Little Anie
– 3ª Parte
Bem, eu
encontrei uma mulher
Mais forte
que qualquer pessoa que conheço
Ela
compartilha dos meus sonhos [...]
Eu
encontrei um amor
Para
carregar mais do que apenas meus segredos
Para
carregar amor, para carregar nossos filhos [...]
Amor,
apenas segure minha mão
Seja minha
garota, eu serei seu homem
Eu vejo meu
futuro em seus olhos [...]
Querida, eu
estou dançando no escuro
Com você
entre meus braços [...]
Eu tenho fé
no que vejo
Agora sei
que conheci um anjo em pessoa
E ela está
perfeita
Eu não mereço
isso
Você está
perfeita
– Perfect |
Ed Sheeran
Pov Arthur
Eu ainda não consigo
acreditar no que Lua acabara de me contar e mostrar. Definitivamente, nem vê
foi o suficiente para que eu acreditasse. Estou em choque. Além de muito
preocupado, extremamente preocupado. É claro que nem sonhávamos com uma nova
gravidez nessa altura do campeonato. Perdi as contas de quantas vezes disse à
Lua que não queria mais ter filhos. Nós dois sabíamos que uma possível gravidez
seria arriscada demais, mesmo com todos os tratamentos a nossa disposição –
temos condições para banca-los, mas nem isso me tranquiliza.
Não faz nem uma hora que Lua
me deu essa notícia. Parece que estou anestesiado ou algo perto disso. Não
quero, de jeito nenhum, deixa-la assustada ou ainda mais preocupada. Sei que
ela também está preocupada e nervosa com essa novidade. É claro que acredito
que ela não fez de propósito. A questão nem é essa, jamais vamos procurar um
culpado. Até porque, já temos idade suficiente para evitar esse tipo de
pensamento.
Estamos abraçados há mais
de meia hora. Fico pensando em que momento Anie vai resolver aparecer aqui no
quarto. Nem sei como contaremos que ela vai ganhar um irmãozinho ou uma irmãzinha.
Nossa, ano passado ela pediu muito por isso, mas agora, nem toca no assunto. Sei
que ela prefere que todas as atenções estejam voltadas para ela.
Cinco anos depois, que
quase foram três, se Lua não tivesse perdido o bebê ano retrasado. Como assim
já vai fazer dois anos? Ao mesmo tempo que parece muito tempo, parece pouco. O
acontecimento ainda é recente e até há alguns meses, ainda lamentávamos a perda
do bebê. Agora não me parece nada diferente. Estou ainda mais assustado, com
medo de perder mais um filho e, também, a minha mulher.
Eu sei que deveria ter
tomado mais cuidado e ter insistido mais quando Lua disse que estava tudo bem
em não nos prevenirmos. Não que na hora não estivesse, nesses momentos a gente esquece
dos riscos e acaba só aproveitando. Mas agora eles estão correndo perigo e
mesmo que eu lute para não apontar um culpado, eu estou achando que a culpa é
minha, por ter cedido todas as vezes.
Estou agoniado para que
Lua marque logo uma consulta, para ela fazer todos os exames necessários e
ouvirmos da boca da Eliza: que está tudo bem e que vai continuar estando
tudo bem. Realmente, eu não esperava mais ouvir que seria pai novamente e
creio que Lua, menos ainda, que fosse mãe de novo. Como contaremos aos pais
dela essa novidade? Se Emma já está me odiando, imagine depois que souber disso
– ainda mais com todos os riscos, não só os que já esperamos de uma gravidez,
mas com os cuidados mais redobrados dessa vez.
– No que você está pensando?
– Talvez agora já fizesse uma hora que estamos abraçados e em silêncio. No que
dependesse de mim, permaneceríamos assim. Mas Lua nunca consegue ficar quieta
por muito tempo.
– Em muitas coisas. –
Suspirei.
– Sabe, eu me lembrei de
uma coisa agora. Falamos sobre isso há um tempão. – Começou, cautelosamente.
– Que coisa? – A olhei
confuso.
– Sobre os dois
quererem... – Respondeu baixo.
– É um pouco tarde para
falarmos sobre isso, Lua.
– Eu sei... o momento
agora não é conveniente. Eu só lembrei, porque era uma coisa que você queria
muito.
– Faz tempo, Luh. Isso
foi antes de acontecer o que aconteceu com você. Eu não quero falar sobre isso.
– Deixei claro e fiz de tudo para não soar grosseiro.
– Desculpa então. – Pediu
e saiu do abraço. – Daqui a pouco a Anie acorda. Ela está animada para te
entregar um presente. Você já deve imaginar o que seja. – Contou e pude sentir
o esforço que ela fazia para não parecer desanimada. Já eu, nem consigo
disfarçar.
Lua saiu do quarto e
fechou a porta. Se a minha filha não estivesse prestes a entrar por aquela
porta, certamente eu me deitaria na cama e me permitiria chorar. Não que eu
esteja triste, mas estou com muito medo. Odeio sentir medo.
– Palece que o senhor
acordou pimeiro! – Ouvi Anie exclamar. – Eu quelia ter feito uma surplesa. –
Contou. Me perdi em pensamentos e nem notei quando a pequena entrou no quarto.
– É. Eu acordei bem cedo.
– Sorri carinhosamente. Anie será uma irmã mais velha. Será que ela vai
gostar da novidade? Me ajeitei na cama e a pequena, sorridente, colocou a
sacola do presente sobre a mesma e subiu para me dar um abraço.
– Feliz dia dos pais.
– Disse ainda abraçada a mim.
– Obrigado, meu amor.
Sabia que eu te amo demais?
– Eu que amo mais! –
Esclareceu e eu concordei. Anie odeia ser contrariada. – Eu amo muito você,
papai.
– Eu te amo, meu neném
mais lindo. – A abracei mais forte.
– Eu escolhi um plesente.
É um plesente que o senhor gosta um monte. Aí eu mesma que escolhi, tá?
– Tá ok. – Sorri e Anie
me entregou a sacola, que já entregava a loja e o objeto. – Obrigado. –
Agradeci novamente e abri a sacola e depois a caixinha. – Nossa, filha – fiquei
encantado e ainda mais apaixonado – que relógio lindo. Eu ainda não tinha um
relógio assim, desse modelo. – Confessei. O relógio é dourado, certamente,
banhado a ouro. Eu tenho muitos relógios, mas nenhum igual a esse.
– Eu sabia. Foi por isso
que eu quis compar esse. O senhor gostou?
– Eu amei, meu anjo. Ele
é lindo. Muito lindo.
– Olha, vem com uma
pulseila. Até que é bonita. – Anie pegou a pulseira e me entregou.
– Sim. É estilosa. Você
achou isso também?
– Achei, papai. – Anie
sorriu sem mostrar os dentes. – Vamos tomar café da manhã?
– Vamos. Você está com
muita fome? – Indaguei. Eu não estou com nenhum pingo de fome. Guardei o meu
presente com todo cuidado de volta na caixinha e me levantei da cama.
– Me leva no colo? – A
pequena me pediu.
– Vem. – Carreguei ela no
colo.
– Papai? – Anie me abraçou
pelo pescoço.
– Oi, filha.
– Sabia que tem torta de
molangos com chocolate? Muitos molangos! Eu que pedi pra Carla fazer.
– Foi? Eu não sabia não,
meu anjo.
– É pro seu dia, papai. –
Ela me deu um beijo carinhoso na bochecha.
– Ooow! Para o meu dia? Muito
obrigado. Amo torta de morango com chocolate. – Confessei.
Desci a escada com ela em
meu colo e não encontrei Lua na sala.
– Carla, cadê a minha
mamãe? – Coloquei Anie sentada em um dos bancos em frente o balcão que divide a
cozinha.
– Bom dia, Carla.
– Bom dia, Arthur! – A
mulher sorriu gentilmente.
– Lua não está aqui? –
Também perguntei, pois não a vi na cozinha e nem lá fora.
– Ainda não a vi, Arthur.
– Onde que tá o meu
cachorro também? – Anie bateu as mãozinhas sobre o balcão. – Quelo chocolate
quente.
– Vou ver aonde ela está.
– Pontuei e saí da cozinha.
Não faço a mínima ideia
de onde Lua se meteu. Estou me sentindo culpado por ter falado mais cedo com
ela daquela maneira. Sei que ela não pode passar por nervoso.
Abri a porta do
escritório na esperança de encontra-la lá, mas ele está vazio. Fechei a porta
novamente e voltei para a sala. Nem Bart estava ali. Provavelmente, ela foi dar
uma volta com ele – o que é ainda mais estranho, Lua não sai sozinha com o
cachorro. Ele é elétrico demais e ama correr. Só a nossa filha mesmo para
acompanhar o pique dele.
Andei até a porta e abri.
Os dois não estão na frente de casa e cachorros não podem passear sem coleira e
guia pelo condomínio. É uma das regras para quem tem animais de estimação. Saí para
ver se os encontrava ali por perto e os vi parados de frente para rua – ainda
no espaço que pertence a nossa casa. Andei até eles.
