Litte Anie - Cap. 85 | 3ª Parte

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Little Anie | 3ª Parte

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
[...]
Hoje eu sei, eu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais, muito além
Do tempo do vendaval
Nos desejos
Num beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal
– Ivete Sangalo | Se eu não te amasse tanto assim

Pov Arthur

Liverpool | Quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016 – Dez e vinte da noite.

Fazia um pouco mais de uma hora, que eu havia chegado no apartamento depois de deixar Lua e Anie em casa. Nossa tarde foi tão agradável que eu quase esqueço que temos tantas coisas para conversar.

Eu já havia tomado banho e estava prestes a dormir, mas a lembrança do que eu e Lua havíamos feito mais cedo não me deixava fechar os olhos.  Eu estava com tanta saudade de beijar aquela mulher, de conversar com aquela mulher sem brigar, sem gritar.

Meu celular apitou e eu suspirei. Eu não fazia ideia de quem estava me mandando mensagens àquela hora.


“Boa noite, baby.  Eu já estou com saudades de você.”

“Desculpa ter sumido. Mas tive que resolver alguns probleminhas.”

“Quando podemos nos ver novamente?”

“Beijos.”

K.

Mensagem OF

Essa mulher só pode estar de palhaçada com a minha cara. Bloqueei a tela do celular e deixei sobre o criado-mudo. Isso não poderia voltar a acontecer. Eu e Lua já voltamos a conversar sem brigar. Se ela souber disso, vamos discutir novamente. Tudo só vai complicar outra vez.

Suspirei passando as mãos pelo rosto. Eu estava outra vez sem saber o que fazer.

***

Bloqueei e desbloqueei a tela do celular tantas vezes que eu nem consegui mais contar. Eu ainda estava sem saber o que responder, porque mandar uma mensagem para Kate estava fora de cogitação. Comecei a pensar no que Lua acharia, caso eu contasse dessas novas mensagens e, provavelmente, conhecendo-a como eu conheço, me mandar resolver isso o mais rápido possível é a primeira coisa que ela me mandaria fazer.

Eu teria que contar isso ao Harry antes de voltarmos ao pub para interrogar novamente o barman. Mas estávamos sem nos falar há alguns dias – na verdade, desde domingo quando fui deixar Anie em casa e o encontrei lá. Acho que Harry dormiu em casa no sábado. Mas não quis perguntar a Lua sobre isso. Ela provavelmente iria ficar irritada e nós só brigaríamos mais ainda.

Era fato que eu havia ficado com ciúmes. E quem não ficaria? Ainda mais na minha condição atual. Até domingo Lua não fazia questão de sequer me escutar. Ela ainda estava com tanta raiva. Agora pelo menos ela já me escuta um pouco e fala mais com comigo a respeito de outros assuntos que não são só sobre nossa filha. Isso me deixa mais aliviado.

Tenho ciúmes da Lua com Harry desde sempre, embora jamais admita. Não é ciúmes porque tenho medo de que em algum momento eles tenham algo há mais do que amizade. O ciúme é justamente da amizade, porque sempre que eu falho, mais ela se fortalece e eu odeio falhar com a Lua. Harry é o melhor amigo de nós dois. E eu penso que as vezes isso, também, não seja nada fácil para ele.

Coloquei o celular sobre o criado-mudo e apaguei a luz do quarto. Eu tinha que tentar dormir e pela manhã, eu pensaria novamente em como eu resolveria esse problema.

Pov Lua

Londres | Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 – Sete horas da manhã.

Me levantei antes das seis e meia e isso é de se surpreender, porque acordei disposta como não acordava há dias – muitos dias por sinal.

Anie tinha pedido para dormir comigo ontem à noite. Ela dormiu abraçada ao travesseiro de Arthur que há meses não tinha mais o cheiro dele. Toda noite ela pergunta quando ele vai voltar para casa e está ficando cada vez mais difícil desconversar.

Eu terminei de prender meus cabelos e por último passei um hidratante labial. Dei dois beijinhos na bochecha de Anie e peguei minha bolsa e minha pasta com alguns documentos relacionados ao trabalho que eu tinha terminado de ler e sair do quarto fechando a porta com cuidado. – Bom dia, Carla.

– Falei quando cheguei na cozinha.
– Olá, Lua. Bom dia! – Ela sorriu ao colocar um copo de suco na bancada em minha frente. – Você sabe se o Arthur vem ver a Anie hoje?
– Ele não me disse nada, Carla. Arthur sempre avisa quando vem. – Respondi tomando um gole de suco. – Você fez bolo?
– De cenoura.
– Anie vai adorar. – Comentei. – Mas eu vou querer uma fatia também.

