O Poderoso Aguiar | 33º Capítulo

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O Poderoso Aguiar
33º Capítulo – Sem Perdão

Pov Lua

Medo.

Agora eu tinha muito medo. Não sei exatamente do que, mas meu coração chegava a doer tamanha força com que batia. Definitivamente não era medo pelo Pedro. Mais uma vez ele me provou que não valia nada. Talvez eu temesse por Arthur. Nunca, em todo esse tempo, eu o vi tão nervoso e descontrolado. Todas as cenas que presenciei, poderia dizer que ele estava bravo. Hoje não. Ele tinha ódio… um ódio intenso.

Eu seguia a passos rápidos atrás dele, que sequer se dignava a me olhar. Sei que não estava nervoso comigo, mas ele era assim. E sei também que jamais passaria pela cabeça dele que tive alguma coisa com meu irmão. Como ele mesmo disse… eu gosto de homem, não de moleque. E era exatamente isso que Pedro era. Um moleque inconsequente que cismou de brincar com o homem mais perigoso que já conheci. Arthur tinha várias facetas e eu nunca sabia ao certo o que esperar dele. Quando estava a poucos metros do quarto de Pedro, ele parou e se virou abruptamente.

– Acho melhor não vir comigo. O que irá acontecer daqui para frente não lhe fará bem.
– Eu sou forte. Irei com você.
– Não estou falando de você. Sei que é topetuda o bastante para assistir a tudo como se fosse realmente forte. Estou falando dos bebês. Isso não será bom pra eles… e espero que tenha juízo quanto a isso.
– Eu sei o que estou fazendo, Arthur.  – Ele revirou os olhos e pegou o celular.
– Chay? Estou saindo daqui agora com nosso amiguinho. Peça ao Micael que prepare a “bebida de Jesus”.

Franzi meu cenho. Bebida de Jesus? Que código era esse? Ou eles iriam comemorar bebendo vinho?

– Posso saber o que irá fazer Arthur?
– Não.

Ele respondeu empurrando a porta do quarto. Confesso que fiquei chocada com a aparência de Pedro. Não me parecia nem de longe o garoto bonito e cheio de vida que conheci um dia. Estava acabado, machucado e pior… agora ele não era mais atrevido. Ele olhava para Arthur com pavor.

– Como vai nossa mocinha?
– Cada vez mais deliciosa, chefe. – Os dois gargalharam. Arthur sentou-se à frente de Pedro, os dedos entrelaçados.
– E então, franga? Preparado? – Pedro engoliu em seco, os olhos arregalados, mas nada respondeu. – Como estou bem humorado hoje… você poderá escolher nas mãos de quem quer morrer. Nas minhas… ou nas da sua doce irmãzinha?
– Deixe essa mulher longe de mim. – Arthur sorriu, sarcástico.
– Devo entender que prefere morrer pelas minhas mãos?
– Sim. – Ele riu novamente.
– Você não devia ter dito isso, Pedro. – Levantou-se e parou à frente do segurança.
– Traga-o e siga o volvo. Pode usar o Aston.
– Sim, senhor.

Arthur se afastou e fui atrás dele. Minha garganta estava seca e minha respiração ligeiramente alterada. O fato de não ter a mínima ideia do que Arthur faria é o que me angustiava. Sophia nos interceptou antes que chegássemos ao volvo. Também parecia apreensiva.

– Micael já foi?
– Sim. Arthur… não acha melhor a Lua ficar?
– Eu acho. Mas conhece a teimosia dela tão bem quanto eu.
– Lua, por favor… Micael me falou que… é horrível… – Arthur bufou.
– Puff… não que eu esteja discordando. Mas vindo do Micael qualquer coisa nesse sentido é horrível. Ele é meio frouxo para isso. – Sophia cruzou os braços e fechou a cara para Arthur.
– Só porque ele não tem o mesmo sangue frio que você… não quer dizer que seja frouxo.
– Ah… Sophia. Não me aborreça você também. Já estou com problemas demais e paciência de menos.
– Então não venha descontar em mim. Apenas tente convencer essa maluca a ficar. Você consegue quando quer. – Arthur me olhou tão intensamente que senti minhas pernas fraquejarem. Seus olhos varreram meu rosto em busca de algo que não consegui decifrar.
– Lua…
– Nem tente, Arthur. Você não conseguirá me fazer desistir. Não dessa vez. – Ele suspirou, exasperado e olhou pra Sophia.
– Viu?
– Acho que deveria pensar mais nos bebês, Lua.
– Sophia, se eu achar que é demais para mim, eu juro que saio de lá, está bem?

