Little Anie - Cap. 84 | 6ª Parte

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Little Anie | 6ª Parte

Estou ficando cansado de perguntar,
Essa é a última vez.
Então, eu te fiz feliz?
Porque você chorou um oceano
E há milhares de linhas
Sobre o jeito que você sorri
Escritos na minha mente
[...]
Eu nunca quis que tudo terminasse desse jeito,
Mas você consegue transformar o céu mais azul em cinza.
Eu jurei pra você que eu faria meu melhor para mudar
Mas você disse que não importava.
Point Of View | McFly

Pov Arthur

Londres | Royal Albert Hall – Sexta-feira, 18 de dezembro de 2015.

– Hey! O bebê da Sophia é menina! – Harry exclamou. – Eles ficaram sabendo ontem. Micael é muito traíra, ele nem nos contou! – Ele reclamou.
– Sophia queria contar... mas vocês sabem o que aconteceu. – Mika explicou. Ela soube que eu e Lua estamos separados.
– Mesmo assim devíamos comemorar. – Harry ressaltou.
– Até porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Parabéns, Micael! Bem-vindo ao grupo. – Lhe disse dando dois tapinhas em suas costas. – E quem te contou? – Indaguei olhando para Harry.
– A Lua, ora... – Ele deu de ombros.
– Não acreditei naquilo, Arthur. Mas Sophia está com tanta raiva de você. – Mika contou.
– Kate armou tudo aquilo, mas vai explicar pra Lua, me expulsou até de casa. – Respondi.
– Eu também não acreditei, apesar de já termos discutido sobre uma situação parecida...
– A sua você quer dizer, não é? – Harry provocou.
– Cala a boca, Harry. – Chay mandou. – A gente te conhece e eu achava que Lua conhecia bem mais. – Ele completou.
– Eu também achei, mas tem as fotos para piorar tudo. – Falei. – Acordei no apartamento dela na manhã seguinte. Nem lembro como chegamos lá. Fiquei desesperado, liguei para o Harry. Parecia um pesadelo. – Contei. – Eu devia ter ouvido o John.
– Ainda bem que você sabe, pena que agora é tarde. – John falou ao chegar ao camarim. – Vocês estão precisando de algo?
– Não, obrigado. – Respondi e os outros negaram também.
– Está lotado. Vocês farão um lindo show. – John disse animado. Bem diferente de mim. – Sophia não vem? – Ele perguntou. Era a única que viria, além da Britney e algumas amigas que já tinham chegado.
– Acho que sim. Ela estava tentando convencer a minha irmã a vir. Mas é tão impossível quanto a Lua aparecer aqui também. – Micael respondeu e eu e Chay nos entreolhamos.
– Situação complicada. – John comentou. – Vamos passar No Worries novamente?
– Aah, John... não sei porque eu fui inventar de escrever essa música. Tô me sentindo atormentado já. – Confessei. O nome da música era totalmente ao contrário do que eu estava vivendo agora. Eu tenho muitas preocupações.
– É a música de trabalho. Você precisa desassociar do nome da Lua.
– Mas eu escrevi pra ela! – Exclamei.
– Por isso que eu não escrevo música pra namorada. – Harry comentou vagamente só para me provocar mesmo.
– Ela não é minha namorada seu idiota. Ela é minha mulher. – Retruquei. – Mas o John está certo. – Suspirei passando as mãos pelo rosto. – Pega o violão. – Mika e Chay cantavam a música junto comigo, Chay fazia a segunda voz e Micael tocava além de cantar também. Harry não participava.
– Grava aqui, Nick. – John pediu e Mark entregou um violão para mim e outro para o Micael.
– Pode começar, Mika. – Pedi, eu canto em seguida. – Avisei. – Um, dois, três... – Conferir.
Nós corremos por campos de morango e cheiramos o verão / Quando ficar escuro eu vou abraçar seu corpo perto do meu / Então nós vamos achar madeira e como vamos construir uma fogueira / E então vamos achar corda e fazer um violão de cordas... – Micael cantou.
Cativado pelo jeito que você está essa noite a luz está dançando em seus olhos / Seus doces olhos / Tempos como esses nós nunca esqueceremos / Ficar fora para assistir o pôr-do-sol / Estou contente que compartilhei isso com você / Porque você me libertou / Me mostrou quão boa minha vida podia ser / Como isso aconteceu comigo? / Yeahhh aww... / E então eu vou te balançar garota até você adormecer / E quando você acordar estará deitada ao meu lado / (wa wa uh) / Nós vamos à Hollywood fazer de você uma estrela de filmes (estrela de filme) / Eu quero que o mundo saiba quão bonita você é...
– Cantei em seguida. Era impossível não fechar os olhos e imaginar Lua. Eu gostaria tanto que ela estivesse aqui nesse momento para escutar essa música. – E então eu vou te balançar garota até você adormecer / E quando você acordar estará deitada ao meu lado... – Cantei acariciando o rosto do Chay que estava ao meu lado. Ele segurou o riso na hora de cantar.
(wa wa uh)
Nós vamos à Hollywood fazer de você uma estrela de filmes
(estrela de filme) – Chay cantou.
Eu quero que o mundo saiba quão bonita você é... – Continuei.
Cativado pelo jeito que você está essa noite a luz está dançando em seus olhos / Seus doces olhos / Tempos como esses nós nunca esqueceremos / Ficar fora para assistir o pôr-do-sol / Estou contente que compartilhei isso com você / Porque você me libertou / Me mostrou quão boa minha vida podia ser / Como você aconteceu comigo? / Yeahhh aww... – Agora foi a vez de Micael cantar o início deste trecho da música e depois eu e Chay cantamos com ele. Acabei chamando a atenção de Nick com dedo e apontei para que ele gravasse Harry que estava no canto da sala entretido mexendo no celular e mascando um chiclete e Chay apontou também.
Não há segredos a serem ditos / Nada que nós já não sabemos – Retomei a música.
Bum bum bum – Nós três cantamos juntos.
Nós não temos medo de envelhecer / Nós não temos nenhuma preocupação no mundo – Voltei a cantar sozinho.
Ba ba ba ba ba ba ba / Ba ba ba ba ba ba ba / Ba ba ba ba ba ba ba / Ba ba ba ba ba ba ba – Finalizamos os três juntos.

No final Chay fez graça e se jogou no chão. Micael começou a pular no sofá enquanto cantava e tocava. Harry nos olhou sem entender e John começou a rir da nossa palhaçada.


Eram momentos assim que não tinham preço. Esquecíamos até dos problemas. Eu amo viver a realização desse sonho junto com esses caras.

– Chay o que deu em você? – John perguntou entre risos.
– Vergonhoso. Ele abriu as pernas para o Mika! – Harry notou tentando parecer sério.
– Me respeita, Judd! – Chay pediu dando um tapa na cabeça do Harry.
– O meu cabelo, seu idiota! – Harry reclamou arrumando os cabelos.
– Harry?
– Oi, dude. – Harry olhou para Mark.
– Britney está atrás de você. – Mark avisou.
– Eu não gosto de ninguém atrás de mim, Mark. – Ele disse um pouco alto.
– Depois ele fica sem entender porque ela se irrita com ele. – Comentei negando com a cabeça.
– Ela nem escutou. – Judd comentou tranquilo e levantou-se para ir ao encontro da namorada ou ficante. Era difícil nomear as relações do Harry.
– Sophia acabou de me mandar mensagem... como as meninas não vem, ela preferiu ficar em casa. – Mika avisou. – Vocês sabem que vão transmitir na tevê?
– Sim. John falou sobre isso ontem. – Respondi. – Que horas vão fazer a entrevista?
– Antes do show, Aguiar. – Chay respondeu óbvio e eu revirei os olhos.
– John está falando com a entrevistadora. Foi avisar que vocês só irão responder perguntas referentes aos shows e banda. – Nick nos contou.
– Não teria porque ser diferente. – Retruquei.
– É que tem muitas novidades. – Harry voltou. – Querem saber se o meu melhor amigo traia a minha melhor amiga. Olha onde me colocaram? – Ele chegou reclamando.
– Se insistirem no assunto da traição, vocês deixam a entrevista. Eu já os avisei. – John nos disse paciente. – Ainda bem que não sabem do Chay também.
– Mas era só o que me faltava. – Chay resmungou. – Eu nem tô falando nada. – Esclareceu.
– Vocês precisam saber fazer as coisas quando resolverem aprontar! – John exclamou.
– Eu não fiz nada. – Falei entredentes.
– Eu não fazia mais. – Chay pontuou. – Já podemos ir?
– Nem quando eram mais novos me deram tantos problemas. – John reclamou.
– Tá bom, John. Já entendemos. – Falei me levantando. – Você vai dar sermão na gente agora?
– Não, Arthur. Não vou perder meu tempo. – Ele respondeu.

Pov Lua

Carol tinha dito a Anie que o show da banda dos meninos será transmitido em um canal na tevê. A pequena ficou extremamente animada. E fazia mais de uma hora que ela estava em frente à televisão super ansiosa para o início do show. Já perdi as contas de quantas vezes ela me perguntou que horas eles vão começar a cantar. Eu não estou com nenhum pingo de vontade de assistir ao show, mas Anie não me deixa sair da sala.

