Foi apenas obra do destino - 3º Capítulo

POV ARTHUR

Fui para casa no meu carro, um pouco mais calmo do que ontem. A noite serviu para eu pensar bem sobre tudo o que aconteceu. Eu já não estava tão preocupado com a Isabel, porque sabia que ela estava entregue em boas mãos, afinal, a irmã é enfermeira.

Estava preocupado com a minha namorada, ou melhor, ex-namorada, porque não quero manter uma relação com uma pessoa que decide me abandonar do nada, mesmo sabendo que eu lhe amava de verdade! 

Quando cheguei na minha casa, havia uma caixa, que provavelmente foi passada de baixo da porta, que estava assinada pela minha namorada. Peguei a carta e fui para o sofá, ler ela.

“Arthur, quando você ler esta carta, provavelmente já estarei bem longe. Antes que mais, quero que saiba que eu te amei de verdade. É mesmo por te amar que eu estou fazendo isso. Quero ir para um lugar melhor, para ganhar o dinheiro que mereço e no futuro construirmos as nossas vidas. Eu queria ter uma despedida mais agradável do que a que tivemos, ou melhor, a que não tivemos, porque você não veio a tempo da minha partida. 

Lembra do ultimo abraço que eu te dei, quando você foi me levar a casa? Eu disse que te amava e pedi que nunca se esquecesse de mim nem que nunca me abandonasse, apesar de eu estar fazendo isso com você. Te abandonei. A porra da distância vai fazer com que você nunca se esqueça disso, mas por favor, não esqueça que pra mim, você sempre será especial. Talvez tudo aconteceu por obra do destino. Eu acredito no destino e sei que provavelmente, agente vai se encontrar de novo. Te amo, baby. Não esquece!”

Ass: Raquel Freitas

Depois de ter lido esta carta, concluo que existem várias formas de amar. Para mim, amar significa estar perto, beijar, abraçar, fazer a pessoa se sentir segura, amada, protegida e acarinhada. Mas para a Raquel, amar é estar longe e pensar apenas no futuro.

Engraçado. Ela pensa que me abandona desse jeito e que ainda irá ter futuro comigo. Está enganada!

Fui na cozinha, pegar alguma coisa para comer de novo. Quando estou nervoso, fico constantemente com fome. Mas quando ia pegar as bolachas, reparei que já tinham acabado. Quando fui pegar o leite, também já tinha acabado, então resolvi fazer o almoço, mas reparei que os hamburguers congelados ou os ovos também tinham acabado. Esta é aquela altura do mês em que eu coloco a mão à cabeça. Decidi fazer massa com salsichas, já que era a única coisa que sobrava.

Enquanto cozinhava, recebi uma mensagem.

“Arthur, como você chegou em casa? Bem? Isabel.”

“Fica tranquila, eu cheguei bem. Obrigado pra preocupação”

“De nada. É que fiquei mesmo preocupada com você. E a sua namorada, já falou com ela?”

“Não, nem vou falar. Ela apenas deixou uma carta”

“Está magoado com ela?”

“Muito! Agora vou seguir em frente”

“E o que pretende fazer?”

“Procurar trabalho, antes que eu fique sem a casa e sem o carro”

“Se precisar, já sabe que pode contar comigo.”

“Obrigado, mais uma vez!”

“Se bem que eu podia falar com a minha irmã, pra ver se ela conseguia um trabalho pra você no consultório dela”

“Será que ela conseguiria lugar para mim?”

“Vou falar com ela e depois te digo algo”

Se eu conseguisse trabalho, nem que seja no consultório dela, eu ficaria super feliz! Se bem que lá, eu não devo ganhar muito e provavelmente vou ter de escolher entre o carro e a casa. 

Sempre tenho algumas poupanças, mas não quero gastar tudo. Vai que acontece mesmo algo pior.

“Arthur, a Lua disse que no fim desta semana te diz algo”

“Muito obrigado, de verdade!!”

Mesmo com o possível trabalho com a Lua, ainda procurei algumas coisas pela cidade. Mas a verdade, é que estava difícil. O pior, é que o banco pediu o dinheiro para a conta do carro e da casa e não tinha como eu dar o dinheiro. Marcaram até um reunião no banco, à qual eu tinha de estar presente.

- Você tem dividas a pagar. Nestes tempos, não podemos ser moles com ninguém. Você tem de pagar o que deve, caso contrário, será tudo retirado. O que vai pagar? – eu respirei fundo – Você tem o carro, que é a divida mais leve e tem a casa, que é o triplo do dinheiro. No seu caso, eu ficaria com o carro

- Mas e a casa?