– Lua, o que vocês estão
fazendo aqui? – Perguntei assim que parei ao lado deles. Bart pulou e apoiou as
patas da frente na minha barriga. Acariciei sua cabeça e ele deu uns três
latidos.
– Bart só queria dar uma
volta. – Me respondeu e olhou para o cachorro.
– Sem guia, loira? –
Observei. – Você sabe que não pode. – Comentei.
– Não saímos daqui,
Arthur. – Ela me assegurou.
– Mesmo assim... Vem,
vamos entrar. Anie perguntou por você. Vamos tomar café. – Convidei.
– Não estou muito a fim
de tomar café.
– Lua, eu sei que a minha
reação não foi nada do que você imaginou, mas eu só quero um pouco mais de
tempo, ok? Foi uma notícia e tanto. –
Falei sincero. Não consigo agir de outra forma. – É uma notícia e tanto. – Me corrigi. – Sei
que pra você não foi nada diferente, querida. Deve ter sido mais assustador,
ainda mais por ter guardado isso sozinha por mais tempo.
– Não quero que briguemos,
Arthur. Não por conta do bebê. Sinceramente, tenho certeza de que não vou
suportar viver entre uma briga e outra. – Confessou. – Não vai fazer bem para
nenhum de nós. – Acrescentou.
– Eu não estou falando em
brigar, Lua. Relaxa. Nem eu que quero brigar. Acho que nem tem porque
brigarmos. Você concorda? Vamos entrar, depois conversamos mais. Vamos nos
acalmar, você precisa se acalmar, ok? Não quero que fique nervosa e muito
menos, preocupada. – Falei calmo. – Vamos, Bart! – Chamei o cachorro. – Antes
que levemos uma multa.
– Nós estamos na frente
de casa, Arthur. Mais para o lado, na verdade... – Se corrigiu e eu sorri. –
Não queria que você ficasse triste hoje. Quer dizer, nenhum um dia eu queria.
– E quem disse que eu
estou triste? – Questionei. Já caminhávamos de volta para dentro de casa. – Só
estou preocupado. Eu já perdi as contas de quantas vezes já te disse isso hoje.
– A olhei, mas Lua seguia sem me olhar.
– É que eu achei que
seria uma boa ideia contar hoje, por conta da data e tudo. – Justificou.
– Hoje ou qualquer outro
dia, eu ficaria preocupado do mesmo jeito. – Pontuei. – Não quero que você
fique se culpado. Você sabe que isso vai passar, depois eu vou ficar feliz. Eu
só preciso processar essa informação.
– E se você não ficar? –
Lua me olhou quando paramos em frente a porta de casa.
– Entra, Bart. –
Mandei. Lua abriu a porta. – É óbvio que eu vou ficar, Lua. É um filho nosso. Pelo
amor de Deus, eu só estou com medo. Mas não vou fugir, não tem a menor
possibilidade disso acontecer.
– Você gostou do
presente? – Ela mudou de assunto e eu fiquei encarando-a. – Da Anie. –
Esclareceu.
– Aaah... – sorri – eu
amei. Você sabe que eu não tinha nenhum daquele modelo.
– Foi ela mesma quem
escolheu. – Contou.
– Eu sei. Ela me disso
isso. – Fechei a porta. – Tudo vai se resolver, Luh. Fica tranquila. – Pedi
abraçando-a pelo ombro.
– Espero que sim. – Ela
me olhou e curvou os lábios em um sorriso. Fiquei tentado a lhe dar um beijo,
mas acabei apertando carinhosamente o seu ombro.
– Aaaiii! Vocês demolalam.
Eu até já comecei a tomar meu chocolate. Eu disse que estava com fome, papai.
– Tudo bem, meu amor. –
Sorri e lhe dei um beijo na bochecha. – Fui atrás da sua mamãe.
– A senhola estava com o
meu cachorro? – Anie se virou para olhar a mãe.
– Sim. – Lua também lhe
deu um beijo. – Fomos dar uma voltinha.
– Por que a senhola não
me espelou então? – A pequena questionou.
– Porque você ainda
estava dormindo. – Lua explicou.
– Então agola a gente
pode ir uma outa hola?
– Pode, claro que sim,
filha. – Lua sentou-se ao lado da nossa filha. – Tem torta?
– Sim, é de molangos.
Molangos com chocolate, mamãe. A senhola quer um pedaço? – A pequena lhe
ofereceu um pedaço de torta e Lua aceitou. Coloquei uma fatia de torta em um
prato e entreguei a Lua.
– Obrigada, meu anjo. –
Ela deu um beijo na nossa filha. – Obrigada, amor. – Me agradeceu. Lhe joguei
um beijo e me sentei para tomar o café da manhã.
À noite.
Desde de manhã não falei
mais com Lua sobre a gravidez. Depois do almoço, passei a tarde com a Anie e o Bart
na sala, assistimos três filmes. Lua almoçou conosco, mas não quis assistir os
filmes – nem insistimos, sabemos que ela não curte muito esse tipo de programa.
Jantamos há algumas horas
e eu fiquei de dar banho em Anie e coloca-la para dormir. Meu dia dos pais foi
um misto de surpresa e preocupação. Eu posso assegurar que ainda estou em
choque com a novidade. Talvez nem fosse para tanto, mas se fosse em uma outra
época, sem todos os riscos, eu certamente estaria explodindo de felicidade que
nem conseguiria disfarçar.
Anie não demorou a
dormir, porém, antes tive que contar uma historinha. Amanhã ela acorda cedo
para ir à escola, assim como a Lua tem que ir ao trabalho. Anie é a minha paz.
Me tranquiliza demais saber que ela está bem e feliz. Ela é uma garotinha
esperta, decidida, divertida, teimosa, inteligente, ciumenta, curiosa e muito
mandona, assim como a mãe. Sei que ela tem muitos traços, da fisionomia,
parecidos comigo, mas de personalidade, é a Lua inteira. Eu posso ver sem
nenhum esforço – e eu adoro isso. Às vezes eu reclamo só para implicar mesmo.
Lua odeia que eu diga que isso é um defeito, e eu concordo com ela.
Eu desliguei a luz do
quarto depois de checar que a nossa filha estava mesmo dormindo e saí do mesmo,
fechando a porta com cuidado. Já devem ser quase dez horas da noite. Nossa casa
está silenciosa demais. Pensar nisso me faz lembrar que, talvez, daqui a alguns
meses, haverá choro de criança movimentando nossas noites, agora tranquilas.
– Achei que já estivesse
dormindo. – Fechei a porta do nosso quarto e Lua virou o rosto para me olhar.
Não que eu tenha demorado de propósito.
– Eu dormi, praticamente,
a tarde inteira. – Me contou. Não me surpreendi. Sei muito bem que ela subiu
para o quarto para tal coisa. – Anie demorou para dormir?
– Não. Hoje eu só tive
que contar uma história, que se fosse mais longa, ela teria dormido antes de eu
terminar de ler. – Respondi. – Ei, esse programa parece divertido. – Pontuei
olhando para a televisão.
– É mais ou menos. São pegadinhas.
– Lua olhou de volta para a tevê. Ela já estava de pijama. Certamente, já tomou
banho. Nem sei porque ela está com a televisão ligada.
– Você já tomou banho?
– Sim. Faz tempo. Eu
estava com calor. – Disse, mas sem me olhar.
– Então eu vou tomar um
banho rápido. Não vou demorar, ok? Se não for pedir muito, eu queria que você
me esperasse acordada.
– Tá bom, Arthur. Eu
estou sem sono mesmo. – Dessa vez ela me olhou e abriu um singelo sorriso.
– Não demoro. – Voltei a
afirmar e segui para o banheiro.
Quero conversar com ela. Quero
saber se ela faz ideia de quando fizemos o bebê. Se já fez dois meses, com
certeza, foi em abril, porque em março ela menstruou. Lembro que no fim de
março não fizemos nada, porque a menstruação dela sempre desce na última semana
do mês.
Tomei um banho rápido e
escovei os meus dentes. Saí do banheiro e encostei a porta. Lua permanecia
deitada na cama e assistia o programa que passava na televisão.
– Voltei. – Pontuei. Lua
me olhou rapidamente.
– Você vai querer que eu
desligue a tevê? – Me perguntou.
– Na verdade, eu quero
conversar com você. – Confessei e fui pendurar a toalha no banheiro e depois
voltei para a cama. – Você quer continuar assistindo?
– Conversar sobre a
gravidez? – Lua se ajeitou na cama e me encarou.
– Sim. Quero te fazer
algumas perguntas. – Expliquei.
– Pode fazer, Arthur. –
Lua desligou a televisão.
– Você disse que fez dois
meses. – Comecei e olhei rapidamente para a sua barriga e depois para os seus
olhos. Lua assentiu. – Você sabe quando foi? – Indaguei e Lua ficou me
encarando. – Que o fizemos, Luh... acho que foi em abril.
– Eu sei, amor. Você está
certo, foi em abril. Foi no dia do nosso aniversário de casamento. – Respondeu.