Ela deu de ombros. Sabia que nada do que dissesse iria me demover da ideia de acompanhar os últimos minutos da vida de Pedro. Arthur deu um beijo no alto da cabeça de Sophia e deu a volta no volvo, abrindo a porta para mim.

– Cuide-se, Sophia.

Pouco tempo depois, Pedro surgiu arrastado por dois seguranças que o colocaram no Aston logo atrás do volvo. Arthur deu a partida, seu maxilar trincado enquanto olhava pelo retrovisor. Suas mãos estavam tão crispadas ao volante que eu podia perceber os nós entre seus dedos mais brancos que o normal. Ele havia colocado os óculos de sol, o que me impedia de ver seus olhos. Era sempre através deles que eu tinha uma pequena noção do que estaria por vir. Ele nem ao menos olhava em minha direção. Dirigia com apenas uma das mãos, a outra apoiada na janela, seus dedos desalinhando ainda mais seus cabelos. Mesmo nesse momento turbulento eu não podia deixar de pensar no quanto ele estava lindo. Mais que isso… estava divino, de tirar o fôlego. Isso bastava para que eu me assanhasse e começasse a pensar em formas de deliciar-me com ele tão logo estivéssemos de volta à nossa casa.

Estranhei a demora em chegar ao local, mas logo vi o porquê. Não estávamos indo para o galpão onde estive com os rapazes. Era bem mais distante e totalmente isolado. Um grande portão fechava o acesso ao galpão, bem menor que o outro. Arthur parou o carro esperando o portão se abrir. Entretanto ele não saiu do lugar quando o mesmo abriu-se. Continuou com o motor ligado, mas olhando pelo retrovisor. Assim que o Aston estacionou, ele saiu do carro, falando comigo pela primeira vez.

– Desça, Lua. – Obedeci e fui atrás dele que seguia até o outro veículo.
– Tirem a franga daí. Lua… você vai com os seguranças até o galpão.
– Mas…

Calculei mentalmente a distância até o galpão… uns cinquenta metros? Acho que mais. Sei lá… não era muito boa nessas coisas.

– Definitivamente você não verá isso, Lua.

Isso? Isso o que? Arthur estava começando a me assustar. Ele se aproximou de Pedro e segurou-o pelas bochechas, apertando-as.

– Vamos dar um passeio. Viu como estou bonzinho hoje? Mas antes disso ainda irei contar uma historinha pra você. – Arthur cuspia as palavras, o ódio evidente em cada sílaba pronunciada. – Eu tive acesso a um de seus “filminhos”. Lembra-se da Brianna? – Pedro arregalou os olhos e arfou. – Sim… aquela garotinha indefesa que você e aquele bando de safados usam e abusam como se fosse um lixo qualquer. Aquela que você transou e gritou o nome da sua irmãzinha… ou seja… da minha esposa.
– Arthur…
– Cala a boca. Só eu falo aqui. O que você queria, hã? É tão doente assim que queria a própria irmã, seu incestuoso do caralho?
– Não…eu juro que não. Fiz isso porque Dom Matteo queria. Lua já tinha dono… sempre teve. – Arthur deu uma bofetada nele tão violenta que sua cabeça girou sobre o pescoço.
– Não converse comigo através de incógnitas. Seja claro e transparente.
– Eu… eu nunca pensei em Lua assim. Mas ela tinha dono… desde quando meu pai conheceu Dom Matteo… ela foi prometida a ele. Ela seria o “presente” no aniversário de sessenta anos dele. Por isso meu pai nunca permitiu que homem nenhum chegasse perto dela. Para que ela continuasse virgem. Mas quando você entrou na jogada…

Arthur ainda bufava de raiva. Talvez agora não tivesse mais tanta raiva do Pedro. Mas logo em seguida, eu tive a certeza que o cérebro dele foi totalmente tomado pelas drogas. Pedro era inconstante. Em um momento dizia uma coisa e no seguinte… dizia outra, contradizendo as palavras anteriores. Será que ele não percebia que isso enfurecia Arthur ainda mais? Pedro deu um sorriso débil, totalmente doente.

