A Promessa - Prólogo

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Prólogo


 
Trancafiados em porta-joias, escondidos em meu closet, encontram-se dois colares. São presentes de dois homens diferentes.
   Os dois colares são belos, ambos são valiosos e não uso nenhum deles, por motivos completamente diferentes - um em razão de uma promessa mantida.
   Enquanto estiver lendo a minha história,há algo que quero que compreenda. Apesar de todo o sofrimento passado, presente e o que ainda virá - eu não teria feito nada diferente. Nem sequer trocaria por qualquer outra coisa o tempo que passei com ele - exceto por aquilo que, troquei.

                                                                                                          Diário de Lua Blanco


 Quando eu era pequena, minha mãe me disse que todo mundo tem um segredo. Suponho que estivesse certa. Meu nome é Lua, e esta é a história de meu segredo. Não é aqui que minha história começa. E nem é aqui que ela termina. É aqui, eu espero, que ela se cumpre.
  É a véspera de Natal de 2008. O céu noturno se recobre de flocos de neve, que ondulam indecisos no céu como as sementes flutuantes dos algodoeiros. Nossa bela casa perto do desfiladeiro cintila, iluminada por matizes dourados e é aconchegante. Há uma chama ardendo na lareira da sala de estar, sob um retrato de família com data estampada e encimada por uma tampa de madeira talhada, repleta com a nossa coleção e bonecos quebra-nozes alemães.


  A fragrância das folhas de pinheiro, dos brindes e das velas perfumadas preenchem a casa, assim como os aromas da culinária de Diego. Diego é meu marido e, na véspera de Natal, a cozinha é dele – uma tradição iniciada há sete natais e que espero que jamais termine.

 A terna e familiar paz dos cânticos de Natal compõe a trilha sonora da noite. Tudo está no lugar. Tudo está perfeito. É preciso que esteja. Esperei dezoito anos por esta noite.
Aguardamos a chegada dos convidados, nossos velhos amigos Melanie e Chay, e a nossa filha Luana e seu marido.

  Enquanto Diego termina os preparativos, estou no andar de cima, no banheiro principal, tentando me recompor e torcendo para ninguém repare que estive chorando.

 A sós com meus pensamentos, retiro um antigo porta-joias de cedro do fundo da prateleiras superior de meu closet. Não me recordo quanto tempo faz desde que abri aquela caixa, mas ela está coberta de pó. Acomodo-a no balcão do banheiro e ergo a tampa para desvelar o interior de veludo vermelho amarrotado e, dentro, a joia única – um delicado pingente de camafeu com o perfil elegante de uma mulher gravado em uma concha. A imagem está presa a um engaste de outro, preso a uma vistosa corrente do mesmo metal. Tiro o colar da caixa. Faz muitos anos desde que o contemplei – muito mais desde que ele o deu para mim.

  Há uma razão para que eu não o use. Aquilo carrega tantos sentimentos que seria como se eu carregasse uma bigorna em volta do pescoço. Mesmo agora, apenas de olhá-lo, sinto esse peso á medida que abro uma parte de minha mente que mantive fechada: a noite em Capri, quando ele me beijou e pousou o colar suavemente ao redor de meu pescoço. Era um outro tempo, um outro mundo, mas as lágrimas rolam pela minha face da mesma forma que rolaram na época.

  Fecho o colar e me olho no espelho. Estou muito mais velha do que da última vez em que o usei. É difícil acreditar que dezoito anos se passaram.

  Por todos esses anos carreguei um segredo que não pude compartilhar com ninguém. Se o cantasse, ninguém teria acreditado. Ninguém compreenderia. Ninguém, exceto o homem com quem divido o segredo. Durante precisamente dezoito anos ele não se lembrou. Esta noite, isso pode mudar. Nesta noite, o tempo emparelhou-se consigo mesmo. Sei que isso não faz sentido para você, mas irá fazer.
  Minha história começa de fato em 1989. Existem anos em nossa vida que vêm e vão, e mal deixam um impressão, mas, para mim, 1989 não foi um deles. Foi um ano difícil, e por difícil não e refiro a passar um dia no Departamento de trânsito, refiro-me a algo difícil como um inverno siberiano, ao qual sobrevivi por pouco, e jamais poderia esquecer, por mais que o desejasse.

  Era o fim de uma década e de uma era. Foi um ano de contrastes, de Campo dos sonhos e de versos satânicos. Acontecimentos históricos notáveis encerraram a década – a queda do Muro de Berlim, o Massacre na Praça da Paz Celestial. Houve o falecimento de figuras notáveis também: Lucille Ball, Bette Davis e Irving Berlin. Meu primeiro marido, Fernando, também faleceu, mas é tudo que direi sobre isso no momento. Você irá compreender.

  Amei três homens em minha vida. Fui casada com Fernando por sete anos, e estou casada com Diego há doze. Mas houve um homem entre os dois – um homem que sempre amarei -, mas um amor que nunca poderia existir. Aconteceu pouco mais de dois messes após a morte de Fernando,no dia de Natal, quando ele entrou em minha vida e transformou quase toda a verdade de minha existência. Não é fácil explicar o modo como ele surgiu em minha vida, e para onde foi, mas farei o possível.



 As meninas que me desejaram boas vidas eu agradeço muito obrigado pelo carinho de todas :)

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