Little Anie – 1ª Parte
Promete que não vai crescer distante
Promete que vai ser pra sempre assim
Promete esse sorriso radiante
Todas as vezes que você pensar em mim
Promete [...] sempre me abraçar quando eu chegar
Promete sorrir sempre com os olhinhos
E cantar cantigas na sala de estar
Que eu prometo ser pra sempre o seu porto seguro
Prometo dar-te eternamente o meu amor
[...] Me lembro quando você chegou nesse mundo
Sorrindo aos poucos quando ouviu minha voz
E hoje corre pela sala, brinca de existir
[...] E eu só sei sorrir
Ao imaginar você crescer
Para um pouco com a bagunça, deixa eu te olhar
Que o tempo voa e olha só
Você sabe falar
E diz tudo que eu preciso escutar
[...] Eu te amo infinito
– Promete | Ana Vilela
Pov
Arthur
Um
mês depois...
Londres | Terça-feira, 19 de julho de 2016 – À tarde.
Anie está com quatro anos
e quatro meses. Isso quer dizer que, ela já vai à escola no primeiro trimestre
letivo deste ano – outono, que começa em setembro. Lua está super empolgada e
ansiosa para que tenhamos essa conversa o quanto antes. Eu enrolei, enrolei e
enrolei o que pude, só que agora, falta menos de dois meses e eu não vou bancar
o pai irresponsável. Eu só queria que Anie não estivesse crescendo tão rápido,
sei que a culpa não é dela. Na verdade, a culpa não é de ninguém. Eu que queria
ter um bebê para sempre, no entanto, ela já vai para o ensino primário.
Hoje a Lua marcou –
ordenou – para que nos encontrássemos depois que ela saísse do trabalho. Ela
vai sair mais cedo só para que conversemos sobre a nossa filha ir para a
escola. Ainda nem falamos sobre os nomes das possíveis escolas. Só aí, tem
muito assunto para ser discutido. São muitas escolas.
Já estou quase saindo de
casa. Hoje Anie não tem balé e eu já me perguntei várias vezes como vão ficar
as aulas de balé, quando ela começar a ir para a escola primária. Tanto eu
quanto a Lua, sempre gostamos de arrumar os horários da Anie, para que ela
tivesse uma rotina e responsabilidades. Agora não sei se vamos conseguir
encaixar os horários. Ela deve entrar na escola as oito e meia e sair as três,
mais ou menos.
Peguei a chave do carro e
saí do quarto. Anie está na sala com Bart ao seu lado – esses dois são,
extremamente, inseparáveis. Mas vira e mexe, ela se estressa com ele e
vice-versa. Bart adora pegar os brinquedos ou qualquer coisa dela e sair
correndo com o objeto na boca. Anie fica irritada e corre – aos gritos – atrás
dele. Pelo menos, Lua está no trabalho na maioria desses acontecimentos e eu
não preciso escutar que “Você sabia que isso ia acontecer!”
– O senhor vai sair pra
onde?
– Vou encontrar com a sua
mãe. – Lhe dei um beijo no topo da cabeça. – Nós precisamos conversar sobre um
assunto sério. – Expliquei.
– Vai demolar?
– Um pouco, talvez. –
Sorri. – Se comporte, ok?
– Ok, papai. Mas fala
isso pro Bart também. – Ela pontuou e eu me virei para o cachorro, só para não
contraria-la.
– Se comporte também,
Bart. – Falei e passei a mão em sua cabeça. – Seja um bom garoto. – Acrescentei
e me voltei para Anie. – Está bem assim?
– Sim, papai.
– Agora eu já vou, antes
que a sua mãe me ligue impaciente. – Lhe dei outro beijo.
– Manda um beijo pra
minha mamãe então. E não demolem.
– Pode deixar. – Sorri.
Saí de casa e entrei no
carro. Talvez eu já estivesse há quase dez minutos atrasado.
– Desculpa a demora. Não
foi de propósito. – Já cheguei me desculpando e dei um selinho em Lua.
– Confesso que cheguei a
pensar que você fugiria novamente dessa nossa conversa. – Me contou desconfiada.
– Claro que não, loira. –
Afirmei. – Anie te mandou um beijo. E um aviso.
– Um aviso?
– Sim. Quase uma ordem.
Por ser filha de quem é, eu aposto que foi ordem.
– Engraçadinho. – Lua me
dei um chute sútil por baixo da mesa. –
O que ela pediu?
– “Não demolem.” –
Respondi e Lua riu.
– Se o pai dela não
dificultar as coisas.
– Aham... – Fingi que nem
era comigo. – Você quer alguma coisa?
– Já pedi um milk-shake
de caramelo. Não pedi pra você porque sei como você é. – Deu de ombros.
– Você já foi mais carinhosa.
Inclusive, me deixou mal-acostumado. Sabe disso! – Retruquei e chamei a
atendente.
– Boa tarde. – A moça
chegou extremamente sorridente. – O que deseja?
– Um milk-shake de
chocolate.
– Completo?
– Sim.
– Tudo bem. Já trago. –
Me disse e saiu.
– E então... – Comecei.
– E então, que te
conhecendo como eu conheço, sei que nem pensou no nome das escolas.
– Não. E te conhecendo
como eu conheço, você já fez uma lista com o nome das escolas. – Falei.
– Basicamente, foi isso
mesmo. – Lua admitiu.
– Isso faz com que, sei
lá... eu seja classificado como um pai desinteressado ou até mesmo,
irresponsável? – Perguntei receoso. Se Lua admitir, eu vou ficar decepcionado.
– Claro que não, Arthur.
– Lua abriu a bolsa. – Você só não quer aceitar que Anie já cresceu o suficiente
para começar a frequentar a escola primária. Esse momento vai ser muito bom
para ela. Anie é esperta e inteligente. Ela vai descobrir e aprender muitas
coisas. Estou tão ansiosa e animada para saber das novidades. Não é possível
que você não esteja, nem que seja um pouquinho, amor. – A loira na minha frente
me encarava com uma expressão de expectativa, positiva, é claro.
– Nossa, Lua. É óbvio que
eu vou ficar animado e emocionado com as novidades que a nossa filha trouxer da
escola. Mas tá, talvez eu esteja relutante para aceitar que esse momento já
chegou. Sou ruim por querer a minha filha ainda pequena por mais tempo?
– Seu tempo quer dizer: para
sempre. Anie não vai ser pequena para sempre. – Lua gosta de me mostrar a
realidade, sem rodeios, do jeito dela.
– E se ela chorar? Você
vai deixar ela chorando na escola?
– Não, Arthur. Que tipo
de mãe você acha que eu sou? Não é porque eu estou interessada que Anie comece
a estudar, que eu quero que ela fique na escola a qualquer custo. Vamos com
calma. Se ela chorar, é super normal. É um ambiente que ela não está
acostumada, mas também, temos que levar em conta que ela já frequenta o balé e
convive com outras crianças por lá. Então não vai ser muito difícil.
– Mesmo assim, isso não
me deixa mais tranquilo. – Batuquei a mesa com o celular e a atendente veio
trazer nossos milk-shakes.
