Little Anie - Cap. 90 | 5ª Parte

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Little Anie – 5ª Parte

Eu quase posso ver

Esse sonho que estou sonhando

Mas há uma voz dentro da minha cabeça dizendo que

Eu nunca irei alcançá-lo

Cada passo que estou dando

Cada movimento que eu faço

Parece perdido sem nenhuma direção

Minha fé está abalada

Mas eu, eu tenho que continuar tentando

Tenho que manter minha cabeça erguida

[...]

Só tenho que continuar

E eu, eu tenho que ser forte

[...]

Mantenha a fé

Mantenha a sua fé

–  Miley Cyrus | The Climb

Pov Arthur

 

Londres | Sexta-feira, 23 de junho de 2017 – Seis horas da tarde.

 

Anie não quer voltar para casa. Segundo ela, Bart ainda quer passear mais. Eu estou com fome e já tentei convencê-la a irmos para casa pelo menos umas quatro vezes. Não estou mais com pique de ficar correndo atrás desses dois. Lua ainda não me respondeu, mas visualizou a mensagem.

 

– Filha, eu estou cansado. Vamos para casa. – Falei mais uma vez. – Sua mãe vai brigar com a gente. – Acrescentei. Mesmo que a verdade seja que ela vá brigar só comigo.

– Mas papai, só mais um pouco. Tá vendo como o Bart ainda tá com vontade de correr mais?

– Só o Bart, não é mesmo? – Ironizei e me levantei do banco que eu estava sentado há menos de cinco minutos.

– E eu também. Não posso deixar ele correr sozinho. Ele pode fugir, papai.

– Isso é desculpa, Anie. Você é todinha a sua mãe quando quer me convencer de algo. – Pontuei e ela riu. – Você ri é, sua danada?!

– Então se o senhor compar um doce, aí a gente vai pra casa.

– Não. Nada de doce. Me dá aqui a guia do Bart, querida. – Estiquei o braço e Anie fez logo um bico. – Nada de ficar zangada. Você queria sair e eu te trouxe. Agora nós vamos embora. – Avisei num tom sério. Não quero brigar com ela, só quero ir para casa.

– Mas eu ainda não quelo ir. – A garotinha retrucou.

– Mas nós vamos. – Pontuei. – Vem...

– O senhor tá chato agola. Antes o senhor era legal! – Anie continuou bicuda.

– Aah, eu sou chato? – Questionei enquanto caminhávamos rumo à nossa casa.

– Agola é. Antes não era. – Ela justificou.

– Quando eu digo que você é idêntica a sua mãe, eu não estou equivocado. – Ressaltei.

– Mas eu sou filha dela. – A pequena respondeu óbvia, como se entendesse muito sobre as minhas comparações. Só não ri, porque não quis dar confiança. Fora que Anie iria ficar ainda mais chateada. – O senhor não concorda que é muito legal eu ser igual a minha mamãe?

– Super concordo, filha. E sua mãe concorda ainda mais. – Respondi.

– É muito legal. Eu concordo também! – Anie disse muito animada.

– Pronto, agora não está mais zangada?

– Eu ainda quelia ficar mais aqui no parque. – Anie apontou para trás.

– Outro dia nós voltamos, meu anjo.

– O senhor sempre diz isso e outo dia sempre demola um montão de dias.

– É que ultimamente eu estou ocupado com outras coisas. – Tentei justificar. Mas Anie está coberta de razão. Não passeamos mais com a frequência de antes. Sei que ela sente muita falta desses momentos que sempre tivemos juntos.

– Outas coisas mais importantes então... – Observou.

– Não mais importantes do que você. – Deixei claro. – Mas coisas que eu preciso dar atenção também. Logo, logo tudo se resolve e nós voltaremos a passear como fazíamos antes, certo?

– Se o senhor diz, eu aquedito, papai. – Anie sorriu.

 

Chegamos em casa depois de um pouco mais de vinte minutos de caminhada. Bart está cansado e foi logo atrás do bebedouro de água dele. Anie relutou para voltarmos para casa, mas até ela está cansada.

 

Pedi que Carol a banhasse e subi para o quarto – não vi Lua na sala e nem, muito menos, na cozinha. Ela deve estar no quarto. Nem vou me surpreender se estiver dormindo.

 

Abri a porta do quarto e não a vi na cama. Achei estranho, mas logo ouvi o barulho da descarga e concluí que ela estava passando mal com os enjoos, que até hoje cedo, estavam aparecendo só pela parte da manhã.

 

Tirei os meus sapatos e os deixei perto da porta. Depois tirei a minha camisa e Lua saiu do banheiro.

 

– Enjoo?

– Sim. – Ela revirou os olhos e se jogou na cama. – Por que eles voltaram agora? Logo hoje que eu estou super cansada e quero dormir. – Reclamou.

– Quer algo gelado?

– Não. Só de pensar em comer eu já sinto vontade de vomitar. – Lua fechou os olhos e respirou fundo. Eu quero rir, mas sei que se fizer isso, Lua é capaz de me agredir.

– Você visualizou a minha mensagem e nem respondeu. – Mudei de assunto.

– É que eu estava ocupada demais vomitando tudo o que comi no almoço. – Senti o seu tom de voz mais sério. – Não foi de propósito.

– Por isso que você passa mal. Debochada do jeito que é. – Caminhei para o banheiro.

– Também, nem podia ser diferente. O bebê é seu filho. – Resmungou.

– Você tá falando tanto que é igual a mim, que quando nascer, vai ser outra cópia minha. Nem adianta ficar irritada. Sempre te falei que a minha genética é mais forte. – Me gabei.

– Por mim. A personalidade vai ser minha. Você vai ter que continuar lutando pra dar conta de nós três. – Disse e eu fiquei olhando-a da porta do banheiro.

– Eu sei muito bem lidar com mulheres, querida. – Talvez eu só quisesse irrita-la um pouquinho mais. Só um pouquinho.

– E quem disse que é outra mulher?

– Ninguém, Luh. Estou supondo. Se for um garoto, você quem vai ter que lutar. Um menino a minha cópia, você já pensou nisso? É melhor começar a pensar, só para ir se acostumando.

– Ai, Arthur! Vai tomar banho que é melhor. – Lua desistiu de discutir comigo e virou o rosto para o outro lado. Não vou saber lidar se esse novo bebê for muito parecido comigo de novo.

– Já ficou chateada é? – Ri alto.

– Você é idiota! – Lua exclamou, mas não me olhou. Continuei rindo e tranquei a porta do banheiro.

 

Mal eu comecei a tomar banho e a porta foi aberta. Lua passou direto para o vaso sanitário e não é uma cena que eu goste de ver.

 

– Você quer ajuda? – Ofereci. Não que eu pudesse fazer alguma coisa. Mas só quis ser gentil.

– Se você fizer isso – ela apontou para dentro do vaso – por mim, eu nem saberia como agradecer. – Concluiu.

– Eu só quero ajudar.

