Little Anie | 5ª Parte
[...]
posso ter pensado que éramos um
Por que não lutar nesta guerra sem armas?
E eu queria isso, eu queria muito isso
[...]
Vamos ser claros, não confio em ninguém
[...]
Mas você não vai me ver desmoronar
Porque eu tenho um coração de elástico
[...]
Vou ficar acordado à noite
Vamos ser claros, não vou fechar meus
olhos
Sei que posso sobreviver
Andaria no fogo para salvar a minha vida
E eu quero, eu quero tanto a minha vida
Estou fazendo tudo que posso
[...]
É difícil perder um escolhido
Você não me destruiu (você não me
destruiu, não)
Ainda estou lutando pela paz
– Elastic Heart | Sia
Londres | Sábado, 28 de novembro de 2015
– Dezessete horas e treze minutos.
Pov Arthur
Eu,
sinceramente, não faço ideia de como a Kate conseguiu o meu número de celular.
O preservativo eu lembro de ter encontrado no bolso da minha calça quando fui
pegar o dinheiro na carteira para pagar a conta, e não pode ter sido outra
pessoa, se não ela, a ter colocado ele lá na hora que me encontrou na fila do
banheiro. Pensei que desde a última vez em que ela tentou acabar de novo com o
meu casamento, ele tinha desisto. Mas pelo visto, me enganei. Não sei o que a
leva a pensar que eu vou voltar pra ela e deixar a Lua ou que eu queira manter
qualquer outro tipo de relação além da distância. Nunca fiz nada que a levasse
para esse caminho de pensamento, de que eu quero algo novamente com ela. Mas
parece que agora nem a Lua acredita nisso.
Lua
destruiu a tela do meu celular quando o jogou no chão. Tenho que mandar trocar,
porque não presta para nada. Mas isso é o que menos me chateia. Eu devia ter
jogado fora aquele preservativo assim que o encontrei, por isso nem posso
culpar Lua por estar bastante irritada e decepcionada comigo. Só não consigo
aceitar o fato dela deixar que a sua insegurança crie proporções que depois nem
ela consegue controlar. Lua deveria saber que não há motivos para que ela
alimente essa insegurança, esses ciúmes. Porque eu sempre deixei bem claro que,
ela é a mulher que eu amo mais do que tudo. Não consigo
entender porque ela faz questão de esquecer disso.
Vim
para o escritório para tentar esfriar a minha cabeça, não sei se Lua iria para
o quarto e não seria nada bom ficar os dois lá, caso contrário, provavelmente não
cumpriríamos o que havíamos acabado de prometer para a nossa filha. Era sempre
incomodo saber que Anie tinha presenciado nossas discursões. Não era com
frequência que isso acontecia na frente da pequena, não tínhamos discursões
sérias também. Só coisinhas na maioria das vezes, Lua tem mais energia
para isso do que eu. E já conversamos antes sobre não brigarmos na frente da
nossa filha, mas parece que hoje as coisas fugiram um pouco do controle. Eu nem
lembrei de que Anie poderia acordar com a nossa gritaria.
Eu
não sei como fazer para que Kate pare de criar esses problemas. Não estou a fim
de encontrar com ela para conversar a respeito disso e Lua jamais entenderia.
Nunca pensei que fosse passar por algo assim, já que o que eu vivi com Kate nem
durou tanto tempo para que ela quisesse arruinar qualquer relacionamento que eu
viesse a ter posteriormente. Mas o fato é que, desde o início, ela e Lua nunca
se entenderam mesmo. Agora não seria diferente, e eu nem devia esperar por
isso.
Virei
a cadeira e fiquei de frente para a grande janela que há no escritório. Não sei
como resolveremos essa situação, mas tenho quase certeza de que não será nada
simples.
Não
sei se tinham se passado horas ou apenas alguns longos minutos, eu tentava
pensar em algumas coisas, mas elas não me levaram a nenhuma solução. Anie
entrou no escritório com aquela carinha pidona e eu já podia imaginar o que
viria a seguir.
–
Oi, papai...
–
Oi, meu anjo. – Respondi de os olhos cerrados vendo-a se aproximar.
–
O senhor disse que a gente podia sair. – Me lembrou ficando entre minhas pernas
e apoiando-se com os bracinhos na minha coxa.
–
É... eu lembro de ter dito isso mesmo. – Afirmei.
–
Minha mamãe disse que tudo bem, mas mandou eu vim falar com o senhor.
–
Parece que vamos ter que sair então. – Respondi e Anie sorriu sem mostrar os
dentes.
–
Tudo bem então? – Insistiu.
–
Acho que sim.
–
Então o que o senhor tava fazendo aqui sozinho? Minha mamãe assistiu desenho
comigo.
–
Pensando...
–
Em quê?
–
Na vida.
–
Em mim? – Ela sorriu e se soubesse o que era “sorrir convencida”, eu diria que
Anie tinha feito isso nesse momento.
–
Também. – Sorri de volta ao respondê-la.
–
É que o senhor diz que eu sou a sua vida.
–
E você é, e é o meu bebê também. – Afirmei.
–
Não bliga mais com a minha mamãe...
–
Eu achei que estávamos falando sobre você.
–
Mas é que eu amo vocês, papai.
–
E nós também amamos você, filha. E nem discutimos sobre isso. – Deixei claro.
–
Não gosto que vocês bligem!
–
Não gostamos de brigar também, ainda mais quando você vê isso.
–
É feio.
–
É mesmo. – Concordei.
–
Anie? – Lua apareceu na porta do escritório e Anie pendeu a cabeça para lado
para ver a mãe e eu permaneci de costas para a porta.
–
Meu papai disse que vamos sair, mamãe.
–
Então vem comigo, você precisa tomar banho.
–
Precisa mesmo? – Anie perguntou para a mãe, mas depois me olhou.
–
Huum... precisa. – Respondi e a pequena sorriu.
–
Precisa, filha. – Lua respondeu. – Vou te esperar no quarto.
–
Me espela, mamãe. Eu já vou! – Anie avisou e correu.
Fiquei
mais alguns minutos ali e depois subi para o quarto. Lua ainda estava
terminando de arrumar a Anie, então aproveitei para tomar logo o meu banho.
Depois
do banho fui procurar uma roupa para vestir. O clima estava meio frio, então
peguei uma calça de moletom na cor vinho com listras brancas verticais nas
laterais, uma camisa manga comprida na cor branca e vinho. Depois fui procurar
meu relógio preto com detalhes dourados, e em seguida, peguei um sapatênis
também de cor vinho e calcei.
Lua
estava demorando a voltar do quarto da nossa filha, então peguei minha carteira,
a chave do carro e resolvi descer, para espera-las na sala. Anie provavelmente
já estava arrumada.
Quando
cheguei a sala, me lembrei de ir até o escritório para pegar meu celular, se eu
ainda desse sorte, no shopping provavelmente teria alguma loja de assistência
que pudesse trocar a tela nesse restante de dia.