*
– Temos uma reunião hoje às duas horas. – Ryan falou ao abrir parcialmente a porta da minha sala. Levantei o olhar com o cenho franzido.
– Achei que seria só amanhã. – Falei.
– Adiantei. Vou precisar ir ao Texas amanhã. Parece que a Olívia está com algumas dificuldades no escritório de lá. – Ele me explicou.
– Que tipo de dificuldades? – Indaguei.
– De relação com alguns clientes. Me pergunto se foi uma boa ideia eu ter deixado essa responsabilidade toda nas mãos dela.
– Afonso e Line, também, estão lá. Por que não confiar?
– Sabe, Lua. – Ele começou e fechou a porta. – Eu não estaria com problemas se fosse você.
– Eu não posso me mudar para o Texas, Ryan. Já conversamos sobre isso. – O lembrei.
– Antes o problema era o Arthur. Agora...
– O problema nunca foi o Arthur. – Deixei claro. – Sobre o meu trabalho, sou eu quem tomo as decisões. Mas só pra você relembrar, eu tenho uma filha. E eu jamais mudaria de país e ficaria longe dela.
– Você pode leva-la, querida. Como você ousa pensar que eu impediria? – Ele sorriu de lado.
– Como você – enfatizei – ousa me dar essa sugestão?
– Estou te dando soluções. – Ele se defendeu.
– Onde você quer chegar com esse assunto?
– Lua, não somos crianças. Eu sei que você me entendeu, mas se quer que eu diga, eu digo. Você está separada agora. Seria inteligente mudar de ares.
– Não vejo inteligência nisso quando se tem uma filha pequena. Não tenho nenhuma intenção em afastá-la do pai.
– Trabalhamos com leis. Você as conhece. – Ryan andava de um lado para o outro na sala. – Nada que algumas audiências de guarda compartilhada não resolvessem. Apesar de que mesmo ganhando bem mais que você, Arthur não teria tantas chances por contas das viagens a trabalho e... não é sobre dinheiro, Lua. E sobre ambiente familiar e foi ele quem acabou com isso, não foi? Eu adoraria ganhar essa causa. O que você me diz? As semanas com você e os finais de semana com o pai. – Ele parou na minha frente e pôs as mãos nos bolsos.
– O que eu digo? –  Rir sem vontade. – Não, Ryan. Não para o que você chama de solução. Eu conheço muito bem o que você está sugerindo e é por isso que eu nunca pensei em fazê-lo. – Pontuei.
– Qual é, Lua? Todas as chances são suas! – Ele fez um gesto com as mãos ao tira-las dos bolsos.
– Acho que você não escutou quando eu disse que nunca afastaria a minha filha do pai.
– Ela ou você? Porque o que eu percebo bem, é o que você não quer. – Ele ergueu uma sobrancelha.
– Acho que você veio aqui para falar da reunião e não da minha vida, do meu casamento e nem de como eu lido com os meus assuntos. – Expliquei. –  Você não leva jeito para psicólogo, Ryan. – Salientei e ele soltou uma risada.
– O seu casamento?
– Legalmente. Você conhece as leis, não é mesmo? – Perguntei sarcástica.
– Sim, inclusive... quando os regimes de bens são de separação total.
– Minha filha não é um objeto, Ryan! – Quase gritei. Já tinha começado a me irritar, e olha que acordei de bom humor hoje.
– Não estou falando sobre a criança, Lua. – Ele esclareceu. – É sobre o processo mesmo. Por que estão adiando?
– Desculpa, mas esse assunto não lhe diz respeito. – Falei tentando não perder o restante da minha quase inexistente paciência.
– Não me diga que você, uma mulher tão imponderada, tão dona de si... vai deixar passar uma traição dessa? Ainda mais de um marido quase perfeito. Eu sempre soube que não existia tanta perfeição assim, querida Lua. – Ele falou num tom debochado.
– Não quero voltar a repetir que minhas decisões não são da sua conta! – Exclamei.
– Sou apenas um amigo que quer ajuda-la.
– Você não é meu amigo, Ryan. Não seja ridículo. Eu não quero ofendê-lo.
– Não estou ofendido, querida. Só quero que você entenda que, quanto mais tempo levar... mais complicado ficará. As pessoas, principalmente as mulheres, precisam superar mais rápido os términos. E para isso, precisam tomar algumas decisões.
– Ai, eu não estou ouvindo um absurdo desses! – Exclamei me levantando da cadeira. – O que você e tantas outras pessoas que estão se metendo na minha vida precisam entender, é que o casamento é meu. Esses assuntos serão resolvidos entre eu e o Arthur. Porque no final, importa só a nós dois. O que eu não consigo entender é o porque das pessoas acharem que sabem o que é melhor para mim e tem sempre que ser pior para ele. Sei lidar com términos, Ryan. Por acaso, você me ouve falando nele ou lamentando por ele o tempo todo? São vocês quem falam nele, são vocês que vivem lembrando o que ele fez. Gostaria de saber o porquê.
– É porque parece que você ainda não entendeu o que de fato aconteceu. Sempre foi tão fiel... pena que não ele não foi igualmente como você. Deve ter sido difícil.
– Foi. No começo sempre é. Mas depois a gente aprende a lidar com certos acontecimentos. Não lamento por ter sido tão fiel, como você acabou de colocar. Senti seu sarcasmo, Ryan. Há coisas que são nossas qualidades. E eu não mudaria nenhuma atitude minha. Você acha que eu perdi algo? – Ergui as sobrancelhas.
– A gente sempre pode recuperar, querida Lua. Eu sempre deixei isso bem claro pra você. – Ele sorriu.
– Aqui só você está perdendo o que nunca vai ter. Eu sempre deixei isso bem claro pra você. – Sorri.
– Sou persistente.
– E inconveniente! – Completei. – Não sabe a hora de parar. – Acrescentei.
– Me preocupo com você.
– Pois não precisa. Na realidade, não preciso que ninguém se dê o trabalho de se preocupar comigo. Eu já sou bem grandinha. Sei resolver meus problemas. Sempre soube!
– Tudo bem... uma outra hora a gente conversa.
– Não sobre este mesmo assunto.
– Te vejo às duas. – Ele sorriu outra vez e andou até a porta.

Bufei ao me sentar novamente na cadeira. O que mais faltava para estragar o meu dia? Que saco! Joguei uma caneta de qualquer jeito sobre a mesa. Minutos depois, meu celular começou a tocar – era o Arthur.

Ligação ON

– Alô. – Falei séria. Espero que ele não tenha acordado hoje com vontade de me irritar.
– Bom dia pra você também. Comecei o meu dia bem e você? – Ele estava sendo irônico.
– Eu acabei de me irritar. Então não tenho muitas novidades sobre o meu dia que não está sendo nada bom. Mas creio que você não me ligou só para isso.
– Não mesmo. Eu gostaria de falar com você. É um assunto sério e chato. Não dá para ser tratado por telefone.
– Ultimamente você só está me trazendo assuntos sérios e chatos. – Suspirei. – Não estou surpresa.
– É... não estamos no nosso melhor momento. Desculpa, querida. Pode ter certeza que eu não gostaria de estar te incomodando com isso.
– Eu estou no trabalho, Arthur. São o quê... – Falei olhando para o relógio. – Quase meio dia. Eu tenho uma reunião às duas. – Suspirei. – Dependendo do assunto, eu prefiro que conversemos quando eu sair do trabalho. – Sugeri.
– Então eu posso passar aí às seis?
– Acho melhor conversamos em um outro lugar. Mas você tem umas seis horas para pensar nisso. – Respondi.
– Estou pensando em vários lugares, Lua.
– Um que seja viável. Então, acho que você já pode descartar várias opções.
– Te encontro às seis. – Ele riu e eu encerrei a ligação.

Ligação OF

Faziam alguns dias que tínhamos voltado a conversar sem brigarmos, sem gritarmos. Era quase como se estivéssemos a caminho de uma reconciliação – mas nem tínhamos tocado no assunto. Ainda haviam tantas coisas para serem esclarecidas.

Arrumei minha mesa e desliguei o computador. Resolvi ir almoçar, antes que eu ficasse ainda mais estressada e com fome.

Pov Arthur

Liverpool | Quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016 – Onze horas e cinquenta e cinco minutos.

Acabei de falar com Lua no telefone. Combinamos de nos encontrar mais tarde. Resolvi contar e mostrar a ela as mensagens que Kate voltou a me mandar. Mas ela já está tão irritada que eu nem consigo imaginar o quão ruim será a reação dela.

Peguei o celular para falar com Harry. Precisávamos ir ao pub terminar nossa investigação e eu torcia para que dessa vez conseguíssemos as respostas do que procurávamos.