– Obrigada, Arthur. Mas você não pode fazer nada. – E ela voltou a vomitar e alguns segundos depois, começou a chorar. Eu sei que Lua está cansada, estressada, nervosa e que só quer descansar, nem que seja por alguns minutos. Suspirei e desliguei o chuveiro. Eu tinha que fazer algo, nem que fosse segurar os seus cabelos, como faço sempre que estou por perto. Peguei a minha toalha e enrolei na cintura, nem me enxuguei. Me abaixei e fiquei na mesma posição que Lua se encontrava. – Eu não queria que estivesse acontecendo dessa forma... mas eu... eu não consigo me controlar...

– Eu sei, meu anjo. Está tudo bem, tudo bem. Eu entendo. Você não precisa tentar explicar nada. – Esclareci.

– Eu só quero conseguir dormir um pouco. Sei que isso vai me ajudar bastante. Se eu não conseguir, nem você vai me suportar. Sabe disso, Arthur.

– Eu sei, eu sei... – Não consegui me segurar e acabei rindo. – Acabou? – Me referi ao vômito.

– Acho que sim. – Lua deu descarga no vaso.

– Vamos levantar. – Me levantei primeiro e estendi as mãos para que ela as segurasse.

– Nem tenho mais o que botar para fora.

– Aaah, tem sim... – Me referi ao bebê, mas Lua não entendeu.

– O quê? Estou vomitando desde a hora que cheguei aqui. – Bufou e se levantou.

– Obrigada. – Lua agradeceu e se apoiou na bancada da pia.

– Vai escovar os dentes? – Perguntei e ela assentiu. Lua está pálida e eu odeio vê-la assim.

– Você decidiu se vai?

– Ir para onde, loira? – Coloquei o creme dental na escova dela e lhe entreguei.

– Sair com os meninos. – Me lembrou.

– Aah... – recordei – Não pensei muito sobre. Você tá passando mal, não quero te deixar sozinha. Mesmo que você só esteja me dando coice.

– Uhm... desculpa. Eu só estou estressada. Não é nada pessoal. Pode acreditar. – Me tranquilizou. Porque eu sempre penso que devo ter feito algo e não percebi. – Você pode ir... na verdade, deve ir se divertir. Sei que sente falta. Não precisa ficar aqui me vendo vomitar a cada cinco minutos. – Concluiu. Acabei rindo.

– Que bom que não é nada pessoal. – Eu ainda ria e Lua começou a escovar os dentes. – Você vai ficar bem? – Insisti e ela assentiu. – Vai me ligar se sentir algo estranho? – Continuei e Lua voltou a assentir. – Não vai ficar chateada?

– Não. – Ela cuspiu o creme dental e ligou a torneira. – Por que eu ficaria se sou eu quem estou te mandando ir? – Me questionou.

– Mandando é? – Ri alto e deixei o banheiro.

– Sempre. Alguma surpresa? – Retrucou.

– Só com a ousadia, Lua. – Respondi e ouvi ela desligar a luz do banheiro. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para o Harry. – Já que você insiste tanto. – A olhei.

– Mas isso não quer dizer que você está livre para fazer o que bem entender. – Tratou logo de deixar bem claro.

– E o que eu aprontaria por exemplo?

– Você sabe muito bem o que eu quero dizer.

– Lua, para início de conversa, eu nem estou bebendo.

– Há coisas que fazemos que nem precisamos estar bêbados. – Ela ressaltou e abriu as cortinas da sacada.

– Você bem sabe disse, fazemos bastante. – Concordei.

– Não ultimamente. – Retrucou.

– Por um motivo importante e não porque eu não quero. – Fui para o closet escolher uma roupa.

– Mas eu quero. Você devia levar em conta as minhas vontades.

– Eu estaria ferrado se fizesse isso mais vezes do que já faço. – Respondi um pouco alto para que ela escutasse.

– Você falando assim até parece que tenho ideias muito loucas.

– Mas você tem. – Afirmei. Peguei uma calça comprida jeans e vesti. Depois calcei um sapatênis. E por último peguei duas camisas e voltei para o quarto. – Qual você prefere? – Estendi as duas em sua frente para que ela escolhesse uma.

– Você fica irresistível de roupa branca, mas como eu não vou estar junto, você pode ir com a camisa azul. O que não muda muita coisa também. – Ela riu alto.

– Uhm... engraçadinha. – Deixei a camisa branca em cima da cama e vesti a azul. – Pelo visto, você já está bem melhor.

– Você me diverte, querido.

– Repete. – Sorri de lado ao aproximar o meu rosto do dela.

– Isso quando você não está me irritando. – Ressaltou.

– Eu prefiro a parte que você diz que eu sou legal, gentil, carinhoso e que te diverte. – Rocei o nariz na bochecha dela.

– Mas disso você já sabe. – Afirmou de olhos fechados.

– Mas eu gosto de ouvir. – Pontuei.

– Você é lindo, amoroso, gentil, carinhoso, minha vida que me irrita demais também, mas eu amo demais, neném.

– Ama?

– Muito. Do tamanho do mundo. Igual a Anie diz. – Falou divertida. Acabamos rindo. Lhe dei um beijo na ponta do nariz e me levantei.

– E como eu estou? – Ajeitei a gola da camisa e Lua sorriu.

– Lindão e gostoso. – Respondeu. – Você vai demorar?

– Eu ainda nem saí, meu bem. – Comecei a rir.

– É que eu já estou com saudades.

– Ora, mas não foi você mesma quem me mandou ir? Não é isso?

– Chaaaaaatooooooooooo...

– Só estou te lembrando. – Dei de ombros.

– Agora você vai levar a sério tudo o que te disser?

– E não é para levar?

– Nem tudo ao pé da letra.

– Uhm... me avisa então.

 

Eu estava terminando de pentear os meus cabelos quando Anie entrou no quarto.

 

– O senhor vai sair, papai? – Ela parou perto da porta e depois olhou para a mãe que está deitada na cama. – A senhora vai também?

– Não, meu amor. Vem aqui, deita com a mamãe aqui na cama. – Lua convidou e deu dois tapinhas no colchão.

– Pra onde que o senhor vai? Vai demorar, papai? – Anie ainda está atenta aos meus passos.

– Vou sair com os meus amigos, querida.

– Vai demorar?

– Não. Eu acho que não. – A olhei e tentei segurar o riso. – Mas não precisa me esperar acordada. – Avisei.

– Então o senhor vai demorar. A senhora sabia que o meu papai vai demorar, mamãe?

– A mamãe sabe, meu anjo. Deita aqui, filha. – Lua convidou mais uma vez.

– Viu aonde eu deixei o meu celular, loira? – Eu queria rir, mas Anie vai ficar chateada. Lua deu um beijo demorado na cabeça da nossa filha.

– Aqui, Arthur. – Lua me entregou o celular que eu tinha deixado sobre a cama. – Harry viu a mensagem?