– Isso quer dizer que o
meu sonho de termos uma conversa hoje, não vai se realizar?
– Estamos conversando.
– Você está super
negativo, credo, Arthur! Desse jeito não vamos avançar em nada. Você é a pessoa
que mais me encoraja, no entanto, olha o que está fazendo agora. – Lua começou
a tomar o milk-shake.
– É claro que eu não vou
atrapalhar a ida da nossa filha para a escola, Lua. Eu tenho consciência de que
ela precisa estudar e que é um direito dela. Não sou radical e nem idiota. Eu
também me preocupo com a educação dela. Se você já tem as escolas, nós podemos
dar uma olhada. Precisamos olhar antes, você concorda?
– Sim, concordo, Arthur.
Não precisa ficar na defensiva. Sei que você é muito responsável e consciente
das coisas. Você está mais nervoso do que nós dois juntos. Não precisa disso.
Nós dois sabemos, meu amor.
– Estou preocupado, Lua.
É só isso. Mas eu sei, conversar.
– Para, tá? Eu não quero
brigar, Arthur. Poxa... parece que eu estou errada. – Lua disse magoada.
– Eu nem pensei nisso,
loira. Desculpa. Já disse que só estou preocupado.
– Anie todos os dias vai
voltar para casa. Ela não vai passar a semana longe, na verdade, nem um dia. Eu
também me preocupo, me preocupo se a escola tem um ensino de qualidade, se os
professores são bons, pacientes e profissionais, se a didática funciona... não
tenho experiencia, assim como, você também não tem. Somos novos nisso, Arthur.
Será que todos os pais discutem por isso? Meu Deus! – Ela suspirou exasperada.
– Calma, tá? Eu não sei
se todos os pais discutem por isso, Lua. Nós não somos iguais aos outros pais,
você sabe. Deixa eu ver as escolas que você separou. – Pedi. – Vamos começar
por algum lugar...
– Tudo bem. Não foram tantas
assim e eu também acho bem válido a gente voltar a nossa atenção para a escola
que estudamos...
– Assim a Anie não
precisa trocar de escola a cada etapa. – Concluí.
– Sim. Foi exatamente o
que eu pensei. – Lua assegurou.
– ACS Hillingdon. A gente
pode ligar e marcar um dia para ir visitar. O que você acha? As aulas devem
terminar essa semana.
– O trimestre está no
final. – Lua afirmou. – Mas podemos tentar. É bom irmos um dia que estiver
tendo aula. Assim podemos observar melhor vários detalhes.
– Então acho que nem
vamos ver as outras. Eu concordo que é melhor Anie não ficar pulando de escola
em escola.
– Ai, nem acredito que a
gente se entendeu. – Lua comemorou. Ela está, visivelmente, contente até
demais.
– Falei que sabia
conversar. – A lembrei.
– Quando você chegou, não
parecia.
– Uhm! Eu vou pagar a
conta. – Mudei de assunto e Lua abriu a carteira. – Por favor, Lua. – A olhei.
– Tá, chato. – Ela
revirou os olhos e nos levantamos para ir até o caixa.
Paguei a conta e saímos
da lanchonete. Que inclusive, achei que Lua fosse querer os cookies, mas ela
estava concentrada demais em uma ligação que eu tenho quase certeza, que é para
a ACS Hillingdon.
– A gente se ver em casa,
meu amor. – Lua me deu um beijo rápido. Ela estava de carro, então, eu voltaria
sozinho para casa.
– Cuidado, Luh. – Pedi.
– Pode deixar. – Ela
piscou para mim. Lua sabia que era porque ela estava falando ao telefone.
Pov Lua
Londres | Quinta-feira, 21 de julho de 2016.
Consegui uma visita em
ACS Hillingdon antes do fim do trimestre – um dia antes, mas está valendo. Saí
cedo do trabalho novamente e combinei de encontrar com Arthur na escola. Ele
está bem mais preocupando, ansioso e nervoso do que eu. Tento ver as coisas com
tranquilidade. É claro que vou ficar muito emocionada vendo que a minha bebê
está prestes a ir para a escola – Anie ainda nem sabe disso. Temos menos de
dois meses para prepara-la.
Estou curiosa para saber
como eles desenvolvem as atividades com as crianças. Sei que Anie não vai
chegar em casa com trabalhos elaborados, mas é importante saber como as mínimas
tarefas são abordadas e ensinadas.
Estacionei o carro e
liguei o alarme. O estacionamento é amplo e está – um pouco – lotado. Faz,
exatamente, onze anos que eu não venho à esta escola – e Arthur também. Mas
como estudamos só o ensino secundário aqui, não sabemos nada sobre os anos
iniciais. E isso me assusta um pouco. Anie é pequena. Jamais deixaríamos a
nossa filha na responsabilidade de qualquer pessoa ou instituição que não
confiamos.
Arthur estava escorado na
porta do motorista à minha espera. Sorriu assim que me viu.
– Boa tarde, querido. –
Lhe dei um beijo.
– Boa tarde, meu amor.
– Chegou faz tempo?
– Uns vinte minutos.
Talvez eu esteja ansioso. – Ele respondeu dando de ombros e começamos a andar
para a entrada da escola. – Não venho aqui desde que nos formamos.
– Eu também. – Respondi.
– Mas parece que nada mudou. – Observei.
– Continua bem cuidada.
Isso é muito bom. – Arthur comentou.
Entramos na escola e
caminhamos até a secretaria. Ainda era no mesmo lugar. Eu me informei quando
liguei.
– Olá, boa tarde. –
Falei. – Sou a Lua Blanco. Fui eu que liguei na terça-feira.
– Boa tarde. – Uma mulher
de mais ou menos trinta anos nos cumprimentou. – Eu estou lembrada. Está
anotado aqui a visita de vocês. – Ela olhou para Arthur.
Não tinha ‘vocês’. Não
falei que ele ia.
– Boa tarde. – Ele a
cumprimentou. – Sou o Arthur Aguiar.
– Eu sei. – A mulher
sorriu e eu não gostei. – Então vocês querem conhecer a escola?
– Sim. Temos uma filha de
quatro anos. Já estudamos aqui o ensino médio, mas não o primário. Então,
gostaríamos de conhecer como o ensino funciona nessa etapa inicial. – Talvez,
só talvez, meu tom de voz tivesse diferente e Arthur percebeu. – Vi que agendam
visitas. – Acrescentei.
– Claro. Muitos pais
novatos e ansiosos gostam de visitar as escolas antes das aulas.
– E eles tão errados? –
Questionei e senti um leve aperto na minha cintura, por baixo do meu blazer.
– Eu não quis dizer isso.
– Ela se corrigiu. – Eu só peço que aguardem um momento. Já, já eu mostro a
vocês a escola. Como devem saber, acho que falei na ligação, hoje é o penúltimo
dia de aula. Não se assustem se estiver tudo corrido e barulhento. Isso só
acontece antes das férias.
– Eu imagino. – Respondi.
– Vamos esperar lá fora.
– Como quiserem. – Ela se
fingiu de educada.
Saímos da sala e Arthur
fechou a porta.
