Little Anie - Cap. 90 | 4ª Parte

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Little Anie – 4ª Parte

Garota, você sabe que eu quero seu amor

Seu amor foi feito a mão para alguém como eu

Venha agora, eu te guio

Eu posso ser louco, não ligue pra isso [...]

Me pegue pela cintura e cole seu corpo no meu

Então venha, eu te guio

Venha, venha agora, eu te guio

– Shape Of You | Ed Sheeran

 

Pov Lua

 

Londres | Quarta-feira, 21 de junho de 2017.

 

– O que você vai querer fazer? – Arthur me perguntou. Acabamos de chegar em casa. Bart veio correndo e começou a pular em volta do Arthur. – Ooh meu garotão! Você está feliz é? Hahaha vem, pula mais alto, você consegue, seu danado! – Ele estalava os dedos na altura do peito e o cachorro latia e pulava. – Hahaha... tá bom, tá bom. Chega de pular. Você vai se cansar. – Acariciou as orelhas e a cabeça do cachorro. – Calma... ei, nada de pular na mamãe. – Arthur avisou quando Bart veio para o meu lado.

– Mamãe, Arthur? Meu Deus! – Fiz carinho na cabeça do cachorro e subi a escada.

– Eu sou o pai e você é a mãe. – Me explicou como se fosse a coisa mais óbvia.

– Eu não vou discutir sobre isso, Arthur. – Eu queria rir, mas ele falava bem sério.

– O que você quer fazer? Você não me respondeu. – Me lembrou.

– Tomar banho e dormir. Não é isso que tenho que fazer agora? A não ser que você mude de ideia. – Abri a porta do quarto e joguei a minha bolsa em cima da poltrona.

– Hahaha... continuo firme e forte. Você sabe que eu consigo resistir, mesmo que você seja a minha tentação. – Arthur fechou a porta e logo depois começou a tirar o tênis. – Por que? Você vai querer me provocar é?

– Eu não vou me dar o trabalho. Sei que você vai levar bem a sério tudo o que a Eliza nos disse. – Contei. – Não quero ser a teimosa mais uma vez. Eu também não quero que aconteça nada com o nosso bebê.

– Aah, que bom que você entendeu tudo. – Arthur sorriu e veio me abraçar. – Eu te amo, meu neném. Você é a minha vida, loira. A minha vida. – Declarou e me deu um beijo demorado nos lábios.

– Eu te amo, meu amor. Você também é a minha vida. – Falei e lhe dei vários selinhos. – Toma banho comigo? – Perguntei. – Ou nem banho junto pode mais? – Acrescentei.

– Uuuhm... será que pode? – Se fez de difícil e saiu do abraço.

– Enquanto você decide, eu vou tirando a roupa. – Dei de ombros e comecei a tirar o sapato, depois passei para o vestido. Arthur não aguentou e me puxou para perto dele.

– Assim não vale. Eu sei bem o que a senhorita está fazendo, sua safada. – Apertou levemente a minha cintura. – Você tem que prometer que não vai me provocar assim, loira.

– Eu não estou fazendo nada, amor. – Me defendi e Arthur abriu o feixe do meu sutiã. – É você quem está fazendo. – Olhei para o sutiã que ele tinha acabado de tirar.

– Você nem faz ideia do quanto eu quero fazer algumas coisas aqui... – Tocou os meus seios, mas não os apertou. – E aqui... – desceu a minha calcinha.

– Só me responde uma coisa...

– O que você quiser. – Ele depositou um beijo no meu pescoço.

– Não era para não provocarmos um ao outro? – Questionei e ele riu.

– Eu só te ajudei com a roupa. Lembra que a médica disse que você não pode fazer esforço? – Arthur se afastou um pouco e me olhou nos olhos.

– Hahaha! Cara de pau! Vamos tomar banho que é melhor. – Caminhei na direção do banheiro e Arthur ficou rindo.

– Só vou terminar de tirar a minha roupa, sua gostosa! – Exclamou e nem demorou a aparecer no banheiro. – Eu vou me ferrar, Lua. Eu sei.

– A culpa é só sua.

– Até parece. – Pontou e entrou no box junto comigo.

 

Tomamos um banho rápido e não nos provocamos mais. Eu estava com muito sono. Só pensava em sair daquele banheiro e me jogar na cama.

 

– Ficou quieta foi? – Arthur notou e foi para o closet, imagino que pegar uma roupa. – Quer que eu pegue uma roupa para você? – Perguntou.

– Quero. – Respondi e me deitei na cama.

– Eu estive pensando, loira... – Arthur voltou para o quarto.

– Em quê? – Peguei a roupa que Arthur me entregou, uma calcinha, um short e uma camiseta.

– Achei que fôssemos ter repostas que iriam nos deixar com ainda mais medo. E graças a Deus tivemos respostas boas, porque você e o bebê estão bem, mesmo que ainda haja risco. Mas se tomarmos cuidado, vocês dois vão continuar bem e saudáveis.

– Sim. – Sorri e depois vesti a minha roupa. – E eu vou tomar todos os cuidados. Você não precisa se preocupar. – Assegurei.

– Eu vou acreditar. – Sorriu de um jeito fofo e pegou a minha toalha. – Você não vai querer comer nada agora? – Ele foi deixar as nossas toalhas no banheiro.

– Não. Acho que vou aproveitar e dormir um pouco. Estou com muito sono. – Respondi e me deitei na cama.

– Tudo bem. – Arthur já veio rindo lá do banheiro. – Vou deixar você dormir um pouco, mas na hora do almoço eu venho te chamar.

– Ok. – Concordei e ganhei um beijo nos lábios.

 

Arthur deixou o quarto depois de me cobrir com o lençol. Me aconcheguei na cama e não demorei a dormir.

 

Uma hora depois...

 

Acordei com beijos na bochecha e no pescoço. Parece que eu tinha dormido por horas. Sorri involuntariamente com as carícias e Arthur subiu os beijos para a minha orelha.

 

– Eu já estou aqui há horas. – Pontuou.

– Mentiroso. Eu teria acordado antes. – Me espreguicei e Arthur soltou um riso próximo ao meu ouvido.

– Você está dormindo feito pedra. Depois diz que sou quem tenho o sono pesado. – Roçou o queixo na minha bochecha. – Está na hora do almoço e a senhorita ouviu bem o que a Eliza disse; você precisa se alimentar corretamente. – Me lembrou.

– Eu não esqueci, amor. – Voltei a fechar os olhos. – O que vamos almoçar hoje?

– Filé de peixe, salada e arroz.

– A minha alimentação saudável já começou? – Questionei com ar de riso.

– Já era para ter começado há semanas. Você bem sabe disso. – Me lembrou e sentou-se na cama.