– Ainda não. – Olhei as horas; quinze para às oito da noite. – Mas só vou sair depois que ele me responder. – Me sentei na cama. Anie está deitada abraçada com a mãe e me encarando super séria. – O que foi já? Toda séria e bicuda. – Cutuquei nas pernas dela.

– Não quelia que o senhor fosse. Pefelia que ficasse aqui. – Respondeu.

– Filha, eu já saí com você hoje.

– Também não tem nada a ver, não é mamãe?

– Não me mete na discussão de vocês. É sempre assim. – Lua se saiu logo.

– Me ajuda, mamãe...

– Hahaha... isso é sério, Anie? Você quer fazer chantagem uma hora dessas? – Puxei ela pelos pés. – Vem aqui, sua ciumenta. Tá com ciúmes do papai é?

– Fica aqui comigo e com a minha mamãe...

– Eu nem vou demorar, meu bebê. – Ajeitei ela no meu colo e lhe dei um beijo na testa. – Vou sair com o Harry e com os caras, filha. Você já conhece.

– Ele tá ligando. – Lua me avisou.

– Deixa eu falar com o tio Harry?

– O que você quer falar com ele? – Peguei o celular.

– Uma coisa importante! – A pequena exclamou.

– Importante? O que você tem de atão importante para falar com ele? – Insisti e atendi a ligação.

 

LIGAÇÃO ON

 

– Fala, dude.

– Eu que quelo falar, papai... – Insistiu.

– É a Anie? – Harry disse divertido.

– Quem mais poderia ser? – Coloquei no viva-voz.

– Oi, meu anjo. Como você está?

– Eu tô bem, titio. E o senhor?

– Eu também estou bem, meu anjo.

– Sabe o que eu quelia saber

– Só se você me contar... – Ele riu da própria resposta.

– Pla onde que você vai com o meu papai?

– Ora, mas ele não te disse?

– Não. – Anie me olhou. – Ele não quer me contar.

– Filha. – Pontuei. Essa garota só tem cinco anos. Por que ela faz esse tipo de coisa?

– A gente vai dar uma volta... só voltaremos amanhã à noite.

O quê? – Anie questionou e Lua segurou a risada.

– Harry. – Frisei. Só faltava ele fazer a minha filha chorar.

– Então o meu papai não vai. – Ela voltou a me olhar e depois lançou um olhar para a mãe, como se perguntasse “A senhora não vai deixar, não é?” eu queria rir. Coisa que o Harry já está fazendo. –  Mamãe.

– Eu sempre soube que você tem uma versão atualizada da Lua em casa.

– Ai nossa, que engraçado. – Lua ironizou e revirou os olhos, mesmo que o nosso amigo não pudesse ver esse detalhe.

– Harry. – Voltei a frisar. – Você não tinha uma outra história para inventar?

– Isso é muito divertido!!! – Disse animado. – Tirar mulheres do sério é o meu passatempo preferido. ainda mais se forem as suas. – Completou.

– Que bom que eu estou ouvindo tudo. – Lua deixou claro.

– Amo você loira, sabe disso, não sabe?

– Tenho minhas desconfianças...

– O que foi? – Indaguei quando Anie me entregou o celular. – Não era você que queria conversar com seu tio?

– Ninguém me ouve!

– Oh, filha... – Lua riu.

– Por que a senhola tá rindo também? Eu fico irritada.

– A mamãe sabe, meu anjo. Desculpa. Foi sem querer. – Lua queria se redimir, embora ainda risse. – Vem aqui... – Ela chamou a pequena e a colocou no colo. – Eu amo você, meu bebê.

– Só a senhola que me ama então.

– Olha o drama, Anie Aguiar! – Revirei os olhos. – Que horas vocês marcaram de se encontrar? – Mudei de assunto e voltei a falar com Harry.

– Oito e pouco. Sabe como os caras são em relação a horários. – Me respondeu. Olhei para a hora na tela do celular; sete e cinquenta.

– Já sabem onde irão?

– Nada muito especial...

– Harry.

– O que foi? Passa aqui e vamos juntos.

– Perguntei onde.

– Ainda tá no viva-voz? – Sim. Ele quer irritar ainda mais a minha filha e a minha mulher.

– Estou quase concordando com a minha filha... – Lua começou. – Acho que foi uma péssima ideia ter insistido para que Arthur fosse com vocês. – Concluiu nos fazendo rir.

– Aaah, então foi você? – Ele está rindo.

– Idiota. Vocês homens são todos idiotas.

– Loiraaa! – Exclamei.

– Vai logo encontrar com ele!

– Ixi... cheia de ciúmes.

– Se eu não tiver casa pra voltar, vou morar contigo. Pode ficar logo ciente disso!

– Hahaha... Deixa, loira?

– É melhor nenhum dos dois querer saber a resposta.

– Você não sabe brincar não?

– Eu não estou no clima, Harry!

– Você precisar relaxar. Por que não vem com a gente?

– Porque eu prefiro dormir do que aguentar todos vocês a noite toda.

– Ei! – Exclamei. – Você quer se livrar de mim, meu bem?

– Imagina, Arthur...

– Agora eu entendi porque você insistiu tanto para que eu saísse hoje. – Semicerrei os olhos.

– Arthur! – Lua ficou sem entender.

– Essa loira tá estranha hoje! – Harry riu. – Tá acontecendo alguma coisa? – Indagou.

– Vocês que são estranhos. Quando a gente implica, vocês reclamam. Aí eu digo que tudo bem o Arthur sair hoje. E ele fica perguntando o porquê de eu não tá implicando com isso. Sendo que EU nunca ligo se ele vai sair ou não.

– Aaah, Lua. Nunca também já é demais. Você sabe disso, meu amor. – Comentei e Lua revirou os olhos. – Hoje você insistiu muito.

– Eu só quero que você se divirta. Se você não quer ir, é só não ir, ora. – Lua olhou para a nossa filha que ainda estava abraçada a ela. Mas não ligava nenhum pouco para a nossa conversa.

– Você quer aprontar alguma coisa, loira?

– Harry, quantos anos você tem?

– Não é trinta igual a você. – Ele riu.

– Idiota! – Ela disse entre dentes. – Vai logo encontrar com ele, Arthur. Estou ficando irritada.

– Vou desligar, Judd. Daqui a pouco chego aí. – Não consegui me segurar e ri.

– Tá ok. Vou estar te esperando. Boa noite, loira. Não fique irritada. Isso faz com que surjam rugas.

– Eu não me importo.

– Você vai ficar mais velha.

–  Desliga esse celular, Arthur!!!!

– Tchau, Harry. – Me despedi.

– Tchau. – Ele riu alto.

 

LIGAÇÃO OF

 

– Por que ele tem que ser tão insuportável? – Lua me perguntou.

– Ele só gosta de te irritar, meu amor. – Me levantei da cama. – Você vai ficar bem mesmo?

– Vou, amor. Eu já disse isso mais de dez vezes. Eu vou dormir... eu só quero dormir.

