O Poderoso Aguiar | Epílogo

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O Poderoso Aguiar
Epílogo


Pov Lua

Através do vidro escuro do carro eu observava a figura loira que caminhava pela rua deserta. Caminhava despreocupadamente como se aquele lugar fosse o paraíso. Pior que era justamente o contrário, aquilo era o inferno na terra, já dizia Arthur. Mas a mulher parecia bem à vontade em meio a toda aquela decadência. A roupa curta, colada ao corpo de curvas exageradas como uma segunda pele conferia um ar extremamente vulgar à mulher. No fundo ela combinava com aquele cenário deprimente, entre drogados, mendigos e prostitutas.

Subiu alguns degraus e adentrou uma casa velha e carcomida pelo tempo. Segundos depois uma luz se acendeu e pude ver a mulher caminhando perto do vidro da janela.

Será que ela ao menos imaginava que estava sendo seguida? Ou ainda… ela tinha alguma noção de que em poucos minutos ela provavelmente daria adeus a sua pobre vida?

Digo provavelmente, porque Arthur não disse nada a respeito do que faria com ela. Marilyn, uma prostituta vulgar e sem escrúpulos que devia uma pequena fortuna em drogas. Drogas que distribuiu por um bom tempo, até se entregar de vez ao vício e com isso ficar com parte do dinheiro que deveria ser nosso para pagar a própria droga. E isso nem era o pior. Talvez Arthur tivesse dado uma segunda chance se ela não estivesse usando drogas fornecidas por outros criminosos. Mas eu poderia estar enganada também. Creio que de qualquer forma Arthur não a pouparia. Estava mais implacável do que nunca. Era visível o medo que ele provocava nas pessoas simplesmente por estar no mesmo ambiente que elas.

Bastou pensar nele e eu o vi atravessando a rua, surgindo do nada. Observei com admiração incontida seus passos cadenciados, o corpo perfeito e ainda mais forte caminhando com a graça de um felino até seu alvo. À meia luz ainda era possível ver perfeitamente seu terno risca de giz, de caimento perfeito e impecável e o inseparável chapéu. Em minha mente foi inevitável surgir a palavra Gostoso.

Engraçado como o tempo às vezes era amigo de algumas pessoas. Nesses quase nove anos juntos, Arthur estava mais viril, mais másculo, delicioso, potente… resumindo: ainda mais poderoso do que quando o conheci. Quase trinta e quatro anos de pura masculinidade.

Ele parou bem em frente ao meu carro e ajeitou o chapéu com a mão coberta pela luva de couro e me encarou. Parecia que seus olhos perfuravam o vidro do carro e enxergavam diretamente dentro de mim. Deixei escapar um suspiro e Chay ao meu lado soltou um risada. Merda… impressionante a forma como esse homem mexia comigo. Fez um sutil aceno com a cabeça e seguiu até a casa da prostituta.

Desviei meu olhar da figura dele e olhei novamente para a janela da casa. Prendi a respiração ao ver a silhueta que tirava a blusa. Era só o que me faltava... Arthur ficar sozinho com uma mulher nua. Lógico que confio cegamente em meu marido, mas certas reações do nosso corpo são inevitáveis. Segurei-me no banco do carro com força exagerada atraindo a atenção do Chay.

– Calma aí, Lua. Cinco minutos e tudo estará terminado.

Não falei nada. Apenas voltei a olhar para Arthur que agora colocava a arma na fechadura da porta e atirava. Simples, rápido e silencioso. Vi quando a mulher levou a mão a boca, tentando talvez segurar um grito e logo a figura bons centímetros mais alta que ela apareceu… e puxou a cortina.

Merda!

– Eu vou lá.
– Não Lua. Ele disse apenas se precisasse.
– E como vou saber que irá precisar se ele fechou a cortina?
– Lua…
– Eu vou lá Chay e não tente me impedir.