– Então o que estamos esperando? – Retruquei.

– Você criar mais coragem. – Ergueu uma sobrancelha ao me encarar. – Vamos? –  Acrescentou e eu concordei balançando a cabeça. – Depois a gente pode dar uma volta no quarteirão, o que você acha? A gente anda devagar. Isso se você estiver se sentindo bem, é claro.

– Achei que fosse para ficar de repouso. – Me sentei na cama e Arthur riu.

– Então isso quer dizer que você está atenta aos cuidados.

– Você é idiota, eu hein! – Revirei os olhos.

– Vamos logo comer. – Ele ainda ria quando se levantou da cama. Permaneci na mesma posição. – Lua, é sério! Eu estou com fome!

– O seu filho ou a sua filha não está com fome. – Comentei.

– Ei, nem perguntamos se é só um bebê mesmo.

– É claro que é só um bebê. Se fossem dois, Eliza teria nos dito. – Me levantei da cama.

– Mas e se não apareceu ainda?

– Arthur, para! Você está viajando. Quer me deixar nervosa?

– Não, baby. Relaxa. É só um bebê. – Embora tentasse parecer sério, Arthur segurava o riso.

– Você fica falando essas coisas, depois aparecem dois bebês e você vai ficar ainda mais preocupado. – Avisei.

– Não vai simplesmente aparecer dois bebês do nada, Luh. – Ele tentou me tranquilizar e me deu um beijo no rosto. – Estou brincando, meu amor. – Esclareceu. Esse não é o tipo de brincadeira que eu gosto.

 

Saímos do quarto e descemos a escada. Chegamos na sala de jantar e Carla já tinha posto à mesa.

 

– O que você está achando da comida? – Arthur indagou depois de umas três garfadas.

– Deliciosa como sempre. Por que? – Respondi. Estamos sozinhos.

– Achei que você ia implicar. – Deu de ombros.

– Por que? – Insisti.

– Porque hoje que você foi ao médico. Se quisesse começar só na segunda, estaria tudo bem, eu acho.

– Como você mesmo já disse, já era para eu ter começado há semanas. O bebê – falei mais baixo – já vai fazer três meses. Está tudo bem. Eu já vou começar a tomar uma das vitaminas hoje à noite. – Contei. Compramos na volta para casa todos os medicamentos que Eliza receitou.

– Tudo bem. Sabe, acho que estou começando a ficar tranquilo. Mas sei que só vou ficar completamento tranquilo quando ele ou ela nascer... – Arthur soltou um risinho. E disso, eu já sabia.

– Eu sei, Arthur. Eu te conheço, meu bem. – Respondi e ele assentiu.

– Quando você acha que contaremos para as pessoas?

– Eu não sei. Não estou pensando nisso. Por que? Você quer contar para quem? – O encarei depois de dar mais uma garfada.

– Aaah, eu quero ver a reação da nossa filha. Já criei muitas expectativas.

– Eu imagino. – Pontuei. – Mas nós conhecemos a filha que temos. Certamente, ela não vai pular de alegria. Se essa for uma das suas expectativas, é melhor você parar. – Avisei. Não quero ser uma estraga prazeres, mas também não quero que Arthur deposite altas expectativas em cima da nossa filha. Anie é ciumenta, ela jamais, inicialmente, vai ficar feliz em virar uma irmã mais velha. Ela tem só cinco anos.

– Você tem razão. Mas eu penso que ela vai gostar da ideia. – Ele insistiu.

– Depois que se acostumar e de conversarmos com ela. Sabe que vamos ter que conversar bastante. Não criei expectativas. Acho que vai ser um processo. Precisamos estar preparados, também, para essa situação. Eu ainda não quero contar. Talvez depois da próxima consulta, que tal?

– Tudo bem. Pode ser. Você ficou mais nervosa?

– Não, mas eu ainda penso que pode acontecer alguma coisa. Então, não quero contar ainda. Deixa ele crescer mais... eu não sei...

– Tudo bem, eu entendo. – Arthur soou completamente compreensível.

– Depois da Anie você quer contar para quem? – Soltei um mini sorriso, porque já sei a resposta.

– Para o Harry. – Arthur sorriu ainda mais. – Depois para a minha mãe. Você acha que ela vai ficar animada? – Me perguntou. Ele já criou expectativas demais em relação a reação das pessoas.

– Acho que vai. Sua mãe é super tranquila e de boa. – Respondi.

– Igual eu. – Sorriu em mostrar os dentes.

– Nooossaa, idêntica! – Ironizei.

– Ora, você não concorda? – Ele ergueu as sobrancelhas.

– Não. Você sabe que não.

– Eu não sou tranquilo e de boa, Lua Blanco? – Insistiu e eu ri.

– Não igual a sua mãe, Arthur. Por favor!

– Eu sou mais então... – Deu de ombros.

– Aai tá, não sei quem te iludiu. Porque eu sempre sou muito verdadeira.

– Você só não quer admitir, Lua. Para você essa sempre foi a parte mais difícil.

– Só não vou é mentir. – Retruquei. Arthur pode ser super tranquilo, mas não é tanto quanto a minha sogra.

– Vamos mudar de assunto – sugeriu – o que você quer fazer mais tarde? – Ele já terminou de almoçar e eu ainda nem tinha percebido.

– Eu quero só ficar deitada e quieta. – Respondi.

– Você ficou zangada?

– Não, Arthur. – Assegurei.

– Mais tarde eu vou buscar a nossa filha. – Contou, embora eu já soubesse.

– Você compra um pote de sorvete de morango para mim?

– É claro, meu bem. – Arthur sorriu.

– Obrigada. – Sorri e depois lhe joguei um beijinho.

– Tudo o que você quiser, Luh.

– Nem tudo...

– Hahaha... aah, Luh. – Ele riu. – Você quer mais um pouco de comida? – Olhou para o meu prato.

– Não. Eu já estou satisfeita. – Respondi.

 

Algum tempo depois...

 

– Depois quando eu for buscar a Anie, vou passar no supermercado para comprar o pote de sorvete que você me pediu e vou aproveitar para comprar ração e aqueles saches para o Bart. Ele adora e os dele já acabaram. – Arthur contou. Estamos na sala desde que terminamos de almoçar. Arthur está assistindo um programa de notícias vinte e quatro horas.

– Eu queria fazer algo que não fosse arriscado. Você me entende? – Mudei de assunto.

– Sim. Você pode vir comigo buscar a nossa filha na escola. Não é o tipo de programa arriscado. Mas

 isso só se você estiver se sentindo bem. – Como na maioria das vezes, Arthur soou compreensivo. – Ou você já tem outra coisa em mente? – Puxou um dos meus pés e começou a massageá-lo.

– Você não quer fazer nenhuma das coisas que eu tenho em mente.  – Respondi e Arthur riu alto.

