Litte Anie - Cap. 85 | 1ª Parte

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Little Anie – 1ª Parte

Quanto mais vamos apanhar?
Quantas noites temos que ficar acordados?
Quantas lágrimas vamos chorar?
Podemos desejar até o poço secar?
Mas o que acontece quando o céu acima
Corre de cada estrela cadente?
E se toda boa intenção só significasse
Ir tão longe
Só amor, só o amor pode nos salvar agora
Evite que o mundo queime, desça, desça
Para o chão, chão, terra
Só amor, pode olhar dentro de um coração humano
E nos veja por quem somos
E quem nós somos seria o suficiente
– Jordan Smith | Only Love

Pov Arthur

Manchester | Quarta-feira, 30 de dezembro de 2015 – Sete horas da noite.

Chegamos em Manchester antes do meio dia. Vim o voo todo relembrando do meu beijo com a Lua. Não fui até lá com essa intenção. A verdade era que eu estava tão desapontado, que nem consegui pensar na possibilidade de uma reaproximação com ela. Talvez no fundo, não que eu quisesse reconhecer, eu soubesse que Lua não tinha feito nada daquilo que me disse há alguns dias. Ela estava tão segura de tudo que estava me dizendo, que ficou difícil de acreditar no contrário.

Hoje me senti aliviado depois da nossa conversa. Já estava tentando aceitar que talvez a gente não tivesse mais volta. Eu não conseguiria passar por cima de tudo isso, assim como eu sei que Lua também não – é só ver como estamos agora.

– PAPAI! – Anie gritou ao abrir a porta do quarto.
– Oi, meu anjo.
– Olha o que a minha vovó me deu de plesente! – Ela me mostrou contente uma caixinha.
– E o que é? – Indaguei curioso e Anie se aproximou de mim e me entregou a caixinha.
– É um lelógio. O meu plimeilo lelógio, papai. E é de bailalina dento. Olha, papai. – Anie apontou para o relógio. – Eu adolei, papai. – Disse encantada. – Maas... eu ainda não sei ver que holas que é, papai. O senhor me ajuda? – Perguntou me encarando.
– É claro que eu ajudo, filha. Mas você é tão neném, meu amor. – Sorrir. – Terá que ter paciência para aprender as horas, certo?
– Certo, papai. Eu sou paciente mesmo. – A pequena assegurou me fazendo rir.
– Aah, claro. E você pensa que eu não te conheço? – Indaguei e Anie escondeu o rosto com as mãozinhas.
– O senhor gostou do meu plesente?
– É lindo, pequena. – Respondi. Só a minha mãe mesmo para dar um relógio para a neta, sendo que a menina nem sabe de hora ainda. Porém, Anie está muito empolgada com o presente. Ela adora ganhar coisas que Lua também usa. Acho que isso a faz se sentir ‘gente grande’.
– É lindo mesmo. E cabe no meu blaço. Eu já coloquei. Quer ver?
– Claro. Deixa eu te ajudar. – Falei e Anie estendeu o braço para que eu colocasse o relógio.
– Quando é que a gente vai voltar pla casa, papai? – Perguntou. Estava demorando para que isso acontecesse.
– Chegamos hoje, filha. Você já quer ir embora?
– É que eu tô com saudade da minha mamãe. Selá que ela tá com saudade de mim?
– É claro que está, meu amor. Você quer ligar pra ela?
– Eu quelo, papai. O senhor liga?
– Ligo. Vem, senta aqui na cama. – Falei.
– Eu vou dizer que eu ganhei um plesente da minha vovó. – Falou contente.
– Sua mãe vai ficar curiosa pra ver.
– Eu vou contar pra ela. – Anie afirmou.
           
Ligação ON

– Alô? – Lua atendeu a ligação.
– Anie quer falar com você. Já está com saudades... – Contei e Lua riu baixo. Entreguei o celular para a nossa filha.
– Mamãe!!! – Anie exclamou. – Eu tô com saudade, mamãe... – Ela fez um biquinho como se a Lua pudesse ver. – A senhola tá com saudade também?
– Estou morrendo de saudades, meu amor. Como você está, filha?
– Eu tô com saudade. – A pequena pontuou novamente.
– Aaah, Anie... que vontade de te abraçar, meu bebê.
– Eu também, mamãe. O meu papai tá cuidando bem de mim, mamãe. – Anie falou e eu sorrir.
– Eu sei, meu anjo. Eu sei.
– E eu ganhei um plesente da minha vovó! – Contou empolgada. – É bem legal, mamãe!
– Foi? Aaah, eu quero saber o que é, Anie.
– Siiim, mamãe. É um lelógio bem lindo!
– Um o quê?
– Um lelógio, mamãe.
– Um relógio, Lua. – Esclareci.
– Aah, entendi. – Ela riu. – E como ele é, pequena?
– É blanco e tem uma bailalina dento, mamãe. Mas sabe, mamãe...
– Não, filha... o que aconteceu?
– É que eu ainda não sei de hola nenhuma, mamãe.
– Filha, você é bebê ainda. – Lua falou.
– Mas o meu papai disse que vai me insinar. Só que tem que ter paciência...
– Uma coisa que a senhorita não tem. – Lua pontuou.
– E nem você. Ela herdou isso de você. – Falei me intrometendo e Lua riu alto.
– Eu quero ver, meu amor.
– Eu vou pedir plo meu papai enviar uma foto tá?
– Tá, meu neném.
– Agola quando é que eu vou ver a senhola?
– Daqui há alguns dias, filha. – Lua assegurou. – Também quero muito ver você.
– Quantos dias, mamãe?
– Uuuhm... quatro dias, filha. Segunda-feira a gente se ver, amor.
– Mas eu quelia ver logo, mamãe.
– Já conversamos sobre isso, Anie. Lembra que você ficou comigo alguns dias lá na casa dos meus pais?
– Sim...
– Então, filha, agora você tem que ficar aí na casa da sua outra avó com o seu pai. – Lua explicou.
– Eu intendo só um pouco. – Anie respondeu e me olhou.
– Eu sei que entende, pequena. Mas pode pedir para o seu pai ligar sempre que você sentir saudades, tudo bem?
– Tudo bem. Todo dia então, mamãe.
– Todo dia, meu amor. – Eu podia apostar que Lua sorriu ao finalizar a resposta.
– A senhola tá em casa então?
– Estou, filha.
– Sozinha?
– Sim, Anie. Com quem mais eu estaria?
– Com a tia Soph, a tia Mel...
– Não. Sua tia Mel está viajando também. Você esqueceu?
– Eu lembei agola.
– Pois é... e a Sophia está em Bibury desde o natal.
– E o tio Harry?
– Está viajando também, filha.
– Por que a senhola não quis viajar? Sabe, mamãe... a senhola podia vir pla cá. Eu ia adolar!
– Eu estou bem aqui, filha. Você precisa ficar um pouco com o seu pai agora, certo?
– Tááá... eu sei, mamãe. – Anie assegurou alguma coisa que eu não conseguia mais ouvir tão bem quanto antes.
– Eu vou desligar, tá bom?
– Tá bom. Um beijo, mamãe. Eu te amo.
– Eu te amo, filha. Beijos...

Ligação OF

– Plonto. Agola eu já falei com a minha mamãe. – Anie me entregou o celular. – Ela também disse que tá com saudades.
– É claro que está. Eu disse isso pra você. – Afirmei e guardei o celular no bolso. – Vamos levantar e tomar banho? Você precisa jantar e depois dormir. Não está com sono? Indaguei e a pequena negou, tal gesto me fez rir. – Sua sapeca! – Exclamei tentando lhe fazer cócegas. – Vem, vamos... vou pegar sua toalha. – Avisei e Anie permaneceu encolhida na cama. – Anie. – Chamei quando olhei por cima do ombro e ela ainda estava na cama.
– Eu já vou, papai. – Respondeu impaciente.
– Eu não quero brigar com você. – Falei.
– Nem eu. – Anie levantou-se da cama.
– Então obedeça quando eu falar com você.
– Eu obedeço. – Ela retrucou.
– Mas não é o que está parecendo. – Pontuei.

Manchester | Sexta-feira, 1 de janeiro de 2016 – Uma hora da madrugada.

Fazem três horas que Anie está dormindo ao meu lado – e esse é o tempo em que ela não pediu para ver a mãe. Foi complicado dizer que, logo, logo ela voltaria para casa. E no fundo, talvez eu tenha me arrependido de ter trago ela para essa viagem. Tudo está sendo tão difícil para ela. Se adaptar a essa nova realidade não parece algo que esteja perto de acontecer. Eu não perco a paciência com Anie tão rápido e, hoje eu agradeci por isso. Porque não foi nada fácil.