– Em Liverpool? –
Indaguei. Mesmo já sabendo que a resposta seria sim. Fomos para lá no nosso
aniversário de casamento. – Você tem quanto porcento de certeza? – Acrescentei.
Não foi só nesse dia que transamos em abril.
– Toda a certeza, Arthur.
– Lua sorriu de maneira discreta.
– Eu lembro mesmo que
você disse várias vezes que foi diferente.
– Foi especial. – Ela acrescentou. – Eu não consigo explicar. Acho que eu
senti... sei lá. – Lua encolheu os ombros.
– Ai, meu Deus! –
Exclamei. – Você não bebeu no aniversário das crianças, não é mesmo? –
Perguntei apreensivo.
– Não. Foi você quem
bebeu, lembra? Depois eu falei que pediria outra bebida, mas eu acebei nem
pedindo. Esqueci, na verdade. – Lembrou e eu fiquei encarando-a.
– Loira, nós transamos na
sexta-feira;
– Sim, e daí? – Lua
questionou confusa.
– É que temos que tomar
cuidado. Na realidade, tomar cuidado com tudo agora. Pelo menos até falarmos
com a sua médica.
– Eu sei... foi por isso
que fiquei meio que distante e falei que não estava me sentindo bem. Eu fiquei
muito nervosa quando descobri. Também tenho muito medo de que aconteça alguma
coisa;
– Você devia ter me
falando antes, Luh. Nossa, eu jamais teria insistindo para que transassemos.
Meu Deus! eu estou me sentindo muito idiota e egoísta.
– Você foi cuidadoso e
carinhoso, Arthur. Pode ficar tranquilo. – Lua apertou levemente a minha coxa.
– Era por isso que você
estava diferente, muito estranha. Eu desconfiei de que tinha alguma coisa. Mas
jamais poderia pensar que fosse um filho. Meu Deus! Acho que agora que a minha
ficha está caindo. – Confessei.
– Você nem faz ideia de
como eu ficava quando você me dizia isso. – Ela riu, pela primeira vez no dia.
– Eu queria te dizer a verdade, mas eu estava tão apreensiva sem saber a sua
reação.
– Eu jamais te faria mal,
Lua. Sei que a minha reação não foi uma das melhores, mas eu nunca seria tão
escroto ao ponto de... sei lá... rejeitar um filho nosso.
– Ai, eu pensei que você fosse
me culpar. – Contou.
– Claro que não, loira. –
Franzi o cenho. – Meu Deus! Nossa, eu já falei tanto no nome de Deus hoje e nem
sou tão religioso.
– Mas foi Deus mesmo,
Arthur. Porque já tínhamos uma resposta.
E já tínhamos conversado tanto sobre o assunto. Essa é uma das melhores
coisas da nossa relação, nós conversamos sobre tudo.
– Nossa, agora você vai
ter que me contar tudo, Lua. Eu quero saber de tudo.
– Eu não sei muita coisa,
amor. Apesar de já está com dois meses, eu descobri há menos de duas semanas.
Isso porque eu senti um enjoo fora do normal. Eu fiz um teste ainda em abril...
deu negativo. Fiquei um pouco frustrada, mas logo entendi que era melhor assim.
Nenhum de nós esperava ou desejava uma gravidez. Depois fiquei aliviada e segui
com expectativas de que a minha menstruação descesse no outro mês, o que não
aconteceu e eu fui obrigada a fazer mais dois testes de gravidez. Dessa vez o
resultado foi esse que você já sabe. – Contou de uma forma bem resumida. – Eu
acho que que tenho o outro teste aqui. O primeiro. – Disse e se virou para
abrir uma das gavetas da mesa de cabeceira.
– Não acredito que não
percebi isso. Eu jurava que estava tudo normal. Quer dizer, eu percebi que você
estava muito estranha. Só não consegui identificar. Eu te olhava o tempo
inteiro e parece que você fugia de mim.
– É claro. Eu sempre
pensava que você ia perceber que eu tinha engordado. – Sorriu.
– Nada a ver. Tipo, eu
nem pensei nisso, Lua. Você nem engordou tanto. Eu pensava que era inchaço,
você reclama que fica assim na TPM. E eu também nem ia falar isso pra você.
Agora os seus seios estão maiores, bem maiores. E você nem me deixa tocá-los.
Mas eu também achei que era da TPM. Por isso que você não tirava e nem trocava
mais de roupa na minha frente. Nossa, Lua. Você devia ter me contado no dia que
descobriu! – Eu não estava chateado, mas queria muito que ela já tivesse me
contado.
– Hahaha... você me
olhava demais. Uma hora ou outra você ia falar alguma coisa.
– Só se fosse dos teus
seios. – Confessei. Porque Lua não tem os seios tão grandes como estão agora.
– Olha aqui... – Lua me
entregou o teste que fez em abril. – Acho que deu negativo porque estava muito
no início. Tipo, fiz doze dias depois.
– Da menstruação
atrasada? – Indaguei ainda com o teste nas mãos.
– Não. Que transamos,
Arthur. Fiz dia vinte e oito de abril.
– Como você conseguiu
esconder isso? Você fez esse teste aqui em casa?
– Sim. E você quase viu a
caixa em cima da pia. Fiquei nervosa com essa possibilidade.
– Certamente eu teria
feito você marcar uma consulta com a Eliza.
– Eu não tenho dúvidas. O
que foi que você disse depois de perguntar se eu falava sério? Precisamos
falar com a Eliza. – Frisou. – Eu sei que precisamos, querido.
– Quando você vai marcar
a consulta? – Perguntei ansioso.
– Amanhã eu vou ligar
para a clínica.
– Marca o quanto antes.
Isso é sério, Luh.
– Eu sei, Arthur. – Lua
suspirou.
– O que seus pais vão
achar? Nossa, a sua mãe vai querer me matar se souber do risco.
– Não precisamos falar.
Isso é o que menos me preocupa.
– Pois isso é o que
também me preocupa! – Passei as mãos pelo rosto. – A minha mãe vai vibrar,
depois vai te encher de perguntas. – A olhei.
– Pelo menos alguém vai
ficar feliz. – Lua encolheu os ombros.
– Ei, não fala assim.
Parece que a minha reação foi a pior de todas. O Harry é outro que vai
comemorar. – Falei e Lua sorriu.
– Hahaha... Só espera da
gente. – Pontuou e eu concordei. – O que você acha que é?
– Sinceramente, eu nem
estou pensando no sexo. Eu só desejo que esteja bem. É isso que quero ouvir
quando você for fazer os exames. Aliás, que vocês dois estejam bem. Isso é o
que importa. – Procurei uma de suas mãos e apertei carinhosamente. – Quando você comprou esses sapatinhos? –
Mudei de assunto.
– Semana passada, quando
eu tive a ideia. Comprei o quadro no mesmo dia. – Me explicou.
– O quadro é a coisa mais
linda, loira. Ainda estou com dúvidas se deixo aqui no quarto ou lá no
escritório. – Falei encarando o quadro que eu tinha deixado em cima da mesa de
cabeceira.
– Pensei em comprar outro
modelo de sapato, mas eu não ia gastar dinheiro à toa. Nem sei o sexo ainda. Um
par ia ficar sem ser usado.
– E se forem dois bebês?
– Você está louco,
Arthur! não brinca com uma coisa dessas! – Lua disse séria e eu ri.
– Pode acontecer, ora.
– Pode nada. O que podia
acontecer, já aconteceu. – Pontuou. – Estou grávida. Isso já é muita coisa. –
Acrescentou.
– Tá, tá, tá... sem
estresse, loira. Sem estresse. – Apertei uma de suas coxas. – Ficou nervosa foi? – É difícil não querer
implicar.
– Se forem dois, você vai
ser o primeiro a desmaiar. Eu te conheço, Arthur. – Lua riu alto e estava
coberta de razão.
– Hahaha... vou parar de
brincar com isso. A princípio, só um já me deixou nervoso e preocupado. – Falei
sincero.
– Essa semana saberemos
como ele está.
– Como vocês estão. –
Enfatizei.
– Sim. Eu e ele ou ela. E
se for uma garotinha de novo? – Lua ficou me encarando.
– Eu vou ficar ainda mais
apaixonado. – Confessei. – Loirinha e nervosinha.
– Paaaaaraaaa! Você
sempre diz isso!
– Estou errado? Anie está
aí de prova!
– Ela puxou pra você! Nem
vem.
– Até parece! Não tem
nada da personalidade igual a minha. Mas eu adoro, meu amor. – A olhei e Lua me
deu um selinho. – Amanhã você tem trabalho, não é mesmo?
– Sim. Já era para eu
estar dormindo. – Lua olhou para o relógio.
– Como eu vou conseguir
dormir agora? – Me deitei na cama e coloquei as mãos no rosto. – Mais um bebê,
loira. – Tirei as mãos do rosto e encarei Lua, deitada ao meu lado. – Você tem
noção de que vamos acordar muitas vezes durante a madrugada? E o que dizer do
choro do bebê? Hahaha! Isso vai ser divertido.