– Ainda não começou? – Mel perguntou. Ela não tinha nenhum problema com isso. Diferente de mim, que não queria ver o Arthur.
– Não. Falta alguns minutos.
– Eu vou ver o meu papai, tia Mel! – Anie exclamou. – Eu posso ligar pra ele?
– Agora não, filha. O show já está quase começando. Você não quer assistir?
– Eu quelo! Mas quelia falar com o meu papai também.
– Amanhã você fala com ele. – Respondi.
– Quelia hoje.
– Anie, você já me obrigou a assistir com você. Por favor, filha. – Pedi.
– Táááa booom... Obligada por assistir, mamãe.
– Tudo bem, linda. – Sorri depositando um beijo em seus cabelos.
– Carol foi fazer pipoca!
– Aaah... eu quero pipoca também. – Mel comentou.
– Mas tem pla todo mundo, titia!
– Que bom então. – Mel bateu palmas. – Ei, Soph me ligou animada. É uma menina. Ela realmente estava certa.
– Sim. Ela me ligou também. Aliás, falei com ela ontem, mas ela acabou esquecendo de me dizer isso. Falamos sobre outra coisa.
– Aquela notícia ridícula. Aquela mulher não presta mesmo! – Mel disse revoltada.
– Não vamos falar sobre isso. – Pedi. – Eu fiquei feliz junto com ela. A gente sabia o quanto a Sophia queria uma menininha. – Mudei de assunto.
– Sim! Agora ela pode voltar a comprar as coisas rosas. – Mel comentou e nós acabamos rindo.
– Coitado do Micael. – Pontuei.
– Eu estou pensando em contar ao Chay antes do natal. Eu vou para San Diego. – Lembrou.
– É verdade.
– Quando eles farão o último show deste ano? – Me perguntou.
– Dia vinte e oito, se não me engano. Mas o último antes do natal é dia vinte e dois, aqui em Londres mesmo. Domingo e segunda-feira será em Manchester e Birmingham. – Respondi. – Arthur comentou comigo por conta da apresentação da Anie dia vinte e três.
– Aaaah... eu queria estar aqui para ir ver essa neném linda arrasando novamente.
– Eu já sei quase todos os movimentos, titia. – Anie disse contente.
– Eu acredito, meu anjo. – Mel sorriu e eu apertei Anie em meus braços.
– Estou ansiosa também. – Confessei.
– O MEU PAPAI! – A pequena gritou e eu acabei me assustando.
– Meu Deus, filha! – Exclamei colocando uma das mãos sobre o peito.
– O tio Harry, o tio Mika, O tio Chay, o tio John... Oooolha... o Nick. Ele é inglaçado. – Anie comentou a rir ao apontar para a tevê. – Olha, a namolada do tio Harry. Ela foi! Por que a gente não foi? – Anie indagou confusa.
– Porque você é bebê! – Respondi.
– Mas você é a minha mamãe. Você ia cuidar de mim.
– O show é a noite, filha. Você não pode ir a shows a noite. – Tentei explicar.
– Foi só porlisso que a senhola não foi?
– Presta atenção no que eles estão falando. Você não queria vê-los?
– Só tô fazendo uma pergunta. – Ela deixou claro.
– Eu sei. – Assegurei e Mel soltou um riso baixo.

Eu fazia de tudo para pensar em qualquer coisa que não fosse na voz do Arthur saindo do áudio da televisão. Anie estava muito animada vendo o pai e os tios na tevê. Ela começou a cantar Little Joanna que foi a música que eles colocaram de fundo na hora da entrevista. Eles só falaram das músicas e dos shows. Graças a Deus!

E eu estou começando a aqueditar que o peligo nunca está por perto quando a Joanna está aqui... Deus, eu amo Joanna, mas ela não entende o quanto... – Anie começou a cantarolar e eu sorrir.
Eu amo quando nossas mãos se tocam sabendo que eu estou perto. – Completei beijando seus cabelos.
– Eu amo essa música. – Anie confessou baixinho. Mas eu já sabia disso.
– Eu sei, meu amor. – Afirmei.
– E bilha, bilha estelinha... mas essa não é do meu papai.
– Não mesmo. – Concordei.
– Vocês querem alguma coisa? – Mel nos perguntou ao se levantar do sofá.
– Bigadeilo! – Anie levantou as mãos empolgada.
– Nada disso, mocinha. Já vai comer pipoca. Daqui a pouco a Carol vai trazer. – Falei.
– Mas bigadeilo é doce. – Anie retrucou.
– Por isso mesmo que você não vai comer. O que a pediatra falou?
– Ela é chata. Sempe biga porque não pode comer doces. – A pequena cruzou os braços emburrada.
– Elisa não é chata. – Pincelei o nariz dela. – Deixa de fazer birra. Isso é tão feio. Aceito sorvete, Melzinha. – Falei me virando para Mel.
– Tá. – Ela foi buscar.
– Agola eu vou comer só a pipoca?
– Sim. E olha... já era pra você estar dormindo. Então se comporta. – Avisei.
– Mas eu tô compotada, mamãe. – Anie assegurou.
– Você está fazendo birra. – Contei.
– Eu não, mamãe. – Ela se defendeu. – PIPOCA! – Anie exclamou ao ver Carol com um enorme balde de pipoca.
– A Carla não vem assistir? – Indaguei.
– Ela já vem. – Carol respondeu.

Uns cinco minutos depois, Mel apareceu na sala com um pote de sorvete. E mais alguns muitos, o show começou. Eles iniciaram com uma música nova e embora eu não estivesse olhando diretamente para a tevê, eu podia sentir os olhares das meninas sobre mim.

Talvez essa seja a música que Arthur tanto queria que eu escutasse.

Eu não queria olhar para a tevê. Eu só queria que esse show terminasse logo. Mas Anie estava tão feliz de estar acompanhando tudo, mesmo de longe. Com certeza ela contaria extremamente contente ao Arthur que assistiu o show inteiro. Talvez ele nem estivesse esperando por isso.

Foram quase três horas de show e Anie já estava cochilando. Ela não é acostumada a dormir tão tarde. Ela dorme sempre entre oito e oito e meia da noite e já se passavam das dez horas da noite. Eu estava surpresa por ela ainda estar acompanhando o show cantando as músicas. Acho que essa deve ser a última música: Point Of View. Não sei se Arthur cantava essa música pra mim também.


– Eu adolei o show do meu papai e dos meus titios. Mas agola estou com soninho, mamãe.
– Percebi. Cantou quase todas as músicas. – Comentei apertando seu nariz de leve. – Agora vamos escovar os dentes e cama. – Falei me levantando do sofá junto com ela.
– Vocês gostalam do show?
– Eu adorei, Anie. Eles arrasaram. – Carol respondeu.
– Eu também adorei. – Carla disse. – Boa noite.
– Boa noite. – Falamos. E ela e a irmã seguiram para o quarto delas.
– E você, tia Mel?
– Eu gostei muito, Anie. – Mel sorriu de lado.
– E você, mamãe?
– Meu Deus, quanta pergunta! – Exclamei tentando soar descontraída.
– Mas a senhola não respondeu.
– Eu gostei também. Pronto. – Beijei sua testa. – Agora nós vamos dormir. Dê boa noite para a tia Mel.
– Boa noite, titia!
– Boa noite, meu anjinho. – Mel depositou um beijo na bochecha de Anie. – Boa noite, Luh.
– Boa noite, amiga. – Desejei e segui para o quarto com Anie. Ela estava dormindo comigo desde quando Arthur foi embora.
– Mamãe? – Coloquei Anie na cama e voltei para fechar a porta.
– O que foi, filha?
– Eu posso ligar para o meu papai? – Me pediu ficando de pé na cama.
– Agora?
– É. Pla contar que eu assistir o show também. A senhola acha que o meu papai vai gostar? – Perguntou receosa.
– Com certeza ela vai ficar feliz em saber que você assistiu. Mas agora está tarde. Amanhã você fala com ele. – Sugeri.
– A senhola plomete?
– Eu não preciso prometer, filha. Você pode falar com o seu pai sempre que quiser. Só que agora está tarde. A senhorita precisa dormir. Vamos escovar os dentes? – Perguntei.
– A senhola vai escovar também?
– Sim. Claro. – Respondi.
– Então me caéga! – Anie começou rir ao se jogar em meu colo.
– Você tá muito dengosa. – Comentei.
– Mas eu ainda sou bebê e bebê fica no colo.
– Você é muito esperta. Isso sim. – Notei fazendo cócegas nela que começou a rir.

Escovamos nossos dentes, fizemos xixi e depois voltamos para o quarto. Anie se jogou na cama e puxou o lençol para cima dela. Era impossível não lembrar de Arthur com as atitudes da nossa filha. Ela é espaçosa, curiosa e bagunceira igual a ele.

