Little Anie - Cap. 91 | 7ª Parte

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Little Anie

Parte Sete

Os casais mais felizes normalmente passaram

e passam* por muitos períodos tristes juntos.

Casais que se tornaram mais fortes por

aprenderem a contar um com o outro

nos momentos de fraqueza.

Todos nós preferimos os dias fáceis e

Felizes, mas o amor cresce em parte

nos dias difíceis. A estabilidade passa

por muitas instabilidades.

                             @casamento.a2

Pov Lua

 

Londres | Sábado, 12 de agosto de 2017 – Manhã

 

– Bom dia, dorminhoca. – Senti Arthur me puxar para mais perto dele e cheirar o meu pescoço. Me encolhi em seu colo, de costas para ele. – Dormiu bem? – Perguntou em seguida.

 

Não sei que horas fomos dormir, mas assim que o fiz, só me acordei agora. Nem de posição eu mudei. Ainda estou sem roupa, mas Arthur parece estar de cueca.

 

– Dormi. – Respondi e ganhei um beijo no ombro e no pescoço. – Uhm… me parece que você acordou bem animadinho. – Comentei após senti-lo contra a minha bunda. Arthur riu.

– Acordei bem disposto, mesmo depois de uma noite intensa de movimentos sincronizados e encaixados. – Disse e eu sorri ainda de olhos fechados.

Sincronizados e encaixados… – Sussurrei. – Eles também me deixaram disposta. – Confessei e fechei os olhos ao sentir a ponta de seus dedos fazerem movimentos circulares ao redor de um dos meus seios.

– Está tudo bem?

– Está tudo ótimo, amor. – Assegurei. Arthur soltou o ar pausadamente e depois me deu um beijo na testa.

– Ontem eu custei a dormir… – Começou. – Fiquei um pouco preocupado, sabe? A gente foi dormir tarde. Eu queria que você acordasse bem, que estivesse tudo bem. Fiquei pensando nisso… – Contou. Me virei de frente para ele e acariciei seu rosto.

– Está tudo bem. Se não estivesse, você saberia e eu não ia precisar dizer nenhuma palavra. – Falei e encostei a testa na dele. – Eu sabia que você ia acabar se sentindo assim…

– Não é que eu ache que você vai se partir ao meio – ele riu e eu ri junto –, eu só me preocupo mesmo.

– Você foi extremamente cuidadoso. – Contornei os seus lábios com o dedo indicador. – Estamos bem, muito bem.

– Eu estou vendo e que bom. – Fez carinho na minha bochecha e depois desceu para a minha barriga. – Hoje você acordou ainda mais linda. Muito linda mesmo. – Me elogiou e eu fiquei sem graça. Arthur sempre me elogia, não é novidade, e eu sempre fico sem saber como reagir.

– Hum… você é o responsável.

– Não mesmo. Não no que diz respeito a sua beleza. – Pontuou de forma carinhosa e subiu a mão para a minha nuca. – Acho que o bebê tem mais chance de ser responsável, do que eu. – Riu.

– Agora você está elogiando a mãe dos seus filhos? – Perguntei, por conta da conversa que tivemos ontem. Arthur assentiu. O abracei, ele retribuiu o abraço e beijou os meus cabelos.

– Eu só falo safadezas para a minha mulher. Para a mãe dos meus filhos, só palavras carinhosas. – Roçou a bochecha na minha. – Especialmente agora. – Voltou a fazer carinho na minha barriga. Inclusive, estou amando que agora ele esteja fazendo isso com uma certa frequência. Fechei os meus olhos. – Você sentiu o bebê mexer de novo?

– Não. Só ontem naquela hora que te falei. – Respondi e ganhei um selinho. – Você tomou banho ontem antes de dormir?

– Não. Eu só me levantei, depois que você adormeceu, para ir ao banheiro. Aí eu vesti uma cueca e deitei de volta. Liguei o ar, você estava suando, deixei esfriar um pouquinho e depois abaixei mais, para ficar bem fresquinho. – Explicou calmamente.

– Nossa, eu, literalmente, nem vi a hora que dormi ontem. Eu cansei, confesso. Mas acordei tão disposta e relaxada. – Confessei. Arthur me beijou lentamente. Levou as mãos até meus cabelos e os puxou devagar, desceu os beijos para o meu pescoço e acima dos meus seios. Gemi em seu ouvido.

 

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– Só começa se for terminar… por favor. – Pedi. Minha respiração já está alterada. Estou tão excitada e sinto que ele também está. Arthur sorriu contra o meu pescoço.

– Então parece que logo pela manhã, teremos respirações descompensadas e gemidos. – Sussurrou em meu ouvido. Gemi outra vez. Estou nua e, completamente, molhada e Arthur ainda nem ao menos me tocou .

Am… amor… – Chamei, puxando-o pelos cabelos. Toquei meus lábios nos dele. – Deixa… deixa eu ficar… ficar por cima. – Quase supliquei.

 

Ele intensificou o beijo e eu levei uma das mãos para a sua nuca, a outra eu percorria entre as costas dele e a cintura. Senti Arthur erguer um pouco os quadris e empurrar a cueca para baixo. Ele não apoiava o corpo sobre o meu. Abri um pouco as pernas e ele se acomodou no meio delas, me penetrando lentamente. Fechei os meus olhos e senti sua respiração descompensada em meus lábios.

 

– Está tudo bem? – Murmurou e eu apenas assenti.

 

Continuei de olhos fechados quando ele iniciou os movimentos de “entra e sai”. Arthur me beijou, retribui o beijo. Levei uma das mãos até os seus cabelos e os puxei de leve. Ele não cessou o beijo, e eu nem quero que cesse. Amo beijá-lo.

 

Arthur passou um dos braços por trás da minha cintura, a outra mão ele segurou em minha cintura e mudou de posição, deitando de costas na cama e me deixando sobre ele, por cima. Como eu havia pedido há alguns minutos.

 

– Eu escutei o seu pedido. – Sussurrou tirando alguns fios de cabelo que caiam sobre o meu rosto. – E eles são sempre uma ordem. – Gemi enquanto “subia e descia” sobre ele. Abri os meus olhos.

– Quase sempre… – murmurei e Arthur sorriu contra os meus lábios.

– Quando são esses… – Começou, mas eu não deixei que ele continuasse: o beijei. Arthur retribuiu o beijo de forma rápida, que foi como eu iniciei. Tentei acelerar os movimentos, mesmo tendo a certeza de que ele me pararia, e ele me parou. Segurou firme em minha cintura e me empurrou para baixo, com as duas mãos espalmadas em meu bumbum. – Devagar. Bem devagar. – Me avisou. – Eu te conheço. – Ri contra os seus lábios e ele puxou meu lábio inferior, depois desceu os beijos para o meu pescoço. – Não quero que pense que gosto de te controlar…

– Eu sei. – Pontuei pausadamente enquanto me movimentava.

 

Sei que ele se preocupa muito e também não quero que aconteça nada que coloque o bebê em risco. Eu entendo o que ele quer dizer. Diminui o ritmo dos movimentos e aproveitei o momento. Arthur subia e descia as pontas dos dedos pelas minhas costas. Ora parava no meu bumbum ora parava na minha nuca, apertava a minha cintura e puxava levemente os meus cabelos. Eu não parava de gemer, sentia cada vez mais o meu corpo esquentar e o clímax se aproximar. Arthur não me parecia muito distante, me empurrava de encontro a ele e gemia contra os meus lábios e meus ouvidos.

 

Se continuar assim…

 

Ele não completou a frase. Gemeu contra os meus lábios, antes de puxar meu lábio inferior e me beijar com uma certa urgência. Retribui o beijo e não cessei meus movimentos. O clímax chegou e eu descansei minha cabeça em seu peito enquanto meu corpo tremia e minha boca soltava gemidos. Ganhei um beijo demorado nos cabelos e senti seus braços me envolverem. Ele deu mais uma, duas, três estocadas antes de relaxar. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Arthur tirou alguns fios de cabelo do meu rosto, beijou a minha testa e ouvi ele soltar o ar pausadamente.

 

– Tudo bem? – Perguntou como de costume. Sorri. Me sinto cada vez mais cuidada e amada.

– Sim. Muito bem. – Respondi e ergui o rosto para olhá-lo. – E você?

– Precisando me recuperar. – Disse divertido e roçou o nariz no meu.

– Que bom dia gostoso. – Falei e ele concordou com um balanço de cabeça.

– Uma delícia. – Acrescentou.

– Quero todos os dias assim. – Comentei e ele sorriu. – Você disse que os meus pedidos são uma ordem. – O lembrei.

– Isso você leva ao pé da letra, não é mesmo? – Perguntou fazendo carinho no meu rosto. Assenti com um sorriso contido.

– Porque é muito gostoso. O que mais eu posso querer?

– O que mais, não é mesmo? – Indagou e levou as mãos até a minha cintura, segurou e me virou na cama. Ele ainda está dentro de mim. Mudou nossas posições, agora está por cima, abri um pouco as pernas para acomodá-lo melhor. Depois as envolvi em sua cintura. – No que depender de mim, não vamos parar por aqui. – Me avisou.

– Nem de mim. – Também respondi. Ele voltou a se movimentar e nos permitimos curtir o momento por mais algum tempo. Ainda é cedo e talvez só nós dois estejamos  acordados.

 

Pov Arthur

 

Café da manhã.

 

– Bom dia, meu amor. – Falei assim que Anie apareceu na sala de jantar. Quando sai do quarto com Lua, encontramos Anie no corredor e Lua voltou com ela para o quarto, para ajudá-la no banho e a vestir uma roupa.

– Bom dia, papai. – Caminhou em minha direção e ergueu os bracinhos, pedindo colo.

– Dormiu bem? – Perguntei lhe dando um beijo na bochecha.

– Sim, papai. – Ela me deu um abraço e depois descansou a cabeça em meu peito. – E o senhor? – Me perguntou e me olhou.

– Eu também dormi bem, filha. – Respondi. Lua entrou na sala de jantar.

– Sua mãe ainda não desceu?

– Não vi. Acho que talvez ainda esteja dormindo.

– Ela deve estar cansada. – Lua comentou pensativa. Assenti, mas não falei nada. – O que você está comendo?

– Panqueca com geleia de uva e tomando meu bom café. – Respondi. – Quer comer algo específico?

– Não. Eu já estou satisfeita de uma coisa específica que eu queria muito. – Falou me encarando.

– Falei de comer.

– Exatamente. – Pontuou.

– Lua, Lua, depois você chama a minha atenção porque Anie está aqui.

– Só você entendeu o que eu disse, Arthur. – Ela riu. – Me passa os pães de queijo, por favor. – Pediu. Lhe entreguei o prato com seis pães de queijo. – O que você vai querer comer, filha?

– A gente vai viajar?

– Vamos, amor. Vamos esperar a sua avó acordar primeiro.

– E você precisa tomar café da manhã. – A lembrei.

- Pode ser panqueca também, papai.

– Com geleia de uva?

– É. Quelo suco também.

– De uva? – Perguntei, mas Anie deu de ombros. Coloquei suco de maracujá pra ela, o mesmo que Lua está tomando. – Luh?

– Sim.

– Você viu as mensagens no grupo da escola?

– Do balé? – Me olhou.

– Não. Da ACS Hillingdon. – Respondi e ela negou.

– Nem tirei meu celular da bolsa. – Acrescentou.