– Lua?
– O que foi que eu fiz? –
Revirei os olhos.
– Que clima horrível.
– Essa mulher que é
debochada e antiprofissional. – Retruquei.
– Por favor. Viemos
conhecer a escola. Só foca nisso e está tudo ótimo.
– Então você percebeu?
– Não sou nenhum
garotinho, Lua. – Ele respondeu irônico e se sentou em uma das cadeiras
enfileiradas no corredor. – Não vai sentar?
– Não.
– Ela pode demorar. – Me
lembrou. E nem seria uma coisa ruim.
– Será que a gente pode
pedir... sei lá... que outra pessoa nos acompanhe?
– Quer mesmo que eu
responda? – Arthur me perguntou com uma sobrancelha erguida.
– Você pode achar que é
bobagem, mas eu não sou nada calma e essa mulher ainda fica blefando com o meu
marido e você quer que eu finja que nem vi?
– Ela só disse que me
conhece.
– Ela riu. E não por
educação. Riu com cara de quem estava provocando. E ela tinha que ser
profissional. Você está defendendo ela?
– Não, Lua. Eu não estou
defendendo ninguém e nem vou falar mais nada.
– Se já começou assim, eu
prefiro que visitemos outra escola.
– Lua, não sou eu que vou
estudar aqui. Você está lembrando disso, não é?
– Odeio quando essas
coisas acontecem. – Confessei.
– Senta aqui, por favor.
Não aconteceu nada. Eu odeio é quando você fica insegura. Não têm motivos, Lua.
Pelo amor de Deus, não têm motivos!
– Eu sei!
– Aah, sabe é? E por que
tá fazendo isso?
– Eu fiquei irritada.
– Você devia se preocupar
se eu retribuísse, desse motivo e você sabe que isso não acontece. Senta logo
aqui! Eu estou ficando agoniado com esse barulho do seu salto batendo nesse
piso.
– Eu não quero sentar! –
Exclamei. – Quero me acalmar. Se ela rir outra vez...
– Você não vai fazer
nada. Só viemos ver a escola.
– Diz isso pra ela
então... quando ela sorrir pra você outra vez. – Resmunguei.
– Para, Lua. Nem estou
prestando atenção nisso.
– Tá, sei. Não precisa se
fingir de bobo e despercebido. Não foi você mesmo quem acabou de dizer que não
é nenhum garotinho?
– Ai, loira, ciúmes a
essa hora não. Por favor! – Pediu ao passar as mãos pelo rosto. – Vamos falar
sobre outro assunto...
– Eu prefiro apenas
controlar a minha respiração.
– Tudo bem, então se
concentra.
– Você está achando isso
divertido? Vem cá, será que ela vai nos deixar plantados aqui?
– Não, senhora Blanco ou
Aguiar? São casados? – A mulher abriu a porta do nada e soltou a pérola. Se ela
conhece o Arthur, tão logo sabe que ele é casado. É uma pergunta que eu nem vou
responder.
– Blanco. Lua Blanco. Eu
disse a você no telefonema e quando cheguei também. – Respondi. – Já podemos
conhecer a escola? Eu não tenho a tarde toda. – Não consegui disfarçar a minha
impaciência.
– Bom, Lua Blanco. – Ela
enfatizou.
– Eu estou te pedindo por
favor, loira. – Arthur sussurrou. – Por favor. – Repetiu.
– O que você e o Arthur
vão querer conhecer primeiro ou tem alguma informação que queiram saber antes?
– Podem ser as salas de
aulas. – Arthur respondeu.
– Eu gostaria de saber se
é sempre você que recebe os pais novatos e ansiosos – usei suas palavras
– em suas visitas ou se só formos nós que tivemos essa sorte?
– Desculpa, senhora... eu
não entendi.
– Entendeu sim. – Sorri
de maneira irônica.
– Lua, minha querida!
Quanto tempo?! – O homem me abraçou. – Não me diga que sentiram falta das
aulas? Olá, Arthur! Não tem vejo há tempos também. Não pessoalmente, mas ouço
tanto falar.
– Espero que coisas boas.
– Arthur e o senhor Colen apertaram as mãos.
– Estou surpreso em
vê-los. A última vez que os vi, alguém estava radiante que tinha sido aceita em
Cambridge, como se houvesse possibilidade de não ser. – Ele se lembrou. – Como
vai no trabalho? Continuo lendo bastante as notícias do The New York Times, li
seu nome duas vezes entre os melhores.
– Querem leva-la daqui.
Ano passado bateram bastante nessa tecla. – Arthur contou. – Mas não vão
conseguir. – Acrescentou me abraçando de lado e me dando um beijo carinhoso na
bochecha.
– Querem que eu vá para
os Estados Unidos. Mas não troco Londres por nada.
– Aqui é bom também e
você faz um ótimo trabalho. É uma advogada maravilhosa. Você deve se orgulhar.
– Nosso antigo professor apontou para Arthur.
– Muito. Sempre digo isso
a ela. – Arthur me olhou.
– E estão aqui por quê?
– Viemos conhecer mais
sobre o ensino primário. Temos uma filha. Esse será o primeiro ano dela na
escola.
– Oh, como pude esquecer.
Me perdoe. E como ela se chama?
– Anie. – Respondi.
– Loira como você? – Ele
sorriu e eu e Arthur rimos. Neguei com a cabeça antes de responde-lo.
– É a cara do Arthur.
– Com a personalidade
toda da Lua. O que o senhor me diz? – Arthur perguntou divertido.
– Hahaha... Você não pode
correr. – Colen se divertiu. – Adoraria mostrar a escola a vocês.
– Não vamos atrapalhá-lo?
– Claro que não, querida.
– Haley, leve as minhas
pastas para a diretoria e não se preocupe, eu acompanho esse casal. – Ele
apontou para nós.
Minha tarde voltou a
melhorar.
Bye, Haley!
– Tudo bem, senhor. – Ela
pegou apressada as pastas da mão do senhor Colen.
– Vamos?
– Claro. – Eu e Arthur
respondemos juntos.
– E o senhor, pelo visto,
continua dando aulas, certo? – Perguntei curiosa.
– Faz três anos que me
afastei das salas de aulas, mas não da escola. Chega um momento que cansamos.
Mas eu gosto bastante daqui.
– Então o que o senhor
está fazendo? – Arthur indagou.
– Agora estou na
diretoria desta escola. Não é um trabalho fácil. Todos os dias temos algo para
resolver. E como vocês bem sabem, a escola é enorme.
– Por essa eu não
esperava. – Confessei, feliz.
– Nem eu, minha querida.
Achei que a aposentadoria fosse chegar mais cedo. Mas aqui estou, e pretendo não
me afastar tão cedo. Me sinto vivo aqui. Isso é importante.
– É. Eu entendo o senhor.
– Concordei. – Também não me vejo longe do escritório e embora não goste de ter
Arthur longe, quando as turnês voltam e os muitos shows toda semana, eu sei que
ele não se vê longe dos palcos. – O olhei e Arthur concordou sem medir o
sorriso.
– E os outros caras?
Casaram todos?