Pensei em ligar para Lua muitas vezes durante essa noite, mas consegui evitar todas elas. Anie falou com a mãe mais cedo e, pelo que entendi, parece que Sophia, Micael, Emma e John estavam em casa com Lua. Isso é muito bom, eu não gostaria de saber que ela ficou sozinha em casa. Eu ainda me preocupo tanto. Minha mãe diz que não consegue entender porque as coisas tomaram esse rumo e parece que ela não acredita em mim tanto quanto a Lua. Não sei com quem eu estou mais decepcionado.

Acho que eu só estou confirmando o meu pensamento de que eu não deveria ter vindo para cá. Minha mãe fez um jantar para alguns amigos. Fiquei na sala até Anie insistir para vir para o quarto. Ela estava muito enjoada e para completar, Isadora tinha vindo também, junto com a mãe, não que eu tenha algo contra a Célia, que é uma pessoa que eu considero bastante. Mas Isadora só me estressa e hoje não foi nada diferente.

Anie não custou a dormir. Eu agradeci por isso. Não estava disposto a lidar mais com as reclamações dela. Eu ainda podia ouvir a música, embora baixa, que vinha da sala. Provavelmente as pessoas ainda não tinham ido embora. Anie ressonava baixinho e eu passei as pontas dos dedos pelos seus cabelos. Ela não se mexeu. Se estivéssemos os três juntos, provavelmente, não estaríamos dormindo e muito menos, tristes. O que Lua estava fazendo agora? Será que tinha pensado em ligar também? Pouco provável. Me levantei da cama e caminhei até a janela. O céu estava bem estrelado. Por que tudo isso tinha que acontecer, justamente, com nós dois?

Pov Lua

– O que você acha de mais uma taça de champanhe? – Sophia me ofereceu. Ela tinha me arrastado para a casa dela; meus pais vieram também. Mas eu preferia mil vezes estar em casa, sem ninguém insistindo para que eu bebesse.
– Eu já disse que não quero, Soph. Não me obrigue a ser mal-educada. – Respondi.

Algumas amigas de trabalho dela estão aqui também. Minha mãe fez um jantar simples. Eu pensei que eles passariam a virada de ano em Bibury. Me surpreendi quando apareceram na porta de casa e me obrigaram a vir para cá. Falei com Anie mais cedo e, novamente, ela disse que queria vir embora. Eu imagino que não deve estar sendo nada fácil para o Arthur ouvir esse pedido o tempo inteiro. Fiquei pensando em ligar, mas não estava segura o bastante para executar esta ideia.

– É só uma taça, Lua. Você mal jantou. – Minha irmã revirou os olhos.
– E agora você quer que eu fique bêbada?
– Você merece se divertir também. Ou você acha que o Arthur está pensando em você? – Ela me perguntou sarcástica.
– Ninguém está falando dele aqui. – Retruquei.
– E nem precisa. Ainda acho que foi uma péssima ideia você ter permitido que ele viajasse com a Anie. Já pensou se ele some com ela?
– Cara, para, Sophia. Você está louca. Que tipo de pai você acha que o Arthur é? Me poupe! – Respondi impaciente.
– A gente pensava que conhecia ele. – Ela argumentou.
– Chega. Você não vai me ensinar a como cuidar da minha filha. Por favor. Se você continuar, eu vou embora. – Avisei.
– Você anda muito estressada!
– E você anda se metendo muito aonde não é chamada. – Resmunguei.
– Eu me preocupo com a minha sobrinha, tá?
– Ela é minha filha. Você acha que eu não me preocupo? – Retruquei.
– Você não está preocupada nem consigo mesma. – Ela respondeu.
– Não me digam que já estão discutindo novamente? – Meu pai indagou.
– Sophia que pensa que eu preciso da opinião dela para decidir como agir com a minha filha. – Respondi chateada.
– Sophia, nós já conversamos, filha. – Meu pai falou cansado.
– É que o senhor também acredita no Arthur! Por isso fica contra mim.
– Não estou contra você, mas é um assunto de casal. E não é com você. – Meu pai pontou.
– Até porque o Micael não seria tão escroto assim. – Ela debochou.
– Eu também pensei que Arthur nunca seria. – Comentei e me levantei. – Falei que não era uma boa ideia vir. Você pensa mais no que o Arthur fez comigo, do que eu. Fala mais nele, do que eu. – Fiz um gesto com as mãos. – Parece que tem algo errado. – Concluí.
– Você finge, Lua. Aposto que está quase aceitando as desculpas dele. Eu não acredito que você vai ser fraca a esse ponto.
– Você não sabe de nada. Fica falando bobagens. – Quase gritei.
– Parem as duas! Ou querem fazer cena na frente das pessoas?
– Você não negou! – Sophia me acusou desconfiada, ignorando totalmente o que o nosso pai pediu.
– Eu não te devo nenhum tipo de explicação! – Deixei claro e Sophia riu sem acreditar.
– Não me diz que você já caiu, Lua? Pelo amor de Deus! Agora sou eu quem não te conheço.
– Você tá louca, Sophia. – Respondi e peguei minha bolsa.  – Ninguém precisa vir atrás de mim. Eu sei o caminho da minha casa. – Avisei.

Ninguém tem nenhum direito de me acusar de nada. Eu posso fazer o que eu quiser e as pessoas não tem nada a ver com isso. Sophia está passando de todos os limites e não é porque ela é a minha irmã, que eu vou aceitar tudo o que ela diz a respeito das minhas atitudes ou das faltas delas. Depois que ela engravidou, ficou muito chata e opiniosa. Eu não tenho a menor paciência para pessoas com esse tipo de perfil.

Saí da casa ainda ouvindo meu pai mandar que eu esperasse, mas acabei pegando um táxi. Era madrugada, talvez eu tivesse me equivocado, mas eu não conseguia mais ficar ali sendo acuada pela minha própria irmã.

Cheguei em casa por volta das duas horas da madrugada. A casa estava escura e eu senti tanta falta da minha família. Eu não queria que estivéssemos separados. Eu sei que está sendo tudo tão difícil para a minha filha. Eu não queria que ela estivesse sofrendo tanto e tendo que passar um tempo longe de mim ou do Arthur. Sei que as escolhas são nossas e entendo que no momento, é o melhor que podemos fazer. Soltei um longo suspiro ao subir a escada.

Pov Arthur

Manchester – Quatro horas da madrugada.

Me acordei com Anie choramingando do meu lado. Acendi o abajur que fica ao lado da cama e me virei para vê-la.

– O que foi, filha?
– Quelo ir pla casa, papai. – Pediu novamente. – Quelo ver minha mamãe.
– Já falamos sobre isso, Anie. – Falei calmamente.
– Por favor, papai...
– Anie, espera ao menos amanhecer. Não tem como irmos agora, filha. – Expliquei desistindo de repetir que passaríamos só mais dois dias em Manchester.
– É que eu tô com saudade da minha mamãe, papai... de verdade... – Ela assegurou.
– Eu sei, filha. Quando amanhecer eu te levo pra casa. Tudo bem? Eu prometo.
– Tudo bem, papai. – Anie respondeu se aproximando de mim e me abraçou.
– Você pode voltar a dormir. É melhor. – Falei lhe dando um beijo na testa.
– Ainda falta muito pla amanhecer?
– Não. Daqui a pouco amanhece. – Afirmei e comecei a acariciar seus cabelos, até que Anie dormiu novamente.

Seria melhor para todos nós, que eu levasse Anie de volta para casa. Eu não aguento mais ouvi-la pedir para ir embora. Sempre soube que Lua precisaria estar junto nas viagens. Anie nunca tinha viajado sem a mãe. Me deixa desapontado o fato de não estar conseguindo fazer com que ela fique tranquila comigo.

*

Acordei e logo peguei o celular para ver as horas. Os ponteiros marcavam cinco e meia da manhã. Levantei com cuidado da cama e fui até o escritório da minha mãe. Eu precisava ver se tinha algum voo para o horário da manhã, para que eu pudesse comprar as passagens.

Depois de alguns minutos, comprei duas passagens para às nove horas da manhã. Anie ainda não tinha acordado e nem a minha mãe.

Manchester – Oito horas da manhã.

