Little Anie - Cap. 91 | 4ª Parte

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Little Anie

Parte Quatro

Mas e o amor? O que é, senão um monte de gostar?

Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar,

gostar de ouvir, gostar de olhar.

Gostar de se abandonar no outro.

O amor não passa de um monte de gostar

de muitos verbos ao mesmo tempo.

                                                          – Carla Madeira 

Londres | Domingo, 16 de julho de 2017

 

Capítulo anterior...

 

Pov Lua

 

Me ajeitei na cama e levantei a minha blusa até os meus seios. Minha sogra espalhou o gel na minha barriga e Arthur ficou atento a cada movimento. Ela ligou o aparelho e começou a movê-lo sobre a minha barriga.

 

– Ainda não achou? Por que está demorando?

– Ainda não consegui localizar a posição do bebê. O aparelho é só de auscultar, meu filho. E como a Lua ainda não está sentindo os movimentos, fica mais difícil achar tão rápido.

– Eu já fico nervoso.

– Por favor, Arthur. – Pediu e ele me deu um beijo na bochecha. Procurei a sua mão e entrelacei nossos dedos.

– Acho que ele está bem aqui. Vou aumentar o volume. – Minha sogra aumentou o volume do aparelho. – Conseguem ouvir? – Nos perguntou empolgada.

– Sim. – Arthur assentiu e me olhou.

– Sim. – Respondi e sorri. Comecei a chorar e Arthur roçou a bochecha na minha.

– Fica calma, neném. Está tudo bem, meu amor. – Arthur tentou me acalmar.

– A frequência cardíaca está excelente, minha querida. Você não precisa se preocupar com isso.

– É que eu fico muito... nervosa. Toda vez eu fico nervosa, na verdade.

– Relaxa. – Minha sogra pediu.

 

Ficamos mais algum tempo ouvindo os batimentos do bebê que só aceleravam. Minha sogra garantiu que está tudo normal. Que é um bebê saudável sim, segundo todos os resultados de exames e essa verificação da frequência cardíaca.

 

***

 

Londres | Domingo à tarde.

 

Depois da conversa com a minha sogra e de ouvirmos os batimentos do bebê, nós fomos almoçar. Anie quis ir para a piscina depois do almoço e como o Arthur não sabe negar nada a ela, eles estão até agora na água. Fiquei na varanda com a minha sogra. Conversamos sobre muitos assuntos, incluindo a relação atual dos meus pais com o meu marido e sobre o novo romance dela.

 

– Mããããããeee...

– Oi, meu amor. – Sorri ao voltar a atenção para a pequena.

– Veeeem... entra aqui na piscina. – Anie pediu toda empolgada jogando água para todos os lados.

– Sua mãe é uma frienta. – Arthur riu alto.

– A água nem está fria. – A garotinha riu. – Vem, mamãe! – Me chamou novamente.

– A mamãe já te explicou que tem que ficar quieta, você esqueceu?

– Eu tinha isquecido mesmo. – Anie colocou as mãozinhas sobre o rosto. – O Bart pode entrar na piscina, papai?

– De jeito nenhum. – Respondi por ele. Porque se depender do Arthur, ele permitirá.

– A sua mamãe já respondeu. – Ele me encarou e semicerrou os olhos. – Ela não sabe se divertir. – Acrescentou.

– Eu tenho juízo, coisa que você ignora. – Retruquei.

– O Bart iria adorar. – Pontuou. Fiz que nem escutei e voltei a conversar com a minha sogra que apenas ria da situação. Bart está mais que animado para entrar na piscina e aprontar todas com esses dois.

– Meu filho às vezes parece que não tem trinta anos. – Laura negou com a cabeça.

– Às vezes parece que eu tenho dois filhos. – Revirei os olhos. – Pelo menos na maioria das vezes ele me obedece. – Ri e minha sogra me acompanhou.

– Há muito tempo que eu não tenho uma tarde de domingo tão agradável. – Ela mudou de assunto.

– Estamos felizes em tê-la aqui conosco. Eu gostaria que esses momentos fossem mais frequentes.

– Eu também gostaria, minha querida. – Minha sogra apertou uma das minhas mãos. – Quando você pretende contar?

– Não... não tenho pensado nisso. – Confessei. – Como as coisas ainda estavam tão incertas, preferimos não contar a ninguém. Porém, essa semana foi complicada.

– Quem sabe?

– A Carla e a senhora.

– Nem a sua irmã?

– Sophia não conseguirá guardar segredo. – Ri.

– Ela ficará chateada.

– Eu também já fiquei muito chateada. – Suspirei.

– Sei que foram meses difíceis. – Laura olhou para a piscina.

– Eu cheguei a pensar que nunca acabariam. – Também voltei o meu olhar para a piscina onde os dois se divertiam.

– Eu fiquei tão decepcionada. Eu nem soube o que pensar. Jamais imaginei que o meu filho fosse capaz de fazer aquilo com você. Tanto que nem tive coragem de sequer tentar falar com você. Nem sabia como te encarar.

– Foi um pesadelo. Graças a Deus que já passou. Agora estamos bem. – Sorri. – Só estaria melhor se a minha mãe também acreditasse nele.

– Tudo tem seu tempo. Quem sabe com esse novo bebê, as coisas entre eles melhorem?

– Eu não sei. Na verdade, não acredito. Penso que a minha mãe não vai gostar da notícia. Diferente do meu pai, ele vai ficar extasiado.

– Sim. Ele também ama crianças.

– Meu pai tem o Arthur como um filho, a senhora sabe disso. – Falei e minha sogra assentiu. – Ele e o Harry sempre acreditaram no Arthur.

– Você chegou a se culpar em algum momento? Eu fiquei triste comigo como mãe, por não ter acreditado no meu próprio filho. Nós o conhecemos, mas tinham tantas coisas que provavam o contrário. Devo imaginar que tenha sido mil vezes pior para você, como esposa dele.

– Foi... – Suspirei. – Foi bem difícil. Fiquei muito decepcionada. Devastada, ele sabe disso. Aconteceram muitas coisas além das que foram expostas. Eu também tomei algumas atitudes que me arrependi, mas já conversamos. Não cheguei a me culpar. Falamos muito sobre o assunto antes dele tomar à proporção que tomou, mas como sempre, Arthur pensou que ela não teria coragem. Agora tudo está resolvido, nossos problemas já são outros. – Encostei minha cabeça no encosto do sofá.

– Eu te entendo e jamais julgaria qualquer atitude que você tenha tomado. Mas Graças a Deus está tudo resolvido. Fico feliz que apesar de tudo, vocês estão bem.

– Sim. Arthur é um bom marido. Serei egoísta se um dia reclamar sobre isso. – Confessei. – É só um pouco chato. – Acrescentei e minha sogra riu. – Nem tudo pode ser perfeito.

– Não mesmo, minha querida.

– Eu gostaria de lhe fazer uma pergunta... – Comecei.

– Vou ao banheiro. Quando voltar, continuamos a nossa conversa. – Minha sogra avisou e eu assenti. Ela levantou-se do sofá e entrou em casa. Arthur saiu da piscina e veio caminhando até mim.

– Nem pensar. – Avisei. Pensei que ele fosse me carregar e jogar na piscina.

– O quê? – Ele sentou-se no apoio do sofá.

– Arthur, você está molhado. – Tentei me afastar. – Nem pensar em me jogar nessa piscina.

– Não serei doido de fazer isso, Luh. Ainda mais com você estando grávida. – Respondeu e me deu um beijo na bochecha. – O que tanto você e minha mãe conversam?

– Não me lembro de você ser tão fofoqueiro.

– Aaah, agora querer saber disso é ser fofoqueiro?

– Sim. Ainda mais quando o assunto não te diz respeito. – Pontuei e segurei com uma das mãos nos dois lados da sua bochecha.

– Mas quando é ao contrário, a senhorita quer saber de tudo, não é mesmo? – Questionou e eu acabei rindo.

– Não é a mesma coisa, baby.

– É exatamente a mesma coisa. E ai de mim, ai de mim se me negar a responder. – Disse roçando os lábios no meu pescoço.

– Não faz assim, amor. – Encolhi meus ombros.

– Não vai mesmo me contar?

– Querido, só estamos falando de filhos e de você. – Respondi acariciando seus cabelos.

– De mim?

– Sim, e do quanto você nos dá trabalho. – Ri e Arthur me encarou.

– Eu? Ai que mentira! – Ele riu  junto comigo. – Eu sou um ótimo marido e filho. – Completou.

– Você é um convencido, isso sim. – Pontuei e lhe dei um selinho ao ouvir minha sogra se aproximar.

– Vou voltar lá para a piscina com a nossa filha.

– Vai lá, só mais meia hora, por favor. – Avisei. – Você sabe que se der confiança, ela não vai querer sair tão cedo da água.

 

Arthur voltou para a piscina e minha sogra sentou-se ao meu lado.

 

– Voltei. O que você gostaria de me perguntar? – Ela sorriu ao final da pergunta.