Pov Lua
Terminei
de arrumar Anie e pedi que ela me esperasse lá na sala. Certamente, Arthur já
tinha terminado de se arrumar e já tinha descido para nos esperar na sala.
Minha
cabeça estava cheia e a última coisa que eu queria era ficar perto do Arthur.
Mas a nossa filha não tem nada a ver com isso.
Tomei
um banho rápido e depois de me enxugar, peguei uma calça comprida jeans preta
no closet, e uma blusa azul escuro com alça ombro a ombro. Peguei um relógio
com a pulseira de couro preta, e o mostrador azul escuro com as laterais
dourada. Escolhi uma bolsa de couro preta com dourado, em formato de jaqueta. E
por último, calcei meu tênis azul escuro de veludo, que Arthur havia me dado
recentemente; pelo menos, o bom gosto dele não se pode discutir.
Anie
havia me pedido para vestir uma calça de moletom preta florida que eu tinha
comprado, segundo ela, para combinar com o tênis preto florido que ela também
queria usar. Concordei, e depois demoramos a decidir que blusa combinaria, e
isso me fez lembrar que preciso comprar algumas roupas de inverno para ela. Achei
uma camisa cinza de manga comprida, com um laço preto em uma das mangas e
depois Anie escolheu uma bolsinha com alguns detalhes de brilho; eu ou Arthur
que iremos carregar essa bolsa depois.
Passei
um rímel bem rápido e um batom cor de boca, penteei meus cabelos antes de pegar
meu celular e colocar na bolsa para sair do quarto.
Quando
cheguei a sala, os dois estavam sentados no sofá.
–
Já podemos ir. – Falei. Não sei se íamos a algum shopping ou parque.
–
Ok. – Foi o que Arthur respondeu antes de pegar o controle e desligar a
televisão. Anie correu até mim e pegou na minha mão.
–
Segula a minha bolsa? – Perguntou e estendeu a bolsinha em minha direção.
–
Você tem certeza de que quer levar essa bolsa?
–
Tenho.
–
Você não vai carregar isso, Anie. – Avisei andando até o carro.
–
Eu vou sim. – Me respondeu e eu ergui uma sobrancelha. – Só agola que não. –
Ela acrescentou.
A
coloquei na cadeirinha e sentei no banco de trás com ela. Era demais que Arthur
esperasse que eu fosse ao lado dele.
O
carro começou a apitar quando Arthur saiu da garagem e ele olhou para mim pelo
espelho.
–
O cinto, Lua. – Me lembrou. Eu havia esquecido de colocar.
Londres | Shopping – Dezoito horas e
trinta e três minutos.
Fomos
ao shopping primeiro, Anie pediu para ir ao parque também e Arthur concordou.
Na verdade, eu só não quero ter o desprazer de encontrar com a Kate, já que ela
trabalha por aqui, que de resto, até dar para suportar. E eu tenho que comprar
algumas roupas que Anie vai precisar. O inverno está chegando e eu não quero
deixar para comprar só em dezembro.
Chegamos
à praça de alimentação e o cheiro de fritura me deixou enjoada. Decidi ir
comprar as roupas para Anie, enquanto, provavelmente, ela e Arthur comem alguma coisa.
–
Quelo batata-flita! – A pequena pediu o que não é surpresa para ninguém.
–
Você só quer comer batata-frita, filha. – Arthur comentou.
–
Mas é que eu gosto. Quelo daquela dali. – Ela apontou para uma lanchonete que
vende batata chips; estava no banner a imagem da batata.
–
Tááá... eu também gosto dessa. – Arthur admitiu.
–
Então compa, papai.
–
Vou comprar. – Arthur respondeu e pegou na mão da filha para irem até lá. As
pessoas nos olhavam como se fôssemos de outro lugar.
–
Eu vou aproveitar para comprar algumas roupas que Anie vai precisar para o
inverno. – Avisei e Arthur parou para me olhar. – Vi hoje que ela precisa de
mais blusas de frio e casaco. – Completei. – Já comprei botas há algumas
semanas.
–
Eu posso ir? – Anie perguntou sapeca, e antes que eu respondesse, Arthur negou.
–
É melhor não. Caso contrário, não sairemos daqui hoje. – Pontuou e Anie riu.
Mas
era a verdade. Anie ia querer escolher tudo conforme o gosto dela e já estava
anoitecendo.
–
Então eu vou lá... – Comecei e Arthur me interrompeu.
–
Quanto você acha que vai precisar?
–
Eu não faço ideia, Arthur. Mas você não precisa se preocupar. Falei que eu vou
comprar. – O lembrei.
–
Eu sei, mas Anie também é minha filha.
–
Não estou falando ao contrário. – Retruquei.
–
Você está chateada comigo, mas...
–
Com você como meu marido, e não como o pai da minha filha. – Deixei claro. –
Achei que soubesse. – Acrescentei. Arthur revirou os olhos e pegou a carteira
para tirar o cartão de crédito.
–
Não é você que diz que não somos mais adolescentes?
–
Sim, mas é você quem quer fazer cena aqui ou eu estou enganada?
–
Está enganada. – Arthur respondeu.
–
Que bom. – Pontuei.
–
Você sabe a senha. – Ele estendeu o cartão em minha direção, mas eu acabei
rindo.
–
Você é engraçado. – Comentei. – Me liga daqui a uma hora ou sei lá, quando Anie
quiser ir embora. – Avisei.
–
Te ligar é? – Arthur perguntou irônico e eu lembrei que tinha jogado o celular
dele no chão e isso destruiu a tela.
–
Vou tá no segundo piso, em qualquer loja bem longe de onde uma amiga sua
trabalha. Infelizmente as melhores lojas infantis estão nesse andar. – Respondi.
–
Vou lá pedir pra ela escolher uma lingerie pra você. – Arthur me provocou, e eu
acabei rindo da ousadia dele.
–
Talvez nem dê tempo de usar pra você. – Provoquei de volta. Mas ele não riu. –
O que é? Pensei que você fosse achar engraçado também.
–
Ha-ha...
–
Você já sabe onde me encontrar se quiser procurar. – Falei e me aproximei de
Anie que estava bastante alheia a nossa conversa. – Se comporta, meu amor. –
Pedi lhe dando um beijo na bochecha.
–
Tá, mamãe. – Ela respondeu e retribuiu o beijo.
Pov Arthur
Lua
saiu para comprar as roupas para a Anie, não sem antes me provocar, como ela
adora fazer. É claro que eu provoquei antes, não suporto mais ouvi-la dizer que
Kate é minha amiga.
Anie
voltou a me pedir já impaciente pela batata-frita e eu segui com ela para
comprar. Lua provavelmente demorará uma hora para comprar essas roupas, ela
nunca foi de demorar tanto para escolher as coisas.
Eu,
assim como ela, também não pretendia encontrar com Kate aqui no shopping.