– Você disse que ficariam mais alguns dias, meu filho. – Minha mãe questionou.
– Eu sei, mãe. Mas a Anie está pedindo para ir embora desde que chegamos aqui. Nem a Lua conseguiu convencê-la a ficar até segunda-feira. – Expliquei. – É difícil ficar ouvindo ela me pedir para voltar para casa o tempo todo. Ligo para Lua umas quatro vezes ao dia.
– Ela já sabe que vocês estão voltando? – Minha mãe indagou.
– Não. Mas ela vai gostar da surpresa. – Assegurei. – Digo, de ver a nossa filha. – Esclareci.
– Filho...
– Por favor, mãe. Já basta a Lua que não acredita em mim. A senhora não precisa dizer nada. – Assegurei.
– Arthur, eu fiquei sabendo de tudo. Chegou até aqui... ou você acha que não?
– A senhora não soube de tudo. Só leu o que aquela desocupada quis dizer. – Falei irritado. – Não foi uma boa ideia ter vindo pra cá.
– Aqui é a sua casa. – Minha mãe pontuou.
– Minha casa não é aqui. – Retruquei. – Nunca foi. – Completei. – Anie? – Chamei a pequena que veio correndo puxando uma mala de rodinhas.
– Eu fui buscar a minha mala da flozen. – Ela respondeu. – A gente já vai?
– Sim. Se despeça da sua avó. – Pedi. E minha mãe pegou Anie no colo.
– Eu gostaria que você ficasse mais um pouco. – Minha mãe contou e Anie sorriu.
– Eu tô com saudade da minha mamãe, vovó. Quelo ver logo ela. – Anie respondeu e me olhou. – Outo dia eu venho. – Ela disse e voltou a olhar para a minha mãe.
– Tudo bem. Eu vou esperar por você e pela sua mãe também. Diga isso a ela, tá? – Minha mãe pediu.
– Eu digo. – Anie assegurou e ganhou vários beijos da avó.
– Te amo, tá?
– Tá. Te amo, vovó.

Me despedi da minha mãe com um abraço rápido e um beijo no rosto. Falei que não era necessário que ela nos levasse até o aeroporto, porque eu já tinha chamado um táxi.

Anie voltou a sorrir quando entramos no avião e sentamos nas poltronas.

– Tô ansiosa pla ver a minha mamãe. E o senhor?
– Eu o quê? – Perguntei alheio.
– Ansioso, papai.
– Ansioso pra que, filha?
– Pla chegar em casa, papai e ver a minha mamãe. – Explicou inquieta por eu não estar prestando atenção ao que ela falava.
– É você quem vai ficar em casa, filha. Eu não vou ficar lá. – Respondi.
– Mas já passou um monte de dia. Minha mamãe ainda tá com raiva?
– Não mudou nada, filha. – Contei. – E não vou falar sobre isso com você.
– O senhor tá chateado comigo, papai?
– Por que eu estaria chateado com você, filha? – A olhei.
– Porque a gente veio embola. – Anie esclareceu.
– Eu não estou chateado com você, meu amor. – Sorrir depositando um beijo em sua cabeça.
– Desculpa, papai. – Anie pediu triste.
– Está tudo bem, filha. Eu já te falei, meu neném... – Assegurei novamente. – Não se preocupe, tá bom?
– Eu não quelia que o senhor ficasse tiste comigo, papai. – Anie encostou a cabeça em meu peito.
– Não estou triste, filha. – Puxei ela para o meu colo. – Não se preocupe. Já pedi. – Afirmei. – Logo, logo você vai ver a sua mãe. E pronto, tá bom?

Pov Lua

Londres | Sexta-feira, 1 de janeiro de 2016 – Nove e dez da manhã.

Demorei a pegar no sono depois que me deitei. As palavras de Sophia ainda martelavam na minha cabeça e eu odeio pensar em coisas que me aborrecem. Achei que fosse acordar mais tarde, mas ainda não passou das nove e meia da manhã. Me espreguicei e levantei da cama. A manhã está um pouco fria. Daqui a pouco talvez Arthur ligue para que Anie fale comigo. Estou com muitas saudades daquela pequena.

Fui para o banheiro e joguei água no rosto antes de pegar a escova de dentes e colocar a pasta. Escovei os dentes e depois tomei um banho rápido. Vesti um moletom, uma vez que eu não pretendo sair de casa hoje e depois desci para a cozinha, fiz uma omelete e um pouco de suco de maracujá.

Depois que lavei as louças, sequei e fui para a sala. Liguei a tevê e coloquei em um programa qualquer. Nada prendia a minha atenção e eu estava bastante entediada. Desliguei a televisão e subi para o quarto.

Londres – Dez e meia da manhã.

A campainha tocou três vezes e eu hesitei em descer para abrir a porta. Talvez fosse a Sophia junto com os meus pais e, eu não estava mais nem a fim de discutir com ela e a minha mãe por conta da minha situação com o Arthur. A campainha voltou a tocar e eu, finalmente, decidi me levantar e ir abrir a porta. Tive uma grande surpresa ao ver quem era. Anie pulou em meu colo e eu a apertei em meus braços.

– Meu Deus! – Exclamei ainda confusa. – Mas vocês só não vinham na segunda-feira? – Indaguei e Arthur trouxe a mala da nossa filha.
– Anie quis vir logo. Você sabe... – Ele estava um tanto desanimado e eu acabei me sentindo triste por isso. Anie me encarou.
– Eu estava com um montão de saudades, mamãe. – Ela confessou e eu sorrir lhe enchendo de beijos.
– Eu também estava com muitas saudades. – Afirmei.
– Estão aqui todas as coisas dela e os documentos estão nessa mala da Frozen. – Arthur me entregou a mala assim que coloquei Anie no chão.
– Você não vai entrar? – Perguntei.
– Não. Eu vou pra Liverpool. – Ele explicou.
– Você sabe que não precisava ter vindo, Arthur.
– Anie estava pedindo isso desde que chegamos, Lua e, também, eu não estava me dando bem com a minha mãe. – Ele revirou os olhos. – Na segunda-feira eu venho ver a Anie. Quando as meninas voltam?
– Só na sexta-feira que vem. – Respondi. – Eu estou preocupada porque volto ao trabalho na segunda-feira.
– Eu fico com ela segunda.
– E os shows? Os ensaios?
– Voltam dia nove, no sábado. Então ela pode ir aos ensaios. Não precisa se preocupar com isso. – Arthur me pareceu tranquilo. – Vem aqui, filha. – Arthur a chamou e Anie caminhou até ele. – Eu já vou, querida. Está bem? Na segunda-feira eu venho ficar com você, ok?
– Por que? O senhor pode ficar né, mamãe? – Anie me olhou, mas Arthur não me deixou responder. – O senhor tá chateado sim. – Ela completou.
– Não estou. Já te disse. – Arthur assegurou. – Olha pra mim. – Pediu. – Está tudo bem, meu amor. Eu entendo você, tá? Eu te amo, meu bebê. – Arthur puxou a filha para um abraço.
– Eu também te amo, papai e não quelia que você fosse. – Ela disse triste.

Arthur abraçou a filha mais forte e lhe deu dois beijos; um em cada bochecha, antes de solta-la, entrar no carro e ir embora.

Pov Arthur

Depois que me despedi da Anie e saí de casa, peguei a autoestrada M40 para chegar à rodovia M6 que liga Londres a Liverpool. Eu estou bastante ansioso para saber como ficou a decoração de todo o meu apartamento. Harry ainda está viajando, por esse motivo ele não vai me acompanhar até lá. A designer me entregou o apartamento pronto no último dia trinta, mas como eu estava a caminho de Manchester não deu tempo para eu ir até lá.

Liverpool – Quatro horas depois.

Cheguei ao prédio e entrei com o carro no estacionamento; eu estava com a segunda chave do apartamento, falei com o porteiro antes de entrar no elevador e apertar o número do andar do meu apartamento no painel. Assim que eu abrir a porta do apartamento gostei do que vi. A designer havia feito um belo trabalho, devo reconhecer. Mas eu ainda gostaria que Lua tivesse feito isso, eu amo o bom gosto dela.

A sala estava com tons de bege, branco e marrom; um lustre no teto; leds embutidas no teto; um sofá grande e branco com almofadas brancas e marrons; dois abajures um de cada lado do sofá; uma poltrona e um Puff também na cor branco; uma prateleira suspensa em cima do sofá na cor marrom; uma mesinha de centro, um rack e a televisão suspensa; um grande tapete bege. A sala está bem aconchegante, assim como a cozinha que aqui da sala, dá para ver um pouco. Também em tons marrons, bege e cinza chumbo; tem um grande armário; uma geladeira; um canto alemão; quadros e leds embutidas no teto – eu mesmo havia dado essa sugestão. A sacada tem a área coberta e eu deixei que ela me surpreendesse com a decoração. Adorei o colchão com as almofadas que ela havia posto na sacada.



Voltei para dentro do apartamento e abrir a porta de um dos quartos. Gostei bastante do grande espelho que a designer tinha colocado sobre a cabeceira da cama. Gostei dos tons que ela tinha escolhido para o quarto – e da colcha branca da cama. O segundo quarto também está bem bonito. Todos são amplos, e ela aproveitou bastante os espaços. O banheiro seguia o mesmo tom do restante da casa. O cinza chumbo com o marrom foi uma feliz combinação.

Retornei para o quarto e deitei na cama. Me lembrei que havia deixado as malas na sala e que ainda tinha que voltar à casa do Harry e pegar as roupas que faltavam. Mas eu só faria isso na segunda-feira quando fosse a Londres.