– Eles colocaram um aviso lá, pra gente não esquecer que a entrega do resultado é na segunda-feira. – Contei e Lua sorriu. – Você acha que vai conseguir ir? Eu vou, mas quero saber se você também vai. – Expliquei.

– Sim. Só precisamos ver o horário.

– É a partir das nove.

– Resultado de quê? – Anie colocou a panqueca no prato e nos encarou.

– O seu resultado escolar, filha. Se você vai para outra etapa ou não. – Expliquei com calma.

– Você acha que passa para a outra etapa, filha?

– Sim, mamãe. Eu sou muito inteligente. – Pontuou cheia de convicção. Tanto eu quanto a Lua, sorrimos.

– Você é mesmo, meu amor. – Lua concordou.

– Eu te amo, meu bebê. Sabe, o papai tá muito, muito, muito feliz que você tenha gostado da escola e que tenha dado tudo certo esse ano que passou.

– Eu gosto da minha escola e também eu aprendo muitas coisas legais lá. E coisas  novas que eu não sei. – Contou toda sorridente. – Eu já sei fazer o meu nome todo. – Disse toda empolgada e eu lhe abracei mais forte e lhe dei vários beijinhos.

– Aaaaawn… – Lua levantou-se da cadeira e veio abraçar a filha.

– E o papai está muito orgulhoso de você, filha. – Afirmei.

– Agora também falta eu saber ler as histólinhas, né mesmo? Vai ser mais legal.

– Sim, mas daqui a pouco você aprende a ler, filha. Tudo no seu tempo.

– Aí eu vou poder contar histólinhas pra vocês. – Apontou pra mim e pra Lua.

– E nós vamos adorar escutar. – Lua respondeu lhe jogando um beijo no ar. Ela já tinha voltado e sentado no lugar de antes.

– Bom dia. – Minha mãe entrou na sala de jantar.

– Bom dia. – Eu e Lua falamos juntos.

– Bom dia, vovó.

– Eu pensei que tivesse perdido a hora. – Minha mãe comentou.

– Ainda é cedo. – Lua respondeu. E de fato, ainda nem é nove horas.

– A gente ainda vai pra plaia, vovó, mas só depois do café da manhã.

– É isso, aí! – Concordei e Anie voltou a tomar o suco dela.

– Ainda tem panquecas, tem bolo e pão. Eu acabei comendo todo pão de queijo, mas se a senhora quiser, peço pra Carla fazer mais. – Lua disse.

– Não precisa, querida. Vou comer uma fatia de bolo. Está tudo bem.

– Depois do café nós podemos ir… – Falou. – Ainda nem arrumei as coisas, mas acredito que conseguimos sair antes do almoço.

– O Bart pode ir com a gente, mamãe? O papai disse que ia pedir pra senhora. – Anie me olhou e depois olhou para a mãe.

– Depende, se as meninas forem pra casa, a gente leva ele. Mas se elas ficarem aqui, ele fica com elas.

– Mas eu quelo que ele vá com a gente. Ele é o meu cachorrinho, mamãe.

– Eu sei, filha. E não falei um “não”. Você me entendeu.

 

Um tempo depois – No quarto.

 

– Você já separou as roupas que vai levar? – Lua entrou no quarto. Eu tinha acabado de voltar do closet.

– Sim. – Apontei para a mala.

Aaah... você já colocou até na mala. – Ela sentou-se na cama. – Eu estava arrumando a da Anie. Ela queria levar tanta roupa que nem tem nada a ver. Ela nem iria usar. – Falou e eu ri.

– Quer ajuda com a sua? – Perguntei, mas Lua negou e levantou-se da cama. – Se quiser, é só falar. – Repeti. – Você está bem? Está sentindo algo?

– Estou bem, amor. – Afirmou e foi para o closet. – Espero que não chova.

– Estamos no verão, Luh. – Ri e fui atrás dela. Lua abriu algumas gavetas, pegou dois biquinis, roupas íntimas, roupas mais leves, um pijama – que talvez ela nem use –, toalhas de banho. – Você vai levar alguma coisa de higiene ou vai querer comprar lá?

– Acho que vou levar, amor. Nós voltaremos amanhã.

– Então eu vou logo pegar as coisas. – Falei e caminhei para o banheiro.

– Depois você pode pegar a mala?

– Pode colocar junto com as minhas coisas, loira. Ainda sobrou bastante espaço na mala. – Respondi.

– Vou ver. – Falou mais alto.

 

Eu peguei as nossas escovas de dente, sabonete, o meu shampoo e o da Lua, o hidratante que ela está usando agora, perfumes, escovas de pentear os cabelos.

 

– Pega a necesserie com as coisas de primeiros socorros.  – Me pediu.

– Lua?

– O quê?

– A gente volta amanhã, meu amor.

– E?

– O que pode acontecer, Lua?

– Muitas coisas. – Disse óbvia. – Vamos estar com a Anie, e ela é muito comportada, como você bem sabe. – Ironizou. Ri. Peguei a necesserie e o restante das coisas e fui para o quarto.

– Deixa que eu coloco a mala em cima da cama, Luh. – Avisei e ela assentiu. Andei até a mala, peguei e coloquei sobre a cama. – Você estava mais animada. – Notei. Lua me olhou.

– Eu estou animada. Só estou cansada, quero dormir um pouco. – Contou.

– Se você quiser descansar, podemos ir só depois do almoço.

– Mas assim nem vamos aproveitar tanto.

– Mas você vai estar descansada e irá aproveitar mais. E a gente tem que ter cuidado com vocês dois, Lua. Por favor, você sabe disso, amor.

– Eu sei. Mas eu estou me sentindo bem, só que estou com sono. A gente acordou muito cedo, Arthur.

– Tudo bem. – Aceitei. Lua terminou de arrumar a mala.

– Você não acredita? – Me encarou.

– Acredito. Sei que você não vai se colocar em risco e muito menos colocar o nosso ou a nossa bebê. – Respondi.

– Não mesmo, amor. – Sorriu.

– Vamos escutar os batimentos? – Convidei animado.

– Vamos. – Lua concordou e sorriu. Fui até o closet pegar o aparelho.

 

Voltei para o quarto com o aparelho em mãos, Lua já está deitada na cama, tranquei a porta do quarto – Anie pode aparecer aqui, do nada – e me sentei na cama. Ela abaixou o cós do short e levantou a blusa até os seios.

 

– O gel está aqui. – Apontou para a mesinha de cabeceira. Peguei o gel e passei em sua barriga, depois peguei o aparelho e espalhei. Demorei alguns segundos para achar a posição do bebê. Ele está um pouco abaixo do umbigo, mais para o lado direito. Lua aumentou o som do aparelho quando encontrei os batimentos. – Está ouvindo?

– Sim, amor. – Falei animado.

– Está mais quietinho hoje.

– Sim. Está pedindo que você fique quieta também. – A olhei divertido. Lua riu.

– É você quem começa.

– Até parece, sua cínica. – Rimos juntos. Ficamos escutando os batimentos do bebê por mais um tempo. – Acho que ele ou ela deve está dormindo.

– Eu também acho. – Lua cutucou um pouco a barriga no lugar onde o bebê está.

– Você sente ele mexer assim?

– Não...

– Se ele mexer agora, será que vou conseguir ver? – Perguntei atento.

– Não sei, amor. Acho que é um pouco difícil. Os movimentos ainda são muito sutis. – Explicou. Abaixei o rosto e depoistei um beijo em sua barriga.

– Você me faz muito feliz, sabia? – Falei e Lua me puxou para um beijo.

– Que bom, meu amor. Porque você também me faz muito, muito, muito feliz.

– Obrigado por esse bebê. Não importa mesmo se for menina ou menino. Só de ser mais um filho nosso, eu fico ainda mais feliz. – Confessei, embora tenha certeza de que Lua já saiba.

– Eu queria poder te dar quantos filhos você sonhou. – Me disse depois do beijo.

– Nunca foi a quantidade, Lua. Eu já te disse isso, você sabe. Eu já estava imensamente feliz por ser apenas a Anie, assim como estou imensamente feliz por termos mais um filho ou filha. Se pudéssemos ter mais, assim como eu sei que teríamos caso não tivesse acontecido o que aconteceu, eu ainda seria imensamente feliz e grato, muito grato a você. Todos os dias eu tenho certeza de que eu fiz a escolha mais certa da minha vida. E ainda bem que você também me escolheu.

– Ainda bem. – Ela repetiu e me beijou outra vez. – Dois também é bom.

– É perfeito, meu amor. – Segurei seu rosto e dei vários selinhos em seus lábios. – Um número par, um número perfeito, não é isso que dizem? – Lhe dei um beijo de esquimó.

– Se for igual a você, será perfeito. – Lua sussurrou e eu neguei com um gesto de cabeça.

– Eu discordo. Quero que seja igual a você. Seja menino ou menina, que seja loiro ou loira, que tenha o seu olhar, o seu nariz que eu gosto de apertar e te irritar… – Sorri.

– E que tenha o seu sorriso, que eu amo e acho lindo. – Lua completou e contornou os meus lábios com a ponta do dedo indicador.

– Já eu prefiro o seu. Parece que não vamos chegar a um consenso. – Notei.

– Talvez eu também queira que seja parecida comigo.

– Parecida, é?

– É.

– Então você já tem preferência…

– Não. – Negou e eu a beijei.

– Se tiver, não tem problema nenhum.

– Não tenho preferência, amor. Eu brinco, isso é verdade. Mas o que vier, eu vou amar muito. Eu já amo, na verdade.

– Eu também. Muito, muito, muito. – Desci os beijos para a sua barriga.

– Amor! – Lua exclamou e eu levantei a minha cabeça.

– O que foi? – Ela pegou a minha mão e colocou um pouco acima do umbigo. – Mexeu?

– Acho que já é mimado. Sempre mexe quando você fala dele.

– Igual a você. – Falei e depositei um beijo agora onde Lua pôs a minha mão.

 

Rumo a Brighton

 

– Que linda! – Elogiei assim que vi Anie. Ela vinha com uma bolsinha, um sapatinho azul e um macaquinho branco floral.

– Obligada, papai. Aonde que o meu cachorrinho vai?

 

Sim, Bart vai conosco. Carla e Carol irão aproveitar para passar o final de semana com a mãe delas. E logicamente, não deixaremos ele sozinho em casa.

 

– No banco de trás, amor. Sua mãe só foi pegar a coleira dele.

– Ele tem que ir de coleila? Por que, papai?

– É para a segurança dele. Assim como você tem que ir na cadeirinha e com cinto, e eu, a sua mamãe e a sua avó também com cinto de segurança, entendeu?

– Tá, eu entendi. Tudo bem. – Ela entrou no carro e já foi direto sentar na cadeirinha dela.

 

Terminei de colocar as malas no porta-malas e fiquei esperando Lua, minha mãe e Bart.

 

– Você pegou a ração do Bart? – Lua perguntou me entregando a coleira dele, que ela tinha ido buscar.

– Sim. Já coloquei no porta-malas. Vem aqui, garotão. – O chamei. Ele veio correndo, todo animado. É a primeira vez que ele irá viajar conosco. Lua entrou no carro e eu coloquei a coleira no Bart e entrei no carro com ele.

– Você acha melhor eu ir aqui atrás com eles? A sua mãe vai na frente com você.

– Por que, amor? – Prendi a coleira no cinto de segurança.

– Porque o Bart não vai ficar quieto a viagem toda, você sabe.

