Paixão Sem Limites - Capitulo 22 Parte 3

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Maratona
A sala silenciou. Olhei para o meu pai e o encarei com um olhar irado. Ninguém mais importava nesse instante. Nem a mulher que continuava a cuspir mentiras sobre a minha mãe, nem o homem que eu pensava amar. O homem a quem eu tinha entregado o meu corpo. O homem que tinha mentido para mim.
- Lua - a voz de Arthur soou distante.
Estendi a mão para detê-lo. Não o queria perto de mim.
- Você - falei, apontando para o meu pai. - Você está deixando que eles mintam sobre a minha mãe - Gritei.
Pouco me importava parecer louca. Nesse momento, eu detestava todos eles.
- Lua, me deixe explicar...
- CALE ESSA BOCA! - vociferei. - Minha irmã morreu, minha outra metade. Ela morreu, pai. Em um acidente de carro a caminho do mercado com VOCÊ. Foi como se a minha alma tivesse sido arrancada de dentro de mim e rasgado ao meio perde a Estrela foi insuportável. Tive que ver a minha mãe chorar e uivar de dor, depois tive que ver o meu pai ir embora para nunca mais voltar. Enquanto a sua filha e a sua mulher tentavam colar os caquinhos do mundo sem Estrela. Ai a minha mãe ficou doente. Eu liguei, mas você não atendeu. Então arrumei um emprego depois da escola e comecei a pagar as despesas médicas. Não fazia nada a não ser cuidar dela e estudar. Só que no meu último ano ela piorou tanto que eu tive que largar a escola. Fiz a prova de conclusão do ensino médio e parei de estudar, porque a única pessoa no planeta que me amava estava morrendo enquanto eu assistia sem poder fazer nada. Segurei a sua mão quando ela deu o último suspiro, organizei o enterro,  quando eles baixaram o caixão na cova. Você não ligou nem uma vez sequer! Nenhuma! Ai tive que vender a casa que vovó nos deixou e todos os objetos de valor que havia lá dentro só para pagar as despesas médicas.
Parei, respirei com vontade e um soluço escapou da minha garganta.
Dois braços me envolveram e dei um grito, debatendo-me e me desvencilhando.
- NÃO TOQUE EM MIM!
Não queria que Arthur me tocasse. Ele tinha mentido para mim. Sabia de tudo aquilo e tinha mentido para mim.
- E  agora estou sendo obrigada a ouvir vocês falarem sobre a minha mãe, que era uma santa. Estão me ouvindo? Ela era uma santa! Vocês são todos uns mentirosos. Se tem alguém culpado nessa merda toda que estou ouvindo sair das suas bocas é esse homem aí. - Apontei para o meu pai. Não podia mais chamá-lo assim, não agora. - O mentiroso é ele. Ele não vale o chão que eu piso. Se Giovanna e filha dele, se você estava grávida...
Eu me virei na direção da mulher para qual ainda não tinha olhado e as palavras congelaram na minha boca. Eu me lembrava dela. Cambaleei para trás e balancei a cabeça. Não. Aquilo não era o que parecia.
- Quem é você? - perguntei enquanto começava a me lembrar lentamente daquele rosto.
- Cuidado como vai responder - disse Arthur atrás de mim com uma voz tensa.
Ele continuava perto de mim.
Julia desviou os olhos de mim, olhou para o meu pai, depois tornou a me encarar.
- Você sabe quem eu sou, Lua. Nós já nos encostramos.
- Você foi á minha casa. Você... você fez a minha mãe chorar.
Julia revirou os olhos.
- Mãe, último aviso - falou Arthur.
- Giovanna queria conhecer o pai, então levei ela até lá. Assim ela pode ver a linda familiazinha dele,as duas lindas filhinhas gêmeas que ele amava e a esposa igualmente perfeita. Eu estava cansada de ter que dizer á minha filha que ela não tinha pai, porque ela  sabia que tinha. Então mostrei a ela o que o pai tinha escolhido no seu lugar. Ela só voltou a perguntar sobre ele anos mais tarde.
A menininha da minha idade que segurava a mão da mãe com força e me observava da porta. Aquela era Giovanna. Senti um nó na garganta. O que o meu pai tinha feito?
- Lua, por favor, olhe para mim.
Ouvi a voz desesperada de Arthur atrás de mim, mas não consegui prestar atenção nele. Ele sabia aquilo tudo: esse era o grande segredo de Giovanna e ele o havia protegido para ela. Será que não entendia que o segredo era meu também? Aquele era o meu pai e eu não sabia de nada. As palavras de Fernando ecoaram na minha mente: ''Quando chegar a hora de escolher, Arthur vai optar por ela.''