Sai do carro e caminhei a passos firmes, olhando para os lados para me assegurar que não era vista. Subi rapidamente os degraus e parei a porta. Vi a mulher seminua, os seios fartos a mostra sendo prensada contra a parede. Mas não era da mesma forma que Arthur costumava fazer comigo. Ela estava com os pés balançando no ar, sendo segura pela garganta. As duas mãos pequenas tentavam agarrar a mão seguramente coberta pela luva, sem êxito algum.

– Sabia que você viria.

Ele falou com a voz baixa e rouca sem ao menos se virar. Ele olhava para o rosto já arroxeado à sua frente. Os olhos esbugalhados também o encaravam como se pedissem clemência.

– Puta burra. Se fosse apenas alimentar seu vício talvez eu lhe desse uma segunda chance. Mas não… você teve que me entregar. Quis tirar o seu da reta e entregou o jogo não é?

Epa… isso ninguém me contou. Ela ainda tentou negar mas nem ao menos tinha força para mexer a cabeça.

– Sabe quantos milhões de dólares eu perdi quando meu carregamento foi interceptado? Hã? Claro que não sabe. Nem se passasse o resto da sua vida miserável fodendo como a puta que é você conseguiria metade desse dinheiro. Mas agora você volta para o lugar de onde veio… para o inferno.

Vi os músculos do rosto dele retesarem e em seguida aumentou o aperto no pescoço da mulher. E foi assim… aumentando gradativamente até o corpo parar de se debater. Por fim ele se afastou, soltando as mãos e deixando o corpo cair inerte aos seus pés.

– Vamos pra casa.
– E o corpo?
– Chay cuida disso. Estou cansado.

Saiu sem ao menos olhar para trás e eu o segui. Apenas fez um gesto para o Chay que sabia o que deveria fazer. Eu voltaria com Arthur no volvo estacionado a poucas quadras dali. Agora começaria a transformação. Bastava chegar em casa para que ele despisse a capa fria e maligna e se transformasse num homem que pouquíssimos tinham a sorte de conhece.

***

Dei um salto da cama olhando ao redor.

Merda.

Corri para o banheiro e tomei uma ducha rápida. Eu odiava perder a saída dos meus filhos para a escola. Mas ao chegarmos em casa na noite anterior tive tempo apenas de tomar meu banho com Arthur e logo ser jogada na cama. Tive meu corpo usado e abusado por várias vezes até que ele se entregou ao sono. Eu ri das minhas próprias palavras, tentando imaginar o que ele diria se soubesse que usei essas palavras: usada e abusada. Até parece que não adorei cada instante.

Vesti uma roupa qualquer, escovei os dentes e desci rapidamente, encontrando minha família reunida a mesa do café. Arthur lia o jornal tranquilamente ignorando meu olhar de raiva pra ele.

– Bom dia.
– Bom dia mamãe. – Responderam os três ao mesmo tempo.
– Posso saber por que o senhor meu marido não me acordou?
– Você estava desmaiada Lua.
– Você sabe que tenho o sono leve.
– Não foi o que vi. Pensei que tivesse morrido durante o sono. – Fiquei encarando-o até que ele baixou o jornal e pegou sua xícara de café me encarando também. Balancei a cabeça e deixei o assunto de lado.
– Como foi na prova ontem Joseph?
– Muito bem mãe. Acho que irei tirar um A. – Sorri.
– Como sempre não é?

Joseph tinha acabado de completar dezesseis anos. Nesses anos passados Arthur fez algumas reformas na casa. A ala que antes já abrigou alguns bandidos, inclusive meu irmão, agora era exclusiva para nossas festas em família. Tinha até uma “mini” boate, onde comemoramos o aniversário do Joseph. Estava cada dia mais inteligente, esforçado… e lindo. Estava alto, acima da média de sua idade e consequentemente… mais alto que eu. Lembro-me perfeitamente de quando disse isso e Arthur debochou, dizendo que qualquer pessoa no mundo era mais alta que eu, exceto Sophia.