– Eu estou falando sério, loira. – Pontuou.

– Você acha que eu estou brincando? – Questionei.

– Nossa, mas pra quem tá me dispensando desde abril, não é mesmo?

– Nem foi tudo isso, Arthur. Você que está fazendo drama, como sempre. – Revirei os olhos.

– Hahaha a tá, sou eu. Sempre sou eu e nunca você. – Retrucou.

– Você vai querer me dar o troco por acaso? – Indaguei. Só faltava essa.

– Eu não, você acha que eu seria capaz de fazer uma coisa dessa? – Ele agora fazia massagem no meu outro pé.

– Não. Não quando o assunto é sexo. – Nós dois rimos. – Como você está sentindo hoje? – Mudei de assunto.

– Acordei preocupado e nervoso. Agora estou um pouco mais tranquilo. Sabe aquela sensação de alívio e peso tirado das costas? – assenti e Arthur prosseguiu – Então, é assim que estou me sentindo agora. Ainda estou preocupado, mas sei que já fiquei e ficaria assim independente de qualquer risco ou sei lá... é normal. E você?

– Emotiva e com muito sono. – Respondi e Arthur riu.

– Se antes você já dormia muito, imagina agora. O estranho é você toda emotiva, nossa... não vou estar preparado para os teus momentos de choro.

– O que você acha...

– Sobre? – Ele me encarou.

– A gravidez. Eu acredito que essa vai ser completamente diferente da Anie.

– Já começou diferente, Luh. – Arthur sorriu sem mostrar os dentes. – Mas as pessoas falam que nunca uma gravidez é igual a outra. Então é algo normal. Você está preocupada com isso?

– Não. Eu só não quero passar muito mal, sabe?

– Entendo. Eu também não quero que você passe mal. – Assegurou.

– Você vai comigo na sexta-feira?

– É claro, meu anjo.

– Os exames devem sair na terça ou na quarta-feira. Acho que vou marcar o retorno só para o dia dez de julho, que é quando já vou ter completado doze semanas no domingo. E também é quando já dá para fazer o morfológico. Você não quer mesmo saber o sexo ainda? – Talvez eu esteja muito ansiosa para saber.

– Prefiro deixar mais lá para a frente, mas se você já quiser saber, não tem problema, meu amor. Eu só não quero dar nome ou sei lá, ficar pensando em roupinhas e coisinhas específicas de menina ou menino. Da Anie a gente descobriu logo com três meses completos, mas estávamos tão ansiosos. Acho que eu não pensava em outra coisa. Só que dessa vez é diferente. Quero aproveitar um pouquinho mais sem saber o que é ainda.

– Eu estou com medo de saber o que é, para ser sincera.

– Mas não é para sentir medo, Luh.

– E se descobrirmos, nos apegarmos e depois acontecer alguma coisa?

– Hahaha... nos apegarmos? Ainda não está apegada? Porque eu não consigo mais nos imaginar sem esse bebê, Lua.

– Você entendeu, Arthur.

– Relaxa, baby. Vai dar tudo certo.

– Você acredita ou só quer me tranquilizar?

– Os dois. Por que eu não acreditaria? Pensar negativo atrai, sabia? E eu não quero que dê nada errado!

– Não é que eu esteja pensando negativo. – Me defendi.

– Eu sei, Luh. Calma, ok? Não estou te acusando de nada. Eu só fiz um comentário, querida.

– Tá, eu sei. Entendi. Não quero brigar.

– Não vamos brigar, Luh. Não no que depender de mim. – Ele soltou um riso. – Você parece nervosa. Precisa se acalmar!

– Não estou nervosa!

– Ok. Calminha, calminha. – Ironizou e eu preferi deixar pra lá. – Hahahaha... Desfaz esse bico. Embora ele seja fofo, eu não quero que você se zangue. – Pediu apertando uma das minhas coxas e subindo um pouco para cima de mim. – Solta um sorriso lindo, meu amor!

– Você me irrita! – Exclamei.

– Ora, mas não é você a calma?

– Paaaraaa! – Pedi e Arthur me encheu de beijos no pescoço e no rosto.

 

*

 

– Minha mamãe! – Anie abriu um sorriso largo e se jogou no meu colo. – A senhola veio me buscar também?

– Foi, meu neném lindo. Você gostou?

– Eu super adolei! – Ela me abraçou forte e eu lhe dei um beijo nos cabelos.

– Deixa eu ir aqui? Por favor! – Anie apontou para o banco da frente. Neguei com um balançar de cabeça.

– A mamãe vai com você no banco de trás, tudo bem?

– Tá. Então tá bom. – A pequena voltou a sorrir.

– E eu vou sozinho na frente? – Arthur abriu a porta do banco de trás e nos esperou entrar no carro.

– Mas o senhor já é gande e eu ainda sou bebê. Não é, mamãe?

– Nada disso. Bebês tem que ir no banco de trás mesmo. E como a sua mamãe já é grande, ela vem comigo aqui no banco da frente. – Arthur fechou a porta do carro e abriu a do motorista e sentou-se no banco.

– Mas acontece, papai, que ela é a minha mamãe. Ela vem comigo aqui. – Anie se agarrou a um dos meus braços.

– Filha, não liga para as implicâncias do teu pai. Ele só quer te irritar. 

– Por que o senhor gosta de me irritar então?

– Porque você fica bravinha igual a sua mamãe. – Arthur riu com mais gosto.

– É que eu sou filha da minha mamãe.

– Exatamente, neném. – Ele olhou para trás e jogou um beijo para a pequena.

– A gente vai pra onde agola?

– Ora pra onde... – Arthur riu outra vez. – Para casa, filha.

– Mas eu nem quelia ir pra casa.

– E você quer ir para onde, meu amor? – Perguntei e Anie me olhou.

– Hoje não tem aula de balé, mamãe?

– Não. Só depois de amanhã, na sexta-feira.

– Então pra onde a senhora sugele que o papai leve a gente?

– Aaah, nossa! Sugere e que o papai leve? Que eu saiba, eu não dormir tanto assim, dona Anie. – Arthur brincou enquanto dirigia rumo ao supermercado que ele havia me dito mais cedo.

– O que é agola?

– Nada. – Ele deu de ombros.

– Então, mamãe – Anie puxou minha blusa – a senhola não quer ir pra nenhum lugar?

– A mamãe só quer ir para casa, meu anjo. – Lhe dei um beijo na testa.

– Tá bom então. – Mesmo contrariada, Anie aceitou a minha decisão.

– Mas a nossa casa não é nessa rua. – A garotinha observou. – Papai?

– Oi, filha. – Arthur entrou no estacionamento do supermercado.

– O que viemos fazer aqui?

