Peça-me o que quiser (Adaptada)- Capítulos 60, 61 e 62

|

Capítulo 60:

Quando meu despertador toca, sinto vontade de morrer.
Estou cansada. Passei a noite em claro pensando no que ocorreu naquele bar. As palavras de Arthur, seu olhar e o modo como aqueles homens me desejavam — tudo isso não me deixou dormir. No fim das contas, por volta das quatro da manhã, tirei o vibrador da mala e, após brincar um pouco com ele, consegui apagar meu fogo interno.
Assim como ontem, Amanda, Arthur e eu saímos do hotel e o motorista nos levou até os escritórios para continuarmos a reunião. Hoje eu vim de calça. Não quero que aconteça a mesma coisa que ontem. Logo que me vê, Arthur me olha de cima a baixo e, embora só tenha me dado bom-dia, pelo tom de sua voz eu percebo que ele já não está irritado.
Durante horas, enquanto escuto atenta a reunião, meu olhar e o de Arthur se encontram várias vezes. Hoje ele não me manda nenhum e-mail, nem interrompe a reunião. Que alívio! Quero ser profissional no meu trabalho.
Às sete da noite, quando chegamos ao hotel, me despeço dele e de Amanda e subo para meu quarto. Estou morrendo de calor. Alguém toca a campainha. Abro e não me surpreendo quando vejo Arthur. Me olha com determinação. Entra e fecha a porta, tira o paletó e o
joga no chão, desfaz o nó da gravata e depois me toma em seus braços e caminha até a cama com os olhos cheios de desejo.
— Ah, pequena... Estou morrendo de tesão por você.
Não precisa dizer mais nada. O desejo é mútuo, e a noite, longa e perfeita.
Quando acordo, às seis da manhã, Arthur não está a meu lado. Foi embora, mas estou tão exausta por nossa maratona de sexo que volto a dormir.
Por volta das dez, o toque do meu celular me desperta. Corro para atender e leio uma mensagem de Arthur: “Acorda.”
Pulo da cama e tomo uma chuveirada. É sábado. Hoje não temos nenhuma reunião e quero passar a maior parte do tempo com ele. Quando saio do banho, enrolada na toalha, alguém toca a campainha. Abro e encontro o maravilhoso Arthur de jeans com cintura baixa e uma camisa branca aberta. Sua aparência é sedutora e selvagem. Ele está absurdamente gostoso.
Uau, que delícia que ele está!
— Bom dia, pequena.
— Oi!
Olho para ele como se eu fosse uma colegial.
— Quer passar o dia comigo? — diz.
Sua pergunta me surpreende. Pela primeira vez, não está considerando nada garantido.
— Claro que quero!
— Ótimo! Vou te levar para almoçar num lugar delicioso. Põe o biquíni.
Sorrio concordando e ele entra na suíte.
— Se veste ou então meu almoço vai ser você — murmura com voz rouca.
Divertindo-me com suas palavras, corro para o quarto. Quando entro, ouço no rádio uma música que adoro, e, enquanto me visto, eu cantarolo:
Muero por tus besos, por tu ingrata sonrisa.
Por tus bellas caricias, eres tú mi alegría.
Pido que no me falles, que nunca te me vayas
Y que nunca te olvides, que soy yo quien te ama.
Que soy yo quien te espera, que soy yo quien te llora,
Que soy yo quien te anhela los minutos y horas...
Me muero por besarte, dormirme en tu boca
Me muero por decirte que el mundo se equivoca...

Quando me viro, Arthur está apoiado no batente da porta, me observando.
— O que você está cantando?
— Você não conhece essa música?
— Não. Quem canta?
Termino de abotoar a calça jeans e respondo:
— Um grupo chamado La Quinta Estación. E a música se chama Me muero.
Arthur se aproxima. Visto um top lilás e, sem conseguir deixar de sorrir, já imagino suas intenções. Me pega pela cintura.
— A música diz algo como “estou louco para te beijar”, não?
Faço que sim como uma boba. É impressionante como fico idiota ao lado dele...
— Pois é exatamente isso que está me passando pela cabeça agora mesmo, pequena.
Me toma entre seus braços. Me enlaça e me beija. Devora meus lábios com tamanho ímpeto que já quero que tire minha roupa e continue me devorando. A música continua tocando, enquanto me beija... me beija... me beija. Mas de repente para, me solta e me dá um tapinha divertido na bunda.
— Termine de se vestir ou eu não respondo por mim.