– Lua seria nosso brinquedinho. Primeiro ela seria apenas de Dom Matteo… e depois seria nossa… hum… dava água na boca só de imaginar toda apertadinha… Agora não quero mais… já deve estar arrombad…

Ele não terminou de falar. Arthur apertou-lhe o pescoço, deixando seus lábios quase roxos.

– Já ouvi dizer que quem fala demais dá bom dia a cavalo? Pois agora você dará bom dia ao capeta… é para junto dele que você irá. Mas vamos nos divertir primeiro. – Arthur soltou-o com violência, fazendo- o cambalear.
– Amarre-o na traseira do volvo. – Eu arfei e segurei na mão de Arthur.
– Arthur.
– Entre no Aston, Lua. Agora. E não ouse me desobedecer.

Sinceramente? Eu não ousaria fazer isso. Não nesse momento. A cena do que viria já passava pela minha cabeça. Eu creio que não teria estômago para isso. Se fosse o que eu estava pensando… jamais me passaria pela cabeça uma coisa daquelas. Mesmo depois de tudo o que já vi e ouvi… não acreditava que Arthur tivesse tanto sangue frio.

Entrei no Aston sem dizer uma palavra. Ainda dei um último olhar para Arthur e depois para Pedro que esperneava, amarrado na traseira do volvo. Realmente… ele fez uma péssima escolha. Eu daria no máximo alguns tiros nele e mais nada.
Assim que o Aston parou perto do galpão, os rapazes saíram e pararam ao meu lado. Provavelmente já sabiam dos planos de Arthur, pois não fizeram nenhum comentário.

– Chay? O que quer dizer “bebida de Jesus”? – Micael interrompeu.
– Não diga nada, Chay. Se o chefe não disse nada a ela… então é melhor que ela não saiba… daqui a pouco saberá.

Arthur estava certo ao confiar plenamente em Micael. Ele cumpria à risca as ordens dele, mesmo que fosse para responder uma simples pergunta. Mesmo ao longe eu ouvi o ronco do volvo e meu corpo estremeceu.

– Está na hora. Vai começar nossa diversão.

Todos eles sorriam. Deus do céu… eles gostavam disso. Pelo jeito não eram tão frouxos como Arthur dizia. Minhas pernas bambearam e me apoiei em Micael quando vi o volvo se movimentar e Pedro berrar. Minha respiração estava absurdamente acelerada e tive a impressão que não conseguiria respirar mais.

Arthur dirigia devagar, mesmo assim eu ouvia os gritos de Pedro, a poeira subindo e cobrindo seu corpo que arrastava pelo terreno pedregoso. Quando o carro passou à nossa frente os rapazes gritaram, mas eu fechei os olhos. Não que eu estivesse com pena do Pedro. Não tinha nenhuma. Mas eu não teria estômago para ver como ele estaria depois de ter sido arrastado por tantos metros.

– Deus do céu…

Eu balbuciei quando ouvi Arthur acelerar e o carro ganhar velocidade. Não sei o que era pior. Se o som do motor esgoelando, ou se os gritos terríveis de Pedro.

– Lua, não acha melhor entrar?

Pra que me fazer de durona? Eu não estava me aguentando. Eu iria acabar vomitando de tanto desespero bem ali na frente dos homens de Arthur.

– Acho, Mika. Ajude-me, por favor.

Mika segurou-me pela cintura e me fez entrar no galpão, ajudando-me a sentar numa cadeira. Inspirei lentamente para ver se conseguia aliviar o torpor em minha cabeça.

