Capítulo único - Hot

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Lua's POV



“Amanhã teremos tempo nublado na maior parte do dia, embora...”

Flip.

“... os menores preços que você já viu...”

Flip.

“...No he can't read my poker face...”

Flip.

Vive num abacaxi e mora no mar? Bob Esponja Calça Quadrada!

Flip.

- Será que dá pra parar de mudar de canal?! – eu exclamei finalmente, fechando a revista na qual eu tentava inutilmente me concentrar.
Ele voltou os olhos infinitamente castanhos em minha direção, me lançando um sorrisinho sarcástico antes de lentamente erguer o controle remoto outra vez.

Flip. Flip. Flip. Flip. Flip. Flip. 

Eu contei dez segundos de trás para frente, fechando os olhos e tentando conter meu surto de raiva. Era um truque que eu havia lido em um dos milhares de livros de auto-ajuda que eu comprei para me ajudar a sobreviver os meses de espera até a chegada da carta de Yale. Não conseguiram me fazer superar minha ansiedade, mas nos últimos tempos andavam se revelando bem úteis ao me ajudarem a controlar o impulso de assassinar Arthur Aguiar com o facão da cozinha.
Ele ainda me encarava quando voltei a abrir os olhos, a provocação escrita em cada linha de sua expressão. Lancei a ele um olhar feio que o fez apenas alargar o sorriso antes de voltar a atenção para a TV a sua frente, se ajeitando no sofá e voltando a zapear os canais.
Eu apertei com força o braço da poltrona na qual eu estava, desejando que o inocente material estofado fosse o pescoço de Aguiar. Lá estava ele, largado no meu sofá, um braço descuidadamente apoiado atrás de sua cabeça, as pernas abertas e os jeans caindo perigosamente baixos em seu quadril. Ele era tão cheio de si, tão irritante, tão idiota, tão... Gostoso, sexy, deliciosamente cafajeste...

Oh, sim. Eu tenho uma queda gigante pelo imbecil filho da mulher do meu pai.

“Filho da mulher do meu pai”. Estranho, eu sei. Mas eu prefiro isso à “filho da minha madrasta”. Ou pior, “meio-irmão”. Argh! Arthur Aguiar não é nem nunca vai ser nada sequer perto de um irmão pra mim. Ele é só o cara que eu quero ver morto cinqüenta por cento do tempo.

E na minha cama nos outros cinqüenta.

Não, esse não é um caso de simples atração pela pessoa que você detesta. Porque se eu for totalmente sincera, terei que admitir que não odeio Arthur tanto assim. Na verdade, eu gosto dele. Mas odeio a necessidade que ele parece ter de tornar minha vida um inferno. Não só com as constantes implicâncias, armações e etc... Mesmo sem isso, ele complica minha vida simplesmente existindo. Existindo com seus olhos castanhos, voz sexy, corpo perfeito... Me fazendo desejar o único cara no mundo que eu não devia querer de jeito nenhum. Porque além de aparentemente me detestar, a criatura mora comigo, é parte da minha família há um ano. Na verdade, exatamente um ano, já que hoje é o primeiro aniversário de casamento dos nossos pais. 
É por isso que eu estou aqui agora, na verdade. Servindo de babá do Aguiar enquanto meu pai e a mãe dele passam o dia velejando. Arthur está proibido de sair de casa para qualquer lugar além da escola depois de ter sido flagrado pichando “DIRETORA REYNOLDS É SAPATÃO” no lado de fora do prédio da diretoria algumas noites atrás. Tudo porque a diretora se recusou a deixar a banda dele tocar no baile de formatura.
Como nem meu pai nem minha madrasta são inocentes o suficiente para acreditar que Arthur simplesmente se comportaria, e como os dois só voltam mais tarde para sair e jantar conosco... Eu fiquei encarregada de ficar de olho na peste, já que meu pai simplesmente assumiu que eu não teria nada mais para fazer nesse final de semana. Bom, eu não tinha mesmo, mas isso não vinha ao caso. Ter um bom motivo para grudar meus olhos em Arthur por horas não melhorava em nada minha situação, além de que ficar sozinha em casa com ele era algo que sempre me deixava... Nervosa. Não acontecia muito, principalmente com nós dois sendo forçados a ficarmos tão próximos, mas quando acontecia, era algo que me deixava inquieta. Eu tinha medo que meus hormônios vencessem por saberem que não havia ninguém na casa para me tirar de cima de Aguiar caso eu o atacasse. 
Eu suspirei, irritada, voltando a abrir minha revista. Se quando eu conheci Arthur eu já soubesse quem ele era, talvez nada disso estivesse acontecendo. Talvez se eu soubesse que ele era o filho de Margaret e a criatura mais irritante do planeta antes de vê-lo pela primeira vez, talvez eu estivesse mais preparada. Mas com a sorte que eu tenho, eu não sabia de nada disso. Então quando o vi encostado àquela árvore, usando o smoking que o deixava ainda mais sexy, não o classifiquei imediatamente como “meio-irmão”. Foi algo mais como “coisa mais perfeita que eu já havia visto”.
Fazia exatamente um ano. Como Arthur ainda morava na Inglaterra na época, eu só o conheci no dia do casamento. Meu pai conheceu a mãe dele em uma viagem para a Europa, e foi amor à primeira vista. Ambos eram viúvos, ambos ainda eram jovens e atraentes... Não demorou muito para Margaret se mudar para Seattle, deixando o filho com os avós até o ano letivo acabar. Eu nunca havia tido curiosidade de pedir para ver uma foto de Aguiar, e ninguém nunca pensou em me mostrar. Assim quando, ao seguir para o lago de forma a olhar os peixes, eu o vi a poucos metros de distância, tudo o que eu pude pensar era o quanto eu queria que aquele Deus grego reparasse em mim. Eu havia fugido da confusão que estava aquele rancho enquanto o casamento não começava, e lá estava ele, encostado em uma árvore, fumando e observando a paisagem. Eu devo ter olhado tanto para ele que em algum momento ele sentiu meu olhar, voltando àqueles olhos castanhos na minha direção pela primeira vez. Naquele momento eu soube que estava perdida. O olhar dele me sugava, me prendia, me fazia esquecer do resto do mundo, e todos os outros clichês nos quais você puder pensar. Naquele momento eu entendi da ondevinham aqueles clichês. 
Os lábios perfeitos de Arthur haviam se curvado em um meio sorriso e seus olhos deslizaram por meu corpo de cima a baixo. Eu me forcei a não abaixar o olhar como uma garotinha envergonhada, e o sorriso dele pareceu se alargar com isso. Quando Aguiar jogou o cigarro no chão, o esmagou com o sapato e começou a vir na minha direção, porém, eu ouvi a voz de Sophia me chamando, e em seguida vi a criatura correndo em minha direção, os olhos avermelhados pelas lágrimas enquanto balbuciava coisas como “o Micael está dando em cima de uma loira siliconada!”. Eu lancei um sorriso de desculpas ao garoto que parara de se aproximar e ele sorriu de volta, assentindo com a cabeça e se afastando.
Com a confusão pré-casamento, eu não tive outra oportunidade de tentar falar com ele. Os parentes do meu pai que eu não via desde criança cismavam em me parar para dizer como eu tinha os olhos do meu avô, a boca da minha tia, e outras idiotices que me faziam me sentir o próprio monstro do Frankstein. Apenas consegui trocar mais alguns olhares com Arthur, e já odiava Sophia por ter nos interrompido mais cedo quando a voz do meu pai declarou as palavras que serviriam como uma pá de cal sobre minhas esperanças.

Querida, venha conhecer o Arthur.

Ele pareceu tão chocado quanto eu, mas disfarçou o desconforto e as apresentações foram feitas. 
Eu tentei esconder minha decepção durante o casamento e a posterior festa, mas havia sido difícil, principalmente por Arthur ter, por uma extrema infelicidade do destino, conhecido Micael e se juntado ao idiota na caça a mulheres solteiras. 
No dia seguinte Aguiar voltou para a Inglaterra, e eu só voltei a vê-lo quando ele se mudou de vez para minha casa. Os olhares sugestivos já eram passado, e só o que eu passei a obter dele eram provocações e ofensas, como se o interesse que ele demonstrara em mim de início houvesse dado lugar a puro ódio. 
Nenhum de nós nunca mais mencionou o dia do casamento.
Eu respirei fundo, tentando novamente me concentrar na revista em meu colo. Já fazia um ano. Já era para eu ter superado minha quedinha ridícula. Em algumas horas meu pai e Margaret voltariam para casa, e nós quatro iríamos jantar fora para comemorar o aniversário de nossa “família”. E eu teria que me sentar durante toda a noite fingindo estar feliz com isso, fingindo ser a filhinha perfeita que não sente um desejo insano pelo meio-irmão filho da puta.