Capítulo 61:

Dou uma risada e entro rapidamente no banheiro para prender o cabelo num rabo alto. Quando saio, Arthur está apoiado no aparador e olhando para fora. Seu perfil é incrível. Sexy. Quando me vê, sorri.
— O que você faz para ficar cada dia mais linda?
Feliz com esse elogio, abro um sorriso. Ele se aproxima de mim, segura meu pescoço e me beija. Uau! Depois se afasta e me olha nos olhos.
— Vamos logo antes que eu arranque sua roupa, pequena — murmura.
Em meio a risadas, chegamos à receção do hotel. Ele não volta a me tocar nem se aproximar de mim mais que o necessário. Um jovem rececionista, ao nos ver, chega mais perto e entrega umas chaves a Arthur. Quando se afasta, olho para o chaveiro, movida pela curiosidade.
— Lotus?
Arthur faz que sim com a cabeça e indica a porta do hotel, onde vejo estacionado um maravilhoso esportivo laranja.
— Uau! Um Lotus Elise 1600!
Arthur se surpreende.
— Senhorita Blanco, além de entender de futebol, a senhorita também entende de carros?
— Meu pai tem uma oficina mecânica em Jerez — respondo orgulhosa.
— Gosta desse carro?
— Mas como não iria gostar? É um Lotus! — respondo. — Você vai me deixar dirigir, né? — digo, sem me aproximar dele, apesar da vontade que sinto.
Sem sorrir, Arthur me olha... me olha... me olha e, por fim, joga as chaves para o alto e eu pego.
— Todo seu, pequena.
Quero me atirar no seu pescoço e beijá-lo, mas me controlo. Ao fundo, vejo Amanda nos olhando com curiosidade e não quero que ela saiba de nada, embora eu tenha consciência de que ela já está tirando suas próprias conclusões. Que se dane! Sua cara diz tudo, e dá para sacar que ela está muito... muito irritada.
Arthur e eu atravessamos a porta do hotel e, assim que entramos no carro e eu arranco, ligo o rádio. A música Kiss, do Prince, está tocando e eu movimento os ombros empolgada. Arthur olha para mim e, brincando, faz cara de contrariado. Divertindo-me, sorrio por sua expressão e, antes que ele diga qualquer coisa, coloco meus óculos escuros.
— Manda ver, menina.
O dia tem tudo para ser maravilhoso. Estou dirigindo um Lotus incrível ao lado de um homem mais incrível ainda. Quando saímos de
Barcelona em direção a Tarragona, me desvio por uma estradinha. Arthur não olha.
— Não sei se você sabe, mas já passei muitos verões em Barcelona
— digo.
— Não. Não sabia.
Sinto a adrenalina no auge enquanto dirijo.
— Vou te levar num lugar onde você vai poder experimentar esta maravilha. Você vai ver. Vai enlouquecer!
Com sua seriedade habitual, Arthur olha para mim e diz:
— Lu... essa estrada não é para um carro como esse.
— Fica quietinho.
— O pneu vai furar, Lu.
— Cala a boca, seu estraga-prazeres!
Minha adrenalina vai a mil.
Continuo e vamos passando por várias poças d’água. O carro brilhante se enche de lama e Arthur me olha. Eu cantarolo e finjo que nem estou reparando. Sigo meu caminho, mas, de repente, ah, ah...! O carro faz um movimento estranho e sinto que o pneu furou.
A adrenalina, a alegria e o bom humor se apagam em décimos de segundos e penso num palavrão. Com certeza ele vai dizer que me avisou e terei que concordar e ficar quieta. Reduzo a velocidade e, quando paro, mordo o lábio e olho para Arthur com cara séria:
— Acho que o pneu furou.
Ele me encara com uma expressão irritada. Já percebi que Arthur não gosta de imprevistos. Estamos no meio da estrada, ao meio-dia, com o sol a pino. Sem dizer nada, sai do carro e bate a porta com força. Eu saio também. Finjo ignorar seu gesto brusco com a porta. O carro
está imundo e cheio de lama. Nada a ver com o lindo e reluzente carro que comecei a dirigir há apenas quarenta minutos. O pneu furado é bem o da frente e do lado do motorista. Arthur fecha os olhos e suspira fundo.