– É, tem isso. Mas ainda prefiro você ao meu lado. – Pisquei um olho. Lua me jogou um beijo, mas acabou saindo do banco da frente e vindo para o banco de trás com a nossa filha e o nosso cachorro.

– O Bart quer ir na janela, do lado da janela igual eu. – Anie disse e o cachorro latiu. – Escutou, papai?

– Sim, mas ele vai no meio. É mais seguro. – Afirmei. – Pegou o celular, Luh?

– Peguei. – Respondeu.

– Desculpa a demora. – Minha mãe pediu assim que chegou ao carro. – Você não vai na frente, querida?

– Não. É melhor ir aqui atrás com esses dois. Sei que não vão se comportar a viagem toda. – Lua olhou para os dois e Anie escondeu o rosto entre as mãozinhas. – Eu conheço muito bem esses dois.

– Eu sou comportada, mamãe.

– Aham… – Murmurei e ri. Minha mãe sentou no banco da frente e colocou o cinto de segurança.

– Tudo ok?

– Siiiim, papai! – Anie exclamou e eu dei partida no carro. – A gente pode ir ver os peixinhos e ir ao parque, papai?

– Podemos, filha. Podemos fazer o que você quiser.

– Arthur. – Chamei a atenção dele, porque Anie levará bem a sério a parte de que podemos fazer o que ela quiser.

 

*

 

– Eu quelo água, mamãe. A gente já tá quase chegando?

– Filha, praticamente, acabamos de sair de Londres. – Lua explicou. Bart está quieto, deitado no espaço entre o banco da frente e o banco de trás do carro.

– Mas eu tô com muita sede, mamãe. – Anie insistiu.

– A gente para em algum posto, filha. Você vai ter que aguentar. – Falei.

– Tá, papai. Então tá bom. O senhor compra então só um chocolate pra eu comer? Pode ser até do pequenininho. A senhora deixa, mamãe?

– É com o teu pai. – Lua respondeu. Ela certamente não quer que eu compre, mas também não quer dizer não, para não ser considerada a “mãe chata”.

– O meu papai vai deixar. – A pequena comemorou. Anie sabe que eu faço os gostos dela.

– Então, por que você me pede?

– Porque a senhora é a minha mamãe e também o meu papai sempre pede pra eu falar com a senhora antes. – A garotinha explicou.

– Seu pai sabe todas as minhas respostas, assim como a senhorita também sabe.

– Mas mesmo assim tem que perguntar. – Ela deu de ombros.

 

Quase trinta minutos depois…

 

O trânsito está um pouco lento. É verão, é férias escolares e muitas famílias estão descendo para aproveitar a praia em Brighton.

 

– Vou parar aqui para comprar uma água pra você. – Falei e estacionei o carro. – Aí aproveito e encho logo o tanque.

– Acho que a minha mamãe dormiu. – Anie falou baixo e eu olhei para o banco de trás: Lua realmente adormeceu.

– Ela me disse que estava com sono. – Falei. – Vamos deixá-la descansar um pouco. Quando chegarmos em casa, a gente chama ela, tá bom?

– Tá bom.

– Eu vou com a Anie comprar a água, quero ir ao banheiro. – Minha mãe falou e tirou o cinto de segurança. –  Você aproveita e enche logo o tanque. É melhor. E também a Lua não fica sozinha. – Completou e eu assenti. Peguei a carteira, mas minha mãe negou. – Não precisa, filho.

– Ela quer chocolate.

– Eu compro, não tem problema.

– Ok, só um chocolate. Ouviu, dona Anie?

– Ouvi, papai.

– Um chocolate do pequeno, mãe. – Lembrei a minha mãe. – Ela não pode comer muito doce, a pediatra restringiu.

– Entendi. – Minha mãe abriu a porta do carro e saiu. Anie tirou o cinto de segurança e eu desci do carro, abri a porta e a tirei do carro. Bart quis ir com elas, ficou todo animado e com o rabo balançando.

– Obedeça a sua avó.

– Tá, papai.

 

Os três saíram ruma à loja de conveniência do posto. Abri o tanque de gasolina, peguei a mangueira, passei o cartão e comecei a encher o tanque. Lua segue dormindo. Queria que ela estivesse em um lugar mais confortável. Fiquei olhando-a pelo vidro do carro.

 

O tanque não demorou a ficar cheio. O fechei e coloquei a mangueira no lugar. Abri a porta do carro com cuidado e entrei. Lua se mexeu um pouco e abriu os olhos.

 

– Já chegamos?

– Não, Luh. Você acabou adormecendo. Agora que parei no posto.

– Cadê a Anie?

– Foi com a minha mãe no posto. Ela queria fazer xixi.

– A Anie? Não era água que ela queria?

– A minha mãe, amor. – Expliquei.

– Aah, sim… e o Bart? Não me diz que elas levaram ele?

– Ele quis ir. – Dei de ombros.

– Por que você é assim?

– Não vai acontecer nada. Já, já eles estão de volta. – Garanti. – Você está bem? – A olhei.

– Sim. Só com muito sono mesmo. – Bocejei. – Fiquei um pouco enjoada, por isso preferi fechar os olhos, mas acabei dormindo. – Riu e eu ri junto.

– Quando chegarmos lá, vamos almoçar e depois você vai descansar. – Avisei.

– Quero uma comida específica. – Me disse.

– Qual?

– Eu quero muito uma salada, mas prefiro comer em casa, que sei como é preparada e que a Carla tem cuidado. Eliza disse pra eu evitar comer saladas fora de casa por não saber como é a preparação, se são bem lavadas ou não.

– Sim. – Concordei porque lembrei do que Eliza tinha falado. – Mas tem outra coisa que você queira comer?

– Suco de beterraba com cenoura, molho verde, batata recheada com bastante tomate e arroz.

– Batata recheada com arroz? – Franzi o cenho, mas Lua negou.

– Não, amor. O arroz como acompanhamento. – Explicou. – Um pouco de farofa também. – Acrescentou.

– Vamos ter que ver aonde vende esse prato bem específico. Quem come batata recheada na praia? – Ri e lhe joguei um beijo. – Mas se não encontrarmos, podemos fazer em casa, loira. Aí podemos até fazer a sua salada.

– Sim, podemos. – Ela concordou. Avistei Anie, minha mãe e Bart se aproximarem. – Eles já estão voltando. – Apontei para a frente. Minha mãe abriu a porta do carro e Anie entrou.

– Sabia que o Bart ganhou um bolinho? Um bolinho de cachorro, mamãe. Olha, papai! – Me mostrou. – Mas a gente não sabe se ele pode comer, por isso que ele ainda não comeu. Ele já comeu desse, mamãe? – Ela entregou o pacote com o bolinho para a mãe.

– Não. Ele nunca comeu desse, amor.

– Ele pode comer? – Perguntou e Bart entrou no carro. Minha mãe fechou a porta.

– Acho que pode. Olha aí, Arthur… – Me entregou. – Deixa eu colocar o cinto em você.

– No Bart também, mamãe.

– Eu vou colocar, filha. Calma. – Lua respondeu e eu li as informações na embalagem. Bart pode comer o bolinho. Na verdade, ele não come essas coisas, nem sei se vai gostar. Come apenas ração e vez ou outra, um sache de carne ou outro sabor. – Vem, Bart. – Lua o chamou.

– Olha, mamãe. – Anie mostrou o chocolate para Lua. – Minha vovó comprou do pequeno igual o meu papai disse.

– Muito bem. – Lua sorriu carinhosamente e deu um beijo em uma das bochechas da nossa filha.

– E pra senhora e pro meu papai também. – A pequena disse toda empolgada e mostrou mais dois chocolates. – Gostaram?

– Hahaha… Obrigada, filha. – Lua lhe deu outro beijo na bochecha.

– Eu amei, bebê. Obrigado! – Agradeci e lhe joguei um beijo no ar, que foi retribuído.

– Deu muito trabalho? – Lua indagou assim que a minha mãe entrou no carro.

– Não. Me obedeceu, assim como Arthur havia pedido.

– Eu obedeci, mamãe.

– Muito bem.

– Podemos ir?

– Sim. – Minha mãe respondeu. – Trouxe água para vocês também. – Ela entrou uma garrafa a Lua e colocou a outra entre o banco do motorista e do passageiro.

– Obrigada. – Lua agradeceu abrindo a garrafa d'água.

– Obrigado, mãe. – Dei partida no carro.

 

Pov Lua

 

Chegamos a Brighton.

 

– Cheegaaamoooos! – Anie comemorou.

– Está feliz? – Perguntei.

– Muito, mamãe. Já podemos ir à praia?

– Não, ainda não. Vamos almoçar antes. – Falei abrindo a porta do carro. Arthur já havia saído. Soltei Bart do cinto de segurança e ele saiu correndo atrás do Arthur.

– Baaartt, me espelaaa! – Anie gritou. – Me solta, mamãe!

– Calma. Não precisa correr. – Avisei. – Seu pai foi abrir a porta de casa. – Minha sogra já havia saído do carro e estava tirando as malas do porta-malas. – Prontinho. Sem correr, filha, por favor.

 

Anie desceu do carro, fiz o mesmo e fui ajudar a minha sogra com as malas. Não estão pesadas, então eu posso ajudar. Caminhei com ela até a casa. Arthur já abriu a porta, está abrindo as janelas para o ar entrar. A casa está limpa, temos uma pessoa que cuida quando estamos em Londres.

 

– Aí depois daqui a gente vai sair?

– Vamos almoçar, filha. Eu já te falei. – Respondi outra vez.

– O meu cachorro vai?

– Vai, meu amor. Claro que vai. – Assegurei e ela pareceu ficar mais tranquila. – Vou colocar as malas lá em cima. – Avisei.

– Deixa que eu levo, Luh. – Arthur falou. – A sua também, mãe. Só estou terminando de tomar água.

– Tudo bem. Vou ao banheiro. – Disse e saí da cozinha.

– Quelo água de novo. – Anie pediu.

– Você tem que ir ao banheiro antes de sairmos. – Ouvi Arthur avisá-la.

– É, eu sei.

 

*

 

– Você vai trocar de roupa? – Arthur chegou no quarto com as malas.

– Acho que não. Você vai?

– Não. – Respondeu e sentou-se ao meu lado na cama. – Você está se sentindo bem?

– Sim.

– Ok. Então vamos descer e ver se encontramos algum restaurante para almoçarmos.

– Vamos.

– Está bem mesmo? Você parece estranha. Calada e estranha. Não gostou de alguma coisa?

– Não aconteceu nada, Arthur. – Afirmei.

– De verdade?

– Sim, amor. – Repeti e ele me deu um selinho.

– Você quieta, me deixa preocupado.

– Mas você me pede pra ficar quieta. – O abracei de lado.

– É diferente, Lua. – Ele riu.

 

Descemos a escada, Anie está na sala com Bart e a minha sogra. Está com o controle da televisão nas mãos.

 

– Vamos, bebê. Você vai querer assistir desenho agora? – Arthur perguntou e Anie correu até ele.

– Não. Eu plefilo sair. – Sorriu. Arthur a pegou no colo e os dois saíram e Bart correu atrás deles . Saí com a minha sogra.

 

Estou me sentindo um pouco indisposta, mas sei que é por conta do sono. Não quero contar ao Arthur, porque sei que ele vai achar que estou assim por conta do que fizemos ontem e hoje de manhã e não tem nada a ver.