– Menos o Harry.
– Não estou surpreso.
Sempre foi um garoto maravilhoso, mas nada preocupado com relacionamentos
duradouros e que envolvam sentimentos. Eu bem me lembro, podem acreditar. –
Colen afirmou.
Nunca tivemos problemas
com professores durante a nossa vida escolar. Só que Colen sempre foi o mais
próximo e atencioso com todos os alunos.
Conhecemos todos os
espaços voltados para a aprendizagem das crianças. Foi interessante, pois
tinham coisas que nem imaginávamos.
Nos despedimos de Colen
com noventa e oito porcento de chance de matricularmos a nossa filha nesta
escola. Temos que arrumar os documentos necessários e trazer até o dia vinte e cinco
de agosto. As aulas iniciam dia cinco de setembro.
Pov Arthur
– E tem um ponto bem
positivo, não fica tão longe de casa. Chegamos em menos de meia hora. – Contei
depois que nos afastamos de Colen.
– Sim e com o horário de
oito e meia para a entrada, posso trazê-la, também, às vezes quando não houver
reuniões cedo. – Me disse.
– Relaxa, loira. – Falei
e lhe dei um beijo no rosto. – Eu posso trazê-la sempre que estiver em casa. E
também tem a Carol.
– Eu sei. – Lua afirmou.
– Colen disse que o
banheiro é por aqui, certo?
– Sim, nesse corredor. –
Ela apontou para o corredor ao lado. –
Ai, Arthur, não me diz que quer ir ao banheiro?
– É rápido. Quer vir
comigo? – Ri e Lua fez uma careta.
– Vou te esperar ali na
porta. Não demora. – Me avisou.
– Vou só fazer xixi. –
Segui para o banheiro.
Já era quase seis horas e
a escola estava parcialmente vazia. Mais cedo os alunos estavam eufóricos com a
proximidade das férias de verão. Agora, um ou outro passava pelos corredores –
claro que não tinha nenhuma criança. Essas já tinham ido para casa.
Encontrei o banheiro e
entrei. Depois de fazer xixi, fui até a pia lavar minhas mãos e outra pessoa
entrou no banheiro.
– Vi quando você entrou
aqui. – Haley disse ao se encostar na parede perto da porta.
– Por trabalhar aqui,
deve saber que esse banheiro é masculino. – Retruquei e sequei minhas mãos.
– Não me surpreenderia
com nada se tivesse chegado a ver, de novo.
– Por favor. Desde quando
você gosta de crianças para trabalhar em uma escola?
– Não trabalho
diretamente com crianças, Arthur. – Ela riu.
Comecei a achar que na
vida passada cometi muitos erros para que tivesse que começar a pagar por todos
nesta vida. Porque não era possível, não tinha explicação. Todas as minhas ex-namoradas
estavam surgindo do nada. Ainda bem que não tive muitas, porque isso me
preocuparia de verdade.
Será que as ficantes
também iam começar a aparecer? Não que eu deva algo para alguma delas, só é
incomodo essas abordagens inesperadas.
– Que bom. Agora me dá
licença. – Pedi.
– Sei que são casados. Na
verdade, muitas pessoas sabem disso. Ainda mais pelo que aconteceu ano passado.
– Então por que você
perguntou? Deve saber por aí que minha esposa não é muito de conversinhas.
– Hahaha é claro. E quem
não sabe? Ela é bem direta! – Haley Observou. – Não fiz por mal. Só achei
divertido.
– Não foi nada divertido.
– Pelo visto, ela nem
sabe quem eu sou.
– E por que precisaria
saber? Conheci a Lua anos depois de você. Achei que você, sei lá, tivesse ido
morar em outra cidade. – Contei.
– E fui. Você sabe que
meus pais mudaram de cidade e que foi só por isso que terminamos.
– Tínhamos quinze anos. –
A lembrei.
Tive três namoradas antes
da Lua. Com a primeira eu sei que não preciso me preocupar. Por que as outras
não são iguais a ela?
Meu Deus!
– Mas estávamos bem. –
Haley deu de ombros.
– Eu mudei de bairro,
mudei de escola. Muitas coisas mudaram. Afinal, mudam o tempo inteiro. Eu
realmente preciso ir embora.
– Só perguntei do
sobrenome por conta da separação.
– Não estamos separados. –
Mostrei meu dedo anelar. – E Lua não usa o meu sobrenome. Licença, por favor. –
Pedi novamente. – Não quero ser grosso.
– Acho que você nem sabe
agir de tal modo.
– Falei que muitas coisas
mudaram.
– Vi como a trata. Não
quer que eu acredite que você virou um homem mal-educado, desrespeitoso e rude,
quer?
– É a minha mulher.
Natural que eu a trate bem. Agora dá para sair da frente da porta? Já cansei de
pedir licença. – Falei impaciente e Haley saiu da porta.
– Podemos conversar em um
outro momento?
– Claro que não. Não
temos absolutamente nada para conversar.
– Terminamos bem. Podemos
voltar a ser amigos.
– Haha... Não. – Embora eu
tivesse acabado de soltar uma risada, eu falei sério. – E para de provocar a
Lua. Ela não costuma ter muita paciência. Acho que vocês mulheres conhecem uma
a outra. Eu não preciso dizer mais nada. – Tentei ir embora, mas a mulher me
parou.
– O meu número, caso você
mude de ideia.
– Não vou mudar. – Joguei
o papel na lixeira mais a frente.
*
– Só foi fazer xixi? –
Lua ironizou.
– Essa escola é enorme!
– Quase eu te deixo aqui
sozinho. – Me contou.
– Até parece. – Retruquei
divertido. – De qualquer forma, vamos voltar em carros separados mesmo. –
Concluí.
Deixamos a escola e
caminhamos para o estacionamento.
– Harry me ligou.
– E o que ele queria? –
Indaguei esperando Lua entrar no carro dela que, teoricamente, é meu.
– Perguntou se podia ir
hoje lá em casa. Harry está saindo com alguém?
– Não sei, Luh. Acho que
não. Faz uns meses que não o vejo e nem falamos sobre garotas.
– Então vocês falam sobre
garotas, Aguiar? – Perguntou desconfiada.
– Sobre as garotas dele. –
Me defendi.
– A tá, sei... – Lua
puxou a porta do carro e fechou. Ri, embora estivesse nervoso. Usar a desculpa
de que a escola é enorme me deixou com peso na consciência.
Um mês e quinze dias depois.
Londres | Segunda-feira, 05 de setembro de 2016 – Manhã.
O primeiro dia de aula da Anie chegou!
Compramos o material
escolar da Anie há mais ou menos três semanas. Ela está empolgada e fica nos
perguntando como é a escola e se ela vai ficar lá para sempre.
Da mochila até a
borracha, é tudo de princesas – Bela, Ariel, Cinderela, Branca de Neve,
Jasmine, Rapunzel. Anie está encantada. Até achei que fosse precisar de mais
coisas, mas só pediram o essencial, cadernos, lápis de cores, cola, tesoura,
borracha, lápis de escrever – Também, com o dinheiro que já pagamos só com a
matrícula, dava para comprar mais três material escolar. Compramos uma
lancheira para ela também. Não sabemos como é o lanche na escola e eles ainda
não nos deram opções. Então, conhecendo a nossa filha, é melhor ela levar de
casa seu próprio lanche e almoço.
