Litte Anie - Cap. 87 | 2ª Parte

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Little Anie – 2ª Parte 

e quando você me viu em pedaços,
você me deu amor.
um por um.
[...] você me abraçou com empatia,
sabendo que eu me recolheria sozinha* ou
não. sabendo da minha força própria. você me amou
nos momentos mais frágeis e vulneráveis da minha existência.
e foi o que eu fiz por você também. somos dois corações
independentes que escolheram se unir.
eu te amo.
– João Doederlein | @akapoeta

Pov Arthur

No capítulo anterior...

Lívia abriu os olhos. Eram azuis. Um azul tão lindo.

– Literalmente, só o nariz que é seu, Micael. E talvez, os cabelos. – Comentei.
– Pra você ver. – Ele se aproximou da filha. – E ela gostou de você. Vê se pode? Comigo ela abre um berreiro. Sophia diz que eu não sei segurá-la do jeito que ela gosta. Ela só tem dois dias, como pode querer decidir alguma coisa?
– Mulheres. Pode ir se acostumando. – Sussurrei. E ganhei um tapa de Lua.
– E vocês dois? Não pensam em ter mais filhos? – A mãe de Micael nos perguntou. Lua me olhou como quem diz “Eu não quero responder!”
– Mãe! – Mel lhe chamou a atenção.
– O que foi? Perguntei algo de errado?
– Não. Está tudo bem. Não pensamos em ter mais filhos. – Respondi.
– Mas lá pra frente vocês podem mudar de ideia. – Ela continuou.
– Não pensamos mesmo. – Voltei a dizer. Não queria que Lua ficasse ainda mais desconfortável.
– Eles perderam um bebê ano passado. Por isso não pensam mais. – Emma disse. Nem sabia que ela estava prestando atenção na nossa conversa.
– Mãe! – Sophia exclamou.
– Oh, eu sinto muito. Eu não fazia ideia. Desculpe a indiscrição. – A mulher ficou, visivelmente, sem graça.
– Está tudo bem. Só não queremos falar sobre isso. – Respondi e olhei para a Lua que seguia calada. – O momento é de alegria. – Falei olhando para a menina em meus braços. – Acho que ela vai chorar. – Comentei e entreguei ela para Sophia.
– Agola eu posso ver ela? – Anie perguntou e se aproximou da tia.
– Claro, meu anjo. – Sophia respondeu carinhosamente. – Você pode carregar se quiser. Quer carregar? Pode sentar aqui comigo.
– Eu quelo. Eu posso, mamãe? – Anie olhou para Lua.
– Pode, se a sua tia deixou. – Lua sorriu de lado e eu me aproximei dela. – Está tudo bem, amor. – Ela afirmou baixo.
– Eu sei que não está tudo bem. Mas não quero falar sobre isso aqui. – Lhe dei um beijo na testa.

***

Ficamos mais alguns minutos no quarto e depois descemos para a sala. O clima estava um pouco desconfortável. Lua permanecia calada e eu queria voltar para casa. Sabia que ela não estava se sentindo bem, embora fingisse para as outras pessoas.

– Vocês chegaram hoje? – Perguntei aos pais do Micael e da Mel.
– Sim. Vamos procurar um hotel para ficar. Aqui a casa está cheia.
– Vocês podem ficar lá em casa. Temos um quarto de hóspedes sobrando. Mel disse que vocês ficarão até ela ter o bebê. – Lua comentou.
– Sim. Aproveitamos para fazer só uma viagem. Ela já está com quase trinta e oito semanas. Mas não queremos incomodar, Lua. A casa de vocês também já está cheia.
– Não será nenhum incomodo. Não é, Arthur? – Lua me perguntou.
– Não mesmo. – Assegurei. – Podem ficar lá em casa sem problemas. – Acrescentei.
–  É até melhor para a Mel. Sei que ela não gosta de incomodar as meninas. Eu trabalho, saio de casa antes das oito e só volto umas seis ou seis e meia da noite. Às vezes a gente nem consegue se falar, não é, amiga? – Lua olhou para a Mel.
– É. – Mel sorriu sem mostrar os dentes. – Mas está tudo bem. Vocês já estão fazendo mais do que deveriam. De certa forma, todas essas mudanças atrapalham a intimidade de vocês.
– Você vai precisar de mais ajuda, amiga. Sei que não gosta de chamar as meninas quando precisa de algo, então é bom que alguém te ajude nos primeiros dias. Embora você saiba que elas estarão a sua disposição e depois eu e o Arthur acertamos as coisas. Ele também vai estar em casa às vezes, pode te auxiliar em alguma coisa. Mas será bom ter a tua mãe por perto. A nossa casa está de portas abertas, caso vocês queiram ficar lá. – Lua disse e me olhou. Eu apenas assenti.
– Não é questão de incomodo, Mel. Não veja por esse lado. Nós somos seus amigos. Só queremos te ajudar. Só queremos o melhor para você. Nossa casa é grande. Tem lugar para todos vocês. Eu e Lua nunca ficamos sozinhos naquela casa. – Sorri. – Então, vocês não precisam se preocupar com isso. – Acrescentei.
– Sendo assim, nós vamos aceitar. – Marli aceitou e olhou para o marido.
– Não vamos atrapalhar mesmo? – O homem insistiu.
– Claro que não, Scott. – Garanti. – Está tudo bem.
– Então, ok. Muito obrigado. Vocês dois são gentis demais. – Ele sorriu.

Ficamos conversando mais um tempo e depois nos despedimos. Lua se despediu da mãe com um abraço rápido, diferente da despedida com John. Lua estava magoada e triste, embora tentasse disfarçar a todo custo. Eu queria muito chegar logo em casa para conversar com ela a sós.

As malas que Marli e Scott trouxeram, couberam sem grande esforço, no carro. Anie foi no colo da Lua – ela jamais acharia isso ruim. Ela ama sentar no banco da frente.

– Eu já tinha até esquecido do quão grande é a casa de vocês. – Marli comentou quando estacionei na garagem de casa. – Mas também, vi Anie pessoalmente ainda bebê. – Ela acariciou os cabelos da Anie que sorriu antes de correr para dentro de casa. – Carla ainda está aqui?
– Claro. – Lua sorriu. – Só saí daqui o dia que ela quiser. – Deixou claro. – É uma das pessoas que mais confiamos. Podemos sair despreocupados e deixar Anie sob a responsabilidade dela e da Carol, e, também, deixar a nossa casa, é claro.

Tirei as malas do carro e ajudei Scott a leva-las até o quarto – que Lua já tinha avisado à Carla para arrumar.