Os cabelos pretos e lisos estavam sempre bem penteados e cortados. Era um pequeno homem, essa era a verdade.

Já John e Lunna também continuavam os mesmos, fisicamente falando, exceto óbvio, que cresceram bastante. Ambos com oito anos, mas bem diferentes na personalidade. John continuava minha cópia, apesar de ter boa estatura. Os cabelos pareciam terem sido arrancados da minha cabeça e colados na dele. A cor era absurdamente idêntica. Era calmo, tranquilo e muito carinhoso, além de estudioso. Lunna continuava com o mesmo gênio ruim. Mandona, topetuda e facilmente irritável. Os cabelos cobre como os de Arthur agora quase alcançavam sua cintura, caindo em cachos suaves pelas costas.

– E você John? Está gostando das aulas? – Lunna deu uma risada debochada e eu a encarei. – Está rindo de que?
– Ah mãe… o John não leva jeito pra coisa. Ele é fraco.
– Nada disso. Eu só acho um pouco… – Deu de ombros. Ambos tinham aula de defesa pessoal. Exigência do pai, óbvio.
– Eu sei que é meio pesado filho. Mas eu também já passei por isso. Você está começando agora. Depois se acostuma.
– Pode ser. – Continuamos nosso café, mas eu sentia um clima estranho no ar.
– Alguém pode me dizer o que está havendo?
– A mesma coisa de sempre, amor.

Ah claro… Arthur e Lunna. Sempre os dois.

– Lunna se recusa a ir acompanhada pelos seguranças. Acha que já é gente só porque tem oito anos. OITO!
– Eu sou gente pai. E odeio aquele monte de homem perto de mim. As pessoas ficam rindo da gente.
– Ficam rindo porque são idiotas. E desde quando você se importa com idiotas?
– Mas pai…
– Seguranças Lunna. Ou irá estudar só em casa a partir de agora. – Ela se levantou jogando o guardanapo sobre a mesa.
– Saco.
– Olha a boca hein? – Eu me levantei também.
– John você queria falar comigo não é? Ainda tem tempo antes de sair.
– Ah… não é nada. Meu pai até já conversou um pouco comigo.
– Então venha conversar comigo também.

Deixamos Arthur e Joseph discutindo sobre uma partida de tênis e fomos até o escritório.

– O que houve?
– Nada de mais. É só que os colegas ficam rindo sabe? Falaram que meu pai faz coisas ruins.

Suspirei.

Embora meus filhos fossem bem mais maduros que a maioria dos outros da mesma idade, eles ainda eram crianças. Certas coisas não eram facilmente compreendidas e nem havia como falar sobre isso.

– Alguma vez seu pai fez coisas ruins a vocês?
– Nunca.
– Então esqueça isso. Quando vocês estiverem mais velhos, na idade do Joseph por exemplo, aí sim serão capazes de compreender muita coisa. Por hora apenas deixem que falem. Sei que é ruim, mas tem certas pessoas que só ficam felizes quando estão importunando alguém. Aposto que esses colegas que dizem isso são assim. Ignore-os apenas.
– Foi o que o papai falou.
– Viu como seu pai sabe das coisas? Agora vamos… já deu seu horário.

Pegou sua mochila na sala e eu o acompanhei até a porta onde estavam Arthur, Lunna e Joseph. Nos despedimos deles como sempre com um beijo no rosto.

– Bom dia pra vocês. – Lunna, turrona não respondeu.
– Lunna!
–Tá… tá bom. Bom dia.

Arthur revirou os olhos e continuou observando-os enquanto entravam no Mercedes. Assim que eles se afastaram Arthur se virou de frente pra mim e nos encaramos. Falamos juntos.

– Você sabe que ela puxou esse gênio de você.