Compramos semana passada
o uniforme dela. É a coisa mais fofa. Uma miniatura de gente grande. É saia
cinza, blusa branca e casaco cinza e tênis. Estamos no fim do verão e se no
outono estiver frio, talvez ela use calça comprida. O uniforme é obrigatório
durante todos os dias da semana, exceto em datas comemorativas na escola.
E hoje chegou o primeiro
dia da Anie ir para a escola. Lua acordou cedo e começou a chama-la sete horas
da manhã – ela entra na escola às oito e meia. Todos os dias serão assim agora.
Tentei me preparar desde julho. Lua está ansiosa. Para ela, Anie não vai
chorar, mas eu, sim. Acho que ela está certa.
Já tomei banho e me
arrumei. São, exatamente, oito e cinco e estamos quase saindo de casa. Não sei
se Lua vai para o trabalho depois que deixarmos Anie na escola – isso vai
depender da adaptação da pequena. Que para mim, será tranquila, Katherine –
filha do John, produtor da banda – vai estudar junto com ela e as duas se dão
muito bem. Já é um ponto positivo. Pelo menos Anie já vai iniciar a escola com
uma amiguinha. Ela não vai mais se sentir sozinha. Embora crianças façam
amizades rápidas.
– E então, já escovou os
dentes, meu anjo? – Perguntei assim que entrei em seu quarto.
– Já, papai. E já estou
arrumada. – A garotinha sorriu. Ela está feliz e isso me acalma. Lua prendeu o
cabelo da Anie em rabo de cavalo e ela estava linda com aquele uniforme, tênis
e a meia branca.
– Você está linda, meu
amor. – Lhe dei um beijo na testa.
– Obligada, papai.
– De nada. – Sorri e
depois olhei para Lua que nos observava.
– Vamos? – Ela convidou e
eu assenti.
– O senhor me ajuda?
– Com o quê?
– Leva a minha lancheila.
– Ah, claro. Eu ajudo. –
Peguei da mão dela e Anie colocou, com a ajuda da mãe, a mochila nas costas. –
Não está pesada?
– Não, papai. Quelo logo
conhecer a escola e encontar a Kathe. Ela vai hoje, não é?
– Vai sim. E outras
crianças também. – Respondi.
– Que legal!
– Muito legal! – Lua
afirmou e deu dois tapinhas na minha costa. – Vai dar tudo certo.
– Eu sei que vai. – Lhe
dei um beijo na bochecha.
– Ei, tenha um ótimo
primeiro dia de aula, Anie. – Carol estava animada ao pé da escada e deu um
abraço apertado em Anie. – Estou ansiosa para saber tudo o que você descobrir
de novo.
– Vai ter um monte de
coisa? – Anie abriu um sorriso.
– Sim. E super legais. –
A mulher afirmou e eu e Lua sorrimos.
ACS Hillingdon – Oito e meia.
O estacionamento estava
quase lotado. Crianças pequenas e grandes, e adolescentes. Muitos, muitos,
muitos espalhados na frente da escola. Algumas crianças com os pais e outras,
com as babás.
Anie estava vibrando na
cadeirinha no banco de trás.
– Já chegamos?
– Já, meu amor. – Lua
sorriu carinhosa.
– UAU! É uma escola
gande! Vou ficar sozinha aqui?
– Não. Uma professora bem
legal vai cuidar de você e tem a Katherine também, esqueceu? – Lua explicou.
– E vocês? – Anie indagou
quando fui lhe tirar da cadeirinha.
– A gente vai ficar aqui
até a hora que você quiser. – Respondi.
– Eu não quelo ficar aqui
só eu.
– Não vamos te deixar
aqui sozinha, meu amor. Não se preocupe. – Assegurei.
Entramos na escola
segurando, um de cada lado, as mãos de Anie. Ela observava tudo com muita
atenção.
– Está gostando da
escola? – Perguntei mais baixo e Anie me olhou.
– Tem um monte de gente,
papai.
– Sim, querida. Em todas
as escolas é assim.
– Alguns serão seus
colegas.
– Quem, mamãe?
– Daqui a pouco você vai
conhece-los e olha quem está ali! – Lua apontou mais à frente. John estava com
Grace e a pequena Katherine em frente a sala de aula.
– Kathe!
– Sim, filha.
As duas correram e se
abraçaram.
– Olá, Arthur. Lua.
– Olá, John. – Nós
cumprimentamos e Lua o abraçou e depois abraçou Grace.
– Bom dia, querida.
– Está nervoso, Aguiar?
– Mais que a minha
própria filha. – Confessei.
– A gente se acostuma. –
Ele garantiu me dando um tapinha nas costas. Isso fez com que Lua e Grace
rissem.
– Elas vão ficar bem,
querido. Terão uma a outra. Seria mais difícil se não conhecessem ninguém. Foi
assim com a Julia. – Grace nos contou.
– Eu estou tentando
acalmá-lo desde quando conversamos sobre esse assunto pela primeira vez. – Lua
disse e me abraçou de lado.
– Só fico pensando que
ela pode chorar e chamar por nós. Sei que isso vai passar... – Me defendi.
Enquanto conversamos, as
duas já tinham entrado na sala de aula e conversavam com outras crianças.
Fiquei surpreso e me sentindo um idiota.
*
Anie não chorou no
primeiro dia de aula e nem pediu para que ficássemos mais, quando fomos nos
despedi dela. Estava sorridente e cheia de assunto.
Estou feliz e Lua também.
Ela sempre esteve segura disso.
– Eu te disse. – Lua
sorriu completamente convencida.
– Eu sei. – Apertei
levemente seu nariz. – Eu não chorei. Nisso você errou.
– Hahaha... foi por
pouco. Bem pouco na verdade. Pensa que não vi seus olhos?
– Só fiquei emocionado.
– Uhm! Você é tão lindo. –
Lua me abraçou um pouco mais forte. – Eu também fiquei emocionada. Ela está tão
linda!
– Quase independente!
– Arthur, não é para
tanto, meu amor. – Lua riu.
– Ela nem fez caso da
gente. – Pontuei.
– Ela só estava segura
porque conhecia a Katherine, amor. – Lua continuou rindo.
– Quando será que essa
sensação de coração apertado vai desaparecer?
– Quando você vier
busca-la. Te garanto. – Ela assegurou. – Me leva no trabalho?
– Não quero ficar sem
você também, loira. O que eu vou fazer o dia inteiro?
– Anie tem balé às cinco,
Arthur. – Lua me lembrou. – Vocês vão ficar mais tempo juntos do que eu e ela.
– Posso almoçar com você?
– Se esperar até uma hora
da tarde, eu vou amar a companhia.
– Eu espero. Vou passar
lá no Harry. Acho que vou ficar até por lá... quem sabe até não almoçamos
juntos, os três? – Supus.
– Arthur!
– O que foi? Não quero
ficar em casa sozinho.
