Little Anie - Cap. 74 | Cont.¹ 4ª Parte

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Little Anie | Cont. 4ª Parte

Pov Lua

Eu já estava muito chateada e magoada com Arthur. E ele ainda sai dizendo essas coisas? A vontade que tive foi de jogar aquele livro no rosto dele – embora tivesse a consciência de que seria a pura atitude idiota –, mas acabei jogando o mesmo na porta que ele tinha acabado de fechar. Eu queria gritar, chorar, gritar e gritar. Estava começando a achar que tinha voltado a ser uma adolescente sensível e dramática, mas a verdade era que eu estava me achando sensível demais mesmo.

Achei que ele abriria a porta, porém, não foi isso que aconteceu. Ele acabou indo para o compromisso que tinha, me deixando sozinha outra vez. Talvez eu estivesse muito mal-acostumada. Arthur sempre fora muito cuidadoso e atencioso, acabando por me acostumar com seus cuidados e carinhos excessivos – o que no momento era um problema –. Agora eu podia assegurar claramente isso. Eu não conseguiria mais viver sem suas infinitas formas de me demonstrar amor. E embora eu estivesse com raiva dele, eu não poderia negar o quão bem ele me faz.

Me joguei na cama, abraçando o travesseiro de Arthur, me permitindo chorar mais uma vez. As lágrimas desciam lentamente molhando o travesseiro, e eu resolvi não me importar com isso. Eu queria chorar, era como se algo estivesse engasgado em minha garganta. Eu não sabia como as coisas iriam ficar quando ele chegasse em casa, mais tarde. Se íamos conversar e nos acertar. Ou íamos continuar nos provocando dessa forma nada amigável.

Logo a porta do quarto foi aberta, e eu nem precisava perguntar quem era. Anie caminhou devagar até o outro lado da cama e subiu. Me encarou por alguns segundos em silêncio e depois sorriu sem mostrar os dentes, me abraçando logo em seguida.

– Bom dia, mamãe. – Falou.
– Bom dia, denguinho... – Murmurei beijando sua bochecha. – Você dormiu bem? – Embora as lágrimas ainda estivessem descendo. Eu fazia uma esforço para que minha voz não saísse tão embargada quanto eu sabia que estava.
– Dormi, mamãe. – Respondeu beijando minha bochecha. – Por que você tá cholando, mamãe? – Perguntou logo depois.
– Por nada...
– A gente não chola por nada.
– Às vezes sim. – Comentei.
– Nããão... A senhola tá tliste desde de noite. – Lembrou. – Cadê meu papai?
– Ele saiu, filha. – Respondi.
– Ele volta? – Soltou um pouco assustada a pergunta. Franzi o cenho por alguns segundos.
– Claro que volta, Anie. – Passei as mãos pelo rosto, na tentativa de secar as lágrimas.
– Por que ele saiu?
– Ele tinha uma reunião de trabalho, filha.
– Hoje?
– Sim.
– No dia da minha dança? Ele não vai me ver, mamãe? – Perguntou um pouco triste.
– Ele vai sim, Anie. Seu pai não irá demorar, ainda é cedo. Sua apresentação será só anoite. – Expliquei.
– De verdade?
– Sim, filha. De verdade. – Garanti. – Aah... e eu preciso lhe dizer uma coisinha. Acho que ficará chateada com a mamãe. – Comecei.
– O que foi, mamãe?
– Lembra que a mamãe ficou de ligar para convidar o tio Harry, a tia Soph, o tio Mika e seus avós para a sua apresentação hoje? – Perguntei e a garotinha assentiu. – Então, nessa correria... a mamãe acabou esquecendo. – Mordi os lábios meio triste ao ver a reação de Anie. Ela me olhou chateada.
– Por que? Agola ninguém vai me ver? – Perguntou.
– A gente podia ligar agora... Talvez ainda dê tempo, não acha? Eu já dei o nomes deles lá na entrada. Se eles forem, não haverá problemas. – Finalizei.
– Dá tempo? – Me perguntou. Assenti e seus olhinhos brilharam. – Então liga logo, mamãe.
– Ok. Vou pegar o celular... Desculpa a mamãe tá? – Pedi.
– Tá, mamãe. Eu desculpo. – Sorriu ao jogar os bracinhos em volta do meu pescoço.

Puxei Anie para meu colo e peguei o meu celular que eu havia deixado em cima da cômoda.

– Para quem você quer que eu ligue primeiro? – Perguntei.
– Eu posso falar com eles?
– Quer você mesma, convidá-los? – Perguntei sorrindo.
– É mamãe.
– Ok.
– Liga para o meu titio, Harry. – Respondeu.
– Acho que ele não atenderá no momento, filha.
– Por que não?
– Lembra da reunião que seu pai foi? Seu tio também está lá. – Expliquei discando o número da minha irmã. – Vamos ligar primeiro para a tia, Soph. Tudo bem?
– Tá bom então... – Anie concordou. – Mas depois liga para o meu titio, tá? Quelo que ele vá.
– Aham... – Concordei.

Liguei para Sophia, e já estava quase desistindo quando no quinto toque, ela atendeu. Sua voz estava rouca. E eu podia apostar que ela estava dormindo – e que iria querer me matar duas vezes. Primeiro, porque a acordei e segundo, logo ficarão sabendo.

Ligação ON

– Bom dia, sua dorminhoca. – Brinquei.
– Bom dia é uma pinoia. Você está em perigo? Tem uma bomba prestes a explodir aí? Ou algo do tipo? Lua, eu estava dormindo. Dor-min-do! – Quase gritou.
– Aff’ que educação, hein? Liguei porque Anie quer falar com você. Você é uma péssima tia, Sophia. – Reclamei em tom de brincadeira. Sabia que isso a irritava.
– Sou a melhor tia do mundo. Eu trabalhei a noite toda, querida. Estou morta de casada e grávida. Você sabe o que é ficar com ânsia a noite toda? Eu sei que você sabe.
– Eu sei, Sophia... que dramática.
– Olha quem fala!
– Micael te cansou muito? – Perguntei meio baixo, porque Anie estava ao meu lado. Sophia soltou uma gargalhada alta.
– Antes fosse... Eu nem estaria reclamando. Meu marido não está dando uma dentro. Pois é, nem nesse sentindo que sua mente perversa deve estar pensando. E olha que a culpa nem é minha. Ele está mais enjoado que eu, que as vezes tenho que me controlar para não jogar algo que quebre, na cabeça dele. – Comecei a rir do jeito que Sophia estava desabafando. Ela me fazia rir de qualquer bobagem. Já ouviram por aí que: rir da desgraça alheia é bom? Pois então... – Não é para rir, Lua! – Exclamou.
– É quase impossível, Soph. – Ela bufou do outro lado da linha. “Quelo falar com a minha titia, mãe.” Anie falou. – Só espera um pouquinho, filha.
– Aaai que amor da titia. O que ela quer falar comigo, Luh?
– É assunto dela. – Deixei claro, fazendo Sophia bufar outra vez. – Micael não está aí né?
– Não. Ele saiu. Odiei que saiu, hoje é minha folga. – Reclamou outra vez. – Às vezes acho que ele está fugindo de mim. – Comentou me fazendo rir outra vez.
– Deixa de bobagem. Você não é flor que se cheire, Soph.
– Ai, que mentirosa. Nossa! Está defendendo ele e não a mim? Bela irmã você é.
– Não estou defendendo ninguém, que fique bem claro. Só estou comentando. – Me defendi.
– Ata... sei... – “Mamãe!” Anie chamou outra vez.
– Ai meu Deus! Soph, pode falar com a Anie. – Disse e coloquei a ligação no viva voz.
– Oi, minha linda. – Minha irmã disse e Anie abriu um sorriso.
– Oi, dinda... – A pequena respondeu tomando benção logo em seguida.
– Eu estou com saudades de você, pequena. A gente nunca mais se viu... – Soph lamentou.
– Só faz quase duas semanas, Sophia. – Me intrometi.
– Não se meta, Luh. Estou falando com a minha afilhada linda.
– A única que você tem... – Comentei distraidamente.
– Isso não vem ao caso. Shiu!
– Titia! – Anie chamou a atenção da mesma.
– Oi, meu amor. Pode falar que a titia está escutando tudo.
– Eu quelo... – Pude ouvir o “Aawn” que Sophia deixou escapar. – Como é que diz, mamãe? – Me perguntou.
– Convidar? Meu amor... – Lhe disse, e a pequena concordou.
– É, mamãe. Titia?
– Oi. – O tom de voz de Sophia era divertido.
– Eu quelo con... condar... é assim, mamãe?
– Quase assim. – Lhe dei um beijo na bochecha. – Mas acho que a sua tia entendeu. Né, Soph?
– Entendi sim. Você quer me convidar para que, amor?
– Para a minha dança! – Anie exclamou contente. Sophia deu uma risada.
– Sua dança?
– É, titia. Eu vou dançar, e quelo que a senhola vá com o meu tio Mika. – Anie lhe respondeu.
– Uhum... E quando será sua dança?
– Hoje. – Anie respondeu óbvia.
– Hoje? – Sophia perguntou um pouco espantada.
– É... Minha mamãe esqueceu de condar a senhola e todo mundo. – Comentou meio triste e eu a abracei por trás, lhe dando um beijo no topo de sua cabeça.
– É, eu realmente esqueci, Soph. – Admitir.
– Diz para a sua mamãe, para ela me convidar uma hora antes, da próxima vez. – Sophia disse irônica.
– Aah, vai se catar, Sophia! – Exclamei.
– A senhola vai, titia?
– Claro que eu vou sim, meu amor. Estou de folga, e dará benzinho para eu ir com o seu tio. Vou avisá-lo quando chegar.
– Obrigada, titia.
– Aaawn, minha linda. Vou te encher de beijos! – Falou e Anie soltou uma gargalhada alta, me fazendo rir junto com Sophia.
– Está marcado para as sete e meia, o início das apresentações, Soph. É na escola de ballet, mesmo. Lá teu um auditório enorme. Te mando o endereço por mensagem, ok? – Falei.
– Ok, Luh. Não precisa de entradas? Sei lá... – Ela riu. – Nunca fui em um recital de ballet. – Finalizou.
– Não. Bom, como eu havia esquecido de avisar vocês antes, eu resolvi dar o nome de vocês mesmo assim. Então logo que chegarem lá, terão que dizer os nomes e eles irão ver na lista. Entendeu?
– Aah, sim. Ok, a gente se vê lá.
– Tá bom. Beijos, Soph.
– Beijos. Anie?
– Oi, dinda.
– Até anoite, linda. Te amo, tá?
– Tá... amo você, titia.
– Aaai que amor... Beijos.
– Beijos, titia. – Anie jogou um beijo fazendo um barulho e Sophia se derreteu toda.

