezes demora muito, a meninas podem se esquecer de vim aqui ver se tem alguma atualização, não estou lhe criticando, pq eu sei que todos nós temos compromissos, mas as vezes é isso a gente esquece

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  4. Nossa amei essa conversa dos dois melhor fic que existe

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  5. Nossa a Anie é muito fofa essa conexão de Arthur e ela é muito fofa.

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  6. Vontade de ver a reação dos pais da Lua ansiosa pelo próximo capítulo cada capítulo você se supera amo demais.

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  7. Aaah, sempre vale a pena a espera. Ainda mais apaixonada na Anie, ela é uma fofura.

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