A Promessa - Capitulo 11

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Capitulo 11 
                               Ai de mim, outro ano.
                                                                                  Diário de Lua Maria Blanco
   Luana passara o dia brincando na casa de uma vizinha, Ana, sua melhor amiga. A mãe de Ana, Fátima. Ela sempre ficava contente de ter Luana por perto.
   Busquei Luana na volta do trabalho. Mais uma vez, ela não se sentia bem. Quando chegamos em casa, simplesmente se deitou no sofá enquanto eu fazia enchiladas, e adormeceu antes que eu terminasse. Cogitei deixá-la dormir, mas estava tão preocupada com sua perda de peso que acordei-a para o jantar. Deu apenas duas mordidas em sua enchilada, e então pousou a cabeça sobre a mesa. Carreguei-a até a minha cama, onde ela passara a dormir desde a morte de Fernando.
  Voltei para cozinha, lavei os pratos, e deitei-me no sofá para ler um livro.
 E era isso, o momento excitante do meu dia. quando pensei no ano-novo, meu coração se encheu de temor. Não me lembro de outra ocasião em que me senti tão vulnerável e sem esperanças. Sentia-me acossada por todos os lados. Estava sozinha, física e mentalmente exausta, espiritualmente apática, e, do ponto de vista financeiro, eu estava corda bamba e bastaria uma pequena brisa para me derrubar. Meu salário não era suficiente para pagar a hipoteca e as nossas despesas. Sem o ordenado de Fernando, sabia que precisava de um trabalho que me pagasse melhor,mas fazendo o que? Não possuía habilidades ‘’rentáveis’’, um bom currículo e, com todas as faltas para cuidar da saúde de Luana, quem me aceitaria?
  Apesar dos temores, lá no fundo eu guardava o maior de todos – enterrados nos mais profundos recônditos de minha mente. E se Luana estivesse lutando contra algo maior do que imaginávamos ? Ela não estava melhorando. E se fosse algo crônico? E se fosse algo fatal? Afugentei imediatamente o pensamento de minha cabeça. Não aceitaria isso. Tudo menos isso.
  Seria bom, como Luana e Mel desejaram, ter alguém para cuidar de mim. Mas eu poderia igualmente desejar um fada madrinha. Não iria acontecer. Erguera muralhas ao redor de minha vida e de meu coração, não porque gostasse da solidão. Não gostava, as ergui para proteger Luana e eu. Apesar de minhas afirmações ao contrário, sou uma dessas mulheres que odeia ficar sozinha. Mesmo depois das traições que sofri, ainda sentia saudades de Fernando. Ao menos eu pensava que sim, até perceber que não sentia saudades dele, sentia saudades da ilusão dele. Queria pertencer a alguém. Queria ser querida. Mas a que preço? Temia que meu estado emocional fosse tão precário quanto o financeiro – a apenas um passo do desastre.
  Meus olhos se encheram de lagrimas. quando a vida se tornara tão cruel? Ou melhor: quando não fora cruel? Estava sozinha desde os dezoito anos, quando minha mãe faleceu durante um operação na vesícula. Minha Tia cuidou de mim por um tempo, mas para mim era óbvio que fizera isso por obrigação, não por querer. Com dezoito, vc já está praticamente encaminhado, de qualquer modo. Conheci Fernando no segundo ano do Ensino médio, e dei um pulo quando ele me fez a pergunta. Não estou dizendo que não o amava. Eu simplesmente não o odiava tanto quando estar sozinha. E paguei por isso.
  Haveria alguém mais em algum lugar para mim? Meus pensamentos vagaram até o homem da mercearia. Arthur. Estaria afastando justamente aquilo que esperava ter?
Deixá-lo se aproximar um pouco teria me matado? Colocar a ponta dos dedos na água? Ele parecia sincero. Ele parecia suficientemente bom.
  Bom. Dei um sorriso amarelo com o pensamento. Outro bom sujeito. Como Fernando. Talvez sejam justamente nos bons sujeitos que não se deva confiar. Talvez fosse a própria fachada do ‘’bom’’ que se deveria evitar, mera pele de cordeiro, não é? Antes o demônio conhecido. 
  A conclusão: eu não sabia. Não sabia em quem, caso houvesse alguém, eu poderia: em mim. Ou ao menos em meus discernimentos. Por sete anos eu vivi uma farsa.por sete anos meu marido, meu melhor amigo, minha alma gêmea, flertara com uma sucessão de mulheres enquanto eu me ocupava com os incêndios em casa, alheia a tudo. Como fui tola. Não, falando francamente, quão burra uma mulher pode ser?
  Creio que tudo que eu sabia realmente era que não poderia me deixar arrastar novamente. Restara muito pouco – muito pouco para meu coração se esvaziasse de todo.
  Á meia-noite, pude ouvir o estouro dos fogos de artifício do outro lado da rua. Olhei pela janela. ‘’Feliz Ano-Novo’’, falei a ninguém. E falei sem esperanças. A felicidade era um cavalo negro.
                                                                                            Continua....

2 comentários:

  1. Lendo isso, eh bom agradecermos por sermos felizes pois ficar de um jeito vazio como Lua n eh bom. Nessecitamos permitir a entrada de pessoas nas nossas vidas, mas cuidado! Não eh qualquer pessoa. Tem muita gente ruim nesse mundo.

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  2. To amando a web!
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