Ligação ON

– Alô. – Harry atendeu a ligação.
– Liguei para saber se dava para irmos hoje ao pub. – Falei.
– Claro. Que horas? Eu só estava esperando você ligar, dude. – Ele respondeu.
– Vou conversar com a Lua hoje depois que ela sair do trabalho. Pode ser lá pelas oito horas. – Comentei.
– Tudo bem. A gente já se encontra lá?
– Pode ser. Eu te ligo quando estiver indo. Kate voltou a me mandar mensagens. Quero falar com a Lua sobre isso.
– Sabe que ela não vai gostar nadinha disso... – Ele comentou.
– Eu sei. Ela já está irritada e nem é comigo. Não sei se Ryan fez algo. – Presumir. – Porque ontem estávamos bem, se comparado aos outros dias.
– Então conseguiram conversar?
– Sim, um pouco. Entre tapas e beijos...
– Imagino. – Ele riu. – Muito ou pouco beijos?
– Não tanto quanto eu gostaria. Sabe como aquela loira é... gosta de me atiçar e depois me manda parar. – Contei e Harry riu alto.
– Eu sei bem. Então a gente se encontra mais tarde.
– Tá ok. Até mais. – Nos despedimos e eu encerrei a ligação.

Ligação OF

Fui até a cozinha para preparar algo para comer antes de pegar a estrada. O apartamento está um pouco desorganizado e a pia com algumas louças sujas – Lua ficaria extremante irritada se isso fosse em casa. Ela odeia bagunça. Sempre que eu paro e observo a minha falta de organização, eu me lembro dela e de quando ela chamava a minha atenção.

Fiz um macarrão de forno com presunto e queijo e modéstia a parte, ficou uma delícia. Eu não era acostumado a cozinhar, mas isso não quer dizer que eu não saiba. Morando sozinho tive todas as oportunidades – pelo menos Anie não reclamou da minha comida.

Depois do almoço eu fui trocar de roupa. Como eu iria ao pub depois de conversar com a Lua, eu já iria arrumado. Escolhi uma camisa branca, uma jaqueta de couro preta, uma calça comprida jeans preta, um sapatênis preto, um relógio e como eu não estava usando aliança, peguei um anel preto que Lua havia me dado de presente há um tempo – eu achava estiloso e também estava sentido falta de usar aliança. Parece que sempre faltava algo.


Me passei perfume, peguei a minha carteira, as minhas chaves – do carro e do apartamento – e saí. Eu chegaria em Londres por volta das cinco e meia da tarde, já que, eram quase duas horas da tarde.

Londres | Cinco e trinta e cinco da tarde.

Era quinta-feira e o trânsito estava tranquilo. Estacionei em frente ao escritório que Lua trabalha. Eu ainda não tinha avisado que eu já havia chegado. Provavelmente ela me mandaria aguardar no carro. Mas eu resolvi descer e espera-la lá dentro. Não sei se isso a deixará mais irritada.

– Olá, Hanna. – Cruzei os braços sobre o balcão da recepção.
– Boa tarde, Arthur. Veio falar com a Lua? Ela não me avisou que você viria.
– É... eu já imaginava. Eu não disse que esperaria ela aqui. – Sorri sem mostrar os dentes.
– Mas eu posso avisar que você está aqui. Ela acabou de sair de uma reunião.
– Então é melhor eu esperar sem que ela saiba. Lua não me pareceu nada calma quando nos falamos mais cedo. – Expliquei e Hanna riu baixinho.
– Talvez ela esteja menos ainda depois dessa reunião.
– Não duvido. Ainda mais com o chefe que vocês têm. – Comentei.
– Já fizeram as pazes? – Ela indagou e eu sorrir.
– Não, Hanna. Só estamos conversando.
– Isso é bom... não é? – Ela ergueu a sobrancelha.
– Está sendo.
– Não sei como perguntar sobre isso pra ela. Você sabe como a Luh é... – Hanna encolheu os ombros.
– Eu sei, Hanna. – Suspirei.
– Vocês vão sair? Desculpa a intromissão. Mas hoje a Lua veio maravilhosa. Ela vem maravilhosa todos os dias, essa é a verdade. – Hanna disse e eu sorrir só de imaginar o quão sexy ela devia estar. As roupas de inverno a deixavam assim.
– Você está muito curiosa mesmo. – Rir. – Liguei mais cedo, preciso falar com ela. Daí perguntei se podia passar aqui e ela sugeriu que conversássemos em outro lugar. Falei que tinha vários em mente e ela me mandou escolher um viável. Sabe como são as mulheres. – Falei e Hanna riu outra vez.
– E sei como são os homens também. – Ela pontuou.
– Eu conheço aquela mulher. Qualquer brincadeirinha do jeito que ela atendeu àquela ligação, ela com certeza não iria aceitar conversar. – Batuquei o balcão com a ponta dos dedos.
– Eu torço muito para que vocês façam as pazes logo.
– Obrigado, Hanna. Acho que só você, a Mel, o Harry, o John e a nossa filha que torcem por isso. – Fui sincero.
– Sabe, isso é até bom... pelo menos vocês já sabem quem torce contra.
– Isso é verdade. – Sorri sem vontade. – Lua nem liga.
– Eu já imaginava. – Hanna sorriu.
– Eu não acredito. – Sussurrei e Ryan se aproximou de mim.
– Boa noite, Arthur. – Ele disse após olhar o relógio. – Lua te chamou para conversar? Achei que ela não fosse considerar a nossa conversa sobre o divórcio e a guarda. Sabe como é, não é? Separação tem dessas coisas. – Ele disse e eu não fazia ideia do que eles tinham conversado. Na verdade, eu nem fazia ideia de que Lua conversava com esse otário sobre isso.
– Pois é. – Respondi tentando me controlar para não quebrar a cara dele outra vez.
– Não esqueci da nossa última conversa, Aguiar. – Ele falou mais baixo.
– Eu notei. Parece que você quer relembrar. – Comentei e sorrir.
– Dessa vez você não vai cantar vitória. – Ele frisou.
– Achei que você ia dizer que dessa vez ia brigar igual homem e não como um covarde. – Retruquei.
– É que dessa vez temos mais motivos...
– Suas ilusões. É deprimente.
– Sempre tão seguro. – Ele riu.
– Realista. – O corrigi. – Uma coisa que você não consegue ser. – Acrescentei.
– Lua não te contou? Achei que conversassem.
– Lua não tem nada o que me contar. Dessa vez você não vai conseguir o que quer. Na verdade, você nunca consegue mesmo.
– Se você diz...
– O que você quer? Mais uma mentira? Dessa vez vai me dizer que a Lua foi pra cama com você e que eu vou acreditar?
– Não pra cama exatamente... – Ele comentou e eu rir.
– Tá bom. Hoje eu estou calmo... então é melhor você não abusar.
– Qual é, Arthur... você sabe que eu não estou mentindo.
– Eu não sei de nada, Ryan. – Revirei os olhos. – E acho melhor você sair da minha frente. Eu não sei se quero continuar calmo e se a resposta for não, vai ser pior pra você.
– Vai me bater de novo na minha empresa?
– Até na tua casa se eu te encontrasse. Não tenho preferência por lugares.
– Não sabia que era tão agressivo assim.
– Só com pessoas insuportáveis como você.
– Nos beijamos. Ela não te contou?
– Aah, era sobre isso? – Indaguei como se eu não me importasse. Me recordei das conversas que tivemos antes do natal e depois do natal.
– Aah, era sobre isso? –  Ele me imitou. – Então agora você já está aceitando? E ela realmente conta tudo pra você?
– Eu não tenho que aceitar nada e pelo que ela me contou... odiou o fato de você ter deixado aquelas marcas nela. Realmente, você não conhece nada daquela mulher. Eu te daria uma lista, mas eu te odeio tanto, que agora eu só quero quebrar a tua cara. – Confessei.
– Mas ela não reclamou. – Ele deu de ombros.
– Tá bom, e você acha que eu vou acreditar nisso? Desde quando um cara escroto como você vai admitir que é péssimo com mulheres?
– E você é ótimo?
– Tão bom que até quem não tem, diz que tem. – Sorrir convencido. – Acho melhor você ir embora. Quer perder mais o quê? – Perguntei e ele sorriu antes de deixar uma pasta sobre o balcão para Hanna.
– O quê? Lua transou com o Ryan? Arthur! – Hanna exclamou sem acreditar.
– Claro que não. Tudo papo dele. Só dei corda. – Respondi. – Talvez Lua me mate depois.
– Com certeza. – Hanna concordou.
– Eu não acredito que você já está aqui. Fiquei esperando você ligar. – Lua disse assim que saiu do elevador.
– Talvez eu devesse ter ligado mesmo. Teria me poupado o desprazer de ter visto o seu chefe. – Falei.
– Devem ter tido uma conversa adorável. – Lua ironizou.
– Aah, sempre. Ele me contou muitas novidades.
– Imagino. – Lua pontuou ao revirar os olhos.
– Mas agora vamos... – Mudei de assunto.
– Veio assim pensando em me seduzir é? – Lua perguntou mais baixo e eu rir.
– Se fosse pra isso eu teria vindo pelado. Você sabe que é melhor. – Provoquei.
– Aah, claro. – Ela riu.
– Você também está linda. Sei que não é pra me seduzir. Nem precisa. Mas disso você sempre soube. – Confessei.
– Com certeza não foi pra você mesmo. – Lua admitiu. – Foi pra mim.

