Little Anie
Parte Seis
Relacionamento…
é sobre cuidar um do outro,
é sobre renunciar hábitos que magoam e,
principalmente, é sobre construir hábitos
que vão fortalecer a vida a dois.
– leveissoparasuavida
Pov Lua
Londres | Domingo, 1 de outubro de 2017.
Já passa um pouco das cinco e meia da tarde. Pegamos um pequeno trânsito na volta para casa. Anie continuou dormindo a viagem inteira, fiquei surpresa.
– Nossa, Anie não vai dormir tão cedo hoje. – Arthur disse assim que estacionou o carro na nossa garagem.
– Vai ser o teu passatempo, pode escrever. – Avisei abrindo a porta do carro. Estou tão cansada, não vou ter energia alguma para ficar acordada com Anie.
– Aah não, amor. Lua, você não vai fazer isso comigo não. – Ele também abriu a porta do carro e saiu. Abriu a porta de trás e tirou o cinto de segurança da cadeirinha da nossa filha. – Pois só porque você tá falando isso, ela não vai me dar trabalho algum. – Depositou um beijo na testa da nossa filha assim que tirou ela do carro.
– Vamos ver… – Sorri.
– A viagem foi cansativa. Lua precisa descansar, querido. – Minha sogra ficou do meu lado. Arthur riu.
– Nem vem com essa, mãe. – Ele passou por nós duas, mas parou assim que chegou em frente a porta. Peguei a chave de casa para abrir a porta. – Minha mãe acha que te conhece… – Sussurrou.
– Mas ela não mentiu. – Respondi.
– Não se faça de sonsa, Lua Blanco. – Me olhou. – Eu sei que você me entendeu. – Garantiu. Abri a porta e ele entrou com Anie, adormecida, no colo. Subiu a escada para deixá-la no quarto. Neguei com a cabeça.
– Preciso ver a hora do voo amanhã.
– A senhora já comprou a passagem? – Perguntei.
– Não, Lua. Deixei para comprar agora a noite.
– Qual horário a senhora quer ir?
– No máximo umas dez… quero descansar um pouco antes de ir ao hospital. – Nos sentamos no sofá. Meus pés estão inchados. – E amanhã você também tem trabalho, não é mesmo?
– Sim. Entro umas sete e meia. – Respondi. – Esse mês farei uma viagem. Acho que ainda nem tinha comentado com a senhora…
– Não. Ainda não. Para onde? A trabalho?
– Sim, a trabalho. Para o Texas. Dia quinze ou dia dezesseis. – Contei. – Eliza me liberou. Disse que tudo bem até antes do oitavo mês.
– Isso mesmo. No oitavo mês já é mais arriscado por conta do parto prematuro. A maioria dos médicos não recomenda depois da trigésima sexta semana. Você está na vigésima…
– Vigésima quarta semana.
– Última semana do segundo trimestre. – Minha sogra sorriu. – Como você está se sentindo agora? Como foi lá com os teus pais?
– Para ser bem sincera, foi mais tranquilo do que eu esperava. No fim, Arthur estava certo. – Falei e ele desceu a escada.
– Eu estava certo sobre…? – Perguntou curioso.
– Sobre a reação dos meus pais. – Expliquei e ele sentou-se ao meu lado no sofá.
– Que bom, Luh. – Sorriu sem mostrar os dentes. – Agora você está mais tranquila. – Completou e eu assenti. – Isso que importa.
Bart se aproximou e começou a cheirar as minhas pernas. Não fez nenhum movimento quando viu Arthur, eu estranhei.
– Olá, querido. Você descansou bastante? Estava com saudades de mim, é? – Comecei a fazer carinho em suas orelhas e em sua cabeça enquanto falo. Ele não latiu, apenas aceitou o carinho e colocou a cabeça sobre os meus joelhos.
– Não é possível que ele esteja chateado comigo. – Arthur notou incrédulo. – Isso é sério, Bart? Você sabe que Lua foi comigo, não sabe? A ideia foi dela. – Ele se justificou para o cachorro. – É inacreditável! – Exclamou. Ri.
– Tudo bem, garoto… eu também senti a sua falta. – Contei. Ele me deu uma lambida nos joelhos, o que fez Arthur rir alto, ele sabe que eu não gosto quando Bart começa a me lamber. – Ooh, não! Ok, ok… mas não precisa me lamber. – Avisei.
– Vem aqui, garotão! – Ele chamou o cachorro. Mas Bart não foi. Deu meia volta e foi deitar em sua cama. – Lua! – Arthur está desacreditado. – O meu cachorro está chateado comigo. – Ele me encarou.
– Que eu saiba, esse cachorro é da nossa filha.
– Você me entendeu. – Ele revirou os olhos. – Foi a Lua quem quis sair. – Continuou a falar. – Não é justo isso não.
– Para de drama. Daqui a pouco ele vem atrás de você.
– Quando estiver com fome ou quiser dar uma volta. Vou deixá-lo de castigo.
– Hahahahaha… Até parece. – O olhei. – Você não está falando sério. – Acrescentei. Minha sogra riu.
– Agora você é a responsável por ele.
– Nem vem! As condições para termos um cachorro em casa foram acordadas e muito bem acordadas. Não vem com essa não. – Tratei logo de deixar bem claro. – Se por um acaso você esqueceu, não tem problema, eu faço questão de te lembrar. – Contei e ele riu roçando o rosto no meu pescoço.
– Não precisa. Não foi sermão que você me prometeu quando chegássemos em casa. – Sussurrou. Agora foi a minha vez de olhá-lo desacreditada. Olhei para minha sogra e Arthur riu.
– A senhora está ouvindo essa conversa do seu filho? Depois ele fica se fingindo de constrangido quando eu respondo a altura. – Tentei afastá-lo, mas Arthur me abraçou pela cintura.
– Ei, não vou deixar você ficar chateada por isso, Luh. – Me disse ainda tentando segurar a risada. – Você também não precisa fingir que esse comentário te constrangeu.
– Você tá muito saidinho, é isso que eu estou vendo. – Pontuei me afastando dele.
Arthur ficou me encarando tentando segurar um riso. O celular da minha sogra começou a tocar. Ela pegou o aparelho, olhou o visor e sorriu.
– Vou atender e já volto. – Disse e levantou-se do sofá. – Licença.
– Licença total pra senhora falar com o seu namorado gato. – Falei. Minha sogra riu mais ainda.
– Lua! – Arthur me repreendeu.
– Alô. Boa noite, querido. – Laura disse quando atendeu a ligação.
– O que foi? Falei alguma mentira? – Minha sogra já tinha subido a escada.
– Você é uma mulher casada.
– E totalmente boa da visão, graças a Deus!
– Quem atende a ligação falando “Boa noite”, hein? – Questionou só para não perder a oportunidade.
– Uma pessoa educada.
– Quando é namorado? Eu falo “Oi, querida.” ou “Oi, meu amor.”
– Lua também, quando você tá chateado. – O lembrei. – Sua mãe não ia chamar ele de gato ou de gostoso na nossa frente, Arthur. – Comentei só para provocá-lo mesmo.
– Lua, é o namorado da minha mãe. Sacanagem. – Negou com a cabeça.
– Você tá com ciúmes da tua mãe, isso sim que é sacanagem, Aguiar.
– Eu estou falando de você.
– Hahaha… esqueceu que eu te conheço? Além do mais, você tem um padrasto bem gato. A tua mãe soube escolher…
– Aah não, loira. Para com esse papo. Só eu que estou saidinho, não é mesmo? – Se aproximou ficando sobre mim.
– Nem vem. – O avisei logo. Ele desceu os beijos pelo meu pescoço. – Arthur!
– Por que eu te ouviria?
– Porque estamos na sala… – Arthur me interrompeu.
– Se eu bem me lembro, há algumas semanas isso não nos impediu… – se afastou um pouco e me encarou – e foi uma delícia. – Sussurrou com os lábios praticamente colados nos meus.
–... é cedo e a tua mãe está em casa. – Completei, me agarrando a todo o meu autocontrole, caso contrário, começaria a gemer com as provocações dele.
– Lua, a minha mãe foi falar com o namorado. Você acha que tem alguma possibilidade dela descer agora? – Me encarou novamente e depois desceu os beijos do meu pescoço pelo meu colo, entre os seios e até chegar a minha barriga.
– O que vocês conversaram? – Mudei de assunto sentindo o meu corpo esquentar.
– O quê? Não mesmo, Lua. Não vamos falar disso. – Respondeu com os lábios quase colados na minha barriga. – Oi, meu garotinho. – Começou a beijá-la. – O papai sentiu saudades dos teus chutinhos hoje, meu amor. Vamos conversar? – Perguntou olhando para a minha barriga. O bebê chutou uma, duas, três vezes. Arthur sorriu. – Eu te amo, filho. – Senti a mão dele adentrar a lateral do meu vestido.
– Arthur, não. – Falei séria. Eu não vou deixar que ele levante o meu vestido aqui, agora, na sala.
– Por que? – Ele pareceu não entender.
– Por que? Porque não estamos sozinhos.
– Eu só vou fazer carinho na tua barriga, Luh. Nada de mais.
– Aqui não. – Voltei a dizer. Ele revirou os olhos, mas não insistiu. Tirou a mão de dentro do meu vestido e segurou minha cintura.
– Sua mamãe é muito chata. – Disse contra a minha barriga. – Linda e chata! – Me olhou, depois abaixou a cabeça, depositou um beijo carinhoso em minha barriga e voltou a subir os beijos até chegar a minha bochecha. – E gostosa. – Sussurrou com a voz mais rouca. – Eu não posso elogiar a mãe do meu filho assim, não para ele. – Ele continuou falando baixo. – Ainda é um bebê. Só você precisa saber disso. – Fechei os meus olhos.
– Eu não quero que você diga ao bebê que eu sou chata. – Pedi sincera. Senti quando Arthur se afastou um pouco, mas permaneci de olhos fechados. – Ele já mal se movimenta quando sou eu quem converso com ele. – Acrescentei. Tem sido um dos meus tópicos mais sensíveis nesta gravidez. Abri os meus olhos. Arthur ainda está me encarando visivelmente confuso.
– Você tá falando sério, Lua? – Ele parecia não acreditar, assenti. – Desculpa, de verdade. – Pediu sincero e se afastou mais ainda, embora continuasse deitado. – Eu tenho certeza de que o bebê já sabe que você é uma mamãe incrível, por tudo que você tem enfrentado por ele. Quando ele nascer, só confirmará isso. Ele mexer agora muito ou pouco não significa que te ache menos legal do que eu, Lua. – Disse gentilmente. Arthur sempre tenta amenizar as minhas inseguranças, ele é incansável nisso. Me deu um beijo na bochecha e em seguida encostou a testa na minha. – Não quero te ver chateada com esse comentário. Juro que não farei mais isso… – O interrompi.