Fernando já sabia que Arthur tinha escolhido Giovanna. Todo mundo naquela cidade conhecia o segredo, menos eu. Todos sabiam que eu era, nas eu não.
- Eu estava de casamento marcado com Julia, que estava grávida de Giovanna. Sua mãe foi visitá-la. Ela era diferente de todas as outras mulheres que eu conhecera; sua mãe era viciante. Não consegui ficar longe dela. Julia ainda estava a fim de Léo e Arthur ainda visitava o pai a cada quinze dias. Para mim, no mesmo segundo em que Léo decidisse sossegar o facho, Julia ficaria com ele. Eu nem tinha certeza de que Giovanna era a minha filha. A sua mãe era inocente e divertida. Não gostava de roqueiros e me fazia rir. Quando dei em cima dela, ela me ignorou. Não sei como, mas consegui convence-la a fugir comigo. A jogar fora aquela amizade de uma vida inteira.
Pressionei as mãos sobre as orelhas para não ouvir o que o meu pai estava dizendo. Não conseguia escutar aquilo. Era tudo mentira. Aquele mundo doente em que eles viviam não era o meu. Eu queria voltar para casa, para Alabama. Voltar para o lugar que compreendia, onde o dinheiro e  os astros do rock não tivessem importância.
- Chega. Não quero ouvir isso. Só quero as minhas coisas, quero ir embora daqui.
Não pude conter o soluço que dei a seguir. O meu mundo como eu o conhecia acabara com ela. Queria voltar para casa.
- Gata, fale comigo, por favor.
Arthur tinha se posicionado novamente atrás de mim e eu estava cansada demais para empurrá-lo para longe. Em vez disso, me afastei. Não consegui encará-lo.
- Não consigo olhar para você. Não quero falar com você. Eu só quero as minhas coisas. Quero voltar para casa.
- Lua, querida, você não tem casa.
A voz do meu pai me irritou. Ergui os olhos e o encarei com fúria. Toda a dor e a amargura que conseguira reprimir quando ele havia nos abandonado me consumiam agora.
- Minha casa são os túmulos da minha mãe e da minha irmã. Quero ficar perto delas. Fiquei aqui parada ouvindo vocês dizerem que a minha mãe era alguém que eu sei que não era. Ela jamais teria feito isso do que estão acusando. Pode ficar aqui com a sua família. Billy. Tenho certeza de que ela vai amá-lo tanto quanto a sua antiga amava. Só tente não matar ninguém desta vez - cuspi. O arquejo audível de Julia foi a última coisa que escutei antes de sair da sala. Queria ir embora, mas tinha que pegar a minha bolsa e a chave do carro. Subi correndo a escada, joguei tudo o que consegui de volta na mala e a felei com violência. Pendurei no ombro a alça da bolsa e, quando e virei para a porta, vi Arthur ali parado, olhando para mim.
Ele estava pálido, com os olhos fundos. Fechei os meus. Pouco me importava que ele estivesse chateado. Deveria estar mesmo. Tinha mentido para mim. Havia me traído.
- Você não pode me abandonar - disse ele com um sussurro rouco.
- Não só posso como vou - retruquei, fria e sem emoção.
- Lua, você não me deixou explicar. Eu ia lhe contar tudo hoje. Aí eles chegaram ontem á noite e eu entrei em panico. Tinha que lhe contar primeiro. - Ele deu um soco no batente da porta.  - Não era para você descobrir assim. Não assim. Meu Deus, não assim. - Ele parecia mesmo abalado.
Eu não podia me deixar afetar pela moleza que quela expressão do seu rosto provocava no meu coração. Seria uma idiota se deixasse isso acontecer. Além do mais, a sua irmã... Giovanna era sua irmã. Não era de se espantar que ele a tivesse protegido desde a infância. Ela era a menina sem pai. Engoli a saliva que me subia pela garganta. Meu pai era um homem horrível.
- Não posso ficar aqui. Não posso ver você. Você representa dor e traição não só em relação a mim, mas a minha mãe também. - Balancei a cabeça. - O que nós tivemos acabou. Morreu no mesmo instante em que eu desci a escada e entendi que o mundo que conheci a vida inteira era uma mentira.
Arthur tirou as mãos do batente, e baixou a cabeça. Não disse nada, apenas recuou para eu poder sair. O pouco de coração que me restava intacto se estilhaçou diante daquela expressão derrotada. Mas não havia outro jeito. O que existia  entre nós estava contaminado.
                                                                                                                                       Continua....

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