– Estão certos! É difícil encontrarmos pessoas confiáveis assim.
– Eu ganhei um cachorro de aniversálio. A senhola gosta de cachorrinhos? – Anie carregou Bart e mostrou à Marli, que sorriu ao pegar o cachorro.
– Eu amo cachorrinhos. Eu tenho dois em casa.
– Qual é que é o nome deles então? – Anie perguntou curiosa.
– Bruce e Jake. E qual é o nome do seu?
– É Bart! Meu papai e minha mamãe que me delam.
– Foi um presente lindo, querida.
– Sim. Eu gostei um monte.
– Se você deixar, ela vai continuar falando sem parar. – Contei divertido.
– Ela é uma graça. – Marli sorriu.
– Literalmente. – Lua concordou.

Anie pegou o cachorrinho de volta e correu para a brinquedoteca. Subimos para mostrar o quarto aos pais da Mel e depois eu e Lua fomos para o nosso quarto.

– Quero tomar um banho. – Ela disse mais baixo e tirou o tênis.
– Pode ir, loira. – Falei e liguei a tevê. – Você sabe que eu quero conversar. Mas, também, vou tomar um banho antes.
– Ai, Arthur. Eu já disse que está tudo bem. – Lua assegurou.
– Pode repetir mais mil vezes, eu te conheço e não vou acreditar. – Pontuei. – Posso tomar banho junto com você?
– Não.
– Tudo bem. Eu espero você sair. – Aceitei. Já eram quase oito horas da noite.

Lua entrou para o banheiro e eu fiquei assistindo um programa bem aleatório que estava passando no primeiro canal que apareceu quando liguei a televisão.

Tirei meu tênis e minha blusa e me sentei na cama. Sei que Lua resolveu ir logo tomar banho só para não conversar comigo.

Lua saiu do banheiro quase meia hora depois. Tinha lavado os cabelos e o cheiro de frutas vermelhas ou morango – eu sempre confundia – invadiu o quarto.

Me levantei da cama e fui para o banheiro. Eu, certamente, não demoraria no banho – estava fazendo muito frio.

Quando saí do banho, Anie estava sentada na cama. Ela também já estava banhada e de pijama.

– Já vai dormir é?
– Não. A gente vai jantar plimeilo, papai. Eu tô espelando o senhor.
– Uhm... tudo bem. Só vou vestir uma roupa. Não demoro, tá?
– Tá. Eu espelo aqui.

Sorri, mas não falei mais nada. Caminhei para o closet e procurei uma roupa para vestir.

Dez horas da noite.

Depois do jantar, Lua subiu com Anie para o quarto para fazê-la dormir. Fiquei na sala com a Mel e os pais dela. Mel contou as novidades sobre a gravidez e eu achei melhor Lua não estar por perto mesmo – ela já não estava muito legal.

Algum tempo depois, Lua apareceu na sala e se sentou ao meu lado. Passei um braço por trás do pescoço dela e puxei ela para mais perto de mim.

– Demorou hoje. – Sussurrei.
– Sim. De novo. – Lua me encarou. Anie está dando trabalho para dormir.
– Eu achei a coisa mais fofa o quartinho. Mel disse que você sugeriu que reformassem o quarto.
– Foi. – Lua curvou os lábios em um sorriso. – Para ela se sentir mais à vontade, e o bebê também, é claro. Escolhemos juntas os detalhes.
– Eu contei para a mamãe. Agora falta só montar o berço. Demorou mais do que a gente imaginou.
– Sim. A empresa que contratamos demorou demais. – Lua contou.
– Eu monto o berço amanhã. Já disse à Mel que não pode ser tão difícil assim. – Scott comentou. – Além do mais, Arthur pode me dar uma ajudinha, certo?
– Claro. – Rir. – Apesar de nunca ter montado um berço. – Deixei claro.
– Ele vai adorar esse programa. – Lua falou divertida. – Da Anie nós pagamos. Tudo era tão novo e complicado.
– Sim... só desmontei. – Lembrei e todos riram.
– Agora as coisas estão mais modernas. No tempo de vocês que era mais complicado. Em mil novecentos e oitenta e cinco os moveis não eram assim... eram tantas pecinhas e parafusos. Isso sim era complicado. – Scott lembrou de maneira agradável.
– Ei, eu não sou de oitenta e cinco!
– Nem eu! – Mel e Lua retrucaram por conta da idade.
– Tenho vinte e nove anos! – Lua ressaltou. – Sou de oitenta e sete.
– E eu também. Inclusive, Lua é mais nova do que eu. – Mel observou e nós rimos outra vez.
– Mulheres e seus estresses com a idade. – Scott pontuou muito bem e levou uma cotovelada de Marli. – Own, querida. Isso doeu!
– Mas Lua é assim mesmo, fica desse jeito quando falo da idade dela. – Expus.
– Aaarthuur!
– Eu não estou mentindo, meu amor. – Lhe dei um beijo na testa. – Vamos dormir? – Murmurei.
– Ai, Arthur... você nem quer dormir, quer conversar. – Lua fez um bico e eu acabei sorrindo.
– Nós precisamos, você sabe disso. – Continuei falando baixo.
– Não precisamos nada. – Ela retrucou mais baixo.
– Nós já estamos indo dormir, boa noite para vocês. – Falei e Lua me encarou.
– Agora, Arthur só sabe dormir se eu for com ele. Parece que além da Anie, tenho um filho de quase trinta anos. – Disse se levantando do sofá.
– Mas é assim, minha filha. – Marli soou compreensiva. – Depois de uns anos de casamento, os homens começam a fazer essas coisas. Você pensa que Scott é diferente? Me enche o saco todas as noites para dormir a hora que ele quer.
– Depois de quantos anos? Agora que completamos seis anos de casados, e ele já faz isso há oito anos. – Lua explicou e eu rir sem acreditar na audácia dela.
– Bons anos... – Marli pareceu se recordar. – Mas até que demorou um pouco. Já estamos casados há trinta e cinco anos. – Nos contou.
– Meu Deus! Imagina quando completarmos trinta e cinco anos de casados? – Lua me olhou rapidamente.
– Faltam só vinte e nove anos. E provavelmente – abracei Lua pela cintura –, você vai estar mais impaciente ainda. – Ri e Lua tentou se afastar.
– Você com certeza estará me irritando mais ainda. – Resmungou.
– Uhm... mas quando. – Neguei e lhe dei um beijo na bochecha.
– Boa noite, gente. – Lua se despediu.
– Boa noite, queridos. – Marli nos abraçou.
– Boa noite, amiga. – Mel nos jogou um beijo e Scott também nos desejou boa noite.

Caminhamos abraçados para a escada.

– Você é muito sacana, loira. É mais irritante do que eu, e fica dizendo ao contrário. – Comentei enquanto subíamos os degraus.
– Não. Nada disso. Eu posso ser mais chata do que você, mas você é o que irrita mais.
Uhm... tá, talvez você tenha razão.
– Talvez não, eu tenho razão! – Ela deixou bem claro.
– Mandona! – Abri a porta do quarto e Lua entrou.
– Você me diz que gosta.

Me olhou por cima do ombro e tirou a roupa que estava vestindo. Depois andou para o closet. Fui para o banheiro fazer xixi e escovar os meus dentes. Lua apareceu lá depois de alguns minutos, também, veio escovar os dentes.