– Não é isso, Arthur. Eu sei que eu sou chata e que você não vai mudar de ideia tão cedo… – Falei baixo. Ele está de olhos fechados e eu estou passando os dedos pelos cabelos dele. Soltei um suspiro. – Em outro momento isso não me incomodaria. Pode falar para mim, mas para o bebê não. – Pedi. Vi quando ele curvou os lábios, mas segurou o riso.
– Ok, Lua. Me desculpa. Eu vou pedir para o bebê também… – Ele abriu os olhos. – Não quero que, por um comentário meu, ele ache que terá uma mãe chata. – Disse.
– Não precisa debochar.
– Mas eu não estou debochando. – Afirmou. – Ei! – Disse em seguida, mas eu o afastei. – Não está confortável para você? – Perguntou, neguei. Ele se afastou mais uma vez, agora sentando-se no sofá. Ficamos um tempo em silêncio. Não quero discutir com ele por isso.
– A gente não precisa brigar por isso. – Esclareci, ele me olhou. – Você diz que eu posso te falar tudo…
– E pode. – Confirmou. – Entendo. Não quero te deixar desconfortável com nada. – Embora ele esteja falando de maneira calma, sinto que parece desapontado. – Me desculpa. – Pediu novamente.
– Você já se desculpou e eu já aceitei. – Respondi e toquei em seu braço. Arthur ficou fitando algo, não me olhou.
– Não gosto de chatear você. Ainda mais com comentários que eu poderia evitar. Sabe… – Me olhou. – às vezes eu nem sei mais o que falar. – Confessou. – Você tem ficado magoada com muitas coisas que antes… antes só não era assim. Te chateavam antes? Devia ter me falado.
– Não. Eu também não me entendo às vezes. – Confessei. – Mas agora eu não estou chateada com você. Só quis te avisar… só isso.
– Já estou avisado. Não se preocupe. – Ele está bem frio pra quem estava me provocando há alguns minutos. Talvez eu não devesse ter falado isso, mas sei que se guardasse, poderia piorar tudo. – Você está grávida e está mais sensível. Eu entendo tudo isso. – Explicou pacientemente, suspirei.
– Eu sei que você entendeu. E obrigada por isso. Não é tão fácil quanto parece.
– Nenhum pingo, Lua. Mas também não é algo que me fará desistir. – Garantiu. E eu também sei disso.
– Obrigada! – Agradeci. Arthur segurou a minha mão.
– Quer subir? Tomar um banho? Descansar? Você precisa descansar. A viagem foi cansativa. – Disse e levantou-se do sofá. – E aí?
– Vou tomar um banho. Você vai também? – Perguntei e me sentei no sofá.
– Depois de você.
– A gente pode tomar banho juntos, se você quiser. – Sugeri.
– Melhor não. – Negou cautelosamente.
– Arthur… – Falei. Ele me olhou. – não precisa ser assim.
– Mas está tudo bem. – Garantiu. – Não vou querer só tomar banho com você e você está cansada. Então, melhor não. – Explicou, mas sei que não é só por isso.
– Você é péssimo com mentiras. – Aceitei a ajuda dele para me levantar do sofá. Arthur riu. – É mais fácil você falar a verdade.
– Ok. Não quero transar com você. – Disse. – E não queria te chatear com isso também.
– Não estou tão sensível assim.
Me fiz de dura, mas agora estou é com raiva. Seguimos para o quarto. Minha sogra ainda está falando ao celular. Arthur não disse mais nada até chegarmos ao quarto.
– Não parece que eu ainda posso falar sobre tudo com você. – Falei quando ele fechou a porta.
– Lua, se você quiser brigar, avisa. Tô fora. – Ele parece cansado. – Eu não sei o que aconteceu na casa dos teus pais. Se algo te chateou lá, eu só não quero que você use um comentário meu para criar essa situação que eu estou vendo se formar.
– Não estou criando nenhuma situação. Falei algo que me incomodou. Você diz que me entende, mas não é bem assim. Quando discordamos, você sempre me trata diferente. E eu não quero discutir com você. Só não quero que me trate mal.
– Tudo bem! – Concordou. E odeio quando ele faz isso.
– Odeio quando você fala assim. Quando concorda comigo sendo que nem é isso que quer fazer. Qual é?
– Você me trata pior, Lua. – Disse. O encarei.
– Você tem certeza que não quer brigar? – Falei Irônica. – Quer saber? Não preciso ficar implorando pra você transar comigo.
– É claro que não precisa mesmo. – ele concordou.
– Não somos nenhum casal de adolescentes. Se você quer agir assim, o problema é seu. – Acrescentei e segui para o banheiro. Arthur não retrucou.
Entrei no banheiro e fechei a porta. Nem consigo chorar. Estou tão chateada. Quero gritar.
Tirei a minha roupa e entrei debaixo do chuveiro. Acho que vou caminhar. Preciso relaxar, não quero me estressar ainda mais. Se eu ficar em casa, posso, facilmente, piorar o clima que já se instalou entre nós dois.
Não demorei muito no banho. Quando saí do banheiro, vi Arthur deitado na cama. Ele está mexendo no celular. Fui para o closet. Escolhi uma calça de moletom, uma blusa e um all-star.
São quase sete e quarenta da noite. Anie está quase acordando, eu tenho certeza. Me vesti voltei para o quarto. Arthur me olhou assim que me aproximei da cama para pegar o meu celular.
– Você vai sair? Vai para onde? – Indagou e deixou o celular de lado.
– Resolvi dar uma caminhada…
– Lua, são quase oito horas da noite. Acabamos de chegar de viagem. Você não acha melhor descansar? Esqueceu que tem trabalho amanhã?
– Não esqueci. E não quero descansar. É só uma caminhada. Não vou demorar. – Peguei o meu celular.
– Você não pode simplesmente tomar uma decisão precipitada porque está chateada. Depois você se arrepende e fica se sentindo mal. – Me disse. O encarei.
– O que pode acontecer por que eu decidi caminhar?
– Lua, é só você entender que precisa mais descansar do que caminhar a uma hora dessas da noite. – Continuou insistindo. Mas eu não o ouvi. Peguei meu celular e saí do quarto. – Lua! – Ele me chamou.
Encontrei com Anie na porta do quarto dela quando saí do meu quarto. Acredito que minha sogra ainda esteja falando ao celular, a porta do quarto ainda está fechada.
– Ei, você acordou, filha… – Me aproximei dela.
– Sim, mamãe. Agolinha. – Disse e me abraçou. – A senhola vai sair?
– A mamãe vai dar uma volta.
– Só a senhola?
– Sim. Mas é bem rápido.
– No parque?
– Não, filha. Só aquilo pelo quarteirão mesmo. Você quer ir?
– Eu quelo, mamãe. – Disse animada. – Vou calçar o meu sapato. – Ela voltou correndo para o quarto. Fiquei esperando ela na porta. – Mamãe, o Bart pode ir com a gente? Ele ainda não passeou. – Pediu.
– Pode, desde que vocês dois se comportem e me obedeçam.
– Mas a gente sempe obedece, mamãe. Só às vezes que o Bart corre, mas isso é porque ele é cachorrinho e gosta de correr um monte…
– Só ele gosta de correr é? A senhorita não gosta nenhum pouquinho? – Perguntei. Ela riu terminando de calçar os sapatos.
– Já sei calçar os meus sapatos sozinha. – Me mostrou, ela quiser dizer “amarrar os sapatos sozinha”. O laço do tênis é a coisa mais engraçada, mas não arrumei. Deixei que ela fizesse sozinha.
– A mamãe está vendo, meu amor. Parabéns! Você já está quase uma adolescente. – Falei e ela sorriu mais ainda.
– Vamos, mamãe?
– Vamos lá.
Anie segurou a minha mão e descemos a escada.
– Pega a guia do Bart, filha. – Pedi e Anie correu até a dispensa onde são guardadas as coisas do Bart. – Vamos lá, garoto. Vamos dar uma voltinha. – Chamei e o cachorro passou na frente abanando o rabo e parou em frente a porta.
– Aqui, mamãe… – A pequena me entregou a coleira e a guia do cachorro. Coloquei nele e abri a porta de casa.
Anie está muito animada. Na verdade, os dois estão animados e espero que eles não pensem em sair correndo. Não terei pique para acompanhá-los.
– Deixa que eu levo o meu cachorro, mamãe. – Me pediu.
– Nem pensar, filha. Se ele começar a correr, você não terá força para segurá-lo.
– Mas ele me obedece também.
– Você pode segurar junto comigo, mas sozinha não.
– Tudo bem. – Ela concordou sem discussão.
Andávamos bem devagar. O vento do outono é uma delícia. O quarteirão está iluminado e movimentado. Nem todas as noites de domingo são assim, geralmente nosso bairro é muito silencioso. É um excelente lugar para se morar.
– A senhola pode compar um sorvetinho?
– Filha, não tem sorveteria aqui por perto.
– Nem uma pipoquinha?
– Eu não sei. Vamos ver… se encontrarmos, a mamãe compra pra você.
– Tá bom então, mamãe. – Concordou novamente. – Amanhã eu vou pra escola.
– Sim.
– Depois tem aula de balé, não é?
– Sim. Amanhã e sexta-feira.
– Outo dia eu posso passear no parque?
– Pode. Tem que pedir a Carol para trazer você. Mas em um dia que não tiver aula de balé. – Expliquei.
– Pode ser o meu papai?
– Sim, se ele estiver em casa.
– Então eu vou perguntar pra ele.
Andamos mais um pouco e avistamos uma confeitaria aberta. Anie ficou eufórica porque quer que eu compre doces para ela.
– No máximo dois doces, filha. Senão, você não vai querer jantar.
– Tá bom, mamãe. Eu aceito ser assim. A senhola compa pra minha vovó, para o meu papai, pra Carla e também pra Carol? – Me pediu. Ri, mas assenti. – Vou escolher dois pra mim… – Entramos na confeitaria. – um de molango e um de chocolate. A senhola vai queler também?
– Não, meu amor. – Respondi e chegamos à vitrine de doces. – Sua avó vai gostar desse de morango, olha só…
– Válias futas em cima… é verdade. A gente compa desse pra minha vovó. E pro meu papai de chocolate que é o que ele mais gosta. – Disse toda convicta. Apenas assenti.
– E pra Carla e pra Carol?
– De molangos… e desse de chocolate que é branco, tá?
– Tá bom. Eu vou pedir.
Chamei a atendente e falei as nossas escolhas. A moça separou os doces e me disse o valor a ser pago. Fiz o pagamento e saímos da confeitaria.
– Eu só vou comer quando chegar em casa.
