Foi apenas obra do destino - 1º Capítulo

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POV ARTHUR

Estava mega irritado. O meu chefe havia me despedido de forma injusta. Mas pior que isso, é que vou ficar com a prestação do carro atrasada, assim como a prestação da casa. Ainda posso ficar sem tudo o que mais gosto da vida, por causa daquele maldito velho. Queria lhe matar!

FLASH BACK ON

- Voltou a desaparecer dinheiro da caixa. Eu sei que foi você. Você não ganha tão bem assim para ter carros e celulares de gama
- Se eu tenho ou não, é que trabalho pra isso. Sou lutador, ao contrário do senhor
- O que quer insinuar? – perguntou o babaca todo nervosíssimo
- Você sabe o que eu quero dizer! – o encarei
- Rua! – ordenou ele
- O quê? – o encarei de novo
- Rua! Agora. Por desrespeito e roubo. Pode sair. Não volte mais! - berrou
- Isso não vai ficar assim! – apontei o dedo na cara dele

FLASH BACK OFF

Descarreguei as raivas no acelerador do meu carro. Era capaz de correr por ai aos 200km/h. Infelizmente, vou por estradas pequenas que não me permitem fazer isso. Mesmo assim, ia tão distraído pensando em como me safar desta, que acabei quase cometendo um desastre.

- MERDA! – gritei. Vinha a pouco mais de 80km/h e bati em alguém. 

Saí do carro aflito. A garota estava no chão, com um enorme raspão no braço, outro na perna e tinha uma das mãos na cabeça. Felizmente, estava acordada.

- Mil desculpas, eu não te vi. – fui ajudar a garota. 

Ela mal se conseguia mexer. Olhei pró seu rosto. Aparentava ter uns 16 ou 17 anos, nada mais que isso. As suas calças haviam rasgado com o embate no chão e o rosto dela estava também arranhado.
Tentei ajudar ela a sentar na berma da estrada. Ela reclamava um pouco de dor.

- Eu também tive culpa, não se preocupe – respondeu, me olhando nos olhos. Ela nem conseguia forçar um sorriso
- Você atravessou a estrada tão rápido que eu não tive tempo de parar. Peço imensas desculpas. Eu vou te levar a um hospital, pra ver se está realmente tudo bem com você…
- Não, hospital não. – pediu – Eu tenho trauma a hospitais. Vamos antes para minha casa, a minha irmã é enfermeira. Ela vai me ajudar.
- Sua irmã vai me matar, isso sim. Deixa eu te pegar.

Eu sabia que, para além dela se fazer um pouco de forte, os raspões estavam lhe machucando. Eu estava mais preocupado com o facto de ela poder ter partido alguma coisa e a irmã dela me colocar um processo em cima.
Eu já estava ferrado com o facto de eu ter sido despedido, ser preso era só o que me faltava.

- Você tem só de me explicar onde fica a sua casa.
- É pertinho daqui. Mais uns 5 minutinhos. – ela me indicava o caminho, enquanto olhava pró seu joelho. Estava realmente feio, sangrando já
- Sua irmã vai me bater e se os seus pais estiverem em casa, pior vai ser ainda
- Não, não se preocupe. Eles não estão em casa. Eu vivo só com a minha irmã
- Ahh, me desculpe. Eu não sabia.
- Tudo bem. – ela suspirou – Minha irmã vai me matar, por eu andar a faltar às aulas e ainda por cima quase morrer
- Por que está faltando?
- Ahh, não tinha a mínima paciência para ter matemática. O professor é muito chato. – ela parecia ter dito aquilo, tentando me convencer
- Tem a certeza?
- Bom… na verdade, o meu namorado terminou comigo. – ela suspirou de novo – Mas ele foi um filho da mãe comigo também e antes que eu terminasse com ele, ele terminou comigo. Ele é que me traiu, droga! – ela começou a chorar
- Não fica assim. Isso prova que ele não te merecia mesmo. O que importa é que você já não está com ele. Segue em frente. 
- É fácil falar. 

