Litte Anie - Cap. 90 | 3ª Parte

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Little Anie – 3ª Parte

Bem, eu encontrei uma mulher
Mais forte que qualquer pessoa que conheço
Ela compartilha dos meus sonhos [...]
Eu encontrei um amor
Para carregar mais do que apenas meus segredos
Para carregar amor, para carregar nossos filhos [...]
Amor, apenas segure minha mão
Seja minha garota, eu serei seu homem
Eu vejo meu futuro em seus olhos [...]
Querida, eu estou dançando no escuro
Com você entre meus braços [...]
Eu tenho fé no que vejo
Agora sei que conheci um anjo em pessoa
E ela está perfeita
Eu não mereço isso
Você está perfeita
– Perfect | Ed Sheeran

Pov Arthur


Eu ainda não consigo acreditar no que Lua acabara de me contar e mostrar. Definitivamente, nem vê foi o suficiente para que eu acreditasse. Estou em choque. Além de muito preocupado, extremamente preocupado. É claro que nem sonhávamos com uma nova gravidez nessa altura do campeonato. Perdi as contas de quantas vezes disse à Lua que não queria mais ter filhos. Nós dois sabíamos que uma possível gravidez seria arriscada demais, mesmo com todos os tratamentos a nossa disposição – temos condições para banca-los, mas nem isso me tranquiliza.

Não faz nem uma hora que Lua me deu essa notícia. Parece que estou anestesiado ou algo perto disso. Não quero, de jeito nenhum, deixa-la assustada ou ainda mais preocupada. Sei que ela também está preocupada e nervosa com essa novidade. É claro que acredito que ela não fez de propósito. A questão nem é essa, jamais vamos procurar um culpado. Até porque, já temos idade suficiente para evitar esse tipo de pensamento.

Estamos abraçados há mais de meia hora. Fico pensando em que momento Anie vai resolver aparecer aqui no quarto. Nem sei como contaremos que ela vai ganhar um irmãozinho ou uma irmãzinha. Nossa, ano passado ela pediu muito por isso, mas agora, nem toca no assunto. Sei que ela prefere que todas as atenções estejam voltadas para ela.

Cinco anos depois, que quase foram três, se Lua não tivesse perdido o bebê ano retrasado. Como assim já vai fazer dois anos? Ao mesmo tempo que parece muito tempo, parece pouco. O acontecimento ainda é recente e até há alguns meses, ainda lamentávamos a perda do bebê. Agora não me parece nada diferente. Estou ainda mais assustado, com medo de perder mais um filho e, também, a minha mulher.

Eu sei que deveria ter tomado mais cuidado e ter insistido mais quando Lua disse que estava tudo bem em não nos prevenirmos. Não que na hora não estivesse, nesses momentos a gente esquece dos riscos e acaba só aproveitando. Mas agora eles estão correndo perigo e mesmo que eu lute para não apontar um culpado, eu estou achando que a culpa é minha, por ter cedido todas as vezes.

Estou agoniado para que Lua marque logo uma consulta, para ela fazer todos os exames necessários e ouvirmos da boca da Eliza: que está tudo bem e que vai continuar estando tudo bem. Realmente, eu não esperava mais ouvir que seria pai novamente e creio que Lua, menos ainda, que fosse mãe de novo. Como contaremos aos pais dela essa novidade? Se Emma já está me odiando, imagine depois que souber disso – ainda mais com todos os riscos, não só os que já esperamos de uma gravidez, mas com os cuidados mais redobrados dessa vez.

– No que você está pensando? – Talvez agora já fizesse uma hora que estamos abraçados e em silêncio. No que dependesse de mim, permaneceríamos assim. Mas Lua nunca consegue ficar quieta por muito tempo.
– Em muitas coisas. – Suspirei.
– Sabe, eu me lembrei de uma coisa agora. Falamos sobre isso há um tempão. – Começou, cautelosamente.
– Que coisa? – A olhei confuso.
– Sobre os dois quererem... – Respondeu baixo.
– É um pouco tarde para falarmos sobre isso, Lua.
– Eu sei... o momento agora não é conveniente. Eu só lembrei, porque era uma coisa que você queria muito.
– Faz tempo, Luh. Isso foi antes de acontecer o que aconteceu com você. Eu não quero falar sobre isso. – Deixei claro e fiz de tudo para não soar grosseiro.
– Desculpa então. – Pediu e saiu do abraço. – Daqui a pouco a Anie acorda. Ela está animada para te entregar um presente. Você já deve imaginar o que seja. – Contou e pude sentir o esforço que ela fazia para não parecer desanimada. Já eu, nem consigo disfarçar.

Lua saiu do quarto e fechou a porta. Se a minha filha não estivesse prestes a entrar por aquela porta, certamente eu me deitaria na cama e me permitiria chorar. Não que eu esteja triste, mas estou com muito medo. Odeio sentir medo.

– Palece que o senhor acordou pimeiro! – Ouvi Anie exclamar. – Eu quelia ter feito uma surplesa. – Contou. Me perdi em pensamentos e nem notei quando a pequena entrou no quarto.
– É. Eu acordei bem cedo. – Sorri carinhosamente. Anie será uma irmã mais velha. Será que ela vai gostar da novidade? Me ajeitei na cama e a pequena, sorridente, colocou a sacola do presente sobre a mesma e subiu para me dar um abraço.
Feliz dia dos pais. – Disse ainda abraçada a mim.
– Obrigado, meu amor. Sabia que eu te amo demais?
– Eu que amo mais! – Esclareceu e eu concordei. Anie odeia ser contrariada. – Eu amo muito você, papai.
– Eu te amo, meu neném mais lindo. – A abracei mais forte.
– Eu escolhi um plesente. É um plesente que o senhor gosta um monte. Aí eu mesma que escolhi, tá?
– Tá ok. – Sorri e Anie me entregou a sacola, que já entregava a loja e o objeto. – Obrigado. – Agradeci novamente e abri a sacola e depois a caixinha. – Nossa, filha – fiquei encantado e ainda mais apaixonado – que relógio lindo. Eu ainda não tinha um relógio assim, desse modelo. – Confessei. O relógio é dourado, certamente, banhado a ouro. Eu tenho muitos relógios, mas nenhum igual a esse.
– Eu sabia. Foi por isso que eu quis compar esse. O senhor gostou?
– Eu amei, meu anjo. Ele é lindo. Muito lindo.
– Olha, vem com uma pulseila. Até que é bonita. – Anie pegou a pulseira e me entregou.
– Sim. É estilosa. Você achou isso também?
– Achei, papai. – Anie sorriu sem mostrar os dentes. – Vamos tomar café da manhã?
– Vamos. Você está com muita fome? – Indaguei. Eu não estou com nenhum pingo de fome. Guardei o meu presente com todo cuidado de volta na caixinha e me levantei da cama.
– Me leva no colo? – A pequena me pediu.
– Vem. – Carreguei ela no colo.
– Papai? – Anie me abraçou pelo pescoço.
– Oi, filha.
– Sabia que tem torta de molangos com chocolate? Muitos molangos! Eu que pedi pra Carla fazer.
– Foi? Eu não sabia não, meu anjo.
– É pro seu dia, papai. – Ela me deu um beijo carinhoso na bochecha.
– Ooow! Para o meu dia? Muito obrigado. Amo torta de morango com chocolate. – Confessei.

Desci a escada com ela em meu colo e não encontrei Lua na sala.

– Carla, cadê a minha mamãe? – Coloquei Anie sentada em um dos bancos em frente o balcão que divide a cozinha.
– Bom dia, Carla.
– Bom dia, Arthur! – A mulher sorriu gentilmente.
– Lua não está aqui? – Também perguntei, pois não a vi na cozinha e nem lá fora.
– Ainda não a vi, Arthur.
– Onde que tá o meu cachorro também? – Anie bateu as mãozinhas sobre o balcão. – Quelo chocolate quente.
– Vou ver aonde ela está. – Pontuei e saí da cozinha.

Não faço a mínima ideia de onde Lua se meteu. Estou me sentindo culpado por ter falado mais cedo com ela daquela maneira. Sei que ela não pode passar por nervoso.

Abri a porta do escritório na esperança de encontra-la lá, mas ele está vazio. Fechei a porta novamente e voltei para a sala. Nem Bart estava ali. Provavelmente, ela foi dar uma volta com ele – o que é ainda mais estranho, Lua não sai sozinha com o cachorro. Ele é elétrico demais e ama correr. Só a nossa filha mesmo para acompanhar o pique dele.

Andei até a porta e abri. Os dois não estão na frente de casa e cachorros não podem passear sem coleira e guia pelo condomínio. É uma das regras para quem tem animais de estimação. Saí para ver se os encontrava ali por perto e os vi parados de frente para rua – ainda no espaço que pertence a nossa casa. Andei até eles.