– Se for depois do jantar, melhor ainda. – Comentei. Anie me olhou e sorriu de forma sapeca.
– A gente não pode correr nenhum pouquinho, mamãe?
– Não, Anie. Eu disse as condições antes de sairmos de casa. – Lembrei ela.
– Tá bom, minha mãe.
Continuamos a nossa caminhada. Anie está segurando a sacola de doces, balançando para frente e para trás, espero que esses doces sobrevivam até chegarmos em casa.
– Eles vão gostar dos doces.
– Vão sim, filha.
– Por que a senhola não quis?
– A mamãe não pode comer muito doce, filha, por conta do bebê. A mamãe segue uma dieta. – Expliquei pacientemente.
– Quando o bebê nascer a senhola vai poder comer? – Ela parou de andar e fez carinho na cabeça de Bart.
– Sim. Sem problema algum.
– Quando eu tava na sua barriga também era assim? – Perguntou curiosa.
– Sim. Também foi assim, filha.
– A senhola acha ruim? – Ela voltou a andar.
– Não. A mamãe entende. Está tudo bem. É pelo bem do bebê. E eu quero o bem dele.
– Pra ele nascer saudável?
– Exatamente, meu amor. – Sorri.
Anie me olhou e também sorriu. Ela segue fazendo carinho na cabeça e nas orelhas de Bart enquanto caminhamos.
Chegamos ao fim do quarteirão e voltamos. Anie está cantarolando uma musiquinha infantil, enquanto anda alguns passos na minha frente. Bart segue muito comportado andando calmamente ao meu lado.
– Tem que tomar banho quando chegar em casa?
– Tem sim. Você ainda não tomou depois que chegamos de Bibury.
– É que eu dormi.
– Eu sei. E a senhorita vai ter que dormir cedo, pois amanhã tem aula.
– Mas eu ainda não estou com sono, mamãe.
– Tanto eu quanto o seu pai vamos ter que acordar cedo de manhã. Não podemos ficar acordados até tarde com você.
– Meu papai fica.
– Se alguém for ficar, certamente, será ele. Ele já está informado sobre isso.
– E a minha vovó?
– Sua avó voltará para Manchester pela manhã. – Respondi.
– E quando ela vem de novo?
– Aah, isso só ela poderá te responder.
– A gente pode sair de novo quando ela vier, não é?
– Podemos sim, filha.
Já estamos nos aproximando da rua de casa.
– Eu posso abrir a porta? – Me perguntou.
– Quando chegarmos em casa eu te dou a chave. – Respondi.
– Obligada, mamãe.
– De nada. – Anie voltou a caminhar ao meu lado.
Peguei a chave de casa, que estava no bolso da minha calça de moletom, e entreguei a Anie assim que chegamos em frente de casa.
– Agola eu já chego, mamãe. – Disse ficando na pontinha dos pés.
– A mamãe está vendo, querida. – Sorri e esperei ela girar a chave e abrir a porta.
Bart correu assim que Anie abriu a porta de casa. Ela correu logo em seguida. Arthur está sozinho na sala, sentado no sofá, a tevê está ligada.
Pov Arthur
Ouvi o barulho de chaves e a voz de Anie na porta de casa. Ela, Lua e Bart tinham saído. Bart entrou em casa correndo assim que Anie abriu a porta. A garotinha deu um gritinho e também entrou correndo em casa. Bart passou direto para a cozinha, deve ter ido beber água, e Anie se jogou em meu colo. Ela está segurando uma sacola nas mãos.
– Papai, eu touxe doces. A minha mamãe compou doces.
– Você deve ter adorado! – Encostei a testa na dela.
– Hahaha sim!! – Ela está muito animada. – Mas, papai, não é só pra mim. Eu touxe pra todo mundo. Só a minha mamãe que não quis. – Explicou.
– Aah, você pensou em todos nós? – Sorri com carinho.
Anie é a criança mais gentil que eu conheço. Me faz feliz que também seja a minha filha.
– Sim, papai! Em todos! Mas só depois do jantar, tá?
– Tá certo. Será a nossa sobremesa. – Falei. Anie concordou.
– De chocolate.
– O meu preferido, bebê. – Anie me deu um beijo de esquimó no nariz. – Você é a melhor filha do mundo. – Sussurrei.
– E você é o meu papai preferido.
– Eu te amo, filha. – Declarei segurando ela. Anie jogou o corpo para trás e está me segurando pelo pescoço.
– Eu te amo, papai. – Ela me deu um beijo na ponta do nariz e correu para a cozinha. Sorri. Lua se aproximou e sentou-se no sofá.
– Pelo menos uma das minhas garotas não está chateada comigo. – A olhei. Lua fez uma careta antes de me responder:
– Eu não estou chateada com você. – Disse. Mas sei que está.
– Deu certo a caminhada? Você espaireceu? Está mais relaxada? Calma? – Perguntei, Lua me encarou.
– Você está sendo debochado. – Pontuou. Neguei.
– Claro que não, Lua. Quero saber, oras… saiu daqui toda irritada. Fiquei preocupado. Só não fui atrás de você porque vi que você tinha levado a nossa filha e o nosso cachorro.
– Se eu tivesse pensado em fugir… – Brincou.
– Nem diz isso. Teria acabado comigo. – Falei sério.
– Bobo.
– Você sabe que é verdade. Tudo o que tenho de mais importante estava com você… nossos filhos, Bart e você. – Me aproximei dela. – Não necessariamente nesta ordem. – Finalizei.
– Eu não ia fugir. – Me disse.
– Eu sei. Mas deu certo a caminhada?
– Foi legal. As minhas companhias se comportaram. – Disse divertida. Sorri junto com ela.
– Que bom! – Me aproximei ainda mais, com cautela, Lua pode me parar a qualquer momento. Ela está me encarando, sabe exatamente o que eu estou pensando em fazer. – Posso fazer uma massagem depois… – contei. – com as mãos… – olhei para a porta da cozinha e para a escada, não tem ninguém – e com a boca. – Sussurrei. Lua riu e eu conheço essa risada.
Terei meu pedido suspenso, barrado, negado, rejeitado, recusado e embargado.
– Não quero massagem. Estou muito bem assim. – Disse fazendo-me rir.
– Levei um fora da minha esposa?
– Igual eu levei do meu marido. – Me lembrou.
– Ressentimento não faz bem, querida.
– Apenas uma retribuição. – Me disse. – Foi você quem deixou bem claro que não queria transar comigo, agora vem com essa? Tá achando o quê? – Ela está tão calma, que estou até preocupado. Não respondi. – Falei que não preciso me humilhar por isso. – Acrescentou.
– E eu lembro de ter concordado com você. – Falei. – Não posso beijar também?
– Para com isso, Arthur. – Me pediu já sem muita paciência.
– O que foi que eu fiz?
– Você fica se fazendo de desentendido e você não é nenhum pouco assim.
– Eu estou perguntando o que você quer. Não quero te deixar mais irritada.
– Não estou irritada.
– Aah não? – A encarei. Lua voltou a negar.
– Sua mãe ainda está falando com o namorado? – Mudou de assunto.
– Não sei, Lua. – Respondi sem muito interesse.
– Com certeza não está sendo uma conversa qualquer. Será que é parecida com a nossa?
– Nem vem com esse papo. Eu não tenho o menor interesse em saber o que ou como eles conversam. – Falei. Lua riu.
– Não vem você com esse pensamento ridículo de homem das cavernas…
– Vamos mudar de assunto que é melhor. – Pedi.
– Sua mãe merece ser feliz, Arthur.
– E por acaso eu estou impedindo ela de ser? – Questionei.
– Você deixará ela ainda mais feliz quando parar de pensar dessa forma. – Falou.
– Mas o que é que eu tô fazendo, Lua? Eu não estou impedindo ela de fazer nada.
– Seria ainda mais ridículo se você fizesse isso.
– Pois é e eu não faço. Não sei o que tanto você implica com essa história.
– Não estou implicando. Eu insisto porque sei que é algo importante para a Laura.
– Ela não precisa da minha aprovação para nada, Lua. Por que você acha que isso é realmente importante para ela?
– Porque eu sei. Já conversamos…
– Uhm… e ela te disse isso?
– Não, Arthur. Eu estou inventando. – Ironizou. Fechei os meus olhos.
Ainda bem que essa é a última gravidez dela. Pensei.
– Você quer jantar? Eu posso te fazer companhia. – Agora foi a minha vez de mudar de assunto.
– Vamos esperar a sua mãe. – Lua respondeu.
– Vocês foram até onde?
– Andamos até o fim do quarteirão e depois voltamos.
– Eu fiquei preocupado. – Admiti. – Saí do quarto para ir atrás de você. – Contei. Lua negou com a cabeça. – Mas vi que a Anie e o Bart não estavam em casa. Você estava em ótima companhia e eu não quis te irritar. Por isso não fui… Por que você faz essas coisas? Está grávida, devia estar descansando.
– Eu estava disposta. Quis aproveitar a minha energia para fazer alguma coisa boa para mim. Eu jamais faria algo para prejudicar o bebê.
– Eu sei que você não faria, Luh. Não pensei nisso. Eu só me preocupei com você saindo assim de casa, à noite, sozinha e a pé ainda por cima.
– Você não precisa se preocupar tanto assim com tudo… Eu estou bem. – Me garantiu.
– É impossível. Você sabe que eu me preocupo muito. – Voltei a me aproximar dela.
– Mas está tudo bem. – Afirmou acariciando os meus cabelos, eu encostei o meu rosto no colo dela e aproximei os lábios do seu pescoço para depositar beijos. Lua não está mesmo chateada comigo, se estivesse, não deixaria eu me aproximar assim. – O que você ficou fazendo?
– Depois que vi que você não tinha ido sozinha, eu voltei para o quarto e fui tomar banho e depois desci aqui para a sala… – Respondi.
– Mamãããee… – Ouvimos Anie gritar e ela apareceu correndo na sala. Voltei à minha posição anterior. – Mamãe, eu já quero jantar. – Disse.
– Vamos esperar a sua avó. – Lua respondeu.
– Só mais uns dez minutinhos. Se ela demorar, papai janta com você. – Falei e Anie veio me abraçar.
– Quelo comer a sobremesa. – Cochichou. Ri.
– Tudo bem.
– Por isso a pressa em jantar. – Lua acabou escutando e não deixou de fazer esse comentário. – Vai tomar um banho. Assim vai passar os dez minutos rapidinho. – Acrescentou.
– Tá. Então eu vou pedir pra Carol me ajudar. – A garotinha voltou correndo para a cozinha.