Capítulo 62:

— Ok, o pneu furou. Mas tudo bem. Não vamos entrar em pânico. Se o estepe está onde deve estar, eu troco rapidinho.
Não responde. Mal-humorado, anda até a traseira do carro, abre o porta-malas e vejo que tira um pneu e as ferramentas necessárias para trocá-lo. Irritado, se aproxima de mim, solta a roda no chão e me diz com as mãos sujas de graxa:
— Você pode sair da frente?
Suas palavras me deixam furiosa. Não apenas pelo tom, mas pelo que dão a entender.
— Não — respondo sem me mover um centímetro —, não posso sair da frente.
Minha resposta o surpreende.
— Lu — diz — você acabou de estragar um dia lindo. Não o estrague mais ainda.
Ele tem razão. Cismei de entrar por aquele caminho, mas não gosto que ele fale desse jeito comigo.
— É você quem está estragando o dia lindo com sua falta de educação e sua cara emburrada — respondo, incapaz de ficar de boca fechada. — Porra! O pneu furou. Só isso. Não seja tão exagerado.
— Exagerado?!
— Sim, terrivelmente exagerado. E agora, por favor, saia da frente que eu mesma vou trocar esse pneu sozinha e apagar meu erro terrível e irreparável.
Arthur está suando. Eu também. O sol não nos dá descanso e não trouxemos nem uma mísera garrafa de água para nos refrescarmos. Vejo a aflição em seu rosto, em seu olhar.
— Tudo bem, espertinha — ele diz, abrindo as mãos. — Agora você vai trocar o pneu sozinha.
Em seguida começa a andar até uma árvore que está a uns dez metros do carro.
Quando chega à sombra, Arthur senta e me observa.
A fúria me domina por dentro e começa a pinicar meu pescoço. Maldita urticária! Sem parar para pensar nisso, ponho o macaco por baixo do carro e começo a fazer força para erguê-lo. O esforço me faz suar mais ainda. Estou ensopada de suor. Meus seios e minhas costas estão encharcados, minha franja gruda na testa, mas eu continuo determinada, sem dar o braço a torcer.
Sou forte e autossuficiente!
Após um esforço terrível em que sinto que vou desmaiar, consigo retirar o pneu furado.
Me sujo toda de graxa, mas não há o que fazer. Quando estou prestes a gritar de frustração, sinto Arthur me agarrando pela cintura.
— Tá bom, você já provou que sabe fazer isso sozinha — diz com voz suave. — Agora, por favor, fica na sombra e eu termino de pôr a roda.
Quero dizer não. Mas estou com tanto... tanto calor que das duas uma: ou eu fico debaixo da árvore ou com certeza vou desmaiar.
Dez minutos depois, Arthur liga o carro, dá uma volta e se aproxima de mim de marcha a ré.
— Vamos... suba.
Irritada, faço o que me pede.
Estou suja, furiosa e morrendo de sede. Ele está igual, mas reconheço que seu humor está melhor que o meu. Dirige com cuidado pela droga de caminho e pega a autoestrada.
Quando avista um enorme posto de gasolina, para o carro, olha na minha direção e pergunta:
— Quer beber alguma coisa bem gelada?
— Não... — Ao ver como me olha, acrescento: — Claro que quero beber alguma coisa. Estou morrendo de sede, você não está vendo?
— Posso saber o que te deu agora?
— O que me deu é que você é um rabugento. É isso que me deu.
— O quê?! — pergunta, surpreso.
— Sério, você acha que, só porque um pneu furou e você sujou sua roupa de graxa, o dia lindo foi por água abaixo? Por favor! Como é pequeno seu senso de humor e de aventura... Só podia ser alemão.
Faz menção de responder algo, mas se cala. Respira bufando, sai do carro e entra no posto de gasolina. Então vejo a meu lado um lava-jato manual e não penso duas vezes.
Arranco com o carro, ponho o veículo em paralelo, enfio três euros na maquininha e a mangueira da água começa a funcionar. A primeira coisa que faço é molhar minhas mãos e tirar a graxa toda. E o calor é tão forte que solto o cabelo e, sem me importar com quem possa
estar vendo, coloco a cabeça embaixo do jato de água. Ai, que geladinho!
Uma delícia!
Quando minha cabeça já está refrescada, recupero o bom humor. Arthur sai da loja de conveniência do posto com duas garrafas grandes de água e uma Coca-Cola, e vem até mim, surpreso.
— O que você está fazendo?

6 comentários: