"Certezas" - 43º Capítulo

No capítulo anterior…

POV NARRADOR

Quando eles chegaram no quarto, Lua estava deitada na cama, dormindo.
Arthur se aproximou dela, deixando as flores na beira da cama, e se agachou um pouco para fazer um carinho no rosto dela. Ela estava um pouco pálida e o estou rosto aparentava cansaço.
Dona Blanco foi falar com a enfermeira e quis saber qual era o estado de Lua.

- Bom, como viu, correu bem a cirurgia. Lua aceitou bem à primeira o rim no seu corpo. Porém, terá de tomar muitos cuidados nos seguintes dias, como eu já lhe havia dito. O facto de Lua já ter o rim doado no corpo dela, não quer dizer que o corpo dela tenha aceitado mesmo esse rim. Ela terá de tomar medicamentos para que o corpo não rejeite o rim.
- E bom, esses medicamentos têm efeito secundários?
- Sim, elas são uma espécie de drogas. Vão reduzir a resistência de doenças, ou seja, ela poderá adoecer mais rápido.
- Coitada da minha menina. – dona Blanco levou a mão ao peito – Será que já não chega de sofrer?
- Ela poderá sofrer alterações de humor, alterações na pele e pode inclusive ganhar peso. É duloroso… mas se tudo correr bem, Lua poderá estar livre de muitos problemas. Já imaginou se ela ficasse sem um rim funcionando? Já imaginou os problemas?
- O pior é que o rim não é o seu único problema.
- Eu sei. Ela tem hipertensão arterial também. Mas você vai ver que quando Lua sair dessa, ela vai sair bem mais forte. Acredite em mim!


Lua saiu poucos dias depois. Mas sete dias após a cirurgia, tinha de voltar à clinica para lhe retirarem os pontos.
Arthur era um perfeito cavalheiro. Não deixava ela pegar em pesos, não fazia ela andar muito e lhe abria e fechava sempre a porta do carro. Se preocupava muito quanto è temperatura do corpo dela e se precisava ou não de comer ou beber alguma coisa.

- Arthur, calma! Eu sou uma pessoa normal ok? Não estou morrendo.
- Só estou preocupado com você!
- Mas não precisa, que droga! – Lua se mostrava irritada.

Dona Blanco foi quem os trouxe para casa. Arthur estava atrasado para o trabalho, mas queria se certificar que ela chegava bem a casa. Ao sair do carro, Lua e Arthur brigavam porque a garota insista em trazer a mala dela. Arthur foi mais teimoso e foi quem trouxe a mala.
Assim que entraram em casa, Pingo veio correndo em direção a Lua. Primeiro ladrou, pois nunca tinha visto Lua antes, mas depois o cãozinho viu Arthur atrás e então começou a cheirar e a lamber o rosto de Lua.

- Cuidado Pingo, hein. – Arthur largou a mala de Lua e segurou o Pingo
- Deixa ele. – Lua pediu
- É melhor você se sentar primeiro e…
- QUE DROGA ARTHUR! ME DEIXA! VAI TRABALHAR DE UMA VEZ! – Lua gritou com ele – Mal chegamos a casa e eu já estou farta de você!

Arthur ficou com Pingo nas mãos enquanto Lua subia as escadas para o quarto toda irritada. Dona Blanco viu toda a cena, entre os dois, e levou a mão ao ombro de Arthur.

- Calma Arthur. A enfermeira disse que os medicamentos de recuperação provocavam alterações no humor. Daqui a pouco ela já está bem.
- Eu só estava tentando ser…
- Cuidadoso. Eu sei. Mas tenha paciência. – Dona Blanco suspirou.


Nos primeiros trinta dias, após a cirurgia, Lua teve de fazer exames clínicos e laboratoriais semanalmente. Sempre que fazia, chegava em casa esgotada e mais mal humorada do que o normal.

Arthur continuava trabalhando feito louco. Estava desejosa de poder ter um bom dinheiro para depois levantar cabeça e comprar um apê, para poder viver com Lua.

Depois dos trinta dias, Lua ia à clínica, fazer os exames, apenas duas vezes por mês. Entretanto, Arthur fez 18 anos e teve como presente um carro. Foi oferecido pelos seus padrinhos que tinham vindo do Brasil, apenas de férias.