– Muito, nossa. – Lua
revirou os olhos. – Você tá me zoando, Arthur. Só pode! – Exclamou.
– Você já teve algum
desejo? – Mudei de assunto.
– Não. Fazer sexo conta?
– Lua piscou um olho. Como não dei tanta importância para as mudanças de humor?
– Safada! Só porque sabe
que eu não vou fazer nada. – Rocei os lábios no pescoço dela. – Você só sentiu o
enjoo?
– Sim. Foram três vezes e
todos de manhã.
– E o que mais você pode
me dizer?
– Vamos descobrir muitas
coisas juntos, meu amor. – Lua acariciou os meus cabelos.
– Mas eu estou muito
curioso para saber das coisas que você já descobriu. – Insisti. Eu estou sem
sono e quero saber tudo o que Lua ainda não me disse.
– Eu já te contei tudo o
que eu sei. – Ela soltou um riso. – Como te disse, têm dez dias que
descobri. Me senti mal todos os dias por esconder isso de você. Nossa, foi
muito difícil, Arthur. Teve dias que eu cheguei do trabalho decidida a te
contar. Tudo se complicava quando você vinha todo carinhoso. Parece que eu
tinha feito algo muito errado.
– Na sexta-feira você se
sentiu bem? Eu fiquei preocupado agora.
– Está tudo bem. Você fez
como eu pedi. Não precisa se preocupar. Você é sempre carinhoso.
– Sabe quando é real, mas
você não consegue acreditar? Você tá aqui na minha frente e eu ainda fico
pensando se o que você me contou é verdade. Meu Deus! tem dois testes positivos
bem na minha frente, dois sapatinhos de bebê, um quadro e um cartãozinho. Por
que a ficha ainda não caiu por completo? – Encarei Lua como se ela tivesse
todas as respostas para as minhas muitas dúvidas.
– Não era algo que
esperávamos, igual quando foi da Anie. Apesar de você ter sonhado e pedido mais
um filho durante muito tempo. – Ela tocou o rosto com a ponta dos dedos.
– Sim. Sempre foi tudo o
que eu mais quis na vida. Eu me lembro de tudo, loira. Mas depois do que
aconteceu, eu, simplesmente, não quis mais. Eu pensava mais em você do que em
mim. Sempre soube que seria ariscado demais se tentássemos. Seria muita falta
de compreensão e burrice da minha parte. Jamais que eu colocaria você em risco
por conta de um desejo meu. Seja ela qual fosse. Jamais, Lua. Se isso
aconteceu, pode ter certeza de que não foi de caso pensado.
– Eu sei, meu amor. Nós
dois somos os únicos responsáveis por esse feito. Meu medo mais era pela minha
teimosia mesmo. De novo ela.
– Ainda bem que você
sabe. – Ri. Não podemos fazer mais nada agora. – Foi bem feito mesmo, Lua. –
Mordi o meu lábio inferior. Ela sabe, exatamente, ao que me referi. – Não
acredito que fizemos esse bebê àquele dia. – Ri. É quase surreal.
– Pooor queee? – Lua riu
junto comigo e eu a puxei para o meu colo.
– Juro que transei sem
essa intenção. – Assegurei e Lua riu mais ainda.
– Se eu soubesse que você
tinha essa intenção, nem teríamos transado. – Ela me garantiu.
– Eu sei disso, Luh. – Lhe dei um beijo
demorado no rosto. – Você me dá cada susto. Só você mesmo para fazer isso
comigo! – Exclamei.
– Eu ficaria chateada se
outra pessoa fizesse isso com você. – Lua ergueu o rosto e me olhou. Tinha um
bico nos lábios.
– Boba! Eu não sei se
aguento outra dessa. – Confessei baixo.
– Não vai ter outra
dessa. – Pontuou. – Nem eu sei se aguento.
– Não confio em você.
Você disse que não tinha nenhuma possibilidade de engravidar. – Falei divertido
e Lua me deu um tapa forte no braço.
– Paaaraaa! Você vai
ficar me lembrando disso a gravidez toda? – Questionou.
– Claro que não. Vamos
ter outros assuntos para tratar! – Lhe dei um beijo na testa. – Para de me
bater. – Pedi.
– Você é chato! –
Exclamou.
– Agora não adianta você
reclamar. Fez mais um filho comigo. Vai ter que me aguentar!
– Convencido! No fundo eu
sabia que você ia gostar.
– Eu não disse que não
tinha gostado. Eu fiquei nervoso, assustado e preocupado. Você queria que eu
tivesse ficado como? A gente sabia de todos os riscos, Lua. Foi só o que eu
lembrei quando você me contou isso. Eu não quero te perder.
– Você não vai perder
nada, meu amor. – Afirmou me abraçando forte. – Eu também sinto medo. Mas não
quero que fiquemos pensando só nisso. Vamos ver na consulta como estamos. Sei
que vamos ficar mais tranquilos depois disso... ou não, não é mesmo?
– Não diz uma coisa
dessas, Lua. Pelo amor de Deus. Nossa, eu vou chorar.
– Paaraa, Arthur! se você
chorar, eu vou chorar também. Você tem que ser mais forte do que eu. Sabe
disso. Você me conhece. – Pediu com a voz embargada.
– Não quero te deixar
desesperada. Não é isso! será que a Anie vai gostar da notícia? Eu estou muito
ansioso para ver a reação dela. Ela é muito apegada. Você acha que ela vai ficar
com muito ciúmes ou vai nos surpreender?
– Espero que nos
surpreenda. Não vou saber lidar com uma Anie ciumenta e um bebê chorando.
– O que você quer?
– De quê?
– De sexo. Menino ou
menina. Você parou em algum momento para pensar nisso? – Perguntei. Embora já
tenha certeza da resposta. Todas as vezes que falamos de filho, ela sempre
deixou claro que queria uma outra menininha.
– Menina. Outra menina
para te deixar doido.
– Hahaha! É bem a sua
cara mesmo. – Rocei o rosto entre o pescoço e peito dela.
– Mas sei que você é
doido por um menininho.
– Sendo sincero, hoje eu
já não me importo mais. Já falei isso várias. Não estou mentindo. Acho que eu
tinha muito medo de não saber ser pai de menina, sabe?
– E saberia ser de menino
por quê? Você nunca tinha sido pai.
– Eu achava que era mais
fácil. Porque eu sou homem. Eu ia ensinar muitas coisas legais para ele. Aí
veio a Anie e eu ensino muitas coisas legais a ela. – Sorri. – Então, se for
menina, tudo bem. Eu vou ficar apaixonado do mesmo jeito. Além do mais, eu sei
lidar com meninas. E se puxar para você então... Dessa vez quero loirinha. Eu
quero muito que se pareça com você.
– Só fala isso agora.
Depois vai reclamar que se parece comigo. – Lua revirou os olhos.
– Isso não é verdade. –
Falei rindo. Eu sempre “reclamo” só para irrita-la.
– Eu sou apaixonado por
cada detalhezinho de você. Sabe disso, loira. A não ser é claro, que você
prefira que ela puxe para mim de novo. Eu vou adorar te lembrar disso todos os
dias. – Falei cínico.
– Por que estamos falando
ela? – Frisou. – Nem sabemos o que é ainda.
– Você que quer. Mãe não
tem a intuição melhor? Vai que você acerte de novo.
– Hahaha... não é uma
intuição. Falei que quero que seja menina, não que eu acho que é menina.
– Tá bom. Vou acreditar. –
Não escondi a ironia em minha voz.
– Vamos dormir?
– Vamos. De manhã
resolveremos sobre a consulta.
– Tudo bem. – Concordei e
lhe dei um selinho.
Nem sei se consigo
dormir. Mas Lua certamente vai. Já perdi as contas de quantas vezes ela bocejou
durante a nossa conversa. Ela me deu um beijo no pescoço e se acomodou em meu
colo. Colocou uma das pernas entre as minhas e me abraçou pela cintura. Lhe dei
um beijo carinhoso na testa e desejei boa noite, Lua não me respondeu de volta.
Pov Lua
Londres | Quarta-feira,
21 de junho de 2017 – Dia da consulta.
Arthur está com
expectativas desde domingo. Liguei para a clínica na segunda-feira e marquei a
consulta para quarta-feira – o dia que Eliza tinha a agenda disponível. Estou
nervosa e quase nem consegui dormi. Já avisei no trabalho que não vou hoje. Não
sei como irei sair da consulta e isso me assusta.
– Bom dia. – Enfim,
Arthur falou. Já estamos acordados há um tempo, mas nenhum dos dois quis dizer
nada.
– Bom dia. – Respondi e
ele me olhou.
– Você está nervosa? –
Ele se virou de lado e me encarou.
– Estou. – Confessei. – E
você?
– Também. Na verdade,
estou preocupado. Quero que esteja tudo bem. Nem sei o que fazer, caso não
esteja. Nem quero pensar nisso, mas é inevitável. – Contou e eu assenti,
afirmando que eu compreendia.