– É sério que você vai querer conversar? – Me indagou.
– Agora estou escovando os dentes. – Respondi com a boca cheia de creme dental.
– Arthur! – Ela exclamou. – Estou fazendo uma pergunta séria. – Acrescentou e pegou a escova de dente.

Terminei de escovar os meus dentes e Lua ainda me encarava.

– O que foi?
– Você é idiota. – Respondeu chateada.
– Uhm, tudo bem. Não vou discutir por isso. – Ri e saí do banheiro.

Já eram quase onze horas da noite. Tirei minha camisa e minha calça de moletom e deitei na cama. Peguei meu celular para ver se tinha alguma ligação ou mensagem. Eu tinha que ligar para a minha mãe para saber como ela estava – nunca mais tínhamos nos falado.

– Arthur? Você está me ignorando. Odeio quando faz isso. – Lua sentou na cama.
– Claro que não, Lua. – Sorri de lado. – Só estou lendo algumas mensagens aqui. Sabe, eu tenho que ligar para a minha mãe. – Comentei.
– Laura tem mesmo razão quando briga com você. – Lua pontuou e se deitou.
– Iiih... vocês é gostam de brigar comigo. Não vejo motivos.
– Você é cínico. E ai da Anie se passar meses sem me ligar!
– Hahaha... até parece que você fala com seus pais todos os dias.
– Pelo menos eu falo com o meu pai toda semana. Diferente de você. – Retrucou. Desliguei o celular e virei o rosto para encará-la.
– Eu não tenho pai. – Respondi simplesmente. – Na verdade, nunca conheci, porque pra nascer eu precisei de um. – Repensei.
– Mas tem mãe. – Pontuou.
– Vai ficar nervosa?
– Eu estou muito calma.
– Estou vendo. – Ironizei. – Olha, eu só queria que conversássemos porque senti que você ficou triste com os comentários da tua mãe. Eu não queria que isso acontecesse, Luh. Você sabe disso. Sei que ela disse aquelas coisas para me incomodar, mas acabou que te deixou triste. Não que não me incomodaram, mas com você é diferente. – Expliquei. – Acho que algumas coisas já estão indo longe demais. Sei que é a sua mãe e, também, nós estávamos na casa da sua irmã... eu não quis deixar o clima mais pesado e constrangedor. Mas você não merece passar por isso. A gente se apoia muito, a gente se compreende, conversamos muito e nada disso é fácil. Eu quero que você se sinta bem. Eu sei que dói, sei que você ainda pensa no bebê e que esse é o tipo de acontecimento que só o tempo vai ajudar a entender, a aceitar. Não vamos esquecer de uma hora para a outra. Eu não esqueci, meu amor. Quando eu digo que não quero pensar nisso, é, exatamente, porque eu não quero ficar triste de novo. – Continuei e Lua apenas me olhava com atenção. – Somos felizes, meu bem. Eu sou tão grato por ter você e por juntos termos uma família linda. Não quero que você fique se cobrando. Você é uma mulher tão maravilhosa. – A elogiei.
– Eu tento aceitar... entender... todos os dias, às vezes eu chego até a esquecer. Aí depois eu me lembro ou, igual hoje, alguém me lembra. Eu que tenho que te agradecer por ser um marido tão bom e compreensivo. Sei que tenta, incansavelmente, todos os dias me colocar para cima, e no sentido figurado, me colocar no colo sempre quando eu preciso e, ultimamente, tenho precisado tantas vezes.
– Não é nenhum sacrifício, Lua. Eu te amo e eu te amo tanto.
– Eu também te amo tanto. Eu nem sei o que seria de mim se eu não tivesse você. Minha vida. – Lua acariciou o meu rosto. – Eu fiquei mesmo sem graça. Não sei dizer exatamente... foi estranho. Quis tanto vir embora. Minha mãe sabe que isso me machuca também... não importa se já passou muito tempo e se até vai fazer um ano. Não importa! Era o nosso filho. Como eu vou esquecer disso? Dói. Ainda dói. Porque lembro de todas às vezes que você me convidou para ir ao médico e eu disse que não. Que a dor ia passar, que eu ia melhorar. E tudo só piorou.
– Você não sabia, Lua. E se soubesse, teria sido a primeira pessoa a querer ir ao hospital. Então, não quero que se culpe.
– E se eu quisesse, sei lá... – Lua suspirou. – Fazer o tratamento, você ia concordar?
– Lua, meu amor... eu já disse que não. Não por mim e por você. Tem muitas chances de não dar certo e esse ‘e se’, me assusta. Porque se der errado, tudo vai voltar e nenhum de nós está preparado para essa notícia. Não nos falta nada, querida. Sei que por muito tempo eu insistir para que você engravidasse de novo porque eu queria mais filhos, mas eram os meus planos e existem planos maiores que os meus, que os seus. A gente precisa entender, meu amor.
– Eu sei, Arthur. Eu entendo. – Lua suspirou. – Mas pensei em tentar... – Disse mais baixinho.
– Vem aqui. – Lhe chamei. – Você sabe que eu sempre vou cuidar de você, não sabe? – Perguntei e Lua assentiu. – A gente sempre vai se ter e saber disso me tranquiliza.
– Porque você é a minha vida. – Lua me abraçou forte.
– E você a minha. – Lhe dei um beijo demorado na testa. – Não quero te ver triste. Isso é uma das coisas que mais me deixa sem saber o que fazer.
– Mas você faz, exatamente, o que tem que fazer. – Ela depositou um beijo no meu pescoço.
– Amanhã você tem trabalho. – Me lembrei.
– Sim. E Anie tem balé.
– Tem que pagar amanhã a mensalidade. Esse mês é meu? – Indaguei e Lua assentiu. – Tenho que dar uma passada no banco. Tem o supermercado também.
– Carla deve ir essa semana.
– Tenho que dar o dinheiro pra ela. Que tal dormirmos? Eu, realmente, estou com muito sono. – Confessei.
– Tá. – Lua concordou e me deu um beijo – demorado – de boa noite.
– Eu te amo. – Sussurrei.
– Eu te amo. – Lua sussurrou de volta. – Você é tão lindo.
– E você é tão incrível. – Beijei ela outra vez. – E linda também, é óbvio. – Acrescentei após o beijo.
– Você é muito romântico. – Lua passou a ponta dos dedos pela minha barriga. – Eu não consigo ser assim toda hora.
– Hahaha... você é o meu cavalinho preferido. – Puxei ela para mais junto de mim. – Eu não mudaria nada em você, minha loira.

Depois de alguns minutos em silêncio, dormimos.

Londres | Segunda-feira, 16 de maio de 2016 – Sete horas da manhã.

Já tinha amanhecido e meus olhos estavam, levemente, pesados. Passei as mãos nos cabelos e bocejei. Lua estava com uma das pernas no meio das minhas e o braço em volta da minha cintura.