Ligação OF

– Agola a senhola vai ligar para o meu titio, Harry? – Anie perguntou.
– Uhm... que tal ligarmos para a sua vó? Depois ligamos para o Harry, tudo bem? – Sugeri.
– Por quê?
– Porque talvez possa que a reunião ainda não tenha terminado. Ainda é cedo, e ele poderá não atender a ligação.
– Tá bom. Liga para a minha vovó, então. Quelia que ela viesse, mamãe.
– Eu também filha, mas acho que ficará um pouco difícil... quem sabe da próxima, não é? Mas vamos ligar mesmo assim. – Completei.

Chamou umas duas vezes até que minha mãe atendeu. Como eu já havia previsto, ligamos bem em cima da hora e nem ela e meu pai, poderiam vim. Anie ficou meio triste, mas entendeu. Minha mãe fez questão de explicar tudo direitinho. E prometeu que da próxima vez que Anie fosse se apresentar, ela estaria presente. Puxou um pouco a minha orelha, e disse: Claro que eu teria que ligar com antecedência. Nos despedimos e Anie me encarou ansiosa. Ela queria muito falar com Harry.

– E agola, mamãe?
– E agora? – Repeti sua pergunta em um divertido.
– Liga para o meu titio, mãe. Quelo condar ele. – Me disse.
– Convidar, meu anjo. É con-vi-dar. – Falei lentamente.
– Con... – Começou.
– Con-vi-dar.
– Con... convidar! – Exclamou batendo palmas.
– Isso, meu amor. Agora está certo. – Sorri lhe dando um beijo na testa.
– Liga para o meu titio.
– Ok. Já vou ligar... Só não sei se ele já saiu da reunião.
– Tá bom, mamãe.

Anie encostou a cabeça em meu peito, e eu disquei o número de Harry no celular. Logo no segundo toque, ele atendeu.

Ligação ON

– Luh?
– Oi, Harry. – Respondi.
– Tudo bem?
– Tudo certo. E com você?
– Eu estou ótimo. – Contou.
– Que bom. Você está muito ocupado?
– Não. A reunião acabou há alguns minutos. Mas ainda estamos aqui conversando. – Respondeu. – Aconteceu alguma coisa?
– Não. Na verdade, a Anie é quem quer falar com você.
– A é? E o que essa linda quer?
– Bom, ela mesma irá falar. – Ri baixo.
– Estou aguardando.
– Vou colocar no viva voz... Daí vocês se falam... – Anie pegou o celular da minha mão, após eu colocar o mesmo em sua frente.
– Oi, titio. – Sua voz era estridente.
– Oi, minha linda. Tudo bem? – A voz que Harry usava para falar com Anie era hilária.
– Tudo, titio. E com você? Eu tô com saudades. – Confessou.
– Eu estou bem também, amor. E eu também estou morrendo de saudades de você. Mas agora fica até difícil da gente se encontrar, já que a senhorita se tornou uma garotinha muito turista. – Ele riu. Anie o seguiu.
– Não, titio. – A pequena jogou a cabeça para trás, rindo ainda mais alto. – Eu só fui ver minha vovó...
– Você tem muitos avós, pequena.
– Não. Só tenho três. – Ela fez um gesto com os três dedos, como se Harry pudesse vê-la. – Falta o papai do meu papai, mas eu não conheço ele também... – Disse. O que me deixou bem surpresa, já que nunca falamos desse assunto com Anie.
– Que tal você contar logo para o seu tio, o que pretende, hein? – Sugeri. Não querendo que aquele assunto se estendesse.
– Tá bom, mamãe. Vou condar, ele...
– Condar? – Harry riu.
– É convidar, Harry. – Esclarecei e ele riu baixo. Fazendo Anie revirar os olhos.
– Aaah... – Murmurou.
– Entendeu, titio? – Perguntou em um tom irônico, me fazendo segurar o riso. Harry talvez tenha notado.
– Entendi sim, meu amor... Desculpa. – Pediu.
– Eu quelo que você vá me ver dançar...
– Você vai dançar? Onde?
– Vou. Vai ser lá na minha escolinha. – Respondeu.
– Na sua escola?
– De ballet, Harry. – Falei.
– Aaah...
– Você não sabe de nada, tio! – Anie reclamou revoltada. Nos fazendo rir.
– Desculpa, esqueci que você já cresceu o bastante e agora já até faz ballet. – Explicou.
– É, e eu vou dançar.
– E quando vai ser isso?
– Hoje!
– Hoje? – A reação dele foi quase igual a da Sophia.
– É.
– Uhm...
– Você vai, titio?
– Claro que vou, meu amor. Não perderia por nada. Ainda mais com você fazendo questão da minha presença. – Brincou.
– Deixa de ser convencido. – Me intrometi.
– Eu posso! – Ele se gabou.
– Está marcado para as sete e meia. Vai ser na escola mesmo. Vou mandar o endereço por mensagem, tudo bem?
– Tudo sim, Luh.
– E ah, caso você chegue lá e a gente já tenha entrado, você precisa dar seu nome na entrada. Eu tinha que falar ao certo quantas pessoas iam, da parte de Anie. E como eu ainda não tinha avisado ninguém, eu dei os nomes mesmo assim.
– Ok, Luh... Sem problemas. A gente se encontra lá.
– E meu papai? Ele tá aí? – Anie perguntou um pouco alto.
– Está sim, pequena. Quer falar com ele?
– Não. Ele não vem para casa, não? – Perguntou outra vez.
– Anie! – Lhe chamei a atenção. Harry riu.
– Olha, eu acho que ele irá daqui a pouco. – Comentou. – ARTHUR? – Ele gritou. – ANIE ESTÁ PERGUNTANDO SE VOCÊ NÃO VAI PARA CASA. – Disse. A voz pareceu meio longe, mas Harry estava gritando. Ouvimos apenas a risada de Arthur ao fundo, seguido de algumas palavras que não consegui entender. – GAY! – Harry gritou. – Ele não está entendendo que estou falando com vocês, Luh. – Explicou.
– Vou desligar, Harry. – Avisei.
– Não. Calma aí, Luh. Está tudo bem mesmo? Não está chateada por causa de ontem? – Perguntou. Franzi o cenho e tirei a ligação do viva voz.
– Por causa de ontem? – Indaguei. “Será que Arthur tinha comentando alguma coisa com Harry?” Me perguntei.
– Sim, a saideira e tals... – Esclareceu.
– Por que eu ficaria chateada com você por causa disso? – Perguntei sem entender a que ponto Harry queria chegar com esse assunto. Até onde eu sei, meu marido é o Arthur. E não ele.
– Sei lá, Luh... Você tá estranha. E além do mais, a pergunta não se referia só a mim. – Acrescentou.
– Arthur comentou alguma coisa com você? – Perguntei.
– Ele deveria?
– Harry, Harry... Sou muito melhor em interrogações que você. – Deixei claro. – E Arthur sabe como eu estou em relação a saideira e tals. – Frisei a última parte. – Não é algo que eu precise discuti com você também. – Finalizei. Ele riu.
– Você está brava? – Agora foi a minha vez de rir.
– Não custa nada lembrar que vocês dois foram irresponsáveis ontem.
– Irresponsáveis?
– Sim. Arthur chegou completamente bêbado aqui, e você provavelmente não estava tão diferente dele assim. – O lembrei.
– Aaah... isso...
– Aaah... sim, isso.
– Não estávamos tão bêbados assim, Luh. Você está exagerando. – Me disse.
– Não estou, e vocês sabem muito bem. Mas como eu já disse, não é algo que eu precise discutir com você. Preciso desligar agora.
– Lua?
– Lua nada, Harry. Eu estou de boa.
– Imagine se não tivesse.
– Não me tire do sério, já basta o Arthur. E ele é muito bom nisso.
– Ok, já entendi. Ele está bem com uma cara de cu, aqui mesmo. – Brincou.
– Não sei nem o porquê disso. Tchau, Harry. – Me despedi. “TCHAU, TITIO.” Anie gritou. O fazendo rir.
– Tchau, minha linda. Tchau, Luh... até à noite.
– Até... – Desliguei a ligação.