Voltamos a ficar em
silêncio. Na segunda-feira, Arthur foi me levar e me buscar no trabalho, assim
como ontem. Ele já me perguntou várias vezes durante esses dois dias se eu
estou bem e se eu senti alguma coisa diferente. Ele está bem preocupado mesmo.
Eu posso sentir. Ainda não tocou na minha barriga e nem fez menção de que teria
a intenção de fazer isso em algum momento.
Me lembro que da Anie,
ele não me deixou em paz. Beijava e falava com a nossa filha – ainda na minha
barriga – o tempo todo. Não podia me ver, que queria tocar na barriga. E ela
respondia com aqueles chutinhos marcados a cada carinho que ele fazia – e eu
tinha que ir ao banheiro logo em seguida.
Arthur ficava super
animado e empolgado – ele tinha motivos para isso –, ela sempre correspondia só
os carinhos dele. Eu podia passar horas pedindo para ela chutar, que ela só
chutava quando bem entendia. Agora era só ele chegar com aquele “Oi, meu
amor. Chuta para o papai.” Que ela chutava na hora e ele se derretia todo.
– A consulta é às nove,
não é? – Me perguntou do nada.
– Nove e meia. – Respondi.
– Vou levantar. Como você
quer fazer? – Indagou. – Por que vou levar a nossa filha para a escola. Você
quer ir comigo ou vai esperar eu voltar?
– O que você acha?
– Que se você me esperar
voltar, a gente vai se atrasar.
– É verdade. Porque fica
contramão. – Lembrei. – Vou com vocês logo. – Afirmei e Arthur se sentou na
cama.
– Quer tomar banho
primeiro ou podemos tomar juntos?
– Por que você tá
perguntando?
– Ora, agora nem sei mais
as coisas que você quer.
– Não é assim também... –
Me defendi. Tá, às vezes é assim. Arthur me olhou já com a certeza de que a
razão é dele.
– Tá, não é assim. –
Concordou comigo. Sim, fazem dois dias que ele está concordando com tudo o que
eu digo, só para não me irritar. – Quer tomar banho junto? – Repetiu e eu
assenti. Não consegui segurar o sorriso. – Então vamos. – Me chamou ao se
levantar da cama.
– Vou tirar o pijama
antes.
– Tudo bem. Vou te
esperar no banheiro.
Faz tempo que não tomamos
banho juntos – porque eu estava evitando antes do Arthur saber sobre a minha
gravidez. Eu tinha receio de que ele desconfiasse. Ele sempre foi muito
observador. Sempre notou as alterações no meu corpo sem muita dificuldade.
Sempre chamava a minha
atenção quando eu perdia muito peso. Sempre me aconselhava a ir ao médico.
Sempre pergunta se estou bem. Ele é bastante preocupado e atencioso. Às vezes
eu reclamo, mas eu sei que tenho sorte de ter um parceiro assim.
Me levantei da cama e
tirei o pijama. Minha barriga está normal. Nem teria como ele desconfiar, caso
não soubesse. A gravidez está bem no início. Eu só a acariciava quando estava
no banho. Porque eu estava sozinha e me sentia mais segura. Em casa eu sempre
ficava com receio de que Arthur me visse e achasse estranho eu estar
acariciando a minha barriga.
Caminhei para o banheiro
só de calcinha. Agora eu não tenho mais com o que me preocupar e passando pelo
espelho, realmente, Arthur está certo, meus seios estão bem maiores do que o
normal. Eu ainda não tinha me atentado para isso. Está maior, eu já tinha percebido,
mas não como estou percebendo agora.
– O que foi? – Ele já
tinha ligado um dos chuveiros.
– Você tem razão... –
Entrei no box junto com ele.
– Sobre? – Riu ao
questionar. Fiquei esperando um: eu sempre tenho razão. Porque é isso
que eu digo quando estou com a razão. Arthur se afastou e ligou o outro
chuveiro.
– Que os meus seios estão
maiores. Eu já tinha percebido. – Eu segurava os meus seios com as mãos.
– É muito perceptível,
Lua.
– Porque eles são
pequenos.
– Eles são perfeitos. Eu
os amo, os acho lindos. Para com essa neura, por favor. Vamos só tomar banho? –
Perguntou e eu assenti. – Vem aqui. – Desligou o meu chuveiro e me puxou para
perto dele. – Você tem que parar de se colocar defeito, Lua. Você é
maravilhosa, linda e eu não sou o único que acho isso. Agora nem é o momento
para isso também. Você já parou para realmente se olhar no espelho? Eu só
consigo notar o quanto você está gostosa e eu fico louco para dar umas belas de
umas palmadas no seu bumbum, que eu também acho lindo e que você também já sabe
disso. – Arthur desceu as mãos para o meu bumbum. Eu estava na pontas dos pés e
o abraçava pelo pescoço. – Você me deixa dar uma palmadinha? Bem de leve,
querida. – Prometeu e eu neguei com um balançar de cabeça. – É sim, Luh. Nossa!
Que saudades eu senti de ficar assim com você. – Confessou me dando uma mordida
bem de leve no ombro. – Você é muito malvada, Lua. As coisas que você faz
comigo, nenhum marido merece. – Reclamou me fazendo ri. – Só uma palmadinha...
eu prometoooo!
– Não. – Mordi meu lábio
inferior depois que neguei o pedido. – Hoje você vai me paparicar?
– É claro que eu vou. Eu
já estou fazendo isso. Não é possível que você não tenha percebido. – Arthur me
olhou.
– É que hoje eu estou
sensível. – Contei. Estou me sentindo carente também. Acrescentei mentalmente.
– Tudo bem, meu amor. –
Arthur beijou os meus cabelos e subiu as mãos para a minha cintura. – Vamos
começar logo esse banho ou perdemos a hora.
– É verdade. – Concordei.
Nos afastamos e eu voltei
a ligar o meu chuveiro. Arthur passou o shampoo nos cabelos e logo em seguida
ensaboou o corpo, fiz o mesmo processo. Ele foi o primeiro a sair do box e ir
escovar os dentes.
*
– O que você acha desse
vestido? – Mostrei para ele um vestido simples, na cor bege.
– Básico.
– Acha que fica bom? –
Insisti.
– Veste aí. – Me pediu.
– Deixa eu colocar a
calcinha. – Voltei para o closet. – Se ficar feio, fala a verdade.
– E quando foi que eu menti?
– Arthur ergueu as sobrancelhas.
– Olha como fica os meus
sutiãs. – Mostrei e Arthur riu. – É sério! Eu amo os meus sutiãs, Arthur!
– Eu não tenho culpa. A
gente pode comprar uns novos, Lua. Isso não é nenhum problema. Quer ajuda pra
fechar?
– Quero. – Respondi e me
virei de costas para ele. – É que fica muito apertado aqui nas costas. – Falei
e vesti o vestido. – Que tal?
– Você tá linda, meu
anjo. Eu te olho e só consigo te enxergar grávida. Eu não vejo a hora da sua
barriga crescer. – Disse olhando para a minha barriga, embora ainda não tivesse
tocado nela. – Um vestido básico nunca fica básico em você.
– É o que você sempre me diz.
– É a verdade, meu
amor. – Afirmou e me deu um beijo na testa. – Enquanto você termina
de se arrumar, eu vou ver se a nossa filha já está pronta. – Disse e
colocou o relógio no pulso. Arthur está com uma calça comprida jeans, uma
camisa gola polo, nas cores cinza, branco e azul, e um tênis azul marinho.
– Tá. –
Concordei. – Não vou demorar. Só falta calçar os sapatos e pentear os
cabelos.
– Ok. Aguardo você lá
embaixo. – Ele pegou as chaves e a carteira e saiu do quarto.
Voltei para o closet e
fui pegar o meu sapato. Escolhi um de salto médio, na cor bege e depois penteei
meus cabelos. Eu deveria ter secado, mas isso nos atrasaria.
Terminei de me arrumar,
pus um relógio e peguei a minha bolsa. Os exames já estavam todos dentro dela –
mesmo que, Eliza saiba do que se trata. Saí do quarto e fechei a porta. Anie
não está mais no quarto dela e posso ouvir a conversa dela e do pai na sala.
Desci a escada e os vi caminhando para a cozinha.
– Nossa, vocês não iam me
esperar? Eu ia ficar chateada.
– Ia sim, mamãe. Eu
e o meu papai ia esperar a senhola descer. – A garotinha correu e me deu
um forte abraço. – Bom dia, mamãe.
– Bom dia, meu anjo. Hoje
você está animada. – Notei apertando levemente a ponta do seu nariz.
– É. Eu tô. A senhola não
vai trabalhar hoje?
– Não. – Sorri sem
mostrar os dentes.
– Então pra onde a
senhola vai?
– Uuhm... será que você
consegue adivinhar? – Instiguei.
– Vai me deixar na escola
também? – A mesa já está posta. Carla fez panquecas e bolinhos de queijo.
– Sim. – Me sentei à mesa e Anie fez o mesmo. Arthur
deve ter ido buscar algo na cozinha.
