Little Anie - Cap. 90 | 6ª Parte

|

 


Little Anie – 6ª Parte

Você sabe que eu te quero

Não é um segredo que eu tento esconder

Eu sei que você me quer

Então não continue dizendo que nossas mãos estão atadas

Você afirma que não está nas cartas

Mas o destino está te puxando a milhas de distância

E para fora do meu alcance

Mas você está aqui no meu coração

Então quem pode me parar se eu decidir

Que você é o meu destino?

[...]

Tudo o que eu quero é voar com você

Tudo o que eu quero é cair com você

Então, me dê tudo de você

Se é impossível?

Não é impossível

É impossível?

Diga que é possível

–  Rewrite The Stars  | (part. Zac Efron) Zendaya

 

Capítulo anterior...

 

Pov Lua

 

– Você tá perdendo peso, eu já percebi.

– Eliza disse que é normal no início.

– Não desse jeito. Você mal se alimenta. – Ele falava baixo. – Almoçou pelo menos?

– Almocei. O que foi agora? Vai ficar me vigiando? Não vou fazer nada que possa prejudicar o seu filho... ou filha. Nem sabemos ainda.

– Nosso filho. Para de agir assim. Que saco!

– Você está irritado por quê?

– Porque o bebê não tem culpa da nossa irresponsabilidade. Já tentei te falar isso várias vezes e de todas as maneiras possíveis.

– Não estou o culpando de nada. – Deixei bem claro. – É você quem me parece irritado.

– Você está longe de estar feliz, Lua. Vejo isso todos os dias!

– Por que eu estaria feliz se só sei vomitar tudo o que como?

– Eu não estou falando desses sintomas, você sabe muito bem!

– Ok. Vou dar boa noite para a nossa filha e depois vou para o nosso quarto. Se quiser conversar lá, tudo bem. Caso contrário, não quero discutir aqui no corredor. – Avisei e abri a porta do quarto da Anie.

 

***

 

Pov Arthur

 

Londres | Segunda-feira, 3 de julho de 2017 – À noite.

 

Lua deixou bem claro que não está com muita disposição para encarar qualquer que seja a discussão.  E nem eu, para ser sincero. Não quero que briguemos, já passamos a semana sem mal nos falar.

 

Quero que conversemos e encontremos uma maneira de fazermos as pazes. Sei que não será fácil. Lua parece bem relutante e sem nenhuma vontade de conversar comigo, seja qual for o assunto. Não que ela esteja bem com isso, porque a conheço e sei que ela está tão mal quanto eu.

 

Caminhei para o nosso quarto e deixei que ela fosse dar boa noite à nossa filha. Não faz muitas horas que Anie está dormindo. Ela estava exausta, mas insistiu um pouco para esperar a mãe chegar do trabalho. Como Lua demorou, a pequena não aguentou e adormeceu.

 

Entrei no quarto e andei até a sacada. A noite está estrelada e isso me faz pensar que as noites de verão serão todas assim, lindas com o céu estrelado. Me sentei em uma das cadeiras que ficam na sacada, juntas a uma mesa e esperei por Lua.

 

Os minutos se arrastavam. Era como se não estivessem passando. Peguei o celular e chequei algumas mensagens. Minha mãe quer me ver só que, no momento, ir a Manchester não está nos meus planos. Não com a Lua grávida e a gente sem poder contar essa novidade para a nossa família, porque temos medo de que aconteça alguma coisa.

 

– Você tinha que ter vestido um pijama na Anie, Arthur. – Lua chamou a minha atenção e deixou a bolsa no lugar de sempre; sobre a poltrona.

– Ela não quis. – Bloqueei a tela do celular e coloquei ele sobre a mesa.

– E a Anie tem querer, Arthur? – Sim, a ironia no tom de voz é palpável.

– Você conhece a filha que temos, Lua. Eu preciso dizer mais alguma coisa? – Ergui uma sobrancelha e Lua ficou sustentando o olhar no meu por alguns segundos. – Preciso? – Insisti.

– Não. Eu vou tomar um banho. A gente pode conversar depois, caso você ainda queira. – Deixou claro e começou a tirar o blazer.

– É o que eu mais quero. Vou te esperar, pode ter certeza.

– Ok. – Concordou.

– Não quer comer nada mesmo?

– Não. Eu já te expliquei. Não vou mais repetir.

– Lua, um chá, um sanduiche, sei lá... um cereal.

– Eu não quero, Arthur. De verdade. Estou me esforçando para não ser rude. – Contou o que eu já tinha notado.

– Eu sei, Lua. Eu te conheço.

– Vou tomar banho então...

– Vou continuar insistindo. Por você e pelo bebê, é óbvio. – Abaixei o olhar para a sua barriga, embora ainda nem tenha sinal de que há um bebê ali.

– Meu Deus! – Lua exclamou. – Como você é chato e insistente! – Reclamou.

– Apelidos carinhosos que eu já estou acostumado e que não me afetam mais. – Comentei.

– Um copo com leite. Nada mais. – Cedeu.

– Umas torradas? Biscoitos? – Insisti e me levantei da cadeira.

– Não tem torradas. – Pontuou.

– Eu comprei hoje. Na verdade, comprei sorvete também. O seu preferido.

– Você quer me comprar com isso. A verdade é essa! – Ela soltou um riso.

– Como se fosse fácil assim. – Revirei os olhos.

– A minha torrada preferida também? – Ela ergueu aquele queixo que a deixa mais atrevida.

– É óbvio. Qual mais seria? – Questionei.

– Ok.

– Tudo bem. – Sorri. Fiquei tão feliz como tivesse ganhado uma guerra. – Vou buscar. – Acrescentei. Lua assentiu e caminhou para o banheiro. Saí do quarto rumo à cozinha.

 

*

 

– Não sei como eu ainda te aguento. – Ela disse após sair do banheiro e ver que eu não tinha trazido apenas o copo com leite e as torradas.

– Você disse que só almoçou.

– E também lembro de ter dito que continuo enjoada. Eu vou fazer esse esforço pelo bebê. – Apontou para a bandeja com a comida.

– É claro. – Sorri sem mostrar os dentes.

– Senão, você vai continuar enchendo a pouca paciência que eu tenho.

– Que bom que você me conhece. – Pontuei.

– É, eu conheço. – Afirmou e foi para o closet. Me levantei da poltrona e Lua me parou. – Não precisa me seguir. Eu ainda sei vestir a minha roupa.

– Eu não vou te seguir. – Franzi o cenho, como se não tivesse tido a ideia de ir atrás dela até o closet. Dei meia volta e andei até a sacada.

 

Lua não demorou muito e logo voltou para o quarto. Não saí da sacada, só virei de frente para o quarto e cruzei os braços.

 

– Você tá parecendo um guarda-costas. – Ela comentou ao se sentar na cama.

– Prefere que eu não te olhe? – Indaguei.