Comprei batata-frita para mim e para a Anie e sentamos em uma das mesas da
lanchonete.
–
Depois a gente vai pla onde?
–
Não sei... pra onde você quer ir? – Indaguei.
–
Vamos jogar just dance então, papai? É legal!
–
Eu não sou muito bom nesse jogo. –
Comentei.
–
Mas é pla se divertir. – Anie pontuou.
–
Que tal aquele joguinho de realidade virtual que jogamos dentro do carro?
–
Que palece que a gente tá diligindo? – Anie perguntou empolgada.
–
Sim. – Afirmei.
–
Tááá!!! Eu gosto desse também. É legal!
–
Aí você espera a sua mãe voltar para vocês irem no just dance. – Sugeri
e Anie me olhou desconfiada, mas concordou.
–
Minha mamãe não vai demolar?
–
Acho que não. Vamos terminar de comer, pra irmos logo jogar.
–
Depois a gente vai no parque mesmo assim?
–
Se não ficar tão tarde, nós vamos. – Falei.
–
Eu que vou ganhar! – Anie exclamou e levantou um dos braços dando uma risada em
seguida.
–
Huuuum... vamos ver. – Retruquei e lhe dei uma cutucada na cintura, a pequena
se encolheu rindo.
Terminamos
de comer nossas batatas-fritas e seguimos para a sala de jogos. Anie adora esse
lugar tanto quanto adora o parquinho do shopping.
–
Quelo o meu carro amalelo!
–
Mas já tem gente no amarelo. Vamos no vermelho. – Sugeri.
–
Então quelo ir no lalanjado! – Ela exclamou e eu concordei com um balançar de
cabeça.
–
Mulheres. – Retruquei.
A
pequena seguiu toda empolgada para o carro. Coloquei as fichas e deixei que ela
escolhesse com que carro iria jogar.
Anie
escolheu o carro número um como sempre, e eu fiquei com o segundo. Ela é uma
garotinha de apenas três anos, mas se eu piscar, perco pra ela nesses jogos de
videogame e foi eu quem ensinou ela a jogar.
*
Já
tínhamos jogado cinco partidas, Anie tinha ganho as duas primeiras e eu ganhei
as últimas. Falei que era melhor irmos atrás da Lua, porque já ia dar quase
oito horas da noite e provavelmente nem íamos ao parque. Anie precisava jantar.
Saímos
da sala de jogos e passamos por uma loja de celulares que eu resolvi entrar
para saber se eles trabalhavam com assistência técnica e se podiam trocar a
tela do meu celular. Infelizmente já estava tarde e eu teria que voltar na
segunda-feira.
Estávamos
no segundo piso, onde Lua disse que estaria caso eu resolvesse procura-la e
Anie me pediu uma roupa de balé que ela acabou vendo em uma loja. Na verdade, a
cada viagem que fazemos ao shopping, investimos em uma roupa de balé para ela,
a realidade é essa agora.
Acabei
comprando dois collants na cor nude que ela ainda não tinha, duas saias de tule
e uma sapatilha, que segundo a minha filha, combinaria com as roupas. Enfim, a
vendedora, lógico que entrou na onda.
–
Quelo mostlar pra minha mamãe. – Anie saiu saltitante da loja.
–
Se encontrarmos ela. – Comentei.
Meu
medo era de Lua já ter ido embora com a desculpa de que não tinha nos encontrado-
esse é o mínimo, perto do que eu realmente estou preocupado.
–
Aonde mais que ela tá? – Anie colocou as mãos na cintura e me encarou.
–
Eu não sei, filha. Vamos ver encontramos ela naquela loja que ela sempre compra
as coisas pra você.
–
Tá, mas eu não sei onde é.
–
Mas eu sei, filha. Vamos lá... – Falei pegando em uma de suas mãos.
–
O que selá que a minha mamãe compou pla mim?
–
Casacos. – Pontuei e Anie riu.
–
É sélio, papai!
–
Mas eu não estou brincando. – Sorri.
Pov Lua
Demorei
mais do que eu imaginei na última loja que entrei para terminar de comprar as
roupas de inverno para a Anie. Tinha cada peça linda, pena que algumas com as
numerações maiores do que as que a Anie usa agora.
Comprei
apenas uma calça legging, porque calça é o que Anie mais tem. Essa é tão linda,
é branca e tem detalhes de renda de florzinha nas laterais e na bainha. Comprei
bastante casacos, toucas e luvas. E um vestidinho cor de caramelo, que estou
doida para ver Anie vesti-lo. Comprei um conjuntinho lindo, xadrez, na cor
preto e branco. Sei que Anie vai ama-lo. Nossos gostos são bem parecidos.
Agora
estou aqui na última loja tentando decidir se levo um vestido marrom de estampa
de estrelinhas, com um casaco de pelo branco e um casaco, também xadrez, nas
cores branco, preto e vinho. A gola dele também é de pelinho.
Acabei
comprando os dois logo. Não sei por onde Anie e Arthur estavam andando. E eu já
estava com fome, nem percebi que já tinha anoitecido há horas.
Quando
saí da loja, dei de cara os dois andando pelo corredor; provavelmente, atrás de
mim.
–
Até que fim, mamãe. Eu já tava cansada de andar atlas da senhola. – Anie
reclamou abraçando minhas pernas. Arthur pegou algumas sacolas da minha mão.
–
Tudo isso? – Indagou.
–
Falei que ela estava precisando de roupas de frio. – Respondi.
–
Posso ver, mamãe?
–
Só lá em casa. – Respondi me abaixando para depositar um beijo em sua testa.
–
Vamos aproveitar e jantar por aqui, ou aqui por perto? Estou com fome e Anie
também. – Arthur mudou de assunto.
–
Tudo bem. Eu também estou com fome. – Aceitei. – O que você fez, hein mocinha?
–
Eu joguei jogo de carrinho. Daquele que palece que é a gente que tá diligindo,
mas o meu papai que ganhou. – Anie fez um bico e Arthur riu só para irrita-la.
– Era pra senhola jogar just dance comigo.
–
Por que eu? – Perguntei enquanto íamos para o elevador.
–
Porque o meu papai não sabe jogar, mamãe.
–
A gente pode jogar outro dia, meu anjo.
–
Mas eu pensei que selia hoje.
–
Vamos jantar primeiro... daí, qualquer coisa a gente pode jogar.
–
Tá bom então.
–
Nossa! – Arthur bufou quando chegamos em frente ao elevador. – Eu não fazia
ideia que estava com defeito.
–
E vocês vieram por onde? – Perguntei confusa, porque quando subi, usei o elevador.
–
Pela escada. Mas eu não pretendia descer por ela de novo.
–
Nem eu. Me carrega, mamãe. – Anie estendeu os bracinhos.
–
Quando eu subi estava funcionando. – Comentei pegando Anie no colo. – Mas você
está fazendo drama. – Falei e Arthur apontou para a escada rolante e lá tinha
uma placa escrito: Em Manutenção.