– Comprar sorvete para a sua mamãe e ração para o seu cachorro.

– Solta meu cinto, mamãe. Eu quelo ir com o meu papai. A senhola vem com a gente?

– Não. Vou ficar esperando aqui. – Sorri e destravei o cinto de segurança da cadeirinha e Anie ficou aguardando o pai abrir a porta e tirá-la do carro.

– E pode comprar uns biscoitos para mim?

– Só se a sua mãe deixar. – Os dois me encararam.

– Se eu disser não, vou a chata da história. – Os encarei séria.

– Certamente. – Arthur concordou com um meio sorriso e colocou Anie no chão.

– A senhola deixa, mamãe?

– Deixo. Mas isso não quer dizer que você – apontei para o Arthur – vai comprar dez pacotes de biscoitos. Ok? No máximo três. – Pontuei.

– Ok. É você quem manda. – Me disse debochado. Mas eu preferi ignorar essa parte. – O quê? Não vai concordar? – Ele riu e apoiou as mãos no vidro do carro.

– Não. Você sabe disso. – Dei de ombros.

– O que você não tem de paciente, tem de convencida! – Exclamou e ativou o alarme do carro. Os vidros subiram e eu comecei a rir sozinha dentro do carro.

 

Os dois adentram o supermercado e vi quando Arthur pegou uma cestinha perto de um dos caixas. Depois disso, não consegui mais acompanha-los.

 

Liguei o rádio do carro e coloquei em uma estação qualquer. Um rock bem antigo começou a ser tocado e eu fechei os olhos. Talvez eu até cochilasse, o ar do carro está ligado.

 

Pov Arthur

 

Comprei tudo o que precisava e até o que não precisava – salgados para a Anie. É quase certo de que Lua vai dizer: “Você não sabe mesmo dizer não para a nossa filha.” E a razão continua com ela. Por que é tão difícil?

 

Não existia fila no caixa e eu agradeci internamente. Odeio filas e Anie fica super inquieta. Ela ia contente com sua sacola com alguns salgados e três sacos de biscoitos.

 

– Selá que a minha mamãe vai bigar? Eu acho que não. Ela deixou o senhor compar os biscoitos para mim. – A garotinha me olhou por alguns segundos e depois olhou para a frente.

– Os biscoitos, e não os salgados. – Frisei.

– Mas só é dois, papai. O senhor compou o menor também. – Observou não muito satisfeita.

– Nós vamos descobrir juntos se ela vai brigar ou não. – Pontuei e desativei o alarme do carro. Não sei se Lua ficou chateada por eu ter deixado ela trancada no carro.

– Agora então que o senhor vai dar o sorvete da minha mamãe?

– É. – Sorri e abri a porta do carro. Lua está dormindo e eu comecei a ri.

– Minha mamãe tá dormindo de verdade? – Anie chegou mais perto do banco e depois me olhou com um meio sorriso. – Vamos assustar ela?

– Não! Não pode, meu anjo. – Tentei soar calmo. Anie tinha um ar de riso travesso nos lábios e não deixou de fazer perguntas.

– Por que não pode? – Continuou me encarando.

– Porque não podemos assustar a sua mãe assim. É só por isso. Vem, vou colocar você na cadeirinha.

– Minha mamãe vai dormindo assim?

– Não. Eu vou acordá-la. – Arrodeamos o carro e eu abri a outra porta e Anie se sentou na cadeira. Coloquei o sinto de segurança e fechei a porta. Não quero, de jeito nenhum, que Lua se assuste.

– Que holas que o senhor vai acordar a minha mamãe? Quelo mostar os biscoitos pra ela. – Por que Anie tem que ser tão inquieta quanto a Lua? Pensei. Me inclinei um pouco e toquei o seu rosto com o dorso de uma das mãos.

– Loira, acorda meu amor. – Chamei baixo.

– É, mamãe. Acorda! – Anie exclamou em um tom de voz baixo.

– Luuuh... meu anjo. – Eu ainda fazia carinho em seu rosto com o dorso da mão. Não é possível que ela esteja em um sono profundo. Não demorei nem vinte minutos dentro do supermercado. Se tem uma coisa que eu tenho certeza absoluta, é a de que o sono vai acompanha-la a gravidez inteira! – Loira. – Chamei mais perto. Ela abriu os olhos. Ri baixo. – Não acredito que você dormiu, meu amor. – Me afastei.

– Eu não dormi.

– Aah não, Luh. – Ironizei.

– Eu só cochilei um pouco. Você me deixou sozinha e trancada dentro desse carro.

– Você que não quis vir com a gente. – Me defendi e fechei a porta do carro.

– Olha o que o meu papai compou. Eu que escolhi esses de molangos.

– Não eram só biscoitos? – Lua perguntou ao abrir a sacola. – Você comprou o meu sorvete?

– Comprei, querida. – Respondi e liguei o carro.

– Por que vocês dois amam me contrariar?

– Eu comprei os menores.

– Só para não se sentir tão culpado assim. – Lua me conhece muito bem. Ela entregou a sacola para a nossa filha.

– Eu só quelia espelimentar desse daqui que eu nunca comi.

– Tudo bem, filha. Contado que você não coma tudo isso só hoje.

– Não. um de cada dia.

– Um por dia. – Lua a corrigiu.

– É. Foi isso que o meu papai falou.

– Tá vendo? Não sou tão irresponsável assim.

– Mas eu não te chamei de irresponsável. Só de liberal.

– Engraçadinha... – Fiz careta e rumamos para casa.

 

Londres | Sexta-feira, 23 de junho de 2017 – Oito e dez da manhã.

 

Anie já foi para a escola. Ela veio nos dar um beijo antes de sair. Carol foi quem a levou hoje.

 

– Você vai ter que fazer os exames em jejum? – Acabamos de acordar. – Bom dia.

– Nossa, eu já ia comentar que você já foi mais educado e carinhoso.

– Continuo educado e carinhoso. – Pontuei e Lua bocejou.

– Bom dia. – Me disse e se virou de lado para me olhar. Lhe dei um selinho e coloquei alguns fios de cabelos atrás da sua orelha.

– Você fica a cada dia mais linda, sabia? – Elogiei. Lua sorriu e negou brevemente com um balançar de cabeça. – Sabia sim. Eu te digo isso todos os dias!

– Você só está sendo gentil. – Respondeu. Rocei o nariz no dela.

– Não é só isso e você sabe. – Puxei seu lábio inferior e iniciamos um beijo cálido. Porém, foi obrigado a me afastar mais rápido do que gostaria. Já tinha deixado claro que só vamos transar depois da próxima consulta. Lua se aproveita dos meus momentos de fraqueza e tesão. Ela tem uma mão boba muito atrevida. Soltei um riso ao distribuir beijos pelo seu pescoço. Ela se encolheu e eu ri ainda mais. – Não me provoca, sua safada! – Exclamei.