Depois rimos. Era preciso ter pulso firme com Lunna. Começava a colocar as asinhas de fora e isso não seria legal, afinal ela tinha apenas oito anos. As pessoas da nossa família diziam que John era meio molenga, mas eu não vejo assim. Ele só é mais tranquilo, gosta de estudar e fica horas fazendo pesquisas no campo da ciência. Joseph também continuava calmo como sempre, já pensando na faculdade. Em breve ele estaria saindo do ensino médio e estava ansioso por isso. Vinha estudando com afinco.

– O que temos pra hoje?
– Eu irei rever alguns documentos, contas… contabilidade em geral. E ainda temos que comprar o maldito presente do Alan.
– Não fale assim do nosso afilhado.
– Não estou falando dele, estou falando do presente.

Nesse aspecto Arthur estava melhor do que eu. Sophia ficaria chateada se soubesse que eu tinha me esquecido completamente que meu afilhado faria aniversário daqui a dois dias.

Também era tanta coisa a pensar. Eu vinha trabalhando demais, ajudava as crianças quando elas chegavam da escola e a noite eu praticamente desmaiava na cama. 

Agora eu acreditava em Arthur. Eu deveria estar mesmo quase em coma quando ele acordou. Mas dessa vez grande parte era culpa dele. Ele parou e eu parei também.

– O que foi?
– Não sei… de repente deu vontade de fazer uma coisa. – Aquele olhar me percorrendo de cima a baixo causou calafrios em meu corpo.
– Que… que coisa? – Ele riu baixo, sexy… gostoso.
– Como se não soubesse. A contabilidade pode esperar um pouco.

Ele me pegou no colo de repente e subiu as escadas comigo. Certas coisas entre nós não mudavam nunca.

Pov Arthur

Se tinha uma coisa que me entediava era ficar olhando esses malditos livros da contabilidade. Não suportava isso. Preferia ação… sair, ver meus carregamentos de perto. Isso de ficar no escritório me sufocava às vezes.

Lua já tinha saído. Foi para a empresa que abrimos. Meio de fachada, mas mesmo assim exigia trabalho. As crianças ainda estavam na escola, portanto em casa apenas eu, Mandy e Evangeline.

Mandy era a cadela de Lunna. Fui obrigado a comprar outra quando Brigite se foi e Lunna chegou a adoecer por causa dela. Confesso que eu também senti, afinal ela estava há tantos anos em minha vida que vê-la partir não foi uma coisa agradável. Difícil de acreditar para quem passou praticamente a vida inteira vendo a morte de frente.

Evangeline veio morar conosco há três anos, logo após a morte do marido. Todos os anos íamos para Porto Rico e ela se apegou demais às crianças. Vendo seu sofrimento com a viuvez eu a convidei para vir morar conosco. E acho que foi uma das melhores coisas que fiz na vida. Era uma excelente companhia não só para as crianças como para Lua e eu. Sem contar que com ela Lunna não dava uma de boba. Evangeline tinha pulso firme, bem mais que eu e Lua. E por falar nela…

– Com licença, Arthur… – Ela me estendeu o celular que eu nem fazia ideia de onde tinha deixado.
– Só você para achar minhas coisas Evangeline.
– Estava debaixo do jornal, no sofá da sala.
– Obrigado.
– É seu pai.

Franzi meu cenho, já preocupado. Minha mãe não andava bem de saúde e por mais que os médicos pedissem exames ainda não haviam descoberto a causa dos seus constantes desmaios.

– Oi, pai.
– Oi, Arthur. Como estão as coisas por aí?
– Aqui tudo bem. Quero saber de vocês. Como a mãe está?
– Hoje não amanheceu muito bem. Reclamando de dores, mas temos uma consulta agora a tarde.
– Estou ficando preocupado com isso pai. Os exames não revelam nada?
– Nada. Pior que eu me sinto um lixo, vendo-a sofrer e não poder fazer nada.
– Leve-a pra fora do país. Já cansei de dizer isso.
– Nós temos excelentes profissionais aqui Arthur.
– Sim, mas há um problema com ela, isso é inegável. E se aqui não descobrem… temos que procurar outros meios.
– Bem, hoje iremos fazer os exames e então irei decidir com sua mãe o que faremos.
– Passarei aí amanhã. Hoje estou meio atarefado, mas amanhã iremos todos.