Ai
eu não acredito nisso. Falei internamente.
–
Que horas aconteceu isso?! – Revirei os olhos.
–
O que vamos comer? – Anie me perguntou.
–
Não sei, amor.
–
Sabe o que eu quelia?
–
Não pode batata-frita, Anie. – Falei antes que ela pedisse.
–
Mas eu ia falar outa coisa.
–
Então o que seria? – Indaguei.
–
Pode ser flango?
–
Pode.
–
Com salada de maionese então. Só vou queler se for assim.
–
A gente não sabe se vai ter. – Respondi.
Chegamos
a um dos restaurantes que fica ali no shopping mesmo, e ficamos em uma mesa
perto da entrada. O garçom não demorou a trazer o cardápio e eu logo pedi uma
garrafinha de água para Anie.
–
Tem suco de que, mamãe?
–
Ainda vou ver, filha.
–
Tem de lalanja?
–
Deve ter, Anie. – Respondi e Arthur levantou-se da cadeira.
–
Onde você vai, papai.
–
No banheiro. – Arthur respondeu baixo.
–
Tá. – Anie deu de ombros e voltou a me olhar. – Tem flango?
–
Tem, meu anjo. E tem a salada também. Vou pedir uma pra mim, com filé enrolado
no bacon e purê de batata.
–
E o suco?
–
De laranja pra você e maracujá pra mim.
–
Então tá bom.
–
Vou pedir frango desfiado pra você.
–
Tá.
–
Deixa só o seu pai voltar do banheiro pra ele escolher o dele também.
–
Mamãe!
–
Oi, filha.
–
O meu papai compou outa roupa de balé pra mim. É linda!
–
Outra?
–
É. Eu que pedi. Mas dessa eu ainda não tinha. É de outa cor. – Ela deixou bem
claro.
–
Eu quero ver quando chegar em casa. – Falei e Anie concordou.
–
Também quelo ver as minhas roupas.
–
Eu sei. – Sorri.
–
Já escolheram? – Arthur perguntou ao sentar-se de volta na cadeira.
–
Já. – Respondi e ele abriu o cardápio.
Minutos
depois ele chamou o garçom, pedi para mim e para a Anie, e Arthur pediu uma
batata recheada com queijo e bacon, bife acebolado com arroz, e para beber,
pediu suco de abacaxi.
Jantamos
sem falar muito, na verdade, só respondemos o que Anie nos perguntou. Ela não
desistiu de ir ao parque, mas já estava muito tarde.
Fui
com Anie para a sala de jogos, para jogarmos just dance. Arthur ficou sentado
com as compras na praça de alimentação, ele comprou um sorvete e preferiu ficar
lá.
Como
só estávamos falando civilizadamente quando o assunto era a nossa filha, nem
insisti que ele viesse conosco.
Felizmente,
eu não tinha encontrado aquela vadia. Eu não estou com muita paciência e
vontade de fingir que ela não me incomoda bastante. Então é melhor que não nos
encontremos.
Acabei
jogando três rodadas de just dance com a Anie, e ela cansou. Sei que ela
queria dormir, pois tinha brincado muito hoje e já começava a esfregar os
olhinhos.
–
Vamos, filha. Você já está quase dormindo... e precisa tomar banho quando
chegarmos em casa. – Falei pegando em sua mão.
–
Tá. – Anie aceitou e voltamos para a praça de alimentação.
Arthur
ainda estava lá, e pelo visto, tinha tomado um milkshake também.
–
Eu quelo um sorvete também, papai.
–
Só se a sua mãe deixar. – Arthur respondeu e Anie me olhou.
–
Tudo bem, Anie. Só hoje. – Falei e Arthur me deu o dinheiro para ir comprar.
–
De uva!
–
E você não vem? – Perguntei, Anie sorriu e correu na minha frente.
–
Do gande, mamãe?
–
Do médio, filha.
–
Tá bom. – Ela concordou. – Você não vai queler, mamãe?
–
Não, filha. – Respondi e entreguei o dinheiro para a moça do caixa. – Obrigada.
– Agradeci.
Mas
só podia ser muita falta de sorte mesmo. Quanto menos a gente quer ver a cara
da pessoa, mais a gente ver.
Arthur
ainda não tinha percebido que Kate estava ali, porque ele olhava em nossa
direção.
–
Você quer, papai? – Anie lhe ofereceu o sorvete e Arthur negou.
–
Aposto que se eu oferecer outra coisa, seu pai aceita. Olá, querido. – Ela
sorriu cinicamente e Arthur franziu o cenho antes de me olhar.
–
Se for distância, eu nem hesitaria. – Arthur retrucou.
–
Vem filha. – Chamei, Anie. – Vamos esperar você no estacionamento. – Avisei.
Usei todo o meu quase inexistente autocontrole, pela minha filha, é claro.
–
Eu não vou ficar aqui, Lua. – Arthur disse entredentes.
–
Por que o meu papai não vem com a gente?
–
Somos bons amigos, menina.
–
Não sou seu amigo! – Arthur disse irritado. – Que saco!
–
Por que você está irritado? Viu as minhas mensagens? – Quanto mais pensávamos
que nos afastávamos, mais a praga se aproximava.
–
Se você não calar essa boca por conta própria, eu vou calar pra você. E não vai
ser do jeito que você vai insinuar, porque será eu e não o Arthur. – Ameacei.
Conhecia o tipo da Kate e a minha raiva só aumentava.
–
Você vai brigar, mamãe? – Anie me perguntou nervosa.
–
Espero que não, filha. Fica tranquila. – Pedi.
–
Kate, vai embora! – Arthur mandou colocando as coisas no porta-malas. Já
tínhamos chegado ao estacionamento. Coloquei Anie na cadeirinha e tranquei a
porta do carro.
–
Você viu as mensagens também, querida?
–
Você tentando seduzir homem casado? Infelizmente! – Respondi.
–
Aposto que ele adorou. Acho que já consegui.
–
Só você perguntando pra ele. Agora saí da minha frente. – Falei entredentes.
–
Eu não sou ciumenta, Lua... já dividi uma vez...
–
Você tá doida? – Arthur perguntou irritado.
–
Eu já estou sem paciência, Kate e não vou te avisar novamente. – Falei tentando
afasta-la de perto de mim. – Pelo amor de Deus, saí da minha frente!
–
A gente podia conversar mais.
–
Você só pode está de sacanagem com a minha cara. – Ri sem vontade. – Pede pra
essa mulher sair da minha frente. – Olhei séria para o Arthur.
–
Vem, Lua. – Ele tentou segurar o meu braço, mas Kate ficou entre nós.
–
Ontem ele não me pediu para ir embora.
–
PORRA! FALA COM ELE ENTÃO! ME DEIXA! – Exclamei sem paciência.