– Lua, o que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei assim que parei ao lado deles. Bart pulou e apoiou as patas da frente na minha barriga. Acariciei sua cabeça e ele deu uns três latidos.
– Bart só queria dar uma volta. – Me respondeu e olhou para o cachorro.
– Sem guia, loira? – Observei. – Você sabe que não pode. – Comentei.
– Não saímos daqui, Arthur. – Ela me assegurou.
– Mesmo assim... Vem, vamos entrar. Anie perguntou por você. Vamos tomar café. – Convidei.
– Não estou muito a fim de tomar café.
– Lua, eu sei que a minha reação não foi nada do que você imaginou, mas eu só quero um pouco mais de tempo, ok? Foi uma notícia e tanto. –  Falei sincero. Não consigo agir de outra forma. –  É uma notícia e tanto. – Me corrigi. – Sei que pra você não foi nada diferente, querida. Deve ter sido mais assustador, ainda mais por ter guardado isso sozinha por mais tempo.
– Não quero que briguemos, Arthur. Não por conta do bebê. Sinceramente, tenho certeza de que não vou suportar viver entre uma briga e outra. – Confessou. – Não vai fazer bem para nenhum de nós. – Acrescentou.
– Eu não estou falando em brigar, Lua. Relaxa. Nem eu que quero brigar. Acho que nem tem porque brigarmos. Você concorda? Vamos entrar, depois conversamos mais. Vamos nos acalmar, você precisa se acalmar, ok? Não quero que fique nervosa e muito menos, preocupada. – Falei calmo. – Vamos, Bart! – Chamei o cachorro. – Antes que levemos uma multa.
– Nós estamos na frente de casa, Arthur. Mais para o lado, na verdade... – Se corrigiu e eu sorri. – Não queria que você ficasse triste hoje. Quer dizer, nenhum um dia eu queria.
– E quem disse que eu estou triste? – Questionei. Já caminhávamos de volta para dentro de casa. – Só estou preocupado. Eu já perdi as contas de quantas vezes já te disse isso hoje. – A olhei, mas Lua seguia sem me olhar.
– É que eu achei que seria uma boa ideia contar hoje, por conta da data e tudo. – Justificou.
– Hoje ou qualquer outro dia, eu ficaria preocupado do mesmo jeito. – Pontuei. – Não quero que você fique se culpado. Você sabe que isso vai passar, depois eu vou ficar feliz. Eu só preciso processar essa informação.
– E se você não ficar? – Lua me olhou quando paramos em frente a porta de casa.
Entra, Bart. – Mandei. Lua abriu a porta. – É óbvio que eu vou ficar, Lua. É um filho nosso. Pelo amor de Deus, eu só estou com medo. Mas não vou fugir, não tem a menor possibilidade disso acontecer.
– Você gostou do presente? – Ela mudou de assunto e eu fiquei encarando-a. – Da Anie. – Esclareceu.
– Aaah... – sorri – eu amei. Você sabe que eu não tinha nenhum daquele modelo.
– Foi ela mesma quem escolheu. – Contou.
– Eu sei. Ela me disso isso. – Fechei a porta. – Tudo vai se resolver, Luh. Fica tranquila. – Pedi abraçando-a pelo ombro.
– Espero que sim. – Ela me olhou e curvou os lábios em um sorriso. Fiquei tentado a lhe dar um beijo, mas acabei apertando carinhosamente o seu ombro.
– Aaaiii! Vocês demolalam. Eu até já comecei a tomar meu chocolate. Eu disse que estava com fome, papai.
– Tudo bem, meu amor. – Sorri e lhe dei um beijo na bochecha. – Fui atrás da sua mamãe.
– A senhola estava com o meu cachorro? – Anie se virou para olhar a mãe.
– Sim. – Lua também lhe deu um beijo. – Fomos dar uma voltinha.
– Por que a senhola não me espelou então? – A pequena questionou.
– Porque você ainda estava dormindo. – Lua explicou.
– Então agola a gente pode ir uma outa hola?
– Pode, claro que sim, filha. – Lua sentou-se ao lado da nossa filha. – Tem torta?
– Sim, é de molangos. Molangos com chocolate, mamãe. A senhola quer um pedaço? – A pequena lhe ofereceu um pedaço de torta e Lua aceitou. Coloquei uma fatia de torta em um prato e entreguei a Lua.
– Obrigada, meu anjo. – Ela deu um beijo na nossa filha. – Obrigada, amor. – Me agradeceu. Lhe joguei um beijo e me sentei para tomar o café da manhã.

À noite.

Desde de manhã não falei mais com Lua sobre a gravidez. Depois do almoço, passei a tarde com a Anie e o Bart na sala, assistimos três filmes. Lua almoçou conosco, mas não quis assistir os filmes – nem insistimos, sabemos que ela não curte muito esse tipo de programa.

Jantamos há algumas horas e eu fiquei de dar banho em Anie e coloca-la para dormir. Meu dia dos pais foi um misto de surpresa e preocupação. Eu posso assegurar que ainda estou em choque com a novidade. Talvez nem fosse para tanto, mas se fosse em uma outra época, sem todos os riscos, eu certamente estaria explodindo de felicidade que nem conseguiria disfarçar.

Anie não demorou a dormir, porém, antes tive que contar uma historinha. Amanhã ela acorda cedo para ir à escola, assim como a Lua tem que ir ao trabalho. Anie é a minha paz. Me tranquiliza demais saber que ela está bem e feliz. Ela é uma garotinha esperta, decidida, divertida, teimosa, inteligente, ciumenta, curiosa e muito mandona, assim como a mãe. Sei que ela tem muitos traços, da fisionomia, parecidos comigo, mas de personalidade, é a Lua inteira. Eu posso ver sem nenhum esforço – e eu adoro isso. Às vezes eu reclamo só para implicar mesmo. Lua odeia que eu diga que isso é um defeito, e eu concordo com ela.

Eu desliguei a luz do quarto depois de checar que a nossa filha estava mesmo dormindo e saí do mesmo, fechando a porta com cuidado. Já devem ser quase dez horas da noite. Nossa casa está silenciosa demais. Pensar nisso me faz lembrar que, talvez, daqui a alguns meses, haverá choro de criança movimentando nossas noites, agora tranquilas.

– Achei que já estivesse dormindo. – Fechei a porta do nosso quarto e Lua virou o rosto para me olhar. Não que eu tenha demorado de propósito.
– Eu dormi, praticamente, a tarde inteira. – Me contou. Não me surpreendi. Sei muito bem que ela subiu para o quarto para tal coisa. – Anie demorou para dormir?
– Não. Hoje eu só tive que contar uma história, que se fosse mais longa, ela teria dormido antes de eu terminar de ler. – Respondi. – Ei, esse programa parece divertido. – Pontuei olhando para a televisão.
– É mais ou menos. São pegadinhas. – Lua olhou de volta para a tevê. Ela já estava de pijama. Certamente, já tomou banho. Nem sei porque ela está com a televisão ligada.
– Você já tomou banho?
– Sim. Faz tempo. Eu estava com calor. – Disse, mas sem me olhar.
– Então eu vou tomar um banho rápido. Não vou demorar, ok? Se não for pedir muito, eu queria que você me esperasse acordada.
– Tá bom, Arthur. Eu estou sem sono mesmo. – Dessa vez ela me olhou e abriu um singelo sorriso.
– Não demoro. – Voltei a afirmar e segui para o banheiro.

Quero conversar com ela. Quero saber se ela faz ideia de quando fizemos o bebê. Se já fez dois meses, com certeza, foi em abril, porque em março ela menstruou. Lembro que no fim de março não fizemos nada, porque a menstruação dela sempre desce na última semana do mês.

Tomei um banho rápido e escovei os meus dentes. Saí do banheiro e encostei a porta. Lua permanecia deitada na cama e assistia o programa que passava na televisão.