– É ainda sobre a gravidez. Não quis perguntar perto do Arthur. – Olhei rapidamente para a piscina e ele me jogou um beijo. Retribui e voltei a olhar para a minha sogra. – Ele está preocupado com tudo. Se resolvermos conversar a sós, ele vai se sentir excluído e irá me encher de perguntas, como acabou de fazer ainda a pouco. Quis saber sobre o que estávamos conversando. Algumas coisas eu prefiro não falar e até já discutimos sobre isso. Ele pediu desculpas por ser invasivo, mas não é sobre isso. Não o acho invasivo. Gosto de conversar com ele sobre tudo, ele sabe. Mas há momentos que precisamos guardar algumas coisas só para nós. A senhora concorda?

– Eu concordo, querida. Não tiro a sua razão. Há coisas que só nós entendemos e, também, que queremos compartilhar com outra mulher.

– Exatamente. E ele acaba se sentindo excluído. Eu o conheço e Arthur sempre foi muito preocupado e atencioso. Sei que tenho muita sorte de ter um marido assim, e agradeço. Mas têm dias que ele testa a minha paciência. – Rimos.

– Eu imagino que sim. Nós duas sabemos que não é fácil essa convivência diária, seja em um casamento ou em uma outra relação, de amizade por exemplo. É difícil convivermos com quem é diferente de nós, mas escolhemos conviver. É um ato de amor, de respeito e, sobretudo, de escolhas. Queremos viver com a pessoa em questão.

– Eu não me vejo sem o Arthur, não como ano passado. Foi muito difícil, muito mesmo. Mas vejo como uma decisão inteligente. Precisávamos desse tempo. Eu precisava, foi por isso que tomei a iniciativa. Sabia que por ele, permaneceríamos na mesma casa e não seria nada saudável. Não para a relação com a nossa filha e talvez hoje, nem estivéssemos aqui todos juntos.

– Isso é verdade, minha querida. Devemos saber a hora certa de tomarmos algumas decisões, mesmo que não seja nada fácil. – Laura concordou e eu assenti.

– Eu só quero que a senhora me explique melhor uma coisa. Eu fiquei pensando bastante a respeito da nossa conversa mais cedo, lá no quarto. A senhora disse que é a minha placenta que está baixa e não o útero como eu e o Arthur havíamos entendido e que uma ultrassonografia seria arriscada, pode estourar ou haver sangramento. O que pode ser muito perigoso. – Enquanto eu falo, minha sogra concorda com a cabeça. – Entrei na décima quarta semana...

– A primeira semana do segundo trimestre. – Ela explicou e eu assenti.

– Isso, exatamente. Eu tenho uma consulta marcada para o dia dez e um exame de ultrassom. Uma transvaginal. É arriscada fazer?

– Pelos seus exames, eu não arriscaria fazer uma transvaginal. Faria uma ultrassonografia normal, embora saiba que a transvaginal nos dá mais detalhes e precisões. No momento, eu esperaria para o próximo mês.

– Eu posso falar com a Eliza.

– Claro que sim, Lua. Ela saberá o que é melhor para você e o bebê.

– Mas eu confio na senhora. É por isso que estou perguntando. Fiquei pensando nisso.

– Ela não colocará vocês em risco. Fica tranquila. – Ela segurou em uma das minhas mãos.

– Eu sei. – Sorri agradecida. – Só perguntei porque me lembrei do exame.

– Eu não quis te deixar preocupada. 

– Não é nada disso. A senhora não sabe o quanto me tranquilizou. No final, Arthur tinha razão.

– Ele não precisa saber disso. – Ela deu uma piscadela e eu acabei rindo.

– Mas ele sabe. – Respondi. – E eu nem precisei dizer nada. Ele me conhece. – Completei.

– Mamãe... – Anie tinha acabado de sair da piscina e andou até onde eu estou.

– Oi, meu anjo. – Entreguei uma toalha a ela.

– O meu papai disse que já tá bom, mas eu ainda quelia ficar só mais um pouquinho assim... – Ela mediu com os dedinhos. Se existe algo mais fofo, eu desconheço. – Só um pouquinho. É de verdade, mamãe.

– Não. O seu pai está certo. Olha só como você está... – Fiz um gesto com as mãos. – Está tremendo de frio.

– Só estou com um pouquinho de frio. – A pequena admitiu.

– Eu estou vendo. Vamos entrar que eu vou pedir para a Carol te banhar.

– Eu sei ir sozinha, mamãe.

– Mas é claro. – Concordei. – Como eu pude esquecer que você já é quase uma mocinha independente. – Completei e encarei Arthur que segurava a risada.

– Pois é. Eu não sei, mamãe. – Ela deu de ombros e entrou na cozinha. – Baaaaaartttt... – Gritou pelo cachorro. – Vem aqui comigo!

– E ele foi. – Arthur riu e pegou a toalha da minha mão. – Vocês já vão entrar?

– Eu já. Vou fazer uma ligação. – Minha sogra sorriu e eu sorri de forma maliciosa, ela saiu da varanda e Arthur bateu em uma das minhas pernas.

– O que você está rindo? – Sim, ele está enciumado.

– Agora eu não posso mais rir?  – Questionei e ele revirou os olhos.

– Você está parecendo uma adolescente e a minha mãe a sua melhor amiga que está tentando ficar com um garoto. – Eu disse que ele está com ciúmes.

– Sua mãe é minha amiga. E ela está ficando com um coroa muito bonito. – Pontuei. – Você tem que admitir.

– Aah, não, Lua. Por favor. Você faz isso só porque sabe que me irrita.

– Bobagem sua, Arthur. Você é um homem de trinta anos, não tem por que sentir ciúmes da sua mãe a essa altura, me poupe.

– Eu vou entrar e tomar um banho, isso sim. – Ele mudou de assunto.

– E vai me deixar aqui sozinha?

– Se você estiver com a ideia de me irritar com esse assunto, a resposta é sim. – Disse debochado.

– Todas as vezes que eu tiver oportunidade. E quando eu não tiver, farei igual fiz agora, criarei. – Debochei do mesmo jeito e ele riu.

– Eu não vou discutir com você, Lua.

– E não há motivos mesmo. – Ri. – Me ajuda. – Pedi dengosa e ele estendeu as duas mãos para me ajudar a levantar da espreguiçadeira.

– Se eu fosse você, eu pensaria duas vezes antes de ficar me irritando. Porque nessas horas, não é a minha mãe e nem o coroa gato dela que vem ajudar você.

– Ciumeeentoooo!

– Para com isso, Lua. – Ele pediu enquanto eu apoiava um dos meus braços ao redor do ombro dele.

– Cuidado, cuidado. – Ele segurou firme na minha cintura.

– A gente pode fazer amor? – Sussurrei enquanto passávamos pela cozinha. Carla estava lá.

– Não e você já sabe. – Arthur afastou uma das minhas mãos que eu tinha descido para o cós da sua sunga.

– Eu pensei que você tinha mudado de ideia. – Bufei.

– Logicamente que não, querida. Você teve um sangramento ontem.

– Eu não esqueci. – Revirei os olhos.

– E não revire os olhos. – Pediu e segurou em meu queixo antes de subimos a escada. – Eu te amo, baby.

– Eu sei. – Respondi e Arthur me beijou. Fiquei tentada a contar a ele sobre a minha conversa mais cedo com a minha sogra, mas desisti. Isso só irá preocupá-lo ainda mais.

– O que foi? – Ele pareceu perceber.

– Nada. Eu acho que vou aproveitar e descansar um pouco.

– É uma excelente ideia. – Concordou e acabamos rindo. Subimos os degraus e fomos para o nosso quarto. – Podemos sair mais tarde. O que você acha? Lembra que combinamos de ir à praia? Pena que não deu certo. – Ele abriu a porta do quarto e eu entrei, ele entrou depois de mim.

– Pode ser, querido. – Me sentei na cama. – Você vai se deitar comigo?

– Sim. Vou só tomar um banho bem rápido. – Respondeu e seguiu para o banheiro. – Pode dormir se quiser, baby.

– Se você demorar, vai me encontrar dormindo. – Falei e me deitei na cama. Logo ouvi a porta do quarto ser aberta.

– Mamãe?

– Oi, neném. – Respondi e Anie caminhou até a cama.

– Eu já tomei banho. Olha a roupa que eu escolhi. – Senti quando ela subiu na cama.

– Que linda a minha bebê. – Lhe dei um beijo estalado na bochecha.

– Cadê o meu papai?

– Foi tomar banho.

– Vai demolar?

– Ele disse que não.

– Mamãe?

– Oi.

– Eu posso dormir aqui? Mas é só agola que tá de tarde, tá?

– Pode, meu amor. – Sorri e Anie me deu um beijo.

– Minha mamãezinha linda. – Disse dando vários beijos na minha bochecha.

– Você que é uma bebê muito linda.

– Eu já sou gande, mamãe.

– Ai, meu Deus! Quase uma adolescente. – Ri e Anie me encarou.

– O que é adocente?

– Adolescente. – Repeti mais devagar. – É ser um pouco grande. – Expliquei de maneira mais simples. Arthur saiu do banheiro.

– Papai!

– Oi, filha. – Arthur parou na porta do closet e nos olhou.

– Eu sou adocentes. Foi a minha mamãe quem disse.

– É o quê? – Ele segurou o riso.