– Foi você quem começou. – Lua deu de ombros se fazendo de desentendida. Uma coisa que ela não é nenhum pouco.

– Eu só te beijei. Você que colocou essa mão entre as minhas pernas. – Ri alto.

– Idiota! – Ela revirou os olhos.

– Ei, você não me respondeu sobre o exame.

– Aaah... é só à tarde, Arthur. – Me lembrou. – Não preciso ficar sem comer e sem beber nada. – Expliquei.

– Pensei que tinham trocado o horário. Você disse que não vai hoje para o trabalho. – Me apoiei com o cotovelo no colchão.

– Não quero me cansar e muito menos, me estressar.

– Entendi. – Me inclinei e lhe dei outro selinho.

– E como você está se sentindo hoje?

– Com um bebê muito enjoado dentro de mim. Definitivamente, ele vai puxar pra você.

– Essa é uma maneira polida de você dizer que eu sou enjoado? – Ergui uma das sobrancelhas.

– Não. Eu tenho coragem de dizer com todas as letras que você é enjoado. – Deu de ombros.

– Atrevida! Só não te dou umas palmadas porque não quero te irritar. – Ressaltei.

– Achei que seria só depois da consulta. Você está prometendo muitas coisas para depois dessa consulta.

– Você está desconfiada de que eu por algum acaso, não dê conta?

– Seria frustrante demais, baby.

– Seria. Mas é algo que você, definitivamente, não precisa se preocupar. Depois dessa consulta eu nem vou te trazer para casa.

– A TÁ! – Lua riu muito alto.

– O que foi? Tá debochando é? – Cutuquei suas costelas.

– E vamos para onde?

– Para um motel. Daqueles com hidromassagem e espelho no teto, sabe? – Indaguei e Lua ficou me encarando. Muito séria por sinal.

– Não sei.

– Eu estou brincando. – Ri. Mas ela permaneceu séria. Se antes o humor dela já oscilava, hoje eu já nem sei como nomear.

–  Como se eu já não soubesse.

– Você já foi mais aventureira. – Observei.

– Tipo, quando tínhamos de dezoito para vinte e dois anos e não tínhamos filhos. Por que você não me levou antes então?

– Quer mesmo que eu responda? – Questionei. Nunca fui a um motel com a Lua. Ela sempre preferiu a nossa casa ou lugares mais inusitados. Ela sempre disse que não sabe como as roupas de cama são lavas e muito menos, quem frequenta os quartos.

– Não.

– Você tá naquela linha extrema da bipolaridade. Como aguentar? – Perguntei e me levantei da cama.

– Não aguenta então. Você não é obrigado! – Exclamou e permaneceu na mesma posição.

 

Praticamente, os últimos dois dias foram assim, picos de humor e mal humor elevadíssimos. No fim do dia eu sempre me perguntava como eu tinha aguentado.

 

Caminhei para o banheiro e deixei Lua no quarto. Daqui a pouco ela certamente já estará mais calma e virá atrás de mim para contar alguma novidade ou, simplesmente, falar que os enjoos estão mais fortes e contínuos.

 

Tirei minha cueca e liguei o chuveiro. Não demorou nem cinco minutos para Lua aparecer no banheiro. Eu tenho certeza de que ela vai dar um jeito de me pedir desculpa. Mesmo que eu não esteja chateado com nada.

 

– Posso tomar banho com você? – Me perguntou como se eu fosse capaz de negar um pedido desse.

– Claro, Luh. – Passei as mãos pelo rosto e desliguei o chuveiro.

– Eu não quero que você fique chateado. Desculpa pelo que aconteceu mais cedo. – Pediu encostada na pia do banheiro.

– Está tudo bem. Não fiquei chateado, meu anjo. – Expliquei. Lua se afastou da pia e começou a se despir. Voltei a ligar o chuveiro.

– É que eu fico mal quando ajo dessa forma. Não queria ser assim... – Ela se aproximou de mim e me abraçou. – Desculpa.

– Está tudo bem, amor. Não se preocupa com isso. – Lhe dei um beijo no topo da cabeça e abracei mais forte.

– Você não é enjoado e eu não quis falar assim do bebê também... se ele puxar pra você, eu vou adorar. – Confessou.

– Não sei se eu acredito muito nisso. – Brinquei. Lua puxou os meus cabelos da nuca.

– É sério. Você sabe que é sério.

– Hahahaha... você falou ele.

– O bebê. A gente não faz ideia do que seja. Eu não tenho uma opinião ainda. Você tem? – Indagou e eu neguei com a cabeça.

– Sinceramente, não estou pensando no sexo. Só quero a certeza de que ele ou ela estejam bem e saudáveis. Vocês dois, na verdade. – Confessei.

– Estamos bem e saudáveis.

– Que continuem, baby! Que continuem! – Lhe dei um beijo na testa. Nos afastamos e eu peguei o shampoo. Lua ficou debaixo do chuveiro enquanto eu lavava os cabelos.

– Você não tem nenhum compromisso hoje?

– Só com você. Por que? – A olhei.

– Pensei que fosse sair com o Harry e os outros caras... – Comentou e eu demorei um pouco para lembrar aonde Lua queria chegar.

– Você escutou a conversa ontem? – Indaguei.

– Foi sem querer... Não tem nenhum problema se você quiser ir.

– Eu não disse que teria. Eu só não decidi ainda. – Expliquei e liguei o outro chuveiro.

– Você disse que eu estava meio chata. – Lembrou. E pelo tom de voz, não tinha gostado do meu comentário.

– E eu menti? – Ergui uma sobrancelha.

– Mas não é o tipo de coisa que você precisa dizer para as outras pessoas. – Me avisou.

– Outras pessoas – ri – o Harry, querida. Desde quando você se importa com isso? – Perguntei depois de desligar mais uma vez o chuveiro. Eu já terminei o banho e agora que Lua está se ensaboando.

– Não me importo.

– Lua, pelo amor de Deus! – Exclamei. – Eu vou esperar você lá na cozinha pra gente tomar café. – Lhe dei um rápido beijo na testa.

 

À tarde.

 

– Estou nervosa, Arthur! Estou com medo de dar alguma alteração nos exames. Você sabe que isso pode acontecer. Na realidade, nós dois sabemos. – Desde que entramos no carro e eu comecei a dirigir, Lua não para de falar. Estou tentando apenas ouvi-la e pedindo internamente para que ela não me faça perguntas que me deixem nervoso também. – Temos que estar preparados. Mas eu não consigo estar preparada para isso. Não quero perder outro bebê de novo, outro filho nosso. Eu não vou saber lidar com essa dor de novo. Você acha que vamos superar caso acontece alguma coisa? Não que a gente tenha superado rápido da outra vez. Ainda sinto tanto medo, você sabe. Por que você tá calado?