– Voltei. – Pontuei. Lua me olhou rapidamente.
– Você vai querer que eu desligue a tevê? – Me perguntou.
– Na verdade, eu quero conversar com você. – Confessei e fui pendurar a toalha no banheiro e depois voltei para a cama. – Você quer continuar assistindo?
– Conversar sobre a gravidez? – Lua se ajeitou na cama e me encarou.
– Sim. Quero te fazer algumas perguntas. – Expliquei.
– Pode fazer, Arthur. – Lua desligou a televisão.
– Você disse que fez dois meses. – Comecei e olhei rapidamente para a sua barriga e depois para os seus olhos. Lua assentiu. – Você sabe quando foi? – Indaguei e Lua ficou me encarando. – Que o fizemos, Luh... acho que foi em abril.
– Eu sei, amor. Você está certo, foi em abril. Foi no dia do nosso aniversário de casamento. – Respondeu.
– Em Liverpool? – Indaguei. Mesmo já sabendo que a resposta seria sim. Fomos para lá no nosso aniversário de casamento. – Você tem quanto porcento de certeza? – Acrescentei. Não foi só nesse dia que transamos em abril.
– Toda a certeza, Arthur. – Lua sorriu de maneira discreta.
– Eu lembro mesmo que você disse várias vezes que foi diferente.
– Foi especial. – Ela acrescentou. – Eu não consigo explicar. Acho que eu senti... sei lá. – Lua encolheu os ombros.
– Ai, meu Deus! – Exclamei. – Você não bebeu no aniversário das crianças, não é mesmo? – Perguntei apreensivo.
– Não. Foi você quem bebeu, lembra? Depois eu falei que pediria outra bebida, mas eu acebei nem pedindo. Esqueci, na verdade. – Lembrou e eu fiquei encarando-a.
– Loira, nós transamos na sexta-feira;
– Sim, e daí? – Lua questionou confusa.
– É que temos que tomar cuidado. Na realidade, tomar cuidado com tudo agora. Pelo menos até falarmos com a sua médica.
– Eu sei... foi por isso que fiquei meio que distante e falei que não estava me sentindo bem. Eu fiquei muito nervosa quando descobri. Também tenho muito medo de que aconteça alguma coisa;
– Você devia ter me falando antes, Luh. Nossa, eu jamais teria insistindo para que transassemos. Meu Deus! eu estou me sentindo muito idiota e egoísta.
– Você foi cuidadoso e carinhoso, Arthur. Pode ficar tranquilo. – Lua apertou levemente a minha coxa.
– Era por isso que você estava diferente, muito estranha. Eu desconfiei de que tinha alguma coisa. Mas jamais poderia pensar que fosse um filho. Meu Deus! Acho que agora que a minha ficha está caindo. – Confessei.
– Você nem faz ideia de como eu ficava quando você me dizia isso. – Ela riu, pela primeira vez no dia. – Eu queria te dizer a verdade, mas eu estava tão apreensiva sem saber a sua reação.
– Eu jamais te faria mal, Lua. Sei que a minha reação não foi uma das melhores, mas eu nunca seria tão escroto ao ponto de... sei lá... rejeitar um filho nosso.
– Ai, eu pensei que você fosse me culpar. – Contou.
– Claro que não, loira. – Franzi o cenho. – Meu Deus! Nossa, eu já falei tanto no nome de Deus hoje e nem sou tão religioso.
– Mas foi Deus mesmo, Arthur. Porque já tínhamos uma resposta.  E já tínhamos conversado tanto sobre o assunto. Essa é uma das melhores coisas da nossa relação, nós conversamos sobre tudo.
– Nossa, agora você vai ter que me contar tudo, Lua. Eu quero saber de tudo.
– Eu não sei muita coisa, amor. Apesar de já está com dois meses, eu descobri há menos de duas semanas. Isso porque eu senti um enjoo fora do normal. Eu fiz um teste ainda em abril... deu negativo. Fiquei um pouco frustrada, mas logo entendi que era melhor assim. Nenhum de nós esperava ou desejava uma gravidez. Depois fiquei aliviada e segui com expectativas de que a minha menstruação descesse no outro mês, o que não aconteceu e eu fui obrigada a fazer mais dois testes de gravidez. Dessa vez o resultado foi esse que você já sabe. – Contou de uma forma bem resumida. – Eu acho que que tenho o outro teste aqui. O primeiro. – Disse e se virou para abrir uma das gavetas da mesa de cabeceira.
– Não acredito que não percebi isso. Eu jurava que estava tudo normal. Quer dizer, eu percebi que você estava muito estranha. Só não consegui identificar. Eu te olhava o tempo inteiro e parece que você fugia de mim.
– É claro. Eu sempre pensava que você ia perceber que eu tinha engordado. – Sorriu.
– Nada a ver. Tipo, eu nem pensei nisso, Lua. Você nem engordou tanto. Eu pensava que era inchaço, você reclama que fica assim na TPM. E eu também nem ia falar isso pra você. Agora os seus seios estão maiores, bem maiores. E você nem me deixa tocá-los. Mas eu também achei que era da TPM. Por isso que você não tirava e nem trocava mais de roupa na minha frente. Nossa, Lua. Você devia ter me contado no dia que descobriu! – Eu não estava chateado, mas queria muito que ela já tivesse me contado.
– Hahaha... você me olhava demais. Uma hora ou outra você ia falar alguma coisa.
– Só se fosse dos teus seios. – Confessei. Porque Lua não tem os seios tão grandes como estão agora.
– Olha aqui... – Lua me entregou o teste que fez em abril. – Acho que deu negativo porque estava muito no início. Tipo, fiz doze dias depois.
– Da menstruação atrasada? – Indaguei ainda com o teste nas mãos.
– Não. Que transamos, Arthur. Fiz dia vinte e oito de abril.
– Como você conseguiu esconder isso? Você fez esse teste aqui em casa?
– Sim. E você quase viu a caixa em cima da pia. Fiquei nervosa com essa possibilidade.
– Certamente eu teria feito você marcar uma consulta com a Eliza.
– Eu não tenho dúvidas. O que foi que você disse depois de perguntar se eu falava sério? Precisamos falar com a Eliza. – Frisou. – Eu sei que precisamos, querido.
– Quando você vai marcar a consulta? – Perguntei ansioso.
– Amanhã eu vou ligar para a clínica.
– Marca o quanto antes. Isso é sério, Luh.
– Eu sei, Arthur. – Lua suspirou.
– O que seus pais vão achar? Nossa, a sua mãe vai querer me matar se souber do risco.
– Não precisamos falar. Isso é o que menos me preocupa.
– Pois isso é o que também me preocupa! – Passei as mãos pelo rosto. – A minha mãe vai vibrar, depois vai te encher de perguntas. – A olhei.
– Pelo menos alguém vai ficar feliz. – Lua encolheu os ombros.
– Ei, não fala assim. Parece que a minha reação foi a pior de todas. O Harry é outro que vai comemorar. – Falei e Lua sorriu.
– Hahaha... Só espera da gente. – Pontuou e eu concordei. – O que você acha que é?
– Sinceramente, eu nem estou pensando no sexo. Eu só desejo que esteja bem. É isso que quero ouvir quando você for fazer os exames. Aliás, que vocês dois estejam bem. Isso é o que importa. – Procurei uma de suas mãos e apertei carinhosamente.  – Quando você comprou esses sapatinhos? – Mudei de assunto.
– Semana passada, quando eu tive a ideia. Comprei o quadro no mesmo dia. – Me explicou.
– O quadro é a coisa mais linda, loira. Ainda estou com dúvidas se deixo aqui no quarto ou lá no escritório. – Falei encarando o quadro que eu tinha deixado em cima da mesa de cabeceira.
– Pensei em comprar outro modelo de sapato, mas eu não ia gastar dinheiro à toa. Nem sei o sexo ainda. Um par ia ficar sem ser usado.
– E se forem dois bebês?
– Você está louco, Arthur! não brinca com uma coisa dessas! – Lua disse séria e eu ri.
– Pode acontecer, ora.
– Pode nada. O que podia acontecer, já aconteceu. – Pontuou. – Estou grávida. Isso já é muita coisa. – Acrescentou.
– Tá, tá, tá... sem estresse, loira. Sem estresse. – Apertei uma de suas coxas.  – Ficou nervosa foi? – É difícil não querer implicar.
– Se forem dois, você vai ser o primeiro a desmaiar. Eu te conheço, Arthur. – Lua riu alto e estava coberta de razão.
– Hahaha... vou parar de brincar com isso. A princípio, só um já me deixou nervoso e preocupado. – Falei sincero.
– Essa semana saberemos como ele está.
– Como vocês estão. – Enfatizei.
– Sim. Eu e ele ou ela. E se for uma garotinha de novo? – Lua ficou me encarando.
– Eu vou ficar ainda mais apaixonado. – Confessei. – Loirinha e nervosinha.
– Paaaaaraaaa! Você sempre diz isso!
– Estou errado? Anie está aí de prova!
– Ela puxou pra você! Nem vem.
– Até parece! Não tem nada da personalidade igual a minha. Mas eu adoro, meu amor. – A olhei e Lua me deu um selinho. – Amanhã você tem trabalho, não é mesmo?
– Sim. Já era para eu estar dormindo. – Lua olhou para o relógio.
– Como eu vou conseguir dormir agora? – Me deitei na cama e coloquei as mãos no rosto. – Mais um bebê, loira. – Tirei as mãos do rosto e encarei Lua, deitada ao meu lado. – Você tem noção de que vamos acordar muitas vezes durante a madrugada? E o que dizer do choro do bebê? Hahaha! Isso vai ser divertido.
– Muito, nossa. – Lua revirou os olhos. – Você tá me zoando, Arthur. Só pode! – Exclamou.
– Você já teve algum desejo? – Mudei de assunto.
– Não. Fazer sexo conta? – Lua piscou um olho. Como não dei tanta importância para as mudanças de humor?
– Safada! Só porque sabe que eu não vou fazer nada. – Rocei os lábios no pescoço dela. – Você só sentiu o enjoo?
– Sim. Foram três vezes e todos de manhã.
– E o que mais você pode me dizer?
– Vamos descobrir muitas coisas juntos, meu amor. – Lua acariciou os meus cabelos.
– Mas eu estou muito curioso para saber das coisas que você já descobriu. – Insisti. Eu estou sem sono e quero saber tudo o que Lua ainda não me disse.
– Eu já te contei tudo o que eu sei. – Ela soltou um riso. – Como te disse, têm dez dias que descobri. Me senti mal todos os dias por esconder isso de você. Nossa, foi muito difícil, Arthur. Teve dias que eu cheguei do trabalho decidida a te contar. Tudo se complicava quando você vinha todo carinhoso. Parece que eu tinha feito algo muito errado.
– Na sexta-feira você se sentiu bem? Eu fiquei preocupado agora.
– Está tudo bem. Você fez como eu pedi. Não precisa se preocupar. Você é sempre carinhoso.
– Sabe quando é real, mas você não consegue acreditar? Você tá aqui na minha frente e eu ainda fico pensando se o que você me contou é verdade. Meu Deus! tem dois testes positivos bem na minha frente, dois sapatinhos de bebê, um quadro e um cartãozinho. Por que a ficha ainda não caiu por completo? – Encarei Lua como se ela tivesse todas as respostas para as minhas muitas dúvidas.
– Não era algo que esperávamos, igual quando foi da Anie. Apesar de você ter sonhado e pedido mais um filho durante muito tempo. – Ela tocou o rosto com a ponta dos dedos.
– Sim. Sempre foi tudo o que eu mais quis na vida. Eu me lembro de tudo, loira. Mas depois do que aconteceu, eu, simplesmente, não quis mais. Eu pensava mais em você do que em mim. Sempre soube que seria ariscado demais se tentássemos. Seria muita falta de compreensão e burrice da minha parte. Jamais que eu colocaria você em risco por conta de um desejo meu. Seja ela qual fosse. Jamais, Lua. Se isso aconteceu, pode ter certeza de que não foi de caso pensado.
– Eu sei, meu amor. Nós dois somos os únicos responsáveis por esse feito. Meu medo mais era pela minha teimosia mesmo. De novo ela.
– Ainda bem que você sabe. – Ri. Não podemos fazer mais nada agora. – Foi bem feito mesmo, Lua. – Mordi o meu lábio inferior. Ela sabe, exatamente, ao que me referi. – Não acredito que fizemos esse bebê àquele dia. – Ri. É quase surreal.
– Pooor queee? – Lua riu junto comigo e eu a puxei para o meu colo.
– Juro que transei sem essa intenção. – Assegurei e Lua riu mais ainda.
– Se eu soubesse que você tinha essa intenção, nem teríamos transado. – Ela me garantiu.
–  Eu sei disso, Luh. – Lhe dei um beijo demorado no rosto. – Você me dá cada susto. Só você mesmo para fazer isso comigo! – Exclamei.
– Eu ficaria chateada se outra pessoa fizesse isso com você. – Lua ergueu o rosto e me olhou. Tinha um bico nos lábios.
– Boba! Eu não sei se aguento outra dessa. – Confessei baixo.
– Não vai ter outra dessa. –  Pontuou. –  Nem eu sei se aguento.
– Não confio em você. Você disse que não tinha nenhuma possibilidade de engravidar. – Falei divertido e Lua me deu um tapa forte no braço.
– Paaaraaa! Você vai ficar me lembrando disso a gravidez toda? – Questionou.
– Claro que não. Vamos ter outros assuntos para tratar! – Lhe dei um beijo na testa. – Para de me bater. – Pedi.
– Você é chato! – Exclamou.
– Agora não adianta você reclamar. Fez mais um filho comigo. Vai ter que me aguentar!
– Convencido! No fundo eu sabia que você ia gostar.
– Eu não disse que não tinha gostado. Eu fiquei nervoso, assustado e preocupado. Você queria que eu tivesse ficado como? A gente sabia de todos os riscos, Lua. Foi só o que eu lembrei quando você me contou isso. Eu não quero te perder.
– Você não vai perder nada, meu amor. – Afirmou me abraçando forte. – Eu também sinto medo. Mas não quero que fiquemos pensando só nisso. Vamos ver na consulta como estamos. Sei que vamos ficar mais tranquilos depois disso... ou não, não é mesmo?
– Não diz uma coisa dessas, Lua. Pelo amor de Deus. Nossa, eu vou chorar.
– Paaraa, Arthur! se você chorar, eu vou chorar também. Você tem que ser mais forte do que eu. Sabe disso. Você me conhece. – Pediu com a voz embargada.
– Não quero te deixar desesperada. Não é isso! será que a Anie vai gostar da notícia? Eu estou muito ansioso para ver a reação dela. Ela é muito apegada. Você acha que ela vai ficar com muito ciúmes ou vai nos surpreender?
– Espero que nos surpreenda. Não vou saber lidar com uma Anie ciumenta e um bebê chorando.
– O que você quer?
– De quê?
– De sexo. Menino ou menina. Você parou em algum momento para pensar nisso? – Perguntei. Embora já tenha certeza da resposta. Todas as vezes que falamos de filho, ela sempre deixou claro que queria uma outra menininha.
– Menina. Outra menina para te deixar doido.
– Hahaha! É bem a sua cara mesmo. – Rocei o rosto entre o pescoço e peito dela.
– Mas sei que você é doido por um menininho.
– Sendo sincero, hoje eu já não me importo mais. Já falei isso várias. Não estou mentindo. Acho que eu tinha muito medo de não saber ser pai de menina, sabe?
– E saberia ser de menino por quê? Você nunca tinha sido pai.
– Eu achava que era mais fácil. Porque eu sou homem. Eu ia ensinar muitas coisas legais para ele. Aí veio a Anie e eu ensino muitas coisas legais a ela. – Sorri. – Então, se for menina, tudo bem. Eu vou ficar apaixonado do mesmo jeito. Além do mais, eu sei lidar com meninas. E se puxar para você então... Dessa vez quero loirinha. Eu quero muito que se pareça com você.
– Só fala isso agora. Depois vai reclamar que se parece comigo. – Lua revirou os olhos.
– Isso não é verdade. – Falei rindo. Eu sempre “reclamo” só para irrita-la.
– Eu sou apaixonado por cada detalhezinho de você. Sabe disso, loira. A não ser é claro, que você prefira que ela puxe para mim de novo. Eu vou adorar te lembrar disso todos os dias. – Falei cínico.
– Por que estamos falando ela? – Frisou. – Nem sabemos o que é ainda.
– Você que quer. Mãe não tem a intuição melhor? Vai que você acerte de novo.
– Hahaha... não é uma intuição. Falei que quero que seja menina, não que eu acho que é menina.
– Tá bom. Vou acreditar. – Não escondi a ironia em minha voz.
– Vamos dormir?
– Vamos. De manhã resolveremos sobre a consulta.
– Tudo bem. – Concordei e lhe dei um selinho.