Ligação OF

Não sei qual foi a graça que Arthur disse a Harry na hora da ligação. A verdade era que isso não me importava nem um pouco. Deixei o celular sobre a cômoda novamente. E Anie me olhou.

– Vamos comer alguma coisa? A senhorita ainda não tomou café. E isso já é quase onze horas. – Falei me levantando da cama. Anie ficou em pé no colchão e ergueu os braços para que eu a carregasse.
– Tem que tomar banhinho? Tô com flio, mamãe. – Me disse.
– Não, não precisa. Está bem frio mesmo, meu amor. – Falei pegando-a no colo. – Mas vamos escovar os dentes, eu ajudo você. – Beijei sua bochecha.
– Quelo ficar de pijama. – Avisou.
– Ok. Ok. Pode ficar de pijama. – Concordei.

Caminhamos para o quarto dela, e fomos até o banheiro. Lhe ajudei a escovar os dentes. E depois prendi os cabelos da pequena em um rabo de cavalo. Saímos do quarto e descemos a escada. Anie ainda estava em meu colo.

– Uuuhm... A dorminhoca acordou. – Carla brincou.
– Eu não tava dormindo. – Anie respondeu encostando a cabeça em meu ombro.
– Não?
– Não. Eu tava falando no celular.
– A é? E com quem? Posso saber? – Carla lhe perguntou divertida.
– Com a minha tia, Soph. Minha vovó, Emma e meu tio, Harry. – Respondeu. Sorri colocando-a sentada sobre o balcão da cozinha.
– Você estava convidando eles?
– Foi. Minha mamãe tinha esquecido.
– Oow, linda... – Carla lamentou.
– Quelo chocolate quente, Carla. – Anie pediu.
– Ok, pequena. Vou fazer para você.
– Na mamadeila. – Acrescentou.
– Na mamadeira, ok. – Carla repetiu, me fazendo rir. Logo Carol chegou na cozinha com Mel. Ambas com duas sacolas nas mãos.
– Bom dia. – Mel disse colocando as duas sacolas sobre a mesa da cozinha. Carol fez o mesmo.
– Bom dia. Aonde vocês foram? – Perguntei tirando Anie da bancada e colocando-a no chão.
– Carol foi comprar algumas coisas e eu resolvi acompanha-la. – Mel me respondeu.
– Oi, tia.
– Oi, meu amor. Tudo bem? – Mel a abraçou e deu um beijo na testa de Anie.
– Tudo. Mamãe? Vou assistir desenho, tá?
– Tá bom, filha. Carol? Liga a TV para ela, tá?
– Vou lá...

As duas saíram da cozinha e foram para a sala.

– Acredita que com essa correria, eu acabei esquecendo de avisar Sophia, meus pais e Harry, sobre a apresentação de Anie, hoje?
– Seus pais vem?
– Não. Minha mãe disse que eu avisei muito em cima da hora. Eles não podem deixar a casa sozinha.
– Entendo. Mas e aí, a Soph e o Harry?
– Aah, esses irão. Óbvio que Sophia não perdeu a chance de ressaltar que eu a avisasse da próxima vez, uma hora antes. – Revirei os olhos.
– Imagino. – Mel riu. – E Anie? Está muito ansiosa? – Perguntou.
– De madrugada ela acordou e me disse que estava muito nervosa. Mas hoje, desde que acordou, ainda não me disse nada. Não quero ficar toda hora perguntando, para não deixa-la mais nervosa.
– Não vejo a hora de vê-la hoje, toda linda. – Comentou.
– Confesso que nem eu. – Sorri. – Nunca imaginei que Anie fosse gostar tanto assim, e nem que em tão pouco tempo ela estaria participando de um recital de ballet.
– Arthur vai ficar mais babão hoje, do que já é por essa pequena. – Ela comentou.
– Tudo que Anie faz, Arthur baba... Um fato. – Falei.
– Luh?
– Oi, Carla.
– Vou levar uma fatia de bolo, para a Anie. Fiz de chocolate, que ela tanto gosta.
– Pode levar, Carla.
– Você já escolheu a roupa que vestirá? Se não estiver tão frio até à noite, irei de vestido. – Contou.
– Sim. Irei de vestido também. Comprei ele anteontem. Espero que o tempo melhore. Porque não pretendo escolher outra roupa.

Pov Arthur

A reunião demorou pouco mais de uma hora, mas revolvemos ficar batendo um papo. Até Harry começar a relembrar a saída de ontem à noite junto com Chay. Sim, eu não tinha falado nada sobre ele ter ido com a gente, mas ele foi.

– Arthur bebeu todas e um pouco mais... – Ele riu. John me encarou como um pai encara o filho, repreendendo-o silenciosamente.
– Foram só duas garrafas, Harry. Não invente. – Retruquei.
– De whisky puro! – Ele exclamou. – E você tomou sozinho. – Revirei os olhos.
– E você não ficou só me olhando. – Lhe disse.
– Chay também bebeu.
– Óbvio. Se fosse para não fazer nada, eu nem tinha saído de casa. – Retrucou ele, levantando-se e indo até o pequeno freezer que ficava ali, tirando de lá, uma garrafinha de água. – Amanheci com dor de cabeça.
– Fomos dois então... – Comentei.
– Vocês precisam fazer isso mais vezes. Estão ficando frouxos.
– E você um alcoólatra, só pode. – Falei.
– Nem vem dar uma de santo, Arthur. Você adora beber água que passarinho não bebe. Só depois que Anie nasceu, que você mudou, um pouco. – Frisou.
– Tenho que dar exemplo. Você acha que eu estou errado? – Perguntei. – Você está chato, Harry. Eu hein, vou embora. – Me levantei.
– Nããããoo! – Ele exclamou. – Não vai ainda. Você nem sabe mais brincar. – Disse.
– Alguém tem remédio para dor de cabeça. – Perguntei. Minha cabeça latejava. Que saco!
– Não somos farmácia, Arthur. – Mika riu, sem tirar os olhos da tela do celular.
– Sexo é bom, Arthur. Melhor remédio. – Harry falou colocando as pernas sobre a mesa.
– Tá se oferecendo é? Não curto homens, amigo! Pau eu já tenho um. – Falei e o olhei cinicamente.
– Ridículo. Nojento. – Ele me disse.
– Você quem começou.

Logo o celular dele começou a tocar. Era Lua, pelo que percebi. Harry se afastou um pouco, já que John, Nick, Léo e Chay não pararam de falar. Alguns minutos depois, ele gritou algo para mim, mas eu estava entretido demais na conversa com os caras, que acabei não entendendo o que ele falava. Até Chay jogar um beijo para Nick – ele trabalhava conosco há uns dois anos. Era gay –. E eu acabei gritando um "ELE QUER SENTAR NO SEU COLO" e apontei de Nick para Harry, fazendo um gesto obsceno. O que fez ele gritar um estridente "GAY". Nick é gente boa, e sempre leva na brincadeira nossas graças. Ele também não perde a chance de zoar alguém.