– Tudo bem, Luh. Tudo bem... eu vou acreditar, ok? Mas você me liga, me liga se sentir alguma coisa. Você promete?

– Eu prometo. Eu prometo! Pode ir tranquilo, meu bem. – Garantiu e eu acreditei.

 

Lhe joguei um beijo no ar e fui colocar um relógio no meu pulso e pegar a minha carteira. Anie ainda está abraçada a Lua. E sim, está emburrada também.

 

Me passei perfume depois de pegar o relógio e a carteira. Voltei para o quarto para me despedir de Lua.

 

– Vai ficar bem mesmo? – Me aproximei novamente da cama.

– Arthur, eu vou te baaateeer se você me perguntar isso mais uma vez! Você não confia em mim? – Me sentei na cama e me debrucei sobre a Lua.

– Confio. É claro que eu confio. – Rocei o nariz no pescoço dela. Anie me empurrou. – Ei, o que é isso?

– Não beija a minha mamãe. O senhor não quer ficar aqui com a gente! – Disse emburrada e eu comecei a ri.

– Amor, paaaaaraaa! – Lua quer rir, mas não quer chatear ainda mais a nossa filha.

– Eu não estou fazendo nada, Luh! – Me defendi.

– Você só vai deixa-la mais chateada. – Ela completou.

– Não sei porque ela já está chateada. – Pontuei e me levantei da cama. – Não vou demorar, você sabe, meu bem. – Contei.

– Tudo bem, querido. Apesar de eu não está preocupada com isso. – Esclareceu.

– Nossa, loira... você já foi mais carinhosa, sabia?

– Você não quer ir, esse é o problema. Se quisesse, nem estaria mais aqui esperando eu te pedi para que fique.

– Hahahaha... despretensiosa demais, nossa! – Exclamei completamente irônico. Lua riu alto.

– Eu não menti, amor.

– Eu já estou saindo. – Joguei beijos no ar. – Amo você.

– Amo você. – Lua respondeu. Anie nem me olhou. Quando ela fica emburrada, não tem quem desfaça isso em tão pouco tempo.

– Cuidado, Arthur.

– Pode deixar, loira. – Joguei outro beijo no ar.

 

Peguei a chave do carro e saí do quarto.

 

Casa do Harry

 

– Ooow! Pensei que nem viria mais... – Harry disse assim que abriu a porta e me viu.

– Você fez a minha filha ficar chateada. – Contei.

– Entra... – Me convidou rindo. – Eu não fiz nada, Aguiar. Quem tem culpa se aquela pequena é uma cópia da Lua?

– Ela fica chateada com isso.

– A Anie?

– A Lua.

– Hahaha! Eu vou calçar o meu sapato. – Ele saiu rindo.

– E a Marie? – Me sentei no sofá.

– Foi pra casa dela. Diferente da Lua, ela não me mandou sair hoje.

– Hahaha... eu estou estranhando isso até agora, para ser sincero. – Confessei.

– Por que mulheres são assim? – Ele se sentou ao meu lado.

– Assim?

– Sim. Bipolares.

– Não diz isso perto de uma, Judd. – Avisei e ele me encarou.

– Vamos. – Disse segurando o riso. – Acho que o John vai também... para pegar no nosso pé, é claro. – Acrescentou.

– Pelo menos eu não estou bebendo.

– Mais de um ano, Aguiar. Vamos mudar isso hoje? – Indagou e saímos de casa.

– Haha... não mesmo. Estou ótimo assim.

– Você não bebeu nenhum gole de nada? Nem em casa?

– Bebi, Harry. Mas não como era antes. – Expliquei.

– Então hoje você não vai fazer nada de diferente. – Deu de ombros ao entrarmos no carro.

– Mais cedo foi a Lua, agora é você? – O encarei antes de ligar o carro.

– Até a tua mulher já tá incomodada.

– É a Lua, Judd. Você conhece a minha mulher. – Respondi.

– Vou conversar com ela pra gente bolar tipo um plano e tals...

– Meu Deus, e você ainda nem bebeu. – Neguei com a cabeça.

 

*

 

– Hey, Judd. Aguiar. – Nick nos cumprimentou.

– Boa noite. – Eu e Harry falamos juntos.

– Cadê o restante do pessoal?

– Chay foi pegar as bebidas. – Ele apontou para o balcão.

– Vamos jogar sinuca. – Disse animado. – Claro que apostado.

– Claro. – Concordei. – E claro que eu vou ganhar. – Dei uma piscadela.

– Se eu fosse você, não estaria tão seguro assim. Sabe que John é bom também.

– Mas eu sou o melhor. – Assegurei e eles riram. – Vamos lá... – Acrescentei. Rumamos para o bar.

– E aí, dude. – Mika me cumprimentou.

– Tudo bem. E com você?

– Bem também. Vai uma vodca aí? – Me ofereceu ao erguer um copo.

– Não. – Neguei rindo.

– Por enquanto... por enquanto. – Harry ressaltou.

– Deixa o jogo esquentar pra você ver. – Nick acrescentou.

– É um complô ou o quê? Se eu fosse alcoólatra vocês não seriam o tipo ideal de amigos que ajudam na reabilitação. – Contei.

– Mas esse não é o caso. Então somos o tipo ideal de amigos. – Harry observou.

– Quem serão os primeiros?

– Achei que todos fossem jogar.

– Estão com medo por acaso? – John nos provocou.

– Cadê a pontualidade, querido John?

– Certamente a sua só aparece quando os encontros são esses.

– Ooow! Então você chegou afiado? – Harry continuou.

– Sempre que as perguntas são suas. – John retrucou.

– Então o seu problema é só comigo?

– Muito boa a observação. Preciso mesmo responder? – John ergueu uma sobrancelha e estávamos todos segurando o riso. Ele pegou um taco, e na sequência eu, Mika, Harry, Nick e Chay pegamos um também.

– Impar ou par?

– Dos mais velhos para os mais novos. – Harry sugeriu.

– Não me oponho. Você será o último mesmo.

– Eu estava brincando! – Ele eclamou revoltado.

– Engraçadinho. – John riu.

– Ninguém concordou. – Ele observou. Mas só para irrita-lo, tratamos logo de concordar.

– Ei, vocês são meus amigos ou o quê?

– Isso que dá ser gaiato!

– Não é justo, Aguiar!

– Você vai chorar?

– Eu estou chateado. – Harry revirou os olhos. Mas será o último a jogar. John será o primeiro, Mika o segundo, eu o terceiro, Chay o quarto, Nick o quinto e Harry o sexto. – Eu vou ganhar. Vocês vão ver! – Harry voltou a nos provocar.

– Fica calado, Judd. Fica calado. É melhor. – Avisei.

– Vocês estão com medo.

– Hahaha... vai ser menos feio pra você quando perder. – O lembrei e dei a minha primeira tacada. Fui o primeiro a encaçapar uma das bolas.

– Eras, Arthur! – Nick ficou revoltado.