E lá vou eu xingar a coitada da Margaret.

Eu passei a folhear a revista com uma concentração irritada. Eu tinha que parar de pensar em Arthur, e parar de pensar no dia de hoje como o aniversário de um ano dele na minha vida. Era o aniversário dos nossos pais, isso sim. Não podia me deixar esquecer disso.
Me perguntei se devia ter preparado algum presente para os dois. São só os envolvidos que trocam presentes no aniversário de casamento ou o resto da família deve dar alguma coisa também? Eu não tinha nenhuma experiência com esse tipo de coisa, já que não cheguei a conhecer minha mãe direito.
Meus olhos pararam na foto de um bolo que acompanhava o que parecia ser uma receita. Huh. Talvez eu devesse fazer um bolo para eles ou algo assim...

Minha linha de pensamento foi interrompida pelo som da TV sendo bizarramente aumentado.

- QUAL É O SEU PROBLEMA?! – eu gritei para Arthur, tentando me fazer ouvir apesar do barulho.
- VOCÊ PAROU DE OLHAR FEIO PARA MIM. – ele explicou, rindo – COMECEI A ME SENTIR DEIXADO DE LADO.

Só matando esse desgraçado mesmo.

- ABAIXA ISSO! – eu mandei, sentindo meus ouvidos doerem.
- O QUÊ? – ele perguntou, o sorrisinho sarcástico de volta aos lábios – FALA MAIS ALTO, , A TV NÃO TÁ ME DEIXANDO TE OUVIR.

Chega.

Largando a revista na mesinha à minha frente, eu marchei até o aparelho de som, o ligando e colocando no último volume. A voz de Joan Jett começou a berrar “Hit Me With Your Best Shot” através das caixas de som. Eu nem lembrava que havia esquecido meu CD ali.
Arthur e eu cobrimos os ouvidos praticamente ao mesmo tempo, os sons da TV e da música combinados sendo demais para o tímpano de qualquer um.Aguiar me olhou feio e sinalizou com a cabeça para o aparelho de som, ao que eu respondi com o mesmo olhar, sinalizando de volta para a TV e o encarando com teimosia. Não ia abaixar antes dele. Não mesmo.
Mais alguns segundos e Arthur suspirou, revirando os olhos e desligando a TV. Eu imediatamente desliguei o som, respirando aliviada. Nunca havia escutado som mais maravilhoso que o do silêncio.
- O que há de errado com você? – perguntou Arthur, e eu precisava admitir que o som da voz dele era ainda mais maravilhoso e...

Ei! O que ele disse?!

- O que há de errado comigo? – eu perguntei, incrédula – Foi você quem começou!
- Era uma brincadeira! Sabe o que é isso? – ele perguntou, rindo sem humor em seguida – Ah é. Claro que não sabe. Esqueci que estava falando com a Miss Sem Graça.
- O que eu posso fazer se minha idéia de graça é bem diferente da sua? – eu retruquei – Sabe, nem todos somos macacos de zoológico que se animam com qualquer coisa. A noção pode ser nova para você, mas tem gente no mundo que tem cérebro e não acha graça de qualquer idiotice.
- E a noção pode ser nova para você, mas tem gente no mundo que tem senso de humor! – ele rebateu, cruzando os braços.
- Tentar furar os tímpanos de alguém não é humor, Aguiar. É agressão. – eu insisti.
- Oh, céus, sai dessa! – ele praticamente grunhiu – Por que você tem que levar tudo tão a sério o tempo todo? Se você relaxasse um pouco, poderia até aprender a se divertir. Já ouviu falar disso, Senhorita Eu-vou-para-Yale? Diversão?
- O fato de eu ter um objetivo e me dedicar a ele não me impede de me divertir. – eu disse, em tom meio autodefensivo. Aquela acusação tocava em um ponto que eu não queria discutir no momento. Remetia a algo dentro de mim que eu não havia admitido nem para mim mesma ainda.
- Nem vem com essa. Você nunca faz nada de errado, Blanco. Nunca se liberta um pouco. 
- Oh. Então só porque eu bebo conscientemente e não me envolvo em escândalos sexuais, eu não sei me divertir? – eu perguntei, irritada.
- Ora, vamos lá! Todo mundo precisa fazer merda de vez em quando, ir a extremos pra lembrar que está vivo! – ele disse, ainda sentado no sofá, cruzando os braços e me encarando como se preparando a si mesmo para o que diria em seguida. – Não dá pra ser feliz sendo uma vadia frígida vinte e quatro horas por dia.

Por um momento, só o que eu pude fazer foi encará-lo, chocada.

- Repete isso. – eu desafiei finalmente, sentindo o veneno escorrer das minhas palavras, pronunciadas em meu tom mais perigoso. Oh, ele não podia ter dito o que eu achava que havia dito. Não é possível que ele tenha me chamado de...
- Vadia. Frígida. – ele repetiu, com calma.

Eu tentei contar os dez segundos de trás para frente. Mas quando cheguei ao “cinco”, já havia atacado o infeliz.

Não sei o que me deu, mesmo. Geralmente eu sou contra violência física. Mas dessa vez Aguiar havia me empurrado longe demais. Quando eu dei por mim, meus punhos já tentavam acertar qualquer parte possível do corpo do infeliz.
Foi uma má idéia, na verdade. Arthur era bem mais forte, de forma que eu ainda não havia conseguido acertar sequer um soco quando ele segurou meus braços, os prendendo um de cada lado da minha cabeça contra o encosto do sofá.
- ME LARGA! – eu berrei, irritada, tentando me soltar.
- Largo se você parar de agir como uma lunática. – ele disse, visivelmente assustado com a minha reação, enquanto ainda lutava para me segurar. Eu costumo ser uma garota controlada, sério. Mas o que ele disse tocava direto em uma ferida que eu tentava com muito empenho esconder.
- ENTÃO RETIRA O QUE DISSE! – eu exigi, ciente de que meu rosto devia estar vermelho.
- Ok, eu retiro, eu retiro. – disse ele, me soltando e se afastando um pouco no sofá, com as mãos erguidas em sinal de rendição.
- Melhor assim. – eu disse, mais calma, ainda respirando forte e massageando meus pulsos levemente doloridos enquanto tentava recuperar o controle sobre mim mesma.
- O que deu em você? – ele perguntou, e a genuína preocupação misturada à irritação em seu olhar me surpreendeu.
- Desculpa. – eu disse, respirando fundo – Só não gostei do que você disse. Machucou, ok?
- Então sou eu quem pede desculpas. – o tom de Arthur tinha um toque de vergonha, e eu me vi cada vez mais confusa. Eu e ele sempre brigávamos, isso não devia ser novidade. O que havia mudado?

Talvez o fato de eu ter encarnado o Hulk há um minuto atrás.

- Tá tudo bem. – eu disse, evitando encará-lo.
- Não, sério. Eu não sabia que você ia levar a nível tão pessoal. – eu tive que erguer o olhar até o dele depois dessa, uma sobrancelha levantada. Como ele esperava que eu “levasse” aquilo? – Quero dizer... Não sabia que você ia ficar tão ofendida. Não é a primeira vez que a gente discute... Mas desculpa. Por te chamar de vadia frígida, de lunática e de cretina psicótica.
- Você não me chamou de cretina psicótica. – eu disse, confusa, apenas para querer me bater em seguida ao ver o sorrisinho provocante nos lábios do infeliz.
- Acho que acabei de chamar, então. 
Em outras circunstâncias, eu teria ficado irritada. Teria rebatido a ofensa na mesma hora. Mas eu devo ter gastado toda a minha raiva no ataque de antes, porque minha reação foi apenas rir da ousadia daquele desgraçado.
- Eu devia matar você. – eu disse, entre risos.
- Você não me mataria, querida. – respondeu Arthur, em tom leve – Eu sou divertido demais de se ter por perto.

Ok, hora de cortar o ego dele um pouco.