– Porque você não para de falar. – Respondi quando o sinal fechou. – Ficar nervosa só vai atrapalhar. Você ouviu o que a Eliza disse. Se algo estivesse errado, ela teria nos alertado. – Lembrei.

– Mas o bebê ainda é muito pequeno. Não teria como ela ver detalhadamente tudo. Só na próxima consulta. Ainda estou de dez semanas, amor.

– Quase terminando o primeiro trimestre. Logo esse medo passa, querida.

– E se descobrirmos alguma coisa agora? – Ela insistiu.

– Vamos cuidar, Lua. Como você acha que vamos agir? – Eu já tinha voltado a dirigir e já estamos chegando à clínica que ela fará os exames.

– Eu sei que vamos fazer de tudo.

– Então tenta relaxar, meu amor. Eu não quero que você fique nervosa com isso. Não faz nada bem para o bebê.

– Eu já fiz e vou ter que fazer de novo o exame de tipo sanguíneo e do fator Rh. – Explicou. Meu tipo sanguíneo é O- e o da Lua, A+. E eu nem queria ter me lembrado disso agora. O sangue da Anie é A+ e eu desejo que o desse bebê seja também.

– Vai dá tudo certo, Loira.

– Será que foi por isso que eu perdi o outro bebê?

– Claro que não, meu amor. Não vamos perder nada dessa vez. Para de ficar lembrando disso. Não quero que toda vinda ao médico seja dessa maneira.

– Vou ter que deixar o de glicemia para segunda-feira. Eles só fazem de segunda a quarta. E o de urina também. Pelo menos eu não vou precisar fazer o exame de Papanicolau. Eu fiz ano passado e esse ano também.

– Hoje vai ser só o de tipo sanguíneo e o de Rh? – Entrei no estacionamento da clínica.

– O hemograma também. O ultrassom eu fiz naquele dia.

– Segunda eu venho com você de novo. – Avisei e Lua soltou um singelo sorriso.

– Você vai ter que me deixar no trabalho também.

– Sem problemas. – Dei uma piscada e estacionei em uma vaga. – Vamos?

– Vamos. – Lua respirou fundo e abriu a porta do carro.

 

*

 

– Boa tarde. – Lua disse para a recepcionista.

– Boa tarde.

– Marquei uns exames na quarta-feira. – Começou. – De sangue e Rh, e hemograma também. – Explicou.

– O seu nome, por favor. – A moça perguntou e depois olhou para a tela do computador.

– Lua Blanco.

– NHS ou particular?

– Particular. – Lua entregou o cartão do plano de saúde junto com a identidade. Dificilmente se usa plano de saúde em Londres. O Sistema Nacional de Saúde daqui é muito bem recomendado, eficiente e organizado.

– É por ordem de chegada, tudo bem? – A moça nos avisou. Lua assentiu. – Assine aqui. – Ela entregou uma guia com o nome dos exames. – A senhora é a quarta. Aguarde que vão lhe chamar.

– Ok. Obrigada. – Lua pegou os documentos de volta e fomos nos sentar. – Você já decidiu se vai hoje à noite?

– Pra onde? – Franzi o cenho e tirei o celular do bolso.

– Sair. – Me lembrou.

– Aah... eu nem estou pensando nisso, Luh. – Olhei as horas. – Uma coisa de cada vez. Vamos ver como se darão as coisas aqui. – Olhei para a recepção. – Achei que fosse demorar mais.

– Eu também. Sou a quarta, mas pelo visto já começaram a atender.

– Verdade. – Concordei quando vi apenas duas mulheres na mesma fileira de cadeira que estamos. – Você sentiu enjoos agora?

– Não. Só de manhã. Eles estão sendo bem matutinos. – Lua passou sutilmente uma das mãos sobre a barriga. Ela está com um vestido branco de alças finas e fundo floral. Os gostos dela estão bem diferenciados nessa gravidez. A barriga ainda não deu sinais, mas os seios estão maiores do que o normal.

– Pelo menos você não está vomitando tanto quanto na gravidez da Anie.

– Nossa, nem me lembra! – Exclamou.

– E ainda não enjoou o meu perfume. – Frisei. Lua riu e me deu um cheiro.

– E espero não enjoar. Você é o homem mais cheiroso da minha vida toda.

– Também pensei que fosse o único. – Provoquei.

– Engraçadinho. – Lua me deu um aperto na cintura e ficou quieta; com a cabeça encostada no meu ombro. Entrelacei nossos dedos e fiquei girando a aliança em seu dedo.

– Não ficava grande assim. – Comentei.

– Emagreci, Arthur.

– Os dedos? – A encarei e Lua ficou me encarando de volta, como se fosse a coisa mais absurda que ela já tinha escutado na vida.

– Tudo o que eu como pela manhã, eu vomito. Você sabe.

– Em compensação...

– Lá vem você.

– Você come mais do que eu à tarde e no jantar.

– São as horas que eu não fico enjoada. –– Deu de ombros ao se defender. Tá que talvez ela já tivesse emagrecido uns dois ou quatro quilos. Não tinha tanta diferença assim e eu não gostava de ficar falando sobre ela ter perdido ou ganhado peso. Dependendo do humor, isso se tornaria mais um motivo para discussão. Porque hormônios de grávidas são extremos.

– Você realmente achou que nunca mais passaríamos por isso? – Lua se referia a gravidez.

– Achei. Eu tinha certeza, na verdade. Mas se eu deixar o medo de lado, estou amando esse momento. Você sabe que eu sou apaixonado por crianças, ainda mais sendo nossa. Por dentro eu sei que você sabe que eu estou mais que vibrando com tudo isso. – Contei e Lua assentiu antes de me dar um rápido selinho.

– Eu também estou amando. Ainda mais por estar sendo super mimada.

– Hahaha... mas eu sempre te mimei. – Ressaltei. – E vou mimar ainda mais. – Lhe dei um beijo carinhoso na testa.

– Você é um companheiro incrível, meu bem. Eu sou tão sortuda!

– Somos, meu anjo.

 

Ficamos em silêncio, e eu continuei girando a aliança no dedo dela, até uma enfermeira chama-la para fazer os exames. Lua me olhou como se me perguntasse se eu ia acompanha-la. Me levantei da cadeira e segui com ela até a sala.

 

– Boa tarde, Lua Blanco.

– Boa tarde. – Lua sorriu, mas não mostrou os dentes.

– Pode se sentar nessa cadeira. Tente relaxar e ficar confortável. – A enfermeira pediu. Lua estava nervosa, certamente a mulher percebeu.

