A Promessa - Último Capitulo

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 Último Capitulo
  Assim como uma jornada de mil quilômetros termina com alguns poucos passos, uma espera de décadas termina                 em segundos.
                    É chegada a hora.
                                                                                        Diário Lua Maria Blanco

Estava sentada na cama quando Diego me chamou.
- Já vou- respondi. Voltei para o banheiro e contemplei-me mais uma vez no espelho. Mesmo que conseguisse escode o inchaço de meus olhos, não poderia escode as rugas. Se ele se lembrar, parecerei velha para ele? É claro que sim. Para ele, eu estarei quase vinte anos mais vela. Ele parecerá o mesmo do que na semana passada, quando veio ajudar Diego a instalar a nova TV no andar de baixo.
Não posso me esconder aqui para sempre, falei para mim mesma. Respirei fundo, e saí do quarto, caminhei pelo corredor e desci as escadas. Luana e Arthur estavam no hall de entrada, logo abaixo. Ambos ergueram os olhos para mim.
- Feliz Natal, mamãe - Disse Luana.
- Feliz Natal, querida. Você está magnífica. Como está se sentido?
- Estou bem.
Virei-me para Arthur e disse de um modo um pouco formal:
- Feliz Natal, Arthur.
- Feliz Natal.
Quando cheguei ao pé da escada, beijei Luana e,  em seguida, Arthur.
- Vocês precisam provar o aperitivo de Diego - disse a eles.
- Ele já nos ofereceu - respondeu Arthur. - Estávamos prestes a ir até a cozinha.
- É sempre algo novo - comentou Luana. - Felizmente, tudo que ele faz é fabuloso.
A campainha tocou e, antes mesmo que e pudesse caminhar até a porta, ela se abriu e Mel entrou. 
- Alguém em casa?
- Mel - falei.
- Minha boneca. - Correu e me abraçou. - Feliz Natal, puxa, você está magnífica. Chay, apenas fique na sua.
Chay estava alguns metros atrás dela, remugando um pouco.
- Feliz Natal, Lua.
- Feliz Natal, Chay. Diego está na cozinha. Tem cerveja gelada na geladeira.
- Pode deixar.
- O que é isso que está usado? - Observou Mel, olhando para o meu camafeu. - É novo?
- Não. É muito antigo. Eu o tenho desde Capri.
- É o... - e se deteve. Mel raramente se continha, mas falar sobre Capri sempre significava passar dos limites.
Desviei o olhar e vi que Arthur me encarava.
- É  bonito - falou. - Desde quando você o tem?
- Faz muito anos. Foi um amigo querido que me deu.
Mel disse a Arthur:
- Olá, seu italiano bonitão. Me dê um beijo.
Arthur deu um sorriso amarelo.
- Oi, Mel. - E beijou seu rosto.
- Sempre no rosto - falou. - Sempre no rosto. Apenas dessa vez eu gostaria de um beijo na boca. E olhe só para Você, garota - disse, tocando a barriga de Luana. - Você está linda, com esse bolinho no forno. E que cheiro divino é este? O que Diego está aprontando este ano?
- Não importa o que papai faça, sempre fica bom. - respondeu Luana
- Ele está tentando algo novo este ano - falei. - Comida italiana.
- Mamma mia - disse Mel. - Simplesmente adoro comida italiana. Tudo que é italiano, também. Você também - disse a Arthur. - Eu também deveria ter me casado com um.
- Deveria - disse Chay, da cozinha.
- Deixe que eu guarda seu casaco.
Pendurei seu casaco no armário da entrada, e olhei de relance para Arthur, que agora caminhava pela casa, olhando fotografias com uma mão no bolso e um brinque na outra. Diego me chamou da cozinha.
- Lu, Você pode servir o aperitivo?
- Claro. - Fui até a cozinha. Diego enchera um preto com seus medalhões de ostra enrolados em bacon, presos com palitinhos. Peguei um deles e coloquei na boca.
- Delicioso.
Diego sorriu para mim.
- Obrigado.
Peguei a bandeja.
- Estão servidos?
- Eu quero um - disse chay. - Ou dez.
- Arthur?
- Claro. Obrigado. - Pegou dois. - Um para Luana - disse.
- Ela não pode comer -  falei.
- Não?
- Você sabe... gravidez e mariscos.
- Puxa. Desculpes. Esqueci. - Comecei a me afastar, e então me detive. - Arthur, você pode pegar os guardanapos?
- Claro. - Olhou em volta. - Onde estão?
- Onde Você os colocou da última vez -falei. Ele não se moveu. Apontei para uma gaveta. - Ao lado da lava-louças.
- Certo - respondeu. Abriu a gaveta e pegou um punhado.
Vinte minutos depois, Diego gritou:
- O jantar está pronto. Todos para sala de jantar.
Luana e eu ajudamos Diego a levar os últimos pratos á sala de jantar, onde todos nos reunimos.
- Onde Você quer se sentar, mãe? - Perguntou Luana.