–
Kate, deixa a Lua entrar no carro. – Arthur estava nervoso e olhava a todo
instante para dentro do carro. Eu sabia que ele não queria nenhum escândalo,
tinham várias pessoas por ali, para ser sincera, nem eu queria isso.
–
Ele te mostrou o que usamos? – Kate mal terminou de fazer a pergunta e eu dei
um tapa no rosto dela. Senti quando Arthur me puxou pela cintura. – LOOOUCA! –
Ela gritou passando a mão no rosto.
–
Eu não sou nenhuma moleca, Kate. E jamais vou aceitar que você ou outra pessoa
me trate como uma.
–
Vamos embora, Lua. – Arthur me pediu.
–
Me solta!
–
Você é uma louca. Não é à toa que Arthur anda me procurando.
–
JÁ CHEGA! – Arthur falou alto, que até eu me assustei. – Você só pode estar
doente! Você acabar o meu casamento, mas eu, definitivamente, nunca vou ficar
com você.
–
De novo, você quis dizer.
–
Antes você parecia ser normal. – Ele pontuou.
–
Eu sempre consigo o que eu quero, querido. – Ela sorriu deixando claro.
–
Tem tanto homem por aí, não é possível que nenhum te suporte! – Comentei.
–
Você pegou o meu!
–
Eu não sabia que ele tinha dona. – Ironizei.
–
E por que você está achando ruim agora? – Kate retrucou.
–
PORQUE AGORA ELE É CASADO! – Gritei. – ME SOLTA, ARTHUR. – Tirei as mãos dele
da minha cintura.
–
Vamos embora, Lua. – Arthur tentou me puxar outra vez.
–
Se você ficar na minha frente outra vez, eu não vou bater só nessa tua cara de
vagabunda não! – Avisei.
–
Vou chamar os seguranças. – Kate ameaçou.
–
Pode ir, querida. Vai agora! Saí da minha frente!
–
Lua? Entra no carro, por favor! – Arthur me pediu outra vez e abriu a porta do
carro.
Acabei
ouvindo-o porque queria sair dali o mais rápido possível. Eu não aguentava mais
ouvir a voz daquela mulherzinha e muito menos, olhar para a cara dela. Até a
presença do Arthur estava me irritando.
Quando
entrei no carro, Anie me encarou. Eu espero que ela não tenha escutado nada da
discursão. Eu não quero ter que voltar a explicar que adultos gritam enquanto
discutem.
–
Você não devia ter perdido o controle assim. Sabe que é isso que ela quer! –
Arthur começou a falar enquanto ligava o carro e dava a ré.
–
Por que? Ficou com peninha da sua amiguinha, querido? É melhor ter ficado lá
para socorre-la. Não faria falta nenhuma.
–
Você nem escuta mais o que diz!
–
E você acha que eu sou obrigada a ouvir as merdas que os outros dizem? Por
favor! Até parece que você não me conhece!
–
Vocês estão bligando de novo. Vocês plometelam que não iam mais bligar! – A
menina reclamou chateada. – Não gosto que bligem! Quem é essa sua amiga, papai?
–
Ela não é minha amiga, Anie. – Arthur respondeu seco.
–
Por que ela disse que era?
–
Filha, ela só quer atrapalhar a minha vida e a sua mãe parece que prefere
acreditar nela.
–
Agora a sua falta de vergonha na cara e respeito, é culpa minha? – Debochei.
–
Eu respeito você, Lua. Para de dizer que isso não está acontecendo. Você está
me irritando!
–
Eu não tenho culpa se as coisas não estão batendo. Se você quisesse que ninguém
soubesse, que fizesse direito essa merda então! Agora você foi procurar uma
doente! Logo, uma ex, Arthur. Por favor!
–
Não fui procurar ninguém.
–
Achei que fosse mais inteligente!
–
Não tenho amante nenhuma, Lua! Para! Para de pensar isso!
–
NÃO BLIGEM! QUE DOGA! – Anie gritou.
–
Que saco! – Bati no banco do carro. Tudo que eu não queria, estava acontecendo.
–
O que é amante então?
–
Pede para o seu pai explicar. Ele que é familiarizado com isso.
–
Só não vou ser grosso com você porque a nossa filha está aqui.
–
Bom saber... eu realmente me enganei em relação a você. – Concluí.
–
Papai!
–
Anie, para de fazer perguntas. Isso é assunto de adulto, nós já te explicamos!
–
Por que você não gosta mais da minha mamãe?
–
Isso não importa, Anie. – Respondi, antes que Arthur falasse alguma coisa.
–
Sua mãe sabe que não é essa a questão, filha.
Pov Arthur
Eu
não sei mais como resolver essa situação. A verdade é que eu nunca me imaginei
tendo que enfrentar esse tipo de coisa. Lua e eu já passamos por coisas mais
graves do que essas insinuações, que aos poucos, Kate está conseguindo aplicar
com eficácia. Não entendo porque Lua se sente tão insegura, sendo que eu jamais
dei motivos para que ela se sentisse dessa maneira.
Quando
chegamos em casa, tirei as compras do porta-malas e Lua entrou em casa com a
nossa filha. O silêncio no carro estava perturbador. Eu odeio silêncio quando
Lua e Anie estão juntas, porque sei que as duas adoram falar. Mas o clima
estava desagradável demais, e eu conseguia sentir a decepção da minha mulher.
Lua
nunca fingiu nenhum sentimento ou reação. E eu a amo exatamente por isso. Nunca
me enganei com ela e é horrível saber que ela pensa que se enganou comigo.
Somos completamente diferentes, o mundo está caindo, e eu estou tentando manter
a calma, enquanto Lua prefere terminar de derrubá-lo.
Entrei
em casa com as sacolas de compras e subi para o quarto. Deixei todas no quarto
da nossa filha; Lua com certeza estava banhando-a, em seguida fui para o nosso
quarto. Não sei se conseguiríamos ter uma conversa civilizada agora, depois que
Lua voltasse para o quarto – isso se ela voltasse.
Tomei
um banho bem demorado, diga-se de passagem, depois me enxuguei e vesti um
pijama. Eu raramente dormia de pijama, preferia dormir mais só de short mesmo.
Mas a noite estava bem fria.
Não
sei se Anie estava demorando a dormir ou se era Lua que realmente não queria
vir para o quarto. Saí do quarto para pegar um copo com água, mas com a
intenção de ver se Lua ainda estava no quarto com a nossa filha.
O
corredor estava escuro, então, provavelmente, Lua não estava mais ali. Abrir a
porta devagar, e ela realmente não estava, e Anie já tinha dormido.
Desci a escada, mas ela também não estava na sala. Como
voltamos tarde, Mel já estava dormindo. Ela me disse mais cedo que iria passar
a tarde na casa do irmão. Segui para cozinha, e lá estava Lua, sentada em um
dos bancos do balcão, fitava um copo com água e com certeza, com os pensamentos
bem distantes daqui.
– Fiquei esperando você voltar para o quarto. – Falei.
– Não sei para quê. – Ela respondeu sem me olhar.