Conversamos mais um pouco, agora sobre negócios e depois desliguei. Evitava ao máximo conversar com ele sobre isso, mas meu pai sempre perguntava. Acho que já tinha problemas demais para ficar se preocupando com negócios.

Levantei-me e andei de um lado a outro no escritório. Lua e eu conversávamos todas as noites sobre os problemas da minha mãe. Teorias tínhamos várias, mas 
certeza… nenhuma.

Essas recaídas dela vinham me tirando o sono, mas o que eu poderia fazer? Na verdade tanto ela quanto meu pai eram teimosos. Por mim já tinham ido procurar algum médico lá fora.

Voltei a me sentar tentando me concentrar nos papéis a minha frente. Era chato fazer isso, mas ao mesmo tempo dava certo prazer ao constatar que nossos negócios iam muito bem. Óbvio que vez ou outra acontecia algum aborrecimento, perdíamos cargas ou tentavam nos pegar, como aquela maldita puta tentou fazer. Mas nada que eu ou Lua não conseguíssemos resolver. Nesses quase nove anos juntos passamos por grandes provações, assim como muitas alegrias também.

Pérola se casou e agora morava na Austrália. Mantinha contanto, afinal querendo ou não ela é tia de Lua. Lua não conseguia esconder seu ciúme, mas eu contornava a situação facilmente. Por outro lado Tania voltou para o país e ao contrário de Pérola, Lua não tinha ciúme algum. As duas se davam bem e trabalhavam juntas na Aguiars Corporation.

Mas as grandes mudanças, como não poderia deixar de ser foram em relação às crianças. Lua, agora formada em administração se arrependia de não ter feito nada na área de psicologia. Dizia que somente isso ajudaria a entender três cabecinhas tão diferentes. Passamos sufoco quando aos cinco anos John pegou uma pneumonia e por muito pouco não o perdemos. Joseph ficou quase dois anos fazendo terapia e hoje estava praticamente um homem ainda que com apenas dezesseis anos.

Lunna era um caso à parte. Deu trabalho quando bebê e agora mais velha continuava dando trabalho. Sinceramente eu temia quando chegasse aos dezoito anos. Não que fosse mal educada ou insuportavelmente desobediente. Ela era teimosa, geniosa e topetuda… feito a mãe. Perdi a conta das vezes em que a levei ao hospital para dar algum ponto resultante de algum tombo. Mas eu não reclamava de nada. Fazia parte, eu acho. Não houve um aniversario que deixamos de comemorar. Sempre fazíamos festa tanto para os gêmeos quanto para Joseph.
Vivíamos assim: vida dupla. Algumas vezes precisei sair logo após a festa dos meus filhos e ir receber mercadorias ou dinheiro do que fornecíamos.

Lua costumava dizer que eu parecia usar uma máscara. A que eu usava em casa não era a mesma que eu usava nos negócios. E nem poderia ser diferente. Eu não poderia ser frio e aterrorizante diante dos meus filhos. Tampouco poderia parecer uma pluma em frente a bandidos, drogados e prostitutas. Essa era nossa vida. Eu precisava ser duas caras. Era assim que deveria ser.

Voltei a me concentrar nos números quando meu celular tocou novamente. Conferi as horas ao ver que era um dos seguranças das crianças que me ligava. Estava mesmo na hora de voltarem para casa e consequentemente nos reunirmos para o almoço.

– Fale Johnson.
– Chefe… hum… será necessário sua presença aqui na escola.
– Por que? O que houve?