- Você não é divertido, Arthur. É convencido, irritante, nojento, idiota...
- Oh, pára. – ele me interrompeu, em um tom falsamente envergonhado – Assim você me deixa comovido.
- Tá vendo? É disso que eu tô falando. – eu disse, revirando os olhos – Você sempre tem que ter uma resposta espertinha para tudo.
- E você não? – ele me perguntou, cruzando os braços.
- Bom, não sou eu quem começa. – eu respondi.
- Oh, essa é a típica resposta madura. – ele rebateu, rindo sem humor.
- Isso vindo do cara que colocou a TV no máximo só pra me irritar. 
- Isso vinda da garota que fez a mesma coisa com o aparelho de som porque não consegue agüentar uma piada. – ele não desistia.
- E a gente volta para a discussão inicial! – eu exclamei, frustrada – Entende o que eu tô dizendo? Você é irritante, Arthur. Demais. E se continuar assim as pessoas não vão querer estar perto de você nem no seu velório! Seu enterro vai ser mais vazio que carteira de pobre.
- Oh, sério? Assim você me machuca. Achei que ao menos você fosse querer ir, para ter certeza que eu morri mesmo.
- Não vai dar. Quando você morrer eu vou estar ocupada demais fugindo da polícia por ter te botado na cova. – eu retruquei, sorrindo. 
- Eu... Não tenho uma boa resposta pra isso. – ele admitiu, sorrindo divertido.
- Não? – eu fingi surpresa – Eu deixei o grande Arthur Aguiar sem palavras? Oh meu Deus! Avisem aos jornais!
- Engraçadinha. – ele resmungou.
- Muito. Tá vendo? Eu sei fazer piadas. Sei me divertir. – eu disse, em tom vitorioso.
- Em primeiro lugar, espero que você esteja ciente de que é você quem tá revivendo o assunto. E em segundo... Eu mantenho minha posição. Você é comportadinha demais.
- E eu tenho escolha? – eu perguntei, irritada – Me desculpa se ao contrário de você eu pretendo ser alguém na vida!
O arrependimento pelas palavras veio assim que elas saíram de meus lábios. Quem parecia machucado agora era Arthur.
Aquilo não era justo com ele, na verdade. Não era como se Arthur não quisesse trabalhar ou algo assim. Mas ele e a mãe andavam discutindo praticamente todos os dias porque, bom... Ele não havia tentado nenhuma faculdade. 
Não era por falta de capacidade. Apesar do mau comportamento de vez em quando, Arthur era um bom aluno, tinha boas notas... Podia conseguir uma boa faculdade se tentasse. Talvez não uma Ivy League, mas provavelmente Northwestern ou Georgetown. O problema era que ele não queria. Não agora.Arthur tinha planos de, assim que a escola acabar, passar um ano na estrada com a banda, fazendo shows por onde passasse. A paixão dele sempre foi a música, e eu não o culpava por querer ter ao menos um gostinho da vida de rockstar. Os meninos tinham planos diferentes para depois desse ano, o que significava que a banda não ia poder continuar por mais muito tempo. Era provavelmente a última chance deles de serem uma banda de verdade.
- Desculpa... – eu disse, com a voz fraca.
- Não. – Arthur disse, simplesmente, se levantando do sofá tão rápido que me assustou – Você pensa como a minha mãe, não pensa? Que só o que eu quero é ser um vagabundo?
Arthur, não...
- Bom, vocês estão erradas! – ele continuou, como se não me escutasse – Só porque eu não sigo o caminho convencional, não significa que eu valha menos por isso! Eu só quero viver um pouco, só isso! Mas claro, você não entenderia isso.
Eu entendia. Entendia melhor do que ele pensava, mas isso não vinha ao caso.
- Eu te pedi desculpas. Falei sem pensar. Mas não vou admitir que você comece a me ofender de novo. – eu avisei, séria, me levantando e ficando de frente para ele.
- Por que? A garotinha de ouro não agüenta ouvir verdades? Bom, eu não me importo. Aqui vai uma pra você: não pense que pode me julgar só porque acha que viver fora dos padrões é algum tipo de pecado! “Oh, ele tem um sonho! Que crime!” – Arthur estava em pé, poucos metros à minha frente, que permanecia perto do sofá, o encarando agora um pouco assustada. Ele estava irritado. De verdade – Não tente julgar o mundo inteiro por você, Blanco. Algumas pessoas esperam obter alguma satisfação na vida. – os lábios dele então se curvaram no sorriso mais cruel que eu já havia visto, e eu devia ter me preparado para o que veio a seguir – Ao contrário de você, cuja única satisfação na vida é obtida pelos próprios dedos.
- O quê? – eu perguntei, assustada.
- Estou falando das noites solitárias no escuro do seu quarto, quando você se toca achando que ninguém sabe disso.

Foi como um soco no estômago.

Ele sabia? Como ele sabia?! 
Eu finalmente entendi a tal sensação de querer que o chão se abra e te engula de tanta vergonha que você sente. Sempre pensei que a expressão fosse meio exagerada. Mas não, não era.
O fato de Arthur saber daquilo estava me fazendo querer morrer. Sempre pensei que era discreta o suficiente, silenciosa o suficiente... Mas o que ele dissera não era nenhuma mentira. Eu realmente... “Me tocava”. E me envergonhava um pouco disso. Mas uma garota tem necessidades, principalmente quando não tem um namorado há mais de um ano e o meio-irmão incrivelmente gostoso dorme há uma porta de distância. Há algo extremamente erótico em ceder à tentação sabendo que o objeto de suas fantasias está separado de você por apenas uma parede. E que se aquela parede não existisse, estariam no mesmo quarto... Era o tipo de pensamento que fazia meus hormônios enlouquecerem, mesmo agora. Oh, eu estava sim envergonhada, mortificada. Mas ao mesmo tempo, uma parte de mim estava se excitando com o pensamento. Ele sabia. Sabia o que eu fazia durante as noites enquanto pensava nele. A onda de desejo que eu senti então apenas piorou minha vergonha. 

Céus, eu sou depravada.

- Você sabe? – eu perguntei, antes que pudesse me deter, e odiando a mim mesma em seguida. Não, Lu, ele não sabe. O que ele disse não passou de um truque da sua imaginação. 

Pelo visto, além de depravada eu sou bem burra também.

- Sei o quê? – ele perguntou, sorrindo sarcástico, visivelmente adorando minha pergunta idiota – Que toda noite você se deita na sua cama, morde o seu travesseiro, levanta sua camisolinha azul e escorrega sua mão para dentro daquela calcinha minúscula?
- Você viu? – eu reformulei minha pergunta, me sentindo ainda mais mortificada. Uma coisa era pensar que ele sabia por ter me escutado. Outra bem diferente era saber que ele havia me visto. Mas como, se eu sempre me certificava de que a porta estava fechada?
- Não me olha assim. – ele respondeu, o sorriso murchando frente ao meu olhar apavorado. Ele desviou os olhos, encarando fixamente o chão, sua postura mudando para a de alguém constrangido. Quando ele voltou a falar, seu tom dedurava seu nervosismo – Você não pode me culpar, ok? Eu sou homem, porra. Com uma garota gostosa se masturbando no quarto ao lado, o que você queria que eu fizesse? Eu tinha que escutar seus gemidinhos abafados toda noite sem poder fazer nada quanto a isso. E céus, aqueles sons... Você insiste em fazer esses barulhinhos deliciosos e eu tinha que ficar só imaginando. Já não dormia direito há semanas quando finalmente não agüentei mais. Eu precisava... Ver... Eu fui até o seu quarto, abri um pouco a porta, mas você estava entretida demais para reparar. E depois disso eu não consegui mais parar. Não importa o quanto eu tente me controlar, toda noite eu abro uma fresta da sua porta e fico ali, me torturando.
- Você me acha gostosa? – eu perguntei, me sentindo idiota por ter me concentrado naquela parte específica. Mas eu não tinha outra escolha. Seu eu parasse para analisar o resto do discurso dele, sabia que nada me impediria de derreter em uma poça de hormônios em fúria.
- Tá vendo? É isso que me mata! – ele exclamou, irritado – Porque você realmente não faz idéia! Fica desfilando por aí com jeans apertados, sem ter a mínima noção do que faz com garotos, com homens! Do que faz comigo
- Do que... Do que você está falando? – eu perguntei, com a voz fraca.
- Eu tô falando de vocêLua! Com o seu cabelo, seu olhar, seu sorriso, suas curvas... – eu corei, e ele suspirou – Com esse jeito que você tem de corar com absolutamente tudo! Você é uma droga de sonho erótico tornado real e nem desconfia disso!
- Mas... – eu fechei os olhos e respirei fundo – Você nem gosta de mim. Me odeia, na verdade.
- Oh, inferno! – ele disse, revirando os olhos de forma impaciente – Eu não te odeio, sua idiota! Eu sou louco por você!