 

*

 

Depois de almoçarmos, fomos dar uma volta no pier. Anie está extremamente empolgada porque vai andar naquele carrossel. Eu fui salva por um bebê. Arthur que gire, gire e gire com ela naquele brinquedo. Bart foi com eles.

 

– Bart gosta dessa correria. – Minha sogra notou.

– Ele ama todos os programas que tenham a ver com correr e aprontar alguma coisa. - Falei e ela riu. – Mas eles se dão bem. Arthur tinha razão, um cachorro seria um presente muito especial para a nossa filha.

– Já decidiram quando irão contar a ela sobre o bebê? – Laura me olhou.

– Não, não… mas sabemos que a hora está chegando.

– O início não será fácil, mas depois as coisas se ajeitam. É sempre assim.

– Verdade. – Concordei. – E o seu namorado? Você podia convidá-lo para vir qualquer final de semana. – Sugeri e minha sogra sorriu de lado.

– Ele está bem. Estamos bem. – Respondeu. – Não acho que seja uma boa ideia.

– Ora, por que não? A senhora está falando do Arthur?

– Acho que ele não curtirá essa ideia e eu não quero que vocês briguem por isso, querida. – Explicou e olhou para onde Arthur está com Anie.

– Uma hora ou outra ele terá que aceitar, na verdade, ele nem tem que aceitar. Tem que respeitar as suas escolhas. – Falei bem séria. Conheço o Arthur, sei que ele também é teimoso e que está com muito ciúme desse relacionamento da mãe dele. – Ele só está com ciúmes, vai passar. Tenho tentado conversar com ele sobre isso – ri –, mas ele não gosta. Fica irritado, enfim… age como se não tivesse trinta anos. – Suspirei e neguei com a cabeça. – Depois ainda diz que eu que sou a teimosa.

– Não quero que briguem por conta desse assunto, Lua. Está tudo bem, de verdade. Vocês já enfrentaram muitas coisas, não quero que fiquem discutindo por conta de outras coisas… têm outros motivos com o que conversar, se apoiar. Isso não é tão importante.

– É claro que é, Laura. Você é a mãe dele, está em um relacionamento que tem te feito feliz. Ele devia ficar feliz por isso. Ele não gosta de falar sobre isso comigo, sobre… – Eu não quis entrar mais no assunto. E minha sogra pareceu perceber.

– Eu conheço o meu filho, Luh. Ele pode pensar que não, mas eu sei que você sabe que eu o conheço e sei exatamente o que você não quer falar. – Ela sorriu de lado para amenizar o clima que tendia a ficar pesado. Não que fôssemos discutir, mas o assunto talvez também seja delicado para ela. E eu não quero deixá-la desconfortável. – Você é mãe e me entende.

– Sim, eu entendo. Embora não tenha passado por essa situação e conheço o Arthur o suficiente para saber que ele nunca me deixaria sozinha. A senhora não precisa entrar nesse assunto se não quiser, eu sei que não é da minha conta, só falei um pouco demais. – Falei arrependida, porque eu realmente sei que o assunto não é da minha conta e ambos não tem nenhuma obrigação de me falar sobre isso. – A senhora não precisa se preocupar em falar sobre...

– Eu sei, Lua. Sei de tudo isso. – Ela voltou a sorri, fiquei nervosa e não estou sabendo disfarçar. – Você não precisa ficar assim. Fica calma, por favor. – Me pediu visivelmente preocupada. – Nós ainda temos muitas questões a serem resolvidas, eu e o meu filho, no caso. Nada com você, por favor. Eu sei disso e ele também sabe. Devo muitas respostas, talvez pela falta de perguntas. Vocês se conhecem há quase metade da idade de vocês e conhecendo o Arthur, ele nunca deve ter tocado no assunto do pai e se tocou, não foi porque sentiu vontade.

– Uma ou duas vezes... antes eu até tentava conversar sobre, pensei que tinha o que falar, mas já entendi que não tem. Ele sempre teve muito medo de não ser um bom pai e dessas poucas vezes que conversamos sobre esse assunto, foi por conta desse medo. De não ter tido uma referência e de não saber como fazer, mas ele não precisou. Arthur é um ótimo pai, é um marido incrível. Eu falo isso a ele e sei o quanto ele se esforça para continuar sendo ótimo, incrível, maravilhoso. Nem todos os dias são fáceis. A gente se dá bem, mas eu reconheço que sou um pouco mais difícil de lidar e, também, a senhora sabe das fases que já passamos. – Contei. Laura está me ouvindo atentamente.

– Eu sinto muito orgulho do homem que ele se tornou. Eu sei que o Arthur não é perfeito.

– Ele é quase... – Falei e Laura riu. – Não sei se me irrita ou me conforta. – Acrescentei.

– Que é insistente, que é preocupado, que é teimoso, que gosta de irritar, que sente uma necessidade enorme de proteger quem ama, que tem muito, muito medo mesmo de perder você e os filhos... Que você é extremamente importante pra ele, que ele se sente forte com você ao lado e que sempre vai tentar fazer de tudo para ser o melhor para vocês. E isso me orgulha, me orgulha porque muito do que ele é, não foi porque eu ou alguém quis, foi porque ele quis e continua querendo ser dia após dia.

– Arthur também é muito importante pra mim. Eu sou muito grata por ser ele... – Olhei para o carrossel onde ele ainda está com a nossa filha. – Eu sou feliz com o que a gente já construiu e vem construindo. Ele tem se esforçado muito para me fazer ficar bem e acabar não sentindo falta de pessoas e sentimentos que ele sabe que são importantes para mim e sei que se ele pudesse, faria mais do que já vem fazendo. – Concluí. Laura assentiu.

– Eu não tenho dúvidas disso, Lua. – Pontuou. – Tanto que sei, que se um dia ele tiver que fazer escolhas e se você estiver no meio, ninguém terá dúvidas...

– Não diga isso. Eu não gosto dessa conversa. – Fui sincera. Porque eu e Arthur já falamos disso. – Já conversei com ele sobre isso. E ele sabe que eu não gosto desse assunto. Eu já disse que ficaria muito chateada se um dia meus filhos não me escolhessem. – Expliquei e minha sogra riu.

– Eu não acho ruim, Luh. Não mesmo!

– Ele diz que a senhora não se importaria. Eu como mãe, me importaria. Então, me coloco no seu lugar.

– Arthur também me conhece, Lua. A gente nunca foi de se cobrar muito, nem antes dele te conhecer e nem depois. Muitas coisas poderiam ter sido resolvidas, eu sei disso. Mas nunca nenhum de nós precisou de uma presença, de uma figura masculina. Eu fiz o que eu achei que era o melhor pra ele, não fui uma mãe perfeita, mas a gente sempre tenta e eu talvez nem tenha tentado o suficiente. – Ela suspirou. – Arthur nunca me perguntou sobre o pai, Lua. Eu não sei se ele já te disse isso.

– Já. – Respondi.

– Então não temos muito o que falar. Ele nunca perguntou e eu nunca quis dizer. Ele soube da grávidez, não se importou, não quis saber se seria menino ou menina. Hoje ele sabe que é o Arthur. Eu não me importei, Lua. Não sofri. Eu tinha como arcar com as minhas responsabilidades, já tinha uma ótima estabilidade financeira, não precisei me humilhar para que ele assumisse o meu filho e nem precisei colocar meu filho nessa situação. Arthur é um homem carinhoso, gentil, cuidadoso e não precisou dele para se tornar essa pessoa, esse ser humano que é hoje.

– Não mesmo. – Me referi a parte que ela diz que ele não precisou de uma figura paterna. – E não gosto quando a senhora diz que talvez não tenha feito o suficiente. A gente sempre dá o nosso melhor e só nós sabemos disso, Laura. Eu tenho certeza de que a senhora foi a melhor mãe que poderia ser e continua sendo. Se você não se importasse mais, não estaria fazendo o que ainda faz, o apoio que está nos dando. Tudo isso porque o Arthur correu para a senhora. Como ainda pode duvidar que é uma boa mãe? – Questionei. Mesmo sabendo que às vezes até eu mesma me questiono se sou uma boa mãe. Ela não teve tempo de responder, Arthur se aproximou de nós duas com a Anie e o Bart.

– Meu Deus, eu já estava ficando tonto. – Reclamou e me entregou a coleira do Bart. – Estou enjoando. – Ri e acariciei o braço dele quando ele se aproximou de mim.

– Quer um pouco de água? – Perguntei.

– Se eu tomar água, eu vomito.

– Credo, Arthur. – Falei e ele sentou na cadeira ao meu lado.

– Sobre o que vocês conversaram? – Olhou de mim para a mãe. O encarei.

– Eu já disse que não te conheci tão fofoqueiro, Arthur. – O repreendi e ele fez careta. – Você quer água ou suco, filha?

– Quelo um sorvete. Pode, mamãe?

– Pode. – Respondi e me levantei. – A senhora também quer um sorvete? – Perguntei à minha sogra.

– Se tiver de pistache, eu vou querer.

– O que é esse, vovó?

– É um sabor de sorvete, meu anjo.

– E é gostoso?

– É uma delícia. – Laura respondeu e Anie riu.

– Hahaha eu ainda plefiro de chocolate. – Correu até a sorveteria. Fui atrás dela com Bart. Vou comprar uma água pra ele. Não está tão quente, o clima está bem agradável, estava vetando bastante.

– De chocolate que você vai querer?

– É, mamãe. E cobertura de chocolate também.

– Ok. Olá, boa tarde.

– Boa tarde. – O atendente respondeu.

– Quero dois sorvetes de chocolate, um de creme e um de pistache. – Fiz o pedido. – Aqui vende água?

– Vende sim.

– Vou querer uma garrafinha.

– Vou pegar.

 

Minutos depois o atendente voltou com os pedidos. Entreguei os dois sorvetes de chocolate a Anie e disse que um era para o pai dela. Levei os outros dois sorvetes e mais a garrafinha com água e caminhamos até a mesa que Arthur e minha sogra estão sentados e conversando.

 

– Gostou do sorvete, papai?

– Sim. E você, gostou do seu?

– Gostei. Gosto de sorvete de chocolate. Por que o Bart não pode comer também?

– Ele é cachorro, amor e a alimentação dele é diferente da nossa. Não pode dar sorvete pra ele. Isso é sério, filha.

– Tá, eu não vou dar. Eu só quelia entender.

– Você entendeu?

– Entendi, papai.

– Então está tudo bem.

– A senhola quer um pouco do meu sorvete?

– Não, meu amor. A mamãe já está tomando sorvete. – Sorri e lhe dei um beijo na bochecha.

– Eu quelia um pouco do da minha vovó. – Sussurrou e eu segurei o riso.

– Peça à ela, diz que você quer provar. Acho que ela vai dar a você. Uhm?

– Será?

– Eu acho que sim. – Falei e Anie andou até onde a avó estava. – Quer um pouco? – Ofereci, pois Arthur está me olhando muito. Ele riu.

– Não, obrigado. Não é para o sorvete que eu estou olhando… – Me provocou.

– Uuhmm… – Murmurei e ele aproximou o rosto do meu e deu um beijo na bochecha.

– Linda! – Me elogiou.

– Eu te amo. – Lhe dei um selinho.

– Vamos pra casa? Você disse que queria descansar. A noite a gente sai de novo. – Disse e eu assenti. – Vamos vim pra cá novamente?

– Eu gosto daqui. Tem programação para todos nós.