Horas mais tarde…
Eu acabei de colocar Anie para dormir. Hoje ela deu mais trabalho. Dormiu bastante à tarde e acordou depois das sete, e são quase meia noite e há poucos minutos que consegui fazê-la dormir. Lua já tinha me encarregado desta tarefa desde que saímos de Bibury. Ela me disse que está bem, que estava disposta, mas sei que está cansada. A viagem foi cansativa e ela acha que não notei que os seus pés estão bastante inchados.
Voltei para o quarto assim que notei que Anie já tinha adormecido. Não sei se encontrarei Lua acordada. Fazem longos minutos que escutei ela e minha mãe se despedindo antes de entrarem nos quartos.
Amanhã Lua tem trabalho, os dias têm sido agitados e ela tem feito de tudo para dar conta dos compromissos e das responsabilidades, com ela, com a gravidez, em casa com a nossa família e no trabalho.
Eu queria poder ajudá-la mais do que tenho ajudado, mas sei que há coisas que não posso fazer por ela. Amanhã eu também tenho trabalho, não sei a que horas voltarei para casa. Só espero encontrar Lua ainda acordada.
– Pensei que fosse te encontrar dormindo. – Falei quando a vi acordada, deitada na cama.
– Fiquei te esperando. – Contou. Sorri.
– Já volto. – Avisei e fui até o banheiro.
– Eu sabia que Anie ia demorar demais para dormir. – Disse.
Ouvi porque deixei a porta aberta. Fiz xixi e depois escovei os meus dentes. Voltei para o quarto.
– Eu também. Só não imaginei que fosse tanto. Quase uma hora. Eu li dois livros e cantei três músicas. – Falei me deitando na cama. Lua se virou de lado para me olhar.
– Ela te ama tanto.
– Ama você também, Lua. – Afirmei. Lua ficou me olhando. – Desculpa ter feito aquele comentário. Eu não quis te deixar insegura em relação aos nossos filhos e muito menos sobre a mãe que você é para eles. – Falei mais uma vez. Sei que isso acabou deixando ela mais triste do que demonstrou quando me pediu para não fazer mais o comentário.
– Eu lembro de ter dito que já desculpei você. – Respondeu.
– Eu sei… – Acariciei uma de suas bochechas com o polegar. – Eu te amo tanto, Luh. – Declarei e me inclinei para a frente, para lhe dar um beijo nos lábios. Lua retribuiu.
– Eu também te amo. – Ela também declarou e me deu outro beijo. – Eu quero dormir abraçada com você. – Disse mais baixo, com os lábios quase colados ao meu. – Eu não fiquei chateada com você. Eu só te falei o que eu não gostei… você me pede para falar.
– Sim. Mas você ficou chateada depois…
– Você me dispensou.
– Não foi isso, Lua. – Deixei claro. – É que, ultimamente, eu não estou sabendo muito como lidar com algumas situações. Eu fico confuso, mas eu entendo que muitas coisas são pelos hormônios da gravidez. Só que tudo muda muito rápido… e… eu tento. Você sabe que eu tento.
– Eu sei. – Ela assegurou e levou uma das mãos até a minha nuca e ficou massageando. – Eu sei também que sou chata, eu sei. Não foi isso que me deixou mal…
– Foi eu ter falado isso para o bebê… – Acrescentei e levei uma das mãos até a barriga dela. Lua assentiu. – Não farei mais isso, amor. Eu prometo! – Beijei novamente os lábios dela e depois desci os beijos até sua barriga. Lua está com uma camisola, depositei vários beijos na barriga dela por cima da mesma. – É por isso que quero me desculpar com ele também. – Ergui o rosto para olhá-la. Depois abaixei novamente. – Desculpa ter chamado a sua mamãe de chata. A mamãe não é chata, meu garoto. É a melhor mamãe que você poderia ter. Eu tenho certeza que, mesmo tão pequeno, você já sabe disso. O papai não quer que você ache isso dela, combinado? – Perguntei com os lábios colados na barriga dela. O bebê deu um chute muito forte. Fiquei surpreso. Lua levou as duas mãos até a barriga. – Ele chutou muito forte, loira! – Exclamei erguendo rapidamente o meu rosto para olhá-la. – Ele ainda não tinha feito isso.
– Não mesmo. – Lua fechou os olhos. – Eu preciso ir ao banheiro. – Me disse e eu me afastei para que ela se levantasse da cama.
– Doeu? – Quis saber.
– Não. Mas me deu vontade de fazer xixi. – Fez uma careta e levantou-se da cama. Comecei a rir.
– Você é muito idiota! – Exclamou revoltada. O que não ajudou muito, já que eu ri ainda mais.
Lua não demorou muito no banheiro e logo voltou para o quarto.
– Eu quase fiz xixi na calcinha. – Disse ao se deitar na cama. – Imagina quando eu estiver com mais meses? – Ela passou a mão sobre a barriga.
– Ele concordou comigo. – Me aproximei dela novamente. – Ele sabe que a mamãe dele é incrível. – Mordisquei o lóbulo da sua orelha. – Eu te amo.
Nos beijamos. Lua me puxou para mais perto e puxou os meus cabelos. Retribui o beijo com a mesma intensidade. Quando cessamos, encostei a testa na dela.
– Já quer dormir? – Perguntei. Lua negou. – Quer uma massagem?
– Não. – Ela riu. – Não mesmo. – Frisou.
– Uhm… por que já? – Me fiz de desentendido.
– Aaii… que inocente. – Ela semicerrou os olhos. – Quer mesmo que eu responda?
– Hahaha… eu sugeri só a massagem mesmo, sua safada. – Rocei os lábios na bochecha dela, Lua soltou uns risinhos e encolheu os ombros. – Deixa eu te perguntar – me ajeitei na cama –, e como foi lá com os teus pais? – Eu quero saber desde que chegamos em casa. Lua me olhou.
– Não quero falar sobre isso…
– Não parece que foi tão ruim ou vocês disfarçaram muito bem, você principalmente. – Pontuei. Ela negou.
– Eu não menti pra você. – Garantiu. – Só não quero falar sobre isso.
– Não tá fazendo isso só porque eu não quis falar sobre a conversa com a minha, não é mesmo?
– Não. Claro que não, Arthur. Você escutou quando eu disse que você estava certo.
– Ou eles tiveram uma reação positiva ou as coisas aconteceram como já imaginávamos. – Falei.
– Um pouco de cada. – Me disse. Eu não vou mais insistir.
– Tudo bem. Vamos dormir? – Perguntei.
– Vamos. Eu preciso acordar cedo amanhã. – Lembrou. – Outro dia a gente conversa… agora só não é uma boa hora.
– Tudo bem. Quando quiser, Luh. – Concordei. – Eu também quero dormir abraçadinho com você. – Murmurei.
Ela riu. Tinha me dito isso há alguns minutos. Me ajeitei na cama e abri os braços para que ela se acomodasse. Lua se juntou a mim, passou um dos braços sobre a minha barriga e jogou uma das pernas sobre as minhas.
– Boa noite, meu anjo. – Lhe dei um beijo na testa.
– Boa noite, amor. – Ela me deu um beijo no pescoço.
Pov Lua
Londres | Quarta-feira, 4 de outubro de 2017.
Escritório de Advocacia
Vinte e quatro semanas e três dias de Ravi.
Faz dois dias que estou pensando em contar sobre a gravidez para os meus colegas de trabalho. Hanna tem me olhando tanto, que a qualquer momento sei que vai comentar ou me perguntar alguma coisa.
Ontem encomendei uma caixa com três biscoitos personalizados: um pijama azul, um chocalho e a revelação “É um menino.” Quando contei a Arthur, ele deu a ideia de eu colocar junto um envelope com a foto do ultrassom dentro. Amei a ideia na hora.
Estou muito animada para contar a Hanna, Rose e Adam. Sei que Hanna vai implicar porque contei a Ryan primeiro.
Peguei a caixa com os biscoitos personalizados no caminho para o escritório, já coloquei o envelope com a foto do ultrassom dentro da sacola. Está quase na hora do almoço.
– Luuuuh! – Hanna abriu a porta e colocou a cabeça para dentro da sala. – Vamos andando? Até chegarmos lá embaixo já está na hora do almoço. – Disse divertida.
– Deixa o teu chefe saber disso. – Respondi.
– Se você estiver comigo, ele não falará nada. – Ela deu uma piscadela. – Por favor, Luh. Eu estou com fome e a bebê da Rose também.
Sim, ela tem usado a bebê da Rose para sair mais cedo para o almoço.
– Ela te contou? – Ironizei. Hanna revirou os olhos.
– Quase isso. Na verdade, Claire tá chutando bastante a barriga da Rose. Isso é tão esquisito, né? – Ela franziu o cenho. – Quando chega perto da hora do almoço que ela chuta mais. Acho que ela já sabe.
– Você tem um jeito muito peculiar de tentar persuadir as pessoas.
– Nunca cola com você, então eu preciso melhorar muito. – Bufou. Me levantei da cadeira. – Funcionou hoje?
– Não. Já está na hora do almoço. – Respondi olhando para o relógio. – Onde vamos hoje?
– O Adam ganhou dessa vez. – Ela fez uma careta. Peguei a minha bolsa e a sacola com a surpresa dentro. – Ele ainda não disse onde vai nos levar.
Saímos da minha sala e encontramos com Adam e Rose no corredor.
– Lua quer saber onde vamos almoçar?
– E agora você está sendo porta-voz da Lua? – Adam ironizou e apertou o botão do elevador.
– Eu sou subordinada a ela.
– Para com isso, Hanna. Ryan que paga o teu salário. – Falei.
– Vamos ao Florattica. – Adam nos contou. Hanna riu.
– E você vai pagar? – Questionou ela.
– Para de ser mão fechada, Hanna. – Ele resmungou. Entramos todos no elevador.
– Se eu almoçar hoje lá, vai comprometer o restante do meu mês.
– Nossa, Hanna, isso não é verdade. – Eu ri. – Você está sendo muito exagerada. – Ela me olhou muito séria.
– O restante da semana são vocês que pagarão o meu almoço. – Nos avisou.
– Ok, eu pago hoje só para você parar de chorar. – Falei. Ela me abraçou de lado. Rose riu.
– Aah não, Lua, você tem que parar de cair no papo da Hanna. Vai ver ela tem mais dinheiro guardado do que nós três juntos. – Adam provocou. Hanna o empurrou.
– Jamais! Isso é sério mesmo? – Questionou. Começamos a rir. – Eu ganho um salário de secretária. Vocês três são advogados e a Lua é rica. – Disse. – E já era rica antes mesmo de ser advogada.
– E quem te disse isso?
– Seus pais ora… todos sabemos quem são teus pais. – Afirmou. – E o teu marido. – Acrescentou.
– E eu sou uma dondoca? – Entramos no carro do Adam. – Eu tenho o dinheiro dos meus pais e do meu marido.
– Não. Você trabalha… o que eu acho estranho. Eu seria uma dondoca. – Ela deu de ombros.