– Não como quem está me vigiando. – Explicou.

– Ok. – Me fastei da sacada e caminhei até a cama onde ela tinha acabado de se sentar. – Vou ligar a tevê enquanto você come. – Peguei o controle.

– É melhor conversarmos enquanto isso. – Ela sugeriu comendo uma das torradas.

– É melhor que você coma.

– Desde quando você começou a querer mandar em mim?

– Não é sobre isso, Lua. – Ri.

– Pois parece que é. E eu não gosto disso, você sabe. – Deixou claro. A encarei, mas desisti de dar continuidade a esse assunto e liguei a tevê. – Você também sabe que eu não gosto quando você me ignora. – Acrescentou.

– Não estou te ignorando. – Afirmei.

– É por isso que discutimos. – Lua falava enquanto comia torradas e bebia o leite.

– Discutimos porque você é impaciente e sempre acha que a razão é só sua. É por isso que discutimos, Lua.

– Hahaha... e você é pacífico? Ai, Arthur, me poupe dessa conversa.

– Sou mais que você. Pelo menos eu tento te entender todas às vezes, coisa que você nem sabe por onde começar. – Alfinetei e Lua parou de comer e me encarou.

– Você tá falando isso por quê? Acha que eu fiquei chateada porque não transamos?

– Se eu acho? Eu tenho toda a certeza. – Assegurei.

– O problema é seu então. – Ela deu de ombros. Neguei com a cabeça e voltei a olhar para o programa que passava na televisão. – Você não devia ter feito sanduiche... eu acho que vou vomitar se comer.

– Isso vai acontecer se você ficar pensando sobre. – A olhei de relance.

– Acho que o bebê não gosta muito das comidas que eu como. – Lua comentou baixo.

– Normalmente os bebês não gostam muito das coisas que as mães comem no início da gravidez.

– Por que? – Questionou e eu a encarei com um mini sorriso. – Eu sei que você não tem uma resposta.

– Pois é. – Concordei e Lua riu. – A Eliza deve saber. – Supus. Lua não disse nada. Voltou a comer o sanduiche e eu voltei a olhar para televisão. Ela já tinha comido as cinco torradas que eu trouxe e mais da metade dos biscoitos. Ou seja, ela estava com fome.

– Eliza também não tem uma resposta concreta. – Lua comentou depois de um tempo. Voltei a olha-la e esperei que ela continuasse. Mas como ela ficou em silêncio, eu insisti.

– Então você já perguntou. – Comentou.

– Sim. Claro. – Disse óbvia.

– Quais foram as respostas?

– Alterações hormonais e fatores emocionais. Nada muito claro também. – Lua encolheu os ombros e depois soltou um suspiro. Continuei observando-a. – Você acha que vai passar porque já estou indo para o segundo trimestre? – Me indagou, mesmo sabendo que eu não tenho nenhuma segurança na resposta que darei.

– Torço para que passe. É horrível ver você assim e não poder fazer nada. – Respondi sincero.

– Já podemos conversar sobre o assunto que você quer? – Me perguntou em seguida.

– Você já terminou de comer?

– Sim. E comi mais do que pensei.

– Muito bem. Eu estou contente. – Admiti e Lua me encarou.

– Eu imagino. – Ela curvou rapidamente os lábios, mas não mostrou os dentes. Colocou a bandeja sobre a mesa de cabeceira e me olhou com curiosidade. – Já pode começar a falar... – Disse.

– Tá. Eu tenho muito para falar, na verdade...

– Vou ouvir. – Falou automaticamente e eu desliguei a tevê. Me ajeitei sobre a cama e fiquei de frente para Lua.

– Você sabe que, primeiramente, brigar com você é a última coisa que eu gosto de fazer na vida. Eu me sinto tão mal, Lua. Nós já estamos há quase duas semanas sem mal nos falar e isso é horrível. – Comecei e ela me interrompeu.

– Mas a gente estava se falando...

– Não normalmente, Lua. Você sabe. Você está chateada, estressada, irritada, irredutível, impaciente...

– Ei, você vai enumerar todos os meus defeitos? É essa a conversa que você quer ter?

– Você vai ter a oportunidade de falar os meus erros também. – Deixei claro. Lua revirou os olhos.

– Eu não acredito que você me disse isso. – Bufou.

– Você já vai ficar estressada?

– Olha as coisas que você acabou de dizer...

– Estou errado?

– Não! Mas eu... que droga! Tá, continua então. – Ela respirou fundo.

– Estou tentando esclarecer o que eu acho necessário ser discutido agora, para que a gente se entenda.

– Continua. – Pontuou.

– Ok. Lua, eu sei que esse momento pelo qual estamos passando, não foi de maneira nenhuma planejado. Não agora que já tínhamos entendido que seria só a Anie e que estaria tudo bem. Eu vejo que você está longe de estar feliz com isso...

– Não tem nada a ver com o bebê, Arthur... – Assegurou, mesmo que seu olhar não afirmasse o mesmo.

– Posso continuar?

– Claro.

– Não quero que você pense que eu estou te julgando. Eu jamais farei isso, Lua. Eu só tenho notado toda essa mudança. Eu sei, nós dois sabemos o quanto a responsabilidade e as preocupações com um bebê são grandes. Eu sei que daremos conta, e não é isso que me preocupa. O motivo da minha preocupação excessiva é esse caminho até chegar a hora dele nascer. Nós dois estamos cientes de tudo o que ainda pode acontecer. Eu sei que isso talvez te preocupe até mais que a mim. Mas eu tenho duas preocupações, você e o bebê. Eu nunca vou pensar mais em você ou nele, separadamente eu quero dizer. Eu não consigo. Vocês dois importam para mim na mesma dimensão. Às vezes eu penso que realmente deveríamos ter tido mais cuidado, só que agora nem adianta ficar pensando nisso. Eu não consigo mais imaginar como seria sem essa nova vida, sem esse milagre que Deus resolveu nos dar. Não somos muito de rezar e eu também nunca te perguntei o quão grande é a tua fé. De todos os assuntos que já conversamos ao longo desses anos que estamos juntos, esse foi o menos falado. – Eu estou me controlando para manter o tom da minha voz audível, mas estou quase que falhando miseravelmente.

– Eu acredito em Deus, Arthur. Você... você sabe, meu amor. – Lua procurou as minhas mãos e as apertou com carinho.

– Eu sei. – Sorri e retribuí o carinho.

– Você também acredita que é um milagre? – Me perguntou baixinho, me encarando nos olhos.

– Existe outra explicação? Porque até agora ninguém conseguiu encontrá-la. – Respondi. – E não é algo que eu esteja procurando explicações. Eu acredito que somos maduros suficientes para entender nossos atos.

– Eu compartilho do mesmo pensamento, meu amor. – Lua assegurou. É a primeira vez em dez dias que Lua me chama de meu amor. Sim, eu estou conferindo os dias.