Nem sei se consigo dormir. Mas Lua certamente vai. Já perdi as contas de quantas vezes ela bocejou durante a nossa conversa. Ela me deu um beijo no pescoço e se acomodou em meu colo. Colocou uma das pernas entre as minhas e me abraçou pela cintura. Lhe dei um beijo carinhoso na testa e desejei boa noite, Lua não me respondeu de volta.

Pov Lua

Londres | Quarta-feira, 21 de junho de 2017 – Dia da consulta.

Arthur está com expectativas desde domingo. Liguei para a clínica na segunda-feira e marquei a consulta para quarta-feira – o dia que Eliza tinha a agenda disponível. Estou nervosa e quase nem consegui dormi. Já avisei no trabalho que não vou hoje. Não sei como irei sair da consulta e isso me assusta.

– Bom dia. – Enfim, Arthur falou. Já estamos acordados há um tempo, mas nenhum dos dois quis dizer nada.
– Bom dia. – Respondi e ele me olhou.
– Você está nervosa? – Ele se virou de lado e me encarou.
– Estou. – Confessei. – E você?
– Também. Na verdade, estou preocupado. Quero que esteja tudo bem. Nem sei o que fazer, caso não esteja. Nem quero pensar nisso, mas é inevitável. – Contou e eu assenti, afirmando que eu compreendia.