Eu definitivamente devo estar sonhando.

Talvez quando eu ataquei Arthur há alguns minutos atrás, tenha escorregado e batido com a cabeça. Era a única explicação plausível.
Nós permanecemos parados por alguns segundos, nos encarando. Eu mal podia respirar, enquanto Arthur ofegava como se tivesse corrido uma maratona.
- Totalmente. Louco. Por você. – ele admitiu novamente, dessa vez com mais calma – Eu te quero tanto que chega a doer, Blanco. E isso está acabando comigo. Agora eu ainda por cima tenho que te ver toda noite... Ver a expressão no seu rosto, o jeito como os seus seios se movem... Eu fico ali, parado, desejando poder ser os seus dedos. Desejando poder escancarar aquela porta e me juntar a você. Te mostrar o que é ter um homem de verdade na sua cama... Ser o causador dos seus gemidos. Você não faz idéia de quantas vezes eu tive que me segurar para não fazer exatamente isso. – ele parecia estar tremendo um pouco, enquanto seus olhos castanhos me queimavam. Havia fogo naquele olhar, fogo que incendiava cada centímetro do meu corpo – Para não me render e te agarrar sem ao menos te dar tempo para pensar. Para não invadir seu corpo quente... Não sentir seus músculos me apertando, seus olhos fixos nos meus enquanto eu te rasgo inteira.
Eu pensei que minhas pernas fossem ceder, mas por algum milagre, consegui manter meu corpo em pé. As palavras explícitas de Arthur estavam tendo um efeito irresistível sobre meu corpo. Não achava possível já ter estado tão excitada quanto estava agora.
- Mas então... – eu consegui dizer, a voz trêmula – Por que você sempre me trata tão mal?
- Você acha que eu quero que nossos pais saibam que eu fico duro toda vez que você entra na sala? – ele perguntou, e meus olhos deslizaram para o volume agora aparente em suas calças – Desde aquela droga de casamento, Blanco. Há exatamente um ano atrás. Poucas coisas na minha vida foram mais decepcionantes do que saber que você era a filha do meu padrasto. Eu achei que quando voltasse para a Inglaterra, eu esqueceria aquela atração. E funcionou, até eu ter que voltar para essa droga de país! – ele levou as mãos à cabeça abaixada – Ter que te ver todo dia... Andando para lá e para cá, jogando na minha cara o que eu não posso ter! Por que logo você tinha que ser minha meia-irmã? Por que logo você tinha que ser a única garota no mundo que eu não posso ter? Que eu não devia nem querer ter? – os olhos de Arthur se ergueram até os meus de novo – Eu pensei que se... Se eu fosse um babaca com você, se eu te fizesse me odiar... Você não me deixaria perder o controle. 
- Eu nunca odiei você. – eu admiti, em voz baixa.
- Eu sei bem disso. – ele respondeu, rindo sem humor – Porque pra piorar minha situação, você me quer tanto quanto eu te quero. – perante minha expressão surpresa, ele continuou – O quê? Você acha que eu não sei? Acha que eu não percebo seus olhos me seguindo o tempo todo? Você chegou a deixar meu nome escapar dos seus lábios uma noite. – ele disse, respirando fundo – E isso só piora tudo. Porque eu sei que se as circunstâncias fossem diferentes, nenhum de nós estaria sendo forçado a sofrer durante esse tempo todo. É desesperador, sabe? Ter consciência de que você me quer e não poder fazer nada quanto a isso. Pior que isso, ter que me esforçar para te fazer me odiar, como um covarde. Tentando fazer você ser forte por nós dois, e não me dar espaço para fazer o que eu quero.
- E o que você quer fazer? – eu perguntei, o um tom baixo e rouco que eu não conseguia reconhecer.
Os olhos de Arthur pareceram escurecer enquanto ele me olhava como se fosse um tigre esfomeado cercando um coelhinho inocente. Oh, merda. O que havia dado em mim? Porque eu tinha que perguntar aquilo?
Em poucos passos ele estava logo à minha frente, o corpo quase encostado ao meu. Arthur segurou meu queixo, o erguendo de forma a me forçar a encará-lo.
- Eu quero te pegar como ninguém nunca fez antes, Blanco. – ele disse, me fazendo tremer inteira – Tão gostoso que você vai ter vontade de desmaiar. Te fazer gozar até você ficar cansada demais para se mover. E então eu vou te colocar em todos os tipos de posições deliciosamente safadas e continuar te comendo. – eu pude sentir minhas pupilas dilatando enquanto minha respiração acelerava. Ele não desviava os olhos dos meus por sequer um segundo, e estava ficando difícil convencer minhas pernas a continuar suportando meu corpo – Eu quero te ouvir gritando meu nome de novo e de novo enquanto eu te faço tremer e implorar para te deixar gozar. E quando você achar que não pode mais agüentar, eu apenas vou fazer tudo de novo.
Ele esperou um momento, como se aguardasse uma resposta. É, óbvio. Como se eu fosse capaz de formar alguma frase coerente.
- Você não vai mandar eu me afastar? – ele perguntou, em um tom de quase súplica. Ah, claro. Ele havia tentado ser o mais gráfico e ofensivo possível em sua descrição de seus planos porque queria me assustar. Me mostrar exatamente a profundidade de seu desejo e me fazer fugir. Como ele mesmo havia dito, queria que eu fosse forte por nós dois e o impedisse. Mas ele era muito inocente se pensava que eu tinha tamanho autocontrole.
- Não. – eu respondi, incapaz de fazer qualquer coisa para tirá-lo de perto de mim.
- Droga, Lu. – ele disse, em um mero sussurro, me fazendo ter que conter um gemido. Ele nunca me havia me chamado pelo apelido – Você sabe que eu vou te beijar, não sabe?
- Sei. – eu respondi, encarando aqueles olhos profundos com uma coragem que no fundo eu não sentia.
Eu esperei que ele me agarrasse então. Esperei que seus lábios atacassem os meus e me tirassem da tortura na qual eu estava há um ano. Dessem-me o beijo com o qual eu sonhava há 365 dias, 2 horas e 10 minutos, se o relógio de parede estivesse correto. Meus olhos se fecharam e eu esperei.

Apenas para me decepcionar ao sentir os lábios de Arthur em minha testa.

Eu abri os olhos o encarando confusa e já me preparando para dizer algo. O quê eu não sabia, mas tinha total intenção de protestar. Não era justo comigo. Ele não podia me dizer as coisas que disse apenas para beijar minha testa logo depois. Como um irmão mais velho faz com a irmãzinha pirralha. Aquilo era crueldade, e eu já estava prestes a dizer isso a ele quando senti seu dedo se encostando aos meus lábios.
- Shh... – ele disse, ainda me olhando do mesmo jeito intenso que estava fazendo meu coração acelerar. Arthur inclinou a cabeça novamente, agora me beijando entre as sobrancelhas, e eu fechei meus olhos de novo.
Seus lábios então roçaram em cada uma das minhas pálpebras, com uma tranqüilidade que estava me matando. Como ele podia ser tão calmo? Depois de tudo o que ele disse, como ainda conseguia ser tão... Gentil?
Simplesmente porque no fundo ele não estava sendo. Arthur só estava prolongando o momento, me fazendo esperar... Me fazendo querer mais. O toque suave dos lábios macios dele, agora sobre minha bochecha, ia me deixando cada vez mais nervosa, enquanto o desgraçado parecia saborear o momento.

365 dias, 2 horas, 10 minutos e 32 segundos.

Ele beijou minha outra bochecha, em seguida deslizando os lábios para o canto dos meus, os afastando antes que eu pudesse virar meu rosto e beijá-lo onde eu queria. Grunhi, frustrada, ainda sem abrir os olhos, e Arthur riu baixo antes de beijar o outro canto da minha boca. 
Ele desceu brevemente para meu queixo antes de subir novamente. Eu sentia sua respiração em meu rosto e sabia que ele estava há menos de um centímetro de distância.

Um segundo depois e não existia mais distância.