Adocentes. Não é isso, mamãe? Diz pra ele. – Me pediu e se jogou em cima de mim.

– Adolescente, meu amor. Adolescente. – Respondi e Arthur entrou rindo no closet.

– Ele tá rindo de mim.

– Seu pai é assim, filha. Você sabe. – Lhe dei um beijo na testa. – Não fique irritada com isso.

– Eu só fiquei um pouco irritada.

– Eu sei. Eu te conheço. Foi por isso que pedi para que não ficasse irritada. – Lhe dei outro beijo e Arthur voltou para o quarto.

– Eu só achei fofo, meu amorzinho. Eu ri porque eu achei fofo. – Arthur se explicou ao se apoiar na cama e depositar um beijo na cabeça da nossa filha. – Por que você tem que ser tão parecida com a sua mãe?

– Você só fala isso quando ela faz birra.

– Não é verdade. Ela é geniosa igual a você. – Respondeu e me deu um selinho. – Eu amo vocês duas.

– E eu amo você.

– E você, garotinha?

– Eu não gosto quando o senhor rir de mim.

– Meu amor, o papai já explicou. Eu não ri de você, filha. Me desculpa. Eu achei fofo. – Ele deu vários beijos na bochecha da nossa filha. – Não fique zangada comigo. – Pediu.

– Tá, agora que vocês dois começaram, eu sei onde vai parar e eu quero dormir. – Falei e Arthur cheirou o meu pescoço.

– Pode dormir, baby. – Ele se ajeitou do outro lado da cama e Anie se acomodou em meu colo.

– Eu te amo, mamãe.

– Eu também te amo, bebê. – Lhe dei um beijo carinhoso na testa. – Vamos dormir?

– Sim, mamãe.

 

Horas mais tarde...

 

– Dorminhoca... – Arthur sussurrou no meu ouvido.

 

Com certeza, eu dormi demais. Parece que eu não dormia há dias. Nem senti quando Anie acordou. Permaneci de olhos fechados enquanto Arthur beijava meu pescoço.

 

– Eu sei que você está acordada. Você está toda arrepiada. – Ele soltou um riso maroto. – Bem aqui é o seu ponto fraco. – Disse e eu encolhi meus ombros.

– Não me diz que já anoiteceu? – Abri meus olhos.

– Há horas. – Riu.

– Mentira. Você não me deixaria dormir tanto assim. Lembro que me convidou para sair.

– Mas temos tempo, caso você ainda queira. – Respondeu.

– Eu quero. Agora estou descansada. – Me espreguicei. – E a sua mãe?

– O que tem a minha mãe?

– Onde está, o que está fazendo, Arthur?

– Lá na sala com a Anie. Mil assuntos, você conhece a filha que temos.

– Falante igual ao pai. – Falei.

– Até parece. – Riu e me deu um beijo. – Você vai mesmo querer sair? – Sentou-se na cama.

– Sim, amor. Eu te disse mais cedo.

– Não levei muito a sério, você não me pareceu muito animada.

– Você concordou. – Pontuei.

– Não. Eu apenas não discordei e nem insisti.

– Isso quer dizer que você me ignora?

– Você sabe que não, Luh. Por favor, querida. – Ele sorriu. – Você está bem?

– Sim.

– Maaas... – Pendeu a cabeça para o lado.

– Não tem “mas”, Arthur.

– Eu te conheço, Lua.

– Quero dormir mais um pouquinho. – Respondi e ele sorriu de lado.

– Pode dormir, querida. Só come algo antes. Já é sete e pouco.

– Dormi tudo isso?

– Sim, tudo isso. – Me deu um selinho. – Tem algum pedido especial?

– O que você comeu?

– Biscoitos que a Carla fez, e tomei café.

– E a Anie e a sua mãe?

– Bolo de chocolate.

– Meu Deus, é a cara dela. Vamos ter que fazer algo para evitar que ela coma muitos doces. Eliza já suspendeu.

– Ela fica muito irritada.

– Anie só têm cinco anos, amor. – Ri.

– E já é opiniosa. – Afirmou e deitou a cabeça em meu colo. – Já decidiu o que quer? Se for algo que não tenha aqui, você sabe que eu posso ir comprar.

– Eu não quero que você saia daqui. – Respondi e depositei um beijo em seus cabelos.

– Daqui? – Levantou o rosto para me olhar e eu assenti. Arthur sorriu. – Você está muito dengosa. – Comentou.

– Você é o culpado.

– Hahaha... Você que é mimada, mas não admite.

– Porque não é verdade. – Retruquei.

– Amor, você sabe que eu não estou mentindo.

– Você que é chato e gosta de me irritar com esse assunto. – Resmunguei.

– Mas você é dengosa e mimada mesmo. – Ele riu alto e encheu minhas bochechas de beijos. – Vai, agora me diz o que você quer comer. Luh, você ainda não sentiu nenhum desejo de grávida, não é mesmo?

– Nenhum desejo muito diferente. Eu quis comer torta de limão ontem. Você comprou.

– Mas não é algo muito estranho. – Ele observou. – Diferente.

– Não. Mas só de pensar, sinto a minha boca salivar. Acho que vou comer mais um pedaço daquela torta. Você provou?

– Só aquele pedaço ontem.

– Estava uma delícia.

– Você tem que prometer que quando sentir o seu primeiro desejo, vai me contar.

– Eu tenho que prometer?

– Sim. Eu quero ir comprar pra você. – Ele falou de um jeito tão carinhoso, que eu só sentir vontade de enchê-lo de beijos, e beijei.

– Você é o marido mais incrível do mundo inteiro. – Falei após os beijos.

– E chato. Não se esqueça disso.

– Só meu. Eu não esqueço. – Pontei e Arthur me deu um beijo demorado nos lábios.

– Então?

– Amor, sua mãe está aqui, vai embora amanhã, eu sei que você iria adorar sair e passear hoje. Mas eu só quero ficar deitadinha aqui.

– E pode ficar, meu bem. Eu entendo, Lua, de verdade. Não se preocupe com isso. Não ficarei chateado, meu amor. – Me deu um beijo carinhoso na testa. – A minha mãe também entenderá. Ela mais do que ninguém entenderá. – Sorriu acariciando o meu rosto.

– Eu estava mais disposta, eu acordei bem. Aí do nada me sinto tão cansada.

– Do nada? Não é do nada, Luh. – Arthur sorriu outra vez.

– Eu sei que você já falou várias vezes que essa gestação é diferente da de Anie, mas por que tem que ser tão, tão diferente em tudo?

– Porque é um outro bebê, querida. E com certeza, será totalmente diferente da Anie. – Sorriu gentilmente.

– Pois eu acho que será igualmente parecido com você. E não falo só da aparência.

– Só por que está sendo difícil? Você não pode estar falando sério.

– Pois eu estou.

– Lua! Meu amor, eu sou uma pessoa tão de boas. Aah, não, querida. – Ele riu. – Você vai ficar muito decepcionada se for igual a mim?

– Óbvio que não, Arthur e você sabe disso. – Segurei o seu rosto com as minhas duas mãos. – Eu até prefiro.

– Não minta. – Ele riu. – Eu sei que você prefere uma mini você. – Completou. – Eu prefiro. – Admitiu.

– Uma menininha? É a primeira vez que falamos assim... – Sorri completamente aliviada.

– Eu sei que você quer uma outra menininha, Luh e você não precisa me dizer isso com todas as letras.

– Eu ficaria muito feliz mesmo e me sentiria mais segura. Não sei te explicar. Acho que é por conta de toda a experiência que já vivenciamos com a Anie.

– Um novo bebê, novas experiências e personalidades completamente diferentes, querida. Temos exemplos, olha só você e a Sophia. Irmãs, duas mulheres e totalmente opostas. Graças a Deus, não é mesmo? Eu, com certeza, não saberia lidar com uma Lua histérica e consumista.

– Patricinha.

– Nem consigo imaginar. – Ele riu. – Meu Deus, Luh, você já pensou nisso?

– Claro que não, Arthur. Eu não me vejo com uma personalidade igual ou parecida com a da minha irmã. Nós implicávamos demais quando éramos crianças.

– Aposto que era você quem começava.

– Uuhm... – Não neguei e Arthur me deu um cheiro no pescoço.

– Anie não será diferente. Eu conheço a filha que temos.

– Não fale assim dela, amor. Só por que é parecida comigo?

– Só porque, meu amor. Estou errado?

– Vamos descer. Eu ainda não pensei no que quero comer.

– Já está quase na hora da janta. – Arthur se levantou e estendeu as mãos para mim.

– Queria comer sushi.

– Isso é estranho, porque você não gosta de sushi.

– E nem posso comer na gravidez. Eliza disse que preciso evitar esse tipo de alimento, tenho que comer tudo bem lavado e bem cozido. Até as saladas que eu amo. Você sabe que eu amo.

– Eu sei. Vem – me puxou pela mão –, vamos dar um jeito. – Me deu um beijo no rosto.

 

Descemos a escada e minha sogra não está na sala com Anie e nem na cozinha.

 

– Onde aquelas duas estão?

– Na brinquedoteca. – Carla respondeu. – O que você quer comer? O jantar ainda não está pronto. Mas posso preparar algo bem rápido para você.