Confesso que quando cheguei, minha cara era de poucos amigos. Eu estava chateado comigo mesmo, por ter falado aquelas coisas para Lua. Embora ela tivesse me irritado bastante com aquele joguinho de que eu fiz algo, mas prefere não dizer, já que eu não me recordo. No fundo sei que também tem alguma coisa a ver com a minha saída de ontem à noite. Lua nunca foi de tentar me impedir de sair – sem ela – ou coisa do tipo. Assim como eu não me intrometo quando ela resolve sair com as amigas. Essas saídas dela são bem raras, e acho que ficarão mais raras ainda com Mel e Soph grávidas. Não é porque somos casados, que temos que ir sempre a todos os lugares juntos. Temos algumas vontades que as vezes um ou outro não curte. Até porque, na maioria das vezes que saímos, ela sempre vence na hora de decidir quem voltará dirigindo – a verdade é que ela mesmo diz que eu voltarei dirigindo e pronto, sem mais discussão –, e eu tenho que me contentar em beber apenas uma ou duas bebidas.

Agora eu estou mais relaxado em relação a esse assunto. Se Lua não quiser falar, que não fale. Estou tão sem saco até para arrumar brigas com ela de novo. Mas hora ou outra teremos que conversar, já que saí de casa piorando mais a situação, depois de falar aquelas coisas. Eu ainda estou com uma puta dor de cabeça. Meu Deus! Preciso urgente de mais um remédio. Tenho que encontrar uma farmácia no caminho de volta para casa. Respirei fundo e me levantei do sofá. Mika já tinha ido. Sophia não parava de ligar para ele.

– Não esqueçam que amanhã escolheram as músicas. Será um longo dia. Peço que não encham a cara como fizeram ontem. – John nos comunicou e Harry revirou os olhos diante do final da frase.
– Mais alguma coisa? – Ironizou.
– Se fizerem isso, estará de bom tamanho. – Ele sabia ser bem ríspido.
– Eu tinha uma viagem amanhã, John. – Disse.
– Tinha, Arthur... tinha... – Repetiu.
– Se bem que eu nem sei se Lua ainda irá querer ir. – Comentei colocando as mãos no bolso da calça.
Sinto que não... – Harry cantarolou indo até a porta. – A propósito, porque não me disse nada sobre a apresentação de Anie? – Indagou.
– De qualquer forma, a gente se vê amanhã. Tchau... – Me despedir.
– Tchau, Arthur... Mande um beijo para a Luh e outro para a Anie. – John quase riu. Óbvio que ele também desconfiava que as coisas entre nós não estavam legais.
– Claro. – Sorri sem mostrar os dentes.

Encontramos Nick e Léo no corredor e nos despedimos deles também. E Harry voltou a me lembrar da pergunta que havia me feito minutos atrás.

– E então... Você nem me disse nada. – Falou.
– Lua ficou de te ligar. – Respondi.
– Eu falei com ela mais cedo.
– Então por que está me questionando? – Ergui uma sobrancelha ao encará-lo.
– Não estou questionando. Só estou perguntando. – Retrucou e entramos no elevador em silêncio. – Ele está zangada? – Perguntou depois de um tempo.
– Ela quem?
– A Lua, seu lerdo. – Esclareceu.
– Ah, sei lá... Mulheres, né?! – Falei distraidamente. Não queria falar sobre minha discussão com Lua, para ele. Embora Harry fosse meu grande amigo. – Ela foi grossa com você? – Quase rir.
– Não grossa... grossaaaa... Ela foi, econômica. – Explicou. Talvez ele tivesse percebido e revolveu não insistir. – Nem quis falar direito comigo. – Completou. – Você não entendeu quando eu falei com você àquela hora?
– Que hora? Você não fica calado nunca, assim é difícil.
Idiota! Àquela hora que eu gritei e você fez aquele gesto nojento. – Comecei a rir alto. Harry bufou.
– Eu não entendi o que você disse...
– Imaginei... Era Anie quem estava perguntando por você. Perguntou se você não ia voltar logo para casa. – Ele riu. – Autoritária. – Pontuou.
– Nem imagino para quem ela puxou. – Ironizei.
– Difícil de saber mesmo. – Harry riu. – A gente se vê à noite então...
– Aham... até lá... – Nos despedimos quando chegamos ao estacionamento da gravadora.

Entrei no carro, e encostei a cabeça no volante. Minha vontade era de bater a testa ali, tamanha era a dor de cabeça. Saí do estacionamento e dirigi até uma farmácia. Comprei uma pílula para ver se a dor passava. Eu já tinha tomado uma antes de sair de casa, e de nada adiantou. Como estava perto da hora do almoço, o trânsito começava a ficar lento. E isso só contribuía para a minha dor de cabeça aumentar.

Demorei quase quarenta e cinco minutos para chegar em casa. E quando abri a porta, o som de uma risada alta e contagiante, encheu o local. Era Anie. Fechei a porta e caminhei até a sala. Ela estava deitada no sofá e assistia pica-pau. Estava sozinha e ainda de pijama. Hoje realmente o dia estava frio.

– Búúúú... – Murmurei abraçando-a desajeitadamente, uma vez que ela estava deitada. E Anie soltou o gritinho estridente, me fazendo rir junto com ela. – Ainda de pijama, pequena? – Lhe dei um beijo na testa.
– Eu me inspantei... – Disse dando-me um beijo na bochecha. – Tô com flio. – Respondeu.
– Você se espantou? – Perguntei calmamente a última palavra e Anie assentiu. – Realmente está fazendo frio mesmo, meu amor.
– É... o senhor quer assistir desenho comigo? – Perguntou baixo, apontando para a TV.
– Uhm... – Cheirei seu pescoço, fazendo-a se encolher e rir. – Eu vou tomar um banho, estou com uma dor de cabeça bem chata, filha. – Expliquei. – Depois você pode ir lá no quarto e a gente assiste desenho lá, tudo bem?
– Tá doendo muito, papai?
– Já tomei remédio, não se preocupe. – Assegurei e Anie me deu outro beijo na bochecha.
– Tá bom...
– Anie? – Ouvi a voz de Lua. – Acon... – Ela parou me olhando. – Achei que tinha acontecido alguma coisa. – Disse. – Ouvi um grito.
– Nada de mais... – Respondi.
– Meu papai me inspantou... Mamãe? Ele tá dodói. – Contou.
– Você já quer almoçar? – Lua ignorou completamente o comentário de Anie referente a mim.
– Não. Eu vou assistir desenho com o meu papai depois. Não é, papai?
– Aham... – Murmurei.
– Mas você sabe que tem que almoçar.
– Não tô com fome. Tomei chocolate. – A garota disse.
– Chocolate não é almoço, Anie.
– Mesmo assim...
– Depois a gente conversa... – Lua me interrompeu.
– Não quero conversar com você. – Disse seca.
Filha. – Completei frisando a palavra. – Eu estou falando com Anie, Lua. – Deixei claro. Ela revirou os olhos.

No fundo era engraçado ver o quanto Lua ficava irritada quando Anie resolvia contraria-la. Ainda mais quando eu estava competindo com as coisas que Lua propunha.

Subi os degraus e chegando ao quarto, tirei os sapatos de qualquer jeito. Empurrando-os para o closet. Tirei a roupa e joguei no cesto onde ficava as roupas sujas. Entrei no banheiro e tentei relaxar quando a água começou a cair em minha cabeça, descendo em seguida pelo o meu corpo.

Quando terminei de tomar banho e saí do banheiro, Anie já estava no quarto e mexia em meu celular, que eu tinha deixado sobre a cama. Eu estava com uma toalha presa na cintura e segurava outra nas mãos para enxugar os cabelos. Andei até a pequena e ela me encarou sorrindo sem mostrar os dentes ao ser pega no flagra.

– O que você está mexendo aí, hein mocinha? – Perguntei.
– Nada. Eu não consegui mexer. – Ela me entregou o celular. A tela estava bloqueada e Anie ainda não sabia como se desbloqueava. Era melhor assim. – O que você quer mexer aqui?
– Joguinho, papai. – Respondeu. Desbloqueei a tela, e coloquei em um jogo. O único que tinha. Já que eu não perdia meu tempo com isso, e só vim saber dele porque Anie inventou de fururucar, meu celular há um tempo atrás.
– Aqui. E não mexa em outra coisa. – Avisei lhe entregando o aparelho. Ela sorriu e assentiu, se jogando na cama com o celular nas mãos. Agora podia apostar que não tinha mais criança em casa.