– Você me chamou de ‘meu amor’. – Ressaltei e Lua riu.

– Por que? Acha que só porque tivemos um desentendimento, você deixou de ser o meu amor? – Frisou as últimas três palavras.

– Não. Mas só concluí que talvez você tivesse com mais raiva de mim, do que sentindo amor.

– Deixa de bobagem... – Lua soltou as mãos das minhas. – Você... você já terminou de falar o que queria me dizer?

– Não. Não falei nem a metade do que gostaria. – Contei.

– Então continua. Porque eu também quero falar. – Me avisou.

– Imagino que sim. – Respirei fundo. – Vou continuar... – Salientei e Lua concordou. – Então... estamos passando por isso e vivendo um momento que tá mais para preocupação e medo, do que para felicidade plena. Eu sei que você me entende. E eu queria muito, muito mesmo, que tudo estivesse sendo diferente. Que você não estivesse sofrendo tanto com os enjoos, com esses hormônios... que você estivesse feliz, tranquila e curtindo esse momento. Para ser sincero, nem sei quando esses dias vão chegar. Eu não quero que você se culpe e nem que tenha pensamentos negativos. Me sinto tão mal quando te olho e vejo e sinto o quanto você está distante e assustada. Queria ter o poder de fazer algo que mudasse isso. Talvez eu tivesse esse poder lá atrás quando a gente se desligou um pouco. – Sorri. – Mas eu vou ser hipócrita se disser que não fiquei nadinha feliz com a novidade, mesmo que na hora a minha reação tenha sido outra. Depois eu entendi que realmente nem tudo é como imaginamos ou queremos. E que não existe um ou dois culpados. Não fizemos nada de errado. Você concorda? – Indaguei e Lua assentiu. – Se você me pedir um tempo, eu vou te dar um tempo. Só que isso não significa que eu vá ficar longe ou dormir em outro quarto. – Esclareci.

– Eu não quero que você fique longe de mim.

– Eu também não. Só que eu entendo que às vezes você precisa de um tempo, mesmo que eu insista em ficar junto quase que o tempo inteiro. Eu entendo, loira. E você pode me dizer, caso queira ficar sozinha. Vou fazer um esforço absurdo, mas vou te respeitar sempre, como eu faço desde o dia que nos conhecemos. – Assegurei e voltei a segurar as suas mãos. – Quero te fazer uma pergunta, e não quero que você se zangue. Quero que seja sincera.

– E quando eu não sou?

– Que continue sendo. – Sorri de lado. – Tudo bem?

– Tudo bem, Arthur. – Lua concordou.

– Você, não exatamente agora, hoje, mas em algum momento desde que você descobriu a gravidez, pensou em um culpado? Em mim, no caso, para ser mais exato. Você não precisa ter receio de responder. Só você sendo sincera para que a gente consiga ter essa conversa e se entenda. – Concluí.

– Nunca pensei que houvesse um culpado, Arthur. Por favor! Acho que já falamos sobre isso, não tão diretamente, é claro, mas já falamos sobre esse assunto de culpados. – Lua não demorou nem meio segundo para responder. – Eu nunca te culpei, se isso for te tranquilizar. A gente sabia de todos os riscos e eu assumo as decisões que eu tomo. Sei que eu sempre falei que estava tudo bem em não nos prevenirmos, mesmo que você insistisse para que fizéssemos ao contrário. Então, se houver alguém com culpa aqui, esse alguém sou eu. – Lua tentou sorrir de lado, mas está tão nervosa. – Você não precisa se preocupar com isso. E também, eu acho que nem devemos ficar voltando a esse assunto. Uma hora ou outra vamos acabar nos machucando...

– Não é questão de que vai me tranquilizar. Eu saberia viver se a resposta fosse sim, mesmo que a minha intenção, com toda a certeza que há nesse mundo, jamais fosse de que, enfim... – suspirei – de que você engravidasse.

– Eu sei... e parece que de nós dois, você é o que mais se arrepende. – Salientou, mesmo receando dizer tais palavras.

– Eu não quis dizer isso, Lua.

– Você que precisa ser sincero e me dizer as coisas sem medo, para que possamos conversar e nos entender. Que tal? – Usou as minhas palavras contra mim. Pendi a cabeça para o lado e Lua firmou aquele olhar atrevido em minha direção.

– Mas eu estou sendo sincero. Sentir medo não quer dizer que eu me arrependa. Ou eu estou enganado? – Questionei.

– É você que tem que saber. – Lua foi rápida.

– Me senti extremamente irresponsável quando você me contou sobre a gravidez. Era o nosso medo mais atual, vamos dizer assim. Eu queria muito ter cuidado mais de você. Parece bobagem, já que nós dois fizemos as coisas, sabe?

– Eu sei. Essas decisões são do casal e em nenhum momento deixamos de fazê-las juntos. E se tivesse... sei lá... eu nem acreditava em uma nova gravidez, Arthur. Então, por que eu deveria me preocupar? Eu que nunca fui muito responsável quanto a esse assunto. Você sempre ficava me lembrando do horário do anticoncepcional, você nunca fez nada de propósito, sempre me perguntava antes. E se esquecesse, ok. A gente tinha concordado em transar sem preservativo. Estávamos esperando o quê? Sabe, nunca me prendi ao fato de que, só porque sou mulher, tenho que me prevenir sozinha ou sei lá, carregar essa responsabilidade sozinha. Somos um casal. É a nossa responsabilidade. E você... – Lua suspirou – você nunca se esqueceu disso. Por que eu deveria te culpar de alguma coisa?

– Não sei se um dia você realmente vai entender o quanto é importante pra mim. E que cuidar de você, é o mínimo que eu posso fazer. Sempre acho que poderia ter feito mais, mesmo quando o controle das coisas nem são minhas. Cuido de você assim, porque eu te amo. O meu coração é todo seu, Lua. Nunca tive um pingo de medo de te entrega-lo assim. Tudo o que eu faço é pensando em você, na nossa família. Sempre quis ser um bom parceiro, daqueles que você pode contar para tudo. É por isso que te compreendo e respeito as suas decisões. Sou assim mesmo, perdidamente apaixonado. Isso é ser muito exagerado?

– Você sempre foi intenso com os seus sentimentos e nunca notei que você fez um esforço para demonstrar o contrário. – Lua levou as mãos até o meu rosto. – Você também é muito importante para mim. O meu coração é seu. Embora eu não seja tão romântica e carinhosa quanto você. Às vezes sai uns coices, você me conhece. Mas continua sendo você a pessoa que eu mais amo e confio nessa vida. Você é um companheiro incrível. Não é a primeira vez que eu te digo isso. Não quero que você pense que eu me arrependo de algo que já fizemos juntos. Principalmente, se for os nossos filhos. – Deixou bem claro e desceu as mãos para os meus ombros. – Por que você trouxe esse assunto de novo para essa conversa? Pensei que íamos falar sobre as que nos chateou recentemente.