– Posso ficar aqui? – Perguntei e ela me olhou.

– Claro. Pode fechar a porta, por favor. – Pediu. O fiz e me encostei perto da porta. Lua me entregou a bolsa dela e se acomodou na cadeira para fazer a coleta do sangue.

– Não se assuste com a quantidade da coleta. São procedimentos normais dessa nova fase. Você já passou por isso antes? – Ela pegou a seringa e os tubos para coletar o sangue.

– Sim.

– Então você já sabe o seu tipo sanguíneo, certo?

– Sim. É A+. As chances do Rh dar negativo é de quantos porcento?

– Do bebê? Impossível se o do pai for positivo também.

– O meu é O-. – Respondi.

– As chances são de cinquenta porcento. Caso isso aconteça, as atenções precisam ser redobradas. Não quero assusta-los. – Deixou bem claro.

– Eu sei mais ou menos o que pode acontecer... – Lua comentou baixo.

– Hoje já há uma injeção que neutraliza as células do fator Rh do bebê. Para que não haja nenhuma complicação durante a gestação e muito menos, na hora do parto. Pois caso você tenha uma outra gravidez, os riscos serão amenizados. – A mulher nos explicou cautelosamente.

– No momento, já estamos bastante preocupados só com essa mesmo. – Lua suspirou.

– Vai ocorrer tudo bem. É normal as mamães ficarem nervosas nesse início da gravidez e durantes os exames. Não queremos que nada de ruim aconteça com o bebê. Eu lhe entendo. Sou mãe também.

– Estou tentando fazê-la entender isso desde que soube da gravidez. – Comentei e a enfermeira sorriu.

 

Logo depois dessa breve conversa e de arrumar os tubos em cima da mesa, a mulher colocou uma liga de borracha para apertar o braço da Lua e colocou a agulha na seringa, após tira-la da embalagem de plástico.

 

– Relaxa, Lua. Tudo bem?

– Tudo. – Ela sorriu, mas estava muito nervosa.

– Se você não se acalmar, vou ter dificuldade em encontrar a sua veia.

– Desculpa, isso nunca aconteceu antes.

– Não precisa se desculpar. Você quer um copo d’água? – Ofereceu gentilmente.

– Quero. – Lua aceitou. A mulher saiu da sala e eu me aproximei.

– Querida, você sabe que não precisa ficar tão nervosa assim. Eu estou aqui, Luh. Estamos juntos nessa até o fim e depois do fim também, meu amor. – Acariciei o seu rosto. – Deus está sendo tão generoso conosco. Não tem porque pensarmos ao contrário.

 

Não somos tão religiosos assim, apesar de termos casado na igreja e nossa filha ser batizada. Mas acreditamos em Deus e temos muita fé – eu pelo menos tenho. E acredito que Ele fará com que fique tudo bem com a minha mulher e com o nosso novo bebê.

 

– Pareço uma boba? – Lua depositou um beijo demorado no dorso da minha mão.

– Não. Claro que não, meu anjo. Eu sei porque você sente medo, mas isso não ajuda em nada. Não daria errado mais uma vez, Luh. Eu não quero pensar que há possibilidades. Estamos tomando cuidado com tudo.

– Eu sei, mas há coisas que não controlamos. Muitas coisas, na verdade. – Me disse e a enfermeira retornou à sala.

– Aqui a sua água. – Estendeu o copo em direção a Lua.

– Obrigada.

– Você está tão preocupada assim com o Rh? – A mulher indagou.

– Sim. Na verdade, fazem uns dois dias que me lembrei disso.

– E só comentou comigo ainda a pouco. – Lembrei.

– Não tiro a sua razão, mas como esses exames são os do início do pré-natal, você tem altas chances de levar a gravidez adiante. Não precisa sentir todo esse medo. Você é nova, e a vacina está disponível no NHS. Embora não seja um assunto que as pessoas divulguem, há casos sim, com toda certeza. E a recursos também. Então fica tranquila. – Eu reconhecia que a mulher estava tentando tranquiliza-la. Lua sorriu e depois me entregou o copo.

– Vou começar o exame, ok?

– Ok.

 

O exame não demorou e eu agradeci por Lua não ter passado mal. Pensei que ela fosse desmaiar, porque estava muito pálida.

 

– Pronto. Deu tudo certo, meu amor. – Lhe dei um beijo na bochecha.

– Obrigada, querido. Você me acalmou também. – Lua me olhou. – E eu adorei a enfermeira. – Completou. – Será que na segunda-feira vai ser ela?

– Não faço ideia, baby.

– Eu esqueci de perguntar. – Soltou um riso e eu a acompanhei.

– Você quer ir para casa? – Mudei de assunto quando chegamos ao estacionamento. – Anie já deve está em casa. – Acrescentei depois de ter olhado para o relógio.

– Prefiro ir para casa. Você decidiu se vai sair com os meninos?

– Não, Lua. Por que você está insistindo nesse assunto? Quer me dizer alguma coisa? – Questionei.

– Não – ela abriu a porta do carro e entrou –, só quero saber mesmo.

– Se você estiver se sentindo bem, talvez eu repense no assunto. Mas não é algo que me preocupa. – Franzi o cenho e liguei o carro.

– Não quero que pensem que eu não deixo você sair. – Comentou e eu ri alto.

– O que, Lua? – Perguntei ainda rindo.

– É sério. Você sabe que as pessoas gostam de falar.

– Desde quando a opinião delas importa pra você?

– Você comentou que eu sou chata. – Relembrou.

– Querida, não é a primeira vez que eu te chamo de chata e que o Harry sabe disso. Por favor, esquece isso.  – Pedi.

– É que agora eu estou grávida. Agora importam.

– Ok, ok. Desculpas, meu bem. Eu vou tomar mais cuidado. – Falei sincero. Desconheço hormônios mais loucos que os da minha mulher. Lua olhava através do vidro da janela do carro.

 

Não falamos mais nada o trajeto todo até chegarmos em casa. E como eu já tinha imaginado, Carol já tinha ido buscar Anie na escola.

 

– Oi, minha vidinha. – Peguei ela no colo e lhe dei um beijo estalado na bochecha.

– Oi, papai. Eu quelia saber mesmo pra onde o senhor tava com a minha mamãe também. – Anie esticou os bracinhos e Lua se aproximou por trás de mim e deu um beijo na bochecha da nossa filha.

– Oi, meu bebê mais lindo.

– Pra onde que vocês estavam?

– Formos resolver uns assuntos de gente grande! – Expliquei e a coloquei no chão.

– Quando então que eu vou ser grande pra saber de um monte de assunto? – Ela colocou as duas mãozinhas na cintura e nos encarou. Lua prendeu o riso e deu dois tapinhas no meu ombro. Como quem diz “boa sorte em explicar.”