– Você ainda pode ser o segundo ou o terceiro. – Ri.

– Ainda estamos na primeira rodada. – Ele me lembrou.

– Então está cedo para você começar a chorar. – Voltei a dar tacadas.

– Vocês não deveriam deixar isso acontecer!  – Agora foi a vez do Harry.

– Qual é, Judd. Achei que soubesse perder. – Provoquei.

– Desse jeito não vai sobrar nenhuma bolinha pra mim.

– Agora você chora por bolas? – Chay o provocou.

– Certamente não pelas tuas.

– Isso me deixa aliviado.

– Vocês têm que perverter qualquer assunto, eu hein. – Mika observou.

– Nojentos. – Nick completou.

– Como se você não gostasse desse tipo de coisa. – Harry riu.

– Vai, Chay! Harry me desconcentrou aqui.

– Pensou nas bolas?

– Certamente não nas que você está insinuando. – Respondi.

– Vamos lá, Chay. Erra aí... – Judd ficou torcendo.

– Pega uma garrafa de uísque lá, Nick.

– Qual?

– Um Royal. – Ele respondeu.

– Você vai pagar?

– Hahaha... – John riu antes de assenti.

– Ok. Vou trazer o mais caro. – Nick avisou antes de sair.

 

Uma hora da madrugada.

 

Cheguei em frente de casa e estacionei o carro na garagem. Não estava tão tarde e antes eu ainda fui deixar Nick e Harry em suas respectivas casas, bêbados é claro. Não que eu não tenha bebido um ou talvez, dois copos do uísque que John havia pedido. Mas me controlei, mesmo diante das insistências de Harry para que eu mudasse de ideia sobre a minha abstinência com a bebida. Ele pensa que isso é um dos meus maiores problemas.

 

Entrei em casa e Bart veio correndo me receber.

 

– Oi, meu garoto. Pensei que você já estivesse dormindo. – Fiz carinho em sua cabeça. – Volte para cama. – Mandei. Mas ele me seguiu até a escada. – Ei, você não pode vir para o quarto. Lua vai me matar. – Ri. – Volta pra cama, querido. – Mandei novamente e ele latiu. – Bart. – Frisei. – Você vai acordar todo mundo. Vamos lá, vou levar você até a cama. – Segui com ele até o corredor onde fica a caminha dele. – Deita aqui. – Me abaixei e apontei para a cama. – Eu quero dormir também. – Contei. Bart se deitou na cama e eu fiquei ali com ele mais alguns minutos antes de me levantar e ir para o quarto.

 

Anie está dormindo na nossa cama. Certamente Lua não conseguiu convencê-la do contrário. Tirei o sapato com cuidado e segui para o banheiro.

 

Não me demorei muito no banheiro, escovei os dentes e voltei para o quarto. Fui até o closet e vesti uma cueca e uma calça de moletom. Depois caminhei até a cama e me deitei com cuidado ao lado de Lua. A nossa filha está praticamente ocupando a cama toda.

 

– Arthur... – Lua sussurrou de olhos fechados.

– Sim, meu anjo... – Lhe dei um beijo na testa. – Como você só deixa esse espacinho pra mim? – Indaguei e Lua ficou de lado e me abraçou.

– Conversa com a Anie amanhã. – Respondeu.

– Se você me empurrar mais um pouco, eu caio da cama. – Avisei.

– Você bebeu?

– A gente pode falar sobre isso de manhã? – Perguntei. – Quero dormir, loira.

– Tá. Então chega mais perto pra você não cair da cama. – Eu quis rir, mas Lua está tão sonolenta.

– Tudo bem. – Concordei. Embora chegar tão perto não seja uma ideia tão inteligente.

– Você não quer chegar perto?

– Lua, você tá mais dormindo que acordada, meu anjo. – Lhe dei outro beijo na testa.

– Mas você ainda tá... longe... – Ela bocejou e depois passou as mãos pelas minhas costas. – Você não está com frio?

– Não, baby. – Respondi baixo.

 

Lua não disse mais nada e acabamos adormecendo.

 

De manhã

 

Talvez seja o clima, mas não me lembro de fazer tanto calor em Londres às sete horas da manhã, embora o verão já tenha chegado. Lua ainda dorme. Quero me levantar da cama, porém se eu fizer isso, vou acorda-la.

 

Gosto de dormir de conchinha, dormir abraçado, dormir perto, dormir agarrado, até mais que a minha própria mulher, mas hoje, hoje eu estou com calor e odeio sentir calor.

 

Quero que Lua acorde, mas não quero acorda-la de propósito. Sei que ontem ela passou o dia muito mal. É bom que ela tenha conseguido ao menos descansar e dormir sossegada a noite.

 

Beijei carinhosamente a sua testa e afastei alguns fios de cabelo que estavam sobre o seu rosto. Ela nem ao menos se mexeu. Sorri com isso e olhei por cima de seus ombros. Anie dorme do outro lado da cama, literalmente esparramada como se a cama fosse dela.

 

Alguns minutos se passaram até Lua começar a despertar. Ela passou as mãos vagarosamente pelas minhas costas e parou na minha cintura antes de abrir os olhos.

 

– Bom dia. – Sussurrei.

– Bom dia. – Ela sorriu de um jeito fofo e sonolento. O que me fez sorrir junto. – Você já acordou há muito tempo?

– Um pouco. – Respondi e lhe dei um selinho. – Dormiu bem?

– Muito. – Ela bocejou e depois me encarou. – Eu ainda quero dormir. – Confessou.

– Estou percebendo. – Apertei a ponta do seu nariz. – Mas eu vou levantar. Só não fiz isso antes porque não quis te acordar.

– Uuuhm... eu agradeço. – Lua me deu um beijo no pescoço. – Você chegou que horas?

– Uma e pouco. – Passei as minhas mãos pelos cabelos.

– Achei que você fosse chegar mais tarde.

– Te falei que não chegaria tarde, loira. – Lembrei.

– Mas eu não acreditei...

– E quando foi que eu menti?

– Quer mesmo que eu comece a enumerar? – Me olhou debochada.

– Vão sobrar números. – Provoquei de volta.

– Convencido! – Lua apertou minha cintura. – Você bebeu?

– Uhm... sabia que você fez essa mesma pergunta ontem quando cheguei? – Contei.

– Não lembrava. Certamente devo ter sentido algum cheiro. – Lua aproximou os lábios dos meus.

– Hahaha... escovei os dentes. – Tentei controlar a minha risada.

– Então você bebeu. Eu sabia que isso ia acontecer.

– Dois copos de uísque, loira. Nem é para tanto. – Expliquei. – Ainda levei Nick e depois o Harry em casa. – Acrescentei.

– Uhm... mas quando é comigo, você não concorda em beber. – Reclamou.

– Agora você nem pode beber. Então esse argumento não vale.

– Mas antes eu podia, e você nem quis.

– Lua. Meu amor... – Comecei a ri.

– Eu falei alguma mentira?