– Você já quase é uma é olha que está longe de ser rica. – Rose comentou.
– Eu só não vou retrucar porque você está grávida. – Ela respondeu. – Não quero provocar hormônios de mulher grávida. – O comentário me fez rir. – Mas obrigada por pagar o meu almoço, querida. – Ela me olhou e agradeceu.
– Depois dessa gracinha, você vai me servir café por uma semana. – Brinquei. Eu não gosto de café.
– Eu faço até massagem se você quiser. – Ela sorriu. Rimos.
Chegamos ao restaurante uns quinze minutos depois. Adam já tinha feito a reserva.
– Posso pedir o que eu quiser, querida?
– Pode, Hanna. Só não vá se acostumando. Acho que vou pensar no conselho do Adam.
– Se eu fosse você, eu não faria isso. – Hanna riu depois de comentar.
Abrimos o cardápio e fizemos os nossos pedidos.
– Vou ao banheiro. – Avisei e me levantei da mesa.
Levei a sacola com a surpresa junto, eu não fui ao banheiro. Fui até um garçom e disse a ele que quando pedirmos a sobremesa, é para ele levar a sacola junto. Ele concordou e pegou a sacola da minha mão e eu voltei para a mesa.
– Vocês estão sabendo que Hanna está usando Claire para sair mais cedo na hora do almoço? – Perguntei.
– Lua! Não entregue meus planos.
– Meu Deus! Minha filha ainda nem nasceu e já está sendo usada. – Adam comentou jogando um guardanapo na nossa colega de trabalho.
– Adam! – Rose o repreendeu.
– É isso mesmo, põe ordem no teu marido. Mostra quem manda! – Hanna instigou.
– O que você fez dessa vez? – Rose quis saber.
– Só falei que Claire estava com fome… só faltava uns dez minutinhos pra gente sair. – Se defendeu. A cara de cínica ela nem se esforçou para disfarçar.
– E você não podia esperar?
– Eu estava com fome. – Justificou.
Nossa comida chegou. Almoçamos em meio a vários assuntos aleatórios e divertidos. Amo nossos momentos de almoço, é o momento em que tudo fica muito mais leve.
A hora da sobremesa chegou. Estou ansiosa para dar a notícia a eles.
Fizemos novamente os nossos pedidos e ficamos aguardando.
– Você está bem? – Hanna me olhou.
– Estou. Por quê? – Me fiz de desentendida.
– Parece ansiosa. – Ela continuou me encarando. – Você está estranha.
– Pra você todo dia um de nós está estranho. Hoje é a Luh. – Rose comentou. – Ontem era o Adam. – Lembrou.
– E eu só não tinha dormido bem. – Ele ressaltou.
– Você também não dormiu bem, Luh? – Hanna me perguntou curiosa. – Uma noite de sexo agitada talvez?
– Hanna! – Exclamei.
– Do Adam não foi sexo, foi vômito. – Ela fez cara de nojo. – Mas ser pai é isso também. Não deixa ele dormir mesmo, Rose. Então?
– Você é muito curiosa. – Comentei.
– E intrometida. – Adam acrescentou. – Fica perguntando da vida sexual dos outros.
– Eu não perguntei sobre isso! – Ela retrucou num tom ofendido, como se não tivesse falado nada.
– Aah não?
– Não. – Deu de ombros.
A sobremesa chegou e junto com ela, na bandeja, a caixa com os biscoitos personalizados e o envelope com a foto do ultrassom.
O garçom deixou a bandeja sobre a mesa e os três me encararam.
Link: Foto da surpresa | Clique aqui e veja.
– Isso é sério? – Hanna está bastante surpresa. Ela olhou novamente para a bandeja. – Um bebê? Um menino? – Indagou ao ver a cor dos biscoitos. Assenti emocionada demais para conseguir dizer algo. – Luuuh!!! – Ela exclamou. – Isso é muito legal! Isso é perfeito! – Ela está com um sorriso muito largo. – Um casal de bebês. – Comentou e me abraçou. – Parabéns, querida. Estou feliz por vocês, Luh. – Disse sincera.
– Obrigada, Hanna. – Agradeci.
– E você vai soltar a Lua quando para a gente também abraçá-la? – Adam perguntou afastando a cadeira. Rose sorriu. Ela está muito emocionada. A entendo e sei que muito por conta da gravidez também.
– A Claire já vai nascer com um amiguinho da idade dela. – Hanna comentou empolgada.
– Parabéns, Luh! Um garotinho é muito bom! – Adam me abraçou carinhosamente.
– Aposto que Arthur deve estar muito feliz. – Hanna não para de falar.
– Ele está! – Afirmei.
– Eu também estou feliz por você e pelo Arthur. Pela família de vocês, na verdade. Vocês são pais maravilhosos.
– Obrigada, Adam! Você e Rose também serão pais maravilhosos. – Assegurei. Ele se afastou e agora foi a vez de Rose vir me abraçar.
– Se tivéssemos combinado, não teria dado tão certo. – Ela está visivelmente feliz.
– Não mesmo. – Ri. – Porque também não estávamos esperando. – Confessei. Ela riu junto comigo.
– Parabéns, amiga! Eu também estou feliz. – Como é que vocês transam assim tão despreocupadas? – Hanna nos questionou um pouco chocada.
– Obrigada! – Retribui o abraço.
– Quantas semanas você está? – Rose quis saber.
– Vinte e quatro semanas e três dias. – Respondi.
– Eu não sei fazer essa conta, Luh. São Quantos meses?
– Seis. – Respondi e Hanna me olhou ainda mais surpresa.
– Tudo isso? Lua, só faltam três meses. Como assim você descobriu só agora?
– Eu descobri em junho. – Contei. Ela semicerrou os olhos.
– Sua safada! Você só nos contou agora! – Ela está revoltada.
– Quando eu descobri, eu já estava com sete semanas. Quase dois meses.
– Lua Blanco, eu não acredito nisso. – Voltamos a nos sentar.
– Eu completo dezesseis semanas hoje. – Rose nos contou.
– Meses, Rose. – Hanna pediu.
– Quatro, querida Hanna. Claire nasce em março.
– O bebê já tem nome? – Adam perguntou.
– Sim, Ravi. – Respondi. – E pode nascer entre final de dezembro ou início de janeiro.
– É um nome lindo.
– Eu queria ter contado antes a vocês. Mas…
– Tudo bem, Luh. Está tudo bem, não está? – Rose perguntou.
– Agora está. – Afirmei. – É que eu ainda não tinha contado aos meus pais. – Disse. Eu omiti a parte das complicações do início da gravidez.
– Entendemos, Luh. – Adam soou completamente compreensível.
– Ryan vai ficar sem acreditar em duas licenças maternidade quase ao mesmo tempo.
– Ele já sabe. – Sibilei. Hanna me encarou.
– Eu não acredito, Lua Blanco! – Exclamou. – Ele soube antes da gente?
– Eu tive que contar quando fui confirmar que vou à viagem.
– Sim. Ele me pediu para confirmar as passagens e a hospedagem. – Ela contou.
– Você também vai, Rose?
– Sim. Meu médico me liberou.
– A minha médica também. – Sorrimos.
– Posso falar uma coisa? – Hanna perguntou baixinho.
– Depende, não é mesmo, Hanna? – Adam alertou.
– É que é chato a gente comentar quando a mulher engordou ou não, não é mesmo? Eu super entendo. Mas eu percebi de umas semanas para cá…
– Aaah foi? – Questionei segurando o riso.
– Eu só não ia comentar. Aprendi que é antiético. – Ela se ajeitou na cadeira. Rimos. – Mas eu estou tão feliz, Luh! Vou comprar presentinhos para o bebê de vocês. – Contou super empolgada.
– Olha só… – peguei a caixinha com os biscoitos – É um para cada. – Abri a caixinha.
– Quero o biscoito de roupinha… – Rose pediu.
– Quero o chocalhinho. – Hanna escolheu.
– Olha só, sobrou o “É um menino.” Pra você, Adam. – Sorri e entreguei a ele.
– Obrigado, Luh.
– Deixa eu ver o envelope… – Hanna pegou e abriu o envelope. – “Oi, eu tenho uma surpresa!” Oooown… olha só a fotinha dele… “Bebê a caminho. Janeiro de 2018.” Deixa eu ver… ele estava fazendo biquinho… – Hanna observou e também fez biquinho.
– Cadê, deixa eu ver… – Rose pegou a foto do ultrassom. – Aaaawn… olha só, amor. – Mostrou para o Adam. – Claire sempre coloca as mãos no rostinho.
– Ela não quer se mostrar. – Hanna riu.
– Já sente ele mexer?
– Bastante. Principalmente quando o Arthur conversa com ele. E você?
– Ainda não. O médico disse que daqui a algumas semanas eu já posso começar a sentir.
– Da primeira vez eu comecei a sentir os primeiros chutinhos com esse mês de gravidez, do quarto para o quinto. É assim mesmo. Eliza, que é a minha médica, disse que dessa vez eu sentiria mais cedo. E realmente foi assim… – Contou. Estou feliz de poder estar compartilhando isso com eles.
– Eu estou ansiosa para esse momento.
– Vai acontecer quando você menos esperar.
Continuamos a conversa por mais alguns minutos até pedirmos a conta e voltar para o escritório.
Pov Arthur
Ainda estou na produtora, são quase sete horas da noite. Vamos passar mais algumas músicas. Os shows começam semana que vem. Estou ansioso por essa volta, tivemos bons meses de férias. Mas fazer o que eu amo me deixa ainda mais feliz e realizado.
– Vamos ao pubi?
– Na quarta? – Nem Harry acreditou no que acabara de ouvir do Nick.
– Eu tenho certeza de que você já sabe a resposta. – John falou ao encará-lo. Eu e os outros caras apenas rimos.
– Vocês já foram melhores. – Ele deu de ombros.
– Em uma quarta-feira não, caro Nick. – Mika pontuou. – Tem certeza? – Insistiu.
– Micael, é não! – Nosso empresário deixou bem claro.
– Eu só quero saber se ele tá brincando ou não. – Mika se defendeu. John negou com um gesto de cabeça.
– Olha pra minha cara, Micael. – Nick pediu.
– Vamos voltar ao ensaio. Vocês já se distraíram. – John chamou a nossa atenção.
Voltamos ao ensaio e passamos mais quatro músicas.
– Vai encontrar com a Marie?
– Hoje não. Na verdade, acho que só no final de semana. – Harry deu de ombros. – Ela está focada na pesquisa do mestrado. – Explicou.
– Entendo. – E de fato entendo. Quando Lua estava na faculdade, também era assim. – Vamos lá em casa. – Convidei. – Acho que as meninas ainda não jantaram. Podemos fazer isso juntos. Além do mais, eu e Lua temos uma surpresa. – Completei. Harry sorriu. Ele faz ideia do que seja.