No começo eu não conseguia me mover. Os lábios dele haviam capturado os meus em um beijo calmo, exploratório. Como se Arthur tivesse medo de que, se não agisse com cautela, eu sairia correndo. Isso depois de praticamente me implorar para que eu não o deixasse me beijar. 

Mas quando ele sugou meu lábio inferior delicadamente, o mordiscando em seguida, eu perdi o controle.

Minhas mãos encontraram os cabelos dele e eu o puxei, com força, lançando meus lábios contra os dele com uma fúria que eu não sabia existir dentro de mim. Pude ouvir a exclamação surpresa e abafada de Arthur, mas ele não protestou. Muito pelo contrário.
Suas mãos não perderam tempo antes de agarrar minha cintura, me puxando de encontro a si de súbito, fazendo com que dessa vez fosse eu quem exclamava surpresa contra seus lábios. Minhas mãos se firmaram com mais força em seus cabelos, meu corpo precisando de suporte já que o mundo girava ao meu redor.
Línguas não demoraram a entrar na batalha por controle, acariciando, experimentando. Eu não podia combater os gemidos que reverberavam por minha garganta a cada movimento dele, e isso apenas parecia incentivá-lo mais. Céus, ele sabia beijar. Melhor ainda, sabia me beijar. Eu nunca havia acreditado no tal “beijo perfeito”, mas Arthur estava mudando meus conceitos. Ele sabia exatamente onde tocar, quanta pressão aplicar para me deixar trêmula. Meu corpo era uma fogueira, meu coração uma bateria e meus pensamentos uma massa confusa de desejo e desespero. 
Eu era incapaz de afirmar com certeza quanto tempo se passou até que a irritante necessidade de ar voltou a se fazer presente. Ele quebrou o contato de nossos lábios e minhas mãos escorregaram para a frente de sua camisa, segurando o material com força em meus punhos enquanto eu lutava para acalmar minha respiração, meus olhos ainda fechados e minha cabeça um pouco abaixada. Senti a testa de Arthur se encostar ao topo da minha cabeça, sua respiração tão louca quanto a minha. 
Eu ergui minha cabeça quando finalmente recuperei o controle sobre meu próprio corpo. Arthur colocou uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha antes de quebrar o silêncio.
- E agora? – ele perguntou, em tom suave, e eu entendi que essa era a minha deixa. E agora? Arthur estava me dando um ultimato. Ou eu fugia ou eu o deixava continuar. Julgando pela outra mão dele, que agora acariciava meu quadril, eu sabia que ele não queria mais que eu o impedisse. Não, eu já deixara as coisas irem longe demais. Arthur não queria mais que eu fosse forte. Queria que eu me rendesse.
E foi então que o medo, sentimento que sempre me impediu de fazer o que eu queria, me dominou. Se eu continuasse ali, minha relação com Arthur mudaria para sempre. Mas a quem eu estou tentando enganar? Já havia mudado. Continuar ali só tornaria tudo mais definitivo. Se eu deixasse as coisas evoluírem, não poderíamos voltar atrás e fingir que nada disso aconteceu.
Meus olhos encontraram a mesinha em frente a poltrona que eu havia ocupado minutos antes. Ao lado da revista que eu ali abandonara, estava um porta-retrato. Eu, Arthur, a mãe dele e meu pai. A típica foto de família. Porque querendo ou não, era isso que, para o mundo, Arthur era em relação a mim. Família. Meu meio-irmão. O que estávamos fazendo era algo que chocaria muita gente.

Que chocaria nossos pais...

Eu estava há um passo de conseguir o que eu queria há um ano. E estava pronta para dar para trás.

- O que você vai fazer agora, Lu? – ele perguntou novamente, de forma sedutora. Seu tom de voz me instigava a me jogar naquele último salto... Me garantia que ele estaria lá para me pegar quando eu caísse. Mas o receio já me dominara, de forma que a minha resposta o surpreendeu como nada mais poderia.
- Um bolo! – eu exclamei a primeira idiotice que passou por minha mente, aproveitando a confusão dele para me afastar em direção à mesinha.
- Você... Ahn... O quê? – ele perguntou, me encarando como se eu tivesse duas cabeças. Aquela provavelmente era a última coisa no mundo que ele esperava ouvir e eu não podia culpá-lo por achar que eu era retardada. Eu provavelmente era mesmo. Não fazia idéia do porquê havia falado aquilo. O pânico tomara conta de mim e eu só havia pensado em fugir. Fugir do que eu queria por medo. Havia feito isso minha vida inteira, por que mudaria agora?
- Bolo. – eu respondi, pegando a revista que ainda estava aberta na receita e gesticulando com ela – Pro aniversário. Dos nossos pais. Bolo... É. – eu balbuciei, em seguida disparando para a cozinha.
Era como se eu não dominasse mais minhas próprias ações. Meu corpo de repente entrara em piloto automático e eu me vi revirando a cozinha em busca de ingredientes. Quando eu achei aquela receita, havia pensado na possibilidade só por pensar mesmo. Como quando a gente passa por uma vitrine e vê um sapato bonito, mas não maravilhoso, e pensa em comprá-lo mesmo sabendo que não vai fazer isso. Só... Pensa. Mas pelo visto a idéia do bolo havia ficado em meu subconsciente, reaparecendo quando eu precisava de uma distração. E agora toda minha atenção estava voltada para aquele bolo, e eu não sabia nem porquê. Acho que eu só precisava fazer alguma coisa. Qualquer coisa.
Eu olhei rapidamente para a receita. Parecia um bolo comum de chocolate, feito com aquelas massas que vendem prontas. Só depois de assado é que a receita ficava diferente, graças à cobertura. Por sorte, nós tínhamos massa de bolo em um dos armários da cozinha, assim como todos os outros ingredientes. Eu deixei a revista sobre a mesa da cozinha e parti em busca de panelas e tigelas para misturar os ingredientes. Colocando tudo sobre a mesa, eu me pus a checar os primeiros passos da receita.
- Você ao menos sabe fazer um bolo? – a voz de Arthur, ridiculamente próxima do meu ouvido, me sobressaltou. Eu estava tentando tanto me concentrar no tal bolo que nem ao menos o escutei entrando na cozinha. 
Graças a minha reação de susto, me vi pressionada contra o peito dele, a evidência de seu desejo despertado por nossa escapada momentos antes agora firmemente pressionada contra mim por trás. O momento de contato foi elétrico, e eu me vi paralisada, presa ali por uma força invisível. Meu coração batia forte, minhas pernas tremiam e aquele calor ao sul do meu corpo se renovou. Minha respiração voltou a acelerar enquanto eu me via sendo puxada de volta para aquilo... Aquele imã entre eu e Arthur, aquela força de tal magnitude que eu não era capaz de nem ao menos começar a compreender.
Ele não parecia nervoso. Na verdade, sua voz estava calma, e eu pensei novamente na comparação com o tigre e o coelhinho. O tigre não perdia o controle porque sabia que o coelho estava encurralado, e não importa o quanto tentasse, não conseguiria fugir. Arthur sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu acabaria me entregando.
As mãos dele descendo sensualmente por meus braços me despertaram de minha imobilidade e, com mais dificuldade do que eu gostaria, consegui me forçar a me afastar, dando um passo para frente e apoiando minhas mãos na mesa. Ele continuava atrás de mim, longe o suficiente para não estarmos nos tocando, mas perto o suficiente para eu sentir sua presença.
- Sabe ou não sabe? – ele perguntou novamente, olhando por cima do meu ombro para os ingredientes na mesa.
- Claro que sei. – eu respondi, minha voz bem menos firme do que eu gostaria. Fazendo um esforço para parecer normal, e não nervosa, eu continuei – Eu tenho a receita. Qualquer idiota consegue fazer um bolo seguindo uma receita.
Arthur esticou o braço e pegou a revista antes que eu pudesse impedi-lo. Eu virei o rosto para trás, dando de cara com o sorriso mais safado do planeta.Arthur tinha seus olhos grudados na receita, e parecia estar gostando imensamente do que lia.
- Eu adoraria te ajudar a testar essa suposição, querida. – disse ele, aproximando os lábios do meu ouvido.
- Do que você está falando? – eu perguntei, confusa.
- Leia o nome, Blanco. – disse Arthur, em seguida me entregando a revista.
- O nome? – eu perguntei, com as sobrancelhas franzidas. Voltando meu olhar para a revista em minhas mãos, eu li em voz alta – Better Than... OH MEU DEUS! – eu exclamei, largando a revista na mesa como se ela pegasse fogo. Pude ouvir Arthur rindo atrás de mim enquanto as letras em negrito do título da receita ainda pareciam me encarar, caçoando da minha idiotice.