Voltamos a ficar em silêncio. Na segunda-feira, Arthur foi me levar e me buscar no trabalho, assim como ontem. Ele já me perguntou várias vezes durante esses dois dias se eu estou bem e se eu senti alguma coisa diferente. Ele está bem preocupado mesmo. Eu posso sentir. Ainda não tocou na minha barriga e nem fez menção de que teria a intenção de fazer isso em algum momento.

Me lembro que da Anie, ele não me deixou em paz. Beijava e falava com a nossa filha – ainda na minha barriga – o tempo todo. Não podia me ver, que queria tocar na barriga. E ela respondia com aqueles chutinhos marcados a cada carinho que ele fazia – e eu tinha que ir ao banheiro logo em seguida.

Arthur ficava super animado e empolgado – ele tinha motivos para isso –, ela sempre correspondia só os carinhos dele. Eu podia passar horas pedindo para ela chutar, que ela só chutava quando bem entendia. Agora era só ele chegar com aquele “Oi, meu amor. Chuta para o papai.” Que ela chutava na hora e ele se derretia todo.

– A consulta é às nove, não é? – Me perguntou do nada.
– Nove e meia. – Respondi.
– Vou levantar. Como você quer fazer? – Indagou. – Por que vou levar a nossa filha para a escola. Você quer ir comigo ou vai esperar eu voltar?
– O que você acha?
– Que se você me esperar voltar, a gente vai se atrasar.
– É verdade. Porque fica contramão. – Lembrei. – Vou com vocês logo. – Afirmei e Arthur se sentou na cama.
– Quer tomar banho primeiro ou podemos tomar juntos?
– Por que você tá perguntando?
– Ora, agora nem sei mais as coisas que você quer.
– Não é assim também... – Me defendi. Tá, às vezes é assim. Arthur me olhou já com a certeza de que a razão é dele.
– Tá, não é assim. – Concordou comigo. Sim, fazem dois dias que ele está concordando com tudo o que eu digo, só para não me irritar. – Quer tomar banho junto? – Repetiu e eu assenti. Não consegui segurar o sorriso. – Então vamos. – Me chamou ao se levantar da cama.
– Vou tirar o pijama antes.
– Tudo bem. Vou te esperar no banheiro.

Faz tempo que não tomamos banho juntos – porque eu estava evitando antes do Arthur saber sobre a minha gravidez. Eu tinha receio de que ele desconfiasse. Ele sempre foi muito observador. Sempre notou as alterações no meu corpo sem muita dificuldade.

Sempre chamava a minha atenção quando eu perdia muito peso. Sempre me aconselhava a ir ao médico. Sempre pergunta se estou bem. Ele é bastante preocupado e atencioso. Às vezes eu reclamo, mas eu sei que tenho sorte de ter um parceiro assim.

Me levantei da cama e tirei o pijama. Minha barriga está normal. Nem teria como ele desconfiar, caso não soubesse. A gravidez está bem no início. Eu só a acariciava quando estava no banho. Porque eu estava sozinha e me sentia mais segura. Em casa eu sempre ficava com receio de que Arthur me visse e achasse estranho eu estar acariciando a minha barriga.

Caminhei para o banheiro só de calcinha. Agora eu não tenho mais com o que me preocupar e passando pelo espelho, realmente, Arthur está certo, meus seios estão bem maiores do que o normal. Eu ainda não tinha me atentado para isso. Está maior, eu já tinha percebido, mas não como estou percebendo agora.

– O que foi? – Ele já tinha ligado um dos chuveiros.
– Você tem razão... – Entrei no box junto com ele.
– Sobre? – Riu ao questionar. Fiquei esperando um: eu sempre tenho razão. Porque é isso que eu digo quando estou com a razão. Arthur se afastou e ligou o outro chuveiro.
– Que os meus seios estão maiores. Eu já tinha percebido. – Eu segurava os meus seios com as mãos.
– É muito perceptível, Lua.
– Porque eles são pequenos.
– Eles são perfeitos. Eu os amo, os acho lindos. Para com essa neura, por favor. Vamos só tomar banho? – Perguntou e eu assenti. – Vem aqui. – Desligou o meu chuveiro e me puxou para perto dele. – Você tem que parar de se colocar defeito, Lua. Você é maravilhosa, linda e eu não sou o único que acho isso. Agora nem é o momento para isso também. Você já parou para realmente se olhar no espelho? Eu só consigo notar o quanto você está gostosa e eu fico louco para dar umas belas de umas palmadas no seu bumbum, que eu também acho lindo e que você também já sabe disso. – Arthur desceu as mãos para o meu bumbum. Eu estava na pontas dos pés e o abraçava pelo pescoço. – Você me deixa dar uma palmadinha? Bem de leve, querida. – Prometeu e eu neguei com um balançar de cabeça. – É sim, Luh. Nossa! Que saudades eu senti de ficar assim com você. – Confessou me dando uma mordida bem de leve no ombro. – Você é muito malvada, Lua. As coisas que você faz comigo, nenhum marido merece. – Reclamou me fazendo ri. – Só uma palmadinha... eu prometoooo!
– Não. – Mordi meu lábio inferior depois que neguei o pedido. – Hoje você vai me paparicar?
– É claro que eu vou. Eu já estou fazendo isso. Não é possível que você não tenha percebido. – Arthur me olhou.
– É que hoje eu estou sensível. – Contei. Estou me sentindo carente também. Acrescentei mentalmente.
– Tudo bem, meu amor. – Arthur beijou os meus cabelos e subiu as mãos para a minha cintura. – Vamos começar logo esse banho ou perdemos a hora.
– É verdade. – Concordei.

Nos afastamos e eu voltei a ligar o meu chuveiro. Arthur passou o shampoo nos cabelos e logo em seguida ensaboou o corpo, fiz o mesmo processo. Ele foi o primeiro a sair do box e ir escovar os dentes.

*

– O que você acha desse vestido? – Mostrei para ele um vestido simples, na cor bege.
– Básico.
– Acha que fica bom? – Insisti.
– Veste aí. – Me pediu.
– Deixa eu colocar a calcinha. – Voltei para o closet. – Se ficar feio, fala a verdade.
– E quando foi que eu menti? – Arthur ergueu as sobrancelhas.
– Olha como fica os meus sutiãs. – Mostrei e Arthur riu. – É sério! Eu amo os meus sutiãs, Arthur!
– Eu não tenho culpa. A gente pode comprar uns novos, Lua. Isso não é nenhum problema. Quer ajuda pra fechar?
– Quero. – Respondi e me virei de costas para ele. – É que fica muito apertado aqui nas costas. – Falei e vesti o vestido. – Que tal?
– Você tá linda, meu anjo. Eu te olho e só consigo te enxergar grávida. Eu não vejo a hora da sua barriga crescer. – Disse olhando para a minha barriga, embora ainda não tivesse tocado nela. – Um vestido básico nunca fica básico em você.
– É o que você sempre me diz.
– É a verdade, meu amor. – Afirmou e me deu um beijo na testa. – Enquanto você termina de se arrumar, eu vou ver se a nossa filha já está pronta. – Disse e colocou o relógio no pulso. Arthur está com uma calça comprida jeans, uma camisa gola polo, nas cores cinza, branco e azul, e um tênis azul marinho.


– Tá. – Concordei. – Não vou demorar. Só falta calçar os sapatos e pentear os cabelos.
– Ok. Aguardo você lá embaixo. – Ele pegou as chaves e a carteira e saiu do quarto.

Voltei para o closet e fui pegar o meu sapato. Escolhi um de salto médio, na cor bege e depois penteei meus cabelos. Eu deveria ter secado, mas isso nos atrasaria.


Terminei de me arrumar, pus um relógio e peguei a minha bolsa. Os exames já estavam todos dentro dela – mesmo que, Eliza saiba do que se trata. Saí do quarto e fechei a porta. Anie não está mais no quarto dela e posso ouvir a conversa dela e do pai na sala. Desci a escada e os vi caminhando para a cozinha.