Eu fechei meus olhos, apoiando minha cabeça nas mãos enquanto ouvia o que ele dizia.

De novo?

Pensei em ligar para Lua, mas da última vez ela foi. Agora teria que ser eu mesmo. Desliguei o celular e me levantei pegando a chave do volvo. Filhos… filhos… Acho que pra mim chega hein? Estava na hora de fechar a fábrica. Embora Lua se cuidasse muito bem. E eu digo Lua mesmo. Nesse caso eu sou machista. Ela que se virasse para se prevenir. Eu que não iria usar porra de camisinha nenhuma. Com ela não poderia haver nada, nem uma faísca para atrapalhar o contato entre nossa pele. Passei pela sala de jantar e vi que Dinda já preparava a mesa.

– Se Lua perguntar, diga que eu volto logo.
– Algum problema, Arthur?
– O mesmo problema de sempre, Dinda. E você tem uma chance para adivinhar.
– Lunna?
– Exatamente.
– O que foi dessa vez?
– A diretora mandou avisar que hoje ela só sai da escola se um dos pais comparecer lá.
– Ai meu Deus… o que será que ela fez?
– O que? Desceu o braço em alguém novamente, com certeza.
– Essa menina… – Só balancei a cabeça e sai. Precisava colocar um cabresto nessa menina… e urgente.

***

Eu olhava pelo retrovisor, mas Lunna continuava com aquele bico, os braços cruzados olhando pela janela. Estava furiosa comigo, mas eu pouco me importava. Essa minha filha era louca ou o quê? Aonde já se viu bater em duas garotas? Ainda mais numa escola? Falei com ela que estava de castigo, nada daqueles joguinhos de luta que ela gostava de ficar entretida em frente ao computador.

– Escola virou ringue agora?
– Elas me provocaram papai. Me chamaram de Maria macho.
– Ah… sim... e você foi lá e meteu a porrada. Só confirmou o que elas disseram não é?
– Eu só me protegi. Não é pra isso que eu faço aquele curso de defesa? – Rolei meus olhos e suspirei exasperado.
– Se proteger de gente ruim Lunna. Não de coleguinhas de escola. Sinceramente… você é inteligente e entende o que estou falando. Acho que às vezes estou enganado. Você tem quinze anos ao invés de oito. – Ela levou a mão à boca e disfarçou uma risada. Era peste mesmo. Aposto que Lua era idêntica a ela quando criança. – Estou falando sério Lunna. Seu irmão não dá esse trabalho. Quantas vezes sua mãe já foi a escola somente nesse mês?
– A culpa não é minha papai. Eu juro. Elas que mexem comigo.
– Ah… falou a santinha. Sua mãe não vai ficar nada satisfeita hein?

Ela torceu os lábios num muxoxo de desagrado. Pelo menos me obedeceu e pediu desculpas às garotas, coisa que não fazia tão facilmente. Tenso… muito tenso. Eu iria ter que relaxar mais tarde. Lua que se preparasse.

Eu cheguei a rir da cara de pau de Lunna quando entramos em casa. Eu quase enxergava a aureola em volta da sua cabeça. As mãos para trás com um sorriso delicado no rosto.

– Oi. Cheguei. – Lua estava de pé na varanda e pela sua expressão já devia saber o que houve.
– Estou vendo. E acompanhada pelo pai? Boa coisa não é.
– Mamãe… eu não tive culpa. – Suspirando Lua a pegou pela mão.
– E de quem seria a culpa?
– Das burras, feias que mexeram comigo.
– Burras… feias?
– Elas me chamaram de Maria macho.
– E?
– E eu bati nelas.
– Uau… – Joseph exclamou se aproximando e Lua fechou a cara pra ele também.

Fiz um sinal pra ele ficar mudo. Pensei que Lunna iria continuar com sua pose de anjo, mas ela simplesmente não conseguia. Deu um pulinho batendo palmas.