– Sabia que eu gosto
muito quando a senhola também vai me deixar na minha escola?
– Oh, meu amor, a mamãe
gostaria de poder te deixar mais vezes. – Fiz carinho em sua bochecha.
– É, eu sei. Mas eu intendo,
mamãe.
– O que você vai querer
comer? – Perguntei pegando um prato.
– Quelo uma panqueca e
dois bolinhos desses. – Anie apontou para os bolinhos de queijo. Coloquei o que
ela pediu no prato e depois servi um copo de suco. Arthur voltou da cozinha com
uma xícara de café e sentou-se à mesa junto conosco.
– O senhor vai queler
bolinhos, papai?
– Não. Eu comer só as
panquecas mesmo. – Arthur respondeu.
– Com uva ou molangos? –
Anie se referia a geleia.
– Com geleia de uva.
– Tá. Eu também vou
queler de uva então.
– Tudo bem. – Arthur
pegou o prato dela para passar a geleia na panqueca. – E você querida? – Ele me
olhou.
– Eu prefiro com geleia
de morango.
– Como você quiser, meu
bem. – Ele passou também passou a geleia em duas panquecas para mim.
*
Deixamos Anie na escola
há alguns minutos. Esse tempo é o que estamos em silêncio dentro do carro.
Estou ficando cada vez mais nervosa. Estou com medo das coisas que Eliza irá
nos dizer. Minhas mãos estão geladas. Eu olho pela janela do carro, mas não
presto atenção em nada. O rádio do carro está desligado e o silêncio é
incomodo. Nenhum de nós dois parece querer quebra-lo.
Chegamos em frente à
clínica e Arthur demorou alguns poucos minutos para achar uma vaga e estacionar
o carro.
– Preparada? – Ele sabe
que a minha resposta é não.
– Você sabe a resposta. –
Foi o que eu disse. – Parece que vai dar tudo errado quando entrarmos aí. –
Olhei para a porta.
– Não diz isso nem de
brincadeira, Lua. Meu Deus! às vezes acabamos atraindo as coisas que falamos. –
Disse deixando bem claro que não tinha gostado nenhum pouco das minhas
palavras. – Sei que você está nervosa. Eu também estou, mas nem isso nos dar o
direito de ficar com esses pensamentos negativos. Eu estou fazendo de tudo para
afastá-los da minha cabeça. Só penso que vou escutar que vocês dois estão
ótimos. É isso que você, também, deveria pensar.
– É complicado... – Não
consegui dizer mais nada.
– Eu sei que é, Luh. Eu,
só não mais do que você, mas mais do que qualquer outra pessoa, sei o quanto
tudo isso é complicado e arriscado. – Arthur suspirou. – Vai ficar tudo bem. Eu
estou aqui. Não vou te deixar sozinha em nenhum momento. Vamos ficar juntos,
aconteça o que acontecer. Eu te garanto, meu amor.
– Eu confio em você.
– Oh, minha vida. Eu te
amo tanto. – Arthur me abraçou; ainda estamos dentro do carro. – Vamos tentar
relaxar. Mesmo com medo temos que pensar que pode dar certo e que vai dar
certo.
– Tudo bem. Você está
certo de novo. – Admiti e Arthur sorriu.
Saímos do carro e
entramos na clínica. Não tem nenhum segredo. Tenho que ir até a recepção, dar
os meus dados para preencher a ficha e aguardar ser chamada.
Depois de preencher a
ficha, fui com Arthur para o corredor onde fica o consultório da Eliza. Há três
pacientes na minha frente. Me sentei em uma cadeira e Arthur em outra ao meu
lado.
– As pessoas sempre acham
estranho que eu não uso o seu sobrenome. – Girei a pulseira verde, de identificação
no meu braço.
– Bobagem, loira. –
Falávamos baixo. Mas sempre que preencho uma ficha, eles repetem no mínimo duas
vezes o "você é casada?" – As pessoas se importam demais com a vida
alheia. Como se sobrenome fosse mudar muita coisa. – Respondeu.
Nunca nos importamos com
isso. Tanto que conversamos sobre esse assunto antes do casamento. Eu não
queria trocar todos os meus documentos, dá uma trabalheira só. Arthur concordou
comigo. Além do mais, eu sempre quis construir uma carreira sem estar na sombra
de alguém. Já era muito difícil ser filha de pais advogados. Meus colegas na
faculdade sempre acharam que eu já tinha uma vaga disponível no escritório em
que os meus pais trabalhavam. O que nunca foi verdade. Por esse e outros
motivos, eu mesma fui atrás de outro escritório.
– Sabe que eu casaria com
você de novo? – Falei. Mesmo que já fôssemos casados. Arthur me lançou um olhar
carinhoso.
– Eu também, todas as
vezes que você quiser. – Afirmou e eu encostei minha cabeça em seu ombro. –
Você está mais tranquila? – Indagou.
– Você me acalma. –
Respondi e ganhei um beijo na testa.
– Que bom. Eu pensava que
só estressava. – Acariciou os meus cabelos.
– Às vezes sim. – Pontuei
e rimos baixinho.
Mais de meia hora depois,
chegou a minha vez. Eu não estou mais tão nervosa igual quando cheguei. Ouvi o
que Arthur disse sobre relaxar e ter pensamentos positivos.
– Olá, bom dia. – Eliza
abriu um largo sorriso.
– Bom dia. – Eu e Arthur
falamos juntos.
– Você deve pensar, vocês
outra vez? – Arthur brincou.
– Esse ano ainda não. –
Ela lembrou.
– Eu ia comentar a mesma
coisa. – Falei e nos sentamos.
– O que te traz aqui,
querida? – Se referiu a mim, uma vez que, não tem como Arthur ser o paciente se
ela é pediatra, ginecologista e obstetra. – Você costuma marcar consultas de
rotina, é sobre isso?
– Não mesmo. – Respondi.
Eliza digitou alguma coisa no computador e depois me encarou.
– Então é sobre o quê? –
Olhou de mim para o Arthur.
– Estou grávida. – Falei
rápido e Eliza ficou me encarando por alguns segundos.
– Eu não vou perguntar
como. – Deixou claro e eu acabei soltando um riso. Arthur estava muito sério. –
Mas, eu também nunca disse que era impossível. Vocês sabiam disso. Eu disse que
seria mais difícil. – Nos lembrou e eu assenti.
– E arriscado. – Arthur
acrescentou.
– Sim, mais do que uma
gravidez normal. Vocês conseguem me entender? – Questionou e assentimos. – Você
fez algum exame de sangue? Descobriu há quanto tempo?
– Não. Fiz dois testes de
farmácia. Os dois deram positivo. Minha menstruação está atrasada há dois
meses. Descobri tem treze dias. eu fiz um teste em abril, que foi quando
atrasou pela primeira vez, mas o teste deu negativo.
– Provavelmente porque a
gravidez estava muito no início. Agora já têm mais ou menos dez semanas. Você
sabe mais ou menos o dia que engravidou?
– Sei exatamente. – Olhei
para Arthur e ele retribuiu o olhar. – Dia dezesseis de abril.
– Isso é ótimo. Podemos
fazer uma contagem certa. Você fez o primeiro teste quando?
– Dia vinte e oito, três
dias depois do atrasado. – Expliquei e Eliza voltou a digitar no computador.
– Essa semana é a décima.
– Começou. – Quase o fim do primeiro trimestre. Você sentiu alguma mudança?
– Nem foi o atraso da
menstruação que me fez desconfiar que poderia ser gravidez, e sim um enjoo matinal
muito forte, que eu só senti assim na gravidez da Anie. Aí comecei a me preocupar.
Até então, eu estava achando que era normal. Porque já tinha acontecido de
atrasar outras várias vezes.
– Vocês não estavam se
prevenindo?
– Até que começamos.
Arthur – o olhei – se preocupou demais com esse detalhe...
– Mas Lua achou que eu
estava ficando paranoico. – Ele me interrompeu.
– Eu estava tão
tranquila, que acreditei que não teria como engravidar. As chances eram muito
baixas.
– Mas existiam, Lua. –
Eliza me lembrou. – Eu expliquei a você. Vocês estavam usando qual método?
– Camisinha mesmo. Esquecemos
mais do que suamos. Não sei como Lua não engravidou antes. – Arthur foi bem
sincero.
– Por conta de não ter
acontecido nos outros atrasos, eu achei que nesse não aconteceria também. –
Acrescentei.
– Você só sentiu enjoo?
– Até agora sim.
– Sem tonturas?
– Sem. Só os meios seios
que estão bem inchados e sensíveis. Parece que nesses últimos três dias eles
cresceram ainda mais.
– Três dias?
– Sim. Fazem três dias que
contei para o Arthur.
– No dia dos pais. – Ele
ressaltou.
– Que surpresa linda! –
Eliza sorriu e eu quase chorei.
– Eu só consegui ficar
assustado e preocupado. – Senti que Arthur me olhou. – Mas agora a ficha já
caiu. Quero ter a certeza de que eles dois estão bem. Você conhece a sua
paciente. – Ele ainda me olhava.