– Ei, mocinha? Você vai dividir esse lençol comigo. – Avisei e Anie riu sapeca.
– Tá bom, mamãe. – Ela se jogou em cima de mim. Essa posição não duraria nem trinta minutos. Porque Anie adora dormir toda jogada na cama. E ela se mexe muito quando dormimos abraçadas.
– Boa noite, meu amor. – Depositei um beijo em sua testa.
– Boa noite, mamãe. Obligada por deixar eu assistir o show do meu papai. – Ela sussurrou e eu soltei um riso fraco.
– E por que você acha que eu não deixaria? – Perguntei curiosa.
– Porque vocês estão bligados. – Ela respondeu rapidamente.
– Isso é verdade. Mas eu não sou ruim...
– Nãããããããããooo! A senhola é a melhor mamãe do mundo todinho! – A pequena afirmou.
– Aaah... obrigada, filha. – Lhe dei um beijo na testa. – Agora vamos dormir?
– Vamos, mamãe. Eu tô com soninho mesmo.
– Eu sei, meu anjo. Boa noite.
– Boa noite, mamãe. – Anie me deu um beijo na bochecha e depois se jogou ao meu lado; o lado que era do Arthur, e se acomodou.

Londres | Sábado, 19 de dezembro de 2015 – Quinze horas e quarenta e cinco minutos.

Já estava de tarde e Arthur me avisou que viria ver a Anie antes de viajar para Manchester. Novamente eu só respondi a mensagem com um “tudo bem”. Não sei porque ele insiste em me avisar que virá, se sabe que eu nunca vou impedi-lo de ver a nossa filha.

Anie estava muito ansiosa para contar a ele que tinha assistido o show ontem a noite. ela já acordou me pedindo para ligar para ele, mas como contei que Arthur viria a tarde, ela optou por contar pessoalmente.

– Mamãe?
– Oi, filha. – Anie apareceu no quarto com aquela carinha de quem ia me pedir algo que eu, com certeza não daria. – O que você já quer, hein? – Indaguei e Anie sorriu sapeca.
– Mamãe, me deixa tomar sorvete de chocolate, por favor?
– Já conversamos sobre isso, filha. – A lembrei. – Não faça eu me passar por chata. – Pedi.
– Mas toda vez eu não posso. – Ela bufou e fez um bico logo em seguida.
– É claro que pode. E essa semana a senhorita já comeu. Eu já te disse que você não pode comer doces todos os dias.
– Mas ontem eu não tomei sorvete, mamãe.
– Anie... filha, por favor. – Pedi dando um suspiro. – O que você acha de comer outra coisa? Panquecas? – Sugerir.
– Eu não quelo panquecas. – Anie reclamou revirando os olhos. – Quando o meu papai chegar, eu vou pedir pra ele.
– Sem chantagens, Anie. Seu pai sabe que você está proibida de comer doces. – Respondi.
– Mas mesmo assim eu vou pedir. – A garotinha afirmou.
– Tudo bem, não vou discutir com você. – Falei.
– O que a senhola tá fazendo então? – Ela mudou de assunto e se próximo de mim.
– Arrumando as minhas roupas, filha.
– A senhola bagunça também. – Anie observou. – Por que a senhola bliga comigo então? A senhola é igual eu.
– Nada disso. Você é igual ao seu pai, bagunça e não arruma. Eu bagunço e arrumo. – Expliquei.
– Então polisso que a senhola arruma o meu e a Carol também. – Ela concluiu e eu concordei.
– Exatamente, meu amor.
– E quem arruma o do meu papai? – Anie abriu a porta do closet na parte em que ficavam as roupas do Arthur. – Cadê as outas roupas do meu papai?
– Ele levou, filha. Ia precisar de roupas. – Contei.
– Porque ele foi embola também.
– Aham... – Murmurei.
– Quem arruma as roupas dele então?
– Eu, filha. Eu... – Respondi.
– E agola?
– E agora o quê? – Franzi o cenho.
– Quem vai arrumar?
– Eu não sei, Anie. Por que você quer saber? – Perguntei.
– Porque eu tô culiosa. – Anie encolheu os ombros e fechou a porta do closet. – Que holas que o meu papai vem? Já tô com saudades dele. – Anie disse soltando um suspiro baixo. – Agola ele passa um monte de dia sem me ver.
– Você saiu com ele quinta-feira.
– Mas já faz um monte de dia. – Ela pontuou.
– Só dois dias, Anie. – Falei.
– Mas eu via meu papai todo dia quando ele tava aqui. Agola eu não vejo mais. Isso é chato. Eu não gosto! – Ela exclamou cruzando os braços super emburrada.
– Eu sei que você não gosta, filha. Ninguém gosta, tá bom?
– Então por que a senhola não manda ele voltar? – A pequena me perguntou ficando em minha frente.
– Porque eu só mando em mim e em você. – Respondi pincelando o seu nariz. – E eu e o seu pai precisamos resolver algumas coisas antes de conversarmos sobre ele voltar para casa. – Esclareci.
– Algumas coisas, um monte de coisas. Mamãe, tá demolando muito! – Anie reclamou.
– Filha, nem eu e nem o seu pai queremos que você sofra. E é só por você que eu ainda olho na cara dele. Mas você não tem absolutamente nada a ver com os nossos problemas. Adultos tem tantos problemas.
– Eu não quelo ser adulto então. – Anie fez uma careta e eu acabei rindo.
– Tá bom, voltaremos a conversar sobre isso daqui há alguns anos. Espero que demore tanto quanto você quer também. – Falei a puxando para o meu colo. A porta do quarto foi aberta e Anie abriu a boca superfeliz: Arthur tinha chegado.
– PAPAI! – Ela gritou saindo do meu colo e indo para o dele. – Eu tava com saudades, papai.
– Eu também estava com saudades, filha. – Arthur assegurou. – Como você está, meu anjo? Deixa eu olhar pra você. – Ele se afastou um pouco e observou a filha.
– Eu tenho UMA SUUURPLEEESAA! – Anie levantou as mãos e começou a pular.
– Tudo bem. Eu adoro surpresas. – Arthur sorriu e segurou a filha para que ela parasse de pular. – Não precisa pular tanto.
– É que é uma surplesa legal! Não é mamãe?
– Aaham... mas é o seu pai quem deve falar se é legal. – Falei e Arthur me encarou.
– Estou curioso. – Ele pontuou ao voltar o olhar para a nossa filha.
– Mas não é de plesente. – Anie fez um bico e Arthur sorriu passando o polegar para que Anie desfizesse o bico.
– Tudo bem. Vou gostar mesmo que não seja presente. Não me importo com isso, filha. – Arthur garantiu e Anie o abraçou novamente.
– Eu assistir ontem o show tooodinhoo! Passou na televisão, papai. O senhor sabia?
– Não que você tinha assistido. – Arthur franziu o cenho ao me olhar e depois abriu um sorriso para Anie e a puxou para um outro abraço. – Que surpresa linda, meu amor. E você gostou? – Ele indagou ansioso pela resposta.
– Sim. Eu adolei! Eu cantei todas as músicas. Só as que eu sabia. Não foi, mamãe? – Anie me olhou e automaticamente Arthur fez o mesmo.
– Então quer dizer que vocês assistiram ao show?
– Anie insistiu. – Respondi me levantado do chão onde eu tinha sentado para dobrar minhas roupas.
– E então...? – Arthur insistiu.
– A surpresa é da Anie, Arthur. – Pontuei.
– Assistiu eu, minha mamãe, a tia Mel, a Carol e a Carla. A gente comeu pipoca e a minha mamãe e a tia Mel tomalam sorvete. Mas eu não pude tomar. Papai?
– Oi, meu bebê.
– Eu quelia tomar sorvete, mas minha mamãe não deixou. O senhor deixa, não é? – Ela pediu daquele jeito que era quase impossível de Arthur negar. Mas agora eu tinha certeza de que ele negaria.
– Hahaha... você não vai fazer isso comigo, filha. – Arthur notou. – Podemos comer outra coisa. – Sugeriu o mesmo que eu havia feito há alguns minutos.
– Mas eu não quelo outa coisa. Minha mamãe já disse isso. – Novamente Anie cruzou os braços emburrada e Arthur tentou fazer a menina rir.
– Eu prefiro você sorrindo.
– Mas eu não tô achando gaça, papai! – Ela esclareceu e eu tive que prender o riso.
– Você se parece muito com uma pessoa que eu conheço... – Arthur começou e me olhou rapidamente. – Mas prefiro não citar nomes. – Concluiu e levantou-se.
– O senhor já vai? – Anie perguntou confusa e Arthur negou com um balançar de cabeça antes de dizer o que ia fazer.
– Vou pegar mais algumas roupas. – Contou e seguiu para o closet.
– Mas o senhor já levou um monte. Vai levar todas as roupas, papai?
– Eu estou precisando de roupas, filha. – Arthur respondeu. – Vou viajar amanhã e depois.
– Vai demolar pla voltar?
– Não. São só alguns dias.
– E a minha dança?
– Eu já estarei aqui. Não se preocupe. – Arthur assegurou antes de se abaixar e beijar a testa da filha para acalma-la. – Eu não perderia a sua apresentação por nada, filha. – Ele garantiu.
– Minha mamãe cantou Little Joanna comigo! – Anie exclamou mudando completamente de assunto.
– Sua música preferida. – Arthur sorriu.
– Eu adolo! – Ela afirmou. – Vou assistir meu desenho então!
– Tudo bem. Eu já vou descer e assisto com você. – Arthur respondeu e Anie sorriu lhe dando um beijo e depois me deu um também.