– Nossa, vocês não iam me esperar? Eu ia ficar chateada.
– Ia sim, mamãe. Eu e o meu papai ia esperar a senhola descer. – A garotinha correu e me deu um forte abraço. – Bom dia, mamãe.
– Bom dia, meu anjo. Hoje você está animada. – Notei apertando levemente a ponta do seu nariz.
– É. Eu tô. A senhola não vai trabalhar hoje?
– Não. – Sorri sem mostrar os dentes.
– Então pra onde a senhola vai?
– Uuhm... será que você consegue adivinhar? – Instiguei.
– Vai me deixar na escola também? – A mesa já está posta. Carla fez panquecas e bolinhos de queijo.
– Sim. –  Me sentei à mesa e Anie fez o mesmo. Arthur deve ter ido buscar algo na cozinha.
– Sabia que eu gosto muito quando a senhola também vai me deixar na minha escola?
– Oh, meu amor, a mamãe gostaria de poder te deixar mais vezes. – Fiz carinho em sua bochecha.
– É, eu sei. Mas eu intendo, mamãe.
– O que você vai querer comer? – Perguntei pegando um prato.
– Quelo uma panqueca e dois bolinhos desses. – Anie apontou para os bolinhos de queijo. Coloquei o que ela pediu no prato e depois servi um copo de suco. Arthur voltou da cozinha com uma xícara de café e sentou-se à mesa junto conosco.
– O senhor vai queler bolinhos, papai?
– Não. Eu comer só as panquecas mesmo. – Arthur respondeu.
– Com uva ou molangos? – Anie se referia a geleia.
– Com geleia de uva.
– Tá. Eu também vou queler de uva então.
– Tudo bem. – Arthur pegou o prato dela para passar a geleia na panqueca. – E você querida? – Ele me olhou.
– Eu prefiro com geleia de morango.
– Como você quiser, meu bem. – Ele passou também passou a geleia em duas panquecas para mim.

*

Deixamos Anie na escola há alguns minutos. Esse tempo é o que estamos em silêncio dentro do carro. Estou ficando cada vez mais nervosa. Estou com medo das coisas que Eliza irá nos dizer. Minhas mãos estão geladas. Eu olho pela janela do carro, mas não presto atenção em nada. O rádio do carro está desligado e o silêncio é incomodo. Nenhum de nós dois parece querer quebra-lo.

Chegamos em frente à clínica e Arthur demorou alguns poucos minutos para achar uma vaga e estacionar o carro.

– Preparada? – Ele sabe que a minha resposta é não.
– Você sabe a resposta. – Foi o que eu disse. – Parece que vai dar tudo errado quando entrarmos aí. – Olhei para a porta.
– Não diz isso nem de brincadeira, Lua. Meu Deus! às vezes acabamos atraindo as coisas que falamos. – Disse deixando bem claro que não tinha gostado nenhum pouco das minhas palavras. – Sei que você está nervosa. Eu também estou, mas nem isso nos dar o direito de ficar com esses pensamentos negativos. Eu estou fazendo de tudo para afastá-los da minha cabeça. Só penso que vou escutar que vocês dois estão ótimos. É isso que você, também, deveria pensar.
– É complicado... – Não consegui dizer mais nada.
– Eu sei que é, Luh. Eu, só não mais do que você, mas mais do que qualquer outra pessoa, sei o quanto tudo isso é complicado e arriscado. – Arthur suspirou. – Vai ficar tudo bem. Eu estou aqui. Não vou te deixar sozinha em nenhum momento. Vamos ficar juntos, aconteça o que acontecer. Eu te garanto, meu amor.
– Eu confio em você.
– Oh, minha vida. Eu te amo tanto. – Arthur me abraçou; ainda estamos dentro do carro. – Vamos tentar relaxar. Mesmo com medo temos que pensar que pode dar certo e que vai dar certo.
– Tudo bem. Você está certo de novo. – Admiti e Arthur sorriu.

Saímos do carro e entramos na clínica. Não tem nenhum segredo. Tenho que ir até a recepção, dar os meus dados para preencher a ficha e aguardar ser chamada.

Depois de preencher a ficha, fui com Arthur para o corredor onde fica o consultório da Eliza. Há três pacientes na minha frente. Me sentei em uma cadeira e Arthur em outra ao meu lado.

– As pessoas sempre acham estranho que eu não uso o seu sobrenome. – Girei a pulseira verde, de identificação no meu braço.
– Bobagem, loira. – Falávamos baixo. Mas sempre que preencho uma ficha, eles repetem no mínimo duas vezes o "você é casada?" – As pessoas se importam demais com a vida alheia. Como se sobrenome fosse mudar muita coisa. – Respondeu.

Nunca nos importamos com isso. Tanto que conversamos sobre esse assunto antes do casamento. Eu não queria trocar todos os meus documentos, dá uma trabalheira só. Arthur concordou comigo. Além do mais, eu sempre quis construir uma carreira sem estar na sombra de alguém. Já era muito difícil ser filha de pais advogados. Meus colegas na faculdade sempre acharam que eu já tinha uma vaga disponível no escritório em que os meus pais trabalhavam. O que nunca foi verdade. Por esse e outros motivos, eu mesma fui atrás de outro escritório.

– Sabe que eu casaria com você de novo? – Falei. Mesmo que já fôssemos casados. Arthur me lançou um olhar carinhoso.
– Eu também, todas as vezes que você quiser. – Afirmou e eu encostei minha cabeça em seu ombro. – Você está mais tranquila? – Indagou.
– Você me acalma. – Respondi e ganhei um beijo na testa.
– Que bom. Eu pensava que só estressava. – Acariciou os meus cabelos.
– Às vezes sim. – Pontuei e rimos baixinho.

Mais de meia hora depois, chegou a minha vez. Eu não estou mais tão nervosa igual quando cheguei. Ouvi o que Arthur disse sobre relaxar e ter pensamentos positivos.

– Olá, bom dia. – Eliza abriu um largo sorriso.
– Bom dia. – Eu e Arthur falamos juntos.
– Você deve pensar, vocês outra vez? – Arthur brincou.
– Esse ano ainda não. – Ela lembrou.
– Eu ia comentar a mesma coisa. – Falei e nos sentamos.
– O que te traz aqui, querida? – Se referiu a mim, uma vez que, não tem como Arthur ser o paciente se ela é pediatra, ginecologista e obstetra. – Você costuma marcar consultas de rotina, é sobre isso?
– Não mesmo. – Respondi. Eliza digitou alguma coisa no computador e depois me encarou.
– Então é sobre o quê? – Olhou de mim para o Arthur.
– Estou grávida. – Falei rápido e Eliza ficou me encarando por alguns segundos.
– Eu não vou perguntar como. – Deixou claro e eu acabei soltando um riso. Arthur estava muito sério. – Mas, eu também nunca disse que era impossível. Vocês sabiam disso. Eu disse que seria mais difícil. – Nos lembrou e eu assenti.
– E arriscado. – Arthur acrescentou.
– Sim, mais do que uma gravidez normal. Vocês conseguem me entender? – Questionou e assentimos. – Você fez algum exame de sangue? Descobriu há quanto tempo?
– Não. Fiz dois testes de farmácia. Os dois deram positivo. Minha menstruação está atrasada há dois meses. Descobri tem treze dias. eu fiz um teste em abril, que foi quando atrasou pela primeira vez, mas o teste deu negativo.
– Provavelmente porque a gravidez estava muito no início. Agora já têm mais ou menos dez semanas. Você sabe mais ou menos o dia que engravidou?
– Sei exatamente. – Olhei para Arthur e ele retribuiu o olhar. – Dia dezesseis de abril.
– Isso é ótimo. Podemos fazer uma contagem certa. Você fez o primeiro teste quando?
– Dia vinte e oito, três dias depois do atrasado. – Expliquei e Eliza voltou a digitar no computador.
– Essa semana é a décima. – Começou. – Quase o fim do primeiro trimestre. Você sentiu alguma mudança?
– Nem foi o atraso da menstruação que me fez desconfiar que poderia ser gravidez, e sim um enjoo matinal muito forte, que eu só senti assim na gravidez da Anie. Aí comecei a me preocupar. Até então, eu estava achando que era normal. Porque já tinha acontecido de atrasar outras várias vezes.
– Vocês não estavam se prevenindo?
– Até que começamos. Arthur – o olhei – se preocupou demais com esse detalhe...
– Mas Lua achou que eu estava ficando paranoico. – Ele me interrompeu.
– Eu estava tão tranquila, que acreditei que não teria como engravidar. As chances eram muito baixas.
– Mas existiam, Lua. – Eliza me lembrou. – Eu expliquei a você. Vocês estavam usando qual método?
– Camisinha mesmo. Esquecemos mais do que suamos. Não sei como Lua não engravidou antes. – Arthur foi bem sincero.
– Por conta de não ter acontecido nos outros atrasos, eu achei que nesse não aconteceria também. – Acrescentei.
– Você só sentiu enjoo?
– Até agora sim.
– Sem tonturas?
– Sem. Só os meios seios que estão bem inchados e sensíveis. Parece que nesses últimos três dias eles cresceram ainda mais.
– Três dias?
– Sim. Fazem três dias que contei para o Arthur.
– No dia dos pais. – Ele ressaltou.
– Que surpresa linda! – Eliza sorriu e eu quase chorei.
– Eu só consegui ficar assustado e preocupado. – Senti que Arthur me olhou. – Mas agora a ficha já caiu. Quero ter a certeza de que eles dois estão bem. Você conhece a sua paciente. – Ele ainda me olhava.
– Venham... – Eliza se levantou da cadeira – vamos ver no ultrassom como ele ou ela está. Sabem que a partir da oitava semana já podem pedir a sexagem fetal, certo? Eu posso ver pelo ultrassom, mas só dou a certeza com a sexagem. Às vezes o ultrassom pode nos enganar. – Explicou.
– Não sei se Lua já quer saber, mas eu prefiro aguardar mais um pouco. Descobrimos faz pouco tempo, eu prefiro curtir mais antes de começar a pensar em nome ou roupinhas. – Falou e eu concordei. Na verdade, eu estou com medo de me apegar e criar expectativas e acabar perdendo-o.
– Eu também prefiro não saber agora. – Suspirei. – No meu caso, tenho medo de que aconteça algo.
– Fica calma, querida. – Eliza me olhou. – Se você tomar todos os cuidados e seguir as minhas prescrições, você não precisa ficar com medo. Agora você tem que ter em mente que não está mais sozinha, que tem um bebê que ainda é muito pequeno. Eu sei o que você já passou. Torço para que dessa vez seja tudo diferente.
– Obrigada, Eliza. – Agradeci emocionada. Arthur me abraçou de lado e me deu um beijo no rosto.
– Então vamos ver como esse bebê está. – A mulher sorriu para me passar segurança.