Lua vestia um vestido branco de manga comprida, com um decote v bem ousado – porém, nada diferente do que ela costumava usar –, provavelmente ela usava um body por baixo, na cor vinho, porque a meia calça era vinho e o sapato e o relógio também. A bolsa era num tom de lilás claro.


– Melhor ainda, querida.
– Vocês estão indo para o centro? – Hanna perguntou rindo.
– Arthur é quem sabe. – Lua respondeu.
– Sim, Hanna. Você quer uma carona?
– Se não for incomodo.
– Vamos esperar você no carro. – Respondi. – Aliás, você tá de carro?
– Não, Arthur. Provavelmente você vai ter que me deixar em casa. É claro que, se isso não for atrapalhar os seus planos para essa noite.
– Meus planos são com você. – Comentei.
– Até parece que você se arrumou todo assim para vir conversar comigo sobre um assunto sério. – Lua disse entrando no carro. No banco da frente, só para ressaltar.
– Eu nunca saí com você desarrumado, querida. – Me sentei no banco do motorista e liguei o carro.
– Arthur, Arthur... você não me engana.
– Por que a minha roupa está te incomodando tanto? Quer que eu tire?
– Eu me lembro muito bem de ter dito que hoje eu não estava tendo um dia bom. Então não é um bom momento para você começar com gracinhas. – Lua me avisou.
– Seria pedir muito pra você pôr o cinto de segurança? – Perguntei e Lua revirou os olhos. – Obrigado. – Agradeci assim que ela colocou e Lua sorriu rapidamente sem mostrar os dentes. – Você mora no centro, Hanna?
– Sim. Comprei um apartamento por lá. – Ela respondeu contente.
– Isso é legal. – Comentei. – É mais movimentado.
– Bastante. Inclusive aos finais de semana. – Ela riu. – Aqueles barzinhos são uma perdição.
– Eu imagino. – Rir junto com Lua.
– No Westminster é bem movimentado também, só que no Bayswater, no condomínio é mais tranquilo. – Lua comentou.
– Vocês moram lá há quanto tempo?
– Desde que nos casamos. – Lua respondeu.
– Agora eu moro em Liverpool. – Comentei e Lua ergueu as sobrancelhas.
– Você tá querendo me irritar, Arthur ou é só impressão minha?
– Impressão sua, querida. Com absoluta certeza. – Afirmei.
– Assim espero. – Lua retrucou e eu acabei rindo baixo. Lua estava demais hoje. Nem sei como dizer a ela que Kate voltou a me mandar mensagens.

*

Depois que deixei Hanna em frente ao apartamento dela, segui com Lua para um restaurante tranquilo.

– Onde você vai me levar? – Lua indagou olhando pela janela.
– No Peninsula está bom pra você?
– Você fez a reserva?
– Mas é claro, loira. – Assegurei. – Ryan me falou algumas coisas hoje. – Comentei.
– Imagino. E o que você quer me perguntar? – Lua me encarou.
– Vamos jantar primeiro. – Sugeri. – Ou provavelmente vamos brigar antes mesmo de chegarmos ao restaurante.
– Nisso você tem razão. – Lua concordou comigo.

Estacionei na rua ao lado do restaurante e sai do carro junto com a Lua.

– Boa noite. Sejam bem-vindos ao Peninsula. – A recepcionista nos disse.
– Boa noite. – Eu e Lua dissemos juntos.
– A reserva está no nome de quem?
– Arthur Aguiar. – Respondi.
– Por favor, me acompanhem. – Ela pediu e nós a seguimos. – Tenham um bom jantar. – Ela nos desejou quando nos entregar os cardápios.
– Obrigada.
– Obrigado.

Depois de alguns minutos fizemos nossos pedidos e esperamos em silêncio que eles chegassem. Lua olhava para todos os lados, menos para mim que estava na frente dela.