Caminhei para o closet, e procurei por uma boxer e uma bermuda. Me vesti e passei as mãos pelos cabelos, na intenção de arruma-los. O que não adiantou muito, mas eu não ia sair mesmo. Isso pouco importava. Voltei para o quarto e coloquei a toalha no cabide. Lua odiava quando eu a jogava em qualquer lugar.
Porque as mulheres se incomodam tanto com isso?

– E aí, você tá ganhando? – Cutuquei-a assim que me deitei na cama, perto da pequena.
– É... eu tô. – Respondeu sem tirar os olhos da tela do celular.
– A gente não ia assistir desenho?
– Eu tô jogando. – Me disse.
– Ok, então... Sendo assim, vou dormir um pouco.
– Tááá... – Anie não deu a mínima.

Nem preciso dizer que ela respondia sem me olhar, né? Me virei para o outro lado da cama – o de Lua –, já que Anie estava esparramada no meu lado da cama. Puxei o travesseiro para colocá-lo embaixo da minha cabeça, e fechei os olhos. Aquele remédio dava sono.

Pov Lua

Já ia dar uma hora da tarde e nada de Arthur e Anie saírem do quarto. E eu não ouvia nem um sinal de risada ou de outro barulho vindo do andar de cima. Eu já tinha almoçado com Mel. Estávamos morrendo de fome para esperar a boa vontade daqueles dois. Que quando estavam juntos, ignoravam a existência de todo mundo. E isso nem é ciúme, é um fato!

Anie já tinha passado da hora de almoçar há muito tempo. Ela não podia passar o dia só com uma mamadeira de chocolate quente e uma fatia de bolo. Subi a escada e abri a porta do quarto. Anie estava deitada de bruços na cama, com as pernas balançando de um lado para o outro no ar. E provavelmente, mexendo no celular do pai, já que estava quieta demais. Já Arthur, estava dormindo de bruços no meu lado da cama.

– Filha? – Chamei baixo e Anie virou o rosto para me olhar. – Vem almoçar. Já passou da hora. Fiquei esperando vocês descerem. – Falei.
– Meu papai dormiu. – Ela apontou para ele.
– Ele sabe que você está mexendo no celular dele? – Perguntei.
– Sabe, mamãe. Ele que me deu. – Disse.
– Aaah... – Murmurei. Claro que ele tinha dado. O que Anie não pedia chorando, que ele não fazia sorrindo? – Vem... Deixe o celular aí.
– Mas...
– Shhh... Sem mas, filha. Você tem que almoçar.

A pequena fez uma careta, mas deixou o celular de Arthur sobre a cama e levantou-se, me seguindo quarto a fora.

– O que é a comida? – Me perguntou enquanto caminhávamos para a cozinha.
– Frango ao molho de tomate, e salada de arroz. – Podia apostar que Anie fazia uma careta atrás de mim. Assim como Arthur, ela não gostava de tomate e muito menos de salada.
– Não quelo salada e não gosto de tomate. – Disse.
– Não está ruim, filha. – Garanti.
– Não gooosto...
– Sem choro, Anie. Você sabe que não precisa de nada disso. – Falei séria.
– Não queeeloo!
– Você sabe que tem que comer comida de verdade.
– O bolo é comida, mamãe.
– Mas não saudável e você não vai passar o dia todo comendo bolo de chocolate.
– Mas eu gosto.
– Eu sei. Mas não pode comer só isso. – Lhe disse. – Sente aí... – Apontei para a cadeira. E Anie me obedeceu.
– Mãe?
– Oi.
–Deixa eu ir chamar meu papai.
– Ele está dormindo...
– Ele tem que almoçar também.
– Eu sei, quando seu pai acordar, ele almoça, amor. – Avisei.

Anie tinha um excesso de preocupação com o pai. Ainda mais quando sabia que o mesmo estava sentindo alguma dor – embora essa dor de cabeça dele fosse pura ressaca, Anie nem sabia diferenciar isso –. Talvez esse lado essa tivesse puxado dele, já que Arthur era desse jeitinho mesmo. Confesso, eu queria muito saber se ele ainda estava com muita dor de cabeça. E isso me irritava, porque eu não queria me preocupar com Arthur. Eu ainda estava magoada.

A pequena almoçou e surpreendentemente, não implicou mais com a comida. Depois disso, fomos para a brinquedoteca, e Anie começou a desenhar na lousa, enquanto eu trocava sem parar os canais da TV. Eu nunca tive muita paciência para ficar horas na frente de uma. Ler um livro era bem mais útil para mim. Óbvio que Anie e Arthur não concordavam comigo. Não sei quem é mais do contra, de nós três.

– Mamãe?
– Uhm... – Murmurei.
– Conta esse histolinha. – Anie me entregou um livro da Pequena Sereia. Sorri assentindo e peguei o livro da mão dela.
– Senta aqui. – A chamei para que ela sentasse em meu colo. – A Pequena Sereia era a filha caçula do rei Tritão, era uma sereia diferente das outras cinco irmãs. Era muito quieta, não era difícil vê-la distante e pensativa... – Comecei.
– Aliel... – Anie apontou para a imagem da sereia no livro.
– Sim, meu amor. É a Ariel. – Falei claramente o nome.
– Continua, mamãe. – Pediu.
(...) Ela avistou um grande navio com três mastros e nadou até ele. O céu escureceu e no navio foram acesas centenas de lanternas coloridas. A sereiazinha nadou contornando o navio e, pela escotilha do salão viu pessoas alegres, dançando. Um rapaz em especial, chamou-lhe atenção. – Anie me interrompeu.
– O plíncipe... – Disse.
– Aham... era o príncipe, filha. – (...) De repente a sereiazinha viu o príncipe. Ele estava se afogando. Ela sentia que tinha que ajudá-lo. Ela nadou entre os destroços do navio e o alcançou. O jovem príncipe estava desmaiado. Ela segurou firmemente, mantendo a cabeça dele para fora da água, e flutuou com ele até a tempestade passar. – Mais uma vez a pequena me interrompeu. Anie adorava comentar o que sabia sobre as histórias que liamos.
– Ela salvou o plíncipe, mamãe e se apaixonou por ele, não foi? – Disse apontando mais uma vez para as imagens no livro.
– Foi, filha. Eles se apaixonaram. – Continuei contando a história até finaliza-la.

*

– Vai demolar pra mim dançar? – A primeira vez no dia que Anie tocava nesse assunto.
– Só algumas horas... – Respondi calmamente.
– Quanto?
– Uhm... Umas quatro horas mais ou menos. – Respondi. Já que era três e meia da tarde, e a apresentação iniciaria as sete e meia. – Por quê?
– Tô nervosa. – Confessou.
– Não precisa. Já falei para você, meu anjo. Olha, quase todo mundo que você ama, estará lá... Queremos muito vê-la arrasando. – Sorri tentando tranquiliza-la.
– E se eu errar? – Perguntou.
– Não a amaremos menos por isso, filha. Errar faz parte, para que possamos acertar da próxima vez. – Lhe disse. – Não precisamos falar disso agora. Você precisa relaxar, pequena. – Lhe dei um beijo. – É só uma apresentação. A primeira, lembre-se disso... Ainda terão outras e você não ficará mais com medo de errar.
– A senhola vai tá lá com o meu papai?
– Claro que vou, filha. Por que não estaríamos?
– A senhola tá chateada com ele... eu sei...
– Isso não é assunto para você, Anie. É assunto de adulto. Não vamos misturar as coisas. Ok?
– Mesmo assim...
– Não precisa se preocupar. Eu e seu pai vamos ficar juntos lá, filha. – Garanti.
– Tá bom... – A pequena concordou.

*

– Vou blicar lá no meu quarto, tá bom?
– Tá bom... – Me levantei do sofá junto com ela.
– Meu papai vai demolar pra acordar?
– Não sei, filha. – Subimos os degraus. – Qualquer coisa eu estarei lá no quarto, tá bem?
– Tá... – Anie entrou em seu quarto e eu segui para o meu.

Arthur ainda estava dormindo quando eu abri a porta do quarto. Tá, eu estava meio preocupada. Ele estava dormindo há muito tempo. Eu queria saber como o mesmo estava se sentindo, e ao mesmo tempo eu queria jogar na cara dele as coisas que me disse de madrugada.