– Você sabe que essa minha escolha não tem nada a ver com você, meu amor.

– Parece que tem, porque é só pra mim que você diz não.

– Nossa, Luh... que mentira, meu anjo. Eu só te digo sim... especialmente agora. Nunca soube te negar nada.

– Você está escutando o que tá dizendo?

– É claro, Lua. Por que?

– Porque eu vou pedir uma coisa.

– O que você quiser. – Sussurrei.

– Repete. Só pra eu ficar respaldada. – Pediu com aquele ar travesso.

– O que você quer? – Comecei a ri.

– Repete.

– Lua.

– Repete, Arthur. – Ela encostou o queixo no meu peito.

– O que você quer? – Insisti.

– Tá com medo de algo?

– Você é meio maluca, Lua. – Pontei e ela deu uma leve mordida no meu pescoço. – Aaaai, Lua! – Exclamei.

– Você não confia em mim. Agora eu tenho certeza.

– Você tá mais dramática que o normal. – Observei. – Para com isso. Sabe que eu confio.

– Então repete que eu posso pedir o que eu quiser. – Me pediu outra vez.

– O que você quiser, meu amor. O que você quiser. Pronto. Agora você vai se sentir melhor? – Perguntei e Lua assentiu. – O que você vai pedir.

– Sei que você vai me dizer não mesmo assim...

– Se sabe por que me fez prometer?

– Porque eu sou atrevida! Você me conhece.

– Muito. Muito atrevida. Ainda bem que você reconhece. – Puxei ela para mais perto. – Não vai me contar?

– Vamos...

– Lua... Meu Deus! Você não vai me pedir isso. Agora que eu me toquei! – Comecei a ri.

– Arthur, quero fazer amor com você. Eu estou quase gritaaaandoo! – Ela falava baixo.

– Você já sabe a resposta. – Eu tentava desviar as mãos dela do cós da minha calça. Não que ela fosse longe com isso. Nossa filha está na cama com a gente. – Lua.

– O que foi? – Ela me encarava com a cara mais cínica do mundo. – Bem devagarzinho... você sabe como, amor...

– Eu já te disse que só depois do da próxima consulta, loira. Nem vem...

– Arthur, só em julho. Você não pode estar falando sério. Como vou aguentar até lá?

– A gente passou três meses separados, Lua.

– Separados, você falou certo. Agora estamos juntos.

– Lua... eu não fazer isso, vida. Jamais arriscaria a vida do nosso bebê.

– Nem eu, Arthur. Está tudo bem com ele e comigo também. Você não precisa se preocupar.

– Aah, eu não preciso? – puxei Lua para mais perto. – Até parece que você não me conhece.

– Você falando assim parece que eu sou uma mãe irresponsável.

– Lua, eu nem passei perto de dizer tal coisa. Para de procurar coisas onde não tem. A gente vai discutir e é tudo o que não precisamos.

– Só quero transar com o meu marido. Isso não deveria ser tão complicado.

– Lua. – Eu quero rir, mas ela está falando tão séria e chateada.

– Você tem noção de que ainda estamos em junho e que eu só vou marcar o retorno com a Eliza em julho? Mais precisamente na segunda semana de julho, Arthur. Eu não acredito. Eu não acredito. Você sabe que vai ter que...

– Vou ter que fazer o que, loira? O quê?

– O quê? Me pedir, me pedir, me pedir.

– Hahaha... tá bom, Lua. Tá bom. – Eu ri. Não consegui me segurar. – Você vai se fazer de difícil agora?

– Agora não, no dia da consulta. Já que agora você está insistentemente me dispensando.

– Lua, não é nada disso. Para.

– É exatamente isso! – Exclamou. – Agora você já pode levantar. Não era isso que você queria fazer e eu estava te atrapalhando? – Disse e se afastou.

– Você tá de sacanagem, Lua. – Tentei encontrar vestígios de brincadeira, mas ela realmente está chateada comigo.

– Estou com cara de quem está brincando por algum acaso? – Indagou.

– Você tá me expulsando da minha própria cama? É isso mesmo? – Insisti. – Era só o que faltava. Já não basta eu quase nem ter espaço para dormir nela. – Empurrei o lençol para o lado e me levantei.

 

Pov Lua

 

Londres | Segunda-feira, 3 de julho de 2017 – Seis e quarenta e cinco da manhã.

 

Acordei e meus olhos ainda pesam de tanto sono. Estou entrando na décima segunda semana de gravidez, a última semana do primeiro trimestre. Nem o sono e nem os enjoos começaram a dar indícios de que estão passando. Frequentemente me sinto irritada e com um turbilhão de emoções. Sou capaz de chorar até se sentir fome.

 

Arthur nem tenta mais me entender. Ele apenas me abraça e, na maioria das vezes, permanece em silêncio. Todos os dias penso em ligar para os meus pais e contar a novidade, mas desisto quando penso que ainda é cedo para ficar comemorando e que também, talvez, a minha mãe não fique tão feliz com a notícia. Quero contar para o Harry, mas ele ficará tão feliz que não vou conseguir suportar se acontecer alguma coisa.

 

Minha barriga não cresceu nada. Continua normal e por isso as pessoas nem desconfiam de nada. Para ser sincera, eu devo até ter emagrecido. Toda manhã eu vomito tudo o que como no café e não consigo comer mais nada depois disso até a hora do almoço, que é quando o enjoo passa. Como tudo o que posso e o que não posso também e à noite eu passo mal novamente. Eliza me disse que isso é normal dessa fase. Não me lembro de enjoar tanto assim na gravidez da Anie. Foi a época em que eu mais engordei.

 

– Você parece pensativa... – Arthur comentou. Nem notei que ele também já tinha acordado.

– Só estou com sono. Sinto sono toda hora. – Respondi. Mal-humorada, reconheço.

– Bom dia pra você também. – Arthur nunca perde a oportunidade de soltar um deboche. Então sempre ficamos quites. Me levantei da cama e ele continuou deitado.

 

Hoje eu tenho que ir buscar os resultados dos exames que fiz mês passado. Acho que Arthur nem deve se recordar disso. Soltei um longo suspiro e entrei no banheiro.

 

– Sabe, Lua... – Ele começou, só para chamar a minha atenção.

– Uhm...

– Que tal combinarmos de sair hoje? Algo leve, só um jantar mesmo. Só pra ver se você melhora esse humor. Tá quase insuportável. – Contou. Sinceridade é tudo em um relacionamento.

– Haha... – Ri ironicamente, é óbvio. – Eu não quero sair, Arthur. Você sabe que eu estou com horários fixos de enjoos. – Meu tom era o mesmo do dele de segundos atrás. – Certamente não vou sair de casa para jantar. – Expliquei.

– Você pode ao menos tentar. – Ele insistiu.

– Aai, Arthur. Não, tá bom?

– E estou tentando, Lua. Eu estou tentando...

– Eu sei. – Me sentei na cama para calçar meu sapato. – Mas não estou te cobrando nada.