Eu estava sentada na cama tentando organizar na minha cabeça qual seria a maneira menos de pior para eu e Arthur conversarmos e decidirmos como será o natal com a nossa filha, já que estamos separados. Antes tínhamos planos de passar em Bibury, mas agora a minha mãe está tão irritada com Arthur quanto a minha irmã. Chega a ser pior que eu. Tenho falado com ela todos os dias.

– Preciso falar com você sobre um assunto. – Iniciei e Arthur parou de pegar as roupas e me olhou.
– Pode falar.
– Você sabe que passaríamos o natal em Bibury, mas agora com a nossa situação... acho que vai ser complicado explicar pra Anie que vamos passar separados. Não consigo imaginar passar o natal com você e esse clima entre nós. – Falei nervosa e aguardei pela resposta de Arthur. – Você não vai dizer nada? – Questionei.
– Parece que você já decidiu, Lua. – Ele respondeu chateado. – Você quer que eu diga o quê? – Ele voltou a colocar as roupas na mala.
– Não decidi nada. Por isso estou te falando! – Retruquei irritada.
– Quero passar o natal com a minha filha e você quer também...
– É lógico. – Falei óbvia.
– Mas não quer passar comigo.
– Não mesmo. – Concordei.
– E então, o que vamos fazer? – Ele perguntou.
– Eu não sei, Arthur. – Falei sincera.
– Se você quiser ir pra Bibury com ela e passar o natal com a sua família, eu não vou me opor. Você sabe que eu não faria isso, Lua. Eu só vou te dizer uma coisa. – Ele deixou bem claro. – O ano novo a Anie passa comigo. – Ele pontuou e meu coração acelerou.

Eu não quero ficar longe da minha filha nunca. É óbvio que Arthur também não quer. Eu sabia que estava sendo difícil para ele – para nós dois – essa decisão. Suspirei sem saber o que dizer.

– Você está me ouvindo?
– Eu não queria, Arthur. – Sussurrei.
– E você acha que eu quero? – Ele me questionou.
– Não. Eu não queria que nada disso estivesse acontecendo. – Desabafei.
– Nem eu, Lua. Nem eu. Pode ter certeza disso. – Arthur afirmou e me encarou.
– Anie vai ficar triste. – Ressaltei. – Não consigo. – Afirmei.
– Nem eu. Mas se é pra falar, vamos falar juntos. Ela só vai ficar chateada na hora, depois ela esquece. Também não quero que vocês passem tanto tempo lá. Harry me contou da sua mãe... – Arthur suspirou. – Achei que seria o seu pai, olha...
– Meu pai ama você, seu idiota! Ele não acredita!
– É porque eu não estou mentindo. Até o seu pai acredita em mim e você não. – Ele revirou os olhos.
– Porque eu vi aquelas fotos.
– Ele deve ter visto também. – Arthur resmungou.
– Quem é casada com você sou eu e não ele.
– É? – Arthur sorriu maroto.
– Era. – Me corrigir.
– Boba! – Arthur voltou a colocar as roupas na mala.
– Isso é sério, Arthur e você não está levando à sério. – Comentei chateada.
– É claro que eu estou levando à sério. Mas é que eu fui expulso da minha própria casa e agora tenho que levar o restante das minhas roupas. Não é novidade pra você, é? – Arthur me perguntou sarcástico.
– Coitadinho. Não fez nada. Injustiçado. – Revirei os olhos.
– Fui injustiçado mesmo. Você ainda vai acreditar em mim. – Ele afirmou.
– Tá... enquanto isso não acontece, vamos falar com a Anie. – Suspirei.
– Você podia ir no show terça-feira. – Ele começou como quem não quer nada.
– Não. Eu vou sair com o pessoal do meu trabalho. – Contei. – Confraternização de final de ano. Não que agora você precise ficar sabendo. – Esclareci.
– A é? Quem? O Adam, a Rose, a Hanna... – Arthur riu. – Só consigo lembrar da última vez que saímos juntos. – Ele sorriu mais ainda. – Principalmente da parte em que chegamos em casa... – Arthur falou mais baixo.
– Você nem lembra dessa parte. – Pontuei.
– Não preciso lembrar pra saber que foi bom. E você sabe disso. – Arthur se gabou.
– O Ryan, a Olívia e o Afonso também vão!
– Uhm... então quer dizer que agora vocês estão todos amiguinhos?
– Pra você ver como as coisas mudam. – Respondi distraidamente. – Você deve imaginar que Ryan adorou saber que não estamos mais juntos. – Provoquei. Eu sabia que era muito errado, mas estou com tanta raiva.
– Imagino mesmo. Ele deve estar louco para te levar pra cama. Mas você não vai fazer isso. – Arthur completou.
– Quem sabe eu não faça? E pode ser em outros lugares, baby. – Ponderei.
– Aah, Lua... Para! Para de provocar e de me chamar de baby. Você nunca transaria com esse cara escroto. – Arthur disse convicto.
– Você transou com uma vadia de quinta. Quer vim falar o quê? – Retruquei.
– Não transei, Lua! Puta que pariu! – Ele falou estressado. – Transei só com você.
– Eu tenho certeza que eu não sou nenhuma vadia.
– Você é uma teimosa, uma gostosa! Que droga! Você quer me fazer a paciência? Transa com aquele filho da puta, Lua! Você nunca me viu doido. – Arthur me avisou. Ele estava diferente. Eu diria que um pouco alterado. – Eu aceito você me chamar do que quiser e gritar na minha cara que eu te traí, quando eu estou aqui implorando para te fazer acreditar que EU NÃO TRANSEI COM NENHUMA OUTRA MULHER ALÉM DE VOCÊ DEPOIS DE CASADO! – Arthur gritou. – Mas não vou aceitar que você transe com outro cara. Ainda mais com aquele imbecil do Ryan. Ele é tudo que você odeia em um homem. Você não faria isso só para se vingar, Lua. Eu sei que você é inteligente! Você sabe que vai se arrepender se fizer uma burrice dessas. – Ele concluiu.
– Você é egocêntrico! Só pensa em você e no que isso vai te fazer sentir. Você não faz ideia do que senti quando EU VI A MERDA DAQUELAS FOTOS E A SUA ALIANÇA NAQUELE ENVELOPE! Você não se preocupou comigo, com os meus sentimentos. Então por que agora eu teria que me preocupar com o que você vai sentir? – Questionei indignada.
– Egocêntrico? Você só pode estar zoando com a minha cara, Lua. Faz uma semana que estamos separados e você descobre que eu só penso em mim, que eu sou traíra, não tenho sentimentos e que eu sou mentiroso? Quando eu passei a nossa vida toda juntos me preocupando com você e esquecendo de mim? Diz que isso é da boca pra fora, Lua? Eu não mereço ouvir uma coisa dessas. Eu sei que você está muito magoada, mas isso não te dá o direito de jogar na minha cara coisas que eu não sou e nunca fui. Eu estou com ciúmes sim! Isso é ser egoísta? Estou preocupado com a possibilidade de você fazer uma besteira! – Arthur falou irritado.
– Agora você está jogando na minha cara? Você não pensou em si porque não quis! – Retruquei.
– Eu só estou te lembrando de algo que você parece ter esquecido. – Arthur me corrigiu. – Você ainda é casada comigo. – Ele acrescentou.
– Só no papel!
– Para, Lua. Por favor! Você já é uma mulher. Não vamos ficar nesse joguinho. – Arthur pediu sem paciência.
– Você não suporta a ideia de que eu vá pra cama com outro...
– Mas é claro que não mesmo! – Ele me interrompeu.
– E faça o que você fez comigo. – Finalizei.
– Caralho! – Arthur chamou um palavrão. – Se for por sexo, pode me chamar. Mesmo com raiva, com ódio, com nojo de mim, não é só isso que você sente agora? Me chama, Lua. Porque eu sou louco por você. As pessoas podem me chamar de burro, de otário, do que quiserem por eu estar me humilhando assim, mas eu não sinto um pingo de arrependimento. Imploro por você quantas vezes forem necessárias. Eu te amo e você sabe muito bem disso! – Arthur declarou.
– Você não precisa se humilhar. Eu não pedi isso! – Resmunguei sentindo vontade de chorar.
– Você ainda não entendeu? – Arthur indagou. – Sou eu, Lua. Não faço porque você pede. Faço porque estou desesperado com medo de te perder pra sempre, por conta de uma merda que armaram. E você não acredita em mim! Você nem pensa nessa hipótese. Eu jamais esperaria que se fosse ao contrário, você estivesse fazendo o mesmo. – Ele concluiu.
– Ainda bem que você sabe. – Murmurei.
– É claro que eu sei. – Ele afirmou. – Eu te conheço. E achei que você me conhecesse também.
– O Arthur que eu pensei que conhecia, jamais mentiria para mim. – Ressaltei.
– Eu não estou mentindo! Acredita em mim! O que eu ganharia mentindo pra você? O que eu ganharia te traindo? Até agora eu só estou perdendo as coisas. Eu não sou burro, Lua! Eu jamais jogaria o nosso casamento no lixo por conta de outra mulher. Eu ainda não acredito que você está duvidando disso. Olha pra você, por favor! Olha pra você! – Arthur passou as mãos pelo rosto. – Você acha que eu seria idiota de te trocar por outra? – Ele me perguntou. – Se eu quisesse, já teria feito isso bem antes. – Deixou bem claro. – Você sempre soube que nunca foi difícil ter outras mulheres vindo atrás de mim. E sabe por que eu não fiz? PORQUE EU TE AMO, PORRA! EU TE AMO DEMAIS, LUA! – Ele falou alto e se aproximou de mim. Automaticamente eu dei dois passos para trás e Arthur negou com a cabeça. – Agora você tem medo? Era só o que me faltava.
– Você tá alterado demais. – Comentei.
– Tô alterado é? – Ele ironizou. – Você diz que pode transar com outro e quer que eu fique calmo? Você tá de brincadeira, Lua. – Arthur balançou a cabeça enquanto ria sem vontade. – Nunca vou te machucar. Deixa de bobagem. – Ele se afastou indo pegar a mala. – Mas pensa, Lua, pra você não se arrepender depois. Ryan não é eu. É eu não estou querendo me gabar. Seria muito injusto com ele, coitado. – Sim, ele estava se gabando. – É só pra você ter cuidado mesmo. Porque ele é um estupido, e você sabe como ele trata as mulheres. Não pensa que se ele conseguir o que quer, vai ser diferente porque é com você. Porque não vai ser, Lua. – Me alertou.
– Eu sei me cuidar. – Retruquei. É claro que eu não sou burra de ir pra cama com o Ryan e nem com nenhum outro cara. Mas era bom que Arthur pensasse que sim, só para ele sentir um pouquinho do que eu senti.
– Tá bom. Se você fizer isso, nem precisa olhar mais na minha cara.
– E eu estou sendo obrigada a olhar pra sua?
– Não transei com aquela desgraçada. Que saco!
– Você não suporta a ideia, Arthur... – Rir para provocar.
– Que tipo de homem eu seria se suportasse? Tá doida? Você não é esse tipo de mulher, Lua. Você morre de receio de fazer essas coisas nada convencionais. Você nunca teria coragem de ir pra cama com outro homem. Eu te conheço, meu bem.
– Você tá me subestimando. Acha mesmo que agora eu não teria coragem?
– Se você fizer isso, a única certeza que eu tenho é de que você vai se arrepender. O bom é que eu não vou precisar conviver com isso. – Deixou claro. – Vamos falar com a Anie. – Avisou.
– Você se acha. Pra mim também nunca foi difícil ter homens atrás de mim.
– Eu sei que não. – Arthur afirmou. – Mas eu sempre dei conta do recado. Ou estou enganado?
– Parece que foi eu que não dei conta. – Retruquei.
– Aah, Lua... você é uma mulher e tanto. Eu não vou responder esse seu comentário. Agora é você quem está se subestimando. – Arthur notou. – Não faz isso. – Acrescentou.

