"É Estranho. Mas é do nosso jeito" - 2ª Temporada - 15º Capítulo

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No capítulo anterior…

- Está querendo então dizer que o Lourenzo não é meu?
- Bom… eu não vejo outra explicação.
- O Diogo gosta dela… - Arthur suspirou e se sentou à mesa. Anna tirou o jantar do forno e serviu nos pratos. Serviu também o vinho e Arthur deu um gole. – Sempre gostou.
- Mas é algo mais… é raro o homem que se mete com uma mulher que tem um filho, ainda por cima recém-nascido. Ainda para mais, ela não está acordada. O que ele podia fazer agora era fugir. Mas não, parece que ele é daquelas que não arrenda pé até conseguir o que quer.
- E o que ele quer?
- Talvez tirar Lua de você. Assumir o filho. Assumindo as responsabilidades, a Lua automaticamente caí nos braços dele.
- Eu não posso deixar isso acontecer! – Arthur bateu na mesa – A Lua é minha e o filho é meu!
- Está mesmo certo disso? – Anna encarou Arthur. Ele suspirou. A dúvida voltou novamente – Os testes de paternidade são fáceis de fazer e Lourenzo já nasceu. Nada impede de você fazer os testes…
- Eu sei. Mas eu prometi à Lua que confiava nela e que não ia fazer os testes.
- Mas ela está em coma. Ela não irá saber de nada.
- Mas os exames demoram muito tempo, até lá ela pode acordar.
- Mas você conhece o primo do Diogo, não é? Aquele doutor? Você podia dar um jeito de… sacar os exames mais rápido.
- Talvez. – Arthur suspirou.

[…]

- Sinto a sua falta. Eu não consigo olhar para aquele bebé e sentir felicidade. Digo… eu estou feliz, mas falta algo. Falta você. […]– Arthur suspirou e limpou as suas lágrimas. Mas elas insistiam – Eu acho que cometi um erro… eu pedi para fazerem os exames. Me desculpa. – Arthur deitou a cabeça sobre a barriga de Lua e segurou bem forte as mãos dela – Anna falou comigo de um modo que… ninguém falou. Alias, eu nem tenho falado com ninguém. Mas ela me convenceu de que aquilo é o certo… eu sei, eu vou me arrepender. Você disse que se eu fizesse os exames e eles dessem positivo, que você me deixaria para sempre. Mas foi mais forte do que eu. Por favor, me entenda. – Arthur chorou mais ainda.

(Estas foram as partes mais importantes do capítulo anterior e como eu não posto a algum tempo, quis deixar vocês a par de tudo!)


P.O.V.’s Narrador

Lourenzo, o filho de Lua e Arthur, continuou internado durante todo este tempo, em um cuidado especial pois o coração dele aparentava ter alguns problemas, chegando a serem chamadas de “falhas”, pois deixou de bater por duas vezes, requerendo uma ação emergente por parte dos médicos.
O Dr. Pedro deixava o seu primo Diogo a par de tudo. Quer à saúde de Lua e a sua recuperação demorada, quer à saúde de Lourenzo. Todos os dias, Diogo estava o lado de Lua, pegando a mão dela, trazendo presentes e conversando sobre algo banal. Algo como se ela estivesse mesmo ali a ouvi-lo.
O murmurinho nos corredores do hospital já era natural. Comentavam a tristeza que era para uma mãe não poder ver o crescimento do seu filho. Questionavam-se quanto à paternidade daquela criança. Múltiplas coisas.

Diogo entrou no quarto onde Lourenzo estava internado. Ele passou antes com a enfermeira, onde esta lhe disse que nos últimos dois dias o bebé esteve bem estável e que se continuasse assim, na próxima semana o bebé poderia sair do hospital.
Diogo queria que Lourenzo voltasse para casa o mais rápido possível. Porém, sabia que se ele voltasse para casa, nunca mais o iria ver, pois Arthur não o ia permetir.

- Quando você crescer irá ser que nem eu. Amigo das mulheres. Gato. Trabalhador. Honesto. Apaixonado. Vamos ter uma paixão em comum: a sua mãe. Quero que você saia daqui o mais rápido possível para juntos darmos forças à sua mãe. Ela está todo esse tempo dormindo, quase num sono profundo, mas cada vez que eu estou lá sinto que ela entende que eu estou ali. Não sei, algo me diz isso.

Na mesma hora em que Diogo visitava Lourenzo, também Arthur visitava Lua.
Arthur foi dispensado do seu trabalho na escola de artes. Todos os professores e alunos notavam a sua ausência nos trabalhos e temas tratados lá. Um descanso iria o fazer bem.
Passava todas as tardes no hospital. Lia um pouco para Lua e depois conversava com ela. Assim como Diogo, Arthur sentia que Lua o escutava.

- Perigos e dificuldades não nos travaram no passado e não nos assustarão agora. Mas devemos preparar-nos para eles, como homens determinados. Nelson Mandela. Determinação, coragem e autoconfiança são factores decisivos para o sucesso. Não importa quais sejam os obstáculos e as dificuldades. Se estamos possuídos de uma inabalável determinação, conseguiremos superá-los. O livro de Dias. – Arthur suspirou – Nestes dias para cá tenho lido coisas assim. Preciso de coragem para encarar esta coisa de estar aqui sem você. É difícil para mim. Sem você eu não sou nada. Me sinto um verdadeiro fraco. Preciso de você. Preciso do seu apoio. Eu me deixo influenciar com tudo. Preciso dos seus conselhos. Acorda o mais rápido possível, meu amor.