- A casa será retirada. Você tem até amanhã para pagar, caso contrário, terá de sair

- Put- que pariu!

- É a vida meu amigo. Eu sei que ficou desempregado, mas estas coisas tocam a todos. Você tem de escolher agora.

- Eu vou tentar dar um jeito nisso.

Eu não podia pedir dinheiro aos meus pais. Coitados, trabalham para se sustentar minimamente, por isso, nem valei a pena. Eu não tinha uma amizade tão forte assim com nenhum amigo meu, para pedir uma quantia tão grande de dinheiro. Restava eu passar na casa da Isabel, para saber como ficou a questão do trabalho.

- Bom, eu falei com a minha irmã, ela disse que tinha uma vaga pra você trabalhar, tipo, secretário dela. mas não irá ganhar assim tanto – eu havia dito a ela quanto precisava – Mas espera, você não pode ficar sem carro, porque não vai ter como ir para a clínica todos os dias, mas também não pode ficar sem casa, porque não vai ter onde viver, né?

- É… até tenho os meus pais, mas não quero que eles saibam do que está acontecendo. Quero que se orgulhem de mim.

- É claro que eles se orgulham de você. Quem não se orgulharia? – Isabel chegou perto de mim, parecia estar prestes a me beijar

A porta dá uma pancada e de lá vem Lua, toda molhada. 

- Está chovendo? – perguntei

- Não, eu é que tomei banho na rua! – ela parecia estar irritada – Que droga! Perdi o onibus e tive de vir num mais tarde e ainda por cima começou a chover. – ela deu outra pancada na porta e começou a tirar o seu casaco, todo molhado

- Mana, fala do trabalho pró Arthur

- Eu posso ao menos trocar de roupa?

- Claro que não! – disse Isabel, pegando no braço da irmã e sentando ela ao meu lado – Fala tudo.

- Eu tenho a certeza que você já disse tudo.

- É, verdade! Mas o problema é que o Arthur tem de escolher entre o carro e a casa… - Isabel parou de falar e ficou a olhar fixamente para o chão – AHH, JÁ SEI! – gritou – Meu deus, como eu não pensei nisso antes? Eu sou um génio! – ela me abraçou, bem forte. – Mana, deixa o Arthur viver cá em casa

- O quê? – perguntei

- Nem pensar! – disse Lua – Os pais iam detestar essa ideia. Você sabe como eles são. 0% de rapazes cá em casa. Eles já disseram Isabel…

- Mas eles não precisam de saber. Por favor mana, deixa ele viver aqui com agente. Olha, ele tem carro, é só ele entregar a casa e assim fica com menos uma divida e com o dinheiro que ele recebe de trabalhar com você, ele paga o carro e depois paga tipo uma pensão aqui em casa. 

- Não Isabel, eu não posso aceitar. Seria de mais. Eu já estou de mais metido na vossa vida. Já causei muita confusão e…

- Mas não seria mal pensado. – disse Lua, me interrompendo – Você pode ficar cá com a condição de pagar a espécie de renda, eu nem vou levar muito caro e me levar para a clínica, no seu carro. Visto que eu não tenho carro e odeio andar de onibus.

- Fechado, né Arthur? – os olhos da Isabel brilhavam

- Não sei. Não sei se posso. Quero dizer, não é a questão de poder ou não, mas é o facto de eu me desapegar daquela casa. Se passou tanta coisa ali… - suspirei

- Mas Arthur, é a única oportunidade de você levantar a cabeça. Porque se não, você vai ficar cheio de dividas para sempre. é isso que você quer?

Isabel estava certa. Como podia essa garota só ter 17 anos? Sinto que ela tem a minha idade, ou algo parecido. 

Seria difícil de me desapegar das minhas coisas e daquela casa. Foi tão importante para mim. Eu escolhi ela com a Raquel, pretendíamos morar lá juntos, mas os pais dela por enquanto, não deixavam. Mas passamos noite de amor lindas lá, passamos tardes de cinema maravilhosas, todas inesquecíveis. Mas talvez seja melhor eu deixar aquela casa, afinal, eu tenho que esquecer de uma vez por todas, a Raquel, da minha vida.

Boa noite gente! Aqui está o prometido. Vamos dar mais vida a este blog? Que tal?
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