Pov Arthur

Descemos a escada em silencio. Anie estava sentada no tapete em frente a tevê, na qual passava um filme de animação do toy story.

– Eu já tô assistindo o filme, papai. O senhor demolou um montão!
– Foi... vem aqui. Senta aqui no sofá. Eu e a sua mãe precisamos falar com você. – Chamei ela. Anie nos olhou desconfiada.
– Mas eu não fiz nada. Eu me compotei! – Ela deixou bem claro.
– Eu sei, não foi nada do que você fez. Só precisamos conversar um pouco. – Ressaltei. – Você quer falar? – Perguntei à Lua. Mas ela negou com a cabeça. – Então... como você sabe filha, eu não estou mais morando aqui, certo? – Comecei e Anie assentiu. – Eu e a sua mãe estamos com alguns problemas e eu precisei sair.
– Mas você vai voltar, não vai, papai?
– Só escuta um pouquinho... – Tentei mudar de assunto para não responder a pergunta. – Você sabe que o natal está chagando, não sabe?
– Eu sei. Eu vou ganhar plesente do papai Noel! – Anie exclamou animada. – É depois da minha dança.
– Sim. Depois da sua apresentação. Um dia depois. – Expliquei. – Esse ano você vai passar o natal com a sua mãe e com os seus avós lá em Bibury. Olha que legal. – Tentei assegurar, mas Anie franziu o cenho. Eu estava respirando com dificuldade. – E depois, você vai ficar comigo. E vamos para Manchester ver a minha mãe. O que você acha? – Perguntei.
– Não. E você? Por que não vai com a gente? Você deixa, mamãe? – Anie voltou-se rapidamente para Lua. Mas eu respondi antes que ela.
– Eu não vou, Anie. Não posso ir.
– Minha mamãe não deixou?
– A sua mãe não tem nada a ver com isso, filha. São coisas que precisamos fazer agora.
– Não gostei. Eu não quelo! Depois minha mamãe pode ir com a gente ver a sua mamãe?
– Eu não vou, Anie. Você vai ficar só comigo no natal e depois vai ficar com o seu pai no ano novo.
– Eu não intendo!
– Eu sei que não, filha. Antes não precisava ser assim, mas agora precisa. Não estamos mais juntos. Mas queremos ficar com você. – Lua tentou explicar o que nem nós aceitávamos. Que dirá uma criança de três anos.
– Eeeu nãããooo queeeloo! – Anie começou a chorar.
– Ei, não vai ser tão ruim. – Tentei acalma-la e Lua virou o rosto. Provavelmente ia chorar também.
– Vai sim! – Anie assegurou.
– Eu ainda vou falar com você no natal. Eu ligo pra você, meu anjo.
– Não! Não! Não! – Ela insistiu. – Quelo todo mundo junto. Igual é semple! Você não quer ficar com a gente?
– Eu adoraria. Daria tudo pra passar o natal com vocês. Mas é o tipo de coisa que eu não posso decidir por outras pessoas. – Contei. – Não fica triste, filha. Não chora. Eu odeio te fazer chorar.
– Eu tô tiste! Não quelo ficar longe de você e nem da minha mamãe. Por que tenho que ficar longe? – Anie questionou confusa.
– Você não tem que ficar longe. – Lua disse baixo. – Eu e o seu pai não queremos isso, filha. Mas precisamos ser maduros, então tivemos que tomar essa decisão chata. Eu não queria te fazer passar por isso, meu amor. – Lua assegurou. – Eu amo você, bebê. Não chora, pequena. – Ela se aproximou da nossa filha e abraçou Anie que estava em meu colo.

Não sei como seria quando o dia vinte e três chegasse.

Pov Lua

Londres | Terça-feira, 22 de dezembro de 2015 – Quinze para as nove da noite.

Eu estava há quase uma hora tentando encontrar uma roupa para ir à confraternização do escritório. Seria em um pub e todos os funcionários tinha confirmado presença. Era a primeira vez que eu sairia para me divertir desde que me separei do Arthur. Ele ligou para Anie no domingo e na segunda-feira – ela ainda estava chateada com a ideia de passar o natal longe dele.

Hoje eles farão um show aqui em Londres. Será em um estádio e Harry me contou que os ingressos estão esgotados há quase um mês. Eu estou feliz por isso. Eles merecem demais.

Peguei um vestido preto de manga comprida com um decote bem ousado. Eu gosto de usar roupas assim, e Arthur adorava que eu usava também – Arthur... por que eu tinha que pensar logo nele? – Escolhi um scarpin preto envernizado de salto vermelho. Fiz babyliss no meu cabelo só para segurar mais os cachos. Fiz uma maquiagem e passei um batom vermelho.


Anie está na sala. Ela sempre adivinha quando eu vou sair à noite. me passei perfume e saí do quarto fechando a porta.

– A senhola tá linda, mamãe! UAU!
– Obrigada, meu amor. – Sorrir acariciando o seu rosto. – Eu amo você.
– A senhola vai demorar?
– UAU, amiga! Que gata!
– Hahaha obrigada, Mel. – Agradeci sem graça.
– Mamãe!
– Oi. Não me espere acordada. Inclusive, já está tarde. Já era para a senhorita estar dormindo. – Falei.
– Só mais depois. A Carol vai me colocar pra dormir. Eu vou tomar mingau ainda, mamãe.
– Tudo bem. Deixa eu avisar a Carol que eu já estou indo. E é para se comportar.
– Mas eu sempe me comporto, mamãe.
– Aaham... claro. – Pisquei um olho e Anie riu sapeca. – Eu te conheço. – Completei lhe dando um beijo demorado na bochecha.

Pub – Nove e meia da noite.