– Eu bati mamãe…. bati… bati… e puxei o cabelão de uma.
– Céus Lunna e você se orgulha disso? – Lua perguntou brava, as mãos na cintura e batendo o pé do jeito que me irritava.
– Era eu ou elas mamãe…

Falou de um jeito que me lembrava muito bem alguém… ou seja, eu mesmo. O queixo de Lua caiu e ela simplesmente não teve mais palavras. Apenas acompanhou Lunna com o olhar. Ela foi correndo até a cozinha gritando por Dinda.

– Arthur… na boa, vamos ter que colocar essa menina numa aula de boas maneiras, começar a dar uns castigos.
– Eu já cortei os joguinhos.
– Mãe… pai… eu não quero ser fofoqueiro, mas ela tem um GTA escondido.
– O QUE? Joseph… tem certeza?
– Absoluta. – Lua me encarou e mais uma vez segurei a vontade de rir.
– Aonde essa menina consegue essas merdas?
– Vamos almoçar? Depois falamos sobre isso, pode ser?

Ela se rendeu. O assunto Lunna não era uma coisa para se discutir assim em dois segundos. Levava tempo… e paciência. Após o almoço todos se dispersaram. Lua voltou para a Aguiars e eu sai para falar com Micael, Chay e Bernardo. Felizmente o dia não seria tão exaustivo. Apenas dei as ordens do dia seguinte, conferimos a segurança de dois dos galpões e pouco depois das cinco da tarde eu chegava em casa. Ainda estava descendo do carro quando Lua também chegou. Fiquei parado esperando por ela que não sei como, não notou minha presença ao lado do volvo. Desceu do carro e depois se virou para pegar algo lá dentro. A saia já um pouco curta subiu um pouco, mas o bastante para me deixar com os olhos vidrados na bunda empinada em minha direção. Em dois segundos eu parava bem atrás dela, as mãos em seus quadris.

– Provoca bastante bandida... – Ela arfou e se levantou, fazendo com que meu peito ficasse colado em suas costas.
– Arthur…
– Tá oferecendo? Eu aceito…

Ela se virou bruscamente e me agarrou pela camisa, procurando minha boca. Mordeu meus lábios e depois passou a língua, voltando a me beijar. Eu a abracei pela cintura, erguendo-a um pouco do chão.

– É impressão minha ou alguém aí está a perigo?
– Estou… não imagina como vim pelo caminho só pensando em jogar você na cama.
– Só se for agora. – Ela fechou a porta rapidamente e subimos abraçados, mas fomos interceptados por John.
– Pai, eu queria falar com o senhor.
– Claro. Vamos até o meu quarto.
– Eu… eu queria… – Olhou pra Lua meio sem jeito e nem foi preciso dizer mais nada.
– Tudo bem. Vou subindo. Podem fofocar a vontade.

Lua subiu à nossa frente e eu subi com John. Assim que entramos no quarto ele fechou a porta. Depois abriu o armário e tirou algo lá de dentro.

– Está chegando o dia das mães. Aí eu fiz isso pra mamãe.

Fiquei mudo por um tempo olhando o belíssimo retrato que ele fez de Lua. Nunca imaginei que alguém tão novo pudesse fazer algo tão perfeito. Ainda mais sendo meu filho, já que eu não tinha esse talento e acho que Lua também não.

– Está fantástico John.
– Acha que ela vai gostar?
– Ela vai amar. Pode se preparar para fazê-la chorar.
– Será que dá pra colocar num quadro?
– Claro. Eu vou providenciar isso.
– Mas não quero que a Lunna saiba. Ela vai rir de mim e me chamar de mulherzinha.
– Deixe que eu me entendo com ela tudo bem? Nada de mulherzinha… só por que fez essa obra de arte? – Puxei-o para mais perto e beijei seus cabelos. – Obrigado. Vai deixar sua mãe muito feliz. – Com todo o cuidado ele guardou o desenho novamente no armário.
– Vou tomar meu banho agora. A Dinda vai passear com a gente pelo jardim.
– Façam isso. Talvez eu e sua mãe façamos isso mais tarde. – Sai e fui para o meu quarto, pensando na possível reação de Lua. Iria pirar com certeza.
– Algum problema com o John?
– Não. Assunto de garoto.
– Ah é?