– Venham... – Eliza se
levantou da cadeira – vamos ver no ultrassom como ele ou ela está. Sabem que a
partir da oitava semana já podem pedir a sexagem fetal, certo? Eu posso ver
pelo ultrassom, mas só dou a certeza com a sexagem. Às vezes o ultrassom pode
nos enganar. – Explicou.
– Não sei se Lua já quer
saber, mas eu prefiro aguardar mais um pouco. Descobrimos faz pouco tempo, eu
prefiro curtir mais antes de começar a pensar em nome ou roupinhas. – Falou e
eu concordei. Na verdade, eu estou com medo de me apegar e criar expectativas e
acabar perdendo-o.
– Eu também prefiro não saber
agora. – Suspirei. – No meu caso, tenho medo de que aconteça algo.
– Fica calma, querida. –
Eliza me olhou. – Se você tomar todos os cuidados e seguir as minhas prescrições,
você não precisa ficar com medo. Agora você tem que ter em mente que não está
mais sozinha, que tem um bebê que ainda é muito pequeno. Eu sei o que você já
passou. Torço para que dessa vez seja tudo diferente.
– Obrigada, Eliza. – Agradeci
emocionada. Arthur me abraçou de lado e me deu um beijo no rosto.
– Então vamos ver como
esse bebê está. – A mulher sorriu para me passar segurança.
Caminhamos até outra sala,
onde está a maca e a máquina de ultrassom.
– Pode deitar e tenta
ficar relaxada, certo? Vou fazer o morfológico na próxima consulta, mesmo que
vocês ainda não queiram saber o sexo do bebê. Ele é necessário para vermos não
só o sexo, mas também diagnosticar algumas doenças e tratar o quanto antes. Eu imagino
que vocês não tenham se esquecido disso.
– Não. Tudo bem. Só não
queremos saber o sexo ainda. Mas vou fazer todos os exames necessários.
– Vou passar algumas
vitaminas, o ácido fólico, além de uma recita com alguns alimentos que você
deve consumir diariamente.
Me deitei na maca e Eliza
me entregou um pano para eu me cobrir da cintura para baixo. Levantei o vestido
e tentei relaxar. Arthur estava sentado ao meu lado e segurou uma das minhas
mãos.
– Então vamos lá. – Eliza
está visivelmente contente. Ela colocou o gel em minha barriga e começou a espalha-lo
com o aparelho. Logo a imagem começou a ser formada e Eliza estava muito atenta
a tela, assim como o Arthur. – Vou fazer todas as
medidas, ok? Depois vamos escutar o coraçãozinho. Aqui não dá para ver o sexo,
nem se eu quisesse. É muito pequeno, ainda está se formando e essa ultrassom
tradicional não me permite ver com muita clareza, como vocês mesmos podem observar.
Não sei quanto tempo ela
ficou medindo o feto, fazendo anotações e printando a tela. Eu só queria que
ela nos dissesse que estava tudo certo.
– Preparados para escutarem
o coraçãozinho? As medidas dele estão todas dentro do que consideramos normal e
saudável. Você está certa, pelo tamanho, contei dez semanas mesmo. Então já
podemos marcar uma data prevista para o nascimento dele ou dela. Hoje são vinte
e um de junho. Você disse que engravidou dia dezesseis de abril, então podemos
esperar até o dia vinte e um de janeiro. Isso é claro, se você quiser tentar
parto normal. Dia vinte e um de janeiro fazem quarenta semanas. Vocês estão me
entendendo? – Tanto eu quanto Arthur, assentimos. – Querem escutar o coração.
– Sim. – Eu e Arthur
respondemos juntos e nos olhamos. Eu já estou prestes a chorar.
– Vai dá tudo certo. – Ele
sussurrou e eu sorri. Eliza ligou o som e eu não pude segurar as lágrimas. Olhei
para a tela do computador e vi um círculo marcando que o bebê era aquele
pontinho bem pequeno, que não parava de se mexer, mesmo que eu não sentisse os
movimentos. Os batimentos eram fortes e parece que meu coração acelerou junto. Senti
Arthur depositar um beijo carinhoso na minha bochecha, onde as lágrimas já
tinham deixado rastros. – Eu te amo. – Me disse. Virei o rosto para encara-lo e
movi os meus lábios em um “eu te amo”, minha voz não saiu. Estava embargada. Arthur acariciou os meus cabelos e voltou a
olhar para a tela do computador. Ele está muito emocionado, seus olhos não escondem
essa emoção. Ele nem precisa derramar lágrimas igual a mim.
– É um bebê saudável e
bem disposto. Nas próximas semanas talvez você consiga distinguir esses
movimentos. Como você já teve uma gravidez antes, não é uma regra, mas você pode
começar a sentir mais cedo os famosos chutinhos.
– Essa é a parte que o
Arthur mais gosta. – Contei. Arthur sorriu.
– Anie sempre me respondeu.
– Disse convencido.
– Querem uma fotinho?
– Claro. – Arthur respondeu
prontamente.
– Duas, só para não dar
briga. – Eliza disse divertida. – Anie já sabe?
– Não. Só nós dois e agora,
você.
– Não vejo a hora de
contar para ela. Nem faço ideia da reação. Ela é muito ciumenta, mas gosta de
crianças. – Arthur já estava todo bobo.
– É só irem preparando-a.
Conversar sempre ajuda muito. – Eliza nos aconselhou. As fotos foram impressas
e ela nos entregou.
– Obrigada. – Agradeci
olhando para a foto.
– Obrigado. – Arthur também
agradeceu. Temos fotos de os ultrassons que fizemos na gestação da Anie. Eliza
me entregou dois lenços descartáveis para que eu limpasse a minha barriga e se
levantou da cadeira. Me sentei na maca e abaixei o meu vestido.
– Agora que já sabemos
que o bebê está bem, vamos para outra parte. Aquela mais chatinha, só que necessária.
– Saímos da sala do exame e voltamos para a primeira sala e nos sentamos à
mesa. – Preciso te receitar algumas
vitaminas e claro, te dizer quais os medicamentos que você precisa evitar. Inicialmente,
está tudo ok com vocês dois. Vi que o colo do útero está mais baixo, nada muito
assustador. Você precisa evitar movimentos bruscos, exercícios puxados. Eu vou
pedir um repouso, nada de estresses, de nervoso. Você precisa se alimentar bem.
Vou marcar seu retorno para o dia três de julho, tudo bem? É numa segunda-feira.
Você tem preferência por horário?
– Se for à tarde, é
melhor para mim.
– Ok. Dia três de julho,
às quatro e meia da tarde. Tudo bem assim?
– Tudo. – Concordei.
– Nesse dia farei o morfológico.
– Certo.
– Vou te pedir uns exames
de sangue. Coisas normais de toda gestante. Mas o que eu quero mesmo, é que
você repouse sempre que estiver sem nada para fazer. Que você siga uma alimentação
saudável e tome as vitaminas nos horários certos. Se você sentir algum desconforto,
cólicas fortes, sangramentos, não hesite em ligar. Pode ser qualquer horário. Preciso
repetir o porque de todas essas precauções? – Ergue uma sobrancelha e parece
que eu estava ouvindo Arthur chamar a minha atenção.
– Não.
– Ok. Vou confiar em você.
– Quero fazer uma
pergunta. – Arthur disse mais baixo e Eliza o olhou.
– Pode fazer, Arthur.
– Se tivessem mais riscos,
eles apareceriam agora no início ou mais lá para a frente? Podemos ter
surpresas?
– Arthur, não é o que desejamos
para uma gravidez, mas os riscos podem aparecer com mais semanas sim. Esses três
primeiros meses são os mais arriscados, mas isso não quer dizer que nos outros não
haverá nenhum risco. No caso da Lua, já sabemos os outros motivos também. O
risco aqui não quer dizer que ela vai sofrer um aborto igual na gravidez
anterior. O risco foi o tratamento invasivo que ela foi submetida para a retirada
do feto, que acabou comprometendo o útero dela. Eu estou surpresa que ela tenha
engravidado sem nenhum tratamento. Pelo método natural vocês sabem que a chance
era perto de zero. Quero que as surpresas de vocês sejam todas positivas.
– Nós também. –
Confessei.
– E quanto ao sexo, algum
problema? Você disse que o colo do útero está mais baixo. – Arthur estava bem
preocupado. Ele vai seguir à risca tudo o que Eliza disser.
– Agora, eu não recomendaria.
Mas vejam bem, é a minha visão médica. Se Lua estiver disposta e se sentindo
bem, não vejo problemas. É claro que tem que ser uma coisa mais contida, em
lugares confortáveis e movimentos mais lentos e cuidadosos. Isso é o tipo de
coisa que só ela poderá te dizer. – Eliza sorriu e eu aposto que o meu rosto
deve estar vermelho. Arthur me encarou com cara de quem ia dizer mais alguma
coisa. E disse:
– Transamos na sexta. Eu não
sabia da gravidez. Isso é um problema? – A voz dele quase vacilou.