– Porra, Lua! Que gata! Se eu gostasse mulher, eu ia te cantar.
– Me erra, Hanna. – Respondi entre risos.
– É sério. Nossa!!! Já estou até vendo a Olívia morrer de ciúmes do Ryan correndo atrás de você a noite inteira.
– Para amiga. Por favor. – Pedi. – Cadê o Adam e a Rose?
– Já devem estar chegando. Eu sou a primeira como sempre.
– Também, pra beber você nem perde tempo. – Retruquei divertida.
– Ai! Não mesmo. E essa noite é na conta do chefe. Por que eu devia me preocupar?
– Por que, não é mesmo? – Repeti.
– Vamos pedir logo só para esquentar? Olha quem tá chegando. – Hanna apontou para atrás de mim e eu me virei para ver quem era.
– E aí, Luh?! – Rose me abraçou. – Como está?
– Hoje estou ótima! – Respondi e ela sorriu.
– Estou vendo!
– Estamos. – Adam ressaltou. – Boa noite, querida.
– Boa noite, Adam. – Falei lhe dando um beijinho no rosto. – Hanna já quer começar a beber. – Contei.
– Nem estou surpresa. – Rose comentou.
– Mas é lógico. – Hanna disse óbvia.
– Te controla. Dessa vez não vou te levar pra casa. – Adam avisou.
– Ai, toda vez você me ameaça. – Hanna resmungou. – E toda vez me leva.
– Você precisa comprar um carro. – Adam implicou.
– Com o meu salário de secretaria, eu não posso me dar esse tipo de luxo.
– Aham... – Murmurei. – Gasta com o que então? Você não ganha nada mal.
– Bom, com os boys dela. Nada contra, Hanna. – Adam se defendeu.
– Idiota! Até parece. – Hanna revirou os olhos. – Eu estou pagando o meu apartamento. – Ela explicou. E nós acabamos rindo. – Vocês são ridículos.
– Você que é hilária. – Adam comentou ainda rindo.

Pedimos uma rodada de drinks e sentamos próximo ao bar.


– Essas poltronas são chiques, não é? Eu nunca tinha vindo aqui antes. – Hanna comentou.
– Nem eu. – Falei observando o local também.
– Olha aquele sofá na lateral toda. – Rose apontou.
– Ryan adora esses ambientes. – Adam comentou. – Lua?
– Oi?
– Você veio de carro?
– Não. Eu estou sem carro, pra falar a verdade.
– E aquele carro maravilhoso que você estava levando para o escritório?
– O azul é do Arthur. – Respondi. – Como eu vim beber, é melhor não usar. – Expliquei. – Eu não pretendo ter mais problemas. – Completei.
– Se o Arthur for chato com o carro dele igual o Adam é com o dele. – Rose comentou distraidamente.
– Ei, eu não sou chato.
– Não. Arthur até deixa eu dirigir. – Respondi.
– Aah, não! Só insuportável mesmo. – Rose acrescentou e nós rimos.
– Prova esse, Luh. – Hanna me ofereceu uma bebida.
– Você quer me embebedar?
– Mas quando, nem dá para ficar bêbada com um desses. Prova também, Rose.
– Boa noite. – Ouvi a voz do Ryan próximo ao meu ouvido e me afastei.
– Boa noite. – Falamos juntos.
– Você está tão linda, querida.
– Obrigada. – Agradeci e me encostei no balcão do bar.
– Boa noite, pessoal. – Olívia ficou ao lado dele.
– Boa noite. – Falamos novamente.
– Ela já quer marcar o território dela. – Hanna sussurrou no meu ouvido.
– Como se eu quisesse. – Ironizei. – Eu gostei desse drink. – Contei para Hanna.
– Eu disse que você ia gostar. – Ela sorriu.

Horas depois

– Eu vou ao banheiro. – Falei um pouco alto depois de vários drinks.

Harry tinha me ligado há meia hora, mas eu nem ouvir o celular tocar. Provavelmente o show já havia terminado. Hanna fez um joinha e eu entendi que ela tinha me escutado.

Caminhei até o banheiro e me olhei no espelho. Talvez eu devesse parar de beber, mas eu estava me divertindo tanto. Já havia dançado com as meninas enquanto Ryan, Adam e Afonso falavam sobre qualquer assunto aleatório.

Ryan não parava de me encarar e Olívia também não. Eu não sei se eles ainda têm algo, mas ela está perto dele o tempo inteiro, embora ele fizesse questão de ignorar isso.

Homens!

Ajeitei os meus cabelos e retoquei o meu batom. Quando saí do banheiro, fui parada no corredor.

– Você está maravilhosa, Blanco. Alguém já te disse isso hoje? – Ryan segurou em um dos meus braços.
– Sim. Muitas pessoas, inclusive você.  E essa é a segunda vez. – Contei abaixando o meu tom de voz porque estávamos bem próximos.
– E posso dizer mais vezes essa noite. – Ele deixou claro e eu sorrir.
Ryan, Ryan... é melhor você parar. Ou a sua namorada pode querer arrumar confusão. – Avisei.
– Não precisa se preocupar. Olívia não é minha namorada e nem sabe brigar igual ao Arthur.
– E quem falou nele aqui? – Questionei.
– Desculpa.
– Parece que você está com saudades dele...
– Nenhum pingo. Até porque, se ele estivesse aqui... – Ryan começou.
– Você não estaria tão perto assim de mim. – Eu terminei e ele assentiu.
– E eu adoro ficar perto assim de você. – Ele afirmou.
– As pessoas vão falar. – O lembrei.
– Achei que você não se importasse com o que os outros vão pensar. – Ele comentou.
– É que esses dias... as pessoas estão prestando mais atenção nas coisas que eu faço... ou deixo de fazer. – Sussurrei no ouvido dele.
– Eu imagino. – Ryan segurou na minha cintura. – Podíamos ir para outro lugar, só eu e você. O que acha? – Sugeriu com a voz baixa. Talvez ele quisesse me seduzir, mas estava bem longe de conseguir.
– Não. Eu estou me divertindo muito aqui. – Respondi.
– Podíamos nos divertir muito mais em outro lugar, só eu e você. – Ele voltou a dizer.
– Você quer transar comigo. – Tive uma crise de risos.
– Já fazem bons anos. – Ele admitiu. – Você sempre soube. – Completou. – Agora nada nos impede. Ou impede?
– Eu só vim para me divertir. Por favor...
– Isso é um jeito de se divertir também. E te garanto, é bem mais prazeroso.
– Eu sei... Ou você esqueceu que eu era casada? – Perguntei.
– Não. E é bom lembrar do verbo no passado. É excitante. – Ele aproximou os lábios dos meus.
– Eu não fico excitada assim. – Respondi aproximando ainda mais os lábios dos dele, mas logo me afastei.
– Então me diz como fica, que eu faço. – Ryan beijou o meu pescoço e eu me afastei novamente.
– Eu acho que já bebi um pouco demais. – Contei.
– Não tem problema. Eu vou adorar cuidar de você.  – Ele assegurou.
 – Eu não preciso de cuidados. Por favor, solta o meu braço?
– Está machucando?
– Não. Eu só odeio a sensação de... estar presa. – Respondi.
– Você sabe que eu sou incapaz de negar algo a você. – Ryan me soltou.
– Você é... engraçado. – Comentei segurando o queixo dele e depois comecei a andar em direção ao bar.

*

– Achei que tivesse ido embora. – Hanna me puxou para sentar ao lado dela. – Esse sofá é muito incrível! Eu estou odorando a música. – Ela confessou.
– Uhm... eu vou querer um drink daquele que você me mandou experimentar mais cedo. Cadê o Adam e a Rose?
 – Já foram! É quase uma da madrugada.
– Mas já? – Perguntei assustada. – Nossa! A hora passou bem rápido.
– Até demais para o meu gosto. A gente podia dividir o táxi. –  Hanna sugeriu.
– Hanna, moramos em lados opostos. Você está mais bêbada do que eu. – Notei passando as mãos nos cabelos.
– É verdade. você mora na parte rica. – Hanna riu.
– Ah, pode parar! Você mora no centro sua dramática. – Falei lhe dando um empurrão de leve. – Cadê todo mundo?
– Olívia foi atrás do Ryan que saiu logo depois de você. Aliás, vocês se encontraram? – Hanna me encarou. – Lua?
– Ele foi atrás de mim. Mas não vi a Olívia. – Respondi.
– Lua?
– O que foi? Não aconteceu nada sua louca. – Comecei a rir.
– E o Afonso está ali. Ele não perde tempo. – Hanna observou. – Pelo menos a mulher é bonita também. – Ela deu de ombros.
– Preciso ir pra casa. – Comentei pegando meu celular. – Meu Deus! Cinco chamadas do Harry. – Franzi o cenho.
– Ele tá solteiro?
– Não. Está com uma menina aí. Você acredita que eu ainda nem vi ela pessoalmente? Até a Anie já viu.
– Eu acho ele um gato. – Hanna suspirou. – A gente toma só mais uma e vai, não é?
– É. – Concordei.
– Então pede aí. Eu vou no banheiro. Quem sabe não encontro um boy essa noite? – Hanna riu.
– No banheiro?
– No caminho. – Ela respondeu se levantando.
– Você tem muita coragem.
– Que nada, Lua. Eu sei quando são caras legais. O que não é o caso desse que vem aí.

Hanna ergueu as sobrancelhas antes de caminhar para o banheiro. Quando me virei para ver quem era, não tive nenhuma surpresa: Ryan.