Me aproximei da cama e toquei levemente sua testa e seu pescoço, para checar sua temperatura. Ele não estava com febre nem nada. Eu sabia que esse mal-estar era resultado da bebedeira, e isso me deixava mais irritada ainda por estar me preocupando à toa.

Caminhei para o closet, e antes que chegasse até lá... Ouvi a voz de Arthur.
– Luh... – Chamou baixinho.

Pov Arthur

Eu já estava acordado quando Lua chegou ao quarto. Permaneci de olhos fechados, eu já estava assim há um tempo. Minha cabeça não estava mais doendo. Acho que eu só precisava descansar mais um pouco. Anie não estava mais na cama, vi isso quando acordei. Ela tinha deixado o celular ao meu lado, e ele estava praticamente descarregado.

Senti quando Lua se aproximou de mim, e se abaixou. Sua respiração bateu em meu rosto e eu quis abrir os olhos e levar a mão a nuca dela, para aproximar seu rosto do meu e poder beija-la. Mas sabia que Lua estava chateada comigo. E resolvi permanecer quieto.

Fiquei surpreso quando ela tocou minha testa e meu pescoço com as costas da mão, checando minha temperatura. Tive que segurar o riso ao perceber que ela estava preocupada, mesmo estando chateada comigo.

– Luh... – Chamei assim que ela se afastou e abri os olhos.
– Eu... Eu achei que você estava... dormindo. – Falou um pouco nervosa.
– Eu sei... – Respondi. – Deixa de ser boba, Luh. Sei que você está chateada e mesmo assim, preocupada comigo. – Lhe disse e a vi revirar os olhos.
– Deixa de se achar... O que quer? – Perguntou sem paciência.
– Não precisa ser grossa comigo. – Reclamei.
– O que você quer, querido? – Repetiu a pergunta.
– E nem precisa ser falsa... – Agora foi a minha vez de revirar os olhos.
– Você não vai comer nada não?
– Só depois...
– Isso são quase quatro e quinze da tarde.
– E você está preocupada? – Ergui uma sobrancelha.
– Não devia. – Foi o que ela respondeu, e caminhou para o closet.
– Luuuuuuaaa! Volta aqui! – Chamei um pouco alto.

Ela não voltou e eu coloquei o travesseiro no rosto. Saco! Que mulher mais complicada, eu hein! Me levantei e andei até o closet atrás dela. Lua estava separando um vestido de cor vinho, o que eu imaginei ser o que ela vestiria hoje à noite. Permaneceu de cabeça baixa quando cheguei perto dela.

– Você não vai dizer o que foi que eu fiz? Assim fica difícil de eu tentar consertar as coisas. – Falei baixo, tocando seu ombro com uma das mãos. Mas Lua se afastou. – O que foi agora?
– Não toca em mim! – Exclamou.
– Além de não querer falar comigo, não posso tocá-la também? O que mais não pode? Tem uma lista, ou você pretende fazer? – Perguntei irônico e levemente irritado.
– Não seja ridículo. – Ela disse também irritada, mas algo estava diferente de hoje mais cedo, quando ela me tratou super seca. Agora, ela chorava.
– Lua... – Eu não sabia mais como falar com ela. – Se você não me falar, como vou saber? Porque está chorando? Droga, Lua! – Exclamei. – Estou preocupado. Se eu fiz alguma coisa grave... me fala!
– Não foi o que você fez... foi o que você falou... – Me disse baixo, fechando uma das gavetas que estava procurando uma lingerie.
– E o que foi que eu falei? Dá para me dizer pelo menos? – Perguntei tentando ficar mais próximo dela, só que Lua não colaborava. Ela voltou para o quarto. – Luh? Você sabe que desse jeito não está colaborando para que tenhamos uma conversa sensata. – Falei caminhando atrás dela.
– Não quero conversar agora...
– E vai querer quando? Dá para me dizer? – Insistir.
– Não enche, Arthur! – Exclamou me empurrando.
– Hoje você tá muito difícil, eu estou até tentando consertar as coisas, mas você não contribui para isso.
– Agora você está dizendo que a culpa é minha? – Ela alterou a voz um pouco chocada. – Quando é você que chega aqui bêbado e fica falando umas coisas nada a ver... e... e... coisas que não tem coragem de... de... dizer quando está sóbrio... – Ela começou a chorar e seu corpo tremeu ligeiramente. O que me deixou mais confuso ainda – para não dizer assustado e preocupado.

Droga! Por que eu não lembrava das coisas que disse ontem a ela? Merda!

– Então o problema todo também é porque cheguei bêbado? – Perguntei respirando fundo.
– NÃO! – Ela gritou.
– Não. Grita. – Pedi calmamente, ou tentando, que seja. – Por que você não fala uma coisa certa? Você já está com raiva de mim mesmo... Tem como piorar? – Meu tom saiu meio irônico. E se olhar pudesse matar, eu tinha acabado de morrer com o olhar que Lua me lançou.
– Não quero que as coisas entre nós atrapalhe a apresentação da Anie, hoje. – Respondeu baixo, e fungou em seguida.
– E o que uma coisa tem a ver com a outra? – Franzi o cenho tentando entender o que ela queria dizer com isso.
– Hoje... – Lua respirou fundo. Ela fazia de tudo para não me olhar nos olhos.
– Hoje...? – Insistir para que ela terminasse de falar. Lua suspirou antes de continuar falando.
– Ela perguntou mais cedo... se... se... íamos ficar juntos hoje...
– Como? Nós três? – A confusão era visível em meu semblante.
– Não... Nós dois. – Seu tom não era irônico e dessa vez, Lua me olhou.
– Nós dois?
– Sim, Arthur... Ela disse que sabe que estamos brigados.
– Você está brigada comigo... eu não...
– Para! Não quero que Anie fique se preocupando com isso. Não quero conversar agora, porque sei que vamos brigar mais feio... Anie não é boba, ela percebe quando não estamos bem.
– Eu nem sei porque você está chateada comigo, para início de conversa. – Deixei claro. – Só diz que falei o que não devia, ou algo do tipo e não diz mais nada! – Me irritei.
– Você está vendo por que não quero falar disso agora?
– E você acha que desse jeito as coisas irão ficar bem? E que Anie vai acreditar na gente?
– Não seja irônico. Tenho muita raiva quando faz isso! – Exclamou irritada.
– Lua... – Tentei falar, mas parei quando ela passou por mim, correndo até o banheiro. – LUA! – Eu gritei correndo atrás dela.

Ela estava de joelhos em frente ao vaso, e vomitava. O que me deixou nervoso e assustado. Me abaixei ao lado dela, e mesmo com suas tentativas de empurrar minhas mãos para longe de si, eu consegui segurar seus cabelos. Lua suava frio, e eu me arrependi de tê-la pressionando para termos essa conversa agora.

Uns cinco minutos depois, Lua se levantou e eu me encostei na porta do banheiro e cruzei os braços em frente ao peito, vendo-a jogar água no rosto, e logo depois, escovar os dentes.

– O que aconteceu? – Perguntei calmo.
– Eu vomitei, não viu? – Ela me olhou através do espelho. Revirei os olhos.
– O motivo. Eu quis dizer isso. – Esclareci. Lua suspirou.
– É melhor a gente acabar essa conversa agora, pelo menos, por enquanto... – Me disse.
– E quando pretende recomeça-la? Não vou ficar o tempo todo implorando para você falar o que aconteceu de madrugada.
– Quando voltarmos para casa... Pode ser?
– Não tenho muita escolha. Tudo bem... – Ela enxugou o rosto e eu me afastei da porta, abrindo-a logo em seguida. – E ah... não viajaremos amanhã. – Avisei.
– Eu não estava contando com isso...
– Não é porque estamos nesse clima, Lua. E sim, porque tenho outra reunião. – Falei. – Mas penso que não afetará em nada, já que talvez você nem queira ir mais.
– No momento eu não quero mesmo.
– Pois bem... – Conclui. – Você comeu alguma coisa? – Lua me encarou de cenho franzido.
– O quê? – Ela andou até a cama.
– Você passou mal... – Na última das hipóteses, pensei que ela estivesse com nojo de mim ou alguma coisa assim. Podia ser exagero meu, mas... Lua estava tão estranha e distante.
– Foi de repente... Não sei... – Respondeu.
– Agora está bem? – Continuei. Vi que ela tremia um pouco.
– Estou nervosa... só isso... É melhor... – A interrompi.
– A gente deixar para depois, eu sei. – Completei rapidamente. – Ok! Depois conversaremos direito. – Finalizei. – Quer alguma coisa? Sei lá... – Encolhi os ombros. Eu estava preocupado com a minha mulher.
– Obrigada. Se Anie... – Começou.
– Conversarei com ela, fique tranquila. Depois a gente resolve isso... Assim espero! – Lhe disse sério.
– Só não quero complicar mais as coisas.
– Entendo. – Concordei e a vi deitar na cama.
– Está tudo bem mesmo?
– Ficará...
– Bom, vou ver o que a pequena está aprontando... – Falei e sai do quarto.