– Loira, já amanheceu, meu amor. – Chamei ela baixinho.
– Aaaii, Arthur... ainda estou com tanto sono. – Ela disse, completamente, sonolenta.
– Fica hoje aqui comigo então. – Sugeri com um meio sorriso. Lua me encarou.
– Você sabe que eu não posso ficar faltando trabalho. – Me lembrou.
– Você sabe que a gente podia resolver esse problema, hum? Você pode ter o seu próprio escritório. Eu vou adorar te ajudar nisso.
– Arthur!
– Eu não estou brincando, Lua. Já te falo isso há tempos. – Ressaltei. – Aí você poderá chegar a hora que quiser. – Pontuei.
– Aí além de ser meu marido, você vai ser meu chefe?
– Não. – Ri. – Claro que não, Lua. Você seria a sua chefe. Eu só ia ser seu sócio. Ia ser um dos meus melhores investimentos. – Completei.
– Não. Nada de misturar trabalho com o nosso casamento. – Lua deixou claro.
– Tem medo, loira?
– É melhor prevenir. E além do mais, está tudo bem no meu trabalho. Não penso em sair de lá.
– Se você diz. – Dei de ombros.
– Digo e digo mais... – Começou espalmando uma das mãos no meu peito. – Me leva no trabalho hoje?
– Aah, vida, é sério? – Indaguei. – Tô com muito sono, mas não sei te dizer não. – Fiz um bico.
– É. – Lua se virou e ficou sobre mim. – Eu gostei de saber dessa última parte. – Sorriu de maneira maliciosa.

Amo esse sorriso de quem vai aprontar alguma coisa que eu vou gostar.

– E esse sorrisinho, hein? – Comecei e puxei seu queixo para aproximar dos meus lábios.
– Sei de uma maneira bem gostosa de te acordar. – Me provocou.
– A é?
– Aaham... – Lua mordeu o lábio inferior devagar. Depois desceu uma das mãos pela minha barriga e colocou a mão por dentro da minha cueca. – Não vou precisar me esforçar muito. – Notou.
– Você vai se atrasar e depois vai colocar a culpa em mim. – Observei entre risos enquanto Lua me massageava.
– Você não tá gostando?
– Haha... esse é o tipo de pergunta que eu nem preciso te responder. Você tá sentindo, Lua.
– Na minha mão. – Ela me olhou com um sorriso ousado nos lábios.
– Literalmente. – Afirmei antes de fechar os olhos e aproveitar as carícias daquela mão macia.

Depois de alguns minutos, Lua tirou a camisola e a calcinha e aproveitou para tirar a minha cueca logo em seguida.

– E eu vou fazer devagar. – Me avisou ao se sentar. Fechei meus olhos e segurei em sua cintura.

Não consegui dizer nenhuma palavra. Os movimentos eram lentos e Lua estava me provocando.

– Hoje você tá calado. – Ela observou ao passar os lábios pelo meu queixo.
– É que tá cedo e a gente tem hóspedes no quarto ao lado. – Lembrei ela e Lua riu baixinho; sem parar de se movimentar.
– Você acha que vão escutar? – Roçou os lábios na minha orelha.
– Lua! – Exclamei porque senti ela me apertar.
– É o meu nome... e ele fica sexy na tua voz. – Respondeu.
– Hoje você vai chegar no trabalho nove horas. – Falei e virei Lua de costas na cama.
– Eu estava achando você muito controlado.
– Senti toda a sua provocação. Meu Deus! Loira, você é demais. – Colei os lábios nos dela antes de acelerar os movimentos.

Nossos corpos estavam suados e nossas respirações já estavam controladas.

– Você tá muito atrasada. – Falei depois de muitos minutos.
– Eu sei. – A voz dela saiu abafada por estar contra o meu pescoço. – Mas mesmo assim, eu repetiria. – Me afastei um pouco para olhar seu rosto. – Você não acredita?
– Acredito. – Saí de cima dela. – Sempre é tão gostoso. – Completei. – Você é gostosa. – Enfatizei e Lua sorriu sem mostrar os dentes. Presunçosa.
– Vamos tomar banho?
– Vamos. Senão, vai ser difícil sair dessa cama.

À tarde – Balé.

– Vaaaamoos, filha! Você vai chegar na aula atrasada. – Era a quarta vez que eu chamava por ela.
– Eu já vou, papai. Por que que agola o senhor tá glitando tanto? – Indagou em paciência. – Plonto, já tô aqui.
– Nossa, você é igualzinha a sua mãe. Eu não posso me atrasar, mas vocês podem à vontade. – Resmunguei e caminhamos para o carro.
– É que o senhor glita! Me irrita.
– A tá, te irrita? Você nem tem tamanho para viver irritada. – Respondi e tentei segurar a risada.

Coloquei Anie na cadeirinha e depois coloquei o cinto. Dei a volta no carro e sentei no banco do motorista.

– O senhor vai assistir minha aula hoje?
– Não, meu amor. Eu vou ter que passar no banco para sacar o dinheiro para pagar as suas aulas de balé. Fui no banco hoje, depois que deixei sua mãe no trabalho, mas tinha muita gente. Vou agora de novo. – Expliquei.
– Mas o senhor vem me buscar?
– Sim, filha. Não se preocupe. – Assegurei e ela concordou em silêncio.

Deixei Anie na aula de balé e segui para o banco. Tinham poucas pessoas – diferente de hoje de manhã. Saquei o dinheiro e dei uma passada no shopping. Queria comprar um presente para a minha filha e para a minha mulher.

Falei para a Lua que ia dar de presente para ela um pijama sexy de abacaxi. Ela tem um que eu implico bastante. Sorri só de lembrar. Mas sei que ela usa só para me provocar. O pijama não é tão feio, é só sem graça.

Entrei em três lojas até encontrar o que eu procurava: um pijama sexy de abacaxi – um short com estampa de abacaxi e um top todo cinza de alcinha. Lua ia amar. É bem a cara dela.

Comprei também uma blusa de moletom escrito: babygirl. Um dos meus apelidos favoritos que eu gosto de chamar ela. Lua é o meu bebê.

Na seção infantil eu comprei, um body na cor vinho com uma calça jeans para a Anie; um conjuntinho de calça e blusa na cor pêssego e preto, que vinha escrito na blusa e na lateral da calça comprida a palavra queen. Poderia ser princesa, e tinha. Mas eu prefiro rainha.

Paguei as compras e segui de volta para a escola de balé da Anie. Eu tinha que pagar a mensalidade – e acho que, teria que buscar Lua no trabalho. Só que ela ainda não tinha me ligado.

– Pelo visto cheguei na hora certa. – Comentei ao ver que a aula tinha acabado naquele instante.
– Acabou agola mesmo. – Anie respondeu ao se aproximar de mim. – E agola a gente vai pla casa?
– Vamos pagar a sua mensalidade primeiro e depois eu vou ligar para sua mãe. Não sei se é para eu ir busca-la.
– No tabalho da minha mamãe?
– Sim.
– Então tá. – Ela concordou.