Lua tinha acordado de bom humor e foi aí que Arthur aproveitou o sol que se fazia para poder ficar um pouco mais com ela. As últimas semanas têm sido muito corridas e mal dá para ficarem juntos. Além disso, Arthur tem de domar a fera que Lua tem estado, devido às alterações de humor.

- Amor – chamou Lua. Arthur estava vendo algo no computador, mas logo largou para poder dar atenção a Lua.
- Linda! – ele virou a cadeira e puxou ela pró seu colo
- Está um dia lindo lá fora. A gente podia sair, né?
- Quer?
- Queria…
- Queria ou quer?
- Quero! – ela sorriu – Vamos?
- Lógico. Onde você quer ir? Praia?
- Não… praia não.
- Mas porquê? Está um sol perfeito e te fazia bem apanhar um pouco de sol.
- Não, não quero… vamos antes… ao parque e assim levamos o Pingo com a gente.
- Tudo bem. Vamos então ao parque. – Arthur concordou
- Vou antes trocar de roupa então.
- Eu vou também.
- Primeiro eu então.
- Mas… - Arthur riu bobo – Desde quando precisa ir um para ir outro?
- Desde que… eu quero a minha privacidade.
- Hello, Lua. Sou eu, o Arthur. – ele acenou pra ela na brincadeira
- Eu sei… mas eu quero assim, me respeite.
- Tudo bem. – ele levantou as mãos em defesa

Os dois subiram para o quarto, porém Arthur esperou no corredor. Ele continuava dormindo na cama, do sofá, e às vezes, quando Estrela dormia na casa do namorado, ele ficava no quarto dela. Porém, as roupas dele ficavam sempre no quarto de Lua. Dona Blanco não autorizava que eles dormissem juntos uma noite.
Lua entrou no quarto e ficou se trocando. Olhou para o estou, já despida, e olhou para o seu corpo. Ele estava estranho, muito estranho. Um pouco branco de mais. Talvez Arthur tivesse razão, talvez ela deve-se mesmo ir apanhar sol. Mas além de branco estava gordo. Os medicamentos tinham feito ela engordar um pouco, mas nada trágico.
Arthur pensou que Lua já estivesse pronta, pela demora, então entrou no quarto sem bater à porta. Ela se assustou e pegou logo uma coberta e colocou à volta do corpo. Ele ficou enfeitiçado.

- SAÍ DAQUI! – ela gritou. Estava chorando. – SAÍ DAQUI!
- CALMA LUA, CALMA! – ele fechou a porta e se aproximou dela
- SAÍ ARTHUR! EU NÃO QUERO QUE ME VEJA ASSIM, NÃO QUERO!
- PÁRA LUA, PÁRA! – ele pediu segurando os braços dela que tentavam empurrar ele para longe – Porque está assim? Eu já tinha te visto sem roupa e…
- Mas antes eu não tinha esse corpo Arthur, não tinha! – ela começou a soluçar dessa vez – Agora eu me tornei na coisa mais horr…
- Não se atreve a dizer isso! – ele interrompeu ela – Você está linda. Você É linda! Pouco importa se tem ou não um corpo perfeito. Eu não me importo com isso e nunca me importei. Só quero você, só você. O seu jeito… o seu toque, o seu abraço… - ela abraçou ele e chorou no seu ombro, segurando com força a blusa dele – Seu beijo… - ele levantou o rosto dela e beijou delicadamente. Primeiro alguns selinhos e depois um beijo com mais garra.

Lua era aquela pessoa delicada que Arthur sentia a obrigação de cuidar. Sabe o que se chama isso? Amor!
Confiando mais um pouco nele e ainda com vergonha, Lua se trocou na frente de Arthur e o garoto lhe convenceu a irem à praia. Lua só não queria ir porque não queria mostrar pra ele o seu corpo. Arthur também se trocou.
De toalhas nos ombros e uma bolsa com sucos e protetor solar, os dois entraram no carro de Arthur e foram em direção à praia. Eles não iam sozinhos. Pingo também ia à praia pela primeira vez.

- Vou mandar uma mensagem à minha mãe dizendo que vamos sair.
- Tudo bem. – Arthur conduzia com toda a atenção do mundo. Ele agora tem 18 anos, carta de condução e precisa de ser 100% responsável.