Caminhamos até outra sala, onde está a maca e a máquina de ultrassom.

– Pode deitar e tenta ficar relaxada, certo? Vou fazer o morfológico na próxima consulta, mesmo que vocês ainda não queiram saber o sexo do bebê. Ele é necessário para vermos não só o sexo, mas também diagnosticar algumas doenças e tratar o quanto antes. Eu imagino que vocês não tenham se esquecido disso.
– Não. Tudo bem. Só não queremos saber o sexo ainda. Mas vou fazer todos os exames necessários.
– Vou passar algumas vitaminas, o ácido fólico, além de uma recita com alguns alimentos que você deve consumir diariamente.

Me deitei na maca e Eliza me entregou um pano para eu me cobrir da cintura para baixo. Levantei o vestido e tentei relaxar. Arthur estava sentado ao meu lado e segurou uma das minhas mãos.

– Então vamos lá. – Eliza está visivelmente contente. Ela colocou o gel em minha barriga e começou a espalha-lo com o aparelho. Logo a imagem começou a ser formada e Eliza estava muito atenta a tela, assim como o Arthur. – Vou fazer todas as medidas, ok? Depois vamos escutar o coraçãozinho. Aqui não dá para ver o sexo, nem se eu quisesse. É muito pequeno, ainda está se formando e essa ultrassom tradicional não me permite ver com muita clareza, como vocês mesmos podem observar.

Não sei quanto tempo ela ficou medindo o feto, fazendo anotações e printando a tela. Eu só queria que ela nos dissesse que estava tudo certo.

– Preparados para escutarem o coraçãozinho? As medidas dele estão todas dentro do que consideramos normal e saudável. Você está certa, pelo tamanho, contei dez semanas mesmo. Então já podemos marcar uma data prevista para o nascimento dele ou dela. Hoje são vinte e um de junho. Você disse que engravidou dia dezesseis de abril, então podemos esperar até o dia vinte e um de janeiro. Isso é claro, se você quiser tentar parto normal. Dia vinte e um de janeiro fazem quarenta semanas. Vocês estão me entendendo? – Tanto eu quanto Arthur, assentimos. – Querem escutar o coração.
– Sim. – Eu e Arthur respondemos juntos e nos olhamos. Eu já estou prestes a chorar.
– Vai dá tudo certo. – Ele sussurrou e eu sorri. Eliza ligou o som e eu não pude segurar as lágrimas. Olhei para a tela do computador e vi um círculo marcando que o bebê era aquele pontinho bem pequeno, que não parava de se mexer, mesmo que eu não sentisse os movimentos. Os batimentos eram fortes e parece que meu coração acelerou junto. Senti Arthur depositar um beijo carinhoso na minha bochecha, onde as lágrimas já tinham deixado rastros. – Eu te amo. – Me disse. Virei o rosto para encara-lo e movi os meus lábios em um “eu te amo”, minha voz não saiu. Estava embargada.  Arthur acariciou os meus cabelos e voltou a olhar para a tela do computador. Ele está muito emocionado, seus olhos não escondem essa emoção. Ele nem precisa derramar lágrimas igual a mim.
– É um bebê saudável e bem disposto. Nas próximas semanas talvez você consiga distinguir esses movimentos. Como você já teve uma gravidez antes, não é uma regra, mas você pode começar a sentir mais cedo os famosos chutinhos.
– Essa é a parte que o Arthur mais gosta. – Contei. Arthur sorriu.
– Anie sempre me respondeu. – Disse convencido.
– Querem uma fotinho?
– Claro. – Arthur respondeu prontamente.
– Duas, só para não dar briga. – Eliza disse divertida. – Anie já sabe?
– Não. Só nós dois e agora, você.
– Não vejo a hora de contar para ela. Nem faço ideia da reação. Ela é muito ciumenta, mas gosta de crianças. – Arthur já estava todo bobo.
– É só irem preparando-a. Conversar sempre ajuda muito. – Eliza nos aconselhou. As fotos foram impressas e ela nos entregou.
– Obrigada. – Agradeci olhando para a foto.
– Obrigado. – Arthur também agradeceu. Temos fotos de os ultrassons que fizemos na gestação da Anie. Eliza me entregou dois lenços descartáveis para que eu limpasse a minha barriga e se levantou da cadeira. Me sentei na maca e abaixei o meu vestido.
– Agora que já sabemos que o bebê está bem, vamos para outra parte. Aquela mais chatinha, só que necessária. – Saímos da sala do exame e voltamos para a primeira sala e nos sentamos à mesa. –  Preciso te receitar algumas vitaminas e claro, te dizer quais os medicamentos que você precisa evitar. Inicialmente, está tudo ok com vocês dois. Vi que o colo do útero está mais baixo, nada muito assustador. Você precisa evitar movimentos bruscos, exercícios puxados. Eu vou pedir um repouso, nada de estresses, de nervoso. Você precisa se alimentar bem. Vou marcar seu retorno para o dia três de julho, tudo bem? É numa segunda-feira. Você tem preferência por horário?
– Se for à tarde, é melhor para mim.
– Ok. Dia três de julho, às quatro e meia da tarde. Tudo bem assim?
– Tudo. – Concordei.
– Nesse dia farei o morfológico.
– Certo.
– Vou te pedir uns exames de sangue. Coisas normais de toda gestante. Mas o que eu quero mesmo, é que você repouse sempre que estiver sem nada para fazer. Que você siga uma alimentação saudável e tome as vitaminas nos horários certos. Se você sentir algum desconforto, cólicas fortes, sangramentos, não hesite em ligar. Pode ser qualquer horário. Preciso repetir o porque de todas essas precauções? – Ergue uma sobrancelha e parece que eu estava ouvindo Arthur chamar a minha atenção.
– Não.
– Ok. Vou confiar em você.
– Quero fazer uma pergunta. – Arthur disse mais baixo e Eliza o olhou.
– Pode fazer, Arthur.
– Se tivessem mais riscos, eles apareceriam agora no início ou mais lá para a frente? Podemos ter surpresas?
– Arthur, não é o que desejamos para uma gravidez, mas os riscos podem aparecer com mais semanas sim. Esses três primeiros meses são os mais arriscados, mas isso não quer dizer que nos outros não haverá nenhum risco. No caso da Lua, já sabemos os outros motivos também. O risco aqui não quer dizer que ela vai sofrer um aborto igual na gravidez anterior. O risco foi o tratamento invasivo que ela foi submetida para a retirada do feto, que acabou comprometendo o útero dela. Eu estou surpresa que ela tenha engravidado sem nenhum tratamento. Pelo método natural vocês sabem que a chance era perto de zero. Quero que as surpresas de vocês sejam todas positivas.
– Nós também. – Confessei.
– E quanto ao sexo, algum problema? Você disse que o colo do útero está mais baixo. – Arthur estava bem preocupado. Ele vai seguir à risca tudo o que Eliza disser.
– Agora, eu não recomendaria. Mas vejam bem, é a minha visão médica. Se Lua estiver disposta e se sentindo bem, não vejo problemas. É claro que tem que ser uma coisa mais contida, em lugares confortáveis e movimentos mais lentos e cuidadosos. Isso é o tipo de coisa que só ela poderá te dizer. – Eliza sorriu e eu aposto que o meu rosto deve estar vermelho. Arthur me encarou com cara de quem ia dizer mais alguma coisa. E disse:
– Transamos na sexta. Eu não sabia da gravidez. Isso é um problema? – A voz dele quase vacilou.
– Não. O bebê está bem, Lua está bem. O colo baixo do útero tem haver com a situação que lhes expliquei anteriormente. Vocês tomaram cuidado? – A médica me olhou.
– Sim. Eu pedi a ele que fosse mais cuidadoso. E ele é sempre. – O olhei. – Dessa vez só foi mais. Pedi justamente porque eu sabia da gravidez e dos riscos.
– Mais alguma dúvida?
– Acho que não. – Olhei para Arthur novamente.
– Então só repouso e as vitaminas? – Arthur perguntou.
– No momento sim. Pode parecer coisa pouca, mas são cuidados essenciais. Principalmente, no caso da Lua. Vamos ter mais atenção. Na próxima consulta saberemos mais coisas e ainda tem os exames de sangue. Vamos ver como anda a sua saúde.
– Tudo bem. Vou logo marca-los. – Assegurei.