Fomos até a recepção da escola e eu efetuei o pagamento da mensalidade da Anie – na verdade, paguei dois meses adiantados. Se tem uma coisa que eu não gosto, é de ficar pagando essas contas mensais. Mas como a minha digníssima esposa gosta de tudo certinho e, também, não tem nem um ano que Anie está fazendo balé, achamos melhor pagar dessa forma do que deixar pago um ano inteiro e ela desistir de fazer as aulas. Mas até que ela gostou dessa “dança”.

– Vamos?
– Vamos, papai. Mas o senhor não ia ligar pla minha mamãe?
– Vou ligar. – Afirmei.

Entramos no carro, mas antes que eu procurasse o número da Lua, a foto dela piscou na tela do meu celular.

Ligação ON

– Arthur?
– Certamente, se você ligou para o meu número. – Brinquei.
– Nossa, mas você tá muito engraçadinho. – Retrucou. – Não foi assim que te deixei de manhã. – Completou mais baixo.
– Uhm, sei bem como me deixou de manhã. – Olhei para o retrovisor e vi que Anie estava entretida com uma barbie. – Só não falo mais coisas, porque nossa filha tá aqui.
– Safado! – Exclamou. – Já foi busca-la no balé?
– Sim. Já estamos de saída. Quer que eu vá te buscar?
– Sim. Foi para isso que liguei. – Respondeu divertida. – Hoje você é meu motorista.
– Folgada.
– Vem logo!
– E mandona. Estou ganhando quanto para fazer isso?
– Mais tarde eu te mostro de novo. – Lua pontuou.
– Uuhm...
– Não demora, Arthur. – Me lembrou e desligou antes que eu falasse mais alguma coisa.

Ligação OF

– Era a minha mamãe?
– Sim. Quem mais gosta de mandar em mim além de você?
– Só a minha mamãe, que é a sua dona também.
– Aaah, eu tenho uma dona? Eu não sabia disso, Anie. – Respondi de cenho franzido e Anie estava muito séria.
– Tem, não é? Que ela manda você fazer as coisas e você faz. Igual que vocês mandam eu. – Ela explicou simplesmente.
– Nãããoo... nããoo... – Comecei a rir. – São situações, completamente, diferentes. Somos seus pais, por isso mandamos em você. Você é criança. Precisa que alguém seja responsável e te diga as coisas certas a fazer.
– Mas você não é cliança. Então por que faz as coisas que a minha mamãe manda? Só eu que sou filha dela. – Indagou confusa.
– Porque sou o marido da sua mamãe. Não faço, exatamente, tudo o que ela manda não. – Neguei tentando conter meu riso. – Adultos bem educados também obedecem. Sua mãe vai gostar dessa conversa. Principalmente, da parte que você acha que ela manda em mim.

Se bem que Lua gosta de mandar mesmo – Anie não puxou, herdou.

– Então a gente vai buscar a minha mamãe agola?
– Sim. Ela já saiu do trabalho.
– Aí mandou o senhor ir buscar ela? – Aqueles olhinhos semicerrados de “eu disse” e aquele tom irônico inocente, me fazia perceber que Anie se parecia cada vez mais com a mãe. Embora, Lua não fosse nada inocente.
– Pois é. – Afirmei e Anie sorriu.
– Coloca então uma música, papai. Daquela da estelinha! Por favor. – Anie chutou o banco da frente ao balançar os pezinhos.
– Sem chutar o banco, Anie. – Pedi. – Depois saí do lugar que sua mãe deixa e ela me enche de perguntas.
– Ainda vai demolar?
– Dez minutos. – Respondi e coloquei a música que Anie tinha me pedido.
– Quanto que é dez minutos?
– Umas cinco vezes essa música da estrelinha. – Expliquei.
– Mas eu não quelo escutar ela cinco vezes.
– Tá, eu coloco outra música depois.
– Ainda vai ser cinco vezes?
– Mais ou menos. Não vai mudar muita coisa. – Respondi.
– Tá.

*

– Nossa, imagine se eu falasse que podia demorar. – Lua entrou no carro e jogou um beijo para Anie que estava no banco de trás e que retribuiu o gesto carinhoso.
– Ainda reclama? – Questionei.
– Você tá um motorista muito resmungão. – Lua me deu um selinho.
– Aah, agora eu que estou resmungando? – Ironizei e comecei a dirigir.
– Filha, como foi a aula? – Lua perguntou e ajeitou o banco que, minutos atrás, Anie tinha chutado para frente. – Alguém mexeu aqui?
– Sua filha que chutou. Eu avisei. – Olhei para Anie por cima do ombro.
– Só duas vezes e foi sem queler, mamãe.
– Tudo bem, meu amor. E então, como foi a aula?
– Muito legal! Mas o meu papai nem quis assistir. – Contou com aquele bico típico de drama dela.
– Achei que você tivesse assistido, amor. – Lua me olhou.
– Fui ao banco...
– Mas você não foi de manhã? Disse que ia depois de me deixar no escritório. – Lembrou.
– E fui, mas tinha muita gente e eu voltei para casa. – Expliquei. – Aproveitei para dar uma passada no shopping. Comprei um presentinho para vocês. – Contei. – Embora, observando agora, talvez vocês nem mereçam. – Acrescentei.
– Eu já ia perguntar das sacolas mesmo. – Lua olhou para o banco de trás. – Por que não merecemos?
– Ei, deixa eu te contar, Anie veio com um papo de que você manda em mim.
– E ela tá errada? – Lua riu alto. – Desculpa, a sua cara de incrédulo foi a melhor.
É por isso que eu disse que vocês não merecem os presentes.
– Aah, Arthur. Para meu amor. Estou brincando. – Lua passou a mão pela minha coxa. – Como foi para vocês chegarem a esse assunto?
– Ela é igual a você. Falando então, fico assustado. Imagina quando tiver a sua idade? Se eu atraso, ela se irrita. Agora se é ela quem atrasa, eu não posso ficar irritado. Você conhece outra pessoa assim? Porque eu conheço. – Apontei para Lua que voltou a rir ao olhar para o banco de trás.
– É que o senhor glita. Por que que glita? Não sabe espelar?
– Pois é, Arthur. Não sabe esperar? – Lua repetiu tentando segurar o riso. Revirei os olhos só para não dar confiança às duas.
– Então, chegamos nesse assunto porque, não sei de onde ela tirou essa teoria, mas ela acha que eu tenho uma dona. Uma não, duas, porque ela se incluiu na frase, mesmo sem saber. Então, eu concluí que eu estou ferrado. Uma garotinha de quatro anos tem esse pensamento e eu observando bem, vejo que ela não está totalmente equivocada.
– Você só é um cara gentil e eu sou mandona mesmo. – Lua admitiu.
– E eu não sei disso?! – Retruquei.