– Você está sozinha?
– Sim. Até a Hanna voltar... Já estamos indo. – Respondi e pedi mais duas bebidas ao barman. – E Olívia?
– Por que eu saberia, Lua? – Ryan franziu o cenho.
– Porque parece que ela foi atrás de você.
– Mas não tinha ninguém com a gente. – Ele respondeu. – Uma pena que você fugiu... como sempre.
– Não fugir. – Pontuei.
– Vamos para outro lugar, Lua. Hanna sabe voltar pra casa e... vocês não moram no mesmo bairro. – Ele disse passando o dedo indicador na minha coxa. Observei seus movimentos e Ryan me encarou. – E então?
– Não posso. – Respondi em seu ouvido e afastei as suas mãos de mim.
– Você sabe como provocar.
– Modesta parte, eu sei mesmo. – Afirmei.
– Eu gosto disso. – Ele segurou em meu rosto.
– Nunca ninguém reclamou. – Sussurrei.
– Eu devo imaginar. – Ele rocou os lábios na minha bochecha e depois desceu os beijos para o meu pescoço.

Talvez fosse a hora de voltar para casa.

Pov Arthur

Londres | Quarta-feira, 23 de dezembro de 2015 – Duas horas da madrugada.

Depois que o show terminou, eu passei em casa para ver a Anie. Eram quase dez horas da noite e ela estava dando um trabalho para dormir. Lua tinha ido para a confraternização do trabalho dela. Harry me disse que já tinha ligado para ela várias vezes, mas que ela não tinha atendido. Ele saiu com a Britney, uma vez que ela passará o natal com a família e ele irá para os Estados Unidos visitar a mãe dele.

Anie dormiu meia hora depois que cheguei. Ela não parou de falar da apresentação. Sei que estava nervosa e ansiosa para que a hora chegasse logo. Queria me mostrar até a roupa, mas não encontrou. Conhecendo a filha que tem, Lua tinha escondido.

Tinha acabado de dar duas horas da madrugada. Lua ainda não tinha chegado. Eu estava preocupado. Acho que ela foi de taxi, porque o meu carro que ela está usando, estava na garagem quando cheguei. Mas agora eu precisava voltar para a casa do Harry. Eu acabei dormindo ao lado de Anie e me acordei agora, achei que fosse mais cedo. Me levantei da cama e dei um beijo rápido em sua testa.

– Bom sono, anjinho. – Sussurrei. Anie tem o sono pesado.

Saí do quarto e fechei a porta com cuidado. Acabei me assustando com o barulho de algo caindo próximo a escada.

– Que droga!

Era voz da Lua. Será que ela tinha caído? Apresei meus passos, mas ela só tinha derrubado os sapatos

– AI! Que susto! O que você... tá fazendo aqui? – Ela me perguntou. Estava com a voz falha e bêbada, muito bêbada.
– Vim ver a minha filha. – Respondi sem deixar de encara-la. Lua riu.
– A tá... uma hora... dessas?
– Não. Depois do show. Ela estava dando trabalho para dormir. – Expliquei. – Acabei dormindo junto com ela. Acordei agora. Mas já estou indo embora. – Acrescentei. – A noite foi boa pelo seu estado. – Eu não pude deixar de notar.
– Foi ótima! – Lua exclamou e respirou fundo. – Nem lembrava do quanto é maravilhoso... não ter alguém pegando no meu pé. – Contou.
– Pois é. – Concordei. – Espero que tenha sido vantajoso pra você isso.
– E foi. – Lua assegurou ficando nas pontas dos pés e jogando os braços em meus ombros. – Você não faz ideia. – Ela riu jogando a cabeça para trás e eu meus olhos foram parar em seu pescoço.
– O que foi isso? – Perguntei segurando sua nuca.
– O que já? – Ela perguntou confusa.
– Essa... essas marcas, Lua? – Franzi o cenho e ela começou a rir sem deixar de me olhar. Me afastei dela.
– Uhm... o que foi agora? Não conhece mais? – Ela ainda ria.
– Você não fez isso, Lua. – Comentei sem acreditar.
– Eu não. Foi o Ryan que fez. – Ela declarou e eu fiquei em choque.
– Isso não pode ser verdade.
– Eu não teria motivos para mentir, baby! – Lua exclamou. – Eu tô exausta. Você me leva para o quarto?
– É claro que não. – Respondi.
– Uhm... Você... Arthur.... você já foi mais educado comigo.
– É sério isso Lua? – Eu estava com as mãos na cintura e não estava acreditando no que eu tinha acabado de escutar.
– Você não tá vendo? Ele é um pouco insistente. Eu não gostei muito. Você sabe que eu não gosto de quando insistem. – Ela me disse.
– Pelo amor de Deus! – Exclamei. – Você lembra o que fizeram?
– Foi rápido. – Ela me disse. – Eu não gostei... eu até queria comparar... uhm... mas não gostei.
– Você não fez isso, Lua. Você não fez. – Insistir. – Você não fez isso só pra se vingar. – Ri sem vontade.
– É como eu me senti.
– A diferença é que eu estou com a minha consciência tranquila, porque não transei com ninguém. – Falei irritado.
– Agora você não me quer mais?
– Vai tomar banho, Lua. Vai dormir. Você tá bêbada. Amanhã você vai se arrepender da merda que fez.
– Eu não. Eu não me arrependo. Ele só foi um pouco grosso... porque você falou.
– Ele machucou você? – Segurei Lua pelo braço. – Você tá doida deixar ele te machucar? – Perguntei indignado.
– Me solta! – Ela exclamou. – Você que tá me machucando, seu idiota!
– Idiota? – Debochei ao solta-la. – Idiota é você que transou com o imbecil do seu chefe. Cara, eu vou embora. – Avisei. Mas Lua me puxou pelo braço.
– Ainda não. Me leva no quarto. Eu tô tonta.
– Problema seu. Falei pra você nem olhar na minha cara se fizesse isso.
– Por que você pode e eu não? – Ela questionou.
– Nenhum de nós podia. Não temos relacionamento aberto, Lua. Não vou dividir você com ninguém.
– Não vou transar mais com ele... Foi só uma vez...
– Você tá escutando o que você tá falando? – Perguntei.
– Você pode me ajudar a tirar a roupa...
– Eu não vou ajudar. Eu não vou tirar a tua roupa. Você tá bêbada. Nem sabe o que tá falando.
– Eu sei. – Lua afirmou. – A gente pode transar também se você quiser. – Ela sugeriu e eu rir.
– Você não tá falando sério. Vai dormir. Você acha que eu vou transar com você depois disso?
– Eu dou conta.
– Eu não quero saber! – Exclamei. – Para. Tá bom? Vai dormir... Que depois se você lembrar, vai ter muito sobre o que pensar.
– Experiência, não é? – Lua ironizou.
– É. – Afirmei porque já estava perdendo o controle. – Agora me solta. Quero ir embora.
– Eu tô pedindo pra você ficar. Você disse que eu podia pedir quando quisesse.
– Isso foi antes de você transar com outro. Eu te disse que se fosse só sexo, era pra me chamar, mesmo com raiva...
– Mesmo com nojo. Eu lembro, Arthur.
– Parece que não. – Retruquei. – Se foi só para provocar, você conseguiu muito. Mas vai ser pior pra você que se submeteu a isso. Eu só estou triste com você.
– Vai contar pra todo mundo agora...
– Eu nunca faria isso. – Afirmei. – Parece que agora você tem mais problemas para resolver.
– Ele é melhor do que você. – Lua pontuou irritada.
– Que bom, Lua. Se foi melhor pra você, que bom. – Suspirei. – Não preciso ouvir isso. – Esclareci decepcionado.
– Se eu chamar ele, ele vem. Você que é chato.
– Ele já viria até quando nós estávamos juntos. Imagine agora que estamos separados. Espero que você saiba o que está fazendo.
– Eu sei! – Lua assegurou.
– Me solta que eu vou embora. –  Pedi. –  Você tá vendo a diferença?
– De que? – Lua perguntou entediada.
– Eu só quero que você fique bem, eu estou puto aqui. Me agarrando a todo o controle que ainda resta. Só espero que ele não tenha sido tão escroto com você e nem te exponha.
– Por que você tá chorando? – Lua me encarou perguntando mais baixo.
– Porque eu já te perdi. – Passei o polegar pela sua bochecha. – É melhor você ir dormir. Tem a apresentação da Anie hoje... e eu só quero ir embora. – Falei.
– Mas eu também te perdi.
– Não, Lua. Você nunca me perdeu. – Assegurei. – Eu sempre estive aqui, implorando por você. E sei que isso não vai acontecer agora. – Acrescentei.
– Não chora também. – Lua pediu. Eu não conseguia entende-la. Como ela queria que eu não chorasse depois do que ela me contou.
– Eu sei que você não é assim... e por favor, Lua. Não faz essas coisas que vão te machucar e te trazer arrependimentos. Você é tão melhor que isso. Você sabe, Lua. – Falei e ela colocou o dedo indicador sobre meus lábios.

Uma hora e meia depois.

Nem sei como conseguir chegar na casa do Harry. Minha cabeça estava a mil e mesmo vendo aquelas marcas no pescoço dela e um pouco abaixo, e ouvindo o que ela me disso, eu ainda não consigo acreditar que Lua transou com outro cara. Mas ela estava falando tão sério, embora estivesse bêbada – Lua estava muito bêbada –. Eu nem queria imaginar o que ele tinha feito com ela.  Ryan era um estúpido, um canalha. Lua estava completamente bêbada, como ele teve coragem de fazer isso com ela nesse estado?