– É sobre os acontecimentos recentes, Luh. Isso faz parte. Você não concorda?

– Não me lembro de termos brigado porque você é um péssimo pai ou marido. – Ela franziu o cenho. – Acabamos discutindo porque meus hormônios estão mil vezes piores do que na TPM e eu quero transar e você está com medo de que isso faça mal ao bebê. Meu Deus, Arthur! Quantas vezes eu vou ter que te dizer que isso não afeta o bebê?

– Lua. – Revirei os olhos. – Não é como qualquer outra gravidez saudável ou como foi na da Anie. Essa é diferente e eu sinto sim medo de fazer algo que depois venha trazer complicações para você e o bebê.

– É bobagem! Eliza já deixou claro que se eu estiver disposta, tudo bem. Só não podemos exagerar. Que tipo de mãe você acha que eu sou? Que colocaria a vida do nosso filho em risco?

– Não. Claro que não, Lua! E não é nenhuma bobagem.

– Para mim, é. E se formos insistir nesse assunto, nunca faremos as pazes. Porque eu sigo com vontade de transar e você não. Então, ok!

– Não é bem por aí. Quem disse que eu não estou com vontade?

– Você e já fazem semanas... – Disse chateada.

– Lua, vamos com calma. Depois que Eliza ver os exames e falar que está tudo bem...

– De novo? – Ela me interrompeu. – Porque da última vez também estava tudo bem. – Acrescentou.

– Sim, de novo. – Afirmei. – Eu fiquei preocupado quando ela disse que o colo do seu útero estava um pouco baixo. Que isso não é tão normal... que você precisava ficar de repouso.

– E eu fiquei. – Lua pontuou com um tom de voz revoltado, como se eu tivesse acusando-a de ter feito tudo ao contrário.

– Eu sei... mas você trabalhou a semana toda.

– Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu nem estou usando sapatos de salto porque não quero me sentir culpada se eu levar um tombo por conta disso. Pode parecer uma coisa muito pequena, mas você já me viu ir sem sapato de salto para o trabalho nos últimos cinco anos?

– Lua, eu sei que você jamais colocaria a vida desse bebê em risco. E não é sobre isso, meu amor. Eu só quero proteger vocês dois, e se eu puder evitar qualquer coisinha, eu vou evitar. Vamos ter tempo para transar à vontade, como você quiser, querida. Mas agora, eu realmente preciso ouvir que vocês dois estão indo muito bem para que nós dois... meu amor, para que eu fique mais tranquilo.

– Tudo bem, Arthur. Sei que não vou fazer você mudar de ideia.

– Sobre isso, não mesmo. – Admiti. – O que você queria falar? Disse que tinha muito o que falar também...

– Você já terminou?

– Sim. Consegui as respostas que queria.

– Foi o que esperava?

– Foi. Agora quero ouvir você.

– Eu só fiquei nervosa com tudo isso, sabe... eu também não esperava, nós dois não esperávamos. Eu fiquei muito preocupada com a tua reação. Me senti um pouco culpada, porque eu fui teimosa mais uma vez. Pensei que você fosse dizer que já tinha me avisado. Era um medo idiota. Pois somos adultos, somos casados. No fundo, bem lá no fundo eu sabia que não seria o fim do mundo. Mesmo que houvesse complicações, estaríamos juntos. Mas eu senti medo também. Eu nem pensava mais sobre esse assunto, Arthur. Eu não queria. Já tinha me conformado, mesmo que às vezes eu ficasse triste. Depois me senti egoísta e com mais medo de que acontecesse algo, por conta desses meus primeiros pensamentos. Eu... você sabe que eu vou fazer de tudo para que fique tudo bem com ele ou ela.

– Eu sei que vai, meu amor. Esse nunca foi o assunto em questão. – Assegurei e apertei as suas duas mãos. – Eu confio em você, Lua. E eu estou aqui para fazermos isso juntos. Nós dois como sempre foi desde que soubemos que a Anie estava a caminho. Não tivemos a oportunidade de cuidar do segundo bebê como estamos tendo de cuidar do terceiro. É sobre isso que eu quero que você me entenda. Eu sinto tanto medo, Lua. Tanto medo que eu nem consigo medir. – Deixei que algumas lágrimas escorressem pelo meu rosto.

– Eu não quero parecer irresponsável e nem que você ouse pensar nisso.

– Eu já disse que confio em você, loira. – Sorri.

– Eu já amo esse bebê, Arthur. Eu também já não consigo mais imaginar a nossa vida sem ele. Essa semana eu vou buscar o resultado dos exames que fiz mês passado. Dia dez completo doze semanas. Arthur, já são três meses.

– Está passando tão rápido, Luh.

– Sim. E mal estamos aproveitando... – Lua passou rapidamente uma das mãos sobre a barriga. – Só brigamos e estamos sentindo medo.

– Eu acredito que vá melhorar, Lua. É que esse início é complicado mesmo.

– Nesse caso, não só o início. Nós dois sabemos disso. – Desabafou. – Esse é o motivo de estarmos nessa situação e tendo essa conversa agora. Eu preferia estar dormindo.

– Imagino que esteja cansada mesmo.

– Bastante. – Lua respirou fundo. – Fico pensando que se não estivéssemos passado por tudo àquilo, se agora estaríamos assim...

– Com medo?

– Sim, mais do que o normal.

– Acho que estaríamos mais tranquilos. – Admiti. – Eu estaria mais tranquilo.

– E estaríamos transando.

– Amor... – Comecei a ri.

– Estou mentindo?

– Não é assim também, Luh.

– Uhm... – Ela me encarou com um mini sorriso. – E é como?

– Não íamos fazer nada absurdo, Lua.

– Você considera absurdo?

– Você me entendeu. Nada selvagem, nada que colocasse você e o bebê em risco. – Puxei Lua pela nuca. – E você não ia reclamar. – Sussurrei.

– Com certeza é porque estaríamos fazendo alguma coisa e não só falando. – Ela sussurrou de volta. – Não morde a minha orelha. – Avisou e eu ri baixinho. – Você vai se arrepender. – Acrescentou.

– Gosto do perigo.

– Arthur...

– Você tem que se controlar, loira.

– Você não colabora! – Lua me empurrou e eu voltei a ri.

– Amo você, loira.

– Eu também te amo.. Aaai, Arthur... – Lua me abraçou. – Eu estou com saudades.

– Eu também, querida. – Passei a ponta dos dedos pelas costas dela. – Muita mesmo. Não quero que você pense ao contrário.

– Não mais do que eu.

– Será? – Questionei.

– Tenho certeza! – Garantiu.

– Não vamos discutir sobre isso. Semana que vem eu te mostro quem estava com mais saudades.

– Eu vou te cobrar, sabe disso.