O meu celular vibrou e peguei ele enquanto dirigia. Era uma mensagem da minha namorada.

“Meu amor, quando você puder, passa em casa. Tem alguma urgência, mas não se preocupe. É para o bem de nos dois. Eu estou bem! Um beijo, amo você!”

- A minha casa é aqui. – ela disse
- Ahh, desculpa. Estava distraído. – parei o carro em frente à casa dela. Era bem grande, de dois andares e parecia ter muitos quartos, devido ao grande número de janelas. 

Saí do carro e abri a porta pra ela. O seu joelho estava inchado, bem arranhando e continuava sangrando um pouco. Dessa vez, não tinha como ela andar direito, por isso, peguei ela ao colo e a levei à porta de casa.

- A minha irmã vai ter um ataque cardíaco. – ela tocou à campainha – Qualquer coisa, você faz respiração boca a boca a ela, fechado?
- Fechado! – eu ri. Apesar da situação aparentar ser bem seria, a moça continuava rindo

A porta se abriu. A irmã dela era mais velha, talvez tivesse um pouco mais que a minha idade. Ela arregalou logo os olhos quando viu a irmã mais nova ao meu colo e começou aos gritos.

- O QUE TE ACONTECEU ISABEL? PORQUÊ VOCÊ TÁ AQUI? NÃO DEVIA ESTAR NA ESCOLA? QUEM É ESSE HOMEM? SEU PROFESSOR? LARGA A MINHA IRMÃ! – ela começou a machucar o meu braço, porém, eu fui mais forte
- Calma Lua, ele é o… bom, nem sei o nome dele. Eu tive um acidente.
- O QUÊ? VOCÊ NEM CONHECE ELE E TRÁS ELE PRA CASA?
- Por favor, ignora a minha irmã e me leva pra dentro. Eu sei que já não sou leve, como quando eu era criança.
- Tem certeza? Sua irmã não me vai matar?
- VOU SIM! – ela gritou
- Não, pode entrar.
- Com licença.

Tentei ser o mais gentil possível. A tal Lua, irmã da pequena que eu quase atropelei, parecia ser das difíceis, bem teimosas. Só podia ser loira.
A casa dela estava toda mobilada, bem decorada. Vinha o cheiro da cozinha otimo. Estava me dando fome, na verdade.

- Me deixa ali no sofá, por favor. – pediu ela
- Claro. – eu coloquei ela no sofá, colocando uma almofada por trás das suas costas e ainda tirei o sapato dela.
- O que afinal aconteceu? – perguntou a irmã mais velha
- Eu posso explicar. – me levantei e olhei pra ela – Eu tive uns problemas e descarreguei as raivas no pedal do carro. Eu nem ia muito rápido, mas ela apareceu do nada no meio da estranha e quando dei por mim, a garota já estava no chão
- O QUÊ? SEU IDIOTA, VOCÊ… - ela me xingava e me batia
- Calma, calma… - pedia eu
- LUA, SE ACALMA SUA LOUCA! – Isabel gritou com ela
- Como quer que eu tenha calma? Ele podia ter matado você
- Mas não matou. Pelo contrário, me ajudou e foi muito simpático comigo. Só por isso, ele vai jantar com agente
- Não, não é preciso isso
- É sim, você janta e pronto! – Isabel quase ordenou
- O que aconteceu depois? – perguntou Lua
- Eu saí do carro e ajudei ela. Eu queria levar ela no hospital, mas ela disse que você cuidaria dela.
- É melhor eu cuidar mesmo. – ela saiu da sala
- Desculpa a minha irmã. Ela é chata. 
- Ela quer apenas o teu bem. – sorri
- O jantar cheira tão bem. A minha irmã é uma mulher pra casar. Trabalhadora, óptima enfermeira, óptima irmã e cozinheira! – Isabel riu – Mas é muito certinha.
- Talvez você devesse sair um pouco como ela
- Eu? – ela riu – Não, eu prefiro curtir a minha vida. Mas bom, como você se chama? – Lua entrou de novo na sala com uma malinha e se sentou ao lado da Isabel
- Eu sou o Arthur Aguiar.
- Bom, eu sou a Isabel Blanco e ela é a minha irmã, Lua Chata Blanco. – Lua passava um creme nas feridas da Isabel e depois pressionou o algodão – AHH, SUA LOUCA! ISSO TÁ DOENDO!
- Quem mandou me chamar de chata, hein?
- Desculpa, desculpa. Mas faz isso parar de arder, por favor. – ela se via aflita. A irmã passou outro algodão, com outro creme e a garota suspirou de alívio – Mas bom, você tem namorada? – ela riu – Como você sabe, eu sou solteira.
- O quê? – Lua perguntou – O Lucas terminou com você?
- Sim. Ele me traiu
- Filho da…
- Sim, eu tenho namorada. – interrompi a Lua, antes que ela disse-se algo de mau
- Poxa, que pena! – disse Isabel