– Acho que a noite deve ter música ao vivo.

– Sim. A gente volta… – Afirmei.

 

Nos levantamos e Arthur pegou a coleira do Bart.

 

– Vamos, garotão? – Disse ao cachorro que latiu e pulou animado.

 

*

 

Chegamos em casa e eu fui direto para o quarto. Estou com muito sono, que até sinto o meu corpo mole.

 

– Vou aproveitar e dormir um pouco, tá? – Falei assim que Arthur entrou no quarto.

– Pode descansar, loira. Está tudo bem mesmo?

– Está sim.

– Vou voltar lá pra sala. Acho que a Anie não vai querer dormir agora.

– Não mesmo. – Afirmei e me deitei.

– Qualquer coisa me chama, tá?

– Tá bem. – Respondi. Arthur se aproximou e me deu um beijo demorado nos lábios.

– Amo você.

– Amo você. – Eu também disse e Arthur descansou a cabeça em meu peito, comecei a fazer carinho em seus cabelos. – Você está carente? – Indaguei igual Anie faz. Arthur riu.

– De você? Sempre! – Respondeu me dando beijos no pescoço. – Vou deixar você descansar, amor. – Se afastou e levantou-se da cama. – Beijos.

– Beijos.

 

Ele saiu do quarto e eu me encolhi na cama e puxei o cobertor para me cobrir.

 

Pov Arthur

 

Deixei Lua no quarto descansando e desci para a sala onde Anie está com a minha mãe e Bart.

 

O cachorro está deitado ao lado da porta, Anie e minha mãe estão sentadas no sofá.

 

– Você quer dormir, filha?

– Não, papai. Eu vou assistir filme das princesa com a minha vovó. O senhor quer assistir também?

– Vou assistir com vocês. – Me sentei no sofá e Anie veio para o meu colo.

– A minha mamãe vem assistir também? – Perguntou me olhando.

– Não. Ela estava cansada. Quis dormir um pouquinho. Mais tarde a gente vai sair, você não vai querer dormir um pouquinho antes?

– Não estou com sono, papai. – Se acomodou em meu colo.

– Qual filme das princesas, meu anjo?

– Da pequena sereia, vovó. – Anie escolheu.

 

Começamos a assistir o filme. Anie não está com um pingo de sono.

 

Horas depois…

 

– Papai?

– Oi, filha.

– Faz um lanche pra mim?

– O que você quer?

– Um sanduíche bem gostoso.

– Vem, vamos aqui na cozinha. – Chamei ela.

 

Minha mãe foi tomar banho, Lua ainda está dormindo, Bart segue deitado perto da porta e Anie parece ligada no duzentos e vinte.

 

– Com queijo, papai. Só queijo, tá?

– Tá. – Comecei a preparar o sanduíche pra ela.

– Tem pão de queijo?

– Não, filha. Cuidado com esse banco, você pode cair e se machucar. – Avisei.

– Eu posso fazer o meu sanduíche?

– Eu já estou terminando, filha. – Falei.

– Posso ir acordar a minha mamãe?

– Não, filha. Ele está descansando e não pode assustar a sua mãe, por favor, Anie.

– Por que?

– Porque não. Ela está dormindo. Não é bom a gente assustar as pessoas assim. – Expliquei e a pequena ficou me encarando. – Aqui, está prontinho… – Coloquei o prato na frente dela com o sanduíche.

– Obligada, papai.

– De nada, filha.

 

Eu estava na cozinha com Anie quando a minha mãe chegou.

 

– A senhora quer comer alguma coisa?

– Não, filho. Se eu comer agora, não vou jantar. – Explicou. Já são quase seis horas da tarde.

– Eu estou comendo. Eu estava com fome. – Anie comentou ao mostrar o sanduíche para a avó.

– Você vai jantar?

– Sim. Senão a minha mamãe vai me brigar.

– Ainda bem que você sabe.

– É. – A pequena deu de ombros. – Vou brincar agora antes da minha mamãe acordar.

– Ela não brinca com a Lua mesmo.

– Não. Ela conhece a mãe que tem. – Peguei o prato e levei até a pia para lavar. – Quero conversar com a senhora. – Comecei. – Aproveitar que a Lua está dormindo. Ela percebeu que aconteceu algo, quis saber, já ficou chateada achando que o problema tinha a ver com ela…

– Não precisamos falar sobre isso, Arthur. Já foi entendido. O que você quer dizer mais?

– Eu quero pedir desculpas. Não devia ter falado daquele jeito, embora me incomode o fato… enfim… o fato da senhora querer me apresentar uma pessoa que eu não quero conhecer.

– Então, por que você está me pedindo desculpas por algo que você não se arrepende?

– Eu não quis chatear a senhora.

– Tudo bem, Arthur. Eu acredito em você. Não precisamos mais falar sobre esse assunto. É melhor. Até porque, não quero que Lua fique chateada com você por isso.

– Ela vai ficar bem mais que chateada. Ela está super feliz que a senhora tenha encontrado alguém.

– Pelo menos ela, não é mesmo?

– Eu também quero muito que a senhora seja feliz.

– Não é o que parece, filho. Sendo bem sincera mesmo.

– Eu não esperava que a senhora fosse pedir para trazer ele. Não esperava mesmo! Como a senhora sabe que vai dar certo?

– Como assim?

 

Pov Lua

 

Abri meus olhos e notei que já estava escuro. Não acredito que dormi tanto assim. A casa está silenciosa. Me espreguicei e me levantei da cama. Eles devem estar em casa, se tivessem saído, Arthur teria me avisado. E tenho quase certeza de que Anie não está dormindo, mesmo que não esteja fazendo nenhum barulho.

 

Abri a porta e saí do quarto. Desci a escada com cuidado. Anie está na sala, deitada no sofá, não notou a minha presença, está entretida demais com o desenho que está passando na televisão.

 

Rumei para a cozinha e comecei a escutar uma conversa entre Laura e Arthur. Parei antes que eles percebessem a minha presença e fiquei escutando.

 

– De querer ficar apresentando…

– Eu não estou ouvindo isso. – Minha sogra parecia bem surpresa, pelo tom de voz. – Você acha que eu tenho quantos anos, Arthur? – Questionou irônica.

– Mãe…

– Não, você vai me ouvir. – Disse bem séria. – Eu nunca me meti nas suas escolhas de vida e muito menos nos relacionamentos. Você sabe muito bem disso! Eu só queria que você respeitasse as minhas escolhas. Eu sou madura o suficiente para saber o que quero e o que deixo de querer. Robert não é nenhum adolescente, assim como eu também não sou. Se você não aceita e nem pensa em aceitar, você está no seu direito. Não vou te forçar a nada. Não irei te forçar a conviver com ele, assim como nunca te forcei a conviver com nenhum outro cara com quem já me relacionei. Ou você acha que eu nunca tive ninguém depois que engravidei de você? – Perguntou, mas eu não ouvi Arthur responder. Não consigo ver eles, apenas ouvir a conversa. – Você tem trinta anos, não deveríamos estar tendo esse tipo de desentendimento.

 

Não estou conseguindo entender muito bem o que aconteceu. Eu sei que Arthur está com ciúmes da mãe, embora não admita. Ele jamais vai admitir. Mas para além, não sei o que aconteceu. Eu percebi que eles estavam estranhos, e Arthur ainda mais depois das ligação de quinta-feira. Eu senti que tinha algo estranho e eu não estava enganada.

 

– Eu não desrespeitei a sua escolha. Eu só não quero conhecer esse cara, não quero conviver. Não quero que Lua conheça e nem que Anie o chame de avô. Aí já é demais. Um cara que apareceu agora! – Arthur enfim falou e eu abri e fechei a minha boca, sem acreditar no que eu acabara de escutar.

– Você está falando sério mesmo? Eu não acredito que você pensou que Anie pode chamá-lo de avô ou que eu e ele queremos isso, por favor, Arthur. Ele não é o seu pai! Eu nem consigo imaginar qual seria a reação da Lua ao escutar essa sua fala.

– Ela não precisa saber dessa nossa conversa e nem de que a senhora me pediu para trazê-lo esse final de semana. Ela está empolgada e sei que quer muito conhecê-lo porque está vendo que a senhora está feliz. Mas eu não quero que essa relação seja criada, não com a minha família. A senhora diz que sabe o que faz e eu espero que saiba mesmo.

– Eu sei muito bem. Você não precisa se preocupar. Nem com o meu relacionamento e muito menos que Lua saiba dessas nossas duas últimas conversas. Hoje eu tive muitas oportunidades de tocar no assunto e não toquei. Tivemos uma conversa muito madura e sem julgamento, coisa que estou recebendo de você. –

– Sobre o quê? – Ele quis saber.

– Não te interessa! – Laura bateu as mãos sobre alguma coisa. Acho que foi da mesa. – Pergunte a ela se estiver muito curioso. – Sugeriu. E Arthur permaneceu calado. Óbvio que ele não me perguntará nada. – Eu já entendi tudo o que você não quer. Por que não encerramos esse assunto? Não vai nos levar a outro lugar que não seja mais discussões. E não há nenhuma necessidade disso. Eu me arrependi muito de ter tocado nesse assunto de trazer Robert e apresentar a vocês. Mas eu achei que antes era só uma implicância, não que você ainda estivesse numa fase imatura…

– Eu não sou imaturo. – Arthur pontuou.

– Imagina se não fosse… – Laura foi sarcástica.

 

Agora estou entendendo tudo: Laura pediu ao filho para trazer o namorado e apresentar pra gente. Não acredito que Arthur disse “Não” a ela.

 

– Mas você pode ficar tranquilo. Não tocarei mais no assunto e muito menos, apresentarei ele à sua família. – Ela foi extremamente pontual, enfática.

 

Estou decepcionada com essa atitude do Arthur. Laura está muito feliz com esse relacionamento. Por que parece que ele não enxerga isso?

 

– Eu não quero que as coisas entre a senhora e a Lua mudem por isso…

– E por que mudariam? – Laura questionou.

– Pelo que eu fiz.

– Se foi você, por que você acha que eu mudaria com ela? Lua é uma pessoa muito educada comigo. Sempre me tratou bem e com respeito diante de qualquer assunto. É uma nora muito querida. Se eu estou aqui, com certeza, é porque é ela. E só. Você sabe muito bem disso…

– Eu sei… – Ele disse mais baixo. – Eu disse isso a ela.

– Que bom e espero que ela tenha acreditado.

 

Talvez eles dois tenham mais questões a serem resolvidas, do que eu possa imaginar.

 

– Ela não acreditou. Ela disse que foi porque eu pedi e que mãe é assim. Mas a gente se conhece – ele deve ter se referido a eles dois –, e eu sei que não foi por mim. E está tudo bem do mesmo jeito.

– Como eu disse, ela é uma nora muito querida. Nos damos muito bem, nunca tivemos desavenças e eu espero que continue assim. Amo ela, fico muito feliz porque vocês se tem. Sei que você é louco por ela de todas as formas. Senti o seu desespero e eu não podia me negar a vir.

– Eu sei que foi por isso. E eu agradeço. Porque ela melhorou muito depois que a senhora veio e eu também sei que ela tem sentido muito a falta da Emma nesse momento e eu não posso fazer nada para ajudar, para mudar essa situação.

 

Arthur foi sincero e sei que ele se culpa muito pela minha relação atual com a minha mãe.