Chegando à praia, eles escolheram o local ideal para estender a toalha e passarem uma tarde agradável. Pingo ficou se enrolando na areia de um lado para o outro, parecia um maluquinho. Arthur passou protetor solar nas costas e ombros de Lua, e vice versa.
Depois de um mergulho, os dois voltaram para as toalhas. Arthur foi pegar algo para beber para os dois e depois ficou tomando sol. Lua ficou lendo o livro enquanto também apanhava um pouco de sol.
Passou um grupo de garotas fazendo demasiado alarido e jogando areia por todos os lados. Arthur levantou o rosto, tirando os óculos de sol, e ficou olhando elas com cara de bravo. Lua viu ele olhar para as garotas e não gostou. Ela pensou que ele estava babando elas.

- Ei! – resmungou ela – Podia disfarçar um pouco, ao menos, não? Eu estou aqui!
- Quê? – Arthur perguntou sem entender
- Affs! – ela voltou a ler o livro
- Que foi Lua? – ele sentou na toalha de praia e olhou pra ela
- Eu vi tá? Eu vi você olhando para elas.
- Eu estava olhando para elas, porque aquelas sem educação me jogaram areia enquanto eu estava descansando, nada de mais.
- Sim, claro.
- Lua, ei… pra quê esses ciúmes agora?
- Não está na cara? E ciúmes o quê? Eu não tenho ciúmes de você!
- Que ideia! – ele riu e se inclinou para beija-la
- Pára Arthur, é sério! – ela o empurrou – Você sabe que eu odeio o meu corpo e depois ainda fica babando outras. Faça isso sem eu perceber ok? – ela estava visivelmente irritada e triste. Fechou o livro com força e se levantou bem rápido da toalha – Vamos embora! Cansei de praia!
- O quê? Logo agora?
- Porquê? Queria ficar olhando para as suas amiguinhas é? Olha só, elas estão olhando você também! – Arthur olhou para trás e viu as três olharam e acenarem para ele, todas sorrindo.
- Por mim já chega! – Lua pegou a bolsa, colocou a toalha à volta do corpo e depois de pegar Pingo ao colo foi andando para fora da área de praia feita louca.

Depois de Lua quase ter sido “atropelada” pelo carrinho dos sorvetes, Arthur conseguiu segurar ela pelo braço e a levar para dentro do carro. Até casa os dois não se falaram.
Arthur pensou que tudo não passava de uma ceninha de ciúmes. Não deu muita importância. Chegando a casa, tomou um banho, brincou um pouco com o Pingo e depois foi ver um filme. Lua havia se fechado no quarto para não variar.
Dona Blanco chegou em casa com o jantar em mãos. Ela havia passando num restaurante e comprou a comida feita. Todos vieram jantar e ficaram conversando de assuntos que não interessava a ninguém.

- Mãe, ela não era ninguém. Casou com um velho apenas por dinheiro e na primeira chance matou ele. Simples.
- Eu não acredito nisso. Ela parecia ser tão humilde.
- Nem tudo o que parece realmente é. – dizia Estrela
- Filha, você está muito calada.
- Calada e sem fome. Com licença. – ela se retirou da mesa

Pouco depois de jantar, Arthur levou um chá e algumas bolachas ao quarto de Lua. ela mal tinha tocado na comida do jantar e não podia ir para a cama de barriga tão vazia.

- Posso? – falou já entrando
- Não.
- Ops, já entrei. – falou irónico
- Pela mesma porta de onde entrou, pode voltar a sair. – disse ela toda arrogante. Ele fechou os olhos e respirou fundo. Colocou de seguida o tabuleiro na cama dela e a encarou
- Está ainda assim porquê? – ela não respondeu – Olha Lua, chega! Chega dessa porra toda. Eu estou cansado, cansado, sabia? – ele foi irritado até à porta e ela se levantou da cama – Estou cansado de não fazer nada e de ter de ser sempre eu a pedir desculpas. Estou cansado do seu mau humor todos os dias. Estou cansado de ser o namorado inútil que só serve de saco de pancada. Quando você achar que eu sirvo para alguma coisa, venha ter comigo! – dito isso, ele foi embora, fechando a porta com força.

Opa, opa. O Arthur tem razão ou não? Quero opiniões!