– Anie pensa que a avó tem a idade dela, meu Deus. A minha mãe daqui a pouco vai reclamar de dor nas costas.

– Arthur, a sua mãe não têm nem sessenta anos. – Ri.

– Tem quase, Lua. Eu tenho trinta e já sinto dor nas costas.

– Você é resmungão, isso sim. – Respondi e Carla riu.

– Não é engraçado, Carla.

– Só quando é com você, não é? – Segurei em seu queixo.

– Você é implicante. – Ele retrucou e eu me sentei no banco de frente para o balcão.

– Quero só um sanduiche, Carla. Sanduiche com suco de uva.

– Já vou preparar, Luh.

– Aah... e um pedaço daquela torta de limão de ontem.

– Vou tirar pra você.

– Ok. Eu aguardo.

– Vou ver o que aquelas duas estão aprontando. – Arthur saiu rumo à brinquedoteca.

 

Londres | Quinta-feira, 10 de agosto de 2017.

 

– Como você está?

 

Hoje é dia da minha consulta mensal com a doutora Eliza. Estou apreensiva. Passei bem as últimas semanas, mas, mesmo assim, estou nervosa com a possibilidade de ter algo errado, comigo ou com o bebê. Todo mês esses retornos estão sendo assustadores. Espero coisas positivas e ganho um banho de água fria. Não tive mais sangramento, porém, me sinto tão indisposta que isso me preocupa. Tenho conseguido me alimentar bem, os enjoos deram uma cessada.

 

Ter a minha sogra comigo me ajudou de uma forma que Arthur nem consegue imaginar. Ela me acalmou e muito. Deixou tudo às claras, e o mais importante, com um ponto de vista profissional e não familiar como eu tinha receio. Compramos o aparelho de verificar os batimentos do bebê e tem sido o programa noturno frequente e preferido do Arthur. Eu não me incomodo, sei que isso o deixa menos preocupado.

 

Ainda não me sinto segura para dar a notícia da gravidez às outras pessoas. Não sei nem como contaremos à nossa filha. Anie está tão apegada a mim, não sei se de algum modo ela está sentindo que algo vai mudar. Arthur também tem notado essa mudança, ela sempre foi mais apegada a ele. Agora quer fazer tudo comigo e ele se sente deixado de lado.

 

– Já estive melhor. – Fui sincera. Não adianta tentar esconder as coisas de quem me conhece tão bem. Às vezes até melhor do que eu mesmo.

– Eu sei que sim. – Arthur sorriu de lado e apertou umas das minhas mãos, antes de depositar um beijo no dorso dela. – Mas temos que pensar que as coisas vão melhorar. – Acrescentou. Ele é sempre muito positivo em relação aos meus retornos com a obstetra e a gravidez em geral. Sei que muito é para tentar me acalmar.

– Sim. Eu sei. Mas nem quero mais criar expectativas, sempre acabo me frustrando. Sinto vontade de gritar.

– Calma, Luh. Não é assim também, você sabe.

– Eu penso em muitas coisas, Arthur.

– Eu acredito que sim. Ei, estamos juntos nessa ou você ainda acha que não? – Me questionou.

– É diferente.

– Óbvio que é. Sou consciente disso e nem por isso eu também deixo de pensar em muitas coisas.

– Você não está entendendo. – Soltei a minha mão da dele.

– Então me explica. – Pediu e sentou-se na cama.

– São preocupações diferentes, Arthur. Não tem o que explicar, você sabe que são. Não é você quem está grávido. Não... tantas coisas. Você não entenderia. – Tentei explicar, mas talvez eu tenha falado besteira. Sei que ele vive essa gravidez comigo desde o primeiro dia que soube. Sei dos seus medos em relação a mim e ao bebê. E ele não precisou dizer nenhuma palavra explicitamente. Eu sei.

– Eu sei que não sou eu quem estou passando por todas essas mudanças e riscos. Só não acho justo você dizer que eu não entenderia. As preocupações podem até ser diferentes para você, mas para mim não são tão distantes assim. Você é a minha esposa e está grávida de um filho que é meu, por que as minhas preocupações são menores que as suas? Vocês correm riscos e eu estou menos preocupado por que não sou eu que estou grávido? Não é justo! – Ele ficou ofendido e se levantou da cama. – Eu tenho feito tudo o que está ao meu alcance, Lua. Você mais do que ninguém sabe disso. Não tem sido fácil para nenhum de nós. Eu não gostaria de ter essa discussão sempre que houver uma consulta ou quando você esquecer que eu estou com você. – Finalizou e me encarou à espera de uma resposta.

– Desculpa. Eu só estou nervosa. – Foi o que consegui responder depois de alguns minutos de um silêncio intenso. – Eu sempre fico nervosa, você sabe.

– É. Eu sei. – Ele afirmou e entrou no banheiro.

 

Oficialmente, dia. Porque bom eu só saberei depois da consulta.

 

Me levantei e fui até o closet escolher uma roupa. Estou na décima sexta semana e quatro dias completos. Minha barriga ainda não está tão perceptível, perdi muito peso no começo da gravidez, já estou quase no quinto mês e sei que daqui a algumas semanas, não dará para esconder das pessoas. Consigo notar uma leve diferença por conta das minhas lingeries, os sutiãs já quase nem servem mais, meus seios estão enormes, minhas calcinhas estão começando a ficar apertadas e eu preciso comprar novas. Minhas roupas ainda servem com facilidade, ainda bem, mas sei que será por pouco tempo.

 

Optei por um vestido, por conta da praticidade caso eu precise fazer uma ultrassonografia. Tudo vai depender do colo do meu útero ou da minha placenta. Sobre o sexo do bebê, decidimos não saber ainda.

 

Arthur saiu do banho e entrou no closet em silêncio. Eu não queria que esse clima tivesse se instalado outra vez entre nós dois. É horrível. Me sinto egoísta, grossa e uma péssima esposa. Suspirei e caminhei para o banheiro.

 

Alguns minutos depois...

 

– Você vai para o escritório depois da consulta?

– Sim. Eu disse à Hanna que tinha um exame para fazer e que chegaria mais tarde hoje.

– Ok. Deixo você no escritório e vou para a produtora.

– Vocês têm ensaio hoje?

– Reunião. – Respondeu direto.

– Se for te atrasar, eu pego um táxi. Não tem problema.

– Não irei me atrasar. – Disse.

– Desculpa pelo que eu falei mais cedo.

– Você já se desculpou, Lua.

– Mas parece que você não ouviu. – Retruquei.

– Só não quero discutir, é só isso mesmo. Não quero que você se estresse ainda mais comigo.

– Mas...

– Lua, você passou bem as últimas semanas, por favor... vou me sentir mal se acontecer alguma coisa. – Fiquei imóvel e senti meu corpo gelar. – Lua. Lua. – Acompanhei os movimentos de Arthur sem conseguir me mover. – Ei, Luh. – Ele me segurou pelos ombros. – Está me ouvindo? Olha pra mim. – Me pediu. – Você está pálida. Lua! – Me chamou mais alto.

– Eu...

– Senta aqui. – Senti ele me guiar até a cama.

– Eu não quero sentar.

– Lua, é melhor. Por favor...

– Eu senti o bebê mexer. – Falei.

– O quê?

– O bebê mexeu. – Repeti.

– Você tá falando sério? – Arthur parecia chocado. – Lua?

– Eu senti, Arthur.

– Ok, tudo bem. – Ele riu. – Senta, querida. – Insistiu. 

– A Eliza disse que eu poderia sentir mais cedo os movimentos, por ser a segunda gravidez. – O lembrei.

– Isso é maravilhoso, Lua. – Ele está tão radiante que nem parece que estávamos brigados há alguns minutos. – Posso sentir?

– Eu não sei se vai conseguir... – Eu quero chorar. Estou tão emocionada. Não esperava que o bebê mexesse agora. Embora já tenha entrado no quinto mês.

– Ei, isso é incrível. – Ele me abraçou tão forte e beijou meus cabelos. – Fiquei tão feliz, Luh. – Comecei a chorar. – Eu sei que você também está. – Ele se afastou e me encarou. Assenti sem conseguir dizer mais nada. Arthur voltou a me abraçar. – Não chora, Luh. Você precisa se acalmar.

– Me desculpa. Eu... eu não queria ser grossa...

– Eu não estou chateado por isso, Lua. Por favor, vamos ficar felizes com essa novidade, querida. – Sim, ele está tão feliz que parece que foi ele quem sentiu os primeiros chutes do bebê.

– Eu estou feliz, mas estou nervosa. Eu não esperava...

– Nem eu. Ainda mais hoje. Olha só, o bebê não quer que briguemos. – Ele sorriu de lado. Retribui o sorriso, sem mostrar meus dentes. Não enfrentamos esses problemas de discussões na gravidez da Anie. Não sei o que está acontecendo comigo. Quando vejo, já falei e me arrependi no segundo seguinte.

– Eu também não quero ficar brigando com você o tempo todo. Eu só...