Ela voltou a me agarrar e isso bastou para me acender novamente. Em pouco tempo nos beijávamos furiosamente, as mãos despindo um ao outro. Adorava quando Lua estava nesse fogo todo. Claro que ela nunca negava, mas as vezes estava mais “cansada” e demorava a entrar no clima. Quem dera fosse o mês inteiro assim, sem a pausa dos malditos cinco dias em que ficava impossibilitada. Pensar nisso me fez ter outros pensamentos. Eu parei, agora somente com a boxer e Lua de calcinha.

– Lua… hoje é dia vinte.
– E daí? – Ela perguntou arrancando minha boxer, esfomeada, parecendo um soldado voltando da guerra. Foi tentando, sem êxito, me empurrar até a cama.
– Não era pra você estar naqueles dias?
– Não sei… era? Talvez…

Agachou-se à minha frente segurando meu pau com força me fazendo gemer enquanto ainda tentava argumentar com ela. Peguei-a de volta e levei-a até a cama, deitando-me sobre ela e passando as mãos pelo seu corpo.

– Eu sei que era. Sua menstruação NUNCA atrasou. Aliás atrasou uma única vez e por um motivo nobre.
– Depois eu vejo isso…

Ela respondeu, mas tenho certeza que nem ouvia mais o que eu dizia. Estava entregue, estremecendo sob minhas mãos. Sua mente longe dali não a deixava enxergar o óbvio: Lua estava Grávida.

O Amor…

É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados!
Mas, os vencedores no amor são os fortes.

Os que sabem o que querem e querem o que têm!
Sonhar um sonho a dois,
E nunca desistir da busca de ser feliz,
É para poucos!

Cecília Meireles

Fim!

Se chegou até o final, não custa nada deixar um comentário.


Boa Tarde!

E... acabou! Saudades vai deixar... concordam?

Eu particularmente amo essa história. É bem escrita e a autora não deixou a desejar. Ela merece parabéns por escrever tão bem!

E vocês? O que acharam da história? Desse final? Maldade da autora deixar os leitores com gostinho de quero mais haha Não acham? Mais um herdeiro pareceu estar a caminho... que amor.

Agradecimentos,

Muito Obrigada a todos os leitores, aos que estão aqui desde quando comecei a posta-la. Aos que chegaram depois. Aos que já tinham lido uma, duas e mais vezes e mesmo assim acompanharam a história e não deram spoilers e de certa forma, respeitaram não falando onde os outros poderiam encontra-la, já concluída. E a todos que se mantiveram paciente diante da minha demora para atualizar a mesma. Obrigada pela companhia e por todos os comentários ao longo do tempo em que a fanfic foi postada.

MUITO OBRIGADA!

Faltam menos de 10 horas, para o Natal, não é mesmo? E caso eu não apareça antes por aqui... Eu quero desejar um FELIZ NATAL, a todos vocês leitores! Que seja repleto de amor, paz e luz e que renove a fé de todos nós.

Um enorme beijo!

... e eu volto em breve!

5 comentários:

  1. Essa web vai deixar saudades! Parabéns pela história linda! Feliz natal!

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  2. Aaaa vou sentir saudades!!
    Amoo essa web

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  3. vou ficar com saudades dessa web!parabens, eu amei muito essa web!

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  4. Ah, não acredito que acabou.Vai deixar saudades,vou reler pra mata-lá.Amei a Fic,do começo ao fim.Feliz Natal!!!

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  5. Vou sentir saudades dessa família maluca ❤
    Feliz natal atrasado

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