– Já descobriram o sexo do bebê? – Indagou baixo. Assenti. – Não acredito! – Exclamou. – Quando?
– Semana passada.
– Arthur Aguiar! – Exclamou desacreditado. – Como assim não me contaram antes? Aquela loira me paga. – Ameaçou divertido. Apenas ri.
– Você vai?
– Óbvio! Como acha que vou conseguir dormir sem saber se vou ganhar mais uma sobrinha serelepe e curiosa ou um sobrinho que pode ser calmo ou dez vezes mais serelepe e curioso?
– Hahahaha… nem diz isso! Esse bebê tem que ser calminho dessa vez. – Comentei.
– Vamos lá… Lua sabe desse convite?
– Não. Mas sei que ela vai amar. – Afirmei.
Hoje ela me disse que contaria sobre a gravidez para os colegas de trabalho. Deve estar ansiosa para me contar como foi.
Nos despedimos dos outros caras e fomos para casa. Cada um em seu carro.
Londres | Westminster – Distrito de Bayswater
Nós chegamos em casa uns trinta minutos depois. Estacionei o carro na garagem e Harry deixou o dele na rua, na frente de casa.
– Ouve só esses gritinhos. – Harry comentou assim que nos aproximamos da porta de casa.
– Sim. – Sorri. – Ela deve estar brincando de correr com ele, com certeza. – Afirmei.
Abri a porta e de fato Anie e Bart estão correndo de um lado para o outro da sala, ela está com uma varinha nas mãos e um chapéu de bruxa na cabeça.
– Paaapaaaaiiiii!!! – Anie gritou e Bart latiu.
– Ai, meu Deus! Uma bruxa! – Harry exclamou.
– Meu titiiiioooo pefeeelidoooo! – Sim. Ela gritou e correu para o colo do tio.
– Olá, minha garotinha. Quantas saudades de você. – Ele deu vários beijinhos na bochecha dela. – Como você está?
– Bem. Muito bem. Eu tô bincando de tilintintir com o Bart. – Contou toda animada. Bart se aproximou de mim. Ele voltou a “falar” comigo só ontem.
– Olá, garotão. Você está cansado de correr? – Fiz carinho em suas orelhas. Ele apenas abanou o rabo. Está com a língua para fora e a respiração bem ofegante. – Vem beber água, Bart. – Falei e segui com ele até onde fica o potinho com água e ração pra ele.
– De tilintintir? E você é uma bruxinha muito má?
– Siiiiim!! Binca comigo, titio?
– E eu serei o quê?
– Um monstro! – Anie exclamou empolgada.
Ela está elétrica demais. O que essa criança comeu no lanche da tarde?
– Monstro? – Harry semicerrou os olhos. – Mas eu não sei ser monstro. – Disse e eu ri. Ele a colocou no chão.
– Vem, eu mosto para o senhor. – Anie saiu puxando ele pela mão.
– Ei, cadê a sua mãe? – Perguntei porque ela, simplesmente, me ignorou.
– Minha mamãe foi tomar banho. – Ela me respondeu.
– Sua mãe chegou agora? – Questionei. Porque já são mais de oito horas da noite.
– Não. É que a gente foi caminhar, papai. – Contou e eu assenti. Lua está fazendo caminhada desde domingo.
– E a senhorita já tomou banho? – Perguntei, mesmo tendo a certeza de que a resposta será: não.
– Não. A minha mamãe disse que eu posso tomar banho depois.
– Ok, ok. – Concordei. – Eu vou subir para avisar a sua mãe que o seu tio está aqui. Já jantaram?
– Não, papai. Ainda não.
– Tá bom.
– É só para avisar mesmo, Aguiar. – Harry não perdeu a oportunidade. Revirei os olhos e mostrei o dedo do meio para ele, mas antes me certifiquei de que a pequena não estava vendo.
Subi os degraus e fui para o quarto. Abri a porta e entrei.
– Luuh… – Chamei indo para o banheiro. Ela tinha acabado de desligar o chuveiro.
– Oi. – Sorriu quando me viu. – Chegou cedo? – Franziu o cenho. Assenti. – Pega a minha toalha, por favor. – Pediu e eu o fiz.
– Sim. – Disse e me aproximei lhe entregando a toalha. – Você está bem? – Lhe dei um selinho. Lua assentiu segurando a toalha na frente do corpo. – Tenho uma surpresa. – Comecei e lhe dei um beijo mais demorado. – Harry está aqui. Convidei ele para vir jantar com a gente. – Contei. – Ele já sabe que descobrimos o sexo do bebê…
– Você contou que é um menino?
– Não. Eu deixei para que você contasse. Sei que quer fazer isso. – Sussurrei, porque Lua aproximou os lábios dos meus.
– Obrigada! – Ela sorriu.
Amo esse sorriso.
– De nada. – Eu também sorri e Lua me beijou. Foi um beijo lento e carinhoso. Quando cessamos, mordisquei seu lábio inferior. – Eu te amo tanto. – Encostei a testa na dela.
– Eu também te amo. – Sussurrou contra os meus lábios e abriu os olhos.
– Anie disse que vocês foram caminhar.
– Sim.
– Amanhã me espera para fazermos isso juntos. – Pedi. Lua se afastou um pouco. – Você não me convidou, mas eu estou me convidando. – Disse e ela riu.
– Eu vou amar a sua companhia. – Respondeu e me deu um selinho. – E eu te convidei sim.
– Antes de ficar chateada e resolver fazer isso sem mim todas as noites, desde domingo. – Lembrei. Ela riu outra vez.
– Tudo bem. Você tem razão. Mas o convite ainda está de pé.
– Que bom! – Fiquei feliz e me afastei um pouco. – Deixa eu olhar a minha garota. – Falei e vi quando ela ficou sem graça, suas bochechas coraram e eu quis rir. Ainda acontece muito. – Aaah não… – Puxei ela para um abraço.
– Depois… amor… – Disse baixinho. Concordei. Lua não soltou a toalha, então eu fiz carinho na barriga por cima dela.
– O nosso bebê está bem? – Perguntei e senti quando o bebê se mexeu. Não chutou tão forte como da última vez, mas ficou se movimentando.
– Sim. Mas está mexendo mais agora. Como ele sabe que é você?
– Eu amo muito vocês. – Voltei a beijar os lábios dela.
– Amamos você. – Sussurrou de volta. Ficamos nos olhando por alguns segundos.
– Eu vou esperar você lá embaixo. – Falei e caminhamos de volta para o quarto.
– Vou vestir uma roupa rapidinho. – Lua comentou.
– Contou para os teus colegas sobre a gravidez?
– Sim! Depois eu conto pra você como foi tudo. – Ela está bem animada, com certeza, foi uma reação muito boa.
– Estou ansioso para ouvir. – Puxei ela novamente para uma abraço, desci uma das mãos até o seu bumbum e acabei dando uma palmada.
– Arthur! – Ela revidou com um tapa no meu peito.
– Não resisti. – Justifiquei.
– Você é um atrevido. – Ela respondeu indo para o closet. Eu ri e saí do quarto.
*
– Pensei que também tinha ido tomar banho. – Harry comentou distraidamente enquanto brincava com Anie e Bart.
– Por um triz. – Respondi e me sentei no sofá.
– Papai, eu tenho uma outa surpesaaaa! – Anie se levantou e andou até mim.
– Outra surpresa?
– Sim! – Afirmou empolgada ao me abraçar.
– O que você aprontou, hein? Sua mãe foi buscar você na escola?
– Sim, foi. E eu não apontei nada, papai. Eu sou até comportada. – Ela encostou a testa na minha.
– Esqueceu que eu te conheço há cinco anos?
– Hahaha… mas é de verdade, papai.
– Tá bom. Vamos lá, me conta. – Sorri. – Estou curioso.
– A minha mamãe já deixou. É da minha escola, papai. Mas eu tenho que pedir para o senhor também…
– Mas se a sua mamãe já deixou, está tudo certo, hein?
– Sim, mas o senhor também tem que deixar. – Ela segurou o meu rosto com as duas mãozinhas.
– Você acha que eu vou te dizer não? – Questionei. Anie negou. O que me fez rir junto com Harry.
– Essa garota é muito esperta. É filha da Lua mesmo, sem discussão. – Ele disse.
– Qual é a surpresa?
– Na minha escola vai ter de novo o evento, que é de apresentação, do Halloween, papai. Lemba que eu já saí no outo ano?
– Ano passado, filha. Sim, eu me lembro.
– Aí agola vai ter de novo.
– E ano passado você foi fantasiada de qual personagem?
– Foi de bruxinha, titio.
– Uma bruxinha muito má?
– É! – Ela exclamou toda convicta. – Olha o meu chapéu. – Ela tirou o chapéu de bruxa da cabeça e mostrou para o tio. Agora tudo faz sentido ela correndo com esse chapéu pela casa.
– E esse ano você vai com qual fantasia? – Harry quis saber.
– De fantasminha! – Ela sorriu e me olhou.
– De fantasminha? – Insisti.
– É. O senhor deixa?
– Claro, meu amor. Claro que sim. – Sorri e ela me deu um beijo na bochecha.
– Obligada, papai.
– Fantasma é sem graça e nem assusta ninguém. – Harry comentou.
– Fantasmas assustam crianças. – A pequena afirmou.
– Você tem medo de fantasma?
– Sim, porque eu ainda sou criança. – Ela respondeu e me olhou.
– E por que você quer ir fantasiada de fantasma se você também tem medo?
– Porque é Halloween. É de monstro!
– Fantasma não é monstro. – Ele insistiu só para implicar com ela. A pequena me olhou à espera de que eu também a defendesse.
– Harry! – Chamei a atenção dele, que fez uma careta ao me olhar. Anie me abraçou. – Fantasma não é sem graça, filha. Porém, eu tenho certeza que daqui para o dia da festa, você terá mudado de ideia, pelo menos, umas dez vezes. – Falei e ela riu. – Você sabe que é verdade.
– Minha mamãe disse que a gente pode escolher depois.
– Claro. Eu tenho certeza de que a sua mãe terá ótimas sugestões de fantasias. – Garanti.
– Papai?
– Sim. – Ela se afastou um pouco.
– Eu posso contar a outa surpesa?
– Meu Deus! Você está cheia de surpresas. Se eu soubesse, teria vindo bem antes. – Harry brincou.
– Do bebê, papai. – Ela esclareceu. Sorri.
– Só quando a mamãe descer, meu amor. – Respondi e lhe dei um beijo na testa.
– E você já sabe quem é o bebê? – Harry instigou.
– Sim. Mas eu não vou contar agola. – A pequena assegurou.