– A Mel está lá!
– Sem a nossa filha, eu
quis dizer.
– Vai passar o dia fora a
semana inteira?
– Não. Claro que não. –
Suspirei.
– Só até me acostumar.
– Olá, Arthur! Bom dia.
Oi, Lua Blanco. – Haley nos encontrou no corredor. Estávamos quase
saindo da escola.
– Bom dia. – Fingi
coincidência e seguimos para fora da escola.
– Essa mulher adora me
provocar e é a segunda vez. Eu nunca nem a vi, Arthur. Vocês se conhecem?
– De onde você tirou
isso? – Perguntei me fingindo de desentendido.
– Porque é o que ela
insinua. E você não parece surpreso. – Lua observou.
– Era só responder bom
dia. Só isso. Nada mais.
– O bom dia nem foi para
mim. Viu como ela enfatizou o meu nome?
– Deve ter sido por conta
da outra vez. – Ponderei.
– Você está, por acaso,
pela segunda vez, defendendo ela?
– Não, Lua. Só imaginei
que fosse isso. – Expliquei. – Ér... esse assunto de novo? Não tem nada a ver. –
Assegurei.
– Sabe que ela morava em Covent
Garden antes de mudar de cidade?
– Acho que ela comentou
isso quando viemos matricular a nossa filha. E daí?
– E daí? É isso que você tem para me dizer?
– A gente pode falar
sobre esse assunto em um outro momento? – Abri a porta do carro para ela. –
Agora não, certo?
– Então eu estou certa?
– Quando eu te explicar,
você vai entender que não tem nada de mais. – Respondi.
– Tá, da outra vez foi
quase assim. – Lua resmungou.
Fiquei calado porque não
queria discutir com ela.
Meia hora depois | Casa do Harry
– E aí,
Judd?! – Apertamos nossas mãos.
– Quanto tempo, cara. Achei que ainda estava
em White Bay. Entra...
– Hahaha... seria um sonho ficar naquele
paraíso com a Lua por bem que apenas três dias. Que foram maravilhosos, mas só
foram três dias.
– Uhm! Pelo sorriso, nem devem ter dormido. –
Harry brincou. – Mas o que te traz aqui tão cedo? – Ele olhou para o relógio.
– Cedo? Dez e pouco, Harry. – Respondi e ele
bocejou. – Não me diz que está acompanhado?
– Claro que não, dude. – Ele riu. Arqueei as
sobrancelhas como quem não acreditava e Harry continuou rindo.
– Vai fazer alguma coisa agora no almoço?
– Quer almoçar comigo é? Sentiu saudades,
admite! – Nós fomos para a sala.
– Já marquei com a Lua, seu idiota.
– Ela vai ficar uma fera se for trocada por
mim.
– Até parece que ela corre esse risco. – Dei
de ombros despreocupado.
– Eu estou livre. Literalmente. – Me
assegurou.
– Almoça com a gente?
– Pode ser. Estou com saudades da Lua. Não a
vejo desde março.
– Você furou com ela mês retrasado. – O
lembrei.
– Aconteceu um imprevisto. É diferente. – Ele
se defendeu.
– Um imprevisto de saias, aposto. – Ironizei.
– Hahaha... dessa vez era vestido.
– Idiota! Mas deixa eu te contar uma coisa...
Lembra da Haley?
– Haley... Haley Canper?
– A própria. – Afirmei.
– Sua ex. O que tem?
– Advinha onde nos encontramos?
– Você marcou um encontro com ela?
– Óbvio que não, Harry! – Exclamei.
– Sei
lá, Arthur... Achei que ela nem morasse mais aqui. Não foi por isso que
terminaram?
–
Exatamente. Só que ela voltou e trabalha na escola que a minha filha estuda.
– Quê?
Anie está estudando? Como assim ninguém me contou?
– Sim,
começou hoje. É por isso que vim parar aqui, não quero ficar sozinho em casa
sem ela e Lua foi para o trabalho.
– Em que
escola, Arthur?
– ACS
Hillingdon...
– Que
estudamos?
– Sim. –
Afirmei e Harry estava surpreso. – Matriculamos ela no fim de julho. E foi
basicamente nesse mesmo período que encontrei com a Haley.
– Lua já
sabe?
– Não.
Mas está desconfiada que eu conheço a Haley. Ainda mais que ela puxou um papo
nada a ver só para falar o bairro que morou. Lua me perguntou isso hoje. Fora
que já tinha soltado umas provocações, quando fomos visitar a escola, que Lua
revidou. Achei que fosse ser pior. Fico me perguntando o que eu fiz de tão ruim
para merecer isso...
– Será
que eu devo começar a me preocupar? Tenho mais exs que você. Meu Deus! Nem se
compara!
– Nem se
compara mesmo. – Concordei.
– E você
vai contar para a Lua quando?
– Hoje à
noite. Já avisei a ela. Me fez muitas perguntas hoje. Sabe como ela é...
– Nós
dois sabemos. E continuar sem dizer a ela, vai ser pior e você sabe. Da outra
vez foi assim.
– Só
estou preocupado em contar a Lua de onde conheço a Haley, não de que ela aja
igual a Kate. Só não sei se Lua vai achar a mesma coisa. – Suspirei.
Almoço.
– Oi, de
novo. – Dei um selinho em Lua assim que ela se sentou no banco do passageiro.
– Oi. –
Ela olhou para o banco de trás. – Então o Arthur foi mesmo te buscar para
almoçarmos juntos?
– Mas é
claro. O que seria dele sem eu? – Harry disse convencido.
–
Hahaha... – Lua riu irônica. – Então deve ter te contado da Haley, a secretária
da escola da nossa filha.
–
Primeiro que eu nem sabia que Anie estava estudando. – Ele quis se sair.
– E
segundo? – Lua insistiu.
– Queria
que tivessem me contado antes. Não tem fotos? Deve ser a coisa mais linda de
uniforme.
– Você e
o Arthur pensam que me enganam, não é mesmo? Mas eu não sou nenhuma idiota!
– Já
disse que vamos conversar em casa, loira. Fica calma.
– Estou
super calma.
– Por
que vocês têm que sair por aí beijando um monte de mulher?
– Você
tá falando isso para mim?
– Para
vocês dois, Harry!
– Aah,
respondo por mim, sou apaixonado por mulheres. – Ele sorriu.
– Vocês
são safados, isso sim.
– Ei, a
gente não tem um relacionamento aberto. Não beijo um monte de mulher. Só beijo
você.
– Tá. E
antes de mim?
– Aí é
outra história. – Harry comentou vagamente.
– Cala a
boca, Harry. – Pedi.
– Então
eu estava certa. Sabia que a minha intuição nunca falha?
– Eu
sei, loira. Mas não fica preocupada.
– Eu
disse que não queria você porque sabia que era um safado.
– Pelo
amor de Deus, Luh. – Comecei a rir e Harry não se controlou também.
– Podem rir.
– Ela deu de ombros. – Pelo menos minha consciência é tranquila e eu nunca
menti pra você.