Eu tinha ficado muito chateado, decepcionado, triste, chocado com o que eu tinha escutado da boca dela. Lua não precisava ter feito isso. Eu sei que ela vai se arrepender. Lua não é esse tipo de mulher de sai com homens que não conhece. Ela tem medo. Eu conheço muito aquela mulher.

Cheguei na casa do Harry, estacionei o carro e ativei o alarme. Harry tinha me dado uma chave e eu abrir a porta. Talvez ele nem estivesse em casa. Fechei a porta com cuidado e subi a escada devagar.

Harry estava em casa e os gemidos não deixavam eu me enganar. Como eu vou dormir hoje? Passei as mãos pelo rosto e entrei no quarto de hóspedes que eu estava dormindo. Os quartos ficavam lado a lado e os gemidos estavam muito altos. Eu nem podia reclamar, ele estava na casa dele. Me levantei da cama e abrir a porta do quarto. Desci a escada e sentei no sofá. Pelo menos na sala eu não escutava nenhum som.

Não sei se haviam se passado horas. Eu devia ter cochilado com a cabeça descansada no encosto do sofá.

– Arthur? – Harry me chamou baixo. – Acorda, cara. – Ele me cutucou.
– O que foi? – Perguntei tirando o braço de cima dos meus olhos. – Que visão horrível. – Reclamei quando o olhei. Harry estava só de cueca.
– Eu sou é gostoso! – Ele se gabou. – O que tu tá fazendo aqui, cara? Achei que já estava era dormindo. O que aconteceu?
– Muitas coisas. Quer que eu comece por qual? – Perguntei. Embora não fosse falar que Lua tinha transado com o chefe dela. Falei pra ela que não contaria para ninguém.
– É sério, Arthur. – Harry insistiu.
– Mas eu não estou brincando. Lua fez umas coisas e os teus gemidos com a Britney não me deixaram dormir lá no quarto. – Contei.
– Mentira, Arthur. Tu tá inventando isso. – Ele disse sem graça.
– É sério. – Afirmei. – Mas relaxa. – Pedi.
– O que a Lua fez? – Ele sentou-se na mesinha de centro de frente para mim. – Você estava com ela até agora?
– Mais ou menos. Fui ver a Anie. Acabei pegando no sono, quando acordei e saí do quarto, Lua tinha chegado. Estava completamente bêbada. Eu já estava preocupado. Porque já era muito tarde, ela tinha ido de táxi.
– E...
– E ela chegou. Acho que... – Comecei, mas não consegui terminar. Senti uma vontade absurda de chorar e senti vergonha de fazer isso na frente do meu amigo.
– O que aconteceu? Vocês brigaram de novo? – Ele perguntou preocupado. – Porque você tá chorando? Você fez alguma coisa com ela?
– Claro que não, Harry... o que... o que eu poderia fazer? – Perguntei.
– Sei lá... o que ela te disse então.
– Acho que acabou de verdade. – Conseguir dizer em meio as lágrimas.
– Não, Arthur. Vocês só se desentenderam de novo. É só esfriar a cabeça. Você sabe disso. – Harry tentou me animar.
– Dessa vez acho que não.
– Você disse que ela estava bêbada. Porque você vai levar isso a sério?
– Porque Lua foi sincera. – Contei ainda chorando.
– Ela só tá com raiva. – Harry suspirou. – Vai descansar, cara. Os gemidos já pararam. – Ele brincou.
– Ainda bem. É horrível.
– Até parece que você não geme.
– Não nessa altura. Tem criança em casa... antes... enfim... – Respirei fundo.
– Mas aqui não. – Harry pontuou me puxando. – Vamos logo.
– Ei, não vou dormir com você! – Exclamei.
– Até parece que eu vou trocar a Britney por você. – Ele ergueu as sobrancelhas e nós acabamos rindo.

Continua...

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

N/A: Boa noite, leitores!

Ps: A partir de hoje, não vou mais postar com frequência. Minhas aulas na universidade voltam essa semana. Não terei tempo para me dedicar a escrever os capítulos (embora pretenda postar outro depois desse por esses dias ainda, mas não é certeza. Aguardem!)

MUITO OBRIGADA AOS COMENTARIOS DO CAPÍTULO ANTERIOR! <3

E aí? O que acharam desse capitulo? Eu só sei dizer que fiquei muito empolgada com ele. Achei FOD* mesmo. Adorei. Sou suspeita pra falar – chorei também. Enfim... a gente escreve e vive junto essa história (Comentei com a @Brenda que estava me sentindo no meio da briga da Lua e do Arthur hahaha).

Anie que neném mais linda! E tadinha, está sofrendo tanto com essa briga entre os pais. Mas eles estão fazendo de tudo para que ela não sinta tanto esse abalo emocional. Ela é muito pequena para entender tudo o que está acontecendo.

Abriram os links?

Escutaram a música que o Arthur escreveu pra Lua? LINDA NÉ? <3

Lua estava linda demais com aquele look né? Bem sexyyyyyy!

Será que ela transou mesmo com o Ryan? Uuuuuhmm... no que vocês acham que isso vai dar? O que acharam da reação do Arthur? </3 e esse final? OMG!

Beijos e até a próxima atualização.
COMENTEM. COMENTEM. COMENTEM.

10 comentários:

  1. Milly do céu,posta logo os próximos. Estou doida para ver o que vai acontecer nos outros capítulos. Está excelente esse capítulo,como sempre vc arrasou e continua deixando a gnt ansiosas para os próximos.
    Posta logo,beijos 😘

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  2. Eu simplesmente me recuso a acreditar que a Lua se deixou levar e fez uma besteira dessas, sério, por mais que tudo indique que sim, quero acreditar que não!
    Muito difícil pro Arthur ter que ouvir tudo isso, ainda mais sabendo que ele não fez nada com a Kate!
    A música do Arthur pra Lua é muito lindaa!
    Tadinha da Anie ta sofrendo demais, muito difícil para ela não poder estar com a Lua e o Arthur juntos no natal e no ano novo
    esse capítulo ta muuito sensacional, varias emoções e sentimentos aaaa Milly você arrasa demais! já estou ansiosa para o próximo capítulo!

    //Feh

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  3. Ai pelo amor de Deus dá um jeito de ñ ficar muito tempo sem postar, pq estou muito ansiosa pelo prox cap!!

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  4. Deus maravilhoso, mais q capítulo foi esse Milly do céu. Anie um amorzinho fazendo de tudo para ficar acordada e assistir ao show do papai e dos titios 😍. Pena que nenhuma das meninas foram ao show, apenas a Britney né. Sophia estava certa é uma meninaaaa ❤️. é difícil ter q dividir a filha em época de festa e principalmente pq a criança sempre quer os pais juntos. G-zuis amado e oq foi essa discussão deles dois, agora a lua deixou o Arthur abalado pra cacete. Eu acredito que a lua não transou com o Ryan, mais as palavras que ela disse e as marcas que ela deixou o infeliz fazer deixaram o Arthur sem chão. Quando a lua vê o Ryan de novo e ele for falar as gracinhas dele para ela, vai ouvir poucas e boas (espero q a lua não de ousadia a ele). Tomara que o Arthur de um belo cacete no Ryan e consiga provar logo sua inocência, pq a vaca da Kate até que sumiu. A música que o Arthur compôs para a lua é linda, pena que eles estão separados 😢
    Parabéns Milly, vc sempre arrasando nos capítulos ♥️

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  5. Meu psicológico não aguenta com isso, lua bêbada e com raiva não é uma mistura boa, mal sabe ela que vai se arrepender do que fez. Ainda bem que não passou tanto dos limites. Espero que ela lembre da conversa com o Arthur e que chegaram a chorar. Os dois estão se magoando muito.

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  6. Estou com muita dó do Arthur :(
    A Annie sofrendo, meu coração dói :(
    Espero que eles se resolvam logo, quero que a Lua descubra logo essa armação, mal posso esperar por isso!
    Dá um pequeno spoiler, está chegando a reconciliação??? Diz que sim hahahaha
    E como sempre, capítulo maravilhoso <3

    -Ale

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  7. Parabéns Milly, você arrasa escrevendo cada capítulo que é postado. Torcendo para Lua e Arthur voltar.

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  8. Meu Deus! Que capítulo foi esse? Nossa eu não acredito que a lua fez isso, quando ela descobrir que o Arthur não traiu ela vai se arrepender disso. Coitadinha da Anie vai ter que passa o natal longe do pai… Amei o capítulo!
    Lily

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  9. Será que a lua fez isso mesmo?? Como o Arthur disse ela vai so se arrepender, tadinha da annie ter que ficar longe do pai no natal,Obs:Toda apresentação da annie a lua e o Arthur tão em crise kkkk
    Milly atualiza logo, por favor��

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  10. Que triste eles estão só magoando um ao outro. Quero só ver quando a lua descobrir a verdade, se ela vai se arrepender. Espero que eles se aproximem pelo menos pra apresentação da Anie

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