– Você tem notado que tem me tratado assim desde que eu disse que devíamos esperar Eliza ver o resultado dos exames?

– Você quer que eu te peça desculpas? – Olhei por cima do meu ombro.

– Claro que não. Só que você pense nas suas atitudes. Isso não é o tipo de desentendimento que deveríamos estar tendo.

– Desculpas, querido. Só estou estressada. Dessa vez não vou colocar a culpa nos meus hormônios. – Sorri.

– Eu acreditaria mais se você não tivesse apenas debochando.

 

Arthur retrucou e se levantou da cama, caminhou para o banheiro e eu terminei de calçar o meu sapato e peguei a minha bolsa e deixei o quarto. Não estou a fim de discuti mais com ele.

 

Não comi nada. Ou ia vomitar tudo antes de chegar ao escritório. Pedi que Carol não deixasse Anie se atrasar. Essa será a sua última semana de aulas antes das férias de verão. Ela está ansiosa para saber aonde passará as férias. Não quero decepciona-la dizendo que talvez passaremos em casa mesmo. A não ser que Arthur queira viajar com ela.

 

Destravei a porta do carro e me sentei no banco do motorista. Toda vez que eu olho para o volante, eu me lembro de que tenho que comprar um carro. Bati duas vezes com um dos punhos fechados no volante e depois dei partida no carro.

 

Duas e cinquenta da tarde – Escritório de Advocacia.

 

– Posso entrar? – Hanna bateu na porta tirando toda a minha concentração do último processo que recebi.

– Acho que já entrou. – Levantei a vista e Hanna sorriu.

– Por enquanto ainda estou aqui na porta. – Ela pendeu a cabeça para o lado e eu assenti.

– Tudo bem. Entre. – Concordei e ela veio saltitante com uma sacola em mãos. – O que é isso? – Me referi ao que ela trazia.

– É pra você. – Ela me entregou a sacola. – Você não saiu para o almoço. Então eu tomei a liberdade de trazer algo para você. – Ela se sentou na cadeira em frente a minha mesa.

– Oh, Hanna. Não precisava se importar. – Sorri com gratidão. Nem me toquei de que a hora do almoço já tinha passado.

– Não é nenhum incomodo, Luh.

– Eu nem estou com fome. – Acrescentei. Só de pensar em comida o meu estomago embrulha.

– Sei que você tem tido muitos trabalhos essas últimas semanas...

– Sim. Bastante! – Apontei para a pilha de processo sobre a minha mesa.

– Ooow! Se eu pudesse ajudar, você sabe que eu ajudaria.

– Eu sei que sim, querida. – Sorri.

– Acho que você deveria ao menos tentar comer algo.

– Eu vou comer, Hanna. Não se preocupe. – Afirmei.

– Sabe, Luh...

– Uhm...

– Você está doente?

– Não. – Ri. – Que pergunta, Hanna. Estou tão mal assim?

– Não, Lua. Desculpa. Eu não quis dizer isso.

– Só não acordei bem hoje. Há dias assim, você sabe.

– Sei. Me desculpa, Lua.

– Tudo bem, Hanna. Eu sei bem que você não consegue segurar essa língua. – Tirei a marmita da sacola.

– É que você está desanimada e pálida.

– Todos os dias?

– Pálida só hoje. – Ela pontuou.

– Não acordei bem, já te disse.

– Você está chateada?

– Você quer me fazer alguma pergunta específica? – Dei a primeira colherada na comida.

– Não exatamente.

– Hanna, eu te conheço.

– Você está... sei lá... brigada com o Arthur outra vez?

– Hahaha... eu sabia.

– É invasão de privacidade?

– Um pouco, considerando que eu não pretendia falar. – Encolhi os ombros. – A propósito, a comida está boa. Obrigada novamente.

– De nada. Não pretendia e agora pretende?

– Haha... atenta, não?

– Sim.

– É um casamento, Hanna. Se engana quem pensa que mesmo depois de anos não há mais como haver tantos desentendimentos.

– Por isso que não pretendo me casar.

– Uhm, eu não quis dizer que é tão ruim assim. – Tentei concertar a minha fala.

– Eu imagino que não, especialmente à noite... – Ela sorriu maliciosamente.

– Ou de manhã... ou à tarde...

– Hahaha! Amo!

– Ai, você é muito safada! – Exclamei.

– Não se finja de inocente, Luh.

– Eu nem pensei nisso. – Afirmei.

 

Sete horas da noite.

 

– Boa noite, querida Lua.

– Boa noite, Ryan. – Respondi e ele entrou na minha sala.

– Pensei que você já tivesse ido para casa.

– Estou terminando de ler um processo. – Expliquei. – Algum problema?

– Nenhum. Você pretende ficar aqui sozinha?

– Se você deixar, eu adoraria. – Sorri, mesmo que sem mostrar os dentes.

– É melhor você ir para casa. Está tarde e você me parece muito cansada.

– Por que todos estão me dizendo a mesma coisa?

– Todos? Então sou um ótimo observador.

– Eu não iria tão longe se fosse você. – Avisei.

– Lua, eu estou sendo gentil.

– Seus esforços são notados. Obrigada, mas eu pretendo terminar o meu trabalho.

– Lua, o seu expediente já acabou. – Ryan me lembrou. – Amanhã você continua. – Acrescentou.

– Você está tão preocupado assim? Não vou cobrar hora extra, Ryan.

– Não me preocupo com a hora extra, Lua.

– Tem um segurança lá embaixo.

– Eu sei, eu pago o salário dele.

– Então...

– Eu vou ficar aqui então...

– Não me faça ficar mais irritada. – Pedi.

– Você entende que eu preciso responder o cliente amanhã logo cedo, certo?

– Perfeitamente. Sei que consegue, é por isso que não te deixo sair daqui. – Pontuou. – Do escritório, do trabalho... eu quis dizer.

– Eu entendi. – Falei e ele sentou na poltrona perto da parede. – Você não tem, sei lá... coisas para fazer?

– Não. Eu só ia para casa. – Ele pegou o celular, mas não voltou a me olhar. Preferi retomar o meu trabalho que ele tinha atrapalho com a sua chegada, inesperada e indesejada a minha sala.

 

Oito horas da noite e cinco ligações do meu marido.

 

– Pelo amor de Deus, não me diz que você me ignorou de propósito, Lua. – Arthur parecia preocupado e levemente irritado.

– Não. Não fiz de propósito. Eu tive que terminar de ler alguns documentos que fazem parte de um processo que eu tenho que dar algumas respostas ao cliente amanhã de manhã. – Expliquei.

– Meu Deus, eu fiquei preocupado. Não faz mais isso, Lua. Avisa. Você sempre avisa quando vai chegar mais tarde.

– Eu esqueci. Me desculpa. Não queria que você tivesse se preocupado à toa.

– Não é à toa, você sabe. Mas também não quero que voltemos a discutir. – Arthur suspirou.

– Você já jantou?