– Para conversarmos. Não podemos discutir assim e
deixar que as coisas fiquem como estão.
– As coisas só irão melhorar quando a Kate sumir de vez,
e como ela não vai sumir, as coisas vão ficar como estão. – Lua disse séria,
ainda sem me olhar. – E podem até piorar. – Acrescentou.
– O que eu posso fazer, para que você tire de vez da
sua cabeça, que eu fui procurar a Kate ou que eu estou mantendo alguma relação
com ela? – Perguntei e Lua me olhou, mas parecia que não me enxergava mais como
antes.
– Não quero que você faça nada. Se não tivesse nada
acontecendo, você não teria deixado chegar ao ponto que chegou. Não estaríamos
tendo essa conversa agora. – Lua explicou. E eu sabia que ela estava tentando
se controlar de todas as formas.
– Já te falei que não faço ideia de como ela conseguiu
o meu número. Você sabe que hoje em dia também nem é tão difícil descobrir
essas coisas. – Tentei justificar.
– Eu sei o que você disse, e eu não acreditei. Acho que
nos perdermos e não percebemos quando foi isso aconteceu.
– Você está chateada. Por isso está pensando essas
coisas. – Tentei dizer, mas Lua riu negando. Não era um riso de deboche, era um
riso de tristeza.
– Eu fico chateada quando você me irrita, quando você
esquece a toalha molhada em cima da cama e as roupas jogadas no chão do quarto
e eu tenho que chamar a tua atenção pela milésima vez, mas você sabe que já
foram mais de mil vezes. Fico chateada quando eu digo uma coisa para a nossa
filha e você vai lá e faz exatamente ao contrário... agora eu estou
decepcionada, Arthur. E isso é bem pior do que, simplesmente, estar chateada.
– Você precisa entender que está se deixando levar
pelas besteiras que a Kate inventou. –Falei com cuidado. – Lua... já passamos
por coisas mais significativas que isso e permanecemos juntos. Por que você
acha que agora não podemos fazer isso de novo? – Perguntei ainda calmo, porque
sei que não adianta nada começar a gritar outra vez.
– Porque isso está se repetindo mais do que eu consigo
suportar. Já estou exausta! Não casei para viver dessa forma e a desconfiança é
uma coisa que nos perturba. – Lua respondeu completamente desarmada. E eu
conheço muito bem o caminho que essa conversa está tomando.
– Nunca traí você, Lua. Sei que você sabe disso. –
Tentei segurar em seu rosto, mas ela afastou minhas mãos.
– É difícil de acreditar quando aparecem várias coisas
para te contradizer. Não é a primeira vez que Kate aparece para atrapalhar a
nossa vida. Por que você não resolveu isso antes? – Lua enxugou uma lágrima ao finalizar a
pergunta.
– Não tem nada o que resolver, Lua. O que ela quer é
algo que eu não posso dar, meu amor. Você sabe! – Suspirei. – Não consigo
entender o porque que mesmo depois de tanto tempo, ela não consegue seguir a
vida dela e sempre volta para atrapalhar a nossa. Você sempre soube do meu
namoro com ela, e nem durou tanto tempo, não vivemos nada intenso, Lua. Nunca
falei que a amava, você sabe disso, porque era você que eu já amava.
– Talvez se vocês tivessem transado, ela já teria
deixado você em paz e eu também! – Lua retrucou.
– Não é só isso, Lua.
– Então o que é, Arthur? Se você sabe, por que não me
diz?
– Você acha que se fosse só por sexo, Kate ainda
insistiria nessa ideia maluca que ela vem investindo para nos separar? É claro
que não é só isso, loira. E eu jamais vou querer ter qualquer tipo de
relacionamento com ela outra vez. Eu te amo, Lua. Para de duvidar disso! Não sei
de onde vem tanta insegurança.
– Fico pensando em tanta coisa... ontem transamos,
provavelmente, igual dois adolescentes que estão fazendo algo escondido pela
primeira vez e nem lembramos de nada quando acordamos hoje pela manhã. Mas
lembramos do que aconteceu horas antes... lembramos que ela estava lá e ninguém
sabe de onde surgiu, não consigo lembrar se você puxou ou não meu cabelo com
força ou se transamos em uma posição que desse para você fazer isso, mas lembro
que eu senti o cheiro dela em você e você não ia me dizer nada, Arthur. Assim
como ia acontecer com o preservativo na sua carteira. Se eu não tivesse te
questionado do cheiro, você não teria me dito que era dela, se eu não tivesse
encontrado o preservativo na sua carteira, você jamais teria me dito que
colocou lá, porque a Kate tinha posto no seu bolso. Você só me mostrou aquelas
mensagens, porque eu pedi que você me dissesse a verdade e as coisas só estão
se complicando para o seu lado. – Lua não chorava, ela estava bem fria para falar
a verdade.
– Você não parou de pensar nisso? Achei que fosse eu
quem ia ficar tentando lembrar de como tinha sido. Você se arrependeu? –
Indaguei e no fundo meu coração estava apertado demais à espera da resposta.
– Não. Eu não sou como você, Arthur. Eu não me importo
com o fato de não lembrar de como foi que transamos na noite anterior ou em
qualquer hora que seja. Eu não me arrependendo das coisas que fazemos juntos. –
Lua deixou bem claro. – Afinal de contas, somos casados, não é isso?
– E você acha que eu me arrependo?
– Eu, sinceramente, não sei de mais nada. – Lua
pontuou.
– É claro que você sabe. – Afirmei. – Você me disse
hoje, que se importar demais não era um defeito.
– Não disse agora que é. Só disse que eu não sou como
você. – Enfatizou.
– Disso meio mundo sabe, Lua. Ninguém se enganou aqui!
– Agora eu não posso afirmar mais isso.
– Lua, para! Até ontem estávamos bem... Como você acha
que tudo pode mudar em menos de vinte e quatro horas, sendo que estávamos juntos
o tempo inteiro?
– Nunca menti pra você e não esperava menos de você.
– Mas já me escondeu as coisas! – Exclamei.
– Nunca uma camisinha, nunca um perfume de outro homem,
nunca fotos de outro homem. – Ela queria gritar, mas tentava manter o controle.
E com certeza, não era por mim. – Você nunca teve problemas com ex-namorados
meus!
– Eles não existem, Lua! – Falei porque era óbvio.
– E nem me arrependo! Pelo menos agora, da minha parte,
não tenho que aturar gente mal resolvida, que não aceita que relacionamentos
também chegam ao fim! – Lua bateu em cima do balcão. – Você está me deixando
com muito mais raiva, Arthur! Você acha que esconder que o meu chefe me
assediou e que eu resolvi isso, se compara com o fato de você mentir pra mim e
guardar coisas que supostamente a sua ex deixou no seu bolso ou enviou pra
você? Coisas que você não consegue ou não quer resolver?!
– Coisas que são insignificantes!