 

Ouvi Laura falando assim, me deixa emocionada. Mas, também, com um pouco de culpa. Ela não tem obrigação nenhuma de vir todos os meses ou de se preocupar comigo, porque sou esposa do Arthur e porque estou grávida de uma neta ou um neto dela.

 

Meu receio era esse, dela estar fazendo tudo isso por achar que é uma obrigação.

 

– Eu imagino. – Laura soou compreensiva e eles ficaram em silêncio por alguns minutos. – No que depender de mim, vocês não terão problemas. Não com esse assunto. – Deixou claro.

– Eu só queria que a senhora realmente aceitasse as minhas desculpas.

– Você não deve pedir desculpas por algo que não quer. Então, esquece.

–  Eu não queria magoar a senhora. Nem a senhora, nem a Lua…

– Lua não ficará sabendo, Arthur. – Minha sogra voltou a repetir. – Esse assunto é entre eu e você. É você quem é o meu filho, não a Lua. – Completou e Arthur riu.

– A Lua me falou a mesma coisa.

– Sua esposa é madura e sensata, Arthur. Você tem muita sorte. – Ouvi outro barulho e dei dois passos para trás. Acho que Laura deve ter se levantado.

– É… eu sei. – Arthur concordou e eu saí dali e voltei para a sala.

 

Anie segue deitada no sofá e muito concentrada no desenho que está passando na televisão.

 

Me aproximei do sofá, a pequena me olhou e sorriu. Um sorriso tão fofo, tão carinhoso.

 

– Minha mamãe.  – Ela abriu os bracinhos.

– Oi, meu amor. Você não dormiu?

– Não. Eu não senti sono, mamãe. Mas a senhora dormiu, não foi?

– Foi. – Me sentei no sofá e Anie sentou em meu colo.

– Um monte, mamãe. Já até ficou de noite.

– Eu estava cansada, filha.

– E agora?

– Agora a mamãe está descansada. – Respondi e Laura apareceu na sala.

– Olá, querida. Conseguiu descansar? – Me perguntou e sentou em uma poltrona.

– Sim. E a senhora? – Me esforcei para parecer bem e tranquila.

– Fiquei assistindo um filme com a Anie…

– Da pequena sereia. – Anie acrescentou.

– Depois fui tomar um banho. Quando desci, ela e Arthur estavam na cozinha.

– A senhora comeu algo?

– Não, não. Se eu comer, não janto direito. – Esclareceu.

– Eu também… – Falei acariciando os cabelos de Anie. – Daqui a pouco a gente vai sair…

– Sim, sim. – Laura concordou. – Você está bem?

– Estou. – Respondi tentando parecer convincente.

– Ei, você já acordou? Eu já ia no quarto te ver… – Arthur se aproximou de mim e me deu um beijo na cabeça. – Conseguiu descansar?

– Sim, bastante. – Respondi e ele me encarou.

– Faz tempo que acordou? – Indagou e eu neguei.

– Ainda agora. Vi Anie aqui e vim ficar com ela. – Expliquei.

– Eu vou tomar um banho. Já passou das seis, senão, a gente vai sair daqui tarde e vai ser difícil achar um lugar para jantar.

– Tá bom. Quando você terminar, vou tomar banho com a Anie.

– Aonde é que a gente vai?

– Ainda não sabemos, filha.

 

Arthur foi para o quarto um pouco desconfiado. Ele me conhece, sabe que não está tudo tão bem.

 

*

 

Longos minutos se passaram e nada dele voltar para a sala.

 

Minha sogra já tinha ido trocar de roupa: um vestido amarelo, uma sandália marrom e uma bolsa também marrom.

 

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Ela está linda. Simples, elegante e linda.

 

– Nossa, que linda. – A elogiei. Laura sorriu agradecida.

– É gentileza sua.

– Que nada. A senhora sabe que é elegante.

– Obrigada, querida. Tenho certeza de que você é quem estará mais linda. – Me disse e eu sorri.

– Vou ver se Arthur já saiu do banho. Está demorando muito. – Falei e me levantei do sofá. – Quando eu te chamar, você vai, ok? – Olhei para Anie e ela assentiu.

– Ok, mamãe. Eu ouvi.

 

Subi a escada. Quando cheguei ao quarto, Arthur estava terminando de abotoar a camisa.

 

– Fiquei esperando você me chamar.

– Eu já estava terminando de vestir a roupa. – Disse e eu me sentei na cama.

 

 

Ele está tão gostoso com um short azul marinho, uma camisa azul clara de manga comprida e um sapatênis com uma lavagem azul/jeans.


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– Está tudo bem mesmo, Luh? – Indagou, mas eu não respondi nada. – Você dormiu e a gente estava bem, aí agora você acordou, está toda estranha, fria, distante. – Notou. – Quer falar alguma coisa? Fiz algo com você nos teus sonhos? – Brincou e como não ri, ele voltou a ficar sério.

– Vou chamar a Anie para tomarmos banho. – Me levantei.

– Ei, eu estou falando com você. – Chamou a minha atenção.

– Eu sei. Eu ouvi. – Afirmei. – Mas não quero falar agora. – Acrescentei.

–  Você está falando sério? – Ele não estava acreditando.

– Estou. – Pontuei e saí do quarto.

 

Sei que se começarmos agora, não vamos parar tão cedo e vamos acabar com o nosso jantar.

 

Quando voltei com Anie, Arthur estava se passando perfume.

 

– Vou esperar vocês lá embaixo. – Avisou.

– A minha roupa é da cor da tua camisa. – Falei. Eu só trouxe um conjuntinho e não me atentei para a cor de camisa que Arthur já tinha colocado na mala. Ele me olhou.

– Quer que eu troque a minha camisa? – Me perguntou de maneira gentil. Óbvio que isso não me incomoda.

– Não. Não me incomoda. – Falei e ele continuou me olhando.

– Posso trocar e também não terá nenhum problema.

–  Não quero que troque. Você está lindo com essa roupa. – Elogiei. Arthur sorriu um pouco sem graça.

– Obrigado, Lua. Vou esperar vocês lá embaixo… – Avisou novamente.

 

Entrei no banheiro. Anie já estava lá, já tinha tirado a roupa, só não conseguiu ligar o chuveiro.

 

– É alto e eu não consegui, mamãe.

– Eu vou te ajudar. Deixa só eu tirar a minha roupa.

 

Tomamos banho juntas, foi um banho rápido e a conversa que ouvi entre Arthur e a minha sogra, não saí da minha cabeça. Não quero estragar a nossa noite, não quero estragar a nossa viagem. E sei que nenhum deles dois, também, quer isso.

 

– Mamãe, essa roupa é bonita, não é? A senhola gosta? – Anie me mostrou um conjunto amarelo e branco: saia e blusa, respectivamente.

– Gosto, filha. Vai ficar lindo em você.

– Tem uma bonequinha na frente, olha… – Apontou para a frente da blusa. – Me ajuda?

– Claro. – Me sentei na cama e ajudei Anie a vestir a roupa, depois ela calçou uma sandália e eu penteei os cabelos dela. – Aqui, vem passar o perfume.

 

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– Obligada, mamãe. – Me deu um beijo na bochecha, o que me fez sorri.

– De nada, meu anjo. – Acariciei seus cabelos. – Me espera lá na sala, tá? Junto com o seu pai e a sua avó.

– Tá bom, mamãe. – Anie foi saindo, mas voltou. – Mãe?

– Oi.

– O Bart vai com a gente?

– Agora a noite não, filha. Vamos deixar a comidinha dele, a água e ele vai ficar aqui esperando a gente voltar.

– Não pode?

– Não. Agora a noite não.

– Tá. – Anie saiu do quarto e fechou a porta.

 

Tirei a minha toalha, enxuguei meu corpo, meus cabelos, vesti uma calcinha, vesti minha saia e um sutiã tomara que caia, depois vesti a blusa. Me olhei no espelho e gostei. Sei que talvez mês que vem, esse conjunto nem servirá mais em mim. A blusa é um cropped, mas nada tão curto. Peguei a sandália que havia levado e calcei, coloquei meu relógio, uma pulseira, me passei perfume, penteei os meus cabelos, me passei rímel e batom e depois peguei a minha bolsa. Saí do quarto e desci a escada.


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– Já podemos ir. – Falei assim que cheguei à sala.

– Eu disse que você estaria mais linda. – Minha sogra lembrou.

– Obrigada. – Agradeci.

– Mamãe, a gente já colocou a comidinha para o Bart. – Anie avisou apontando para o cachorro.

– Muito bem. – Respondi. Arthur se aproximou assim que a minha sogra caminhou com Anie para a porta.

– Você está muito linda mesmo. – Me elogiou e eu sorri.

– Obrigada. Você também está muito lindo. Eu já te disse. – Falei e Arthur também sorriu. Ele está visivelmente confuso e triste, e eu não gosto de vê-lo assim. – Vamos?

– Vamos. – Concordou e saímos de casa.

 

Sentei no banco da frente ao lado dele. Minha sogra foi atrás com Anie. Colocamos o cinto de segurança e Arthur deu partida no carro.

 

Depois do jantar…

 

Chegamos em casa, Anie tinha dormido ainda no restaurante. Ela não dormiu a tarde, estava caindo de sono, apenas jantou e logo se acomodou em meu colo  e dormiu. Nem o carrossel a deixou empolgada para brincar.

 

Arthur a pegou do meu colo e levou para o quarto. Anie vai dormir com a gente na cama.

 

– A senhora já vai deitar? – Perguntei a minha sogra.

– Vou tomar uma água antes. Você quer alguma coisa?

– Não, não. Vou com a senhora até a cozinha. – Falei e seguimos até a cozinha, Bart foi conosco.

 

O jantar foi leve, conversamos sobre sobre muitos assuntos: comidas, viagens, trabalho, a escola da Anie e outros. Não ficou um clima desconfortável e eu agradeci internamente por isso.

 

Arthur não voltou do quarto e eu quis tanto contar a Laura que escutei a conversa que eles tiveram mais cedo. Tomamos água e depois subimos a escada.

 

– Boa noite, querida.

– Boa noite. Até de manhã, Laura.

 

Nos despedimos e eu segui para o quarto. Arthur estava no banheiro. Anie já estava na cama e ele já tinha colocado o pijama dela.

 

Comecei a tirar a minha roupa quando ele abriu a porta do banheiro e saiu de lá com a toalha no pescoço, sem camisa e vestido com uma calça de moletom.

 

– Você já vai dormir? – Perguntei a ele.

– Já. Por que? – Me perguntou e colocou a toalha pendurada no cabide que há no quarto. – Você quer alguma coisa?

– Não. Só perguntei mesmo. – Respondi e tirei meu sutiã. Arthur ficou me encarando mais não disse nada. – O que foi?

– Nada. – Deu de ombros e caminhou até a cama. – Você quer deitar desse ou do outro lado? – Apontou primeiro para o lado direito.

– Pode ser do outro lado, Arthur.

– Tudo bem. Boa noite.

– Boa noite. – Me enrolei na toalha e caminhei para o banheiro.

 

Brighton | Domingo, 13 de agosto de 2017 – Sete horas da manhã.

 

Acordei com a claridade invadindo o quarto. Anie está deitada virada de costas para mim, com um dos braços sobre o peito de Arthur. Ele ainda dorme.