– Não
estou mentindo, meu amor. – Assegurei. Tentei dar um cheiro nela, mas Lua se
afastou.
– Morde
e depois quer assoprar. – Comentou me encarando. A olhei com um sorriso de
canto de boca.
– Você
gosta.
–
Idiota!
– Parem
de safadeza! – Harry exclamou. – Depois estão aos beijos e eu só fico olhando.
Então, parem!
Almoçamos
em meio as indiretas da Lua e risadas minhas e do Harry. Lua estava indignada.
À noite – Em casa.
– Então,
o que você tem para me dizer... – Eu estava deitado no sofá e Lua tinha acabado
de se deitar em cima de mim.
– Mais
tarde. – Tirei alguns fios de cabelo que caíam sobre seu rosto.
– Você
não está me enrolando, não é?
– Não,
meu amor. – Lhe dei um beijo.
Ouvimos alguém
descer a escada e olhamos, era a Mel com o bebê.
– Espero
não estar atrapalhando. – Ela sorriu de lado.
– Não. Só
estávamos conversando. – Lua contou e sentou-se no sofá, me sentei também.
– Precisa
de alguma coisa? – Perguntei em seguida.
– Sim. De
um favorzão de vocês.
– Pode falar.
– Lua respondeu.
– Ér... preciso
sair daqui a pouco. Marquei uma conversa com o Chay, para ver se nos
resolvemos ou... sei lá, se vou precisar procurar uma casa nos próximos meses.
– Que bom
que concordou em conversar. – Lua disse. Já tinha algumas semanas que Chay
estava insistindo bastante.
– Vocês
poderiam ficar o Ethan?
– É
claro, Mel! – Lua afirmou. – Pode ir tranquila.
–
Obrigada. Ele já mamou, vou só vestir um pijama quentinho nele. E, também, vou
deixar duas mamadeiras. Não sei se vamos demorar.
– Pode
ficar tranquila, Mel. – Falei e ela sorriu.
– Ele
vem me buscar às oito e meia, então vou me apressar.
Ela disse
e subiu novamente a escada.
– Mamãe...
– Anie apareceu na sala. Ela já tinha tomado banho e estava de pijama.
– Oi,
meu anjo. Vem aqui, deita aqui. – Lua a chamou e Anie subiu no sofá e também se
deitou em cima de mim. – Amanhã tem escola de novo.
– É, eu
sei. Todo dia. Sabia que hoje também foi muito legal no balé? Meu papai deixou
eu dormir depois que cheguei da escola. Mas da outa escola, sem ser da de dança.
– Você
estava cansada?
– Eu tava,
mamãe. – Anie sorriu, mas logo se acomodou em meu colo e Lua ficou fazendo
carinho nos cabelos dela. Logo Anie não demoraria a pegar no sono.
– Quem
diria, Anie dormindo antes das oito e meia. – Lua comentou baixo.
– Uma
mudança visível. Ela nem estava relutante. E está mega empolgada com a nova
rotina. – Observei.
– É
verdade. – Lua concordou.
Quase uma hora depois.
Eu já
tinha colocado Anie na cama dela e estava esperando Lua vestir um pijama para
irmos para a sala, quando Mel bateu na porta do quarto.
– Pode
abrir. – Respondi me levantando da cama.
– Chay
já chegou. – Mel me entregou Ethan depois de lhe dar um carinhoso beijo na testa.
– Cadê a Luh?
– Já
vem. Ela está vestindo uma roupa.
– Estou
aqui. – Lua apareceu na porta do quarto e pegou as mamadeiras que Mel lhe
entregou.
– Acho que
não vai ser preciso mais de duas.
– Também
acho. – Lua respondeu.
– Dei um
pouco de mama pra ele ainda agora. Então, ele vai demorar a chorar. Eu acho.
– Só parece
que não está com um pingo de sono. – Notei e Mel concordou.
– Achei
que ele fosse ficar dormindo. Mas está aí, lutando com o sono.
– Vamos
ficar bem. – Lua assegurou.
– Eu
sei. Bom, até mais tarde. Mas qualquer coisa, podem me ligar. Por favor!
– Pode
deixar. – Respondemos juntos.
Mel saiu
de casa e eu fiquei com Lua cuidando o bebê.
– O que você
acha de começar a me dizer de onde conhece aquela secretária debochada, que não
perde a oportunidade de me provocar? – Lua começou e eu coloquei Ethan deitado
na cama. Ela colocou as mamadeiras sobre a mesa de cabeceira.
– Primeiro
que eu nem sabia que ela trabalhava em uma escola e segundo, fazem muitos anos.
Só que isso não quer dizer que a gente seja amigo. – Respondi.
– E quer
dizer o que?
– A
gente era vizinho.
– Claro.
Covent Garden não ia surgir no nada em uma conversa que ela fez questão de
iniciar. Por que você não me disse isso antes? Ela pensa que eu sou uma boba.
– Claro
que não, Lua. Falei para ela não te provocar que você não suporta conversinhas.
– Então
vocês conversaram?
– Não que
eu quisesse ou tivesse planejado. Só que ela apareceu no banheiro do nada e
falou que sabe que somos casados e enfim...
– No banheiro?
Do que você tá falando?
– Na
escola. No dia que fomos visitar. Disse que acabou tudo bem entre nós e que podíamos
voltar a ser amigos.
– Agora
a demora está explicada. – Lua sorriu irônica. – Continua, Arthur. Acabou o quê?
Não eram só vizinhos?
– Não. Namoramos
quase um ano e ela se mudou.
– Por
isso acabou?
– Sim,
mas também não quer dizer que se ela tivesse permanecido no Covent Garden, estaríamos
juntos até hoje. Por favor, Lua... eu tinha quinze anos.
– E daí?
– E daí
que muita coisa mudou.
– Seus
namoros costumavam durar menos de um ano?
– Você
tá sendo sarcástica. – Comentei.
– Só por
curiosidade. – Lua deu de ombros.
– Até eu
conhecer você, mas você sabe que eu namorava sério. Não tinha culpa se o tempo era
pouco.
– Você
teve quantas namoradas mesmo? Só para eu não ficar surpresa caso elas comecem a
aparecer todo ano ou, quem sabe, todo mês.
– Lua,
para... só tive três namoros sérios antes de você, querida.
– Só?
Você ainda diz, só? Suas ex-namoradas são todas psicopatas. Onde você
conhecia essas garotas? Sei que você gostava de festas... eram onde?
– Lua.
– É
sério, Arthur. Agora falta aparecer só mais uma...
– Você
não precisa se preocupar com essa. – Assegurei.
– Então
você sabe por onde ela anda. – Instigou.
– Ela é
casada e tem três filhos. Logo, não vai me dopar e levar para a casa dela. Você
acredita em mim?
– Tem
que acreditar, não é mesmo? Ou vamos brigar sempre que uma ex sua aparecer.
– Eu
nunca pensei que isso fosse acontecer. Fiquei surpreso quando a vi lá.
– Nem
eu. Eu ia ficar feliz de estar engada sobre meu pensamento de que você era
safado e saía com muitas garotas. – Lua me contou e deitou na cama, com cuidado
para não assustar Ethan que já estava cochilando.