- Diego, Você fica na ponta. Mel e Chay, Você ficam ali, ao meu lado. Arthur, Você e Luana se sentam aqui.
Quando nos sentamos, Diego segurou minha mão. - Você se importaria de fazer a prece, querida?
- Eu adoraria, obrigada. - inclinei a cabeça. - Senhor, agradecemos por este belo Natal, e pelos Natal passados. Agradecemos pelas graças e farturas que nos concedeu. Agradecemos pelas graças e farturas que nos concedeu. Agradecemos por nossa família. Rogamos que abençoe esta comida que nos oferece, para que possamos servir ao Senhor. Amém.
Seguiu-se um coro de amém, o mais alto dos quais, claro, brotou de Mel. Diego disse:
- Buon appetito. - Virou-se para Arthur. - Falei certo?
- Como um nativo - respondeu Arthur.
- O que fez para nós? - Perguntou Luana.
- Pensei em tentar gastronomia italiana, este ano. Prima piatto - disse, maltratando o idioma -, Manicotti. E para a dieta especial de nossa garota favorita, manicotti enrolado em espinafre, caldo de linguiça e vitela á parmigiana.
Luana sorriu.
- Obrigada, papai.
- O prazer foi meu, querida.
Diego entornou o caldo de linguiça em nossos pratos. Quando todos foram servidos, Mel perguntou a Luana:
- Como você está? Sua mãe disse que você sentiu um pouco de enjoo.
- Não é nada. Mamãe sempre se preocupa comigo. Na verdade, é Arthur que não está se sentindo bem esta noite. Ele está com uma dor de cabeça terrível.
Estava acompanhando a conversa, e virei-me para ele.
- Que pena. Quer algum remédio?
- Não, eu estou bem - disse Arthur, aparentemente constrangido pela atenção. - Não é nada.
- Nada? - Disse Luana. - No caminho, ele começou a dirigir para o lado errado.
Olhei-o, curiosa.
- Para onde estava indo?
Luana falou antes dele.
- Ele estava indo para o norte, na vinte e três , em direção á sua antiga casa.
Observei-o, e nossos olhos se encontraram.
- E agora, está se sentindo bem?
- Estou melhor?
- Bom. - Dei um gole de vinho e desviei o olhar. Alguns minutos depois, falei: - Diego e eu temos um pequeno presentes para Vocês.
- Querida, achei que iríamos esperar até o fim do jantar - objetou Diego.
- Desculpe. Pensei que seria divertido misturar um pouco as coisas. Está bem para Você?
Ele sorriu.
- É claro. O que quiser, Princesa.
Diego era sempre assim. Não apenas me chamava de ''princesa'', ele me tratava com uma. Foi desse jeito desde o nosso primeiro encontro, me apaixonei imediatamente.
Fui até a sala de visitas, peguei quatro pequenos embrulhos e levei-os até a sala de jantar. Entreguei um para cada convidado.
- Muchas gracias - agradeceu Mel. - Espere, eu deveria dizer grazie.
- Prego - respondi.
- Olhe, parece ser um cd - falou Luana. - O que será que é?
- Só há um modo de descobrir - disse Diego. - Abra. 
Mel abriu o seu primeiro.
- Ah, pare com isso. um livro!
Achei graça.
- Adoro o modo como é fácil agradar você.
Chay foi o próximo.
- Grateful Dead, Bacana. O eterno Jerry Garcia.
- Acertou em cheio - disse Mel.
- Eu não sou uma paranormal - falei para Chay. - Mel sugeriu seu presente.
- Minha vez - falou Luana. Desembrulho cuidadosamente seu presente. - Puxa, Michael Bublé. Eu adoro a música dele. Obrigada, mamãe e papai.
- De nada, querida - falei.
Mel disse:
- Está bem, Arthur, só falta você.
Estivera observando Arthur de canto de olho. Mantivera-se sentado em silêncio, observando todos abrirem seus presentes.
- Eis, o seu tem o  dobro do tamanho do nosso - falou Luana. - Está se sentido importante?
- Fiquei dividida entre dois cds - falei. - Então comprei os dois.
- Obrigado - falou Arthur. Desembrulhou devagar e ergueu o primeiro cd. Começou a rir, e levantou-o para que todos pudessem ver.
- santo Deus - Disse Mel -, Não vejo um desses desde que eu e Chay nos amassávamos na traseira de seu Galaxy no Drive-in Olympus.
- Em Balos de sábado á noite - disse Arthur. - Fantástico.
Luana começou a rir.
- Este é um presente de grego?
Mel elevou a voz.
- Você está falando dos Bee Gees, garota. Mais respeito.
Arthur olhou para mim e sorriu. 
- Os Bee Gees. Perfeito. Obrigado.
- Só não queria que você passasse a vida toda sem saber quem foram eles.
Olhou-me, e havia um brilho em seus olhos.
- Como poderia me esquecer?
- E qual é o outro? - perguntou Mel. - Não nos deixe ansiosos.
Arthur  retirou-o do embrulho, embora víssemos o sorriso em seu rosto antes do cd.
- Sevage Garden - falou.