– Vou fazer questão de pagar, sabe disso. – Deixei claro.

– Quero dormir. Eu disse que tinha muita coisa pra falar, mas eu estou tão cansada e já falamos muito sobre o que você queria conversar.

– Então vamos dormir e se amanhã você quiser continuar essa conversa, a gente continua. Ok?

– Ok. Mas acho que já esclarecemos muitas coisas.

– Sim, eu concordo com você. Estamos melhor agora, hum?

– Sim. Estamos bem melhor agora. Você tá certo quando diz que conversar resolve as coisas.

– Uhm... você admitindo é a coisa mais linda do mundo.

– Não começa!

– Não começa você a se estressar. – Rocei os lábios nos dela. – Prefiro quando está calma.

– Você me estressa.

– Não. Você que é impaciente. Sempre foi.

– Só às vezes.

– Hahaha... – Rimos. – Vamos dormir, amor. – Falei, mas acabei me levantado da cama.

– Onde você vai?

– Levar essas coisas na cozinha. – Apontei para a bandeja que está sobre a mesa de cabeceira.

– Ok. Vou esperar você voltar.

– Quer mais alguma coisa?

– Não. Obrigada.

– Tudo bem.

 

Saí do quarto e fui deixar a bandeja na cozinha.

 

Pov Lua

 

Londres | Segunda-feira, 10 de julho de 2017 – Sete e quarenta da manhã.

 

Hoje é o dia do meu retorno com a obstetra. Vou levar os resultados dos meus exames e fazer um ultrassom morfológico, que era para eu ter feito semana passada, mas acabei remarcando. Tanto eu quanto Arthur ainda não queremos saber o sexo. Eu sei que ele tem medo de darmos um nome e acabar acontecendo algo.

 

– Lua?

– Oi. – Me virei rapidamente para ele.

Link: Look Arthur | Clique aqui e veja.

– Já está pronta? Antes temos que deixar a Anie na escola.

– Sim. Na verdade, fecha aqui. – Pedi e fiquei de costas para ele.

 

Avisei Hanna que não irei para o trabalho agora de manhã. Falei que tenho uma consulta de rotina. Tive que mentir, já que mais ninguém sabe sobre a gravidez.

 

– Você está nervosa?

– Um pouco.

– Fica calma, loira. – Arthur beijou um dos meus ombros e depois ajeitou a alça do meu vestido. – Sabe, você está tão linda.

– Obrigada. – Sorri.

– Já arrumou os exames?

– Sim. Já separei e coloquei na bolsa. Só vou me passar perfume. Já desço.

– Ok. Vou te esperar lá embaixo.

– Anie já tomou café?

– Sim.

– Tá bom. Não demoro. – Avisei e Arthur saiu do quarto.

 

Fiquei me encarando no espelho e senti os meus olhos marejarem. Eu não quero ouvir nenhuma notícia negativa. O bebê parece está bem, mas só parecer não é o suficiente. Queremos ter certeza. Dizem que na segunda gravidez a gente sente mais cedo os movimentos do bebê e eu estou tão ansiosa para esse momento. Também estou ansiosa para sentir Arthur fazer carinho na minha barriga e falar com ele ou ela. Desde que contei a ele sobre a gravidez, ele ainda não demonstrou nenhum gesto de que isso chegou a passar pela sua cabeça. Fico tentada a perguntar, mas não quero pressioná-lo e nem chateá-lo.

 

Enxuguei uma lágrima que insistiu em cair e me passei perfume. Senti os meus pelos se eriçarem e não quis acreditar que iria enjoar o meu próprio perfume. A consulta está marcada para às oito e meia. Ainda temos que deixar Anie na escola antes de irmos para o hospital. Me olhei mais uma vez no espelho e respirei fundo. Quero tanto que tudo dê certo.

 

– Loira! – Ouvi Arthur me chamar. – Vamos nos atrasar. – Acrescentou.

– Já estou indo. – Gritei de volta. Peguei minha bolsa e saí do quarto.

Link: Look Lua | Clique aqui e veja.

– Mamãe, eu não posso me atrasar.

– Eu sei, meu amor. Desculpa. – Acariciei seus cabelos. – Vamos? – Falei.

– Vamos. – A pequena concordou. – O meu papai já foi.

– Seu pai está apressado hoje.

– É. – Anie riu me fazendo ri junto.

 

Abri a porta de casa e Arthur já estava no carro.

 

– É impressão minha ou você está muito apressado? – Perguntei colocando o cinto de segurança na Anie.

– Impressão sua. Estamos atrasados, Lua. – Ele ligou o carro e eu me sentei ao seu lado, no banco do passageiro.

– Não estamos atrasados. – Assegurei e coloquei o cinto. – Você disse que eu tinha que ficar calma. Então, eu te peço o mesmo.

– Tudo bem, Lua.

– Lua não.

– Amor. – Arthur me olhou e sorriu.

– Agora sim. – Sorri de volta.

 

Rumamos para a escola. Arthur está certo, estamos atrasados.

 

– Chegamos!

– Isso... nossa, mas você está tão animada. – Arthur observou e saiu do carro.

– Hoje vai ter aula na quadra!

– Aaah... de educação física?

– Sim, papai. – Anie já tinha desprendido o cinto de segurança. – Tchau, mamãe. Bom dia.

– Bom dia, meu anjinho. Boa aula. – Lhe dei um beijo na testa. – Amo você.

– Amo você. – Ela me deu um lindo sorriso.

– E o papai não vai ganhar beijo?

– Vai! – Anie o abraçou apertado e lhe deu um beijo. – E bom dia também. Eu amo você, papai.

– Eu te amo, minha princesinha. – Arthur retribuiu o carinho. – Agora vai, antes que se atrase mais.

– Tchau!

– Tchau, filha.

 

Anie saiu correndo para entrar na escola e eu e Arthur ficamos observando-a.

 

– Meu Deus, loira! – Ele exclamou ao fechar a porta do carro. – Você lembra do primeiro dia?

– Como esquecer? Você quase chorou.

– Lua!

– Menti?

– Engraçadinha. – Ele apertou minha coxa por cima do vestido. – Você está mais calma?

– Não vou ficar se você insistir em perguntar...

– Uhm... desculpa então.

– Hoje os meus seios estão mais doloridos do que nos últimos dias. – Contei. – E você nem sabe...

– O quê? – Arthur me olhou rapidamente e depois voltou a atenção para a avenida. – Seus sutiãs estão pequenos? – Ele riu baixo e eu revirei os olhos.

– Você tá rindo de mim? – Questionei.

– É que é a primeira coisa que você reclama. E eu acho os teus seios lindos. Você estando grávida ou não.

– Agora eu não estou reclamando. Eu só disse que estão doloridos.

– Tudo bem, Lua. Pode falar sobre o que quiser, sabe disso, não é?

– Eu sei, amor. É por isso que eu falo sobre tudo.