– Lua, vamos esquecer isso. Eu já disse que está tudo ok. Vamos esquecer. –  Repetiu. –  Temos um motivo para comemorar, o que você me diz? Para ficar melhor, só a Eliza nos dando notícias positivas daqui a pouco.

– Tudo bem. Você tem razão. – Cedi. – Me desculpa.

– Eu desculpo, tudo bem? Eu desculpo. Você sabe que eu te desculpo, tá? – Segurou o meu rosto com as duas mãos. – Não pensa mais nisso. – Pediu. – Vamos nos vestir. E você tem que prometer, que se ele mexer outra vez, vai me avisar de novo. Quero sentir. – Sorriu.

– Eu acho que vai ser mais difícil pra você sentir, porque o movimento ainda é bem sutil. – Expliquei.

– Mesmo assim eu quero que você me diga. Promete?

– Prometo. – Sorri querendo chorar outra vez. De felicidade. Arthur me deu um selinho.

– Vem, levanta. – Ele me ajudou a levantar da cama.

 

Caminhei até o closet com a mão na barriga. Eu quero sentir novamente o movimento. Foi tão leve e inesperado, que é impossível eu ter confundido.

 

*

 

Terminamos de vestir as nossas roupas, peguei todos os meus exames e guardei na minha bolsa. Arthur pegou a carteira e a chave do carro e descemos a escada.

 

– Você precisa comer algo antes de irmos. Eu te conheço, dona Lua. Se não comer aqui, vai aguentar até na hora do almoço. – Caminhamos até a cozinha.

– Eu tenho me alimentado bem. Você tem visto. – Me defendi e ele puxou uma cadeira para que eu me sentasse.

– Que continue então... – Ele se sentou. – Prometi levar hoje a Anie ao parque. Ela e o Bart.

– À tarde?

– Sim. Ela me pediu ontem. Sabe, poderíamos ir a Brighton com ela esse final de semana. Ela tem que aproveitar essas férias. Porque não podemos fazer outra viagem, e eu gostaria que fizéssemos.

– Eu sei, mas também não posso me afastar agora do trabalho.

– Não é isso, Luh. Não é só você. Eu também não posso. Quero fazer essa pausa quando bebê nascer, pra ficar com vocês aqui por mais tempo.

– Daremos um jeito. Nem que seja aos finais de semana.

– Pode ser, loira.

 

Arthur colocou um pouco de café na xícara dele e passou geleia em três torradas. Peguei uma fatia de pão e coloquei suco de uva para mim. Tomamos café da manhã em silêncio. Anie estava dormindo até às nove e meia, ela estava aproveitando muito essas férias para pôr o sono em dia. Isso é bom, mas espero que ela não nos dê trabalho para acordar cedo quando as aulas voltarem.

 

Terminamos de tomar nosso café da manhã e eu peguei o celular para ver as horas.

 

– Oito e quarenta, Arthur. A consulta é nove e quinze. – Falei e ele assentiu terminando de beber o último gole de café.

– Já terminei. – Disse e se levantou.

 

O acompanhei e caminhamos até o carro.

 

– Você disse que tem uma reunião mais tarde.

– Sim. – Arthur olhou pelo retrovisor e saiu com o carro da garagem. – Por quê?

– Você acha que acaba antes do almoço?

– Acredito que sim, Luh. Você quer almoçar comigo? – Me olhou rapidamente e sorriu.

– Sim. Eu iria sugerir isso.

– Seu almoço é às treze?

– Sim, até às duas. – Respondi.

– Pode ser. Eu te ligo assim que a reunião terminar. – Assegurou e eu assenti.

 

De casa até o hospital, são mais ou menos trinta minutos.

 

– Você não sentiu mais nenhum movimento do bebê? – Quis saber.

– Não. E eu estou atenta. Foi muito rápido e beeem leve, mas eu jamais me enganaria, Arthur. – Afirmei.

– Eu sei que não, Luh. Eu só fiquei ansioso, só isso.

– Daqui a algumas semanas, você também já vai conseguir perceber.

– Sabe o que eu estava pensando...

– Uhm...

– Que daqui a algumas semanas, já vai ser quase impossível não notarem a sua barriga. Porque você sem roupa eu já vejo uma diferença.

– Eu sei. Pensei nisso hoje. Temos que pensar em como contaremos a Anie primeiro.

– Não existirá um jeito melhor de contarmos. – Ele suspirou. – Tenho certeza de que ela ficará muito enciumada de qualquer forma.

– Eu também tenho certeza.

– Só temos que fazer com que ela entenda que nosso amor por ela, não mudará.

 

Hospital | Consulta com a obstetra – Nove horas e cinco minutos.

 

– Eu vou confirmar os meus dados.

– Vou te esperar aqui. – Arthur apontou para o salão. Não está tão cheio. Assenti e ele caminhou até uma cadeira.

 

Falei meu nome para a atendente, ela conferiu e confirmou a consulta. Serei a quinta, pela ordem de chegada.

 

– E então? – Arthur perguntou quando me aproximei dele.

– Sou a quinta. – Respondi.

– Vamos aguardar então... – Sorriu de lado e eu procurei uma de suas mãos para entrelaçar nossos dedos e me sentir mais segura.

 

*

 

– Bom dia, Lua! – Eliza está tão sorridente. Feliz. – Arthur.

– Bom dia! – Respondemos juntos.

– E como foi o último mês? – Indagou assim que nos sentamos.

– Foi de altos e baixos. – Respirei fundo. – Essas últimas semanas foram mais tranquilas do que o início do mês. Ainda tive um sangramento, você sabe.

– Sim, me lembro da sua ligação.

– Minha sogra esteve em casa. Foi maravilhoso. Conversamos muito. Você sabe que ela também é médica, não sabe?

– Sim, você já me falou outras vezes. E sobre o que conversaram?

– Sobre muitas coisas. Ela me acalmou demais, talvez nem tenha ideia. Eu mostrei a ela alguns exames meus, não que eu não confie em você, mas a opinião dela seria muito importante pra mim. Você não vai chateada, não é mesmo? – Perguntei e ela e Arthur riram.

– Não, Luh. Claro que não. – Me senti aliviada.

– Ela viu meus exames com muita atenção e me deu respostas do ponto de vista profissional e não pessoal como eu tinha receio. Não o que eu queria ouvir, e sim o que eu precisava ouvir.

– Isso é muito importante, Lua. E então, como você recebeu esse ponto de vista dela? Bateu com o meu?

– Sim, sim. Óbvio, Eliza. Tudo o que você já tinha nos dito. – Olhei rapidamente para Arthur e depois voltei o olhar para a médica a nossa frente. – Ela falou sobre a placenta estar mais baixa, o que nos acabamos entendendo, na outra consulta, que era o útero. Ela disse que conforme as semanas forem se passando, ela pode voltar para o lugar que deveria estar. Até aí eu entendi. Não fiquei assustada, só me senti mais ansiosa por essa consulta. Quero ver se está tudo bem mesmo. Ela também disse que se continuasse baixa, não seria possível fazer um ultrassom transvaginal, porque é mais invasivo e pode acabar rompendo a bolsa.

– Sim, pode acabar acontecendo. Mas vamos com calma, ok? Como eu já expliquei, a sua placenta estava mais baixa na última consulta, conforme o resultado dos exames, e com essa condição, ela pode sim voltar ao normal por voltada da metade da gestação, ou seja, lá pela vigésima semana. Você está na décima sexta, ainda está tudo sob controle. A cada retorno estamos tendo respostas positivas, mesmo que poucas, mas essa crescente é maravilhosa, vocês concordam? – Eliza nos encarou.

– Sim, e é o que eu tenho dito a ela. Vamos com calma, que tudo dará certo. Temos que acreditar nisso. Ficar só com medo, não vai adiantar nada. – Arthur respondeu.

– Hoje eu senti o bebê mexer. – Comentei. Quero fugir de responder que eu sinto medo, apesar das notícias positivas que venho tendo. Os olhos de Eliza brilharam.

– Lua, isso é incrível! Meu Deus! Estou tão feliz em saber disso. – Ela segurou as minhas mãos por cima da mesa. – Hoje, assim...?

– Sim. Depois do banho, foi do nada. Eu nem estava esperando sentir por agora, mesmo sabendo que talvez até pudesse ter sentido antes, já que é a segunda gravidez.

– Na segunda gravidez os movimentos são perceptíveis mais cedo, por volta do quarto, quinto mês... o que em uma primeira gravidez só é sentido lá pelo sexto mês.

– Foi muito rápido, leve, muito leve. Mas eu jamais me enganaria.

– É inconfundível mesmo. Pode se preparar, pois daqui para a frente, você sentirá os movimentos com mais frequência e sabe muito bem disso.

– Sim, eu sei. – Sorri.

– Foi à nutricionista?

– Fui. Estou até me alimentando melhor. Os enjoos passaram, então, até acredito que ganhei mais peso.

– Vamos ver. – Eliza levantou-se da cadeira e eu fiz o mesmo. – Vou aferir a sua pressão, depois vamos ver o seu peso e por último o ultrassom para vermos a altura uterina, tudo bem? Que bom que tem se alimentado bem, isso é muito importante na gravidez. Vou pedir novamente um exame de sangue e um teste de tolerância oral à glicose, o TOTG. Esse você só fará uma semana antes da próxima consulta, que eu irei marcar para a última semana de setembro, que você já estará na vigésima terceira semana. O de sangue é para ver se suas plaquetas estão normais, se não há nenhum indício de anemia, o que pode ser muito preocupante.