– O que você quer tanto conversar, Arthur? Isso tá me deixando ansiosa. – Ela enfim me olhou. – Fingir que está tudo bem não vai nos levar a lugar nenhum.
– Tudo bem. Vamos ao que interessa. – Respirei fundo. – Estamos conseguindo conversar civilizadamente. Eu diria que isso é um grande avanço para nós dois. Eu te disse também, que eu não iria mais te esconder as coisas. Porque foi isso que nos levou a brigarmos e consequentemente, nos separarmos. Éér... ontem depois que deixei Anie e você em casa e voltei para Liverpool, eu não consegui dormir logo. Embora estivesse bastante cansado. Eu fiquei pensando no nosso passeio que foi muito agradável e no quanto eu sentia falta daquilo. Eu não sei se pra você foi tão legal, porque não é algo que você adora fazer, mas enfim... Anie estava muito contente. E eu amo vê-la feliz. E sei que você também e que é por isso você aceita fazer muitas coisas. – Falei e Lua assentiu. – Eu fiquei lembrando do nosso beijo e de quanto eu estava com saudades de sentir você novamente. Aí meu celular começou a apitar e vi que tinham novas mensagens... quando abri, era a Kate. Sim, ela apareceu de novo. Com outro número é lógico, porque aquele eu bloqueei. Eu nem respondi nada. Na verdade, nunca respondi mesmo, você sabe disso. – Contei e tirei o celular do bolso e entreguei para a Lua depois que coloquei a senha e abrir nas mensagens. – Ela mandou mais hoje de manhã e uma ainda agora.

Pov Lua

Arthur me entregou o celular e eu comecei a ler as mensagens. Eu acreditava que estávamos perto de fazer as pazes, mas agora com essa novidade, talvez só voltássemos a brigar ainda mais.

Mensagem ON

Quarta-feira, 24 de fevereiro – 23h50.

“Boa noite, baby.  Eu já estou com saudades de você.”

“Desculpa ter sumido. Mas tive que resolver alguns probleminhas.”

“Quando podemos nos ver novamente?”

“Beijos.”

K.


“Bom dia, meu amor. Por que você não me responde? Vi que visualizou as mensagens de ontem.”

“Estou com saudades, Arthur. E aposto que você também.”

“Nosso último encontro foi fantástico. Pena que quando eu acordei você não estava mais na cama.  Eu não sabia que você era esse tipo de cara que vai embora no dia seguinte.”

“Quero te ver novamente, querido.”

“Me responde! Beijos.”

Quinta-feira, 25 de fevereiro – 18h20.

“Arthur? Por que você está me ignorando?”

“Eu vou ficar irritada. Como você pode não me ligar mais? Você tá vendo todas as mensagens.”

“Sei que você não está mais com aquela sua mulherzinha. Por que continua fingindo que nada aconteceu entre a gente? Você sabe que aconteceu, meu bem.”

“Nem tente fugir. Tenho uma novidade pra você e sei que vai adorar.”

Mensagem OF

– Arthur, você já parou pra pensar que essa mulher pode estar grávida?
– Não fala bobagem, Lua. Já basta o Harry com esse pensamento. – Ele disse irritado.
– Ela sumiu e voltou agora dizendo que tem novidades. É o que eu consigo pensar. – Falei jogando celular dele sobre a mesa e cruzei os braços.
– Kate só está blefando. Quer que eu encontre com ela pra ela armar mais uma pra cima de mim.
– Eu não sei o que te dizer, Arthur. Nem você sabe o que vocês fizeram. – Revirei os olhos.
– Eu não transei com ela, Lua. Eu não engravidei essa mulher. Para de falar isso. Essas coisas atraem, sabia?
– A tá. – Eu rir e ele me parecia desesperado. – Se ela engravidou, é porque vocês transaram. Fim, Arthur. Não é só porque você diz que não!
– Essa mulher sumiu, Lua. S-u-m-i-u. Voltou agora e você me vem com essa? Ela pode estar querendo qualquer coisa. Porque ela é uma louca! Você sabe que eu tenho razão.
– Então quando ela te dizer o que realmente quer, o que é essa novidade, você me avisa. Porque só quem pode resolver isso, é você mesmo. – Falei sincera.
– Eu sei... mas eu queria que você soubesse. Eu estou tentando resolver essa situação, Lua. Eu não me importo com a Kate e nem com a merda da novidade que ela diz que tem. Hoje vou com o Harry naquele pub. Vamos ver se dessa vez o barman diz a verdade. Já temos quase a certeza de quem a ajudou.
– Se você está tentando resolver, eu desejo que consiga, Arthur. Não vou fingir que não quero que isso aconteça. Só não esquece que os problemas só estarão resolvidos quando você os resolver com a Kate. Se voltarmos, eu não quero mais saber dela, Arthur. Não quero mais nem ouvir falar. E nem é pedir muito. É o óbvio. Quem aguenta isso a vida toda, Arthur?
– Lua, eu não sei o que fazer... o que eu tive com ela acabou há dez anos e não durou nem cinco meses. Meu Deus! Se eu soubesse, nem teria começado. – Arthur bebeu quase todo o vinho que estava na taça.
– São erros que não podem mais ser mudados. Você só precisa resolver as consequências. Encontra com ela é resolve. Vê o que ela quer.
– É o quê, Lua? – Arthur perguntou incrédulo.
– Pois é... nunca imaginei que te diria isso pela segunda vez. – Bufei. – Só não precisa transar pra isso. Não é o que eu estou sugerindo.
– Mas você sabe muito bem que é só o que ela quer. – Arthur revirou os olhos. – E isso é tão sem sentido. Sei que eu mando bem e tals... mas ela nem sabe disso.
– Convencido! – Exclamei. – Essa mulher é louca mesmo. Pensa que um relacionamento é só isso.
– Me pergunto se ela passou esses anos sozinha. Não que isso me importe. Mas só pra saber se ninguém foi suficiente pra ela largar do meu pé e saí da minha vida... da nossa vida.
– Ainda bem que todas que você namorou não são iguais a ela.
– Todas! Você fala como se tivessem sido muitas. – Arthur riu.
– E foi. Quem namora três vezes depois dos quinze e antes dos dezoito? Só você mesmo.
– Adolescência, Lua. Se você não aproveitou eu não tenho culpa.
– Aah, e você acha que eu lamento? Pelo menos eu não tenho um ex doente no meu pé há dez anos. Então nem vem se gabar.
– Tá bom. Não vamos discutir por conta das minhas ex.
– O motivo de estarmos aqui é uma delas, se você esqueceu! – Falei óbvia.
– Uma e não todas elas, Lua. Por favor... – Arthur bebeu o restante do vinho e depois olhou para o relógio. – Eu preciso ligar para o Harry. Já são quase sete e meia. Falei que ia encontra-lo às oito.
– Harry não está mais com a Britney. – Comentei. – Você sabia?
– Eu já desconfiava. Não que ele tenha me contado. Você sabe que ele não é muito de falar sobre isso. – Arthur discou o número.
– Eu posso ir com vocês? – Perguntei mais baixo e Arthur me encarou esperando que Harry atendesse a ligação.