– Não, mas não estou com fome. Estou enjoada e bem cansada. Vou dar um beijo em Anie e vou tomar banho para ver se consigo descansar.

– Lua, não é assim também. Você não pode simplesmente parar de comer porque está enjoada. – Arthur me seguiu quando comecei a subir os degraus da escada.

– Por que eu não posso? Se eu comer, vou vomitar. Você sabe disso, Arthur.

– Você tá perdendo peso, eu já percebi.

– Eliza disse que é normal no início.

– Não desse jeito. Você mal se alimenta. – Ele falava baixo. – Almoçou pelo menos?

– Almocei. O que foi agora? Vai ficar me vigiando? Não vou fazer nada que possa prejudicar o seu filho... ou filha. Nem sabemos ainda.

– Nosso filho. Para de agir assim. Que saco!

– Você está irritado por quê?

– Porque o bebê não tem culpa da nossa irresponsabilidade. Já tentei te falar isso várias vezes e de todas as maneiras possíveis.

– Não estou o culpando de nada. – Deixei bem claro. – É você quem me parece irritado.

– Você está longe de estar feliz, Lua. Vejo isso todos os dias!

– Por que eu estaria feliz se só sei vomitar tudo o que como?

– Eu não estou falando desses sintomas, você sabe muito bem!

– Ok. Vou dar boa noite para a nossa filha e depois vou para o nosso quarto. Se quiser conversar lá, tudo bem. Caso contrário, não quero discutir aqui no corredor. – Avisei e abri a porta do quarto da Anie.

 

Continua...

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

N/A: Boa noite, caros leitores. Sei que estou muito em falta com vocês, olha! Mil desculpas! Mas como é como eu sempre digo, vocês são incríveis, os melhores do mundo. Obrigada por estarem sempre aqui e por aguardarem as atualizações com paciência.

Eu espero, de coração, que vocês tenham gostado desse capítulo. Me arrastei nele, eu sei. Mas também não quero correr com os acontecimentos vindouros. Não teria muita lógica já que desde o início eu venho detalhando as coisas, certo?

Comentem bastante, quero muito saber o que acharam desse capítulo e o que esperam do próximo. Então, me contem aí, ok?

Eu senti tanta saudade de vocês aaaaaaaaaaaaaaaaaah <3 de verdade mesmo!!!! Eu desejo e espero que vocês estejam todas bem e com saúde. É isso que importa, o restante a gente corre atrás. E que tenham cessado um pouquinho da saudade dessa fic que nós amamos, convenhamos, certo? Sou sempre suspeita para falar alguma coisa haha

No mais, não quero me estender tanto. Se cuidem. Se protejam. É isto!

Um beijo e até breve!

19 comentários:

  1. Aí amei o Harry e essa ligação mesmo que demore eu adoro cada capítulo faz tempo que não comento pq estava sem ler e foi uma surpresa quando coloquei a leitura em dia tô amando ansiosa pro capítulo ass: Noemi

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    1. Aaaah, Noemi, quanta saudadeeee!!! Feliz com seu comentário. Obrigada! 🥰❤

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  2. Que saudade de web.
    Cada capítulo melhor que o outro,tadinha da Lua tá desgastada com essa gravidez,Arthur sempre tão paciente com ela .
    Harry sem irritar a Lua não é o Harry kkkkkkkkkk,amo a amizade deles,amei a Anne com ciúmes do pai kkkkk.
    Espero que eles se acertem no próximo capítulo, e aproveita muito essa gravidez.
    Tão ansiosa por mais capítulos....arrasou como sempre ,Milly .👏🏾😍❤❤❤

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  3. como sempre capitulo incrível e estava com muito saudade de ler, não acreditei quando vi que tinha capitulo novo.
    Espero que a próxima atualização nao demore, porque estou ansiosa pra ver essa conversa de Arthur e lua

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  4. eu amei demais o capitulo, mal posso esperar pelo próximo, espero que não demorenpor favor!!!
    Quero tanto um momento do Arthur colocando a mão na barriga da lua e conversando com o bebê, ainda não teve nenhum desses momentos :(

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    1. Bom dia! Muito obrigada pelo comentário. Fico imensamente feliz em saber que você amou o capítulo de hoje.

      Sobre a sua sugestão:
      Pauta para os próximos capítulos. Pensei que ninguém fosse notar a ausência desse momento. O que será que eu estou aprontanto, hein???!! 🌚

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  5. Ai Milly, como eu amei essa atualização!!! Estou morrendo de curiosidade para ler os próximos capítulos! Senti falta de momentos do Arthur sendo ainda mais carinhoso com a Lua, principalmente, em relação a barriga dela, mesmo que não dê para notar a gravidez ainda, mas senti falta desse carinho do Arthur. Mas tenho certeza que vão acontecer muitos momentos desse tipo. Só estão passando por uma fase difícil, com medo de perderem o bebê, mas certeza que esse medo vai passar e só vai ser alegria daqui para frente! Ansiosa para os próximos. Até a próxima atualização.
    Ana Júlia

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  6. Ai que capítulo maravilhoso ♥️ parabéns Milly pelo capítulo tão perfeito !
    Já não vejo a hora de ver o Arthur todo babão com a barriga da lu ♥️ que logo logo esse momento conturbado que eles estão passando vai melhorar vão poder curtir a gravidez da melhor forma ♥️

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  7. Que capítulo maravilhoso Milly, o Harry é sempre sensacional sem condições, tomara que ele fique sabendo logo da gravidez, vai amar! Lua ta muito esgotada tadinha, esses enjoos, sono e etc estão terríveis.Anie toda ciumenta pro Arthur não sair, imagina quando descobrir que vai ser irmã mais velha, mas espero que fique tudo bem e que ela goste da notícia. Que bom que o Arthur é sempre paciente com a Lua e entende toda a situação. to doida pra ver esses dois de bem logo e o Arthur babão como era na gravidez da Lua. To amando todos esses detalhes viu!! já estou ansiosa pelo próximo, é a espera que vale a pena !!!!! e ah! eu senti saudades tbm viu !!

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  8. Estava com muita saudade dessa web. Amei o capítulo!
    Espero que a próxima atualização não demore muito, estou ansiosa pra tantos momentos, com os familiares, amigos e principalmente a anie vai reagir quando souberem da gravidez.
    E esse momento do Arthur fazendo carinho na barriga da lua, vai ser tão lindo e esse é o momento que eu to mais ansiosa pra ler. ♡

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  9. Não demore para postar os proximos capitulos

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  10. Venho todo dia ver se tem capítulo novo de tão ansiosa que estou esperando pra ver se Arthur e Lua vao conversar no próximo cap..
    A história está cada vez melhor!

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  11. Nao demore muito a postar nao eu tou ansioso

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  12. Ansiosa pelo próximo, cadê?

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  13. Vixe gente não vai ter mas atualização?

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  14. Poxa gente nenhuma novidade em relação ao a atualização??
    Poxa ��

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