– Não. O bebê está bem,
Lua está bem. O colo baixo do útero tem haver com a situação que lhes expliquei
anteriormente. Vocês tomaram cuidado? – A médica me olhou.
– Sim. Eu pedi a ele que
fosse mais cuidadoso. E ele é sempre. – O olhei. – Dessa vez só foi mais. Pedi justamente
porque eu sabia da gravidez e dos riscos.
– Mais alguma dúvida?
– Acho que não. – Olhei
para Arthur novamente.
– Então só repouso e as
vitaminas? – Arthur perguntou.
– No momento sim. Pode
parecer coisa pouca, mas são cuidados essenciais. Principalmente, no caso da Lua.
Vamos ter mais atenção. Na próxima consulta saberemos mais coisas e ainda tem
os exames de sangue. Vamos ver como anda a sua saúde.
– Tudo bem. Vou logo
marca-los. – Assegurei.
Nos despedimos de Eliza e
eu marquei os exames de sangue para a sexta-feira à tarde, dessa mesma semana.
– Não vamos transar até a
próxima consulta. – Foi a primeira coisa que Arthur disse quando entramos no
carro.
– Ela disse que tudo bem
se eu estiver disposta.
– Nem pensar. Ela disse
que não é para nos preocuparmos, mas já fiquei preocupado quando escutei colo
do útero mais baixo. Isso não é normal. E se descolar? Nossa, nem quero pensar
nisso. Acho que vou pesquisar a respeito.
– Ele ligou o carro e me encarou. – É sério, Lua. – Enfatizou.
– Tudo bem. Mas você foi
o primeiro a me pedir calma e agora você tá fazendo tudo ao contrário. – Notei
e coloquei o cinto de segurança.
– Eu estou calmo, mas
isso não quer dizer que não posso me preocupar. Você ouviu o que ela pediu? Repouso,
ela deixou bem claro isso. E é tudo o que você vai fazer. Repousar, ficar
tranquila, ficar quieta, dormir, ficar deitada, sem estresse. Você ouviu, Lua.
– Meu Deus, Arthur! – Exclamei.
– Eu ouvi. É você quem vai precisar ficar tranquilo. Vai ficar os nove meses
sem transar?
– Praticamente só faltam
seis meses. – Ele sorriu. – E se for para a saúde de vocês, sim, ficarei sem
transar. Eu sei conter os meus desejos, mas depois, aah... Lua, você vai ter
que estar preparada. – Me avisou e eu ri alto.
– Até parece. Vai continuar
preocupado do mesmo jeito.
– Nossa, você se
aproveita da minha preocupação, sua cínica. – Arthur apetou minha coxa. – Mas é
sério, não vamos transar até sabermos se está tudo seguro mesmo na próxima consulta.
– Tudo bem, amor. Tudo bem.
– Concordei.
– Nossa, quase chorei quando
ouvi o coração batendo. – Comentou.
– Quase?
– Aaah... se eu começasse,
ia chorar igual criança, você me conhece. – Admitiu. Ele não tinha chorado, mas
seus olhos estavam cheios de lágrimas.
– Ai, eu não consegui. Eu
já queria chorar desde que vi a imagem se formando. – Confessei.
– É a coisa mais linda e
especial. Nossa, só lembrei de quando foi da Anie. Você lembrou disso?
– Acho que eu fiquei
ansiosa demais para escutar que estava tudo bem com ele. – Respondi.
– É normal. Eu te
entendo. Eu pensei em muitas coisas. Eu te amo muito, sabia? – Arthur me olhou.
O sinal tinha acabado de fechar. Me inclinei e lhe dei um selinho.
– Amo você mais que tudo.
Continua...
SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.
N/A: Olá, boa madrugada. Nem
sei como consegui postar agora. Meu plano era postar só essa semana – nem o dia
eu sabia. Que bom que deu para postar hoje. <3
Quero agradecer imensamente
pelos comentários – tanto os do blog quanto os do grupo no whats – no capítulo
anterior. Eu fiquei extremamente feliz e emocionada com cada palavra e com todo
o carinho de vocês para comigo e com a fanfic. Vocês são os melhores. Obrigada
mesmo! Esse retorno de vocês é muito importante para mim. Eu sempre digo
isso a vocês. Eu fico tão contente quando ele vem hahaha vocês nem fazem ideia.
Eu sei o quanto vocês
torceram e esperaram por essa notícia e sei o quanto vibraram quando ela
chegou. Espero que eu continue surpreendendo e alcançando as expectativas de vocês.
Confesso que já tenho tudo arquitetado aqui na minha cabeça e que os próximos capítulos
serão tão emocionantes como estes estão sendo.
Espero que tenha gostado
desse capítulo, e que tenha sido tão emocionante lê-lo como foi emocionante
para eu escrevê-lo. Podem ter certeza de que eu continuarei dando o meu melhor
a cada novo capítulo, mesmo que eu demore a trazer atualizações. Jamais vou
deixa-los sem respostas.
Comentem sobre o capítulo e sobre o que sentiram ao lê-lo. Estou ansiosa
para ler os comentários de vocês. Posso contar com isso?
Abriram os links dos looks?
Vocês sabem que eu vou dar-lhes
uns sustinhos, não sabem? Se não, podem ficar com essa certeza! Hahaha
Obrigada
mais uma vez pela compreensão e pelo carinho de sempre.
Um beijo
e até a próxima atualização.
Tenham
uma semana abençoada.
Que capítulo maravilhoso Milly,você sempre me surpreende a cada post! Esse Arthur sempre muito atencioso e cuidadoso, não é novidade né! Estou adorando como a história está se desenvolvendo, essa notícia veio para alegrar e completar ainda mais essa família linda! Ansiosa para ver a reação da Anie com essa notícia e também a reação dos amigos e familiares,tenho certeza que todos vão vibrar demais com essa novidade que só veio para aumentar o amor dessa família! Ansiosa para os próximos capítulos! Obrigada por nos manter sempre atualizadas! Um beijooooo e até a próxima atualização! ❤️❤️
ResponderExcluirQue capítulo maravilhoso Mille vc sempre arrasa a cada postagem, tadinhos do casal todo preocupado com o bebe e com a saude da Lua ainda bem q esta tudo bem e saudáveis trnho certeza de q o Arthur vai seguir ao pe da letra tudo o q a Médica falou e vai fica no pe da Lua .
ResponderExcluirEu sou muito apaixonada por essa história, sério!!! você sempre surpreende a gente com capítulos maravilhosos, eu fiquei muito emocionado lendo. Arthur é tão atencioso e carinhoso!! Tomara que tudo ocorra bem com essa gravidez e que os dois possam ficar mais calmos e curti-la !
ResponderExcluirEstou doida para saber como a Anie vai reagir a essa notícia, espero que ela goste de ganhar um irmão, já até imagino ela querendo ensinar tudo !!!
É Moça eu sei bem que a senhorita está preparando uns sustos por aí, só não sei se eu to preparada pra saber o que é viu kkkkkkk. Eu amei o capítulo Milly você arrasa demais !!!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEu não aceito nada menos que um cara como o Arthur, gente... que homem maravilhoso ♡♡ estou contente pela gravidez da Lua, confesso que também estou com medo! Ela não vai perder a criança, né? E a gravidez vai ser super saudável né?
ResponderExcluircapítulo incrível como sempre, estava ansiosa para a atualização..
ResponderExcluirAmo esse casal e estou muito ansiosa pra ver a reação da Anie..
Que susto vai ser esse ein?! Espero que a Lua não perca o bebê :(
Ansiosa para o próximo cap.
Amei o capítulo ansiosa para o próximo
ResponderExcluirAmo essa história, Arthur é simplesmente incrível
ResponderExcluirOi Milly, eu sou nova aqui, cheguei na semana passada e logo me apaixonei pela história, ainda não li desde o início, só do cap 82 por aí até aqui e eu AMEI, vc escreve muito bem, estou ansiosa para a próxima atualização, tem alguma forma de eu saber assim q ela sair ? Demorei pacas p aprender a mexer aqui hahaha
ResponderExcluirMedo desses sustinhos
Olá, Gabriela! Seja muito bem-vinda! Que amor! Fico muito feliz que você tenha gostado da história (mesmo que ainda não tenha lido toda, até aqui) Obrigada pelo elogio! Isso me motiva muito a continuar escrevendo!
ExcluirTenho um grupo no WhatsApp, que é da fanfic. Se você desejar entrar, é só colocar o número aqui, que eu te adiciono.
No momento, estou tendo aulas e alguns outros trabalhos, por esse motivo ainda não atualizei a fanfic.
Um beijo e até breve!
Aiii meu Deuss, até eu tava nervosa para ler essa consulta kk. Não vejo a hora de contarem a anie. Cap maravilhoso 😍😍
ResponderExcluirOlá Milly, comecei a ler a web a pouco mais de uma mês e gostaria muito que me colocasse no grupo da fica. (32)8859456
ResponderExcluirBom dia, Samara. Acho que o seu contato está incorreto. Não aparece o seu WhatsApp para mim.
Excluir