– Fique aí. Vou pegar uma água para você.

Continuei de olhos fechados e fazendo exercícios respiratórios para ver se conseguia me acalmar.

– Beba.

Abri os olhos para pegar o copo e fiquei rígida na cadeira. À minha frente estava uma enorme cruz de madeira e logo abaixo dela, o que me pareceu ser uma fogueira.

– Mica… Arthur vai…
– Lua, ouça um conselho de amigo. Não fique aqui para ver isso. Sinceramente nem sei se eu conseguirei assistir.

Mordi meus lábios e baixei meus olhos, encarando o copo com água. Se ele não tinha coragem, o que dizer de mim? Eu não era a poderosa como Arthur achava que fosse. Em alguns aspectos eu até que me saía bem. Mas no quesito mortes violentas… eu era uma molenga, assim como Mika.

Ouvi quando os rapazes riram e assoviaram e o motor do volvo foi desligado.

– Vou lá para fora ou Arthur me mata.
– Vá lá. Obrigada, Mika.
– Não há de que.

Fechei meus olhos novamente, atenta à movimentação lá fora. Os rapazes faziam piadinhas enquanto Pedro arfava absurdamente alto. Logo em seguida ele berrava de dor. E finalmente ouvi a voz de Arthur.

– Já iremos acabar com seu sofrimento, franga.
– Uhu… é uma franguinha, Arthur?
– Meus seguranças se fartaram nele, Micael.

Os dois homens riram alto. Dei um pulo na cadeira quando a porta foi aberta com violência e Chay entrou arrastando Pedro. Micael e Bernardo ajudavam. Arthur me olhou dentro dos olhos antes de fechar a porta. Aproximou-se de mim e deslizou um dedo pelo meu rosto.

– Acho melhor sair, Lua.
– Eu irei… mas não agora.

Ele apenas balançou a cabeça e olhou na direção da cruz. Meu coração disparou mais uma vez ao ver Pedro sendo amarrado nela. Suas roupas estavam em frangalhos e várias partes do seu corpo estavam em carne viva.

– Lua, mana… me ajude…
– Se eu ouvir sua voz será pior Pedro. – Entretanto, o louco não deu ouvidos. Continuou me pedindo ajuda. – Chay… traga a bebida.

Aprumei meu corpo na cadeira, esperando a tal bebida de Jesus. Eu estava morta de curiosidade com aquilo. Arthur colocou as mãos no bolso e aproximou-se de Pedro.

– Aposto como você nunca ouviu a história de Jesus… de quando ele foi crucificado. Sabe… eu ficava me perguntando. Se ele conseguiu transformar a água em vinho… por quando colocaram algodão com vinagre em sua boca, ele não fez o mesmo? – Levei minha mão à boca, tentando abafar meu gemido de surpresa. – Hoje eu tenho a resposta. Porque ele quis assim. Simples. Quis sofrer por nós. E sabe? Acho que você quis ser Jesus… quis sofrer. Então… – Arthur abriu os braços, sorrindo. – Quem sou eu para negar isso?

Só então reparei que Chay estava de volta, com um pequeno balde, como se fosse um balde de gelo. Estendeu-o para Arthur.

– Vamos lá franga… tenho que lavar esse sangue que está em você.

Minha cabeça girou pela milésima vez nessa noite. Ou eu estava muito enganada… ou o que havia naquele balde era vinagre?

Arthur pegou o balde e caminhou até uma pequena escada ao lado da cruz onde estava Pedro. Subiu alguns degraus e quando estava pouco acima da cabeça dele… virou o balde lentamente. Pedro berrou alto… mais alto do que jamais ouvi. E se debateu… eu quase pude sentir sua carne sendo queimada… ardendo.

– Desgraçado… maldito… você vai se foder, Arthur Aguiar.

Arthur riu e virou mais o liquido sobre Pedro. Ele gritou novamente, já rouco, quase sem forças. Seu peito subia e descia por causa da respiração descontrolada. O cheiro começava a ser insuportável. Vinagre… sangue… a terra que grudava em seu corpo… e urina. Pedro urinou de tanta dor que estava sentindo.