Lua tratou da irmã com todos os cuidados e depois fomos jantar na cozinha. Eu estava morto de fome, pra falar a verdade.

- Você é tão irresponsável. Quando os pais ligarem, eu vou contar tudo pra eles.
- Pensei que vocês já não tivessem pais – disse eu
- Nós temos. Mas eles estão fora do país, trabalhando com os meus outros dois irmãos, Miguel e Diogo. Eles são mais velhos. A Lua quis ficar cá e eu fiquei com ela. Vivemos juntas à dois anos.
- Isabel Blanco, nunca te ensinei que não se dá pormenores da nossa vida a estranhos?
- Você é horrível, eu já te disse? Ele não é estranho! – brigou Isabel
- Como queira! – disse Lua
- É melhor eu ir andando.
- Não, você fica. A Lua vai fazer chá pra gente, né maninha? Você sempre faz nas noites de frio. – ela fez beicinho
- Tudo bem, eu faço. Vão para a sala, enquanto eu arrumo tudo isso.
- Quer ajuda? – ofereci
- Não. Eu faço sozinha – ela sorriu

Eu e a Isabel fomos para a sala. Ainda ajudei a garota a andar por lá, para que não esforçar-se de mais o joelho e a ajudei a sentar no sofá, de novo.

- Ainda bem que isto aconteceu, assim amanhã não vou à escola
- Safada! – eu ri – Mas você tem de ir
- Não quero. Vou inventar alguma dor pelo corpo ou assim. não quero voltar lá e ver de novo o Lucas.
- Você vai ter de encarar ele e mostrar que é mais forte. Afinal você é forte ou não? Não se pode deixar ficar pelo que ele fez. Assim ele vai pensar que ganhou
- E ele não ganhou?
- Não. Ganha quem levanta a cabeça mais rápido. Ele vai se arrepender, você vai ver
- Você é tão legal! Obrigada pelos conselhos! – Isabel me abraçou forte e eu a abracei também
- De nada!

Lua veio com o chá e as bolachas. Conversamos por mais alguns momentos e de seguida elas me levaram até ao meu carro, pois eu precisava de ir embora.

- Eu peço desculpa pelo meu comportamento. Queria te agradecer por ter ajudado a minha irmã.
- Não têm que agradecer. Se precisar, é só chamar. – entrei no carro e vi que o meu celular tinha 53 mensagens – Droga, esqueci que a minha namorada me pediu para eu passar em casa rápido.
- Vai haver confusão?
- Eu espero que não.

Li uma das mensagens que ela tinha deixado.

“Poxa, Arthur, está demorando de mais. Vou ter de ir embora”

Haviam outras da minha irmã, Natacha, que também me alertavam para algo.

“Seu idiota, vem rápido. Ela vai ir embora!”
“Tarde de mais. Perdeu! Perdeu a namorada”

- O QUÊ? – gritei pró celular
- Está tudo bem? – Isabel perguntou
- Acabei de perder a minha namorada! – meus olhos se encheram de lágrimas. O meu dia não podia piorar.

Amanhã tem mais :)

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