Nove horas da noite.

Já tínhamos jantado e Lua tinha subido para o quarto com Anie. Não sei se ela já tinha conseguido fazer com que a pequena dormisse.

– Ainda acordada? – Perguntei ao entrar no quarto.
– O senhor disse que tinha plesentes! Quelo ver o meu!
– Cadê a sua mamãe? – Indaguei por não ver Lua no quarto.
– No banheilo.
– O que você está assistindo? – Me sentei na cama.
– Alice no país das malavilhas. Gosto do coelho e da Alice. – Anie veio para o meu colo. – O senhor compla pla mim um livro dela?
– De historinha?
– É, papai.
– Eu compro, meu amor. – Lhe dei um beijo nos cabelos.
– Assiste comigo, papai?
– Assisto.

Lua saiu do banheiro uns cinco minutos depois.

– Você tá se sentindo bem?
– É claro que sim, Arthur. Por que?
– Por nada. – Dei de ombros. – Pega as sacolas ou Anie não dorme hoje.
– Resolveu nos dar os presentes?
– Como se eu fosse resistir. Estou louco para saber se vão gostar. – Lua pôs as duas sacolas sobre a cama. – Uma é sua, essa daqui. – Entreguei a sacola a ela. – E outra é da Anie. – Entreguei a da Anie.
Baby girl. – Lua leu ao pegar o moletom e sorriu.
– Minha. – Sussurrei lhe dando um beijo no pescoço.
– Ai, amor, que moletom fofo e lindo. Adorei. Amei a cor. – Lua me deu um selinho. – Obrigada.
– De nada. – Retribuí o beijo. – E você, gostou do seu?
– Uau, uma calça compida bonita. Duas calças, mamãe. O que é que tá esclito?
Rainha. Porque você é a minha rainha, é mais do que princesa. – Expliquei.
– Eu super adolei, papai. Muito obrigada. – Anie me deu um abraço forte.
– Achei esse body a cara dela. Ainda mais que agora deu para querer se vestir parecida com você. – Contei mais baixo e Lua encostou a cabeça no meu ombro.
– Ela vai parecer uma mocinha com esse look. Você manda super bem, Arthur. Amo o seu bom gosto. – Lua me elogiou e eu lhe dei um beijo nos cabelos.
– Já viu o seu segundo presente?
– Vi uns abacaxis. – Lua riu baixo.
– Seu pijama que eu prometi. – Falei e Lua tirou a roupa de dentro da sacola.
– É, você não brincou mesmo.
– Claro que não. Vai ficar lindo em você. – Assegurei.
– Obrigada. Parece ser bem confortável. – Lua analisou o top. O short é curto, do jeito que ela gosta.


– Também acho.
– Agora que a senhorita já viu os presentes, que tal irmos dormir? – Lua indagou e Anie a olhou desconfiada.
– Posso dormir aqui com vocês?
– Pode? Será que pode? – Lua começou a fazer cócegas na pequena. Coloquei os presentes de volta nas sacolas e me levantei da cama.
– Vou no banheiro. – Avisei e as duas ficaram rindo na cama.

Pov Lua

Londres | Sexta-feira, 20 de maio de 2016 – Seis e vinte da noite.

Cheguei do trabalho e encontrei Arthur na garagem tirando Anie da cadeirinha – certamente, eles chegaram da aula de balé dela.

– Oi, meus amores. – Abracei Arthur por trás e lhe dei um beijo na bochecha.
– Oi, baby. – Ele respondeu e pôs a nossa filha no chão.
– Oi, mamãe. Ainda bem que a senhola já chegou. – Disse animada ao me abraçar pela cintura. Entreguei minha bolsa ao Arthur e carreguei Anie no colo.
– Me dá um abraço mais forte, meu bebê. – Pedi entrando em casa.
– Assim?
– Assim. – Concordei e lhe enchi de beijos. Mel estava na sala com Marli ao seu lado. Ambas pareciam nervosas. – Olá.
– Oi, Luh. Que bom que vocês chegaram. – A mulher nos pareceu mais aliviada.
– Aconteceu alguma coisa? – Arthur indagou de cenho franzido.
– Mel não está se sentindo bem. Já disse para irmos ao hospital, mas ela falou que ainda não está na hora. Por que tem que ser tão teimosa? – Marli olhou para a filha, mas Mel não disse nada. Ela apenas tentava controlar a respiração.
– Amiga? – Coloquei Anie no chão. – Você tá sentindo contrações?
– Muito, muito espaçada. Coisa de quase uma hora entre uma e outra. Já disse para a mamãe que não é agora.
– Arthur, deixa a Anie com a Carol. – Pedi.
– Por que que eu não posso ficar aqui? – Anie colocou as mãos na cintura.
– Porque é assunto de gente grande e você é pequena. Vem, vamos atrás da Carol. Você precisa tomar banho. – Arthur saiu com Anie atrás dele.
– Minha barriga está bem dura. – Mel contou e eu coloquei a mão sobre a barriga dela.
– O Scott saiu? – Arthur perguntou ao voltar da cozinha.
– Não. Ele foi tomar um banho. – Marli respondeu. – Ela não quer que eu avise ninguém. Nem o Chay. Já disse que ele tem que saber. Não entendo nenhum dois que acha que essa criança não vai mudar muita coisa. – Ela cruzou os braços.
– Eu não acho isso, mãe. Só não quero preocupar ninguém à toa.
– Ninguém? À toa? Mel, ele é o pai do seu filho. Precisa saber e assumir a responsabilidade que é dele e de mais ninguém.
– A sua mãe está certa, Mel. – Arthur comentou. – Você não pode ficar adiando, adiando, adiando como fez durante todos esses meses. Ele diz que não quer saber, e você teima em não contar. Aí fica difícil.
– Vocês acham que eu estou errada?
– Não. Não é isso, amiga. É só que, é filho dele também... sabe, vocês ainda não se resolveram como casal, mas tem essa criança antes disso tudo. E ela não tem nada a ver com os problemas de vocês. – Falei. – Quando tudo isso aconteceu entre eu e o Arthur, você estava aqui e viu como a gente tentou ao máximo deixar nossos problemas e magoas bem longe da nossa filha. E foi complicado, porque ela já observa as coisas e mesmo que o seu filho ainda seja um bebê, ele vai sentir, toda essa parceria de pais, eu estou falando quanto pais, faz diferença. Você vai precisar de apoio, de ajuda. Nós vamos te ajudar, mas é diferente, amiga. – Tentei explicar. – Ninguém aqui está julgando o seu modo de lidar com os problemas pessoais de vocês. Só que é um filho que vai precisar dos pais. E nesse momento, é mais importante do que a teimosia, como a sua mãe chamou, de vocês dois. – Finalizei.
– Eu entendo, mas e se ele não se importar, não quiser ir...?
– Você fez a sua parte. Isso que importa. Depois ninguém vai te cobrar nada, nem te culpar. – Deixei claro.
– Chay não seria tão insensível ou orgulhoso a esse ponto. – Arthur comentou. E eu concordava. Ele tinha sido um escroto, mas não ia ignorar o filho no dia do nascimento. Talvez não estivesse preparado, porque não foi planeja. Mas o tempo não volta.