Respirei fundo e fechei a porta. Andei devagar até o quarto de Anie. Ela estava sentada na cama de pernas cruzadas e rodeada de folhas brancas de papel e lápis de colorir.

– Oi? – Entrei no quarto e Anie sorriu.
– Oi, papai. Senta aqui... Tô desenhando. – Me disse.
– Uhm... O quê?
– Um cachorrinho... – Falou me mostrando. Ri. – Tá feio? – Perguntou olhando para o desenho.
– Não. Claro que não... É um cachorrinho bem diferente. – Respondi sorrindo. Não se parecia em nada com um cachorro. Mas Anie não precisava saber disso.
– Mas o senhor gostou?
– Gostei sim... Tá lindo. – Estava mesmo. Era um desenho, e eu amava todos os que Anie fazia. Não importava se não se pareciam em nada com o que ela dizia ter desenhado.
– Papai?
– Sim... – Voltei a atenção para ela e a pequena deixou as folhas e os lápis de lado e veio para o meu colo.
– Você e minha mamãe estão bligados? – Senti vontade de rir, embora a pergunta fosse séria. Cada vez que Anie trocava o “r” pelo “l”, isso acontecia. Eu achava engraçado e tinha vontade de apertá-la mais ainda.
– Às vezes os adultos se desentendem, isso é normal. – Comecei. – E não é um assunto para crianças. Isso é coisa de adulto, filha.
– Minha mamãe disse isso... – Retrucou fazendo um bico.
– Então... mas depois a gente faz as pazes e tudo volta ao normal. Não precisa se preocupar, meu amor.  Não é nada grave... Eu acho...
– Acha?
– É... devo ter falado alguma coisa, mas não lembro o quê. E sua mãe ficou chateada comigo. Foi isso...
– E por que o senhor não pede desculpas?
– Eu já tentei... Mas nem sempre desculpas resolvem.
– Por quê?
– Aah filha... Porque são coisas mais sérias. Você não entende ainda.
Isplica...
– É explica, filha... – Falei olhando para ela e sorri de lado.
– Falei isso mesmo. – Me disse e eu assenti.
– Ok, né?!
– Mas minha mamãe tá tliste... – Lamentou.
– Eu também estou, meu amor. Mas tudo tem seu tempo, e acho que sua mãe precisa de um pouco, no momento.
– Ela cholou... – Contou.
– Chorou? Quando? – Indaguei.
– Eu acodei de noite, fui lá no quarto e ela não tava lá...
– É... – Eu já desconfiava que Lua não tinha dormindo lá mesmo. – E onde ela estava?
– Lá na sala.
– Uhm...
– A gente dormiu na ede...
– Na rede... – Murmurei.
– É, papai... que balança.
– Eu entendi, filha. – Sorri sem mostrar os dentes. – Mas à noite fez muito frio.
– Tava flio, mas minha mamãe pegou o lençol.
– Entendi... Bom, – Preferi mudar de assunto. – como está se sentindo? Daqui a pouco é hora da sua apresentação.
– Eu tava nervosa, mas minha mamãe disse que eu tenho que elaxar...
– Sim, tem que relaxar... Tudo vai dar certo, você vai ver. – Garanti. – E estaremos lá, a senhorita sabe disso. – Apertei a ponta do seu nariz.
– Junto com a minha mamãe?
– Sim, claro. Com quem mais eu estaria, uhm?
– Com ninguém... ela é sua namolada. – A pequena sorriu ao me olhar.
– Sim, ela é minha namorada. – Soltei o ar pausadamente. – Vamos brincar de desenhar?
– Vamos! – Anie bateu palmas e me entregou uma folha em branco.
– Por que um cachorro, filha?
– Eu quelia um, mas minha mamãe disse que não... –Anie encolheu os ombros.
– Aaah... – Murmurei.
– Me dá um cachorrinho? – Disse pidona.

Aquele olhar que não me deixava negar nada a ela.

– Não é um bom momento para falarmos sobre isso... Sua mãe já disse que não. – Pendi a cabeça para um lado. – Deixa eu fazer as pazes com ela primeiro, ok? – Sugeri.
– Oook...

Dezoito horas – Sexta-feira, 25 de setembro de 2015.

– Filha? – Lua chamou por Anie.

Nós ainda estávamos desenhando e nem vimos a hora passar – voar literalmente –. Anie precisava se arrumar, assim como eu e Lua. Tínhamos que evitar pegar o trânsito em completo caos, já que era sexta-feira e final de tarde, para completar. Me levantei da cama e Anie olhou para a mãe.

– Hora de tomar banho. – Lua sorriu de lado.
– Tá. – A menina juntou todas as folhas de desenho e colocou os lápis de colorir dentro do estojo.
– Vou arrumar sua roupa por enquanto. – Lua caminhou para o closet da filha. – Acho que levarei uma outra roupa, para depois da apresentação.
– Uma bermuda, tá?
– Tá bom e uma sandália...

Saí do quarto, deixando as duas lá. E fui tomar um banho, para me arrumar também.

Pov Lua

Quando cheguei ao quarto de Anie, tanto ela quanto Arthur estava concentrados, ambos desenhando. Não prestei muita atenção em quê.

Já se passava das dezoito horas quando entrei com a pequena no banheiro. Diferente do que eu imaginei, Anie não fez manha e estava tranquila. O que me deixou bem mais aliviada. Eu sei que Arthur tinha conversado com a filha a respeito disso também. Ele era bom em encorajar as pessoas.

Eu já tinha deixado a roupa de Anie toda separada na cama: o collant, o tutu, a meia calça, as sapatilhas e o acessório dos cabelos – era uma flor e a mesma tinha no tutu também.

Quando terminei de banhá-la e secá-la com a toalha. Seguimos até a cama. E comecei a vesti-la. Em nem um momento ela demonstrou um pingo de insegurança com o que estava prestes a acontecer. Optei por vestir nela uma bermuda jeans, e vestir o tutu, só quando chegássemos a escola. Ele podia amassar e eu não queria que nada desse errado. Anie concordou comigo.

Terminei de vesti-la, e peguei um pente para pentear seus cabelos. Eu tentaria fazer um coque com tranças. Eu não era “A Rainha dos Penteados” mas eu me passava por isso muito bem, modéstia parte. Me aperfeiçoei mais ainda, quando os cabelos de Anie começaram a crescer e ela pedia que eu fizesse tranças e prendesse como de algumas princesas que ela via nos desenhos, óbvio que não ficava igual, mas ficavam parecidos. Era o que importava – ela nunca reclamou.

Prendi seus cabelos, e ficou do jeito que eu imaginei. Não queria maquia-la, era muito criança para sair por aí como um adulta. Mas como ficaria mais linda, passei uma sombra bem clarinha, combinando com sua roupa branca e um batom rosinha. Ela não reclamou e aprovou quando se viu no espelho.


– Obrigada, mamãe. – Ela me abraçou forte pelo pescoço.
– Uuuhm... – Lhe dei um beijo estalado na bochecha. – De nada, meu amor. Agora a mamãe precisa tomar um banho rápido, senão vamos nos atrasar. – Falei me levantando.
– Quelo que meu papai me veja. – Disse ela toda contente se olhando mais uma vez no espelho.
– Ele deve estar no quarto ainda, vamos lá... – Caminhei para o meu quarto e Anie me seguiu.
– Eu tô linda. – Ela riu.
– Sim, está uma boneca. – Assegurei. – Uma bonequinha linda, meu amor. – Completei.
– Acho que vou mooordeer... – Ouvi a voz de Arthur e ri. Anie correu abraçando minhas pernas.

Arthur vestia uma calça jeans, com um cinto preto. E também uma camisa manga comprida de botões na cor preta, a manga ele tinha dobrado até os cotovelos – como quase sempre fazia –. Calçava um sapatênis preto. Os cabelos estavam peteados – como raramente acontecia –, e ele estava irresistível como sempre. Por que tínhamos que estar brigados?


