"Certezas" - 29º Capítulo

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No capítulo anterior…

POV LUA

Antes de ir dormir, peguei o meu diário e risquei as etapas feitas.


“Aí a tua vida dá uma volta de 360graus e você não dá por nada. Você ganha novos hábitos, novas manias, cresce fisicamente e mentalmente se dá de conta que o tempo não pára.
Querido diário, como a minha vida mudou tanto nos últimos meses. Há uns meses atrás pensei que poderia ser precisamente agora o meu fim, afinal, o médico me havia dado apenas cinco meses de vida. Mas felizmente tenho do meu lado pessoas que me amam o suficiente para não me fazer desistir.
Levar picadas não é fácil; tomar remédios a toda a hora não é fácil; fazer o hospital de rotina muito menos. Mas se não for assim, não pode ser de outro jeito.

Eu não sei quanto tempo vou demorar neste mundo. Não sei se vivo mais um ou dois anos. Não sei se continuo viva por semanas, meses ou até dias… mas de uma coisa eu tenho a certeza: se Deus nos colocou neste mundo, foi com um objetivo. Esse objetivo é o de viver intensamente e aproveitar cada segundo. É fazer o bem; é fazer amizades; é viver na onda do amor”.


- Lua! – minha mãe me despertou e me fez ir para longe – Vamos filha. Você vai chegar atrasada no primeiro dia.
- Eu já vou.

Fechei o meu diário e coloquei-o debaixo do travesseiro da cama. Peguei a minha bolsa, com os meus cadernos e cantes novas e coloquei no ombro, pegando logo depois dois livros grandes. Saí do quarto, não antes de verificar pela milésima vez os meus cabelos e de seguida ir com a minha mãe que já me esperava.
A minha mãe estava tão nervosa como eu. O primeiro dia de “faculdade”, com pessoas com o mesmo problema que eu, ou até parecido, estava prestes a começar. Um dos meus grandes desejos, daquela lista, era voltar a estudar e cá estou eu para o concretizar.
Aqui ninguém me vai zuar por ter problemas, por ser diferente. Ninguém me vai apontar o dedo ou sentir pena de mim, afinal, aqui somos todos iguais. Existem pessoas com doenças crónicas como câncer, hipertensão com outras.

A sala era pequena, acolhedora. Tinha muitos quadros com fotos entre alunos e professores onde estes últimos se mostravam atentos e empenhados a ensinar.
Havia chegado sete pessoas de uma vez. Todas com idades parecidas à minha. Logo depois chegou a professora que nos ia apresentar, dar as primeiras regras e até as primeiras lições.
O Arthur ficou me mandando mensagens, mas nem respondi. Queria ficar atenta no meu primeiro dia de aulas.


“O tempo foi passando. Eu estava tão centrada nas minhas aulas que esquecia completamente do resto. A professora hoje chegou à sala com uma boa notícia. De todos nós, os três que melhor tirassem notas no primeiro exame, que vamos fazer dentro de duas semanas, ia receber uma bolsa de estudo numa faculdade profissional.
Eu não saia com tanta frequência. Estava com o Arthur quando dava. Ele ficava chateado com a minha ausência mas depois passa.
Querido diário, hoje, um colega de turma me cantou. Fiquei envergonhada e no final disse-o que tinha namorado. Ele ficou estranho.”

- Poderíamos sair amanhã
- Nem dá. Tenho prova na semana que vem
- Exactamente, na semana que vem. – ele pegou o lápis da minha mão e sorriu – Que tal um cinema?
- Que tal você me devolver o lápis? – tirei o lápis da mão dele – Você não tem nada para estudar?
- Prefiro você! – ele pegou as mãos pernas e me puxou para junto dele. Depois um selinho apenas
- Eu preciso de estudar
- Desde que começou essas aulas que não tem mais tempo para mim
- Não exagera!
- Não estou exagerando
- Criança!
- Eu? Criança? – ele me encarou – Estou só pedindo atenção! – ele reclamou e eu bufei
- Pede pra sua mãe
- Prefiro receber atenção da minha namorada, dá pra ser ou está difícil?

Não que eu não gostasse de estar com ele, mas é que… estudar é realmente o meu grande sonho.

- Você vai acabar o perdendo
- Tá maluca? Ele me ama!
- E basta só ele amar?
- Não… eu também o amo.
- Prova, uê! – Estrela disse como se fosse fácil
- Como?
- Arranja um tempo na tua agenda “ocupada” e saí com ele. Vão passear de mãos dadas na praia. Bebam o mesmo café. Vão ao cinema. Brinquem de cão e gato.
- Aff, que chato Estrela. Eu tenho tanto para estudar. Eu quero a bolsa na faculdade.
- E o seu namorado?
- Eu quero ele também. Ele vai me entender. Se me ama, ele vai me entender.