– Eu vou tomar um banho. – Lua já disse rumando para a escada.

– Ninguém vai me explicar então? – A pequena insistiu.

– Quando você crescer assim do nosso tamanho. Tipo, maior um pouco do que a sua mãe. – Falei só pra implicar mesmo.

– Hahaha nossa que engraçado. Já vai começar, Arthur?

– Já até parei, meu bem. Já parei. – Ri e me sentei no sofá.

– Vamos então passear com o Bart. Ele tá com saudades de sair de casa. Já faz um monte de dias que ele não vai na plaça e nem no parque. – Anie falou toda séria e com um certo tom autoritário. Não que ela saiba disso. O cachorro se aproximou de mim e apoiou as patas da frente nas minhas coxas.

– Você quer passear garotão? Hein, quer passear?

– Ele quer sim. Papai, ele só sabe latir. Ele não fala.

– Eu sei filha. – Ri. – Vá pegar a guia dele. – Me levantei do sofá e Bart me seguiu até a porta. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para a Lua, avisando que íamos dar uma volta na praça aqui perto de casa.

– Paaaaaapaaaaiiii, me espela! – Anie veio correndo com a guia na mão. – A gente pode compar outa de outa cor?

– Sim, mas não hoje. – Avisei.

– Tá. Outo dia então.

– Sim. – Coloquei a guia na coleira e Bart começou a abanar o rabo todo animado.

– Deixa que eu levo ele.

– Sem correr, Anie. Porque eu não vou correr atrás de vocês dois. – Fechei a porta de casa.

– Tá. Senão a gente não vem de novo, não é?

– É exatamente isso. – Concordei. Que bom que ela já sabe.

 

É fim de tarde. Caminhamos devagar pelas calçadas rumo à praça que fica aqui no bairro. Lua ainda não respondeu a minha mensagem. Certamente ela deve está no banho.

 

Os exames não me deixaram nervoso. Lua me deixou nervoso. Odeio vê-la nessa situação e não poder fazer absolutamente nada que possa ajuda-la de verdade.

 

Confio que tudo dará certo nessa gravidez. E é o que de fato importa.

 

Continua...

 

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

 

N/A: Olá, boa noite, leitoras queridas <3 Peguei vocês de surpresa, não é mesmo? Haha A D O R O !

 

Vocês estão bem? Amanhã faria três meses que a L.A estava paralisada. MDS! (e o capítulo anterior passou de mil visualizações. UAU!)

 

Estou muito feliz que consegui atualizar a fanfic hoje. A princípio, a minha ideia era ter postado domingo passado. Mas o que importa, é que tem atualização pra vocês!!!

 

Não é o capítulo ENORME que eu imaginei que conseguiria postar, mas mesmo assim, fiz com todo carinho e atenção. Foi meio tenso né? Cheio de inseguranças por parte da Lua. Mas quem não ficaria com medo, não é mesmo? Tive todo o cuidado de fazer pesquisas para não sair escrevendo coisas absurdas a respeitos dos assuntos que eu abordo em Little Anie. (sei que vocês sabem disso)

 

O que acham sobre as inseguranças da Lua? Será que eu serei um pouquinho má e farei vocês ficarem nervosas com os próximos acontecimentos?? ME CONTEM TUDO!

 

Alguém tem alguma pergunta? Não deixe de fazê-la.


No mais, é isto mesmo haha... estou empolgada e quero postar o próximo capítulo o mais rápido possível. Tem muitas surpresas vindo aí e quero detalhar cada momento. Sei o quanto vocês esperaram por isso junto com essa família fictícia que tanto amamos. <3

 

Tenham uma semana abençoada. Se cuidem sempre!

Beijos e até breve.

22 comentários:

  1. Não sei Nem o que comentar....
    Que Capítulo maravilhoso, deu pra matar saudades de L.A.
    Tô tão insegura ,quanto a Lua, que medo de algo dar errado.O Arthur sendo maravilhoso como sempre,Anie é mt fofa.
    Por favor,NÃO seja má Milly,meu coração não aguenta.
    Ansiosa pelo próximo já.😍🤩

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    1. Obrigada, Danih pelo carinho, pela paciência de sempre e pelo comentário. 🥰

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  2. Nossa, estava muito ansiosa pelo capítulo. Muito lindo lindo o carinho do Arthur com a Lua.
    Torço para que dê tudo certo.
    Não seja má, kkkk.
    Parabéns pelo capítulo, cada vez melhor.
    Aguardando ansiosamente o próximo.

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  3. tava ansiosa esperando a atualização!! eu amo demais essa história.. e como sempre capítulo maravilhoso, quero o próximo logo

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  4. AAAAA Milly, que surpresa maravilhosa, estav com saudades demais de LA!!!
    Sim, que tenso, Lua esta com muito medo e insegurança, mas também não é para menos, super compreensível. O Arthur é tão maravilhoso, Lua não poderia ter escolhido melhor, ele esta sempre dando o apoio que ela precisa, esta sempre cuidando dela e da Anie, essa família é muito maravilhosa.
    Anie esta crescendo rápido demais, confesso que estou ansiosa igual o Arthur, para saber a reação dela sobre a gravidez, que dê tudo certo e que essa gravidez seja tranquila, maaas como é você que escreve eu sei que eu posso prepara o coração kkkkkkk acho incrível o cuidado que você tem para escrever, ja estou ansiosa pelo próximo.

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  5. Vc nos supreende cada dia, esta otima anciosa para os próximos capítulos e tbm pela reacao da Anne quando ficar sabendo q vai ter irmao e tbm da familiares deles, e que der tudo certo nessa gravidez , e que a Lua tire mas esse medo e insegurança.

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  6. Ansiosa pelo proximo capitulo

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  7. É incrível o quão carinhoso o Arthur é com a Lua, tomara que realmente dê tudo certo na gravidez dela🙏

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  8. Podia posta o outro hj nera?! ��❤️
    Como presente de Natal ❤️����
    Mas um capítulo incrível, ansiosa pelo próximo

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  9. Óla Milly tou ansiosa para o proximo capítulo também porque que voce não faz mais capítulo especial tou aguardando aque beijos !

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  10. Milly porque você ta demorando a atualizar a web tou com saudade !

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  11. AMEIII
    Espero q a Lua se tranquilize mas super entendo o lado dela, quero muito que dê tudo certo

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  12. Milly porque você ta demorando a atualizar a web dou com saudade !

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  13. Que saudades dessa web, já lir todos os capítulos novamente

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  14. Sem notícias do próximo capítulo?

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  15. Pelo amor de Deus eu não to aguentando esperar

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  16. ??????????????????????????????????????????????????????????????????????????????

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  17. Quem tá no grupo da web tem não notícias???

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