– Uuuhmm… deixa eu adivinhar – ele não desistiu –, deixa eu ver se você tem cara de irmã de menina ou de menino… – Fingiu estar pensando e Anie negou freneticamente com a cabeça.
– Nãããooo. Eu não vou dizer! – Ela fechou até os olhinhos. Comecei a rir.
– Uhm… tá ok! Deixa eu fazer uma nova tentativa… e você gostou de saber se é menina ou menino?
– Sim.
– Ficou com ciúmes?
– Si… sim… – Admitiu baixinho e depois me olhou. Sorri. – Meu papai disse que tudo bem… eu ainda sou bebê também. – Ela voltou a me abraçar.
– Não, não. Nada disso. Você não é bebê!
– Eu sou sim. Do meu papai e da minha mamãe.
– Você é criança. Bebê, bebê é só quando é bem pequeninho. – Ele deu de ombros. Anie ainda está abraçada a mim.
– Harry, por favor. – Pedi. – Criança aqui, tá mais pra ser você. Fala sério.
– O quê? – Ele se fez de desentendido.
Lua desceu a escada.
– Boa noite!
– Boa noite, Luh! – Ele levantou-se para abraçá-la. – Tudo bem, meu amor?
– Tudo bem e com você? – Eles ainda estão abraçados.
– Tudo bem também, Luh. – Harry sorriu. – Me contaram que tem novidades. Eu estaria mentindo se dissesse que não estou muito, super, mega curioso. – Admitiu. Acabamos rindo.
– Eu guardei um pedaço de bolo pra você…
– Só esqueceu de me avisar. – Ele retrucou. Lua riu.
– Mas eu não esqueci de você. Quero que faça parte da surpresa igual…
– O pai do bebê?
– Não. – Lua me olhou. – Com o Arthur foi diferente.
– Só eu e ela. – Acrescentei.
– Eu não preciso saber dos detalhes. – Harry pontuou.
– Eu ia dizer, igual a nossa família.
– Como um irmão mais velho… – começou – do bebê. – Finalizou. Lua revirou os olhos.
– Não, seu idiota. Como tio! Eu não tenho idade para ser tua mãe. – Disse e acabamos rindo. Harry a abraçou novamente.
– Estou ansioso para saber, Luh. – Afirmou novamente.
– Eu quelo contaaaaaaar! – Anie exclamou levantando o dedo indicador.
– Vamos lá, como você quer contar? Assim ou mostrando a fatia de bolo para o tio Harry? – Lua Indagou.
– Com o bolo!
– Tá ok. Vamos lá buscar. – Lua concordou. – Só está congelado. – Olhou para o Harry.
– Vai ser o melhor bolo congelado que eu vou comer. – Ele garantiu. Lua sorriu. E seguiu com Anie para a cozinha.
– Talvez eu já até faça uma vaga ideia. – Ele semicerrou os olhos. Mas eu não disse nada. – Qual é, Aguiar?
– Não vou estragar a surpresa das minhas garotas.
– Talvez sejam três garotas?
– Talvez. – Dei de ombros.
– Arthur!
– Não adianta. Vou deixar que elas façam a surpresa.
– Só pode ser outra menina. Você não me parece muito surpreso. – Ele observou.
– Eu sei há uma semana. – O lembrei.
– Mas nem na semana passada você pareceu.
– Eu sei disfarçar bem. – Dei de ombros outra vez e as duas voltaram para a sala.
– Já! – Anie está muito animada. – A surpesa! Agola o senhor fecha os olhos, titio. – Ela pediu.
– Ok, ok. Tudo bem! – Harry fechou os olhos. – E agora? – Perguntou. – O que eu faço?
– Agola já. – Anie respondeu e eu e Lua acabamos rindo.
– Já é para abrir os olhos?
– Não. É pra abrir as mãos.
– Estender as mãos, meu amor. – Lua a ajudou.
– É. Pra frente, titio. – Orientou e Harry obedeceu.
Ele estendeu as mãos e Anie colocou o prato com a fatia de bolo sobre as mãos dele.
– E agora? – Ele perguntou.
– Agola já pode abir os olhos, titio. – A pequena autorizou e Harry abriu os olhos.
Ele sorriu ao ver a cor do recheio do bolo.
– Um irmãozinho pra você. – Ele disse. Anie assentiu.
– Sim. Um bebê menino. – Ela sorriu sem mostrar os dentes e veio para o meu colo.
– Que incrível! – Harry foi até Lua para abraçá-la. – Parabéns, meu amor. – Disse abraçado a ela.
– Obrigada. – Lua agradeceu emocionada.
– Como você está se sentindo?
– Feliz e um pouco nervosa com essa novidade. – Confessou.
– Eu também ficaria nervoso se tivesse que criar uma versão do Arthur. – Ele riu.
– Idiota! – Retruquei.
– Meu papai é legal! – Anie me defendeu. – O meu melhor papai. – Ela me abraçou, retribui o abraço.
– Obrigado, meu amor. O papai te ama. – Lhe dei um beijo no topo da cabeça.
– Pode ser uma versão minha também.
– Claro. Aí seria mais preocupante para o Arthur! – Agora ele olhou para mim e ganhou um tapa de Lua. – Ooow! Você está uma grávida muito agressiva. – Pontuou.
– Você ainda não viu nada. – Agora foi a minha vez de comentar.
– Você não tem reclamado disso, querido. – Lua ironizou.
– Depois eu que sou o depravado. – Harry revirou os olhos.
– Não falei nada demais. – Lua se defendeu.
– Estou feliz por você, Luh. – Disse sincero e os dois se abraçaram novamente. – Vai dar tudo certo, eu tenho certeza. E você poderá contar comigo para o que precisar, sabe disso, não sabe?
– Eu sei. Obrigada! – Ela está muito emocionada, embora não esteja chorando. O que me deixou surpreso.
– Você vai ganhar um irmãozinho! – Ele se voltou para a nossa filha. – Isso é legal, você concorda?
– Eu ainda não sei. – Anie foi sincera e eu tive que me controlar para não rir.
– Você só está com ciúmes.
– Não tem nada a ver. – A pequena afirmou.
– Você é muito esperta. Realmente não nega ser filha de quem é. – ele olhou para Lua antes de apertar as bochechas da afilhada. – Vamos aprontar muito. Nisso você pode concordar, hein?
– Sim. – Ela respondeu e me olhou desconfiada. Semicerrei os olhos, mas não fiz nenhum comentário.
– Parabéns, cara! – Harry me deu um forte abraço. – E como você está se sentindo agora? – Ele quis saber. Está muito animado, feliz.
– Obrigada, Judd! – Retribui o abraço. – Estou feliz, dude. Estaria independente do resultado, Lua sabe disso. Mas é um garotinho e, certamente, vamos aprontar muito. Nós três, não é mesmo, filha? – Olhei para Anie que concordou.
– Já estão formando um complô contra a minha já pouca paciência. – Lua comentou distraidamente.
– Estou feliz por vocês! De verdade, vocês sabem disso. – Assegurou outra vez. – Vou ganhar um sobrinho, um afilhado. Eu tenho que comprar um presentinho pra ele.
– Sabia que ele já têm roupinhas, sapatinhos e coisinhas de comer, titio?
– De comer? Ele ainda nem nasceu e já têm coisinhas de comer?
– Sim. De ovelhinha. Foi a minha vovó que comprou.
– Qual vovó?
– Mamãe do meu papai, oras. – Disse óbvia.
– Oras! Mas é que você tem duas vovós.
– É verdade. – Anie lembrou e andou até o nosso cachorro. – Vem, Bart. Vamos bincar um pouquinho de magia de novo. – Chamou o cachorro.
– Vamos jantar, filha. – Lua avisou e se aproximou de mim. A abracei de lado.
– Já contou para os teus pais?
– Sim, domingo. – Lua respondeu.
– E como foi?
– De boa. – Lua foi tão sucinta quanto foi comigo. Harry a encarou.
– Só isso?
– Foi o que eu consegui também. – Comentei.
– Você não foi? – Ele me olhou.
– O que você acha?
– Huum… – ele não disse mais nada.
– Foi normal. Não tem muito o que dizer. – Lua esclareceu.
– Tudo bem, se você tá dizendo. – Caminhamos para a sala de jantar. – O que jantaremos? – Ele mudou de assunto.
– Carla fez torta de carne, salada de cenoura, brócolis, couve, tomate… – Lua estava falando quando Anie a interrompeu.
– E purê de batatinhaaaaaa! – Anie bateu palmas.
– De batata com bastante queijo. – Lua completou.
– Tenho certeza de que está uma delícia! – Ele garantiu.
Sentamos à mesa para jantar.
Horas depois…
– Vem deitar, Luh. – Chamei ela. – Eu estou tão cansado, se você demorar mais um pouco, vai me encontrar dormindo. – Avisei. – Você está bem? – Me sentei na cama. Faz algum tempo que ela está no banheiro. – Lua? Quer que eu vá aí?
– Não precisa, Arthur. – Ela apareceu na porta do banheiro. – Por que toda essa preocupação? – Perguntou. Está escovando os dentes.
– Pensei que estivesse passando mal…
– Já volto. – Disse e voltou para dentro do banheiro.
*
– Você tomou banho de novo? – Perguntei quando Lua sentou-se na cama.
– Sim. – Ela pegou o celular, viu alguma coisa e depois deixou sobre a mesa de cabeceira. – Estou com um calor fora do normal, eu hein… – Reclamou e eu acabei rindo.
– Liga o ar, baby. – Falei. – Ou quer resolver de outra maneira?
– Ligando o ar já está ótimo, Arthur. – Respondeu e deitou-se na cama. Me aproximei dela.
– Me dispensando novamente, Lua Blanco? – Questionei. Ela não disse nada. – Lua, Lua… – Sussurrei contra os lábios dela, ela está de olhos fechados. – Você tem se saído uma esposa muito malvada. – Continuei sussurrando. Ela sorriu ainda de olhos fechados. – Até quando, hein?
– Não é nada de caso pensado. – Ela respondeu ao abrir os olhos. Ficamos nos encarando em silêncio.
– Tudo bem. Vou fingir que acredito. – Pisquei um olho e lhe dei um selinho. Voltei para a minha posição anterior e Lua ficou de lado na cama.
– Não precisa fazer esse esforço. – Ela foi sarcástica, mas acabamos rindo.
– E como foi lá com os teus colegas de trabalho?
– Foi muito legal e emocionante. Eles amaram a notícia. Hanna ficou toda animada. Rose e Adam também. Conversamos muito sobre os nossos bebês. – Ela me disse toda contente. – Eles amaram os biscoitos personalizados. Ficou a coisa mais fofa, amor. Eu vou te mostrar, eu tirei uma foto. – Disse e pegou o celular para me mostrar a foto.