Nos despedimos de Eliza e eu marquei os exames de sangue para a sexta-feira à tarde, dessa mesma semana.

– Não vamos transar até a próxima consulta. – Foi a primeira coisa que Arthur disse quando entramos no carro.
– Ela disse que tudo bem se eu estiver disposta.
– Nem pensar. Ela disse que não é para nos preocuparmos, mas já fiquei preocupado quando escutei colo do útero mais baixo. Isso não é normal. E se descolar? Nossa, nem quero pensar nisso. Acho que vou pesquisar a respeito.  – Ele ligou o carro e me encarou. – É sério, Lua. – Enfatizou.
– Tudo bem. Mas você foi o primeiro a me pedir calma e agora você tá fazendo tudo ao contrário. – Notei e coloquei o cinto de segurança.
– Eu estou calmo, mas isso não quer dizer que não posso me preocupar. Você ouviu o que ela pediu? Repouso, ela deixou bem claro isso. E é tudo o que você vai fazer. Repousar, ficar tranquila, ficar quieta, dormir, ficar deitada, sem estresse. Você ouviu, Lua.
– Meu Deus, Arthur! – Exclamei. – Eu ouvi. É você quem vai precisar ficar tranquilo. Vai ficar os nove meses sem transar?
– Praticamente só faltam seis meses. – Ele sorriu. – E se for para a saúde de vocês, sim, ficarei sem transar. Eu sei conter os meus desejos, mas depois, aah... Lua, você vai ter que estar preparada. – Me avisou e eu ri alto.
– Até parece. Vai continuar preocupado do mesmo jeito.
– Nossa, você se aproveita da minha preocupação, sua cínica. – Arthur apetou minha coxa. – Mas é sério, não vamos transar até sabermos se está tudo seguro mesmo na próxima consulta.
– Tudo bem, amor. Tudo bem. – Concordei.
– Nossa, quase chorei quando ouvi o coração batendo. – Comentou.
– Quase?
– Aaah... se eu começasse, ia chorar igual criança, você me conhece. – Admitiu. Ele não tinha chorado, mas seus olhos estavam cheios de lágrimas.
– Ai, eu não consegui. Eu já queria chorar desde que vi a imagem se formando. – Confessei.
– É a coisa mais linda e especial. Nossa, só lembrei de quando foi da Anie. Você lembrou disso?
– Acho que eu fiquei ansiosa demais para escutar que estava tudo bem com ele. – Respondi.
– É normal. Eu te entendo. Eu pensei em muitas coisas. Eu te amo muito, sabia? – Arthur me olhou. O sinal tinha acabado de fechar. Me inclinei e lhe dei um selinho.
– Amo você mais que tudo.

Continua...

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

N/A: Olá, boa madrugada. Nem sei como consegui postar agora. Meu plano era postar só essa semana – nem o dia eu sabia. Que bom que deu para postar hoje. <3

Quero agradecer imensamente pelos comentários – tanto os do blog quanto os do grupo no whats – no capítulo anterior. Eu fiquei extremamente feliz e emocionada com cada palavra e com todo o carinho de vocês para comigo e com a fanfic. Vocês são os melhores. Obrigada mesmo! Esse retorno de vocês é muito importante para mim. Eu sempre digo isso a vocês. Eu fico tão contente quando ele vem hahaha vocês nem fazem ideia.

Eu sei o quanto vocês torceram e esperaram por essa notícia e sei o quanto vibraram quando ela chegou. Espero que eu continue surpreendendo e alcançando as expectativas de vocês. Confesso que já tenho tudo arquitetado aqui na minha cabeça e que os próximos capítulos serão tão emocionantes como estes estão sendo.

Espero que tenha gostado desse capítulo, e que tenha sido tão emocionante lê-lo como foi emocionante para eu escrevê-lo. Podem ter certeza de que eu continuarei dando o meu melhor a cada novo capítulo, mesmo que eu demore a trazer atualizações. Jamais vou deixa-los sem respostas.

Comentem sobre o capítulo e sobre o que sentiram ao lê-lo. Estou ansiosa para ler os comentários de vocês. Posso contar com isso?

Abriram os links dos looks?

Vocês sabem que eu vou dar-lhes uns sustinhos, não sabem? Se não, podem ficar com essa certeza! Hahaha

Obrigada mais uma vez pela compreensão e pelo carinho de sempre.

Um beijo e até a próxima atualização.
Tenham uma semana abençoada.

13 comentários:

  1. Que capítulo maravilhoso Milly,você sempre me surpreende a cada post! Esse Arthur sempre muito atencioso e cuidadoso, não é novidade né! Estou adorando como a história está se desenvolvendo, essa notícia veio para alegrar e completar ainda mais essa família linda! Ansiosa para ver a reação da Anie com essa notícia e também a reação dos amigos e familiares,tenho certeza que todos vão vibrar demais com essa novidade que só veio para aumentar o amor dessa família! Ansiosa para os próximos capítulos! Obrigada por nos manter sempre atualizadas! Um beijooooo e até a próxima atualização! ❤️❤️

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  2. Que capítulo maravilhoso Mille vc sempre arrasa a cada postagem, tadinhos do casal todo preocupado com o bebe e com a saude da Lua ainda bem q esta tudo bem e saudáveis trnho certeza de q o Arthur vai seguir ao pe da letra tudo o q a Médica falou e vai fica no pe da Lua .

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  3. Eu sou muito apaixonada por essa história, sério!!! você sempre surpreende a gente com capítulos maravilhosos, eu fiquei muito emocionado lendo. Arthur é tão atencioso e carinhoso!! Tomara que tudo ocorra bem com essa gravidez e que os dois possam ficar mais calmos e curti-la !
    Estou doida para saber como a Anie vai reagir a essa notícia, espero que ela goste de ganhar um irmão, já até imagino ela querendo ensinar tudo !!!
    É Moça eu sei bem que a senhorita está preparando uns sustos por aí, só não sei se eu to preparada pra saber o que é viu kkkkkkk. Eu amei o capítulo Milly você arrasa demais !!!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Eu não aceito nada menos que um cara como o Arthur, gente... que homem maravilhoso ♡♡ estou contente pela gravidez da Lua, confesso que também estou com medo! Ela não vai perder a criança, né? E a gravidez vai ser super saudável né?

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  6. capítulo incrível como sempre, estava ansiosa para a atualização..
    Amo esse casal e estou muito ansiosa pra ver a reação da Anie..
    Que susto vai ser esse ein?! Espero que a Lua não perca o bebê :(
    Ansiosa para o próximo cap.

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  7. Amei o capítulo ansiosa para o próximo

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  8. Amo essa história, Arthur é simplesmente incrível

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  9. Oi Milly, eu sou nova aqui, cheguei na semana passada e logo me apaixonei pela história, ainda não li desde o início, só do cap 82 por aí até aqui e eu AMEI, vc escreve muito bem, estou ansiosa para a próxima atualização, tem alguma forma de eu saber assim q ela sair ? Demorei pacas p aprender a mexer aqui hahaha
    Medo desses sustinhos

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    1. Olá, Gabriela! Seja muito bem-vinda! Que amor! Fico muito feliz que você tenha gostado da história (mesmo que ainda não tenha lido toda, até aqui) Obrigada pelo elogio! Isso me motiva muito a continuar escrevendo!

      Tenho um grupo no WhatsApp, que é da fanfic. Se você desejar entrar, é só colocar o número aqui, que eu te adiciono.

      No momento, estou tendo aulas e alguns outros trabalhos, por esse motivo ainda não atualizei a fanfic.

      Um beijo e até breve!

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  10. Aiii meu Deuss, até eu tava nervosa para ler essa consulta kk. Não vejo a hora de contarem a anie. Cap maravilhoso 😍😍

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  11. Olá Milly, comecei a ler a web a pouco mais de uma mês e gostaria muito que me colocasse no grupo da fica. (32)8859456

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    1. Bom dia, Samara. Acho que o seu contato está incorreto. Não aparece o seu WhatsApp para mim.

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