Better Than Sex Cake1. “Bolo Melhor Que Sexo”.

Oh, eu estava definitivamente ferrada.

Consegui desviar meus olhos da revista traidora e, com mãos trêmulas, peguei a tigela e comecei a organizar meus ingredientes, fingindo não perceber mais a presença dele naquela cozinha. O que mais eu podia fazer? Eu não podia mais encará-lo, e sair dali deixaria a situação ainda mais estranha. Só o que eu podia fazer era continuar meu bolo fingindo que nada estava acontecendo e rezando para ele deixar o assunto passar.
- Então você vai fazer o bolo? – ele perguntou.

É. Sabia que não podia contar com ele para facilitar as coisas.

Ele não falou as palavras, mas eu ouvi a pergunta mesmo assim. A verdadeira pergunta, eu quero dizer. Meu desejo por ele não era segredo, e os acontecimentos daquela tarde deixavam tudo ainda mais claro. Então a verdadeira questão não era se eu faria ou não o bolo. Arthur estava perguntando, de forma sutil, porém ao mesmo tempo nem tanto, se eu me entregaria àquele desejo. Eu esqueceria todas as complicações e me renderia àquela atração que já durava um ano? Eu faria aquele bolo e provaria com ele que aquele título presunçoso era uma grande mentira?

A resposta era óbvia.

- Vai fazer o bolo, Lu? – ele perguntou novamente. O uso do meu apelido outra vez me causou um novo arrepio, assim como o fato de ele ter se aproximado novamente. Suas mãos estavam em minha cintura, sua ereção novamente pressionada contra mim e seus lábios agora roçavam meu pescoço, arrepiando todos os pelos do meu corpo. Ele parou o ataque quando finalmente chegou próximo à minha orelha, depositando um beijo suave embaixo da mesma antes de afastar os lábios para permitir que sua língua traçasse a curva dela – Vai ou não?
Eu fechei os olhos, me entregando a sensação, enquanto ele encostava o nariz em meu pescoço de forma carinhosa e sensual. Eu respirei fundo antes de pronunciar a palavra que mudaria tudo.
- Vou. – eu disse, sabendo que agora não teria como voltar atrás.

Mas assim que eu respondi, ele me largou.

Eu me virei, confusa e irritada. Lá estava Arthur, sentado sobre uma bancada, as pernas balançando alegremente e um sorriso satisfeito firmemente plantado no rosto irritantemente lindo.
- O que você pensa que está fazendo? – eu perguntei, odiando a necessidade óbvia no meu tom de voz. Oh, ele não ia fazer isso comigo. Não ia me fazer chegar a esse ponto só para dar pra trás.
O filho da puta riu do meu óbvio desespero e gesticulou para os ingredientes sobre a mesa.
- O bolo é seu, Blanco. – ele disse, seu sorriso se alargando por eu não conseguir conter minha expressão frustrada – Eu só vou supervisionar.
- Supervisionar? – eu perguntei, erguendo uma sobrancelha.
- Isso mesmo. – ele respondeu, fingindo inocência – Conheço suas habilidades culinárias. Você queima até água. E além disso... – ele fez uma pausa, me olhando de cima a baixo e me fazendo me sentir nua – Alguém tem que estar por perto para lamber a tigela.
Ok, aquela tinha que ser a pior insinuação sexual que eu já havia escutado. Mas então por que a imagem de Arthur lambendo o resto da massa de bolo da tigela fez meus dedos dos pés se curvarem? Simples. Porque era muito fácil imaginar o que mais aquela língua podia fazer... A imagem mental de Arthur lambendo massa de bolo no meu corpo me fez ter que pressionar uma perna contra a outra com força. Grunhindo, eu dei as costas para ele, o ouvindo rir novamente. Oh, ele estava se divertindo hoje. Mas vamos ver por mais quanto tempo ele vai rir. Mais cedo ou mais tarde, eu o faria engolir aquele riso. Assim que a tal “supervisão” acabasse, eu me certificaria de fazê-lo gritar.

E eu não acredito que acabei de pensar isso.