– Eu não
era safado. E também, só ficava com muitas garotas quando estava solteiro. Não era
comprometido, Lua. Eu aproveitava.
– Eu também
nunca tive nenhum compromisso antes de você, isso não quer dizer que eu me
divertia demasiadamente.
– Tá, e
você não ter se divertido é culpa minha?
– Eu não
disse isso, Arthur. – Lua fechou os olhos. – Não é legal passar por isso.
– Isso o
quê?
– Esses
encontros repentinos e indesejados. Enfim, da minha parte você não vai
vivenciar isso. Eu só tive um relacionamento, nada sério, que o cara era um
idiota. Harry sabe quem é... mas acho que nem ele é capaz de aparecer do nada só
para ficar te provocando.
– Desculpa,
Lua... mas eu, poxa, eu nem falo com elas. Você acha que eu gosto que elas
apareçam só para nos atrapalhar?
– Não. Mas
eu também não tenho muita paciência e nem sou obrigada a tolerar esse tipo de
situação.
– Tá,
então agora que você já sabe de onde eu conheço a Haley, a gente pode encerrar
esse assunto? – Depositei um beijo em sua testa. – Detestaria continuar discutindo
com você a respeito desse assunto.
– Tudo
bem. – Lua concordou, mas ela não estava nada feliz.
– Agora –
me deitei ao seu lado. – Você acha que esse encontro do Chay e da Mel vai demorar?
– Mudei de assunto.
– Eles
têm muito o que conversar. – Lua respondeu e olhou para o Ethan. – Embora ele
tenha sido muito baixo com ela, eu torço para que resolvam o que seja melhor
para eles. Só isso.
– Eu
também. – Concordei.
– Acho
que vou aproveitar e dormir, enquanto Ethan não chora. – Lua sorriu.
– É. Vamos
fazer isso.
Lua colocou
Ethan no meio da cama.
– Ele não
se vira ainda, não é?
– Claro
que não, Arthur. A criança tem só três meses. – Lua riu da minha pergunta.
Nos
deitamos, um de cada lado do bebê e acabamos dormindo.
Uma hora
da manhã, olhei no relógio. Não sei se Mel já tinha chegado, mas Ethan estava
resmungando e mordendo as mãozinhas. Lua dormia. Me levantei com cuidado e
peguei a mamadeira. Depois voltei para a cama e peguei o bebê no colo.
Lua
acordou quando Ethan estava quase terminando de beber o leite.
– Que
horas é isso? – Perguntou sonolenta e se sentou na cama.
– Uma e
pouco já. – Respondi. – Não sei se Mel já chegou.
– Se não
chegou, conversando até essa hora é que eles não estão.
– Não
mesmo. – Concordei. Dei Ethan para Lua, para que ela o fizesse arrotar.
Algum
tempo depois, nos deitamos e dormimos.
Continua...
SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.
N/A: Olá, boa
tarde. Vocês estão bem? Espero que sim! <3
O que
acharam do capítulo? Gostaram? Me contem tudo, estou ansiosa para saber!
Capítulo
emocionante e cheio de surpresas/revelações. Vocês concordam? Será que devemos ficar
atentas? Haha
Abriram os
links? Imaginaram a Anie naquele uniforme e com aquela
mochila? Haha que amor <3
PS: Estou fazendo
o que posso para mantê-los atualizados. E as vezes fico desapontada com o
retorno. Sei que muitas pessoas acompanham a história, as visualizações entregam
isso. No entanto, fico aguardando os comentários que em alguns capítulos, vocês
esquecem de comentar. É por meio dos comentários que eu sei se vocês estão
gostando e se eu tenho que mudar alguma coisa para melhorar. É isso, espero que
não entendam mal.
Um beijo e até breve.
Parabéns Milly, pelo Capitulo maravilhoso ❤️ estou muito curiosa pra saber sobre a conversa do Chay com a mel !!! Essas ex do Arthur nunca prestam kkkkkk
ResponderExcluirQue capítulo fofo meu Deus eu amei muito Milly
ResponderExcluirMas agora só estou curiosa nessa conversa do chay e mel haha
Milly como sempre arrasando em mais um capítulo! O coração até enche de tanto amor vendo a pequena anie indo para a escola!!! Arthur como sempre sendo um pai super protetor e atencioso com sua pequena! Amo demais esse trio!! E o Harry,que saudade que eu estava dele com nosso casal predileto!!!
ResponderExcluirAnsiosa para os próximos!!! E repito,não estou preparada para o fim! ❤️❤️
Obrigada por sempre nos manter atualizadas!!!!
Aguardando ansiosa pelo próximo!! ❤️😍
Aaah os capítulos continua maravilhosos!!A você podia fazer o arthur sentir ciúmes também né da lua.tadinha coloca alguns caras pra dá em cima dela!seria legal ����
ResponderExcluirQue saudade que eu tava desse trio!��
ResponderExcluirNão consigo aceitar que a Anie está crescendo. O Arthur só pode ter pecado muito na vida passada viu. Amei o cap��
Meu Deus que fofura Anie já indo pra escola!! O uniforme e material todo bonitinho �� Arthur claramente eu se tivesse uma filha e ela fosse pra escola,sofreria horrores tbm!! Chocada com mais uma ex Arthur aparecendo! Quem aguenta meu pai? Aí da bem que Arthur contou logo, já tava brava achando que ia cometer o mesmo erro, mas Lua dessa vez sacou logo tbm né
ResponderExcluirAí que amorzinho demais Anie indo pra escola!! Que bom que ela se costumou fácil, menos sofrimento pro Arthur kkk Que não tá fácil a vida não, aparecendo essa Haley do nada pra azucrinar, mas pelo menos dessa vez ele já contou tudo e Lua vai ficar de olho com certeza!!
ResponderExcluirMel e Chay pela demora devem ter se acertado hein...aí eu fico toda sofrida vendo Lua e Arthur cuidando do bebê, pensando que podia ser um deles...queria tanto um bebezinho pra esses dois depois de tudo que passaram ��❤️
Aaaah, mais um capítulo maravilhoso. E esse final fofo do Arthur e Lua com o afilhado ❤️
ResponderExcluirAFFF amei queria tanto que luinha tivesse um filho sinto que os dois desejam isso ameiii eles com o afilhado ♥️♥️
ResponderExcluirPosta mais adorei a web
ResponderExcluirMEU DEUS EU TO É NUITO CURIOSA NESSA CONVERSA DE CHAMEL
ResponderExcluirXx Clara.
Arthur só tem ex maluca meu pai amado kk
ResponderExcluirAaah milly arrasando como sempre!que capítulo já estava com saudades.vc poderia fazer aquele capítulo que o arthur queria dá umas palmadas no bumbum da lua né kkkk seria mais maravilhoso ainda.
ResponderExcluirMilly do céu, Anie já está uma mocinha, meu pensamento é igual ao do Arthur de chorar pq o tempo está passando muito rápido. Coitada da lua, sofre com essas ex-namoradas do Arthur viu, são umas loucas mesmo para ficarem provocando a lua.
ResponderExcluir