Não tinha muita coisa para se fazer em uma tarde de sexta-feira, primeiro dia do ano, em um apartamento novo, uma cidade nova e sozinho. Eu estava cansado. Foram um pouco mais de uma hora de voo e quase cinco horas dirigindo desde que cheguei em Londres. Era melhor que eu descansasse. Talvez mais tarde eu ligue para falar com a minha filha. Eu já estou com tanta saudade dela.

Pov Lua

Anie passou a tarde brincando e não deixou que eu me afastasse um minuto dela. Arthur ainda não havia ligado e eu nem fazia ideia se ele iria ligar hoje. Ele saiu bem desanimado daqui. O fato de Anie ter pedido para voltar para casa o frustrou. Arthur é um ótimo pai, mas nem isso foi o suficiente para fazer a nossa filhar querer permanecer com ele em Manchester por mais dois dias.

– A senhola sabia que teve uma festa na casa da minha vovó? – Anie deixou as bonecas de lado e me encarou. – Ela bigou com o meu papai. Igual a senhola biga com ele e ele ficou muito chateado. Por que todo mundo agola biga com o meu papai? Ele é tão bom, mamãe...
– Teve uma festa?
– É. E aquela mulher chata tava lá também... eu num gosto dela. – Anie fez uma careta. Essa mulher era a Isadora, sem sombras de dúvida. Eu não queria falar muito sobre esses assuntos com a Anie. – Meu papai mandou ela deixar ele em paz. Por que que ela é chata?
– As pessoas chatas não tem explicação, meu anjo. Só são...
– Minha vovó bigou com o meu papai por causa da senhola. Eu escutei tudo. – Anie me contou.
– Por causa de mim? O que eu fiz que não estou sabendo?
– É mentila que meu papai tem outa namolada. Porque ele só tem uma namolada, e é a senhola, mamãe. Eu aquedito nele. Por que só eu?
– Porque ele é o seu pai. Isso é natural, querida. – Respondi. – E isso não é assunto de criança. A gente já falou sobre escutar conversas de adultos. Isso é tão feio, filha...
– Mas eles que falalam alto. Eu não tive culpa. – Ela se defendeu.

Um mês e quatorze dias depois

Londres | Segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016 – Dois meses e três dias separados.

Faziam algumas semanas que eu e Harry resolvemos voltar ao pub onde a Kate tinha me encontrado e aprontado comigo. Mas eu nem me lembro da cara do barman e Harry lembra menos ainda. Kate havia sumido da minha vida; parece que ela ficou bem satisfeita depois que acabou com tudo. Eu só não entendi o plano. Mas me sinto em paz sabendo que aquela desgraçada não está mais me atormentando. No momento eu só quero encontrar provas que me ajudem a reconquistar a minha mulher – que a cada dia parece mais distante.

– Precisamos de uma foto da Kate. – Harry me avisou e eu o encarei.
– Eu não tenho foto dela, Harry. – Revirei os olhos.
– E aquelas que ela te enviava? – Ele questionou.
– Por favor... você acha que eu guardo aquelas fotos? – Perguntei irônico.
– Sei lá, Arthur. Em algum lugar deve ter uma foto dessa mulher.
– Esse lugar com certeza não é o meu celular. – Retruquei. – Essa mulher acabou com o meu casamento. A última coisa que eu quero ter é uma foto dela. – Completei.
– Rede social, Arthur... algum lugar. – Ele pontuou. – A gente precisa de uma foto para quando encontrar o barman.
– Eu estou com medo desse cara não lembrar dela... ou sei lá... fingir que não lembra. – Suspirei.
– Dinheiro. Basta dar dinheiro que ele vai lembrar até a cor da roupa dela. – Harry deixou claro.
– Você parece experiente. – Comentei.
– Isso dá certo nos filmes. – Ele sorriu empolgado.
– Isso não é um filme, Harry. É a minha vida. É o meu casamento. – Enfatizei.
– Eu sei. Não aguento mais ver você se lamentando com medo que aquela loira encontre um cara legal... ela anda saindo...
– Cala a boca, Harry! Eu sou o único cara que a Lua precisa.
– Ei, assim eu fico com ciúmes. – Ele tentou me irritar.
– Você me entendeu, seu idiota. – Resmunguei.
– Pesquisa aí, Arthur... Kate o que o sobrenome dela? – Harry pegou o celular rindo.
– Você tá falando sério?
– É claro que sim, Arthur. Eu levo à sério os meus casos de investigação.
– Eu vou te dar um murro, isso sim. – O ameacei e Harry riu mais ainda.
– Eu estou tentando te ajudar, seu mal-agradecido. – Ele retrucou divertido.
– Estou começando a achar que não foi uma feliz ideia ter te pedido ajuda.
– A é? E quem mais te ajudaria? – Ele perguntou debochado. Como eu não respondi, ele prosseguiu. – Pois é, só eu. Entendi perfeitamente o silêncio.
– Você nunca foi modesto mesmo. – Resmunguei.
– Olha quem fala... – Harry retrucou outra vez. – Agora para de reclamar da minha ajuda e trata de achar uma foto da Kate. Você realmente não sabe o sobrenome dela? – Ele insistiu sério.
– Harisson. – Respondi.
– Sabia que você estava se fazendo de desentendido.
– Saiu naquela revista ou você esqueceu?
– Aham... – Harry riu da minha cara e eu lhe dei um soco. – Eu esqueci, cara. – Ele se defendeu.
Aham digo eu. – Respondi e ele continuou rindo.
– Com certeza ela tem Instagram. – Ele comentou vagamente e minutos depois comemorou. – Eu disse! – Exclamou me mostrando uma foto.
– Agora a gente só tem que ter a sorte de encontrar o barman. – Falei e Harry assentiu saindo do carro.
– Espero que esteja aberto nesse horário. – Harry ressaltou antes de fechar a portar e entrar no carro dele. Segui com o meu carro para o bar.

Chegamos ao bar e eu estacionei o carro. Harry fez o mesmo.

– Vamos entrar. Já são quase sete horas. – Harry olhou o relógio e eu concordei.
– Vamos mostrar logo a foto se encontrarmos ele?
– Calma, Aguiar. A gente nem lembra do cara. – Harry riu.
– Sem esse papo de que nos filmes é assim e blá blá blá. – Pedi. – Já disse que isso não é um filme. – O relembrei.
– Você quer ou não a minha ajuda? – Ele me perguntou.
– Eu só quero que você não se esqueça disso. – Esclareci.
– Vamos logo entrar. – Ele me chamou.

Adentramos o bar. Não tinham muitas pessoas. Era muito cedo e ainda por cima, segunda-feira.