– Nãããããooo... – Ela começou a gritar entre risos.
– Assim você vai me fazer cair, meu amor. – Avisei e Arthur se aproximou pegando a filha no colo. – Não bagunça o cabelo dela. – Pedi. – Deu muito trabalho, Arthur.
– Tudo bem, amor... Luh... – Ele disse logo após, mas sem tirar os olhos do rosto da filha. – Anie não vai tirar um fio de cabelo do lugar. – Garantiu.
– Assim espero... – Retruquei pegando minha toalha e indo para o banheiro.

Lavei meus cabelos rapidamente. E em pouco mais de dez minutos, sai do banheiro. Nem Arthur e nem Anie estavam no quarto. Mas o cheiro de seu perfume tomava conta do local.

Fui até o closet e peguei meu vestido, de cor vinho, que tinha separado mais cedo – antes do Arthur vim querer conversar –.  Procurei rapidamente uma lingerie, optei por uma preta e peguei um sapato de salto, preto também. Me vesti, colocando um cinto preto e fino na cintura e depois sequei os cabelos, preferi deixá-los soltos. Passei uma maquiagem discreta, só abusando um pouco do batom em um tom vinho. Me passei perfume e sai do quarto, indo até o quarto de Anie. Peguei a bolsa com uma sapatilha que eu havia separado para levar e o tutu. Desci a escada e todos já estavam lá, só faltava eu.


– Enfim... – Mel comentou e piscou em seguida.

Ela vestia um vestido branco, com as laterais floridas e estampa de oncinha em uma pequena parte. Calçava um sapato de salto baixo, na cor bege com algumas pedrinhas em cima. Os cabelos longos estavam presos num rabo de cavalo, Mel estava linda.


Carol também usava vestido. O dela era preto, de renda, um pouco acima do joelho. E usava sapatilhas também preta. Os cabelos estavam feito uma trança. Já Carla, vestia uma calça comprida preta e uma blusa de cetim azul claro. Ela também calçava sapatilhas preta.

– Você demolou, mamãe. Vaamoos!
– Vamos, eu já estou aqui. – Sorri.

Arthur permaneceu sentado no sofá até começarmos a caminha para a porta. Confesso que sentiria falta de um elogio dele hoje.

– Como vamos fazer? – Mel perguntou.
– Com o quê?
– No carro... Vamos em um só?
– Acho melhor, mas vocês é quem sabem... – Arthur deu de ombros.
– Luh?
– Melhor irmos em um só mesmo. – Concordei com Arthur e Mel assentiu.
– Vou onde? – Anie me perguntou.
– No meu colo, filha.
– Tá, mamãe. Quelo ir na fente. – Pediu. As meninas entraram no carro e Anie abriu a porta, também entrando. Entreguei o tutu de Anie para Carla segurar.
– Não é porque estamos meio que brigados que... – Ouvi Arthur falar baixo atrás de mim. – não vou elogiá-la... Você está linda, Luh. – Disse e eu sorri.
– Obrigada... e você também. – Falei e ele sorriu discretamente.
– Eu sei... eu sei... – Ele tinha uma modéstia...

Continua...

Se leu, comente! Não custa nada.

N/A: Olá, meninas? Tudo bem? Espero que sim <3 e que não tenham esquecido de mim – e que nem queiram me matar, ok? Haha

Sei que está fazendo quase um mês que eu não atualizo Little Anie. Ufá! Tenho tanta coisa para falar para vocês, que só direi quando voltar aqui, à noite com a última parte do capítulo, ok? A princípio eu não iria dividi-lo, mas ficou enorme – mais de 40 páginas e sei que ficará muito pesado de carregá-lo se eu postar completo, de uma vez só –. Então, a solução foi adiantar uma parte logo.

Espero que gostem e à noite eu prometo que volto, tá? :-D

* O que acharam do capítulo?
* Gostaram dos looks?
* Anie uma bonequinha! Haha <3
* Estão ansiosas para a conversa do casal? Já estou finalizando ela – tentando controlar as lagrimas :’(

Gente, conversaremos mais tarde, tô mega atrasada para a aula... Beeeeeijoooo!


Comentem muuuuuito! Bye!

17 comentários:

  1. Aleluia!! Que bom que atualizou, estava ansiosa pelo próximo cap. Espero que venha mesmo para postar a última parte. Super ansiosa sobre a conversa, apesar de ter colocado no último comentário que a Lua deveria fazer o Arthur sofrer um pouco ate perdoá-lo, espero então que não demore tanto, pois será eu quem vai sofrer caso eles continuem brigados!!
    A cada capítulo com certeza vai ficando melhorar !♥

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  2. Aleluia!! Que bom que atualizou, estava ansiosa pelo próximo cap. Espero que venha mesmo para postar a última parte. Super ansiosa sobre a conversa, apesar de ter colocado no último comentário que a Lua deveria fazer o Arthur sofrer um pouco ate perdoá-lo, espero então que não demore tanto, pois será eu quem vai sofrer caso eles continuem brigados!!
    A cada capítulo com certeza vai ficando melhorar !♥

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    1. Hahaha kkkkkkkk Amém, Lays! (zoa mesmo) É... faz algumas semanas aí que eu venho tentando postar o capítulo, mas nunca dava. Eu não conseguia arrumar um tempo. E hoje já deu, ainda bem <3

      Bom, estou aguardando mais comentários. Não demorarei a postar a última parte do capítulo. Fique tranquila.

      Uuuhm... a conversa (eu tentando controlar as lágrimas ao escrever o dialogo) Não. Não demorará. Eles se acertarão nessa conversa ;-D Não sofra... tudo ficará bem...

      Muito obrigada, Lays. É sempre bom saber disso! <3

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    3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. :O ;-) Aguardando o próximo!!
    Adoro essa web, o melhor e que os capítulos são bem extensos.
    Muito boa, está com certeza na lista das melhores web que li e continuo lendo.
    This story is amazing, just it!

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  4. ATÉ QUE ENFIM POSTOU, JÁ ESTAVA FICANDO DESESPERADA POR LITTLE ANIE. AMEI O CAPÍTULO E JÁ QUERO A CONTINUAÇÃO

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  5. Vaca, quero te socar por esse capítulo. To mega ansiosa pela apresentação da Anie e pela conversa de LuAr, vou morrer do coração kkkkkk É tão ruim ver eles dois desse jeito, parte o coração... Amo essa amizade da Lua com o Harry <3
    Arthur e Anie é sempre tão apaixonante <3
    Já quero a próxima atualização, quero sofrer mais um pouquinho hahaha
    Amei os looks, arrasooo

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  6. Cada dia melhor ���� mal posso esperar pelo cap de hoje à noite, quero ver essa conversa logo, quero que eles de acertem logo. Gosto quando tem uma briguinha, mas quando eles estão juntos é muito melhor!!!
    Parabéns pela wep, bj.

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  7. To muito ansiosa pra apresentação da Anie!! Ela ta uma gracinha de bailarina! Os looks estão lindos, amei o vestido da Mel! Quero só ver essa conversa da Lua e do Arthur, tomara que eles se resolvam logo!
    Já quero outra parte.
    Helena

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  8. Amei o capítulo, Anie como sempre uma fora. Estou ansiosa pela conversa LuAr...

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  9. Pq eu sempre amo os capítulos Milly? Agr q tive um tempo pra ler e ando tão (emocional, chata e fofa 😍 kkk) q chorei lendo o cap, essa Anie é mt fofaaa e seguindo a Brenda essa amizade da Luuh e Harry é tão apaixonante.. Megaa ansiosa pra conversa.. bjs Milly vc manda mt

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  10. Pq eu sempre amo os capítulos Milly? Agr q tive um tempo pra ler e ando tão (emocional, chata e fofa 😍 kkk) q chorei lendo o cap, essa Anie é mt fofaaa e seguindo a Brenda essa amizade da Luuh e Harry é tão apaixonante.. Megaa ansiosa pra conversa.. bjs Milly vc manda mt

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  11. E o coração fica aonde com um capítulo desse? Anie e Arthur muito fofos juntos. Mega curiosa e ansiosa por essa conversa do casal, tomara que eles se reconciliem logo.
    Amando a web, posta logo a outra parte por favooooor

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  12. O q o Arthur disse ñ foi legal,mas a Lua n ta facilitando as coisas.Quando a Lua vomitou do nada,pensei q ela podesse estar grávida,mas já q vc disse q eles n teriam mais filhos,descartei a ideia.Aiiii dá de apertar a Anie,que coisa mais fofaaaa.Amo essa fic cara,nem acredito q está acabando😢.

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