– Se fossem tão insignificantes assim, não nos
atormentavam! Não nos faziam brigar como agora. Como você não consegue ver
isso, Arthur? Só você pode resolver essa situação, mas você não quer, não se
importa. – Lua levantou-se do banco.
– Como você me diz isso, Lua? Como se eu não me
importasse com a gente, e você sabe que é exatamente ao contrário.
– Mas não é o que está parecendo. Eu sempre te digo
mesmo que não somos mais adolescentes! Então trata de resolver logo essa situação
coma a Kate, porque eu não vou ficar suportando isso a vida inteira.
– Se eu for resolver isso com ela, vai ser outro motivo
pra você imaginar outras coisas além das que realmente irão acontecer.
– O que eu devo imaginar, Arthur? Porque Kate não me
faz criar pensamentos positivos a respeito das atitudes dela e agora, parece
que nem você.
– Você sabe o que vai imaginar, Lua. Não se faça de boba.
Você adora apontar os meus defeitos, mas também se esquece eu passo por cima
dos seus.
– Agora você vai querer insinuar que a culpa disso é
minha?
– Quando eu digo sobre esconder as coisas de mim, não
falo só do idiota do seu chefe, até porque ele é bem cara de pau, e está quase
no nível da Kate...
– Mas ele não me agarra, não esconde camisinha nas
minhas coisas e nem me manda foto de cueca. Então, não, ele ainda não está no
nível da sua ex-namorada. E se você está pensando que vai conseguir com que eu
sinta qualquer culpa por isso, você não vai conseguir. Essa confusão é toda
sua. Dessa mulher, eu mal sei o nome, e nem faço questão de saber mais nada. Eu
só quero ela BEM longe de mim e da minha filha, e quanto a você, que resolva
isso. Não vamos ficar bem com essas coisas acontecendo todos os dias, Arthur. Você
precisa entender isso de uma vez por todas!
– Mas ele me provoca tanto quanto a Kate te provoca! –
Rebati.
– Nunca tive nada com ele, Arthur. Ao contrário de você
com ela. Então desiste de tentar encontrar algo que você sabe que não existe. Ainda
acredito que você não é esse tipo de homem. Embora esteja agindo como se fosse
um covarde.
– Você sabe que eu não sou covarde. Sou idiota com você
em várias situações, mas nunca fui covarde. – Falei irritado.
– Está sendo agora. – Lua retrucou.
– Você é covarde, e eu não fico jogando isso na sua cara.
– Aah não? – Lua perguntou irônica. Eu tinha acabado de
fazer o que eu disse que não fazia.
– Você sabe sobre o que eu estou falando. – Deixei
claro.
– Sabe o que eu realmente sei? Que você nunca vai
aceitar o fato de eu não poder ter mais filhos. Você diz que isso não importa,
que já temos a Anie, mas sempre que pode, joga isso na minha cara. E ainda tem
a audácia de dizer que não faz isso e ainda me chama de covarde! – Lua falava tão
calma, que eu não sabia se sentia raiva ou medo.
– Você nunca quis nada disso, Lua. Essa é a verdade. É por
isso que sempre voltamos para esse ponto.
– Se você sabia, por que sempre insistiu? – Lua indagou
óbvia demais.
– Então agora você diz que se arrepende?
– Não, mas você parece que sim. Eu não costumo me
arrepender das coisas que faço. Na verdade, você sempre soube que eu só faço o
que eu quero! – Lua completou erguendo as sobrancelhas, rir sem vontade e ela acrescentou.
– Talvez se isso não tivesse acontecido, não precisaríamos ter essa conversa. E
você estaria feliz com os seus cinco ou mais filhos meninos, quantos você
quisesse e a SUA MULHER, Kate. – Lua disse irônica e eu odiava quando isso
acontecia. – Ainda dá tempo, Arthur.
– Você nem sabe o que está dizendo!
– Eu sei muito bem o que eu falo, e não vou te pedir
desculpas por isso. Não é para ser verdadeira? Estou sendo. Por que você não
faz o mesmo e admite que isso é importante pra você? – Ela me questionou.
– Nunca foi porque é menino ou menina, porque são um,
dois, cinco ou oito, Lua. Você sabe que não é por isso.
– Foi você que trouxe filhos para a conversa, até então
estávamos falando de nós dois, da sua ex e do meu chefe, que você também deu um
jeito de trazer para a conversa, mas que não tem nada a ver com isso.
– Não é importante! – Afirmei e Lua riu.
– Tá bom. – Ela pontuou e começou a andar para sair da
cozinha. – Quando você resolver falar a verdade, pode me chamar e eu vejo se
quero escutar. – Finalizou, mas acabei segurando em um de seus braços. – Me solta.
Pra mim, já deu por hoje. Você precisa entender que há sonhos que são só nossos,
e eu não posso mais fazer nada.
– Você quer acabar o nosso casamento por isso?
– Não sou eu quem estou acabando com ele, Arthur. – Lua
puxou o braço dela e eu acabei soltando-o. – São as suas atitudes.
– Que você não faz nenhum esforço para entender. – Revirei
os olhos.
– E você nenhum para falar a verdade. – Ela retrucou.
– Porra! Eu já disse que essa é a verdade! Você que não
quer acreditar!
– Se eu acreditar, o que vai mudar? Magicamente sua
amiguinha entender isso e vai SUMIR das nossas vidas? É disso que eu estou
falando, Arthur. Não. Suporto. Mais. – Concluiu pausadamente.
– Quero que você entenda que isso aqui. – Peguei um
porta-retrato com a fotos de nós dois com a nossa filha. – É o que importa pra
mim.
– Você precisa acreditar nisso primeiro, Arthur. – Foi
o que Lua me disse antes de dar as coisas e subir os degraus.
Continua...
SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.
N/A: Olá, leitores! <3 Boa
noite!
Pensei que fosse atualizar mais rápido haha mas não foi
tão fácil assim escrever esse capítulo – travei algumas vezes para ser sincera.
Mas como sempre, dei o meu melhor. Eu sinceramente, espero que vocês gostem e
comentem bastante. Eu fico tão feliz lendo os comentários e vendo vocês interagirem
sobre como compreenderam.
Na verdade, meu curso está me fazendo entender mais
amplamente, que realmente, um texto, seja ele qual for, pode ter várias interpretações
e eu fiquei BEM surpresa ao comprovar isso nos comentários do capítulo
anterior. Algumas pessoas “chateadas” pelo modo como a Lua trata o Arthur e outras
“defendendo” ela e dizendo que fariam exatamente como ela fez. Pessoas comentando
que o Arthur deve “parar de esconder as coisas” da Lua, outras que ele deve “dar
um gelo” nela. Realmente cada um tem todo o direito de interpretar da maneira
como quiser, nossa imaginação nos leva a lugares que só ela pode alcançar.