Mas pensei. E esse pensamento permitiu que a minha falsa indiferença acabasse enquanto a ficha finalmente caía. Eu tinha simplesmente aceitado fazer sexo com Arthur. Ok, nem eu nem ele havíamos dito as palavras, mas o que o fato de eu estar fazendo aquele bolo implicava era óbvio. Não tinha mais como voltar atrás. 
Tentando espantar esses pensamentos, eu liguei o forno para pré aquecê-lo e comecei a misturar os ingredientes. Ainda sentado na bancada, Arthur cantarolava algo que me lembrava extremamente “Pretty Vacant”, dos Sex Pistols. Eu sorri. Sempre gostei da voz de Arthur. Havia algo naquele som que sempre fazia minhas pernas tremerem. Enquanto eu observava a mistura na tigela, não podia deixar de imaginar aquela voz deliciosa sussurrando obscenidades no meu ouvido.
Eu me virei para seguir até a geladeira e pegar ovos e leite. Assim que fiz isso, porém, meus olhos encontraram os de Arthur e eu me vi paralisada. Não só pelo desejo contido ali, e sim pela adoração que brilhava naqueles olhos castanhos. Arthur disfarçou rápido, mas eu sabia o que eu vi. Com o coração disparado, eu fui até a geladeira e peguei os ingredientes, voltando em seguida para a mesa, sentindo meus joelhos ameaçando fraquejar.
Quebrei os ovos e os acrescentei à mistura, e quando eu já media a quantidade certa de leite para adicionar, ouvi Arthur pulando da bancada.
Eu despejei o leite na tigela, sentindo Arthur se aproximar de mim por trás novamente. O ar a nossa volta parecia carregado, quente... Quando ele finalmente colocou as mãos em minha cintura, eu arfei, precisando me apoiar na mesa à minha frente com as duas mãos. Ele riu baixo e lentamente desceu uma mão até a barra da minha saia, enquanto a outra segurava minha barriga e me puxava mais para ele.
- Melhor começar a misturar, pequena. – ele disse, escorregando os dedos por debaixo da minha saia – Você não quer desperdiçar o bolo, quer?
Ele começou a acariciar minha coxa em pequenos círculos e, com as mãos trêmulas, eu peguei a colher, a levando até a tigela. Eu tentei mexer, mas com a tremedeira, a colher não parava de bater com força contra a tigela de vidro. Suspirando com falsa impaciência, Arthur, para meu desespero, segurou meu pulso com a mão que antes acariciava minha coxa e começou a guiar meus movimentos com a colher.
- Assim, tá vendo? – ele explicou, mexendo a colher com a mão por cima da minha enquanto beijava meu ombro – Eu vou largar a sua mão, mas você precisa continuar mexendo. Se parar, eu vou ter que punir você... – ele disse, em tom divertido, pressionando meu corpo com mais força contra o dele para deixar claro exatamente qual tipo de punição tinha em mente – Entendido? 
Eu balancei a cabeça, sem confiar em minha própria voz, e Arthur largou minha mão, colocando a dele em minha cintura. Com uma mão firmemente apoiada na mesa, eu continuei a mexer a outra, trêmula, tentando ao máximo mexer a mistura direito. Não que a punição de Arthur não fosse tentadora, mas eu não daria o braço a torcer. O desgraçado estava me provocando, e como eu não podia resistir a entrar no joguinho dele, podia ao menos jogar pra valer.
A mão dele voltou a descer por minha saia, começando a levantá-la. Ao sentir o primeiro toque de seus dedos contra minha coxa, eu quase larguei a colher, mas me recuperei a tempo. Arthur, atrás de mim, riu satisfeito.
- Essa foi quase. – ele murmurou contra o meu ouvido – O que eu te disse sobre parar? – ele me perguntou, enquanto seus dedos se aproximavam da minha calcinha – Acho que você gostou da idéia de punição... Talvez eu devesse mudar de idéia... – ele mordiscou o lóbulo da minha orelha, e eu segurei a colher com mais força – Talvez eu devesse parar. – dizendo isso, Arthur afastou o rosto e seus dedos pararam o progresso que faziam.
- Não! – eu exclamei, odiando meu tom desesperado.
- Então continue a misturar. – ele disse, aproximando novamente os lábios da minha orelha e voltando a subir a mão, agora atingindo minha calcinha. Com um dedo, ele passou a acariciar o material ensopado entre minhas pernas. Eu gemi, precisando me apoiar com mais força na mesa – Olha só pra você... – ele disse, em um falso tom decepcionado – Ficando toda molhada enquanto seu meio-irmão se aproveita de você na mesa da cozinha... – juntando outro dedo ao que já explorava, ele começou a esfregar com mais força – Você definitivamente não é a santinha que seu pai pensa.
Sem mais aviso, Arthur afastou um pouco minha calcinha e deslizou os dedos para dentro de mim. Eu deixei a colher cair, e era difícil acreditar que o gemido que reverberou pela cozinha havia partido de mim. Era um som desesperado, necessitado, que eu nunca havia escutado antes.
- Gosta disso? – ele perguntou, visivelmente orgulhoso de si mesmo. Meu corpo tremia e, se não fosse por Arthur me segurando, eu sabia que não conseguiria permanecer em pé – São esses dedos que você imagina te tocando de noite? – ele perguntou, enquanto com a mão livre segurava uma de minhas mãos e me forçava a pegar novamente a colher, voltando a mexer a massa – Foram só os seus dedinhos que te tocaram desde que você me conheceu, não foram? – ele perguntou, e o tom ciumento na voz dele me fez assentir veementemente, sem vergonha nenhuma de admitir a verdade – Ótimo... É em mim que você pensa durante a noite, não é? Imagina minha voz sussurrando no seu ouvido enquanto você se toca? – ele perguntou, movendo seus dedos para dentro e fora de mim devagar – É o meu rosto que você vê quando grita seu orgasmo contra o travesseiro?
- É... – eu disse, me sentindo tonta.
- Boa menina... – ele sussurrou, largando minha mão momentaneamente para afastar meu cabelo, liberando minha nuca para seus beijos. As mãos dele em seguida voltaram para a tigela.
Ele continuou me ajudando a misturar a massa enquanto me torturava. Toda vez que sentia que eu estava próxima a um orgasmo, Arthur parava, me fazendo quase chorar de frustração, apenas voltando a mover os dedos quando meu corpo se acalmava. Ele parecia estar gostando imensamente de me deixar maluca.
Em uma dessas paradas, ele afastou de vez os dedos e largou minha mão com a colher. Quando eu virei a cabeça para encará-lo, desesperada, ele apenas sorriu e beijou minha testa.
- Tá na hora de colocar a mistura no forno, pequena. – ele respondeu – Não se preocupe, eu vou deixar você gozar, prometo... Acredite, vai ser muito melhor depois. – ele garantiu, se afastando um pouco e apontando com a cabeça para a tigela – Despeja a mistura na panela e põe no forno, depois volta aqui, porque eu ainda não terminei com você. 
Lançando a ele um olhar assassino, eu fiz o que ele pediu. Céus, eu queria fazer aquele cafajeste engolir aquele ego todo. Arthur realmente se achava a oitava maravilha do mundo, e eu queria ter forças para simplesmente deixar aquela cozinha. Mas não podia. Ele era um idiota, mas era extremamente gostoso e eu estava extremamente excitada. Duvido que alguma garota agisse diferente no meu lugar. E eu ainda não havia desistido de dar o troco emAguiar. 
Após colocar a panela no fogo, eu segui de volta para a mesa. Ainda precisava fazer a cobertura de caramelo e leite condensado, segundo a receita.
Eu coloquei os dois ingredientes em outra tigela e comecei a misturá-los, enquanto sentia Arthur se aproximar novamente de mim por trás. Ele esticou uma mão – a limpa, para meu alívio – e mergulhou um dedo na tigela, trazendo-o em seguida para minha boca. Sorrindo, eu envolvi seu dedo com meus lábios, o limpando devagar com a minha língua. Não pude deixar de rir ao escutar o gemido rouco do garoto atrás de mim.
- Vai rindo, vai... – disse ele, em tom de provocação enquanto afastava o dedo. As mãos dele começaram a subir pelo meu corpo, partindo de cada lado da minha cintura e seguindo com toques firmes em direção aos meus seios. Quando finalmente atingiu a área, seus dedos deslizaram até a abertura em minha blusinha de alça, abrindo o primeiro botão – Sempre quis fazer isso... – ele disse, o tom agora não tão provocante quanto trêmulo.
- O quê? – eu perguntei, tentando me concentrar na mistura. 
- Tirar suas roupas. – ele admitiu em um sussurro, enquanto continuava a abrir os botões.
Ao sentir as mãos dele, tão trêmulas quanto as minhas, ao mesmo tempo que escutava sua voz agora tão vulnerável, eu finalmente entendi algo. Toda a confiança natural de Arthur, todas as coisas eróticas e intimidantes que ele me dissera haviam me feito esquecer um pouco o que estava por trás de tudo isso. Desejo. Arthur me queria. As provocações dele haviam me manipulado o suficiente para me render. Para deixar ele no comando e ser a garotinha submissa. Mas eu havia esquecido que o mesmo poder que ele exercia sobre mim, eu exercia sobre ele. 
Senti um sorriso cruel repuxando os cantos dos meus lábios. Oh, Arthur estava se divertindo em me torturar, mas esquecia que eu podia fazer o mesmo com ele. Era hora de fazê-lo parar de rir às minhas custas. Era hora do coelhinho mostrar pro tigre quem realmente mandava nessa droga.
- E como você se sente agora? – eu perguntei, recuperando o controle sobre minha tremedeira com a idéia da doce vingança que estava por vir.
- Ahn? – ele perguntou, como se não estivesse me ouvindo. Provavelmente não estava mesmo, não com toda sua atenção. O garoto parecia focado demais em abrir aqueles botões.
Eu inclinei minha cabeça para trás, a encostando em seu ombro, e aproximei meus lábios de sua orelha.
- Como você se sente tirando minhas roupas? – eu sussurrei, colocando minha mão livre sobre uma das dele, que cuidava dos últimos botões – Como é saber que agora você pode? Você tem sonhado com isso, não tem? – meus lábios começaram a acariciar a pele logo abaixo de sua relha, nos intervalos entre minhas frases – Quando você está sozinho no seu quarto, ouvindo o que eu faço... Você se imagina fazendo isso, não imagina? Se imagina me tocando, suas mãos me desnudando aos poucos... – eu podia ver os olhos de Arthur fechados, e sua respiração já estava descontrolada. Minha blusa já estava totalmente aberta, de forma que eu lentamente comecei a deslizar a mão dele para minha pele exposta – Aposto que você pensa na textura da minha pele... O quanto é macia... Quente... Ela é como você imaginava? – eu perguntei, finalmente posicionando a mão dele contra minha barriga. Ele grunhiu, um som desesperado que me arrepiou por inteira, enquanto eu continha um gemido.
- Melhor. – ele respondeu, ainda de olhos fechados como se em um transe, sua outra mão também agarrando meu corpo agora descoberto.
- Então como você se sente? – eu perguntei novamente, minha voz agora muito menos controlada – Sabendo.. Oh... Sabendo que não é mais só fantasia? – respirando fundo, eu levei minha mão livre até a nuca dele e disse, com toda a coragem que eu tinha – Como é saber que eu vou deixar você fazer o que quiser com o corpo que você vem morrendo de vontade de ter há um ano? Como é ter aquilo com o qual você tem estado obcecado desde que me conheceu? – deixando minha voz cair para um tom ainda mais baixo, eu concluí – Como é saber que eu finalmente vou ser sua?

Quando Arthur finalmente abriu os olhos, eu soube que tinha ido longe demais.