Ficamos na sala por mais algum tempo com a Mel, mas como ela não disse mais nada, subi para o quarto com Arthur. Eu queria tomar um banho.

– Você acha que a gente se intrometeu demais? – Perguntei a Arthur. – Cada um tem um jeito de lidar com as suas dores, magoas, problemas... – Acrescentei.
– Acho que não. Também não falamos nada de grave. Sei que o Chay errou, mas ele é o pai. Eu ia gostar de saber, caso fosse eu.
– Caso fosse você, você não ia sair daqui, Arthur. – Comentei e tirei minha roupa.
– É, tem isso também. Posso tomar banho com você?
– Pode.
– Luh?
– Uhm... – Respondi já dentro do banheiro.
– Você não menstruou mesmo? – Arthur me indagou pela quarta ou quinta vez. Neguei com um balançar de cabeça. – Estranho. Eu estaria mentindo se falasse que não estou preocupado. – Me contou.
– Vamos esperar dia vinte e cinco. – Falei.
– Quarta-feira.
– Sim. – Concordei.
– Tudo bem. Mas você não parece preocupada. – Arthur observou.
– É porque eu não estou. – Garanti.

Tomamos um banho rápido e depois que vestimos nossas roupas, descemos para a cozinha para jantar.

Sábado, 21 de maio de 2016 – Três horas da tarde.

Eu estava no quarto com Arthur. Estávamos deitados – eu no colo dele – e conversávamos sobre nós dois.

– Você tá bem mesmo? – Arthur insistiu. Perdi as contas de quantas vezes ele já repetiu essa mesma pergunta.
– Sim. Falei que vou esperar até quarta-feira. – Respondi.
– Mas e agora?
– Agora o quê? – Questionei.
– Você...
– Aaah, tô normal. Meus seios estão inchados e doloridos. Por isso que acho que vou menstruar esse mês.
– Então você tá tranquila? – Arthur passou as mãos pelas minhas costas.
– Eu estou, Arthur. Não criei nenhuma expectativa e também não quero que você crie. –
Avisei logo. Sabia muito bem o caminho que ele queria chegar. – Eliza foi bem enfática.
– Não estou com expectativas, Lua. Só fico preocupado porque não acho normal. Só isso. mesmo que você assegure que é.
– Nooormaal, não é. Só que no meu caso, tem mais chance de acontecer. Mas qualquer coisa eu marco outra consulta, ok?
– Ok. – Arthur depositou um beijo na minha testa. – Vamos fazer alguma coisa então...
– Tipo? – Mordi meu lábio inferior.
– Tipo... – Ele começou a descer a alça da minha blusa. – Mas só se você quiser.
– Eu quero. – Sussurrei. – Muito. – Enfatizei. Arthur trocou de posição e ficou sobre mim.
– Eu vou ser bem cuidadoso. – Me garantiu. – Você disse que está dolorido. – Ele passou a ponta do indicador sobre um dos meus seios. – Eu quero tanto fazer isso, mas não quero que você se sinta desconfortável. – Contou, agora me olhando nos olhos.
– Eu confio em você. – Afirmei e Arthur desceu os lábios para um dos meus seios. Mas não deu tempo dele sequer, toca-los. Uma batida na porta nos interrompeu. Empurrei Arthur sem nem fazer ideia de onde e arrumei minha blusa.
– Caraca, loira. Meu rosto. – Arthur reclamou.
– Pode abrir. – Respondi já levantando da cama. Depois eu me desculparia com ele.
– Espero não estar incomodando. – Era a mãe da Mel. Neguei com a cabeça, é óbvio. – A bolsa da Mel estourou. Vamos leva-la para o hospital.
– Ai, Meu Deus! – Olhei para Arthur.
– Parece que um bebê quer nascer hoje. – Ele comentou animado.
– Sim. – Marli estava apreensiva, mas, visivelmente, feliz. – Só quis avisá-los. Ela falou com Chay. – Saímos do quarto. Arthur me olhou com um meio sorriso.
– Desculpa, eu não queria te machucar. – Sussurrei ao passar a mão no rosto do meu marido.
– Tudo bem. Foi o susto. Depois a gente continua. Vou cobrar. – Me disse no mesmo tom de voz.

Chegamos ao quarto onde a Mel estava e entramos. Ela estava perto do berço. O quarto já estava todo reformado, decorado e arrumado. Era simples, em tons pasteis, mas completamente, aconchegante. Prontinho para a chegada do Ethan.


– Marli nos contou que Chay já sabe. – Comentei.
– Sim. Avisei mais cedo. Ele disse que é para ligar quando eu for para o hospital.
– Eu aviso, Mel. Fica tranquila. – Arthur respondeu.
– Obrigada. – Ela agradeceu.
– Já está tudo pronto? – Perguntei.
– Sim. Já olhei novamente a bolsa para ver se está tudo ok. – Mel olhou para as duas bolsas em cima da cama.
– Agora as contrações vão aumentar. Eu já avisei. – Marli lembrou a filha.
– Sim. – Concordei. – Mas vai dar tudo certo, amiga. Fica tranquila. – Garanti. – Vamos para o hospital também. – Olhei para Arthur e ele assentiu. – Só vamos trocar de roupa.
– Tá. Obrigada. Obrigada por tudo. – Mel apertou forte as minhas mãos e depois olhou para Arthur e sorriu.
– Você sabe que não precisa agradecer. – Ele disse.
– Nós vamos na frente. – Scott entrou no quarto para pegar as bolsas que Mel levará para a maternidade.
– Ok. Só vamos trocar de roupa, não é, Luh?
– Sim. – Respondi e saímos do quarto. Marli ajudou Mel a descer as escadas.
– Descer e subir escadas ajuda na dilatação. – A mulher lembrou.
– Eu quase nem consigo andar, mãe. – Mel reclamou por conta das dores das contrações.

Arthur ajudou Scott a colocar as bolsas no carro e Mel e os pais rumaram para o hospital.

– Vou avisar o Chay.

Arthur correu para pegar o celular dele. Fechei a porta e subi os degraus devagar. Passei no quarto da Anie e ela ainda dormia a soneca da tarde. Passei a ponta dos dedos pelos cabelos dela e lhe dei um beijo de leve na bochecha antes de sair do quarto.

– Falou com ele?
– Sim. Já está indo. Vou trocar de roupa. – Arthur me avisou.
– Eu acho que vou tomar um banho rápido.
– Tudo bem. – Arthur foi para o closet.

Saímos de casa meia hora depois.