– Mika… – Pedi num fio de voz, mas ele não me ouviu. Eu precisava sair dali o quanto antes… ou iria vomitar na frente de todos, inclusive de Arthur. Antes que eu chamasse Mika novamente, Arthur desceu a escada e jogou o restante do liquido sobre o peito do Pedro.
– Micael… – Fez apenas um sinal com a cabeça e Micael se abaixou em frente a fogueira, jogando um liquido que pelo cheiro… era álcool.
– Quer um tempinho para rezar, franga?

Pensei em interferir. Pedir a Arthur que desse uns tiros nele e pronto. Agora já não sabia se estava com pena do Pedro, se estava assombrada com aquilo tudo… ou se era tudo junto. Mas as palavras de Pedro me impediram de sequer tentar.

– Só vou dizer… uma coisa… Aguiar. Eu venci. Eu tirei a virgindade da Jéssica. – Deu um sorriso estranho, um esgar, apenas. – Não imagina como foi… entrei com tudo… sem dó. E ela gritou feito uma vadia. E enquanto eu a fodia com força… ela berrava seu nome… pedindo a ajuda que não veio.

O maxilar de Arthur tremia e suas narinas estavam infladas. Ele não disse nada.
Apenas cruzou os braços e desviou o olhar para Micael.

– Micael…

Creio que somente nesse instante o estúpido do Pedro percebeu o que iriam fazer com ele. Mas já era tarde. Micael se afastou e jogou um fósforo aceso. O fogo foi imediato. A expressão no rosto de Pedro foi de puro pavor.

–Não… não… me tirem daqui. Aguiar… me tire daqui, seu maldito. Minha irmã está ali.

Arthur se virou e sustentou o meu olhar. Engoli em seco, sem saber se saía ou não. Sozinha seria impossível, já que minhas pernas estavam feito gelatina. Girou e caminhou até mim, colocando sua mão em meu ombro.

– Saia daqui. – Apenas neguei, balançando a cabeça.
– LUA… ME AJUDE!

Olhei para Pedro e me arrependi. Seu corpo já estava em chamas. Levei minha mão à boca novamente, segurando a onda de vômito que ameaçava sair.

Arthur e Mica permaneciam imóveis, assim como os seguranças e outros rapazes que eu ainda não conhecia. Mica e Chay olhavam para o vazio.

Pedro ainda gritava e se debatia. Eu não olhava mais. E nem sei de onde tirei forças para me levantar e sair correndo quando o cheiro de carne queimada dominou o ambiente. Disparei porta afora e caí de joelhos ao lado do volvo, vomitando violentamente. Uma… duas… três vezes meu estômago não suportou aquilo tudo.

Senti uma mão colocar uma toalha molhada em minha testa e outra em minha boca. Limpei-me e depois senti uma mão forte ajudando-me a levantar.

– Vou levá-la para casa, Lua.
– Arthur…
– Ele irá logo em seguida.

Micael caminhou comigo lentamente até o carro dele e abriu a porta para mim. Entrou e deu a partida. Eu encostei minha cabeça no banco do carro e fechei meus olhos, as lágrimas descendo lentamente pelo meu rosto.

– Sinto muito, Lua. Mas nós avisamos você.
– Eu sei, Bê. Eu é que sou muito teimosa.
– Como está se sentindo?
– Meu estômago está meio enjoado e minha cabeça dói um pouco.
– Vai ficar tudo bem.

Eu queria acreditar nisso. Mas eu sabia que Arthur não ficaria bem após isso. Eu o conhecia muito bem para saber que ele não era tão frio como demonstrava às vezes. Quando chegamos em casa Sophia veio me abraçar e foi comigo até o quarto.

– Está bem, Lua? Tem certeza?
– Só preciso de um banho, Shopia. Mas estou bem.
– O estômago melhorou? Micael falou que…
– Não. Ainda está revirando um pouco.
– Tome um banho. Enquanto isso faço um chá pra você.
– Obrigada.

