Capítulo 28:
Quando acordo, não sei que horas são. Olho o relógio. Cinco para as
dez.
Salto da cama. Os alemães são muito madrugadores e não quero parecer
um urso dorminhoco. Tomo uma chuveirada rápida e, depois de pôr um vestido
preto de lã e minhas botas de cano alto, desço para a sala. Ninguém está lá, e
vou para a cozinha.
Arthur está lendo sentado a uma mesa redonda. Ao me ver, fecha o
jornal.
— Bom dia, dorminhoca — diz ele sem sorrir.
Simona, que está cozinhando, me olha e me cumprimenta. Sem dúvida, dei
uma de preguiçosa.
— Bom dia — respondo.
Arthur não mostra intenção de se levantar nem de me beijar. Isso mexe comigo,
mas reprimo meus instintos, enquanto fico remoendo minha tristeza por não
receber meu beijo de bom-dia.
Simona me oferece frios, queijo e mel. Mas como recuso e só peço café,
tira do forno um plum-cake feito por ela mesma e depois me empurra para que me
sente à mesa perto de Arthur.
— Dormiu bem? — pergunta ele.
Faço um gesto afirmativo e tento não lembrar meu sonho erótico. Se ele
soubesse...
Dois minutos depois, Simona deixa um fumegante café com leite sobre a
mesa e um bom pedaço do bolo. Faminta, boto um pedaço na boca e, ao perceber o
sabor de manteiga e baunilha, exclamo:
— Mmm, está ótimo, Simona!
A mulher concorda, toda satisfeita, e sai da cozinha. Continuo meu
café da manhã.
Arthur não fala, só me observa. Quando já não aguento mais, eu o olho
e pergunto:
— O que foi? Por que está me olhando desse jeito?
Sem sorrir, ele se estica para trás na cadeira e responde:
— Ainda não acredito que você esteja sentada na cozinha da minha casa.
— E antes que eu possa dizer qualquer coisa, muda de assunto: — Quando
terminar, iremos à casa de minha mãe. Tenho de pegar o Flyn. Almoçaremos lá.
Depois, tenho um compromisso, uma partida de basquete.
— Você joga basquete? — pergunto, surpresa.
— Jogo.
— Pra valer?
— Sim.
— Com quem?
— Com uns amigos.
— E por que não tinha me dito que jogava basquete?
Arthur me olha, me olha, me olha e, finalmente, murmura:
— Ora, porque nunca me perguntou. Mas agora estamos na Alemanha, em
meu território, e pode ser que muitas coisas minhas te surpreendam.
Concordo como uma boba. Achava que o conhecia e de repente fico
sabendo que faz tiro olímpico, joga basquete e provavelmente vai me surpreender
com mais coisas.
Continuo meu delicioso café da manhã. Ver de novo sua mãe e conhecer o
menino são coisas que me deixam nervosa, de modo que comento o que me inquieta:
— Quando me disse que aqui não são muito extrovertidos quer dizer
também que não vai haver beijos de bom-dia?
Noto que minha pergunta o pega de surpresa, mas responde enquanto abre
de novo o jornal:
— Sempre haverá os beijos que nós dois quisermos.
Essa é boa, acaba de me dizer que agora é ele que não quer.
Meeeerrrrdddaaaa!
Está me fazendo provar do meu próprio veneno, e eu detesto isso.
Continuo comendo o plum-cake, mas alguma coisa deve ter mudado na
minha cara, porque Arthur diz:
— Alguma pergunta mais?
Nego com a cabeça, e ele volta ao jornal, mas com o canto do olho vejo
que esboça um sorrisinho. Safado!
Quando termino com todo o maravilhoso café da manhã, vamos até a
entrada e, depois de abrir um armário, pegamos nossos casacos. Arthur me olha.
— O que foi agora? — digo ao ver sua expressão.
— Você está pouco agasalhada. Aqui não é a Espanha.
Aliso meu simples casaco preto e explico:
— Calma, é mais quente do que parece.
Com o cenho franzido, ele levanta a gola do casaco e, depois de me
pegar pela mão, diz enquanto caminhamos para a garagem pelo interior da casa:
— Vai ser preciso te comprar alguma coisa, porque não quero te ver
doente.
Suspiro e não respondo. Não vou ficar aqui tanto tempo que justifique
fazer compras.
Capítulo 29:
Embarcamos no Mitsubishi, e Arthur aciona um controle que abre a porta
da garagem.
Enquanto isso, a calefação do carro aquece o ambiente em décimos de
segundos. Que bárbaro o Mitsubishi!
Arthur liga o rádio, e sorrio ao reconhecer a música de Maroon 5.
Arthur dirige sério. Ou melhor, está como sempre. E, sem necessidade de que eu
pergunte, começa a explicar por onde vamos passando.