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– Olha só…
– Que fofo, Luh. – Concordei com ela. – Você colocou a foto do ultrassom também?
– Sim. – Seus olhos estão brilhantes. – Fiquei tão emocionada, Arthur. – Confessou. A abracei.
– Você também me deixa emocionado. – Rocei os lábios nos dela.
– Hanna disse que tinha percebido que eu havia engordado.
– Foi? E aí?
– Mas que não ia comentar…
– Huum… – Olhei para a barriga dela. – Mas já dá pra notar, loira.
– Eu sei. – Ela fechou os olhos, me abaixei para beijar a barriga dela. – Vamos escutar o coração dele? – Pediu. Depositei um beijo na barriga dela antes de responder.
– Vou pegar o aparelho. – É um dos meus programas preferidos. – Anie me falou da festa de Halloween. Sabe, vai ter da escola de balé também, Luh. – Resolvi falar enquanto tinha me lembrado. – A professora falou na segunda-feira. Você viu a mensagem no grupo?
– Ainda não. – Ela se ajeitou na cama. – Ela ficou animada porque tem fantasia. Ela quer ir de fantasma… tão sem graça, amor. O que eu faço? Não quero dizer isso a ela.
– Pode dar outras opções, loira. Daqui para o dia da festa ela já mudou de ideia umas dez vezes. Conhecemos a filha que temos. – Falei e voltei para a cama. – Harry já disse que fantasia de fantasma é sem graça, Lua. – Ri.
– Mentira. – Ela também riu.
– Anie não concordou e eu tive dizer que não era sem graça e que ela poderia usar, mas que sabia que podia mudar de ideia a qualquer momento. – Expliquei.
– Ela já foi de bruxa ano passado. Podia ser algo mais original. Mas ela implicou com fantasma. Não consigo imaginar uma fantasia legal além de um lençol branco. Que coisa mais sem graça. – Reclamou.
– Vocês duas terão que se resolver quanto a esse assunto, porque eu estou fora. – Deixei claro.
– Nada disso. Você vai ter que me ajudar se ela insistir nessa história de fantasia de fantasma, Arthur.
– Se ela insistir, deixa ela ir, ora. – Dei de ombros e esperei Lua levantar a camisola para que eu passasse o gel lubrificante.
– De lençol branco?
– Não, Lua. Deve ter uma fantasia mais elaborada, sei lá… um vestido, algo do tipo. – Passei o gel sobre a barriga dela e liguei o aparelho. – Vamos achar esse bebê…
– Acho que ele está dormindo. Está quieto demais… não fez nenhum movimento quando você beijou a minha barriga.
– Vamos lá, papai… – Fiquei movimentando o aparelho sobre a barriga dela. – Onde você está, meu garoto… o papai quer ouvir você…
– Acho que está bem aqui, Arthur… – Lua apontou para o lado direito da barriga, um pouco mais abaixo. Fiquei cutucando a barriga dela com o dedo indicador até o bebê começar a se movimentar.
– Achamos você. – Sussurrei divertido e Lua riu. Aumentei um pouco o volume do aparelho para ouvirmos as batidas do coração dele.
– Se ele não me deixar dormir, você também não vai dormir. – Lua me avisou.
– Mas a ideia foi sua. – Lembrei. Ela continuou rindo.
Começamos a ouvir o som dos batimentos dele e ficamos curtindo o momento. Ravi está se mexendo bastante. É tão incrível e emocionante acompanhar cada fase, cada descoberta, cada novo movimento, cada detalhe do bebê. Eu não faço ideia de como seria a minha vida sem essas duas experiências completamente diferentes.
Sei que para Lua tudo é ainda mais intenso e extraordinário. Cada fase, as emoções, os turbilhões de sentimentos, o humor oscilante e as infinitas inseguranças. É ainda mais por isso que sou paciente e faço questão de deixar claro que a compreendo. Me esforço para não soar grosseiro quando é ela quem me trata assim. Não costumo revidar, embora confesse que recentemente tenha havido momentos. Mas eu sei reconhecer quando erro e não é custoso para mim, me desculpar.
Tem certas discussões que não valem a pena. Tenho evitado muitas nos últimos meses.
– É incrível. – Murmurei e depositei novamente um beijo, agora demorado, em sua barriga. Desliguei o aparelho e passei um lenço para limpar o gel da barriga dela. – Nosso bebê é muito esperto. – Deixei o aparelho sobre a mesinha de cabeceira e me deitei na cama. – Eu tenho tanta certeza de que ele será parecido com você, Luh. – Falei e ela sorriu sem mostrar os dentes.
– Pelo ultrassom não é o que parece. – Ela comentou baixo. – Além do mais, você é mais elétrico do que eu. Essa conta não bate. – Me deu um beijo. – Mas eu deixo você continuar sendo gentil. – Concluiu. Ri.
– Não é gentileza, sua boba. – Me acomodei em seus braços. – Quero que ele seja parecido com você. Eu tenho direito de jogar os meus desejos para o universo. – Falei. Lua ficou acariciando os meus cabelos.
– Desejos?
– Sim. Que o nosso bebê seja parecido com você. Que seja loirinho, que tenha o teu olhar, o teu nariz e o teu sorriso. Que seja inteligente, decidido e só um pouquinho mandão e irritado – ri – e eu não posso esquecer, e que me ame.
– Mas eu também tenho os meus desejos. – Me disse. Sorri. Lua segurou o meu rosto. – Eu também quero que o nosso bebê seja parecido com você. Que seja moreno e lindo como você, que tenha o teu sorriso e os teus olhos. Você também sorri com os olhos e eu amo isso. Que seja amoroso, criativo, brilhante e inteligente. Mas só um pouquinho sentimental – rimos – e muito carinhoso e que também me ame. – Contou. – E eu também tenho jogado para o universo. – Confessou.
– Ele já te ama. – Assegurei.
– E ama você também. Os chutinhos não me deixam mentir. – Ela acariciou a barriga. Sei que o bebê está chutando, levei a mão até a dela. – Ele já reconhece a tua voz com uma facilidade absurda. Você nem está falando com ele e ele está mexendo.
– É uma das experiências mais especiais da minha vida. Ser pai de duas crianças incríveis e que nós dois fizemos. – Me aproximei ainda mais do rosto dela. – E eu faria uma terceira facilmente. – Contei. Lua riu.
– Você não falou isso.
– Falei. Eu estou extremamente realizado com dois filhos, mas com um terceiro eu transbordaria.
– Uuuhmm… talvez eu pense a respeito.
– Não me dê esperanças, Lua Blanco. Eu sou muito bom em criar expectativas.
– Foi você quem começou.
– Você pode muito bem me acordar.
– Não. Eu não sou tão má.
– Aah não? E o que você tem feito com o seu marido, hein? Essa greve, assim do nada?
– Hahahaha… eu prefiro você romântico. – Disse e eu comecei a beijar o pescoço dela. – Aaamooor… paaaraa… Aaar-thur… – Ela tentou me afastar por conta das cócegas. – Aaamoor… – Pediu e eu parei.
– Eu te amo, Lua.
– Você é o amor da minha vida. Me irrita tanto, mas eu não sei como seria a minha vida sem você. – Declarou.
– Eu amo essas declarações. São as minhas preferidas, porque são as mais sinceras possíveis. – Rimos. Lhe dei um beijo demorado nos lábios.
– Arthur?
– Sim.
– Você vai que horas amanhã para a produtora?
– Umas oito e meia mais ou menos. Dará tempo de levar Anie à escola. Por que?
– Me leva ao trabalho? – Pediu fazendo um bico.
– Como é que você acha que eu vou dizer não? Aliás, eu vi que você não foi de carro hoje. O que aconteceu? Estava com tontura?
– Não. Eu esqueci de passar no posto de gasolina.
– Eu não acredito, Lua. Isso é sério? Como você se esquece de algo que você usa todos os dias?
– Eu sempre esqueço, você sabe. – E sim. Ela sempre esquece de encher o tanque do carro.
– Amanhã eu faço isso pra você. – Falei. – E levo você ao trabalho.
– Obrigada! Eu também quero resolver essa questão do carro e parar de usar o seu.
– Eu não estou me incomodando com isso, loira. Relaxa!
– Eu sei. Mas já vai fazer dois anos… – Lembrou.
– Você quem sabe. O carro já é mais seu do que meu. – A olhei, Lua me deu um empurrãozinho. – Embora, tudo o que é meu, seja seu.
– E o que é meu, é só meu. – Lua brincou. Semicerrei os olhos.
– Você tem um ponto pertinente. – Comentei.
– Não, para. Você sabe que não é verdade, amor. – Lua me abraçou. – Você tem coisas que são muito importantes para mim.
– Você e os nossos filhos. – Sussurrei. Lua assentiu.
– E todas as minhas senhas. – Ela acrescentou me fazendo rir.
– Igualmente, sua engraçadinha. Você não está com sono? Estou achando que essa graça toda só deve ser sono, Lua Blanco!
– Você tem razão. E se não fosse o sono, eu faria amor com você. – Ela ficou sobre mim e segurou os meus braços.
– Depois não me peça para parar. Você está me provocando demais. – Avisei e ela riu antes de me beijar.
Continua…
SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.
N/A: Boa noite! Espero que estejam todas bem. Que a semana tenha iniciado abençoada e que permaneça assim.
Consegui atualizar antes do que eu esperava. O capítulo está daquele jeitinho que a gente AMA! <3 Não é mesmo? Eu espero que vocês tenham gostado de ler, tanto quanto eu gostei de escrever.
De uma escala de 0 a 10, quão fofos foram os diálogos da Anie? Hahahha <3
24 semanas de Ravi = 6 meses de Ravi. O bebê está crescendo. <3 Será que teremos surpresas?
Apesar das implicâncias, nosso casal está bem. Graças a Deus! Seguimos! <3
Estão ansiosas para saber como será o quartinho do bebê? As meninas no grupo já votaram e temos uma escolha! Só posso dizer que é a coisinha mais fofa e mais o estilo de LuAr, impossível.
Mas antes disso, temos a viagem da Lua e do Arthur, ambas a trabalho. E a festinha de Halloween da dona Anie. Qual será a fantasia?
Tem votação no grupo, mas podem votar por aqui também:
Aguardem os próximos capítulos!
Beijos e até breve.
Simplesmente amei esse capítulo, coisa mais linda lua contando para os amigos e para o harry, mas quando Arthur vai assumir que está com ciúmes da mãe dele em,a mãe dele merece ser faliz
ResponderExcluirAmei o capítulo.
ResponderExcluirEsses hormônios da Lua Arthur que lute. 😂 Sobre a fantasia gostei da número: 3
Amei o capítulo! Gostei da fantasia 1! Muito lindo o capítulo e ansiosa pro próximos!
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