– Certo, entendi. – Afirmei e me sentei para Eliza verificar a minha pressão.

– Doze por nove, isso é muito bom. Tudo normal. – Ela anotou na minha ficha. – Nenhuma oscilação de pressão até aqui, pelo menos, não em nenhum dos seus retornos. – Enfatizou e eu concordei. – Vamos ver o seu peso... – Me levantei da poltrona e subi na balança, o que não me assustaria, já que, eu emagreci no início da gestação. – Sessenta e dois quilos.

– Eu estava com cinquenta e oito da última vez. – Comentei.

– Sim. Está anotado aqui. – Eliza voltou a anotar na ficha. – Você lembra quanto pesava antes da gravidez?

– Acredito que uns sessenta... não tenho certeza, mas nunca passei muito desse penso. Pelo menos, não estando grávida. – Expliquei.

– Então você ganhou os quilos que havia perdido no início, e ganhou mais dois. Está dentro do peso adequado para as dezesseis semanas. Não precisa se preocupar nem com a pressão e nem com o peso. Vamos agora para o nosso terceiro exame. – Me avisou e eu suspirei. Arthur se aproximou e segurou em minha mão.

– Vai ficar tudo bem. – Disse e me deu um beijo na bochecha. Sorri com carinho e caminhei até a maca para fazer o exame.

– Ainda não querem saber o sexo? – Eliza perguntou e eu olhei para Arthur, que negou com um manear de cabeça.

– Não. Ainda não contamos nem para a nossa filha. Só Carla e minha quem sabem, além de nós, é claro. – Respondi.

– Tudo bem. Só perguntei porque eu posso ver nesse exame, não queria acabar com a surpresa de vocês.

– Só queremos saber se está com saúde. É o mais importante... ainda não queremos ficar pensando em nomes ou outras coisas que se pensa depois que se sabe o sexo. – Arthur disse.

– Ainda querem curtir sem pensamentos definidos...

– Sim, até porque, ainda nem tivemos tempo para fazer isso como da primeira vez.

– Entendo perfeitamente, podem ficar tranquilos.

– Vai ser muito perceptível? – Perguntei curiosa.

– Pra mim talvez seja, tenho experiência e consigo identificar com mais facilidade. Isso depende bastante da posição do bebê. Ele pode estar de perninhas cruzadas ou de costas ou com uma mãozinha na frente... depende bastante mesmo. O mais certo é a sexagem. Mas como ainda não querem saber, não é obrigatória. Pode ficar para um outro momento, se no ultrassom eu tiver alguma dúvida. Tudo certo?

– Tudo ok. – Respondi.

– Sim. – Arthur respondeu.

– Então eu irei começar. – Eliza espalhou o gel pela minha barriga. – Com dezesseis semanas nós já podemos ver os órgãos do bebê, a genitália já está formada. E é por isso que as mamães começam a sentir os movimentos, eles começam a se mexer e a ter soluços. Vai abrir e fechar as mãozinhas, a sorrir e fazer outros movimentos involuntários, agora que ele está aprendendo, então vai demorar um pouquinho a se acostumar, por isso você vai sentir esses movimentos. Inicialmente, leve, como você notou hoje e depois mais fortes... eu ia esquecendo, mas vou acrescentar aos exames do mês que vem, teste de anticorpos, de hepatite, ferro, urina e HIV. Pedi no primeiro exame, é melhor refazer, são importantes para descartar qualquer possível condição que seja perigosa para a gestação. Não precisamos que vocês corram mais riscos dos que os que já notamos, certo? É sempre bom ficarmos monitorando.

– Sim, com certeza. – Respondi. Eu estava atenta ao monitor, mas não estava entendendo nada das imagens que se formavam.

– Está com um pouco mais de doze centímetros, e, vocês lembram do peso anterior? – Nos perguntou.

– Doze gramas.

– Treze, acho que foi treze. – Arthur respondeu e Eliza sorriu confirmando. – Vocês ficarão surpreso com quantas gramas ele ganhou.

– Umas cinquenta mais ou menos? – Arthur Indagou curioso.

– Duzentas. Duzentas gramas.

– O quê? – Perguntei sem acreditar. Arthur me encarou.

– É sério? – Ele se virou para a Eliza.

– Muito sério. E posso afirmar, é um bebê muito saudável. O peso que ganhou nessas semanas, está muitas gramas a mais do que são previstas para essas semanas de gestação. Estou muito feliz com esses resultados, Lua.

– Nossa, você nem imagina a gente... – Arthur me olhou e deu um beijo demorado na bochecha. – Eu te amo tanto, meu amor. – Sussurrou no meu ouvido. Apenas sorri sem conseguir dizer nada. Estou muito emocionada.

– Você levou mesmo o repouso a sério. – Ela comentou e sorriu. – Tenho uma outra notícia excelente! Sua placenta está no lugar certo, na altura certa, Luh. – Disse e eu comecei a chorar.

– Ei, eu disse a você. – Arthur sussurrou e tentou me acalmar. – Tudo ficaria bem, meu amor. Eu te disse. – Me deu vários beijos na bochecha. – Não chore. – Pediu.

– Sei que tem enfrentado situações muito complicadas nessa gravidez, Lua, mas eu acredito que agora elas já passaram. Eu também disse a você que se seguisse tudo direitinho, daria tudo certo.

– E ela seguiu, posso afirmar. Tenho tanto orgulho de você, querida. – Ele disse olhando nos meus olhos.

– Está aqui o resultado: o seu bebê está super saudável. Os riscos mais graves já passaram. O temos agora é o que podemos ter em qualquer gravidez. Você precisa relaxar e aproveitar o que ainda não aproveitou. Curtir a notícia, curtir o momento, curtir o seu bebê do jeito que eu sei que você gostaria de já está fazendo. Você não precisa passar os outros cinco meses com medo de tudo o que pode acontecer... Sei que com as notícias de hoje, vocês ficarão mais aliviados e poderão curtir mais esse bebê.

– Eu já estou feliz, mas estou... também estou emocionada...

– É super normal, Lua. Vou deixar você a sós enquanto faço a requisição dos seus próximos exames. – Eliza levantou-se e deixou a sala de ultrassom. Arthur me encarou, também, emocionado.

– Eu te amo, Luh. Eu te amo, eu te amo, eu te amo. – Declarou e beijou as minhas mãos. – Eu não sei se você faz ideia do quanto eu estou aliviado e muito, muito feliz, querida.

– Eu acho que talvez eu saiba... – Respondi. – Eu também te amo. Obrigada, Arthur... obrigada... – Voltei a chorar e ele me abraçou.

– Shii... não precisa agradecer. Você sabe disso, hein?! – Me encarou e beijou os meus lábios. – Você me faz muito feliz. – Disse após o beijo.

– Você é o melhor marido do mundo. – Falei e Arthur sorriu.

– Às vezes eu acho que não... – Falou entre um selinho.

– Só às vezes. – Concordei e ele riu ao roçar os lábios nos meus.

– Sua atrevida.

– Você vai fazer amor comigo? – Perguntei. – Pra gente comemorar. – Acrescentei e ele sorriu passando uma das mãos nos cabelos. A outra mão está na minha cintura.

– Eu sabia que não demoraria para você me fazer essa pergunta...

– Uuuhm... e eu estou errada?

– E está miando por quê? – Ele riu.

– Estou com saudades. – Confessei o que ele já sabe.

– É claro que vamos comemorar, loira. E do jeito que nós dois merecemos. – Segurou o meu queixo.

– Do meu jeito. – Sussurrei.

– Como você quiser. – Ele concordou. Sorri e lhe dei um selinho. – Ei, vou perguntar para a Eliza se ela conseguiu ver o sexo do bebê.

– Você ficou curioso? – Ajeitei meu vestido e Arthur Segurou em uma das minhas mãos.

– Não. Eu só quero saber se ela conseguiu ver. – Esclareceu e caminhamos de volta para a sala.

– Aqui estão os pedidos para os novos exames. – Eliza me entregou cinco papéis.

– Obrigada. – Agradeci ao pegá-los.

– Você conseguiu ver o sexo do bebê? – Arthur perguntou e Eliza sorriu.

– Eu não daria cem por cento de certeza, caso vocês quisessem saber hoje.

– Quantos por cento?

– Uns noventa. Eu deixaria para dar a certeza na próxima consulta, se quisessem saber pelo ultrassom. Estava com a mãozinha na frente...

– Talvez no próximo retorno a gente queira saber. – Comentei e Arthur concordou.

– E já vamos ter contado para mais pessoas. – Ele disse e eu assenti. 

– Mês que vem então.

– Sim, talvez, sim. – Sorri.

– Até a próxima consulta, querida. Continue com a rotina que vinha tendo. Deu super certo.

– Pode deixar. – Sorri outra vez. – Obrigada. Até a próxima consulta. – Me despedi.

– Até a próxima consulta. – Arthur se despediu.

– Até.