Ligação ON

– Fala, dude. Eu já estou quase saindo do restaurante. – Ele avisou.
...
– Tudo bem. – Arthur riu. – Depois eu te conto. – Ele me encarou e eu acabei revirando os olhos automaticamente. Homens!
...
– Tá. Quem chegar primeiro espera. Até mais.

Ligação OF

Arthur guardou o celular e colocou as duas mãos sobre a mesa.

– Então você quer ir? – Me perguntou com um meio sorriso.
– Acho que vai ser divertido. – Respondi.
– Eu não sei se é uma boa ideia. Harry está se achando um detetive profissional. Ele anda assistindo muitos filmes de suspense policial. Não sei se vou dar conta de vocês dois juntos.
– Fala sério, Arthur. – Retruquei incrédula.
– Mas eu estou falando sério.
– Então você vai me deixar em casa antes.
– Já tá mandona assim de novo?
– Foi você quem me trouxe!
– Uhm... vou pedir a conta. Você quer mais alguma coisa? – Me perguntou.
– Não.
– Não precisa ficar zangada. Você sabe que eu vou te levar.
– Não estou zangada. Estou normal.
– Aham... – Ele tentou disfarçar o riso ao chamar o garçom.
– Você só está me irritando hoje. – Reclamei.
– Desculpa. Eu juro que nunca planejo isso. Sai meio que naturalmente. – Ele se defendeu.
– Eu meio que acredito. – Resmunguei.
– Dinheiro ou cartão? – O garçom perguntou.
– Dinheiro. – Arthur respondeu. – Sabe o que esqueci de te falar?
– Se for sobre a Kate, eu nem quero mais escutar. – Falei ao me levantar da cadeira. Arthur fez o mesmo.
– Não. Embora seja sobre uma pessoa tão inconveniente quando ela.
– O que o Ryan fez dessa vez? A gente precisa realmente conversar sobre isso? – Indaguei e Arthur abriu a porta do carro.
– A gente se encontrou hoje quando eu estava lá te esperando.
– Você me disse que ele te falou algumas coisas.
– Pois é... e eu falei outras. Eu devia ter me controlado mais. – Arthur me olhou rapidamente.
– Pelo amor de Deus, Arthur. O que você falou?
– Ele ficou jogando na minha cara o dia daquela confraternização lá de vocês. Que a senhorita aqui – Arthur me olhou novamente – bebeu muito...
– Eu não bebi muito. – Corrigi.
– Imagina. Mas enfim... ficou querendo insinuar que vocês tinham feito alguma coisa.
– Eu já te disse o que aconteceu. – Falei.
– Eu sei, Lua. Só esqueci que Hanna estava lá... e também eu já estava perdendo a paciência. Eu sei que eu não devia ter dado corda pra ele.
– O que você disse?
– Se ele ia me dizer que tinha te levado pra cama e se esperava que eu fosse acreditar. Mas ele disse que não foi na cama e eu falei o quanto ele era péssimo e que me lembro de você ter me contado o quão ruim ele é... que ele tinha te deixado marcas. Eu juro que esqueci que a Hanna estava lá. – Arthur não precisava dizer a palavra desculpa para eu saber que ele estava se desculpando. – Só odeio o modo como ele fala de você. Por que você ainda continua lá?
– É o meu trabalho, Arthur. Eu também odeio o modo como ele acha que pode falar comigo. Mas você sabe que eu não tolero. Não tenho medo só porque ele é meu chefe.
– Você não tem medo de nada, Lua. Essa é a verdade. Coloca o cinto ou não vai parar de apitar. – Ele me avisou.
– Mas eu já te disse tudo o que aconteceu naquela noite. Se ele pensa que aquilo foi muito, eu já não tenho culpa. Eu sei o que aconteceu mesmo! Estou com a minha consciência tranquila. – Afirmei. – E se você quiser acreditar nele, aí o problema já é seu também.
– Não acreditei nele. Só tinha prometido que não falaria disso com ninguém. É isso que eu estou te falando.
– As pessoas já falam sem saber de nada, Arthur. Eu nunca costumei ligar para o que pensam. Nós dois temos problemas mais graves do que os beijos que o Ryan pensa que aconteceu entre nós. Aliás, o conceito de beijo dele é bem estranho.
– Vocês andam conversando sobre outros assuntos?
– Como assim?
– Te disse que ele me contou várias coisas. – Arthur me lembrou.
– Por que você não chega logo aonde quer chegar? Odeio quando fica rodeando. – Suspirei.
– Por que você está falando com ele sobre divórcio e a guarda da nossa filha? Combinamos não mexer com isso. Achei que nem pensasse.
– Não foi ele que te disse? Ele tá mais interessado nisso do que eu. Por que você acha que eu estava irritada hoje de manhã? Parece que todo mundo quer resolver a minha vida. – Desabafei. – Ele veio com esse assunto porque quer que eu vá para o Texas. Eu já disse que não tem a menor chance de eu aceitar essa proposta. Arthur, você sabe eu não vou sair daqui. Que eu não vou separar a minha filha de você. Que não vamos brigar na justiça por nada. A gente nem devia tá falando sobre isso.
– Não sou idiota, Lua. Eu sei porque ele quer isso.
– Exatamente. Ele quer. Você vai se estressar pelas coisas que ele quer? – Ergui as sobrancelhas.
– Eu posso me estressar também. Não é só você.
– Iih... vai começar.
– Eu não vou começar nada. – Ele pontuou. – Não quero brigar com você.
– Não é o que tá parecendo. – Retruquei.
– Nós dois sabemos que você ganha se entrar na justiça. E você sabe mais do que eu, Lua.
– Eu sei muito bem, Arthur. Não vou entrar na justiça pra nada. Meu Deus! Não quero o seu dinheiro.
– Não estou falando de dinheiro. Estou falando da nossa filha, Lua.
Nossa. Ouviu o que você disse? Eu jamais faria isso, Arthur. Para de dar ouvidos para as besteiras que o Ryan diz. Por favor...

Ele não disse mais nada e depois de alguns longos minutos em silêncio, eu senti a necessidade de falar algo.