*

–  Qual é o número do apartamento?
– Dez. – Respondi olhando para a tela do meu celular. Marli havia nos mandando uma mensagem. – Pelo visto, ele não vai demorar a nascer. Marli disse que ela já está com oito centímetros.
– Isso é bom. Será que Chay já chegou?
– Acho que sim.

Chegamos no andar do apartamento que Mel estava e eu dei uma leve batidinha na porta antes de abrir.

Chay já estava lá.

Ele e Arthur se cumprimentaram, mas eu preferir evitar. Ainda estava chateada com ele. Andei até a minha amiga.

– E então?
– A dor só aumenta. Mas eu confesso, me preparei para mais. – Mel disse e fez uma careta logo depois. Ela respirou fundo antes de voltar a falar. – Nossa, nem consigo descrever a dor. Mas você conhece bem.
– Sim. – Sorri. – Vai passar. Quando o bebê nascer, você só vai querer saber dele. Vai esquecer da dor.
– Será que o Chay vai querer entrar?
– Ainda não falaram sobre isso?
– Não.
– Aah, mas acho que sim. Ele parece bem mais tranquilo que o Mika.
– Ele veio. Já é um começo.
– Só você que achou que ele não viria. – Olhei rapidamente para onde Chay estava com Arthur e Scott. – Não acreditei muito quando ele fez pouco caso do próprio filho. Sabia que ia mudar de ideia. – Falei meu ponto de vista.

Uma hora depois.

Faziam alguns minutos que Mel tinha ido para a sala de parto. Chay a acompanhou.

Estávamos ansiosos para ver o bebê. E torcíamos para que desse tudo certo.

– Foi rápido. – Arthur encostou o queixo no meu ombro.
– Sim. – Respondi e senti ele envolver a minha cintura com as mãos.
– Tudo bem?
– Uhum. Estou lembrando do tapa que te dei mais cedo. – Ri.
– Tapa? Foi quase um soco. Se assustou feio, hein?
– Achei que fosse a nossa filha, sei lá... – Confessei.
– E desde quando a Anie bate na porta antes de entrar? – Arthur roçou os lábios no meu pescoço.
– Ai, nasceu! – Ouvimos Marli comemorar ao ver Chay no corredor. – Tá tudo bem? Meu neto nasceu? Como a minha filha está?
– Calma, mulher. – Scott tentou acalmar a esposa. – Vamos deixar ele nos contar.
– Nasceu. Os dois estão bem. Só me pediram para sair da sala. Mas avisaram que logo, logo eles trazem o bebê para o quarto. – Chay nos contou. Ele estava emocionado, embora disfarçasse muito bem.
– Ai! Estou tão ansiosa para ver o rosto do meu netinho. – Marli abraçou o marido.
– Parabéns, papai. – Arthur me soltou e foi abraçar o amigo.
– Parabéns, Chay.
– Obrigado, Lua. – Ele sorriu de lado.

*

Mel já estava no quarto com o bebê. Ele é tão fofo e carequinha – e se parece mais com o Chay. Ethan estava vestido com o macacãozinho azul escuro de listras.


– Ele é lindo, amiga.
– Obrigada, Luh. Estou tão apaixonada. Você tinha razão.
– Eu te disse. – Sorri com carinho.

Mais um bebê na família. Não tinha porque não estarmos todos felizes.

Continua...

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

N/A: Olá? Boa noite! Espero que estejam bem!

Obrigada pelos comentários no capítulo anterior. Vocês são demais e me deixam feliz com tanto carinho. Leio todos sempre! <3

Abriram os links?

Viram o quartinho do bebê da Mel e a fotinho dele? Um fofo, não é mesmo? <3

A cumplicidade e o carinho entre a Lua e o Arthur é emocionante, vocês não acham?

O que acharam da conversa deles e de toda a troca de carinho e carícias?

Espero que tenham gostado do capítulo. Sempre tento dar o meu melhor.

Um beijo e até breve!

11 comentários:

  1. Ahhhhhh Milly, que capítulo mais lindo! Amo demais essa cumplicidade do Arthur e da Lua, eles são demais! Muito bom que o Chay foi ver o nascimento do filho, tenho certeza que logo logo ele, a Mel e a Lua irão se acertar. Ansiosa para a tão esperada conversa entre a Lua, Sophia e Emma! Posta logo os próximos kkkkkk!
    Você se,pre arrasa nas suas postagens Milly, obrigada por tanto! Beijos e até a próxima!

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  2. Ai Milly que capítulo maravilhoso ❤️ espero que o Chay mude de ideia em relação ao filho ❤️

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  3. Essa mãe da Lua não tá vendo que tá magoando ela.Amei essa cumplicidade do Arthur com a Lua,esse cuidado dele com ela.
    O bebê da Mel é lindo,que bom que o Chay foi ver o bebê nascer.Anie é maravilhosa kkkkkkkkkkkkk ,mandona igual a Lua mesmo o Arthur ta perdido kkkkkkkkkkkkk.To com mt esperança da Lua ficar gravida.Capítulo maravilhoso e enorme. Amei

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  4. Olha vc está me deixando na esperança de ter acontecido um milagre e a lua estar grávida kkkk

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  5. ameeeei! Ethan é lindo

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  6. Esse capitulo ta lindo ,adoro a cumplicidade desse casal o quanto o Arthur se preocupa com o bem esta da Lua , e a Annie é tao esperta e fofa , o bebe da Mel é lindo tomara q o Chay crie juizo agora e q ele se resolva com a Mel e com a Lua.

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  7. E VOCÊ FAZ TUDO! Que capítulo maravilhoso me Deus, e finalmente o chay tomou jeito e ah a mãe da lua tá me dando nos nervos meu pai amado

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  8. Aaaaa eu não aguento esse casal!! Amo ver o companheirismo e parceria deles!! Acho muito lindo!! Arthur sempre mimando essas duas, ele não existe mesmo, lindo de ver o cuidado com família ❤️

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  9. amo meu casal!
    A mãe da Lua está magoando ele, deve ter um pedido de desculpa :(
    E acho que Lua está grávida. Faz isso acontecer por favorzinho hahahahha
    Amo demais essa história e ansiosa pro próximo capítulo ♡♡

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  10. Dona Emma deveria ter pensado antes de falar, ela quis magoar o arthur, mais acabou magoando a lua tbm. Mais ainda bem que Luar está mais unido do que nunca. Estão no Maior Love ♥️
    Mel toda teimosa sem querer avisar ao chay que o filho dele já queria vir ao mundo. Ainda bem q o Chay esteve presente 🙌. Obrigada Milly pelo esforço e por esse capítulo maravilhoso, amei, amei, amei 😍

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  11. Ansiosa pelo próximo capítulo. Foi bom ver Chay indo acompanhar o nascimento do filho, que logo ele e Mel possam se entenderem. A mãe de Lua uma inconveniente como sempre, mas, tenho certeza que Lua e Arthur só sairão fortalecidos disso tudo.

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