Não iria ter paciência para esperar que a banheira enchesse. Entrei sob a ducha e fechei meus olhos quando a água morna deslizou sobre minha pele. Em certo momentos aquele cheiro ainda penetrava meu organismo. Parecia que estava impregnado em toda a parte. Suspirei. Por mais que eu tentasse… jamais iria descobrir o que se passava na mente do Pedro. Realmente ele não estava bem da cabeça. Somente alguém muito doente poderia ter feito e dito tudo o que disse a Arthur e pensar que teria uma morte rápida e indolor. O pior de tudo é que vi em seus olhos que ele realmente não fazia ideia de que ele seria queimado vivo.

Estremeci ao me lembrar disso. Até então eu tinha evitado falar essas palavras: queimado vivo. Soava cruel demais e eu não queria vinculá-la a Arthur. Entretanto, eu sabia que ele não merecia perdão. Corri até o vaso e vomitei novamente ao me lembrar das palavras dele: prometida a Dom Matteo. Que nojo. Quando sai do banho Sophia já me esperava com o chá.

– Beba tudo.
– Obrigada, Sophia.
– Lua, por favor, se cuide. Não pode passar por essas coisas nessa fase em que está. Micael me falou como… como foi feita a coisa. Você só pode estar maluca.
– Para ser sincera, Sophia… eu não esperava que fosse desse jeito.
– Você me surpreende, Lua. Depois de tudo o que ele fez a vocês e principalmente ao Arthur… acha que ele teria uma morte rápida? Pelo amor de Deus… Arthur não é homem para brincadeiras e você melhor que ninguém sabe disso.
– Sim, eu sei. Você acha que ele demora a chegar?
– Creio que não. Micael ligou para o Chay e ele disse que estava tudo acabado. Estavam apenas… ajeitando as coisas. Geralmente Arthur não fica…
– Então vou esperar por ele.
– Descanse, Lua. Por favor… ou vai enfurecê-lo ainda mais.
– Eu farei isso, fique tranquila.

Sophia me deu um beijo no rosto e saiu fechando a porta. Meu estômago já estava mais calmo, o que foi um alívio. Ajeitei os travesseiros junto à cabeceira da cama e recostei meu corpo, fechando meus olhos. A vida desregrada do meu irmão chegou ao fim. No entanto ainda tínhamos pendências, lacunas em minha vida que nem sei se seriam preenchidas. Minha curiosidade agora era saber se minha mãe estava realmente viva. Era tudo fantasioso demais e eu tinha medo de me desiludir. Sem contar que era muito louca essa situação. A ex-companheira do meu marido… minha tia. Não sei se queria conviver com Pérola. Estar perto de mulheres que eu sabiam que estiveram na cama dele… sinceramente não fazia parte do meu enredo. Minhas pernas não me obedeceram quando ouvi o motor do volvo estacionando no jardim. Eu queria ir até a sacada apenas para ver como estava a expressão de Arthur. Como não consegui, contentei-me em esperar até que ele subisse. Demorou pelo menos uns quinze minutos até a porta ser aberta. Seus olhos cravaram-se nos meus. Seu rosto demonstrava cansaço, irritação… e alguma coisa que não consegui decifrar.

Sentou-se ao meu lado na cama e continuou me olhando.

– Está se sentindo bem?
– Sim. Colocou a mão sobre o meu ventre.
– Os bebês?
– Não estou sentindo nada, Arthur. Nada de anormal.
– Ótimo. – Ele se levantou retirando o blazer e a camisa. – Durma um pouco. Está precisando. – Entrou no banheiro e logo em seguida ouvi o som da ducha.

Eu não queria dormir. Queria me aninhar no peito dele e ali ficar, mesmo que em silêncio. Não tinha jeito… eu só ficava bem quando estava com ele. Pouco depois saiu do banho, vestindo o roupão preto. Seu cabelo ainda respingava e a imagem era simplesmente perfeita. Pensei que ele fosse se deitar, mas ele saiu do quarto sem dizer uma única palavra. Esperei… esperei… e nada de Arthur voltar.

Levantei-me e fui atrás dele. Encontrei Sophia na sala, com Micael deitado em seu colo.