– Vamos falar de outro assunto... – Pedi e Arthur assentiu. – Eu estou me sentindo sozinha, Arthur... queria alguém que me entendesse para conversar sobre as minhas coisas que só você tem paciência para escutar. Harry nem sabe de nada. Ele me irrita quando eu falo algo e ele pergunta o que é. Parece que não anda com mulher. Eu hein... – Reclamei cruzando os braços e Arthur riu.
– Quais coisas que você quer falar Lua? Eu posso escutar, querida. Já disse que você sempre pode me contar qualquer coisa. Independentemente da nossa situação. Somos amigos, não somos?
– Eu estou de tpm, Arthur. Hoje é dia vinte e cinco. – Bufei. – Se eu falar isso pra qualquer pessoa, ninguém vai me entender. Só você que costumava me escutar... me entender...
– Lua, já são bons anos. Não teria como ser diferente.
– É diferente, Arthur. É por isso que as pessoas não entendem. Eu me estresso com o Harry porque poxa, ele sai com várias garotas e quando a gente fala coisas de mulher, ele nem sabe de nada.
– Lua, Harry não se importa com isso. Ele só sai com as garotas, querida. – Arthur sorriu como se eu fosse uma boba.
– Acho que a mulher que ele mais se importa é com você.
– É por isso que você sente ciúmes. – Provoquei.
– Quem aqui tá falando em ciúmes? – Arthur questionou.
– Aham... – Disfarcei a risada.
– Vai continuar é?
– Eu não estou fazendo nada. – Me defendi. ­– Onde é esse pub mesmo? Já fazem quase meia hora que estamos dentro desse carro.
– Já estamos chegando, loira.
– Vocês se escondem quando saem sozinhos é? Eu ainda nem tinha percebido isso.
– Lá vem você com essas ideias.
– Foi só um comentário. Você se identificou?
– Você sempre soube por onde eu andei, Lua. – Arthur me olhou. – Quer reclamar de quê?
– Só comentei.
– Eu estou aqui te escutando.
– Eu sei. Isso faz parte das coisas que eu queria conversar...
– Pode continuar...
– Eu fui à ginecologista mês passado.
– E aí? – Arthur me olhou rapidamente.
– Está tudo bem. Fiz vários exames. Você sabe que eu sempre vou duas vezes no ano. E também... eu pensei em mudar meu cabelo. Mas ainda não sei o que fazer.
– Mudar o cabelo?
– É, Arthur. Mudar... alisar... pintar... ainda não sei.
– Eu amo te chamar de loira e amo os seus cachos. Por favor, não peça a minha opinião. – Arthur sorriu de lado.
– Eu sei que você não é a pessoa mais indicada para me apoiar nisso. Por que você é tão apegado?
– Porque eu te acho linda desse jeito, Lua. – Arthur admitiu ao parar o carro em frente ao pub.
– Aaah... – Eu murmurei antes de abraça-lo e Arthur sorriu.
– Sabe o que eu mais gostava no nosso relacionamento e acho que ainda temos isso? As nossas conversas sobre qualquer assunto, Lua. Eu amo conversar com você. Gosto de te contar as coisas e ouvir você me contar também. Você tá certa quando diz que é diferente. A gente pode continuar assim...
– Você ainda duvida? – Sorri e Arthur deu um beijo na ponta do meu nariz.
– Não. – Ele sorriu outra vez. – Gosto de ter essa certeza de que isso não vai mudar, querida. – Arthur completou e eu não me segurei. Acabei lhe dando um selinho.
– Eeeeii... – Arthur riu alto. – Você se aproveita!
– Pensa que é só você que pode? – Sorri e Arthur tentou puxar a minha mão, mas eu fui mais rápida e abrir a porta do carro.
– Poooxaa! – Harry exclamou ao ver o Arthur. – Já estava desconfiado mesmo que você não estava sozinho nesse carro. – Ele me segurou pela cintura. – O que você tá fazendo aqui? –  Agora foi a vez dele me olhar.
– Insistiu para vir. – Arthur respondeu por mim.
– Eu não insisti nada! – Exclamei. – Até parece que você achou riu. – Acrescentei.
– Uhm... pelo visto estão se entendendo. – Harry comentou.
– Mas quando já... Kate ressurgiu. Agora me diz o que fazer? Na verdade, se souber, diz para o Arthur.
– Vamos entrar? – Arthur sugeriu. – E vocês poderiam se largar? – Ele ergueu uma das sobrancelhas divertido. Fiz uma careta e segui abraçada com Harry até entramos no pub.
–  Tá lotado hoje. –  Comentei.
–  E ainda é quinta-feira. Agora você imagina amanhã. – Harry contou. – Vou pedir uma bebida.
– Eu quero uma também.
– Um coquetel?
– Pode ser?
– É sério vocês dois? – Arthur perguntou quando se sentou ao meu lado em frente ao balcão.
– Por que? Você não vai beber? – Indaguei.
– Não estou bebendo assim, Lua. Ainda mais aqui. – Ele me respondeu.
– Tem medo de aparecer outra louca. – Harry zoou. – Mas é só um copo, Arthur. Relaxa.
– Assim espero. Não vou cuidar de dois bêbados. – Nos avisou.
– E já reparou que aquele barman não está hoje aqui? Será que ele foi demitido ou só está de folga? – Harry comentou.
– Reparei. Só estão os outros.
– Lua?
– O que foi, Harry. – Falei dando um gole no meu coquetel.
– O que você acha daquele alemão? Pode ser sincera, agora que você está solteira. – Ele riu quando Arthur o encarou.
– Você tem coragem de dizer isso na minha cara? – Arthur questionou.
– Eu disse que se Kate tivesse visto aquele cara, ela teria desistido do Arthur na hora.
– Eu queria ter conhecido na adolescência. Provavelmente eu teria um ex para provocar o Arthur. – Respondi.
– Engraçadinha. – Arthur me repreendeu. – Pelo visto só viemos dar viagem perdida.
– O pior é que nem sabemos o nome dele. Temos que voltar outro dia.
– Posso beber mais um coquetel? – Perguntei.
– Não, Lua. Já chega. Tomamos vinho mais cedo.
– Não era você que não estava bebendo? – Harry indagou.
– Uma taça, Judd.
– Aham... bebeu quase a garrafa toda. Estava todo nervoso. – Contei.
– E o que aconteceu?
– Tem medo de me perder. – Provoquei.
– Se forem continuar, eu vou embora. – Arthur nos avisou todo sério.
– Eu estou dizendo. – Comentei distraidamente.
– Olha que ela só está no coquetel... – Harry sussurrou.
– Eu disse que vocês dois não daria certo.
– Tááá... vamos embora. – Ri enquanto o segurava pelo braço. Harry pagou a conta e nós saímos do pub.
– Você vai dormir em casa, cara? – Harry perguntou divertido.
– Vou, Harry. Não sei porque você tá rindo. – Arthur desligou o alarme do carro.
– Eu não estou rindo. Você tá é louco.
– Aham...
– Tchau, Luh.
– Tchau, meu amor. – Eu o abracei.
– Cuidado com esse cara aí.
– Te sai, Harry!
– Diz que eu mandei um beijo para aquela pequena. Já estou com saudades.
– Ela vai adorar. Aliás, vai fazer a festa quando Arthur chegar em casa. – Comentei.
– Uhm... estou me preparando para ouvir a desculpa dele mais tarde... de que vai dormir lá por causa da filha.
– Me respeita, dude!
– Tem quarto de hospedes desocupado na minha casa, Harry. – Dei dois tapinhas no ombro do Arthur. – Ele sabe.
– Quarto de hospedes! Até parece que vão dormir. – Ele riu.
– Me respeita, seu indecente! – Empurrei Harry pelo ombro, mas não consegui segurar a minha risada. – Mas a hora que eu quiser, eu tenho. Não é isso que você me diz, Aguiar?
– Só esperando você querer, Blanco. – Arthur provocou antes de entrar no carro.
– Depois eu que sou indecente. – Harry riu alto. – Boa noite.
– Boa noite. – Lhe joguei um beijo no ar.