“Eu continuei deixando o Arthur para trás. Eu tomava decisões sem ao menos o consultar. Eu tinha novidades e não contava pra ele. Existiam melhoras, quanto à minha saúde, e eu não partilhava com ele.
Passamos uma semana, quase, sem nos vermos. Era época de exames para ele e para mim também. Mandávamos apenas mensagens dizendo “bom dia” ou “boa noite”.
Senti mais a falta dele quando, um dia, fui fazer um exame na clínica, difícil para mim. Eu era picada várias vezes e o efeito dos remédios me deixava com tonturas horríveis. Sentia falta da mão dele segurando a minha. Mas aí lembrei que nem tinha avisado a ele que vinha…
Querido diário, estarei eu a deixa-lo para trás? Logo ele que me ajuda tanto?”


- Decidi fazer uma surpresa pra ele.
- Sério? Finalmente! Vá bonita.
- Eu sou bonita – ri – Vou até à sua faculdade. Mãe, você me deixa lá?
- Claro!

Minha mãe ia ao shopping para se desocupar dos problemas e aproveitou para me deixar na faculdade do Arthur. Aquilo era enorme e sempre que eu ia lá, me perdia. Felizmente, encontrei Anna, uma amiga dele.

- O Arthur? Eu não sei. Ele ontem veio à primeira aula mas depois faltou ao resto e hoje também não veio. Ele não parecia muito bem.
- Isso é sério?
- Sim… mas, vocês não estão juntos?
- Estamos… quero dizer… eu preciso de falar com ele.

A conversa tinha sido tão rápida que eu ainda era capaz de encontrar a minha mãe ao fundo da rua, perto dos semáforos. Corri até ficar sem fôlego. Ela me viu, parou o carro e me “socorreu”.

- Mãe, estou com medo. Onde será que ele está?
- Deve estar em casa.
- Vamos, pelo amor de deus. – juntei as mãos e pedi que pelo caminho não houvesse trânsito

Minha mãe dirigiu até à casa dele. O carro do pai dele estava fora da garagem o que me deu a entender que provavelmente eles estivessem em casa. A minha mãe me deixou lá à porta e pediu que depois eu lhe ligasse para ela me vir buscar.
Antes de tocar à campainha, respirei fundo. Estava com medo da reação dele.

- Oi.
- Oi Lua. – disse a senhora Aguiar – Veio ver o Arthur?
- Sim. Ele está?
- Está. Pode entrar – ela me sorriu – Como você está? – entramos conversando
- Bem, graças a deus.
- Que bom. Rezo muito por você
- Obrigada – sorri de novo para ela – Ele está no quarto?
- Sim. Pode ir. – permitiu ela

A porta do seu quarto estava fechada e mesmo sem entrar já conseguia ouvir a musica aos altos berros. Ele só escutava musica, desse jeito, quando se encontrava muito stressado com alguma coisa.
Bati três vezes e nada dele responder. Entrei e vi ele deitado na cama, com as pernas esticadas na parede para o alto. Ele parecia estar de olhos fechados, completamente distante.

- Arthur? Arthur! – o chamei. Sei mãos a medir, desliguei o rádio
- Ei! – ele “acordou” e se levantou rápido da cama – Lua? Você por aqui?
- Por que está faltando à faculdade? Não são épocas de provas?
- Qual a razão de tanta preocupação? Despertou finalmente interesse por mim?
- Não fala assim – pedi
- Falo como eu quiser. – respondeu grosso
- Eu sei que tenho andando focada apenas num assunto e tenho deixado você para trás. Mas não é de propósito.
- Imagina se fosse – disse ele irónico
- Você não me parece bem
- Se eu estivesse bem, estaria na Disney
- Pára! – pedi – Já chega. Vamos brigar?
- Você veio cá para isso? – ele me encarou.

Respirei fundo, fechei os olhos e abri-os segundos depois. Ele pegou uma blusa e vestiu.

Primeira discussão do casal? É isso mesmo produção?

4 comentários:

  1. Posta mais, curiosa pra saber... Será mesmo a primeira discussão deles? Espero que eles fiquem bem

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  2. Cris sua Diva de web perfeitas, posta maissss ❤️❤️ Essa web e dmaisss ❤️❤️ I'm in love with this blog 😍❤️

    Gabbyh

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