Olha, tá sendo difícil para mim escrever esses capítulos dessa maneira. Mas sempre
soubemos que Lua é fogo e Arthur é água, digamos assim. Isso não anula e nem põe
em questão o amor que um tem pelo outro, só as personalidades que se divergem. Mas
quem aí não ficaria pensando o que Lua pensou se visse o que ela viu nas coisas
no namorado/marido? São questões bem complicadas de relacionamentos. Porém, é
interessante perceber como as pessoas enxergam esses acontecimentos de maneira
diferentes. E “talvez” só um pouco haha eu tenha demorado a trazer essas situações,
porque nem eu sabia como escrever um Arthur assim sem fazer com que a Lua saia
de coitadinha, porque é tudo que ela não precisa. Ela é uma personagem bem
decidida e se responsabiliza sempre por tudo que faz. Eu sou apegada demais neles
e sei que vocês também são <3
COMENTEM tá? Estou
aqui sempre esperando pelos comentários de vocês. Me deixa feliz ler o que vocês
estão achando e que fique claro que, sempre podem dizer onde devo melhorar.
MUITO OBRIGADA a todos
os elogios e comentários, vocês são as melhores pessoas. Fico extremamente
feliz e grata por compartilhar essa história com vocês.
Abriram os links? Quem aí acha
que a Anie vai arrasar com esses lookinhos? Ai que vontade de apertar
pela 3483832023739 vez hahaha
Tadinha da Anie, ela com certeza é a que mais vai
sofrer com isso. Mas a gente sabe que tanto a Lua quanto o Arthur, jamais vão
deixar que as brigas interfiram na relação deles de pais com a filha.
E esse final de capítulo hein? O que acharam? (chorei
nem vou negar escrevendo a conversa deles da cozinha, sou dessas mesmo!)
Um beijo e até a próxima atualização!

Mille você arrasou como sempre mais isso não se faz ! Chorei igual uma criancinha 😭 tadinha da anie vendo os pais assim,ela é a que mais vai sofrer com tudo isso 😭😭😭😭😭
ResponderExcluirParabéns por mais um capítulo fantástico Milly,estou muito ansiosa para saber o que vai rolar nos próximos.
ResponderExcluirAna Júlia
C A R A C A
ResponderExcluirNo capítulo anterior eu achei que apesar de não gostar do Arthur esconder as coisas dela,a lua estava exagerando, mas agora com esse capítulo maravilhoso e triste, ela tem razão,em dizer que ele tem que dar importância em colocar um fim nessa situação, ou essa diaba da Kate,vai infernizar pra sempre. Sinceramente estou sem psicólogo para a separação deles e como a lua vai ficar apesar da pose de forte e o Arthur também,essa insegurança por não poder ter mais filhos e o fato de sempre voltarem a esse assunto, acaba magoando ainda mais,por parecer um assunto não resolvido,eles precisam se abrir um pro outro e falar de verdade sobre o que estão sentindo. Enquanto isso sofro com a annie,tão fofa. Quanto a você meus parabéns, que escrita maravilhosa, se publicar um livro avisa aqui que eu compro
ResponderExcluirAí estou sofrendo real com essa separação vindo e imaginando o quanto os dois irão sofrer �� Eu realmente não quero julgar a Lua, porque não sei o que faria no lugar dela, e concordo com ela em relação a precisar do Arthur por fim em toda essa confusão da Kate e sobre superarem realmente a questão dos filhos mas tbm me choca muito o modo como tão de repente ela está colocando em dúvida os sentimentos e palavras do cara que tá ao lado dela há tanto tempo, não é possível que tudo que eles passaram juntos e tudo que Arthur já fez e disse todos esses anos de uma hora pra outra não valha de nada ao ponto dela nem tentar entende-lo ou ouvi-lo, Arthur tem razão tbm, Lua está mergulhada em um mundo de invenções da Kate e por ver isso talvez o faça ficar mais triste e perdido sobre o que fazer; enfim, espero que todo esse tormento sirva pra mostrar a eles o quanto realmente se amam e para fortalece-los, vai ser difícil ver os três sofrendo, são realmente uma família muito linda sendo abalada por loucura e maldades de terceiros!! Parabéns pela web, é sempre uma alegria entrar aqui e ter um capítulo pra ler, me envolvo de verdade com essa história e seus personagens!!
ResponderExcluirMilly que arraso de capítulo!!!Já estou sofrendo por eles com essa separação que está a caminho.É tão difícil imaginar eles separados,sabendo a história deles e tudo que construíram juntos mas da pra compreender os motivos da Lua, realmente essa história da Kate já tinha que ter um fim pois sempre foi algo que atrapalhou a relação deles e tem uma hora que a cansa,é o que esta acontecendo com a Lua,ela cansou disso tudo, não vou negar que estou em cima do murro kk o Arthur só não quer magoar a ela por isso esconde essas tentativas da Kate de terminar o relacionamento deles justamente porque sabe como a Lua é insegura em relação a isso. É muito complicado essa situação e estou muito ansiosa pra saber como isso vai terminar!!!!!
ResponderExcluirCaroline
EU AMO CAPT NOVO!!!!!!!!
ResponderExcluirAcho que Lua sempre é muito dura com o Arthur, sempre grossa.. eu realmente acho que a lua tinha que correr atrás dele um pouco.
Gosto quando tem umas brigas, porque a reconciliação é linda depois.
Posta maisssss
Que capítulo maravilhoso, estou ansiosa horrores para o próximo. Tadinha da Anie, vendo toda essa confusão dos pais. Eu acho que a lua está sendo dura com o Arthur como forma de autodefesa, ela é insegura, ciumenta e muito estourada. O Arthur está sendo bastante controlado para o nível em q as coisas estão.
ResponderExcluirQue capítulo foi esse? Nossa nem sei o que comentar… Penso que a lua pegar um pouco pesado como Arthur, mas pelo outro lado ele deveria ter uma conversa com a Kate e colocar um ponto final nisso. Bem feito que a lua deu tapa nessa vaca que corre atrás de homem casado. Fico com dó da Anie no meio dessa confusão toda. Gostei do capítulo! Você arrasou como sempre!
ResponderExcluirLily
Meus deus que capitulo tadinha da anie ela vai sofrer muito com essa separação o capitulo ta lindo milly parabéns como sempre ai já to me preparando pra chorar com essa separação😭💔
ResponderExcluirNoemi
Eu, definitivamente, necessito de uma do próximo capítulo!
ResponderExcluirPlease
Necessito do próximo capítulo*
ResponderExcluirPreciso dos próximos capítulos,ansiosa para ver os desfechos dessa confusão. Que a Anie fique bem,ela não merece sofrer com essa confusão dos pais
ResponderExcluirQue web perfeita,ansiosa para a continuação, infelizmente está caminhando para a separação. Não estou preparada pro sofrimento deles.
ResponderExcluirComo sempre arrasando! Tadinha Da Anie vendo essa situação dos pais. Essa kate não tem vergonha na cara não, que triste ver eles briga.
ResponderExcluirLily