Sua casa, conforme diz, está no distrito de Trudering, um lugar bonito
onde, à luz do dia, vejo que há mais casas como a dele. E que casas, cada uma
mais impressionante que a outra! Ao entrar numa estrada, diz que, um pouco mais
ao sul, há plantações e pequenos bosques. Isso me emociona. Para mim, é
essencial ter a natureza perto, como em Jerez.
Pelo caminho passamos pelo distrito de Riem, até chegar a um elegante
bairro chamado Bogenhausen. Aqui mora a mãe dele. Depois de percorrer ruas com
casarões de ambos os lados, paramos diante de uma grade escura, e fico tensa.
Conheço Sónia
e sei que é um amor, mas é a mãe de Arthur, e isso me deixa nervosa.
Após estacionar na bela garagem, Arthur me olha e sorri. Começa a me
conhecer, sabe que quando estou muito calada é porque estou tensa. Quando vou
soltar uma das minhas besteiras para relaxar o ambiente, a porta da casa se
abre, e Sónia aparece na nossa frente.
— Que alegria! Que alegria ter vocês aqui! — diz, feliz.
Sorrio; não posso fazer outra coisa. E quando Sónia me dá um abraço e
eu o retribuo, ela sussurra em meu ouvido:
— Bem-vinda à Alemanha e à minha casa, querida. Vamos te amar muito
aqui.
— Obrigada — murmuro como posso.
Arthur vai dar um beijo em sua mãe; depois, me pega firme pela mão e
juntos entramos na casa, onde o ambiente agradável rapidamente me aquece. No
entanto, o barulho é atroz. Toca uma música repetitiva.
— Flyn está na sala com um desses seus jogos infernais — nos explica
Sónia. E, olhando para seu filho, continua: — Está me deixando louca. Não sabe
brincar sem essa bendita musiquinha. — Arthur sorri. — Aliás, tua irmã Sophia
acaba de ligar. Disse que a esperemos para o almoço. Quer ver Lu.
— Ótimo — diz Arthur, enquanto estou a ponto de ficar louca com a
música estridente que vem da sala.
Durante uns minutos, Arthur e sua mãe falam sobre a babá de Flyn.
Ambos estão dececionados com ela. Pensam em contratar alguém para que os ajude
com o menino. Fico surpresa que o barulho infernal de fundo não seja um
problema para eles.
Mais ainda: dá a impressão de que estão acostumados. Logo que terminam
de conversar, uma jovem se aproxima de nós e diz alguma coisa a Sónia. Esta, se
desculpando, sai com ela. De repente, Arthur me dá a mão.
— Preparada pra conhecer Flyn?
Digo que sim com um gesto. Sempre gostei de crianças.
Vamos juntos para a sala. Arthur abre a enorme porta corrediça branca
e os decibéis da música sobem irremediavelmente. Será que Flyn é surdo? Observo
o aposento. É grande e espaçoso. Cheio de luz, fotografias e flores. Mas o
barulho é insuportável.
À frente vejo uma televisão de plasma enorme, onde uns guerreiros
lutam sem piedade. Reconheço o jogo, Mortal Kombat: Armageddon. É o jogo de que
tanto gosta meu amigo Nacho e que ficamos jogando por horas e horas. Vicia você
rapidinho.
Na tela, os lutadores pulam e lutam, e observo que no belo sofá vinho
na frente da tevê se agita um gorro vermelho. Será de Flyn?
Arthur fecha a cara. A música não poderia estar mais alta. Ele solta a
minha mão, caminha até o sofá e, sem dizer nada, se agacha, pega um controle e
baixa o volume.
— Tio Arthur! — grita uma vozinha.
De repente um garoto miúdo dá um pulo e abraça meu Iceman particular. Arthur
sorri e, enquanto o abraça também, fecha os olhos.
Santo Deus, que momento lindo!
Fico toda arrepiada ao notar o amor que meu alemão sente pelo
sobrinho. Durante uns segundos, observo os dois enquanto trocam confidências e
o menino ri.
Antes de nos apresentar, Arthur dá toda a sua atenção ao menininho,
enquanto ele, emocionado com a presença do tio, conta alguma coisa sobre o
jogo. Depois de uns minutos em que Flyn ainda não se deu conta de que estou
ali, Arthur o põe sobre o sofá e diz:
— Flyn, quero te apresentar a senhorita Lua.
Percebo como as costas do menino ficam tensas. Esse gesto de
desconforto é tão típico de meu Iceman que não estranho que o garoto faça o
mesmo também. Mas, sem demora, vou até o sofá e, embora ele não me olhe, eu o
cumprimento em alemão.
— Oi, Flyn!
Continua!!!!
ResponderExcluirQual sera a reaçao do Fly?Amore nessa web a Lua fica gravida?Amando
ResponderExcluirGabs❤️
Bem Que A Lua Poderia Jogar Com O Mini Iceman
ResponderExcluirIxii, pelo jeito esse menino não vai gostar da Lua... Posta mais....
ResponderExcluirPosta mais
ResponderExcluirPosta maiss +++
ResponderExcluirMaais
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