– Vai ser como procurar uma agulha no palheiro. – Harry observou. Tinham quatro homens no bar e não fazíamos ideia de quem estava de trabalho naquela noite. – Se fosse mulher eu lembraria com mais facilidade. – Ele brincou e eu acabei rindo. – Isso é bom. Porque como ela é mulher, quem ajudou ela nesse plano vai lembrar. – Concluiu.
– Espero que você esteja certo. – Desejei. – Mas eu ainda não sei como vamos fazer isso.
– Calma, Arthur. Deixa comigo. Eu sou o cara, você vai ver só. – Ele garantiu. – Vamos tomar alguma coisa primeiro. – Sugeriu.
– Eu não vou beber, Harry. Você sabe que eu não estou bebendo.
– Um mojito pelo menos.
– Fala sério, Harry. Lua que bebe isso. Odeio hortelã.
– Mas tem com vodca também.
– Não. Eu vou ficar na água, mas você pode beber à vontade. – Respondi.
– Já foi mais divertido sair com você, dude. – Ele reclamou.
– Eu estou tentando recuperar o meu casamento no lugar que eu acabei com ele. Não é uma ideia inteligente beber aqui de novo. – Expliquei.
– Eu não vou te levar pra cama que nem a Kate fez, Arthur. – Harry riu alto. – Pode ficar tranquilo.
– Como se eu estivesse pensado nessa possibilidade. – Resmunguei irônico.
– Quero um copo de vodca, por favor. – Harry pediu ao barman.
– E eu uma água. – Pedi.
– Você vai levar isso a sério, dude?
– Tô falando sério, Harry. – Garanti.
– Tá bom. Quando você se acertar com a Lua, eu vou contar essas histórias para ela. – Ele comentou divertido.
– Idiota. – Falei tentando não rir. O barman trouxe nossas bebidas.
– Obrigado. – Agradecemos juntos.
– Eu acho que não era esse cara. Não me lembro de ter visto um cara quase alemão aqui. – Harry comentou baixo. – Até porque esse cara é mais bonito que você. Kate teria desistido de você na hora e ficado com ele. – Acrescentou.
– Teria sido um belo final. – Concordei e acabamos rindo.
– Por favor. – Harry chamou um segundo barman. – Você poderia me responder uma pergunta?
– Vocês são da polícia? – O cara perguntou curioso.
– Não. – Harry respondeu e riu da pergunta.
– Detetives? – Ele insistiu.
– Claro que não, cara. – Falei.
– Por que? Você costuma fazer algo de errado antes, durante ou depois do trabalho? – Harry indagou atento.
– Não. É que normalmente as pessoas só veem aqui para beber. E as que me chamam para fazer perguntas são mulheres. Eu não sou gay, caras. – Ele deixou claro.
– E nem a gente. – Respondi.
– É sobre mulher que viemos saber mesmo. E você pode nos ajudar. – Harry foi direto ao ponto. O homem franziu o cenho.
– Estivemos aqui há alguns meses. Eu, ele e mais alguns amigos de trabalho. E acabou que aconteceu uma coisa diferente. – Harry tirou o celular do bolso. – Se você nos ajudar...
– Eu pago muito bem. – Enfatizei.
– Sim. O meu amigo está disposto a pagar qualquer valor.
– Qualquer valor é amplo, Harry. Não é bem assim. – Sussurrei para ele que me olhou com uma cara do tipo ‘não me atrapalha’.
– Então... prosseguindo, não nos recordamos do rosto da pessoa que nos atendeu aqui naquela noite. O que dificulta bastante encontrarmos a resposta que buscamos.
– Tem certeza que vocês não são investigadores? – O homem ainda estava bastante desconfiado.
– Temos uma banda, cara. – Harry respondeu impaciente.
– Tudo bem. – Ele respondeu. – Vocês querem saber exatamente o quê?
– Já que você nos disse que muitas mulheres te procuram, essa pode ter te procurado. – Harry entregou o celular para o cara com a foto. – Você lembra dessa?
– Quando vieram aqui?
– Foi em dezembro. – Respondi. – Essa mulher acabou com o meu casamento. – Acrescentei e o homem me olhou.
– Você bebeu demais e foi pra cama com ela? – Ele perguntou. – O que algum de nós – ele apontou para os colegas de trabalho – teria a ver com isso?
– Eu bebi, mas ir pra cama com ela era algo bastante impossível.
– É uma mulher linda, cara. – Ele elogiou a Kate.
– A gente acha que alguém a ajudou a colocar algo na bebida dele. Essa é a verdade. Só queremos saber se alguém aqui a ajudou mesmo. É só isso, sem complicações. Mas queremos alguma prova. – Harry explicou.
– Comecei aqui no fim do ano. Perto do natal. Não me lembro de ter visto essa mulher por aqui e muito menos, de ter falado com ela. Mas o meu amigo ali – ele apontou para um moreno alto – trabalha aqui há mais tempo. Ele pode saber de alguma coisa.
– Obrigado. – Agradecemos e ele se afastou.
– Esses caras não vão querer falar, Harry. – Fiquei de costas para o balcão.
– Relaxa, Arthur. Esse cara não foi nada modesto. – Ele observou o homem outra vez. – Como você acha que a Kate deve ter chegado na pessoa que a ajudou?
– Não faço ideia. – Respondi sincero.
– Você já namorou com ela. Deve conhecer ao menos um pouquinho.
– Ela não parecia louca quando a gente namorou. – Respondi.
– Quem chegou em quem?
– Qual é, Harry? Você quer que eu fique me lembrando de como conheci a mulher que acabou com a minha vida?
– A gente precisa traçar o perfil dela. – Ele me explicou. – Você não está sabendo separar as coisas. – Completou.
– Kate não tem nenhum problema para chegar nos homens. Para ela com certeza não deve ter sido difícil.
– Ela é muito segura? – Ele indagou.
– Demais. – Pontuei.
– Vamos chamar aquele cara. Talvez tenha sido ele. – Harry disse pensativo. – Ei! – Ele chamou o terceiro barman. O cara andou até nós. – Boa noite.
– Boa noite. já escolheram as bebidas? – Ele nos perguntou.
– Sim. Dois uísques. – Harry respondeu e eu o encarei quando o homem se afastou.
– Eu não vou beber. – Falei.
– Eu bebo sem problemas. – Ele deu de ombros.
– Estão aqui. – Ele colocou os dois copos com a bebida na nossa frente. – Mais alguma coisa?
– Uma informação. – Harry respondeu.
– Qual?
– Você conhece ou já bateu um papo com essa mulher aqui? – Harry mostrou a foto para o homem que ficou olhando a foto atento.
– Por que?
– Só queremos saber se você conhece ela. – Respondi.
– Vocês são da polícia?
– Vocês aqui têm alguma coisa contra policiais? Ou fizeram algo de errado? – Harry indagou.
– N-não. É que não costumam me fazer esse tipo de perguntas.
– Você conhece ou não? – Insistir. Algo me dizia que esse homem tinha muita coisa pra falar.
– Algum de vocês é marido dela? – Ele me encarou.
– Não. Você já saiu ou sai com ela? – Harry perguntou desconfiado.
– Essas perguntas estão estranhas. Estou trabalhando. Não posso ficar batendo papo aqui. – Ele disse nervoso.
– Mas a resposta é simples. É um sim ou um não.
– Não. Nunca vi... ela. Era só isso? – Nos perguntou nervoso.
– A princípio. – Harry o encarou. – Não precisa ficar nervoso. – Harry comentou e o cara nos deu as costas. – O que você achou desse?
– Que pode ser ele. – Respondi.
– É ele. – Harry garantiu. – A gente volta aqui outro dia. – Sorriu e eu concordei.

Harry bateu no balcão e deixou vinte libras. Saímos do bar e fomos até o estacionamento. Eu dormiria em Londres essa noite – pela manhã teríamos uma reunião de trabalho.

Londres | Sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016 – Vinte e uma horas e quinze minutos.

Há noites em que precisamos nos afastar
E há lágrimas que vamos chorar, mas elas desaparecerão
É o preço que pagamos quando se trata de amor
E vamos enfrentar o que vier, enfrentar o que vier
Sinta o vento no seu cabelo
Sinta a adrenalina aqui de cima
Estamos andando pelo fio, amor
– Imagine Dragons | Walking The Wire

Saímos da produtora e Harry me convidou para dar uma espairecida. Acho que ele tinha terminado com a Britney há alguns dias. Porém, ele ainda não havia me falado nada sobre o assunto. É sexta-feira e eu tinha falado com a Lua sobre ficar com a nossa filha em Liverpool no fim de semana – será a terceira vez dela lá. Então eu passarei a noite na casa do Harry e de manhã depois de buscar Anie em casa, a gente vai para o apartamento.

O pub que ele escolheu fica no centro de Londres. Como é sexta-feira, está muito lotado. Eu já o avisei que não vou beber. Só vim acompanhá-lo. Acho que ele quer desabafar. Mas Harry não costuma contar sobre seus términos. Eles são frequentes.

Paramos no bar e eu logo me sentei em um dos bancos. Harry ficou em pé.

– Você não vai beber nada mesmo?
– Não. Pode ficar à vontade. – Respondi e olhei para os lados e depois para a pista de dança.
– Eu conheço essa bunda. – Falei sem me importar com a altura da minha voz.
– O quê? Que bunda? Você nem bebeu e já está falando coisa com coisa. – Harry riu.
– É a bunda da Lua.
– Cara que louco! Você está vendo ela em todos os lugares agora? – Ele me questionou.
– É a Lua quem tá dançando ali. – Eu afirmei apontando para a frente.
– Ali onde? – Harry se virou seguindo o meu dedo com o olhar. – Aaah... É ela mesmo. – Ele franziu o cenho surpreso.
– É claro que é. Eu jamais me enganaria. – Afirmei.
– Vish... quando ela ver a gente aqui... – Ele mal foi terminando de falar e Lua nos enxergou. Ela estava rebolando com uma das mãos no cabelo e a outra segurando um copo com bebida. O vestido era preto, decotado e ela não parou de rebolar quando nos viu. – É Arthur... Você está ferrado. – Harry observou. O vestido era curto.