- Ah, esse é bom - falou Luana. - Você gosta deles, não é? - perguntou a Arthur.
Ele assentiu.
- Adoro.
- Há uma música neste álbum de que gosto especialmente - falei. - Truly Madly Deeply''.
- Puxa, eu amo essa música - respondeu Luana. - Descobri como mamãe era antenada depois que ela trouxe o cd para casa antes de mim ou de meus amigos. Acho que ela comprou no dia em que o disco foi lançado. - Virou-se para mim. - Lembro que uma vez você estava chorando.
Baixei os olhos, um pouco constrangida.
- É uma música delicada.
Arthur concordou.
- Ela traz recordações. 
- Que tipo de recordações? - perguntei.
- Recordações afetuosas.
A conversa subitamente mergulhou no silêncio. Diego suspirou.
- Está bem. Ia esperar para fazer isso depois da ceia, mas já que Lua abriu as comportas, eu também tenho uma pequena surpresa.
Virei-me e olhei para ele.
- Uma surpresa?
- Sim, eu sei que você odeia surpresas, mas dessa vez você vai ter que aguentar. - Pegou um pacote plano, belamente embrulhado, que estava no chão, ao lado de sua cadeira. Entregou-o para mim e me beijou. - Feliz Natal, querida.
- Você me pegou totalmente de surpresa. Não fazia ideia.
- Ouçam todos - disse Diego, erguendo as mãos para o ar. - Quero que vocês testemunhem isto. Uma vez na vida consegui deixar a Lua surpresa. Vocês não fazem ideia de como é difícil surpreender essa mulher com qualquer coisa.
- Sem bem - comentou Mel. - Essa mulher é uma vidente. Ela praticamente prevê o futuro.
- Serio? - perguntou Arthur.
- Os últimos dez Super Bowls e todos os cinco American Idol.
- Já chega, Mel - falei.
Retirei a fita e abri o embrulho metálico vermelho. Dentro dele, havia um envelope branco e verde. Abri-o, expondo seu conteúdo.
- O que é isso? - retirei do envelope dois Bilhetes de avião. - Fiumicino, Roma.
- Passagens de avião para a Itália - anunciou Diego.
Por um momento, fiquei sem reação. Minha cabeça rodava em um milhão de direções.
Diego me olhou atentamente.
- Lu, é uma surpresa feliz?
Inclinei-me e o beijei.
- Muito feliz. Obrigada, querido. Você é caprichoso até demais. 
Diego se vangloriou.
- Não para a minha garota.
- Estou tão feliz por vocês dois - disse Luana. - Mamãe não vai para a Itália desde... o senhor Arthur. - Olhou para mim.
- Quem é o senhor Arthur? - perguntou Diego.
- Uma antiga paixão - disse Mel, acenando. - Já apagou faz tempo, puf, a fumaça se dissipou, sumiu, nada com o que se preocupar.
- Você nunca me falou sobre um senhor Arthur - Diego me disse com delicadeza, erguendo as sobrancelhas.
- Bem, uma garota precisa guardar alguns segredos - falei, evitando o olhar de Arthur. - É o que a torna interessante.
- Do jeito que gosto de você.
- Mamãe - disse luana -, você não jogou uma moeda na Fontana de Trevi?
- Eu assenti aquele filme - comentou Mel -, A fonte dos desejos. Se você jogar uma moeda na Fontana de Trevi, irá voltar para Roma. Se jogar duas... - Parou - Não me lembro.
- Encontrará um amor - disse Arthur. Olhou para mim. - Quantas moedas você jogou?
- Duas.
- E conseguiu o que desejava?
Meus olhos se encheram de lágrimas e olhei para Diego.
- Consegui as duas coisas. - Coloquei as passagens de volta no envelope. - Obrigada.
- Bem - disse ele, sorrindo como o gato  da Alice -, alguém por acaso reparou na data desses bilhetes?
Olhou para mim e eu balancei a cabeça.
- Partiremos depois de amanhã. Passaremos o Réveillon na Piazza del Popolo. - Virou-se para Luana e Arthur.- E por ''nós'' me refiro a nós quatro. Precisamos partir antes que nossa criança cresça demais por causa de seu bebezinho.
Luana Gritou.
- Sério?! - Levantou-se, contornou a mesa até Diego e o abraçou. - Obrigada, papai.
Ele estava exultante de alegria.
- De nada, minha querida.
- Obrigado, Diego. - disse Arthur.
- Bem, achei que seria uma boa escapada enquanto somos apenas quatro. Uma espécie de última ''hurra!'' do casal sem filhos. E além disso - disse, piscando-,  dessa forma não precisarei contratar um intérprete.
- Obrigada, querido - falei para Diego. - É uma surpresa maravilhosa.
Ele ergueu o cálice.
- Um brinde. Á família.
- Á família - acompanhei. - E isso inclui você, Mel.
- É bom mesmo - falou. - Á família.
Tomei um gole de vinho e, em seguida, corri os olhos pela sala. Era perfeito. Havia tanta alegria e calor humano. Havia tanto por que ser grata. todos estavam tão felizes. Tudo estava perfeito.