– E o que mais você queria me contar?

– Me passei perfume e senti um enjoo tão forte. Não acredito que vou enjoar o meu próprio perfume.

– Lembra que da Anie foi o meu?

– Lembro. – Ri e Arthur riu junto. – O meu filho enjoou de mim, Arthur.

– Lua, claro que não, vida. – Ele acariciou o meu rosto. – Não fala isso, meu amor.

– Estou nervosa.

– Eu sei. Mas nós estamos juntos. E depois da consulta a gente pode comprar algumas coisas que você esteja precisando.

– Depois da consulta você me prometeu outra coisa. – O lembrei.

– Lua – Arthur voltou a ri – Você é demais.

– Eu sei. Já estou esperando há semanas.

– E eu não, hein?

– Mas é você que está fazendo isso.

– A culpa é minha?

– É. – Afirmou e eu estacionei o carro em frente ao hospital. – Pronta?

– Não. Mas tenho que ir do mesmo jeito.

– Vai dar tudo certo, Lua. Eu sei que vai. Vem aqui. – Ele me chamou para um abraço. Nem hesitei, o abracei. – Relaxa, meu anjo.

– Eu tento, mas não consigo. – Confessei ainda abraçada a ele.

– Consegue. Consegue sim. – Arthur depositou vários beijos no meu pescoço. – Agora vamos? Estou ansioso. – Contou.

– Eu também e nervosa.

– Não fica nervosa não. – Ele me deu um selinho.

 

Arthur me soltou e destravou a porta do carro. Me olhou me convidando para entrarmos logo. Fizemos isso em silêncio. Chegamos à recepção e eu confirmei os meus dados e fiquei aguardando ser chamada.

 

– Quer água? – Arthur me ofereceu.

– Não. Senão vou fazer xixi. Eu estou fazendo muito xixi. – Contei mais baixo. Arthur riu e tomou a água que havia trazido para mim.

– Isso é bom, Luh. Mostra que seus rins estão ótimos.

– Ai, Arthur – revirei os olhos – vou te bater. – Ameacei.

– Uhm... eu te amo também. – Me deu um beijo na bochecha. Sorri de lado e sei que ele notou.

 

Fui chamada e o meu nervosismo só aumentou. Arthur apertou uma das minhas mãos de maneira carinhosa e me olhou com uma calma que eu não entendo de onde ele tira. Sei que ele está nervoso, porque o conheço. Mas faz questão de não deixar transparecer.

 

– Bom dia, Lua. Arthur.

– Bom dia, Eliza. – Falamos juntos.

– Como você passou essas últimas semanas?

– Essa última melhor do que as anteriores. Mês passado eu sofri muito com os enjoos. Não sentia fome nenhuma. Acho que emagreci. Sei que isso não é bom para o bebê.

– Calma. Vamos com calma. – Eliza pediu com um sorriso tranquilo nos lábios. – No início é normal perder um pouco de peso por conta dos enjoos. Isso não quer dizer que seja normal perder penso durante toda a gravidez. Não é isso que quero dizer. Posso te dar um encaminhamento para você passar com a nutricionista, isso pode te ajudar. Eu já te repassei alguns nomes de alimentos que ajudam a amenizar os enjoos, mas parece que não funcionou.

– Não. Não ajudou muito. – Fui sincera. E abri a bolsa para retirar os exames. – Eu fiz os exames que você pediu. Eu nem abri, não ia entender nada mesmo. Eu fiquei nervosa...

– Muito nervosa. – Arthur me interrompeu.

– Sim, muito nervosa com o exame pra saber o tipo sanguíneo do bebê. Porque do arthur é O negativo e o meu A positivo. Porque eu me lembro que quando engravidei da ANie, isso poderia ser um problema.

– Mas hoje, e naquela época, que não faz tanto tempo assim, já existe um tratamento. É claro que não traz tanta tranquilidade assim, poque em uma segunda gravidez as coisas podem piorar ainda mais. Não pretendo esconder nada de vocês. Vocês me conhecem.

– Eu sei. É por isso que confio em você. – Contei.

– Agora vamos ver o resultado que tanto te preocupou.

– Na verdade, todos os exames me preocuparam. – Confessei.

– Relaxa, Lua. Ficar tão preocupada assim não te ajuda em nada.

– É o que eu tento fazê-la entender todos os dias. – Arthur ressaltou e eu o encarei.

– Uhm... A positivo, igual ao seu e o da Anie. – Eliza sorriu e me senti tão aliviada. A primeira notícia já foi boa demais. Arthur apertou carinhosamente uma das minhas mãos. Mas não disse nada e nem precisava.  – Sem anemia, sem infecções, o açúcar no sangue está dentro da normalidade. – Eliza abriu o outro envelope. – Agora vamos ver o de urina. Sem infecções, e você não é diabética. Tudo certo com os seus exames, Lua. Eu disse que você precisava relaxar. – Eliza sorriu. – Nós já fizemos um ultrassom mês passado, certo? Hoje vamos fazer outro para verificar possíveis anomalia, doenças cardíacas, alteração cromossômica e também medir a transluscência nucal do bebê. Verificar o peso, as medidas. Você disse que emagreceu, mas isso não quer dizer que o bebê não tenha ganhado algumas gramas. Vamos ver se vocês lembram o peso da última vez...

– Não chegava a três gramas. – Respondi e Eliza confirmou. – Ainda é tão pequeninho.

– Duas gramas e meia. Sim, muito pequeno. Mas já aumentou alguns centímetros. Vocês ficarão surpresos. Vamos, ver? Depois quero aferir a sua pressão e ver o seu peso, certo?

– Certo. – Me levantei da cadeira e Arthur fez o mesmo.

 

Eu ainda estou nervosa, eu já aceitei que esse meu nervosismo vai me acompanhar até o final da gravidez. Não tem como ser diferente. Mas estou mais aliviada. Tudo indica que o bebê está super bem. Espero confirmar isso agora.

 

– Pode deitar. – Eliza apontou para a maca. Me sentei e levantei meu vestido. Eliza deu um lençol para eu cobrir a parte debaixo. Arthur ficou ao meu lado e eu automaticamente segurei uma das mãos dele quando me deitei. Ele apertou gentilmente a minha mão acariciando o dorso da mesma. – Vou começar. – Ela nos avisou.

– Tudo bem. Não sei se já dá para ver o sexo, mas nós ainda não queremos saber.

– Ok, sem revelações. –  Ela sorriu. –  Mas ainda é muito cedo. Se quisessem saber agora, eu pediria uma sexagem fetal. Olha aqui... – ela apontou para o monitor – eu disse que tinha crescido. Cinco centímetros. Vocês conseguem imaginar?

– Meu Deus! – Olhei para Arthur, mas ele estava vidrado no monitor, como se estivesse entendendo coisas além do que Eliza estava nos explicando. – Eu só imagino que ainda é muito pequeno.

– Vamos imaginar que seja do tamanho de um limão.

– Ele ganhou peso? – Ouvimos Arthur perguntar.

– Quase dez gramas. Treze gramas no total. Eu disse! Esse peso está na média. Vocês não precisam se preocupar. As medidas estão dentro do que consideramos normal. Podem respirar aliviados. Inicialmente, nada de problemas de saúde. É um bebê saudável. Eu falei isso da última vez. Conseguem ver os dedinhos? Ainda estão se formando. Dá próxima vez já poderemos contar. Você ainda não sentiu nenhum movimento, Lua?

– Não. – Agora eu também estava vidrada na tela do monitor.

– São bem sutis mesmo.

– Ele está se mexendo demais. – Arthur comentou encantado. – Ou ela. A gente fala ele porque é o bebê.

– Eu sei. – Eliza sorriu. Acabei sorrindo também. – Mas ainda não consigo distinguir se é menina ou menino. – Acrescentou. – Sem preferência, papais?

– Total. Esse bebê já é um milagre. Não precisamos pedir nada que não seja saúde pra ele e pra Lua, é óbvio. – Arthur me olhou. – Ela sabe disso.

– Eu quero uma menina. Ele sabe disso. – Respondi e Arthur sorriu.

– Ela continua querendo me tirar do sério e no fim o bebê nasce com a minha cara e apegado a mim. E ela sabe disso. – Me provocou.

– Paaaaraaa! – Pedi e Arthur me deu um beijo na testa. – Eu te amo.

– É por isso que eles puxam para o pai e se eu fosse você, Lua, eu não implicava com ele dessa vez.

– Eu vou tentar. – Falei e Arthur riu. Ele sabe que eu não vou conseguir.

– Dizem que esse tipo de coisa faz com que o bebê puxe para a pessoa que pegamos ranço na gravidez.

– Não é ranço. É abuso! Ele me irritada em todas oportunidades e quando não tem, ele cria.

– Lua. – Arthur ainda ria.

– É verdade!

– Você que é estressada. Eu não tenho culpa. – Arthur se defendeu. – Eliza, eu pensei que você estivesse do meu lado.

– A grávida aqui é a Lua.

– Tá vendo? – Dei de ombros.

– Tudo certo com você e com o bebê. Podem comemorar! Vou ressaltar que o risco de aborto espontâneo quase – frisou – não existe a partir de agora. Podem ficar mais tranquilos. Os riscos continuam como em qualquer outra gravidez, ouçam bem. Nós já conversamos sobre todos os riscos. Não quero ter que ficar repetindo, porque quero que vocês aproveitem esses momentos. Entenderam?

– Ok, entendi. – Arthur respirou fundo.

– Entendi. Obrigada. Estamos mesmo precisando relaxar e aproveitar. – Não deixei de enfatizar. Eliza disfarçou um riso. Ela conhece o marido que eu tenho.

Lua.

– O que foi? – Me fiz de desentendida.

– Pode levantar. – Eliza entregou um lenço para eu limpar a minha barriga. – Agora você vai se pesar e vou aferir a tua pressão, ok?

– Ok. – Voltamos para a sala. – Seu último peso foi...?

– Sessenta e cinco quilos. Acho que emagreci, embora as minhas calças estejam apertadas.

– É normal. Por conta das mudanças no seu corpo. Talvez você nem tenha emagrecido. Só não ganhou o peso que imaginava. Ainda. É importante esclarecer.

– Eu sei.

– Mas passar com uma nutricionista vai te ajudar. Olha só... sessenta e sete. Eu te disse. Além dos enjoos, o que mais você sente?

– Nossa, muito desconforto nos meus seios. Eles estão enormes, como você pode ver e doem demais. As minhas costas também, e as minhas pernas parece que estão pesadas. Fora o sono. Ainda estou sentindo muito sono.

– Se antes ela já sentia... – Arthur não deixou passar.

– Uhm... sim, mais do que antes. – Admiti.

– Posso te receitar outro remédio para enjoo, mas o que eu posso te dizer é que eles apenas amenizam, e não param com os enjoos. Que aliás, tendem a diminuir nesse início do segundo trimestre. Não é uma regra.

– Senti enjoos na gravidez da Anie até o sexto mês, então... nem estou criando tantas expectativas.

– Sim. Às vezes acontece da mulher sentir enjoo no final da gravidez, e não no começo, como na maioria dos casos. Ou durante toda a gravidez. Pode se sentar e colocar o braço aqui. – Eliza pediu e colocou o aparelho de aferir a pressão no meu braço. – Doze por oito. Sua pressão está ótima. Se continuar assim, não teremos outras surpresas que não sejam positivas.

– Isso é maravilhoso! – Arthur exclamou.

– É uma ótima notícia. – Eliza concordou.

– Então eu estou liberada do repouso?

– Deixa isso bem claro, Eliza. A minha mulher é muito teimosa.

Arthur!

– Eu não estou mentindo. – Ele pontuou.

– Liberada lá daquele repouso da consulta passada. Mas presta bem atenção, nada de movimentos bruscos e cansaços desnecessários. Você já sabe disso, Lua.

– O sexo tá liberado? Porque o meu marido não quer transar. Ele acha que vai machucar o bebê. – O encarei e Arthur colocou a mão no rosto.

– Ai, Lua... eu não acredito. Eu não acho que vou machucar o bebê. Eu só... eu fiquei preocupado.

– Eu não me lembro de ter dito que não podia.

– E você não disse. Mas como o colo do útero estava baixo e isso não é normal, ele não quis.

– Aaah, entendi...

– Todos entendem, menos a Lua.

– Eu disse que estava bem.

– E você está. Não precisa ter medo, Arthur. acho que melhor do que eu, é a Lua quem tem que saber se está confortável ou não.

– Eu só quis confirmar que estava tudo bem com eles. Só isso. Só ter certeza mesmo. – Arthur justificou.

– Os dois estão bem. – Eliza garantiu. – Aqui está o encaminhamento para a nutricionista e a receita para o remédio dos enjoos e das vitaminas. Nos vemos mês que vem.

– Tá ok. Obrigada, Eliza. De verdade. estou bem mais tranquila e aliviada.

– Estamos. Obrigado, Eliza.

– Por nada. Até mês que vem. Espero que tudo ocorra bem. Mas pode me ligar caso aconteça alguma coisa.

– Eu também espero. – Falei. – Tchau.

– Tchau, queridos.

 

Nos despedimos e saímos do consultório.

 

– Para onde vamos agora, Aguiar?

– Para onde você quiser. – Ele me respondeu e beijou o topo da minha cabeça.

– Você disse que podíamos ir fazer algumas compras.

– Podemos, Luh.

– Então vamos. – Sorri e Arthur assentiu. – Três meses.

– E um bebê completamente saudável, Lua. Eu estou muito feliz e aliviado, querido.