 

Não faço ideia de como será o nosso dia. Não quero discutir com o Arthur, mas estou tão incomodada com a atitude que ele teve. Estou decepcionada, e odeio estar decepcionada com ele. Sei que Arthur é uma boa pessoa e que não gosta de magoar as outras, que não gosta de se sentir responsável por fazer ou ter feito alguém triste.

 

Anie se mexeu e virou para o meu lado. Uma das mão tocaram o meu braço e ela apertou, me segurando. Ela sempre fez isso e continua fazendo quando dorme com a gente.

 

– Mãe...

– Oi, meu anjo. Bom dia! – Lhe dei um beijo na cabeça.

– Bom dia, mamãe. A gente já vai pra praia? – Perguntou e eu ri.

– Filha, ainda nem levantamos. – Respondi. – Vamos levantar, tomar banho e tomar café para irmos.

– O Bart vai hoje?

– Vai, filha. – Assegurei e Anie me abraçou. – Posso acordar o meu papai?

– Pode. Só não pula, tá? Você pode cair e se machucar. – Avisei e Anie assentiu.

 

Ela se virou na cama e aproximou o rosto e as mãozinhas do rosto do pai.

 

– Acorda, cheilinho. – O chamou. Acho tão lindo quando ela o chama de “Cheirinho”. – Cheilindo lindooo... – O chamou novamente. Arthur não conseguiu segurar a risada e nem eu.

– Você acordou cedo, cheirinho. – Ele disse abraçando a nossa filha.

– Só um pouquinho, papai. – Ela retribuiu o abraço.

– Muito cedo, Anie. Eu tenho certeza. – Arthur pegou o celular. – Sete e dez, filha. – Disse a hora.

– Mas a gente vai pra praia!

– Não tão cedo assim.

– A minha mamãe já disse que só depois que a gente tomar café e que o Bart também vai.

– Sim, sim, ele vai. – Arthur também confirmou.

– E a minha vovó, não é mesmo?

– Sim, a sua avó também vai. – Arthur respondeu.

– Pode tomar banho?

– Aonde, Anie?

– Na água da praia.

– Aaah, isso é com a sua mãe. Pergunte a ela.

– Pode, mamãe? – Anie se virou para mim.

– Vamos ver quando chegar lá, filha, tá bom?

– Então tá... – Se virou e veio me abraçar. – A senhola é linda, sabia?

– Você não está falando isso só porque quer tomar banho na praia, não é? – Perguntei desconfiada e Anie riu.

– Não. Eu tô falando de verdade, mamãe. A senhora não aquedita em mim?

– Eu acredito, amor. – Assegurei e lhe dei um beijinho na ponta do nariz.

– Bom dia, Luh. – Arthur me disse e sentou-se na cama.

– Bom dia, amor. – Falei e ele me encarou. Depois me deu um sorriso de lado e levantou-se da cama.

 

*

 

Tivemos uma manhã agradável. Fiz de tudo para não tratar Arthur mal. Ele sentiu isso, sabe que não está tudo bem e vamos conversar em algum momento, sem plateia.

 

Laura está levando tudo numa boa, que quase parece que ela não está chateada com o filho e que não esperava que ele respeitasse as suas escolha e o seu novo relacionamento.

 

Arthur entrou na água com Anie. Eu e minha sogra ficamos apenas observando-os enquanto tomávamos um sorvete.

 

Almoçamos ainda em Brighton e depois pegamos a estrada de volta para casa. Anie dormiu a viagem inteira. Chegamos em casa e ela ainda estava dormindo. Deixamos ela em casa com as meninas e fomos levar Laura ao aeroporto. Não falamos nada no caminho de volta do aeroporto até em casa.

 

Em casa…

 

Desci do carro e entrei em casa. Anie ainda dorme, pelo silêncio em casa. Bart está deitado na sala. Subi para o quarto e me sentei na cama.

 

Estou com um pouco de dor de cabeça, me sinto enjoada e muito cansada.

 

– Você já vai tomar banho? – Arthur me perguntou assim que entrou no quarto. Neguei com um gesto de cabeça. – Então eu vou logo. – Me avisou. Não falei nada e ele seguiu para o banheiro.

 

Tomei uma decisão, embora não esteja feliz com ela, sei que é a melhor coisa a se fazer.

 

Esperei Arthur sair do banheiro, para podermos conversar.

 

– A gente pode conversar agora? – Perguntei ao vê-lo caminhar até o closet. Ele parou em frente a porta e me olhou.

– Vou vestir uma roupa antes. – Disse e eu concordei.

 

Fiquei encarando a porta do closet, esperando-o por alguns minutos.

 

– Sobre o que você quer conversar? – Sentou-se ao meu lado na cama. Não me olhou, ficou fitando a poltrona que há em nosso quarto.

– Eu vou ser bem direta com você. – Comecei e Arthur virou o rosto para me olhar.

– É bem melhor assim.

– Eu escutei a conversa que você teve com a sua mãe…

– Que conversa?

– Arthur, por favor, não se faça de desentendido. – Pedi bem séria.

– Eu conversei com a minha mãe muitas vezes, Luh.

– Em Brighton, ontem à noite, na cozinha. – Expliquei.

– Agora tudo faz sentido…

– Sim, pra mim principalmente quando notei que tinha algo de errado e você disse que era coisa da minha cabeça. – O lembrei.

– O que você escutou exatamente?

– Não foi toda a conversa, foi só uma parte. Eu nem vou dizer que foi sem querer, porque quando eu me aproximei da cozinha e ouvi vocês, eu quis ficar escutando para saber sobre o que era. – Confessei.

–  Você não costumava se esconder para ouvir conversas, Luh. Na verdade, você odeia esse tipo de coisa.

– E continuo não gostando, por isso estou sendo bem sincera com você. – Pontuei. – Eu sabia que tinha algo de errado, que não era só da minha cabeça. Que vocês tinham se estranhado de alguma forma, por alguma razão. Eu não quis acreditar quando ouvi sobre o que era, Arthur. Fiquei desapontada com você, fiquei decepcionada com a atitude que você teve. Por que você fez isso?

– Você disse que ouviu a conversa, por que está me perguntando?

– Eu disse que cheguei na metade da conversa. Ouvi que sua mãe queria trazer o namorado para nós conhecermos…

– E eu disse que não quero conhecê-lo. Então, é bem óbvio o motivo pelo qual eu tomei aquela atitude.

– Que você não quer, que não quer que eu conheça e nem que a nossa filha conheça. Desde quando você manda ou escolhe as pessoas que eu posso ou não conhecer? – Questionei.

– Eu não quis escolher por você.

– Pois foi exatamente o que você fez e o que você falou com todas as letras.

– Você está decepcionada comigo, só porque eu não deixei a minha mãe apresentar o namorado dela a você? – Ele riu e eu odeio quando faz isso na hora que estamos em uma conversa séria.

– Não seja debochado. Você sabe que não é só por isso. – Enfatizei. – E eu não estou achando nada engraçado nessa conversa. Você tomou uma atitude tão idiota. Você já é um homem adulto, devia respeitar as escolhas da tua mãe. Ela é madura o suficiente para saber o que é bom ou não para ela. Ela só quer que você conheça a pessoa com quem ela está, se ela está fazendo isso agora, é porque ele realmente é importante para ela. Se ela não fez isso antes, é porque, com certeza, os outros não eram. Você fez tantas escolhas péssimas no passado, por que se acha no direito de julgá-la? – Perguntei.

– E o que você está fazendo comigo agora? Julgando as minhas escolhas do passado. – Ironizou.

– Eu não falei porque acho que sou uma das suas melhores escolhas, eu posso até estar entre uma das péssimas. – Falei.

– Não diga bobagens, Lua. – Tratou logo de me repreender. – Você sabe que não é, então não se coloque nesse lugar.

– Eu não sou perfeita, Arthur. E sei que você também não é. Não estou te julgando, apenas quero que você lembre que temos direito de fazermos as nossas escolhas. Se você respeita as minhas, devia respeitar as das outras pessoas igualmente, principalmente a da sua mãe. Ela é a tua mãe, ela também é a tua família. Eu ouvi algumas coisas que não gostei.

– Eu pedi desculpas. Ela não aceitou. Eu não posso fazer mais nada, Lua. E acho que esse assunto não cabe a nós dois discutirmos. Eu já resolvi com a minha mãe, o assunto é nosso: meu e dela. Ponto. – Ele foi bem direto e grosso.

– Se você quer que seja assim – encolhi os ombros –, que seja. – Me levantei da cama. – Não quero mais que a sua mãe venha nos visitar, não por causa de mim, não por causa da gravidez. – Falei e Arthur me olhou surpreso.

– O quê?

– Foi isso mesmo que você escutou. Quero que ela fique na casa dela, que ela aproveite a folga dela, que ela viva a vida dela. Que não perca tempo se preocupando com assuntos que não dizem respeito à ela.

– Lua…

– Foi isso que você acabou de mandar eu fazer. Na verdade, você tem gostado de mandar, só esqueceu que eu não sou boa em obedecer. Se eu tenho que me incomodar só com os meus problemas, com as minhas coisas. Que a sua mãe também se incomode apenas com as coisas dela, e você também. Que você não se intrometa nas minhas coisas.

– Lua, pelo amor de Deus! – Ele exclamou. – De onde você tirou que a minha mamãe se sentiu incomodada em estar te ajudando?

– De lugar nenhum. Eu não estou com raiva ou chateada com a minha sogra. Eu ouvi a parte que ela me elogiou, e tudo o que ela disse, é recíproco. O que eu estou falando agora, é que não quero mais que ela perca os momentos dela lá em Manchester, comigo aqui, só porque você ligou desesperado pra ela vir me ajudar.

– Lua, não foi assim…

– Foi exatamente assim.

– Não foi. Para de dizer essas coisas. Você não tem nada a ver com a discussão que eu tive com a minha mãe. A nossa conversa foi sobre ela e esse namorado dela que eu não faço questão de conhecer. Não quero ter contato, não quero estabelecer nenhuma relação com ele. E muito menos, quero que a minha filha chame ele de “vovô”. A gente nem conhece esse cara.

– Mas a sua mãe conhece. De onde você tirou que a Anie pode chamá-lo de vovô? Pelo amor de Deus! A sua mãe também não me conhecia, você me conhecia e nem por isso ela se recusou a me conhecer. – Meus olhos se encheram de lágrimas. – Desde ontem que eu me segurei para que a gente não discutisse. Eu não consigo mais… – Comecei a chorar. – Fiquei decepcionada porque a gente conversa tanto, eu sei que você ainda não aceitou, que não gosta de tocar no assunto… mas… poxa, a tua mãe está feliz. Isso deveria ser importante pra você.

– É muito importante pra mim que a minha mãe seja feliz, Luh. – Arthur assegurou e se aproximou de mim. – Fica calma. Você não precisa chorar por isso, querida. Não quero que fique nervosa assim. Por favor… – Ele segurou em meu rosto. – Quero que você tenha uma certeza, mesmo que não acredite nas outras coisas, mas tudo o que eu menos queria, era ter decepcionado você e a minha mãe. O meu arrependimento é muito sincero, Lua. De todo o meu coração. Eu poderia ter pedido para ela esperar mais um pouco em vez de ter dito logo um não. As minhas desculpas ontem não foram de coração mesmo, a minha mãe tem razão. Mas eu não quero conhecer e nem conviver com esse cara, eu me arrependi de ter dado a resposta pra ela, assim, desse jeito que a magoou. Mas eu não consigo querer isso agora. Pedi desculpas porque sei que ela ficou triste, mas não porque me arrependo de estar tendo esse sentimento. Você me entende? – Me perguntou. Não consegui responder. – Não chora, por favor. – A voz dele saiu embargada. – Eu tinha certeza de que você ficaria muito chateada comigo quando soubesse, mas não que iria ficar tão triste ao ponto de chorar assim, Luh. Eu prefiro que você brigue comigo, do que você chore, Lua. Você sabe disso. – Disse triste.