Londres | Nove e trinta e oito da noite.

– Será que Anie ainda está acordada? – Arthur me perguntou assim que estacionou na frente de casa.
– Acho que sim. Ainda mais que eu estou chegando tarde hoje. – Respondi saindo do carro. – Você vai entrar?
– Quero vê-la. – Arthur sorriu de lado e me acompanhou.
– Ela nem vai acreditar. Deve ter esperado você ligar o dia inteiro. – Comentei abrindo a porta.
– Isso se ela não estiver chateada. – Ele acrescentou.
– É uma possibilidade, sendo minha filha. Que bom que você está preparado. – Sorri. – Boa noite, meu anjo.
– MAMÃE! – Anie desceu do sofá correndo. – PAPAI! – Ela gritou outra vez ao ver Arthur entrar em casa e correu para o colo dele.
– Eu já imaginava que seria trocada. – Comentei vagamente.
– Eu já estava com saudades, neném... – Arthur a encheu de beijos.
– O senhor vai dormir aqui hoje? – Perguntou esperançosa.
– Não, filha. Só vim te ver.
– O seu tio Harry lhe mandou um beijo e disse que já está com saudades. – Dei o recado.
– Obligada, mamãe. Eu também tô com saudade do meu titio.
– Você já jantou?
– Jááá, mamãe. Eu comi tudinho!
– Muito bem, meu amor. – Lhe dei um beijo na bochecha. – Vou tomar banho. – Avisei antes de deixar os dois sozinhos na sala.

Pov Arthur

– Como foi o seu dia, meu amor? – Sentei com Anie no sofá.
– Foi legal, papai. O senhor e a minha mamãe já tão bem de novo?
– Estamos conversando, filha. Está melhor que antes. Não sei se você vai entender.
– Eu intendo, papai... o senhor já vai voltar pra casa?
– Não sei, filha. Talvez demore mais um pouco. Vamos falar de outra coisa?
– Tááá... então o senhor fica aqui até eu dormir?
– Fico. O que você tá assistindo?
– É o filme da cindelela!
– De novo? – Ri.
– É. É que eu gosto. A Carol foi fazer o meu gagau.
– Tá... então vamos esperar o seu mingau chegar.
– É que eu já vou dormir também. Eu tô dormindo com a minha mamãe, tá papai?
– Tá. – Lhe dei um beijo na testa.

Continua...

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

N/A: Boa tarde. Espero que gostem do capítulo. Estou ansiosa para saber o que acharam. Então, comentem bastante, tá?

Beijos e até a próxima atualização.

8 comentários:

  1. Aaaaaaah eu amo demais, já estava morrendo de saudades, e estou muito ansiosa pela volta deles... eu amo a relação do Arthur com a Lua, da intimidade deles, sabe?? Esse Arthur é o sonho de todas as mulheres...
    Parabéns pela estória, vc escreve muito bem!!

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  2. Ahhhhh Mily, como eu amo suas atualizações, já estava morrendo de saudades da Lua e do Arthur, amo demais a relação dos dois mesmo estando separados!! Ansiosa pelo desenrolar dessa história que amo demais, espero que a volta deles esteja bem perto de acontecer, pelo menos é o que está dando para entender. Você é show demais Mily, estou muito ansiosa para os próximos capítulos para ver qual é essa "novidade" que a Kate ta querendo contar e estragar a relação da Lua e do Arthur!
    Beijosssss e até a próxima atualização!!!
    Vê se não demora muito para postar (sei que sua vida é muito corrida e você faz o que pode para nos deixar satisfeitas com as postagens).

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  3. Capítulo maravilhoso,e a saudade já estava tão grande das suas att. O Ryan é um insuportável tenta de toda forma infernizar a vida da lua e do Arthur 🤦 o Ryan e a Kate formam um belo par, deveriam se casar e sumirem do mapa. Hanna é uma graça toda curiosa kkkkk. Tão fofo o Arthur com ciúmes do Harry. As conversas da lua com o Arthur são as melhores, só o Arthur consegue entender e decifrar essa mulher ♥️ tadinha da Anie louca para que o Arthur volte logo para casa 😢. E quando o Arthur diz que está morando em Liverpool, e a lua não gosta nada é até engraçado kkkkkk. Tá de parabéns como sempre Milly, muito obrigada pela dedicação ♥️👏👏

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  4. Pra fechar bem o ano, tinha que ter um capítulo novo <3
    Estou amando essa aproximação do Arthur e Lua, quero que eles voltam logo por favor
    Quero mais programas em família dos três bem juntinhos. <3
    Ansiosa para a próxima atualização e que eles descubram a verdade logo.

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  5. Aaaaa como ler essa web e acompanhar essa família ❤️ Que lindo ver Arthur e Lua se aproximando de novo aos poucos, mas pela relação que eles tem já se sabia que isso ir acontecer, pois são melhores amigos além de marido e mulher e isso é o mais lindo na relação dos dois, a cumplicidade deles é gigantesca e não se encontra em qualquer lugar!! Amei o capítulo, uma pena não terem encontrado nada no pub...Anie sempre um amorzinho, ela já está até habituada com a situação, está muito mocinha e crescendo com tudo que vem acontecendo!! Espero que essa família esteja junto novamente em breve ❤️❤️

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  6. Essa cumplicidade dos dois é a coisa mais linda e importante pra um relacionamento. Eles são tão cativantes, apaixonantes e inspiradores que sinto que se ainda demorar 10 anos pra estória acabar, continuarei aqui, cada vez mais apaixonada por eles 😍😍
    Cada dia mais ansiosa pela volta deles, espero que a Lua possa ajudar nessa descoberta e a Anie cada dia mais fofa 😍😍

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  7. Super anciosa pelo desenrolar da história, de como o Arthur está tentando resolver as coisas entre ele e a Lua. Gostei muito da cena deles no Pub, juntamente com o Harry. Anciosa pelos próximos capítulos.

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  8. Feliz demais com esse capitulo novo. A cumplicidade da Lua e o Arthur provando que na há armação que faça ela acabar. Não vejo a hora de ver eles juntinhos novamente. Harry e hana vejo futuro, seria o máximo esses maluquinhos juntos. A Anie tão mocinha,quero ver o três juntinhos novamemte. Quem sabe até quatro!

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