Quando os ânimos arrefeceram um pouco, falei: 
- Arthur, por que não vem comigo e apanho um analgésico para você?
Pouso o guardanapo sobre a mesa.
- Obrigado. Já volto- falou para Luana. 
Subi a escada com pressa. Quando Arthur chegou até o corredor do andar de cima, agarrei seu braço e o  puxei até o meu quarto, trancando a porta atrás de nós.
- Lua - falou.
Abracei-o.
- Faz tanto tempo.
- É como se tivesse sido esta tarde - falou Arthur.
Dei um passo atrás.
- Faz dezoito anos. Eu pareço velha, não pareço?
Balançou a cabeça.
- Você está ótima.
Sorri com tristeza.
- Você não faz ideia do que foi guardar este segredo, sem ninguém para compartilhá-lo! - Apertei sua mão. - Mamma mia, o dia em que Luana trouxe você para casa pela primeira vez e fingi que nunca nos vimos - enxuguei uma lágrima do rosto - e esperar que Luana  adoecesse...
- Luana não tem câncer - falou, perguntando ao mesmo tempo que afirmava.
- Não, não tem. Você voltou para me salvar, e salvou-a também. Você nos salvou a todos.
- Há quanto tempo está casada com Diego?
- Treze anos.
- Você o ama?
- De todo o coração; Ele é um homem maravilhoso. E eu o devo a você, sem você nunca o teria conhecido.
- A mim?
- Depois de Fernando, jamais pensei que poderia confiar em um homem novamente. Você me deu a coragem para confiar. Você me deu esperanças de que havia homens como você lá fora.
Ele tomou o meu rosto com a mão e segurei-a com a minha.
- E agora, o que faremos? - Perguntou.
Um sorriso largo cruzou meu rosto.
- Vivemos. Você tem Luana de volta. Eu tenho Diego. Fomos abençoados.
- E nós dois?
Balancei a cabeça e sorri.
- Sou grata por minha filha ter um homem como você. Minha duas pessoas mais queridas neste mundo têm uma á outra. O que mais uma mãe poderia desejar?
- É verdade. mas é isso que quer?
Meus olhos se encheram de lágrimas.
- Eu sempre te amarei. Sabia disso?
Ele aquiesceu
- Eu sempre te amarei.
- E sempre teremos o ano de 1990.
Ele sorriu.
- Feliz Natal, Lu.
- Feliz Natal. - Apenas olhei-o nos olhos por um instante e, em seguida, falei: - É melhor voltarmos para a festa.
Concordou com a cabeça, virou-se para sair, então se deteve.
- Posso te abraçar mais uma vez?
Olhei-o por um momento, e sorri.
- Eu adoraria.
Aproximou-se de mim e me envolveu com os braços. Meu coração estava repleto. Não de tristeza ou arrependimento, não de paixão ou desejo, mas de amor - gratidão e amor. Talvez ambos sejam a mesma coisa. Estou certa disso. Dezoito anos não foi tempo demais para esperar um momento daqueles.
                                                                                                                                FIM.


6 comentários:

  1. Gostei, mais n sei pq fiquei triste c a Luana gravida dele :(

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  2. Nossa que web, serio, eu chorei no final, juro, foi um mix de sentimentos, eu achei incrível e triste, não sei explicar, mas foi perfeito, nunca chorei com nenhuma web e nem senti nada parecido lendo, como o que senti lendo essa web, parabéns web incrível sem duvida, perfeita

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