 

Eu não consigo controlar as minhas lágrimas. Sei que não é para tanto, mas já estou tão cansada, que chorar parece me deixar mais “leve”.

 

– Eu não quero... que... que você pense que eu estou chateada com... a sua mãe... Não é isso... – Comecei.

– Eu sei que não, Luh. Agora eu entendi, ok? A gente vai fazer do jeito que você quiser. A minha mãe só não vai entender muito bem, enfim... essa decisão, mas eu entendo, tá? Não precisa se preocupar. Sempre vou tentar buscar fazer o melhor para que você se sinta bem, o mais confortável possível. Eu não gosto de te ver assim, querida. De verdade, Lua. Eu sei que está muito triste comigo e não gosto de fazer isso com você. Nem com você e nem com ninguém, apesar de que, seja você a pessoa mais importante pra mim. – Foi sincero e eu coloquei os dedos sobre os seus lábios.

 

Eu reconheço e agradeço tudo, tudo o que Arthur fez e faz por mim. Ele é um homem muito bom, um marido realmente muito incrível e eu nem sei se mereço tanto. Todos os dias ele tenta dar o melhor pra mim, pra Anie e para o novo bebê, eu mais do que ninguém sei disso. Mas eu não tento tanto quanto ele, e ele sabe disso. Pode fingir que não nota, mas Arthur sabe muito bem.

 

Já tivemos muitas conversas, ao longo do nosso relacionamento, sobre os nossos sentimentos um para com o outro, independente de irmã, pais, filha, de família. Arthur sabe que eu não gosto muito quando ele fala que daria a vida por mim ou que eu sou a pessoa mais importante da vida dele, quando ele me coloca acima dele próprio. Porque embora eu o ame, e ame muito, quero ele ao meu lado, não acima de mim. Acima de mim eu tenho a minha fé, apesar de não manifestá-la tanto quanto as outras pessoas, e os meus filhos. Não quero ficar acima dele, assim como não consigo colocá-lo acima de mim.

 

– Não gosto quando fala assim. – Falei e ele ficou me encarando. – Você também é muito importante pra mim, muito mesmo. Mas já conversamos tanto sobre isso, Arthur.

– Eu sei. Mas não me importo. O que eu sinto é tudo o que sempre deixei muito claro para você. Não me importo se você pensa diferente. Somos diferentes, não é isso que você sempre fala? Por que eu tenho que fingir que você não é tão importante assim? Só por que você não consegue sentir o mesmo por mim? – Questionou, mas não parecia frustrado, só confuso.

– Mas você é importante, eu amo tanto você. Mas não consigo dizer que é o mais importante, porque tem a nossa filha... tem...

– Tem a sua família, os seus pais e eu entendo tudo isso. Ei, está tudo bem, Lua, de verdade. Não é porque não penso igual a você, que eu estou errado por sentir tanto amor por você.

– Quero estar ao seu lado. Assim como quero que você esteja ao meu lado. Não um ou outro acima, você me entende?

– Eu entendo. – Pontuou, ainda que não esteja gostando da conversa. – Tudo bem. Não vou mais falar desse jeito que tanto te incomoda. – Acrescentou. Ele sempre fala isso, mas esquece.

– Não quero te ver triste e nem chateado por conta dessa conversa.

– Está tudo bem, Lua. Você escutou a parte que a minha mãe elogiou a tua maturidade e sensatez?

– Eu não sou tão madura assim, Arthur. Você convive comigo e sabe disso.

– Eu concordo com a minha mãe, Luh. E eu convivo com você e é por isso que concordo com ela.  – Afirmei.

– Você é bem mais do que eu. – Falei, e ele é mesmo. Acariciei seu rosto. Estávamos tão bem, por que essas coisas têm que acontecerem com a gente?

– Não mesmo. – Ele negou. – Sei que não quer me ver triste, mas não precisa mentir pra isso. – Sorriu para amenizar o clima.

– Não estou mentindo. – Assegurei. – Quem tem me segurado todo esse tempo? Quem tem sido racional desde que descobrimos a gravidez? Quem tem falado que dará tudo certo? Quem tem falado as coisas que preciso ouvir e não as que eu quero ouvir? As pessoas podem não ver isso, Arthur. Mas eu vejo, eu sinto, eu convivo com você todos os dias. O que você é comigo, você não precisa provar para ninguém, eu já te disse isso. Nenhuma outra pessoa no mundo vai mudar a visão que eu tenho sobre você, sobre a pessoa que você se tornou, sobre o homem que você é.

– Que bom, Luh. – Ele sorriu de lado. – Que bom que você me conhece. Eu não me importo com o que as outras pessoas pensam sobre mim. Nem se elas notam ou deixam de notar que eu sou bom, que eu sou legal. Eu sendo bom pra quem é a minha família, é o que me deixa tranquilo e em paz. Não quero que você pense que precisa provar algo para alguém. O que você é comigo, é o que eu sei de você há anos e não quero que seja diferente. Comecei a te amar assim, não quero que mude, não quero que pense que precisa mudar só porque temos maneiras diferentes de demonstrar o nosso amor um pelo outro. – Deixou claro e apertou as minhas mãos. – Fica tranquila, tá? Não quero que a gente brigue. Eu entendi tudo, tudo mesmo. Você continua tendo razão. Mas eu ainda acho que não é um bom momento pra gente falar sobre a minha discussão com a minha mãe. Quando eu de fato achar que eu devo pedir desculpas sinceras, eu vou fazer, tudo bem? E ela vai saber e pode ou não aceitar, igual fez ontem.

– Ela só não aceitou porque sabe que não foram sinceras, Arthur. – O lembrei.

– Sim, por isso também. – Ele reconheceu. – Não quero te ver mal por isso, tá? A gente já conversou. Você acha que precisamos fazer mais alguma coisa? – Me perguntou.

– Eu só não quero ver vocês dois brigados, nem a sua mãe deixando de viver a vida dela para ajudar a gente e quando ela precisar, não poder contar, entendeu? Foi isso que senti.

– Mas ela pode contar. Sei que se tivesse falado com você, você teria adorado a ideia.

– Eu não sou filha dela, Arthur. Eu não sou você. Para ela, a sua opinião é mais importante que a minha. E será sempre assim, pra mim, pra ela, pra qualquer mãe e pai.

– Tudo bem. Eu já entendi isso. Entendi ontem, na conversa que tive com ela e entendi hoje, nessa conversa que estamos tendo.

– É só isso mesmo. Eu também não quero brigar com você – Deixei claro. – Eu fico tão mal. – Confessei, embora ela pudesse ver.

– Não quero que você fique mal por isso, e muito menos pelas atitudes que foram minhas. Você não tem nada, absolutamente nada a ver com discussão que eu tive com a minha mãe. E o tempo inteiro eu quis que a relação de vocês não fosse abalada por algo que fui eu quem fiz, entende? Mas parece que não deu muito certo. – Concluiu triste.

– Talvez vocês tenham mais coisas a acertarem, do que eu pensei que tivessem. Sei que não é da minha conta, Arthur...

– A gente tem, Lua. E não surgiram na quinta-feira, quando ela me ligou. Então, você não precisa se culpar. – Tentou me tranquilizar. – Todos nós temos as nossas questões, você tem as suas com a sua família...

– E você não se mete, é isso?

– Não. Eu não ia dizer isso, Luh. Eu ia dizer que quando chegar a hora, você vai saber o que falar, como devem resolver e assim sou eu com a minha mãe. E isso é desde que eu me entendo por gente.

– Entendi. – Suspirei e aceitei que não é um assunto que ele quer conversar comigo. E que todas às vezes que tocarmos nele, vamos nos desentender.

– De verdade?

– Sim. – Garanti.

– Então, ok. – Sorriu de lado, sem mostrar os dentes. – Fica calma, para de chorar. – Sim, eu ainda estou deixando algumas lágrimas escaparem. Arthur tentou limpar as lágrimas com o polegar. – Você quer tomar um banho agora? – Perguntou e eu assenti. – Quer que eu te espere?

– Não precisa. – Respondi e ele aceitou com um gesto de cabeça. Ouvimos uma batida na porta.

– Acho que é a Anie. – Comentou e logo em seguida ouvimos a voz dela.

– Papai? Mamãe?

– Vou tomar  banho. – Falei e segui para o banheiro. Não quero que ela me veja assim, ela não vai entender nada.

 

Continua...

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

 

N/A: Boa tarde. Espero que estejam aproveitando feriado, seja para pular o carnaval ou descansar hahaha

Eu estou em casa: fazendo plano de aula (tenho aula quinta-feira), escrevendo a fic e descansando. Eu até ia sair com os meus amigos, mas desde ontem chovido tanto onde eu moro. Não dá pra sair com chuva, não para mim hahaha Deus que me livre de pegar uma virose.

 

Gente, como puderam perceber, o capítulo ficou muuuuito grande. Eu tive que dividi-lo. Por esse motivo, a reação da Anie não foi ainda nesse capítulo, como eu havia planejado. Sorry! Se eu deixasse a reação, ia cortar o capítulo sem uma coerência, ia faltar alguma coisa, me entendem?

 

Eu espero que vocês tenham gostado do capítulo, que a espera tenha valido a pena. Que vocês COMENTEM, que tenham acessado os links que eu disponibilizei. Que não queiram me matar por essa conversa final...

 

OBS: A atualização era para ter saído ontem, mas como eu disse, aqui choveu muito. A internet está bem instável. Eu só consegui postar agora. Espero que entendam. Tenho dado o meu máximo!

 

ATENÇÃO: Talvez essa semana, até domingo, quem sabe, eu poste mais uma atualização, tá? Acredito que seja a última agora do mês de fevereiro. Em março irei ficar mais off, pois na escola que eu trarbalho, já será a 1ª avaliação, então, vai ser bem corrido para mim.

 

Um beijo e até breve.

Não esqueçam de comentar!

14 comentários:

  1. Arthur tão ciumento, Dn Laura ficou bem chateada com ele não é pra menos, mas acho q ele logo vai aceitar

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  2. Arthur é ciumento com a mãe imagina com a Anie

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  3. Nossa estou ansiosa pela reação da Anie e descobrir o sexo do bebê

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  4. Arthur se faz indiferente mas ele tem medo de se apega a uma figura masculina, que nunca teve, acho que seja por isso esse ciúme todo, ansiosa pela a reação da anie

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    1. Eu também acho ele nunca teve uma figura paterna

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  5. Ansiosa pela reação da Anie e das outras pessoas mais ainda pela descoberta da bebé

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  6. Ansiosa pela próxima atualização

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  7. Ansiosa pela continuação,pra saber o sexo do bebê e pela reação da Anie.

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  8. Nossa estou muito ansiosa pela descoberta do sexo do bebê

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  9. Ansiosa pela nova actualização

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  10. Por favor não demore com a próxima atualizacao

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  11. Eu amo capítulos grandes, ansiosa para os próximos capítulos ❤️

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  12. Que conversa emocionante e importante eu amei o capítulo ❤️

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