– Nada contra as roupas dela... mas esse vestido... Meu Deus! Se ela abaixar mais... – Comentei enquanto viu ela dançar.
– Ela vai abaixar, Arthur. A gente conhece. – Harry riu da minha visível falta de controle.
– Eu sei. Só para me provocar. – Semicerrei os olhos quando Lua rebolou outra vez indo até o chão. – E ela está conseguindo. – Murmurei e Harry bateu no meu ombro.
– Quer uma água? – Me ofereceu. – Parece até que você desaprendeu a respirar. – Ele me zoou.
– Será que ela está sozinha? –  Perguntei sem esperar uma resposta dele. – Harry? – O chamei. – Você me convidou para vir aqui por que sabia que a Lua estaria? – Questionei.
– Claro que não, Arthur. – Ele assegurou. – Nem falei com ela hoje.
– Ah... ela tá com a Hanna e a Rose. – Falei quando as avistei. Será que todos do trabalho dela estão aqui também? Me perguntei internamente.
– Essa Hanna é muita louca. Meu Deus! – Harry comentou divertido ao vê-la dançar.
– Demais... eu e Lua saímos recentemente com os colegas dela do trabalho. Foi muito legal... especialmente o modo como a noite terminou. – Relembrei e Harry ficou me encarando como se eu estivesse delirando.
– Peguei a referência. – Ele soltou um risinho. – Só não sei se lembrar disso foi bom pra você. – Ele ergueu uma sobrancelha. – Um uísque, por favor. – Virou pedindo ao barman.
– Eu pensei sobre isso agora. – Comentei e Lua caminhou em nossa direção.
– Boa noite, loira. – Harry a cumprimentou e Lua o abraçou.
– Boa noite, querido. – Ela disse após lhe dar um beijo na bochecha. Depois ela virou-se para mim e sorriu sem mostrar os dentes. – Boa noite, Arthur.
– Boa noite, Lua. – Respondi.
– E aí, como você está, loira? – Harry perguntou e tomou um gole de uísque. Eu tinha dito a ele que iria acompanhá-lo, mas que não iria beber.
– Estou bem. – Lua pontuou. – E vocês? Chegaram agora? – Perguntou curiosa.
– Não fazem nem quinze minutos. – Harry respondeu e Lua se inclinou no balcão.
– Quero mais um dry martini, por favor. – Pediu. – Com limão-siciliano. – Acrescentou. O barman apenas assentiu sorridente.
– Vai com calma, loira. – Harry avisou erguendo as sobrancelhas.
– Agora que eu comecei, querido. – Lua piscou um olho. – E então...?
– Então o quê? – Harry franziu os cenhos. Lua estava de costas para mim. O decote nas costas era ousado também. Ela estava muito sexy.
– Como você está? – Ela repetiu.
– Bem, Lua. Muito bem.  – Ele deixou claro. Embora não fosse visível. Só faltava ela se atrever a fazer essa pergunta para mim. – Você está vindo com frequência a esses lugares agora?
– Antes eu já vinha. Algum problema? – Lua questionou.
– Abaixa a guarda... eu hein... – Ele ergueu as mãos na altura do peito.
– Eu estou de boa, baby. – Lua afirmou. – Você que está parecendo um pai e eu não tenho idade para ser sua filha.
– Você está muito afiada hoje. Acho que já bebeu demais. O que você acha, Arthur?
– O que você acha, Arthur? – Lua repetiu a pergunta com um sorrisinho de canto de boca. Sou louco nesse sorriso. Mas ela só quer me provocar.
– Preciso responder mesmo? – Indaguei.
– Nossaaa... você está tão mal-humorado. –  Lua pontuou. – Por que não pede um uísque? Quem sabe assim você muda essa cara de tédio? – Completou.
– Não estou bebendo, Lua. – Esclareci.
– Não entendo porque veio para um bar então... – Ela deu de ombros.
– Só vim acompanhar o Harry. – Expliquei.
– A última vez foi traumática, não é?
– Você lembra? – Retruquei tão debochado quanto ela.
– Não tanto quanto você deve lembrar. – Ela replicou. Lua é boa nisso também.
– Aah, parem. Por favor! – Harry exclamou. – Quando vocês começam com isso não querem mais parar. – Ele revirou os olhos e deu mais um gole no uísque.
– É melhor eu voltar a dançar. Não querem me acompanhar? – Lua nos olhou.
– Você não está falando sério. – Rir sem acreditar.
– Eu não, querida. Você sabe que eu prefiro beber ao invés de passar vergonha dançando. – Harry explicou.
– Vocês estão sendo modestos. – Lua constatou e colocou a taça do dry martini sobre o balcão.

Ela voltou à pista de dança e começou a dançar com as amigas.

– Às vezes eu ainda me surpreendo com algumas atitudes da Lua. – Harry comentou quando pedi uma garrafinha de água.
– Pois pra mim não são nenhuma surpresa. Sempre soube que ela gosta de me provocar e faz isso mais ainda quando está chateada comigo. – Contei. – Pensei que todos do trabalho dela estavam aqui. – Acrescentei.
– O Ryan. – Harry pontuou.
– Também. – Concordei.
– Vocês estão se falando além das coisas relacionadas a Anie?
– São raras as vezes que falamos sobre nós e quando acontecem sempre acabam em brigas. Só conversamos civilizadamente quando são coisas sobre a nossa filha. É por isso que temos que encontrar novamente com esse barman, pra ver se dessa vez ele realmente fala algo de útil.
– Nunca consigo falar com ela sobre você. Já te disse isso.
– Sim. Eu sei. – Assegurei.
– A gente pode voltar lá nesse fim de semana.
– Vou ficar com a Anie em Liverpool no fim de semana. – Expliquei.
– Ora, no domingo quando você trouxer ela. – Ele sugeriu.
– Pode ser. – Considerei a ideia.

Harry pediu mais um copo de uísque e eu continuei na água. A pista de dança estava cada vez mais cheia. Eu não parava de olhar para Lua dançar. A ideia de ver alguém muito próximo dela me irritava e o fato de estarmos separados me fazia lembrar que talvez ela odiasse se eu tivesse uma atitude ciumenta.

– Você vai enlouquecer se ficar só olhando pra lá. Lua não está nem ligando. – Harry chamou a minha atenção.
– Fico incomodado com os caras dançando tão colados nela. – Falei.
– Incomodo? Ou seria ciúmes?
– Você entendeu, Judd. – Retruquei e ele riu.

Novamente Lua deixou a pista de dança e andou até o bar.