Arthur deixou o quarto, curiosamente, no preciso momento em que Diogo deixou o quarto de Lourenzo. Por obra do destino, os dois se encontraram no mesmo elevador.

- O que está fazendo aqui? – Perguntou Arthur encarando Diogo – Já não basta a minha vida estar virada do avesso, e ainda tenho de chegar aqui e ver você aqui se intrometendo nela? Deixe a Lua em paz. Deixe o Lourenzo em paz! – Arthur gritou
- Antes de você, eu já cá estava. Tanto ao lado da Lua, como do Lourenzo. Não se esqueça que eu fui o primeiro a saber da gravidez da Lua e curiosamente do seu acidente também. – Isto deixou Arthur sem palavras – Eu trabalho e tenho as minhas responsabilidades. Mas eu coloco a família em primeiro lugar.
- Família? Que família? A Lua não é da sua família!
- Ela é da minha família a partir do momento em que nela eu vejo mais do que uma amiga. E escusa de ficar com ciúmes. Assim que Lua acordar, ela vai saber com quem ela irá querer ficar.
- O que quer dizer com isso? – Perguntou Arthur. O elevador chegou ao andar pretendido. Diogo saiu e Arthur ainda permaneceu.

Arthur foi para o quarto de Lourenzo meio atordoado com as loucuras que Diogo disse. O que queria ele dizer com aquilo? A Lua ia escolher o quê? O que tinha para escolher?

- Olá bebé. – Disse Arthur colocando a mão no buraquinho da incubadora, onde conseguia ter um contacto com o seu filho – Quando é que você vai melhorar? Quero te levar para casa agora.
- Boa tarde. Você é o pai do Lourenzo?
- Sim.
- Temos notícias sobre ele. Está interessado?
- Mas é claro que sim.
- Nestes últimos dias ele tem melhorado. Se continuar assim, daqui a uma semana ele sai.
- Ótimo! – Arthur sorriu e olhou para o filho – Finalmente uma boa notícia. Você escutou filhão? – Arthur se baixou um pouco para ficar do tamanho da criança que estava, neste momento, de olhos bem abertos e se mexendo um pouco com aquela voz que já reconhecia. – Em breve vamos poder deixar de nos ver através de um vidro. Vou te pegar no colo, vou te jogar no ar, te fazer rir… cuidar de você assim como a sua mãe queria. – Arthur mordeu o lábio e olhou para cima, de modo a guardar as lágrimas para quando estivesse sozinho.

[…]

Com a sua sogra Blanco, Arthur agia normalmente em casa. Ela arrumava a casa durante a parte da manhã, cozinhava e depois ia ver a filha ao hospital. Porém, Cláudia não gostava de estar lá muito tempo, pois custava-lhe ver Lua daquele estado.
Cláudia desabafou muito com o seu ex-marido. Mas isso trouxe algumas consequências para ele, fazendo com que a sua actual mulher saísse de casa por ter ciúmes. Até hoje, ela não voltou.
Os ex-casados falavam como antigamente e desabafavam um com outro, tudo sem maldade ou segundas intenções. Aquele era um momento possível. A única filha deles estava em coma à semanas seguidas, sem possíveis melhoras.

[…]

Arthur recebeu a carta com o resultado final dos exames de paternidade. Ele estava arrependido por ter pedido aqueles resultados, mas já estava feito e não podia voltar atrás. Foi o Dr. Pedro quem entregou a carta.
Antes de ir para casa, quis ir ver Lua novamente. Era a segunda vez naquele dia.
Entrou no quarto dela bem devagar e viu-a deitada na cama, como sempre, sem se mexer ou abrir os olhos. Arthur pegou uma cadeira para se sentar perto dela e colocou a carta de lado, no armário onde eram guardadas as coisas de Lua.

- Oi, minha linda. – Arthur beijou os lábios de Lua. – Eu tenho em mãos já o resultado do exame de paternidade. Não queria abrir sem antes falar com você. Estou pensando seriamente em rasgar aquilo sem mesmo abrir e jogar por aquela janela. – Arthur olhou para a janela do lado direito de Lua – Estou com medo. Sei que os resultados vão dar positivos. O meu maior medo é perder você.  Mas se tenho o resultado em mãos, por que não? – Arthur se levantou e pegou a carta com os resultados.

Tirou as chaves do seu carro para abrir a carta. Rasgou o envelope e ouviu uma espécie de gemido. Gelou. Seu coração parou. Olhou de imediato para Lua e viu os lábios da pequena se abrirem um pouco. A sua mão também mexeu. Arthur correu até à cama.

- Lua, Lua! Você está me ouvindo? Meu amor! – Arthur começou a chorar de emoção e apertou a mão de Lua, sendo retribuído.

Notas finais:

Sentiram a minha falta? Estou de volta, finalmente!

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