– Acho que está chegando a hora da gente contar... com quatro ou cinco meses já dá de notar... – Passei a mão pela minha barriga.

– Então vamos curtir mais um pouquinho.

– A gente conta primeiro para a Anie.

– Esse é o plano. – Arthur sorriu. – Espero que ela goste da novidade. – Acrescentou.

– Eu não estou criando tantas expectativas assim... – Fui sincera. – Ela vai sentir ciúmes.

– Isso é normal, Luh.

– E se ela odiar?

– Anie não sabe nem o que é ódio, Lua. Não pensa nisso. – Me pediu.

– Mas eu ainda quero esperar mais um pouco.

– Vamos esperar. Quando você quiser, meu anjo. Quando você quiser. – Arthur destravou as portas do carro.

– Eu amo você. – Sussurrei.

– Amo você. – Ele sussurrou de volta.

 

Entramos no carro e seguimos para o shopping. Eu ainda não perdi as minhas roupas, na verdade, só as peças íntimas mesmo.

 

– Você vai à tarde para o trabalho?

– Sim. Às duas. Eu avisei a Hanna.

– Quer que eu te leve?

– Se você quiser...

– Uhm... Já pensou no que quer comprar?

– Algumas camisolas confortáveis...

– E decentes. – Arthur riu e eu lhe dei um tapa na coxa. – Oooow!

– Como se você reclamasse das que eu tenho.

– Jamais, loira. – Ele me olhou rapidamente.

– Sutiãs e alguns vestidos. –  Continuei. –  Nem adianta eu comprar calça. Vou perder todas daqui há algumas semanas.

– Você fica linda de vestido e eu estou ansioso para que chegue logo essas semanas.

– Eu acho que vai demorar crescer. – Olhei para a minha barriga.

– Eu acho que tudo tem a hora certa. Então... não fica pensando nisso, certo? Vai crescer e vamos aproveitar. Meu Deus, você é maravilhosa. E fica ainda mais linda grávida, Lua.

– Você é bobo.

– Eu sei. – Ele concordou.

– Você ouviu o que a Eliza disse?

– Muito bem. E espero que você tenha ouvido também.

– Hahaha... – Gargalhei.

 

Continua...

 

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

 

N/A: Olá, caros leitores! Aposto que nem estavam esperando o ar da minha graça, estou certa? Hahaha amo surpreender vocês com as atualizações <3 (sei que faz mil anos, mas o importante é que cá está ela. Gostaram da surpresa?)

 

Ai que felicidade eu estou tendo em postar essa atualização para vocês. Eu gostaria de estar postando um capítulo beeeeem maior. Mas no momento (com toda a correria que está a minha vida entre estudo e trabalho) foi o que consegui trazer para vocês. Eu espero de coração, que vocês tenham gostado desse capítulo.

 

Ai gente, essa conversa longa foi necessária, mas adianto, ainda vamos chorar. Sorry, mas eu amo vocês e esse casal também. <3

 

COMENTEM. Eu quero MUITO saber o que vocês acharam. Essa consulta deixou até a gente aliviada, não é mesmo? Eles merecem essa paz.

 

PS¹: Estão ansiosas para o hot do próximo capítulo? Hahaha porque eu estou! (não queiram me matar por eu fazer vocês esperarem demais. Eu nunca vou abandonar vocês e nem a fic. Podem ficar tranquilas.)

 

PS²: Obrigada pelos comentários do capítulo anterior. <3

 

Espero que vocês estejam bem. Que suas famílias estejam bem.

 Que estejam com saúde e se cuidando.

 

Um beijo e até a próxima atualização!

(espero não demorar tanto)

21 comentários:

  1. Amei esse capítulo Milly, realmente eles precisavam ter essa conversa!! Muito feliz que as notícias são boas,todos ficam bem mais tranquilos!!! Ansiosa para os próximos, principalmente para ver qual será a reação das pessoas quando eles contarem!!!

    ResponderExcluir
  2. Como ja disse, amei a surpresaaa, essa conversa foi realmente necessária para eles, estavam super distantes um do outro. Lua também esta sentindo falta do Arthur fazendo carinho na barriga dela, acho que pode ser medo de se apegar (apesar dele ja estar apegado) e acontecer algo, mas que fiquem grudados como eram antes agora.
    Nossa até eu fiquei aliviada com essa consulta, só notícias boas, ainda bem, porque a Lua ta subindo pelas paredes ja kkkkkk espero que Anie fique animada com a notícia. Nem posso imaginar o que você esta arrumando que vai nos fazer chorar, já quero saber. Muito ansiosa pelo próximo capítulo ja!!!!

    ResponderExcluir
  3. Eu morro de amores nesse casal! Parabéns, Milly. Amei o Cap (como sempre)!

    Thay

    ResponderExcluir
  4. Cada dia esse casal me surpreende eu amo ansiosa pelo próximo capítulo

    ResponderExcluir
  5. Que capítulo maravilhoso,que ótimo que eles conversaram.
    E está tudo bem com o baby,ansiosa pra ler eles contando pra todos e acompanhar a gravidez dela .
    Arrasou como sempre Milly
    Parabéns.

    ResponderExcluir
  6. Capítulo incrível como sempre! Muito ansiosa pelo momento do arthur conversando com o bebê e fazendo carinho na barriga da Lua. Muito ansiosa também pela reação da Anie quando descobrir.

    ResponderExcluir
  7. Nossa demora a atualizaçao

    ResponderExcluir
  8. Eu tou ançiosa pela proxima

    ResponderExcluir
  9. Que saudades dessa web

    ResponderExcluir
  10. Não vai atualizar mais não???

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, vou sim. Só que no momento eu realmente não estou tendo tempo para fazer isso 😭

      Excluir
  11. Que saudade dessa história :(

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu também estou com muitas saudades de trazer atualizações para vocês 🥺

      Excluir
    2. Não tem nem data? ����

      Excluir
    3. Não. Tô na reta final do meu curso na faculdade. No momento estou tendo com conciliar os estudos com o trabalho e o tempo está muito corrido. Gostaria, de todo o coração e espero que duvidem das minhas palavras, de poder atualizar com a frequência que vocês merecem! Sei o quanto são leitores fiéis e o quanto amam essa história.

      Um beijo e até breve (espero muito)

      Excluir
  12. Todo dia entro aqui na esperança de ter algum capítulo

    ResponderExcluir
  13. Nossa que demora para atualizar

    ResponderExcluir
  14. Acho que esse fic não existe mas

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá! Eu não abandonei a história. Por mais que pareça isso. Eu apenas não estou tendo tempo para escrever os capítulos. Já deixei claro que por mais que demore, eu vou voltar e finaliza-la, ok?

      Um beijo e continuem se cuidando!!

      Excluir
  15. Era bom um atualização esse final se semana

    ResponderExcluir