– Agora eu quero um... uhm... deixa eu ver. – Ela ficou pensando enquanto o barman aguardava. – Uma margarita. A com licor de laranja. – Decidiu e o barman foi preparar.
– Amanhã a ressaca vai ser boa, hein loira? – Harry provocou.
– Amanhã é sábado e a minha filha estará com o pai dela. Não estou fazendo nada de errado. – Lua justificou.
– Você está dirigindo? – Perguntei preocupado e Lua se virou para me encarar.
– Não. Eu não tenho carro. Você esqueceu?
– E o carro que eu deixei pra você usar?
– Exatamente, o carro é seu. – Lua enfatizou.
– E você não está usando? – Questionei.
– Só às vezes. – Me respondeu.
– Você vai voltar como pra casa?  – Agora foi a vez de Harry perguntar.
– Uhm... de táxi, ora. – Lua respondeu óbvia. – Mas eu estou com as meninas. – Ela apontou para a Hanna e depois para a Rose.
– Vocês estão sozinhas?
– Sim. Noite das garotas. Isso é muito bom. – Ela cheirou a bebida antes de tomar. – Eu já estava com saudades. A Mel foi pra casa da Sophia. Mas eu estou brigando tanto com a minha irmã que decidi vim do trabalho direto para cá.
– Você foi trabalhar com essa roupa? – Perguntei curioso e Lua voltou a me encarar.
– Claro que não. Não que agora você tenha alguma coisa a ver com as roupas que eu uso... não que antes tivesse também. – Ela pouco se importou.
– Foi só uma curiosidade mesmo. – Esclareci e Harry riu.
– Não gostaram da minha roupa? – Lua nos encarou.
– Eu não falei nada sobre a sua roupa. – Harry se defendeu e Lua me olhou esperando por uma resposta.
– Ela só é um pouco curta. Mas eu adorei. – Lua comentou ainda me olhando.
– Um pouco é? – Perguntei e ela sorriu assentindo. E eu tive que admitir que ela realmente estava linda com aquela roupa, embora estivesse me provocando demais. Lua sabia disso! – Você está linda com essa roupa, Lua. – Elogiei.
– Obrigada. Eu realmente estou me sentindo linda e gostosa. – Ela sussurrou e Harry riu alto com a cara que eu fiz.
– Eu sei. – Comentei.
– É você sabe. – Ela afirmou e se voltou para o bar. – Mais uma margarita, por favor.
– Você não acha que já está bom de beber? – Perguntei preocupado e Lua negou.
– Não. E eu nem vim com vocês, então parem de se incomodar. – Ela retrucou. – Vocês dois estão muito chatos hoje. – Disse revirando os olhos.
– Só estamos preocupados com você. – Harry explicou.
– Não precisa. Eu sei me cuidar muito bem. Eu não tenho mais dez anos de idade. Eu tenho vinte e sete anos. – Lua respondeu toda séria.
– Vinte e oito. Você tem vinte e oito anos. – Corrigir ela e Harry riu.
– Você não sabe nem a sua idade. Está vendo como estamos certos? – Harry provocou e Lua mostrou o dedo do meio para ele. – Que feio! – Ele exclamou. – Garotas não fazem isso. – Completou. Lua odeia essa história de que garotas não fazem isso ou aquilo. E Harry sabe disso.
– Você é idiota e eu posso fazer o que eu quiser! – Lua exclamou alto. – De tanto você andar com o Arthur – ela apontou para mim – você está chato igual a ele. – Completou.
– E quando foi que eu disse que você não podia fazer alguma coisa? – Questionei.
– Eu não estou falando sobre isso. Eu estou falando sobre me irritar. – Lua explicou.
– Isso é muito divertido, loira. – Harry admitiu. – Quando você fica irritada, a gente sente vontade de te irritar ainda mais.
– É porque vocês são estúpidos! – Ela retrucou estressada e bebeu quase que de uma vez só a bebida que o barman tinha trazido.
– E você pretende ir embora que horas?
– Eu não sei, Arthur. Eu estou me divertindo tanto que nem estou pensando em ir embora agora. – Lua me respondeu. – Por que você está tão interessado em saber disso?
– Porque estou pensando em te levar pra casa. – Respondi.
– Não precisa se preocupar. Aliás, eu não quero que você me leve a lugar nenhum.
– Você acha que vamos te deixar aqui bêbada desse jeito? – Harry perguntou após tomar um gole de uísque.
– Eu não estou bêbada! Talvez um pouco alterada, mas não é nada demais.
– Harry pode te levar então. – Sugeri.
– Eu já disse que não precisa. Nenhum dos dois. Pronto! Vocês estenderam?
– Você é teimosa demais! Puta que pariu! – Falei sem paciência.
– E vocês insistentes demais. – Lua deu de ombros.
– Ei, Lua! A gente estava te procurando. Olá, rapazes. – Hanna se aproximou muito mais ‘alterada’ que a Lua.
– Olá. – Respondi e Harry apenas assentiu.
– Oi, Arthur. Oi, Harry. – Rose nos cumprimentou.
– Oi. – Respondemos juntos.
– Vocês também resolveram fazer a noite dos rapazes? – Hanna indagou curiosa.
– Não. – Respondi.
– E o que estão fazendo aqui? – Perguntou de cenho franzido.
– Me irritando. – Lua respondeu.
– Vocês vieram atrás da Lua? – Rose perguntou.
– Nem fazíamos ideia de que ela estaria aqui. –  Respondi sincero.
– Eles querem me levar pra casa... como se eu precisasse de dois seguranças.
– Adam já me ligou. – Rose suspirou. – Também... já é quase meia noite.
– Uhm... eu vou ficar mais um pouco. – Lua respondeu.
– Eu vou com a Rose. Embora ninguém tenha me ligado ou vindo atrás de mim para me levar para casa. – Hanna olhou para mim e depois para o Harry. As três acabaram rindo e Harry riu da risada delas enquanto eu apenas balançava a cabeça.
– Boa noite, Luh.
– Boa noite, meninas.
– Tchau, rapazes... – Rose começou.
– Lindos que vieram atrás da minha amiga sortuda e loira gostosa. – Hanna finalizou e Lua deu um tapa no braço da amiga.
– Tchau. – Eu e Harry novamente respondemos juntos. E as duas caminham em direção a saída.
– Eu vou ao banheiro antes de irmos embora. – Harry nos avisou.
– Eu não quero ir embora ainda.
– Você está bêbada, não tem o que querer. – Harry respondeu tentando parecer sério e Lua me olhou.
– Você vai deixar ele falar assim comigo? – Me perguntou. Senti vontade de rir. Acabei negando com um balançar de cabeça. – Diz que ele não pode falar assim comigo... que eu... eu só faço o que eu quero.
– Harry, ela só faz o que ela quer. Certo? – Falei e ele assentiu indo para o banheiro enquanto ria. – Pronto. Agora ele já sabe. – Afirmei.
– Obrigada. – Lua agradeceu e novamente se voltou para o balcão.
– Não acha melhor parar de beber? – Perguntei.
– Não. Eu até que tô gostando.
– Nunca gostei quando você resolvia beber e esquecia de parar. – A lembrei.
– Você não precisa de importar mais. – Lua pegou mais uma bebida.
– Você sabe que não é assim, Lua. – Suspirei. – Para de agir como se fosse uma irresponsável. Você não é assim e nós dois sabemos disso.
– Eu não estou fazendo nada demais. Eu já disse isso! Só estou me divertindo. Eu mereço tá?
– Eu sei. E que bom que você está se divertindo. Mas não precisa beber tanto pra isso.
– Eu só bebi um pouco, Arthur. – Lua explicou impaciente.
– Amanhã você não vai se lembrar de nada. Alias, só a sua dor de cabeça que vai fazer com que você lembre que bebeu além da conta. – Falei e Lua riu.
– Cara, você tá chato demais. – Lua reclamou.
– Para de reclamar. No fundo você sente falta dessa chatice. Nem adianta negar. – Comentei.
– Você que sente a minha falta. – Lua retrucou.
– Eu nunca neguei. – Respondi.
– Sabe, Arthur... a gente podia transar... o que você acha?
– Que se você tivesse sugerindo isso sóbria, a gente ia transar, Lua. – Admitir. – Com certeza a gente ia.
– Não tem nenhum problema.
– Só o fato de você não lembrar amanhã já seria um problema, querida. – Expliquei. – Mas você precisa saber de uma coisa. – Comecei. – Eu estou indo atrás de algumas provas de que a Kate armou toda aquela situação. – Contei e Lua me olhou séria.
– E conseguiu?
– Mais ou menos. Eu e o Harry temos quase certeza de que sabemos quem ajudou ela nisso. – Respondi.
– E quando vocês vão voltar lá novamente?
– No domingo. Mas a pessoa está bastante desconfiada.
– Harry está ajudando você?
– Sim. – Sorri e Lua terminou de beber a bebida que havia pedido.
– Você não vai transar mesmo comigo?
– Lua, por favor. – Coloquei as mãos na cintura dela. – Você não consegue entender que é muito difícil eu dizer não pra você?
– Não parece. – Ela apoiou as mãos nos meus ombros. – É que eu estou com saudades disso. – Lua aproximou os lábios do meu ouvido. – Você não?
– Muitas saudades, Lua. Acho que você nem faz ideia. – Apertei sua cintura. – Me deixa te levar pra casa? Trabalhei o dia todo, Lua. Estou com dor de cabeça. Quero ir embora, mas não quero te deixar sozinha aqui.
– Eu vou ficar bem, Arthur.
– Sozinha aqui não, Lua. – Repeti.
– Uuuhm... – Ela tentou se afastar, mas eu acabei puxando-a para mais perto. – Eu acho que vou te beijar se você continuar me segurando assim.
– Então eu acho que vou ser beijado. – Comentei e Lua sorriu ao segurar o meu rosto.
– A gente não devia fazer isso. – Lua nos lembrou.
– Não estamos fazendo nada e eu não vou me arrepender se acontecer alguma coisa agora.
– Nem eu. Eu não costumo me arrepender das coisas que fazemos.
– Eu sei. Você sempre deixou isso bem claro. – Falei e depositei um beijo em seu pescoço.

Lua segurou o meu rosto com as duas mãos e aproximou os lábios dos meus. Não estávamos fazendo nada de errado. Ainda nos amávamos e ainda somos casados. Puxei ela com uma mão pela cintura para mais perto e a outra mão eu levei até sua nuca e toquei os lábios dela com os meus. O beijo foi calmo e eu não conseguir controlar uma mão boba.

– Vocês não podem ficar alguns minutos sozinhos. – Ouvimos a voz do Harry e Lua mordeu meu lábio inferior antes de se afastar.
– E você poderia ter demorado mais no banheiro. – Lua resmungou.
– Uhm... bem safadinhos. – Ele continuou. – Já podemos comemorar a reconciliação ou foi apenas um remember?
– Ai você tá insuportável hoje, Harry. Que saco! Agora eu quero ir embora! – Lua falou alto.
– Também... depois desse beijo né? Cheio de mãos bobas, quem não ia querer procurar casa. – Ele chamou o barman para pagar a conta e Lua fez o mesmo.
– Deixa que eu pago, Lua. – Falei e tirei cinquenta libras da carteira quando a conta chegou.
– Não precisa, Arthur. – Lua me avisou.
– Não tem problema, Lua. – Apertei levemente uma de suas mãos.
– Já paguei a minha não tão pequena conta. – Harry ressaltou. – Mas a da Lua foi maior que a minha.
– Cala a boca, Harry! – Lua mostrou novamente o dedo do meio e eu acabei puxando-a para a minha frente.
– Vamos, Lua. Ou vocês não vão para de implicar.
– Toda irritadinha. Achei que você ia ficar mais calma depois do beijo.
– Você me irritou ainda mais quando atrapalhou.
– Aaah, desculpa, loira. – Harry riu.

Chegamos ao estacionamento com Lua reclamando porque o Harry seguia irritando ela. Nem adiantava eu falar, porque isso só fazia com ele continuasse implicando com ela.