 

Saímos do consultório felizes da vida. Deus é tão bom!

 

– Parece que é um sonho. – Arthur comentou enquanto caminhamos em direção à saída.

– Sim. Eu não esperava tudo isso de notícias boas. – Sorri e Arthur retribuiu o sorriso.

– Eu disse a você, não disse?

– Eu sei. Mas você sabe que mesmo assim eu ainda estava muito nervosa.

– Minha mãe vai ficar muito feliz, Luh.

– Sim. Podemos ligar para ela hoje à noite quando eu chegar do trabalho. Ainda almoçaremos juntos?

– Claro, se você ainda quiser.

– Óbvio que quero, Arthur.

– Então vou deixar você no trabalho, depois vou para a produtora e assim que acabar a reunião, eu te ligo, pode ser?

– Pode. Caso eu não atenda na hora que você me ligar, eu te retorno depois, tá? Poderei estar em alguma reunião ou conversa.

– Ok, Lua. Você tem algum restaurante me mente?

– Não, não. Você pode escolher. – Falei e coloquei o cinto de segurança. – Ainda nem faço ideia de como contaremos a Anie sobre o bebê.

– Depois pensaremos nisso, Luh. Não se preocupa com isso agora. – Ele apertou levemente a minha coxa. – Sabe, se hoje não fosse quinta-feira...

– A gente poderia ir a um outro lugar. – Completei e Arthur sorriu percebendo a minha malícia.

– Sim, Lua. Iriamos a um outro lugar. – Confirmou. – Porém, já combinamos de levar Anie à praia no final de semana.

– Eu sei, não esqueci.

– Inclusive, já até sei que encontrarei ela super zangada porque só irei chegar depois do almoço. Prometi a ela que a levaria no parque hoje. Ela e o Bart.

– Amor, você já levou ele para tomar a vacina que o veterinário solicitou?

– Não. É só na semana que vem.

– Eu quero ir ao shopping comprar algumas coisas que estou precisando... – Comentei.

– Hoje?

– Hoje ou amanhã, depois do trabalho.

– Pode ser amanhã, Luh. Eu vou com você, se você quiser a minha companhia. – Ele comentou divertido. – Ou você pretende chamar uma das meninas?

– Eu não posso chamar elas para comprar coisas de grávida, Arthur.

– Você pensa em comprar alguma coisa para o bebê?

– Não. Ainda nem sabemos o sexo.

– Mas pode ser algo unissex, loira. – Sugeriu. Ri.

– Você já está pensando em comprar algo que eu sei.

– Não, Luh. Não é nada disso. Estou perguntando a você. – Ele tentou se defender, mas eu o conheço muito bem.

– Você é o pai, Arthur. Pode comprar se quiser. –  Falei.

– Eu sei, Lua, mas...

– Não tem, mas, Arthur. Eu te conheço. Sei que está ansioso para comprar alguma coisa, e pode comprar. Eu não vou te julgar. Você me conhece, sabe que eu sou menos ansiosa para essas coisas do enxoval.

– Seria só um presente.

– Eu sei, amor. Amanhã podemos ver isso, ok? – Sugeri por saber que é algo que o deixará muito feliz. Ainda mais depois das notícias que tivemos hoje.

– Você marcará quando os exames?

– Só mês que vem, Arthur. – Respondi. – Ainda tenho mais de um mês.

– Por que só final de setembro?

– Porque está tudo bem, amor. E eu já estarei no quinto mês. Está tudo certo. São as consultas mensais, de gravidez e não dos meses do ano.

– Mas você completa cinco meses ainda em agosto.

– Já fiz a consulta de agosto. –  Expliquei. – Hoje. – Acrescentei.

– Chegamos. – Ele estacionou em frente ao prédio do escritório. – Bom trabalho, baby. – Disse ao me olhar.

– Obrigada, amor. – Segurei o rosto com as duas mãos. – Eu te amo, sabia?  – Perguntei e ele assentiu antes de se inclinar para me beijar.

– Eu também te amo muito. – Disse após o beijo. – Você me faz muito feliz. – Acrescentou e eu o abracei.

– Se você falar mais alguma coisa, eu vou chorar. – Avisei. – Estou muito emotiva. – Ele riu e me deu um beijo na bochecha.

– Tudo bem, tudo bem. Não esquece de comer algo, você está só com o café da manhã e já passou das onze horas. – Me lembrou.

– Ok, senhor Aguiar. – Peguei a minha bolsa.

– Engraçadinha.

– Um beijo.

– Um beijo. Até mais tarde. – Disse e eu lhe joguei dois beijinhos.

 

Pov Arthur

 

Em casa – Quinze horas e quarenta minutos.

 

– Por que o senhor só chegou agora?

– Oi, boa tarde pra você também. – Respondi. Anie está chateada e eu quero rir.

– Eu estou chateada. Eu espelei um monte o senhor chegar.

– Desculpa, meu amor. Papai teve um compromisso.

– Desde de manhã?

– Sim. Coisas de adulto.

– É muito chato. – Ela revirou os olhos e andou até o sofá.

 

– Sim. Às vezes é chato ser adulto, mas é algo inevitável, filha.

– Eu que não quelo ser adulta assim. – Ela ligou a tevê.

– Daqui a alguns anos voltaremos a ter essa conversa. – Sorri e me sentei ao seu lado. – O que você quer fazer?

– Lembra que o senhor disse que ia me levar para passear no parque? Eu e o Bart.

– Sim, eu lembro. Vamos? Quer ir agora?

– Eu quelo. A gente pode também comprar aquela comidinha do Bart que tem ossinhos coloridos?

– Já acabou a dele? Só podemos comprar depois que acabar a que ele tem aqui.

– Mas já acabou, papai. Eu vi hoje. Pode perguntar para a Carol. É verdade.

– Tudo bem. Vamos comprar então, mas o Bart não pode ir.

– Por que?

– Porque ele não pode entrar no supermercado, filha.

– Só porque ele é cachorro?

– Isso, meu anjo.

– Mas é lá que vende a comidinha dele.

– Mas ele não vai comprar a comida, eu e você que vamos.

– Tá bom. Eu não intendo, mas tudo bem... – Disse sem muito entusiasmo.

– Pede para a Carol ajudar você a trocar de roupa.

– O senhor chama o Bart?

– Vou chamar, filha.

 

No parque.

 

Anie saiu correndo com Bart assim que chegamos ao parque. É férias escolares, verão, o parque está cheio de crianças e cachorros correndo para todos os lados. Me sentei em um banco, perto de um carrinho de pipoca, e fiquei observando Anie brincar com as outras crianças.

 

Não será nada fácil contar a ela que terá um outro bebê em casa, que ela não terá mais a nossa atenção só para ela e que diferente do Ethan, o bebê é seu irmão e irá morar conosco. Anie não entenderá que o amor não será dividido. Que amaremos os dois igualmente. Ela é ciumenta, e embora goste de brincar com outras crianças, será diferente ter uma outra em casa, dividindo um espaço e os pais que foram só dela por quase seis anos. Seis anos. Quando o bebê chegar, Anie estará prestes a completar seis anos de idade.

 

Quase trinta minutos depois, e muitos pensamentos sobre como serão as coisas depois da chegada do bebê, Anie apareceu correndo em minha frente, os cabelos bagunçados e as bochechas rosadas.

 

– Eu quero água. Eu e o Bart. A gente já brincou um monteeee...

– Eu estou vendo. Vem, vamos comprar água para vocês dois. Me dê o Bart. – Pedi e Anie me entregou a guia dele.

– Viu que ele também tem amigos cachorrinhos?

– Vi. Ele estava se divertindo. – Comentei.

– Ele latiu e correu muito. Ele ficou feliz, papai.

– Sim. E você? Você também está feliz? – Perguntei.

– Siiiiim, muito feliz, papai. Obrigada por me trazer. – Ela me olhou e depois me abraçou.

– De nada, meu amor. Eu te amo muito, neném. – Lhe dei um beijo na cabeça. – Mesmo suada. – Nós rimos.

– É que eu corri muito, papai.

– Eu vi, sua danadinha. –  Apertei levemente a ponta do seu nariz. –  Vamos, depois a gente pode tomar um sorvete.

– Eu quero. Quero um sorvete de molango e de creme.

– De creme? Igual a sua mãe, é isso mesmo?

– É. A gente pode levar para a minha mamãe?

– Pode, amor.

– Eu acho que ela vai adolar.

– Com certeza. – Sorri. – Vamos lá... – Andamos até uma doceria.

– Pode comprar um docinho de chocolate, papai?

– Só um. Ok?

– Ok. – A garotinha sorriu. – Eu escolho.

– Pode escolher.

 

Anie escolheu o doce e eu comprei duas garrafinhas de água. Voltamos para o parque.

 

– Vou correr mais um pouquinho tá? E brincar com os meus coleguinhas...

– Pode ir lá. Só cuidado para não se machucar.

– O Bart fica?

– Sim. Ele está cansado.

– Então tá bom. Eu já vou.

– Vai lá. Estou te olhando daqui. Quando eu te chamar, é para você vir, está me ouvindo?

– Estou, papai. – Respondeu e saiu correndo para onde um grupo de crianças estava brincando com uma bola.