– Você viu Arthur?
– Desde a hora que chegou não desceu mais. E eu não sai daqui.
– Estranho…

Girei e subi as escadas novamente. Não estava na biblioteca e nem no escritório. Percorri os quartos até encontrá-lo num dos quartos de hóspedes. Estava deitado ainda com o roupão, os braços sobre os olhos.

– Arthur? – Como não obtive resposta fui até ele e me sentei ao seu lado.
– Por que está aqui e não em nossa cama?
– Quero ficar sozinho.
– E por que? Eu não quero ficar sozinha.
– Eu não quero… que você se deite ao lado de alguém como eu. – Segurei seus braços com firmeza e puxei, revelando seu rosto.
– Alguém como você? Como assim?
– Lua… eu acabei de matar uma pessoa… acha que iria tocar… deitar-me ao seu lado? Você não me vê como… sujo?
– Não. – Respondi simplesmente. Arthur permaneceu deitado, os olhos fixos em mim.
– Eu sou cruel demais, Lua. Será que não vê isso?
– Você não é cruel. Agiu com crueldade, admito. Mas nem sempre é assim. E sabemos que ele mereceu. E além do mais, Arthur… eu já sabia desse seu lado quando me apaixonei por você.

Rapidamente ele me puxou para os seus braços. Deitei minha cabeça em seu peito ouvindo o martelar do seu coração.

– Eu preciso amar você, Lua. Mas não acho justo… depois do que fiz.
– Não acha justo por que? Por que era meu irmão ou por que está se sentindo mal com a situação?
– Já falei… estou me sentindo sujo.
– Mas eu não penso assim. A única coisa que quero é meu marido ao meu lado… na nossa cama. – Levantei-me segurando-o pela mão.
– Venha… acho que alguém precisa de um cafuné.

Ele sorriu. Aquele sorriso que eu amava e que me deixava tonta. Caminhamos até nosso quarto e fomos direto para a cama. Desamarrei seu roupão e inconscientemente lambi meus lábios ao ver toda a beleza e perfeição apenas com a boxer branca. Será que Arthur tinha noção do quanto ele ficava gostoso vestido com ela? Deslizei minhas mãos desde seu tórax até suas coxas musculosas, que apertei levemente.

– Arthur… amor… – Ele me encarou, seu olhar quase se fechando, demonstrando o que seu corpo já havia denunciado: seu desejo por mim. – Eu não quero que fique pensando nisso. Acabou. E pare com isso de não querer me tocar por se sentir sujo. Eu não o vejo assim.
– Mas eu me sinto assim. Não por ele ou por mim, mas por você… por nossos filhos. Não quero que me vejam como um brucutu cruel e insensível, embora eu seja realmente assim.
– Não… – Sentei sobre seus quadris e inclinei meu corpo até roçar sua boca com a minha.
– Você não é. Pra mim você é lindo, perfeito… e eu amo demais. Arthur me apertou forte e devorou minha boca. – Beijei-o com sofreguidão, mas me afastei em seguida.
– E antes que eu me esqueça… não se pode fugir de certas coisas, Arthur: Uma vez poderoso… sempre poderoso. – Ele sorriu e falou antes de buscar minha boca novamente.
– Um poderoso que sempre se curva diante de você.

Não consegui dizer nada. Arthur sempre dizia que me amava. E a cada dia, dizia de uma maneira diferente, mas sempre sincera

Continua...

Se leu, comente! Não custa nada.

5 comentários:

  1. Meu Deus em Milly ate arrepiei nesse capítulo viu posta mais ta incrível viu bjs ansiosa para o próximo

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  2. Bem feito pro Pedro!! Arthur sempre surpreendendo as expectativa com suas palavras.

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  3. Uou,que morte dolorosa que Pedro teve,mereceu.O Arthur e suas declarações,ai ai.

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  4. Amei a morte do Pedro 😶🌚
    Essas declarações ♥

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  5. Amei a declaração no final, não vejo a hora dos bebes começarem a mexer, e o Pedro teve a morte que merecia

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