– Eu vou me lembrar de nunca mais olhar na sua cara.
– Que nada, loira. Amanhã você nem vai lembrar disso. – Ele seguia rindo. – Ei, Arthur? – Me chamou. – Espero você em casa ou você não vai dormir hoje?
– Só vou deixar a Lua em casa, Harry. Você vai fazê-la ficar realmente com raiva da tua cara. – O avisei.
– Tá bom, tá bom... vou esperar por você. – Ele ainda ria. – Tchau, loira.
– Me deixa em paz, Harry. – Lua resmungou entrando no carro. E eu rir junto com o Harry.
– Você vai dormir lá em casa mesmo?
– Vou sim, Harry. – Garanti.

Entrei no carro e Lua estava emburrada no banco do passageiro.

– Coloca o cinto de segurança, Lua. – Pedi e ela bufou. Liguei o carro e comecei a dirigir. Estávamos longe e eu demoraria mais de meia hora para deixar Lua em casa. – Você sabe que o Harry só queria te irritar.
– E ele conseguiu. – Ela resmungou. – Agora eu estou irritada com vocês dois.
– Mas eu nem fiz nada. – Me defendi.
– Exatamente, você não me defendeu. – Lua desabafou e eu tive que me segurar para não rir.
– Desculpa, querida. – Me desculpei e dei uma olhada rápida para o lado, Lua permanecia emburrada.
– Não deveríamos ter nos beijado. – Ela disse baixo.
– Você se arrependeu? E aquele papo de que isso não aconteceria? – Questionei.
– Não me arrependi. Eu gostei, Arthur. Mas estamos separados. – Ela me lembrou.
– Mas ainda nos amamos. Ou eu estou errado?
– Às vezes eu te odeio. – Ela contou. – Sinto tanta raiva. Mas depois eu volto a te amar. Às vezes eu não quero ver a sua cara e depois eu sinto saudades quando você passa alguns dias sem ir ver a nossa filha. E agora eu não sei o que eu estou sentindo... – Ela passou as mãos no rosto.
– Não vou culpar você, Lua. Mas não quero que você me odeie. Porque eu te amo. É difícil escutar essas coisas e não ficar triste. Sei que você nem vai lembrar dessa conversa amanhã e muito menos daquele beijo, Lua. – Falei ao estacionar na frente de casa. – Você quer ajuda?
– Eu não sei onde deixei a chave.
– Deve estar na sua bolsa. – Peguei a bolsa para procurar a chave.

Lua saiu do carro e fechou a porta. Abri a porta do carro e entreguei a bolsa a ela. Caminhamos até a porta de casa eu a abrir. Dei passagem para que Lua entrasse e depois eu a seguir.

– Você vai precisar de ajudar?
– Acho que não. Só se você quiser me banhar. – Ela me olhou por cima do ombro e eu acabei soltando uma risada baixa.
– É tentador demais. Eu já vou embora, Lua. – Avisei.
– Boa noite, Arthur.
– Boa noite. De manhã eu venho buscar a Anie. – Lembrei.
– Eu sei, ela está ansiosa. – Lua comentou.
– Então até amanhã.
– Até. – Lua disse baixo e eu ouvi um suspiro.

Continua....

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

N/A: Boa noite, leitores! Estou feliz por ter conseguido atualizar a fanfic em meio há tantos trabalhos da faculdade. \o/

No capítulo anterior (cap. 84 | 6ª parte) eu escrevi que não saberia quando teria outra atualização. E espero que vocês compreendam essa demora, tudo bem?

Esses dias eu me esforcei demais para que tivesse essa atualização hoje. E estou torcendo para que vocês gostem muito desse capítulo.

Poxa, tadinha da Anie... só estava com saudades da mamãe dela. <3

Esse casal hein? O que dizer do beijo? Sei que esperavam algo a mais né? haha Será que vai demorar muito para isso voltar a acontecer? Huuum...

Será que o Arthur e o Harry vão encontrar a resposta que tanto procuram?

Comentem bastante o que acharam desse capítulo, pleeeeeeeeasee!

O retorno de vocês é fundamental.

Ps¹: Abriram os links com as fotos do apartamento do Arthur em Liverpool?
Ps²: Abriram o link da roupa da Lua? (Ousadíssima, baby!)

Beijos e até a próxima atualização.
COMENTEM. COMENTEM. COMENTEM.

18 comentários:

  1. Que post mais maravilhoso Milly. Aguardando ansiosamente os próximos capítulos para ver o desenrolar dessa história. Estou doida para ver uma reconciliação e,algo me diz que está prestes a acontecer esse feito. Beijos e assim que puder posta mais!!!!

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  2. Como eu fiquei feliz quando vi que tinha capítulo novo <3
    Fiquei com dó do Arthur porque a anie não quis passar um tempo com ele, mas entendo que ela estava com saudades da Lua, anie é um amorzinho!
    E Eu espero que Lua fique sabendo da história da kate logo, meu casal tem que ficar junto logo :(
    E eu fiquei com um pouco de raiva da sophia, ela está sendo muito dura com o Arthur em relação a anie..
    Por favor, faz meu casal ter um reconciliação logo e ter momentos em família junto com a anie <3
    E estou MUITO ansiosa para o próximo capítulo..

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  3. SURTEI quando vi cap. novo!!!!!!
    Eu sempre fico lendo essa história, a melhor de todas.
    Eu amo esse casal e espero ansiosamente pela volta deles. Quero mais momentos entre eles e a pequena anie, vai ser lindo demaissssss
    Assim que puder atualiza por favor, estaremos aqui esperando ansiosamente <3

    - Ale

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  4. Sempre fico sem palavras sobre as atualizaçõe, eesse não seria diferente.
    Parabéns, Milly!
    Eu ameei

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  5. Amei o capítulo novo,eles poderiam ter uma recaída né ��. não demora por favor pra postar novamente.aguardando ansiosamente o próximo capítulo

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  6. Ai q saudade q eu estava!! Arrassou como sempre quero mais recaídas deles!!

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  7. aaaaaa capítulo, como eu fiquei feliz. Como sempre, arrasou né?! Quero que eles fiquem juntos logoooo
    E.atualiza logo quando puder ein?! Bjss

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  8. Milly mais uma vez arrasou,amei demais o capítulo!!!!
    Que dó que eu fiquei da Anie no meio dessa história,ela nunca viu os pais separados e ela nem sabe o que é isso.
    O apartamento do Arthur é lindo,já imaginei eles lá quando estiverem juntos novamente(espero que seja logo kkk).
    Eu amo quando o Harry aparece nos capítulos,é sinal de que vai ser engraçado kkk espero que eles encontrem provas o mais rápido possível!!!
    E esse beijo desse casal maravilhoso que é tão difícil ver separados kk não vejo a hora deles voltarem logo!!! Estava com saudades da Lua provocando o Arthur kkk
    Estou ansiosa para os próximos capítulos *____*
    Caroline

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  9. A cada capítulo eu fico mais apaixonada 😍 tadinha da Anie morrendo de saudades da lua, mais até que foi bom eles voltaram antes do previsto, Arthur não estava muito confortável na casa da mãe. Harry é uma graça bancando o detetive kkkkkkk tomara que ela estejam no caminho certo e que esse homem seja a peça chave para ajudar a provar a inocência do Arthur. Lua estava muito ousada com aquele vestido super sexy, só para fazer o Arthur enlouquecer kkkkkk lua tem tanta esperança de q o Arthur prove q foi tudo uma armação da Kate e assim ela possa perdoa ele. Lua morre de saudades do arthur, beijou ele e ainda pediu para transar, o ruim é que ela só tem coragem de pedir isso a ele bebada, aah se ela fizesse esse pedido sóbria, Arthur iria morrer de felicidade. Obrigadaaaaa Milly por esse capítulo maravilhoso ♥️

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  10. Ah que felicidade vê que tinha atualização, e como sempre um capítulo maravilhoso #ansiosaparaopróximo#atualizalogo

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  11. NÃO ACREDITEI QUANDO VI ESSE CAPITULO!!!!!!!
    EU AMO DEMAIS ESSA WEB, POR FAVOR ATUALIZA ASSIM QUE TIVER UM TEMPINHO

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  12. Aaaah esse capítulo ficou incrível,mais faz uma recaída pro próximo capítulo,a lua deveria corre mais atrás do Arthur sempre e só ele que faz isso.

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  13. Quando sai a atualização nova? Não demora por favor.

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  14. Respostas
    1. Boa noite,
      Gente, eu avisei que, certamente, as atualizações só seriam feitas quando eu entrasse de férias na faculdade (janeiro). Pois em dezembro eu só terei o recesso das festas de fim de ano. Caso eu tivesse um tempinho entre uma disciplina e outra, entre um trabalho e outro, aí sim, eu atualizaria. E foi o que eu fiz nessa atualização; tive um tempo e deu para atualizar. Então, assim eu farei, quando tiver tempo eu vou escrever as poucos e finalizar o capítulo, eu posto para vocês, ok?

      Beijos.

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  15. Milly atualiza pra gente, estou super ansiosa para próximo capítulo

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