 

Meu celular tocou, tirei do bolso e quando vi: é a minha mãe.

 

Ligação ON

 

– Oi, mãe.

– Oi, querido. Está tudo bem?

– Sim, está. Lua quer falar com você.

– Aconteceu algo?

– Ela mesmo quer falar. Quando chegar do trabalho. – Expliquei. – Agora estou aqui no parque com a Anie e o Bart.

– Tudo bem. Estou no plantão. Vou ter uma hora de descanso às oito.

– Certo. Ela já terá chegado em casa.

– Anie está bem?

– Sim. Cada dia mais sapeca e impaciente. Igual a mãe. – Respondi e minha mãe riu.

– Eu tenho certeza de que você faz por onde.

– Mãe, a senhora nunca me defende. Estou em minoria. – Fiz drama e minha mãe riu ainda mais.

– Eu te conheço, meu filho.

– É o que vocês sempre falam.

– E estamos erradas? – Questionou, mas não respondi. – Talvez eu consiga ir visitá-los nesse final de semana.

– Espero que consiga.

– Liguei para saber se posso levar o Robert.

– Não, mãe. A senhora não está falando sério. – Ri sem acreditar. – Isso é sério?

– E por que não seria, filho?

– Não, a senhora e Lua gostam muito de brincar com a minha cara, não é possível. – Sim, ainda estou sem acreditar nesse pedido da minha mãe.

– Então a sua resposta é não? – Minha mãe insistiu.

– Mãe, meu Deus, não é possível que a senhora me pediu isso.

– Por que você fala como se fosse um absurdo?

– É que eu não estou acreditando.

– Por um acaso você acha que eu estava mentindo sobre o Robert?

– Claro que não, mãe. Só não tenho mais dez anos, a senhora não precisa me apresentar os seus namorados, só isso...

– Você tem razão, não têm mais dez anos e está agindo como se tivesse menos.

– Não é bem assim. – Revirei os olhos. – E a senhora sabe que se contar à Lua, ela vai dizer sim, então não importa muito a minha resposta.

– Estou perguntando a você, porque é a sua resposta quem me interessa. Você é o meu filho. Lua é uma nora maravilhosa e sei que está, verdadeiramente, feliz por mim, mas é você quem é o meu filho.

– Mas eu também estou feliz pela senhora.

– Pois não parece.

– Mãe.

– À noite eu falo com a Lua.

 

Ela encerrou a ligação. Sim, na minha cara e sem se despedir.

 

Ligação OF

 

Não, eu não estou passando por isso no auge dos meus trinta anos. Não é possível. Ri sem acreditar. Lua, com certeza, ficará muito chateada quando souber dessa minha resposta. Eu nunca fui tão bom em arrumar tantos problemas para mim mesmo.

 

Continua...

 

SE LEU, COMENTE. NÃO CUSTA NADA!

 

N/A: Depois de quase um ano sem atualizar a fanfic (sim, dia 20 faria um ano), eis que eu volto. Assim, bem do nada. Desde o dia 30/12 que eu estava escrevendo esse capítulo. Espero que vocês tenham gostado. Eu estava com muitas saudades de escrever e de estar aqui com vocês. Vi que tem quase 60 comentários no post anterior, mas eu não li todos, me desculpem.

 

Algumas leitoras me mandaram msg no WhatsApp e eu respondi, expliquei os motivos da minha ausência. Depois disso, muitas outras coisas aconteceram. Me formei em maio, para quem não sabe. Agora sou oficialmente, professora de Língua Portuguesa. Comecei a trabalhar em agosto e de lá para cá, tem sido uma correria só, e que bom, não é mesmo?! Estou feliz com as escolhas que fiz e eu tive que abdicar de algumas coisas, L.A foi uma dessas coisas. Mas eu prometi a vocês que voltaria, e cá estou. No momento estou de férias e, por isso, aproveitei para atualizar vocês.

 

Fico muito feliz em saber que L.A ainda tem o carinho de muitas de vocês. <3 que vocês ainda fazem questão da história, que sentem falta de lê-la, assim como eu sinto de escrevê-la. Foi a melhor época da minha vida.

 

Desejo a todas um ótimo 2024! <3 Que os sonhos de vocês se concretizem, que as metas sejam alcanças. Que Deus os proteja, dê força e coragem. Estamos aqui desde 2015, gente, são muitos anos. É uma vida. E tenho plena certeza de que altos e baixos foram o que não faltaram na vida de cada uma aqui. Mas sigamos, que sejamos fortes, tudo dará certo no final.

 

Um beijo e um abraço carinhoso.

Até breve. Espero que dessa vez seja mais rápido do que vocês possam imaginar.




28 comentários:

  1. Arthur ciumento é ótimo kkkkkk o capítulo foi longo, e foi tão gostosinho de ler, amo demais!

    Fico feliz por você ser oficialmente uma professora de português, meus parabéns!!!

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    1. Muito obrigada pelo carinho e pelos parabéns! <3 e eu fico feliz por você ainda acompanhar a fic e se alegrar com a leitura.

      Bjs!

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  2. Eu estava morrendo de saudades que capítulo maravilhoso realmente sempre vale a pena esperar o próximo capítulo ass:Noemi

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  3. Que cap maravilhoso, mulher não some mas não, se tiver insta passa pra nós

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  4. Que notícia maravilhosa espero que no próximo capítulo eles descobrem o sexo do bebê

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  5. Capítulo longo maravilhosa de ler meu fics favorito sempre entrando para ver que não tem atualização

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  6. Autora não demora um ano para atualizar por favor

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  7. Atualize proximo capitulo por favor

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  8. Ai q notícia maravilhosa, Arthur com ciúmes da mãe kk
    Esperando ansiosamente pelo próximo cap

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  9. Arthur com ciúmes é o auge

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  10. Ansiosa pela reação da Anie ao saber do bebê

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  11. Autora não demore com a atualização por favor eu não vou aguentar por um ano como essa

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  12. Autora Por favor atualização

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  13. Ansiosa pelo proximo capitulo

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  14. Autora não demore por favor

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  15. Ansiosa para o próximo capítulo

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  16. Espero que ela não demore um ano para atualizar

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  17. Agora sei que você é professora mas tira um tempinho para seus fã

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    1. Eu bem professora e famosa com meus fãs <3 haha vocês são especiais demais. Sempre terão um lugar no meu coração. É por vocês que ainda sigo aqui. Vamos ler o final dessa história juntas.

      Bjs!

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  18. Ansiosa para ver Lua com barriga grande

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  19. Nossa queria um flashback de Anie pequena

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  20. Autora quando vc vai postar o próximo cap, pfv n nos faça esperar mas 1 ano 🥲🥹

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  21. Primeiramente meus parabéns, eu sei o quanto é difícil e complicado essa correria de final de faculdade, já passei por isso, feliz que vc tenha conseguido um trabalho na sua área, eu sempre fui fã dessa web, já lir e relir várias e várias vezes, e chagar aqui e ter um novo capítulo é gratificante sabe, espero que não demore muito para ter um novo capítulo..
    Agora falando desse capítulo, nossa como é bom ver que a gravidez da lua tá indo bem, quero muito ver como vai ser a reação da anne recebendo a notícia, o Arthur ciumento com a mãe é muito engraçado, ansiosa pelo o encontro dele com namorado da mãe

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    1. Muito, muito, muito obrigada pelos parabéns! <3 Foi uma longa e árdua caminhada, mas deu tudo certo no final. Deus é bom! Continua dando certo. Estou tendo ótimas oportunidades e experiências. Não tenho do que reclamar, sei que estou no caminho certo e estou muito feliz e grata pela profissão que escolhi. <3

      Fico muito feliz que a espera valeu a pena. Que bom que gostou do capítulo, muitas coisas virão e eu torço tanto quanto vocês, para que seja o mais breve possível.

      Bjs!

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  22. Aaaaaaaaaaaaaaaa
    Que saudades dessa história, é tantos anos lendo ,todo mês tô aqui vendo se tem atualização.kkkkkkkkkk
    Parabéns pela sua formatura Milly e entendemos a correria da vida adulta,e ficamos grata por vc tirar um tempo e atualizar essa web maravilhosa.
    Capítulo maravilhoso, Arthur ciumento como sempre,que ótimo que a gravidez da lua tá bem,já imagino Anie com ciúmes do bebê 🤭.

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    1. Since: 2015 hahaha são muitos anos mesmo, meu Deus! Desculpa ter passado tanto tempo sem atualizar, mas agora estou tentando recompensar. Obrigada por ainda permanecer aqui para acompanhar e comentar sobre essa fanfic que também é muito especial para mim. Só quem foi fã desses casal sabe o quanto essa época foi de altos e baixos e de dias felizes. É tudo muito nostálgico, quando escrevo, parece que ainda estou naquela época e é um sentimento bom.

      Muito, muito, muito obrigada pelos parabéns! <3 Estou feliz, me sinto muito realizada, embora saiba que é só o começo e que ainda tenho um longo caminho pela frente. Mas já me sinto grata e feliz com a escolha da minha profissão.

      Fico feliz que a espera tem valido a pena.

      Bjs!

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