O olhar dele não era apenas desejoso... Era descontrolado. Antes que eu pudesse reagir, me vi sendo pressionada contra a mesa, o corpo de Arthur ainda colado no meu por trás e suas mãos acariciando meu corpo sem nem um pouco da suavidade de antes.
- Você quer saber? – ele perguntou, com raiva – Quer saber como era ter que te ver dia após dia pensando que nunca teria a chance de te tocar? Quer saber o quanto era difícil? E não só porque você é minha irmãzinha... – ele continuou, em tom sarcástico. A voz de Arthur não passava de um sussurro perigoso em meu ouvido – Não, além disso você sempre foi boa demais pra mim... Tinha que ouvir meus amigos me dizendo que você nunca perderia tempo comigo... Que uma garota com um futuro como o seu nunca ficaria com um aspirante a músico como eu... – uma mão de Arthur subiu então pelo meu corpo, abaixando um lado do meu sutiã bruscamente – Que você estava fora do meu alcance... Mas você não me parece intocável agora. – ele riu baixinho em meu ouvido antes de agarrar meu seio com força. Eu me apoiava na mesa com as duas mãos, totalmente arfante e deixando os nós dos meus dedos brancos graças à força que eu aplicava para me manter em pé, já que meus joelhos ameaçavam ceder a qualquer momento – Ainda é boa demais pra dormir comigo,Blanco? 
- Eu nunca... – consegui dizer, entre gemidos, enquanto os dedos de Arthur esfregavam e beliscavam de leve meu mamilo – Pensei... Isso...
- Mas eu pensei. – ele disse, ainda com raiva. Raiva de mim, raiva dele mesmo, raiva do que sentia – E o mundo pensa também. Então você quer saber como é mandar todo mundo à merda e pegar o que eu quero? – ele perguntou, me largando momentaneamente. Eu não tinha forças nem para virar a cabeça para trás, mas ouvi, com um surto de ansiedade, o som de plástico sendo rasgado e zíper sendo aberto, e em seguida pude avistar com minha visão periférica um pacotinho prateado no chão. Camisinha.
Aquele pensamento fez tudo parecer mais real, e eu apenas tremi de ansiedade. Eu não ia mais fugir. Meu desejo por Arthur estava começando a doer, e não dava para voltar atrás agora. Só podia me preparar para o que eu sabia que seria o ato mais intenso que eu experimentaria em toda minha vida.
- Você não respondeu minha pergunta. – ele voltou a dizer, se posicionando novamente atrás de mim e levando uma mão até minha coxa, segurando a barra da minha saia. Levei alguns segundos para me lembrar exatamente qual havia sido a pergunta dele.
- Quero... – eu respondi, sabendo que isso só o irritaria mais. 
- Quer saber com é ter você toda entregue pra mim? – ele provocou pela milésima vez naquela tarde, levantando minha saia e ajeitando meu quadril. Eu me apoiei com mais força na mesa – Eu não vou te dizer. – Arthur continuou, em seguida descendo minha calcinha até a altura dos joelhos em um movimento rápido – Vou mostrar.
A súbita invasão de Arthur me fez exclamar, surpresa. Eu estava tão pronta para ele que em apenas um movimento firme ele estava totalmente dentro de mim. O desgraçado mal me deu tempo para me acostumar com a sensação antes de deslizar quase totalmente para fora e em seguida para dentro de novo, me fazendo soluçar com o puro prazer da sensação. Nossos corpos se encaixavam tão perfeitamente que dava vontade de chorar. Eu me mantive por alguns momentos parada, simplesmente me deliciando com os movimentos fortes de Arthur e sua voz murmurando em uma espécie de surpresa reverente palavras como “apertada”, “quente”, “perfeita”, entre outras, que me faziam corar não só de satisfação. Lentamente, porém, comecei a tentar mover meu quadril. Arthur desacelerou os movimentos, me ajudando a me acostumar.
- Isso... – ele murmurou, me encorajando a experimentar – Nunca fez assim antes?
- Não... – eu admiti, me adaptando ao ritmo agora calmo dos quadris dele. Eu não tinha muita experiência na área sexual, nunca tendo ido muito além do básico com meu ex-namorado. 
- Por que? Ser pega por trás é uma posição muito safada pra minha anjinha? – ele provocou, rindo baixinho e insistindo com os movimentos lentos.
- Não começa. – eu avisei, irritada. Tentei parar de me mover, mas apesar da provocação, estava bom demais pra acabar agora.
- Admita, Lu... Você sempre foi uma garotinha comportada. – disse Arthur, ajeitando nossa posição para poder inclinar o rosto até perto do meu – Mas o que ninguém sabe é que no fundo você sempre quis um pouco de depravação.
- Cala a boca... – eu mandei, com dificuldade. Arthur havia mudado os movimentos de novo, e embora ainda lentos, estavam bem mais firmes, tornando difícil raciocinar.
- Diz que eu tô errado... – ele desafiou, mordiscando meu pescoço enquanto deslizava para fora de mim, apenas para voltar com força no momento seguinte, me fazendo perder o ar – Diz que o fato de estar deixando seu meio-irmão te comer por trás no meio da cozinha do seu pai não está te deixando com mais tesão ainda? – ele fez o mesmo movimento de antes, começando um lento padrão – Diz que você não fica imaginando o que as pessoas diriam se soubessem o que eu estou fazendo com você, e o quanto você está gostando. 
- Você não presta. – eu disse, virando meu rosto para ele com um pouco de raiva acompanhada da bizarra excitação que esse sentimento estava me trazendo.
- Você gosta. – ele respondeu, sorrindo e inclinando a cabeça para esfregar o nariz de leve em meu pescoço, em um gesto carinhoso tão súbito que derreteu minha raiva. Aquilo não era certo. Ele não podia ficar fofo de uma hora pra outra e tornar impossível ficar irritada com ele.
A velocidade de Arthur aumentou novamente, impossibilitando que um de nós conseguisse pronunciar algo além de exclamações monossilábicas. Eu me senti me aproximando do clímax novamente e, experimentando aquela horrível sensação de dejá vu, senti Arthur parar e se afastar.
Dessa vez eu realmente quase chorei de frustração. Haviam lágrimas em meus olhos quando as mãos de Arthur me viraram de frente para ele e seguraram meu rosto enquanto ele me beijava.
- Você... Prometeu. – eu disse, quando ele afastou os lábios.
- Shh, eu sei... Mas eu quero poder olhar seu rosto quando você gozar pra mim... Venho sonhando com a sua expressão há um ano. – ele disse, me beijando novamente – E essas roupas entre nós estão me incomodando. Livre-se delas e eu prometo que dessa vez não vou parar.
Ele se afastou e eu me apressei em tirar minha blusa desabotoada, meu sutiã e minha saia. Quando eu finalmente voltei meu olhar para Arthur, vi que ao invés de fazer o mesmo, ele havia congelado suas ações há uns dois metros de mim, provavelmente enquanto me observava me despindo. Eu corei sob o olhar dele, que parecia tentar gravar cada curva do meu corpo na memória, e me sentei sobre o tampo da mesa atrás de mim, esquecendo totalmente o quão frágil aquele móvel era, enquanto o esperava.
- Sabe, não foi à toa que eu te chamei de anjinha. – ele finalmente disse, vindo até mim ainda totalmente vestido – Não é só o comportamento... Você é linda. – o tom na voz de Arthur era maravilhado, e eu senti minhas bochechas se avermelharem mais. Sorrindo, ele levou uma mão até meu rosto – Não dá pra entender como um anjo como você está deixando um perdedor como eu te tocar. 
- Talvez porque você esteja me corrompendo. – eu disse, retribuindo o sorriso dele enquanto Arthur ficava entre minhas pernas. Segurando a nuca dele, inclinei sua cabeça para me beijar novamente enquanto eu puxava sua camisa para cima. Ele me ajudou a tirar, em seguida abaixando de vez os jeans abertos e os chutando para libertar suas pernas. 
- Eu vou pro inferno e tô te arrastando junto, não é? – ele perguntou, enquanto se posicionava para me penetrar novamente.
- Talvez. – eu respondi, descendo uma trilha de beijos pela coluna do pescoço dele – Mas antes disso a gente vai pro céu.
Olhando nos meus olhos, ele moveu os quadris para frente, nos encaixando de novo. Os olhos de Arthur se fecharam automaticamente enquanto ele ecoava meu gemido.
- Droga... – ele disse, me olhando por baixo de pálpebras pesadas – Você vai me matar, sabia?
- Não quero te matar. – eu respondi, meio em transe – Acabei de te encontrar.
Quando ele recomeçou a se mover, eu tive certeza de que aquela era a verdade. Era como se só agora eu tivesse realmente encontrado Arthur. Como se o ano anterior não existisse.
- Oh, pequena... – ele murmurou, aos poucos incrementando a velocidade de seus movimentos – A gente vai ter muito pra conversar.
- Conversa... Depois. – eu murmurei, me sentindo uma mulher das cavernas pelo jeito de falar – Mais disso... Agora.
Arthur sorriu e continuou a acelerar os movimentos. Uma das mãos dele deslizou por minha barriga e ventre até chegar ao meu clitóris, que ele estimulou com o polegar. Eu grunhi com a nova onda de prazer e meus músculos internos se apertaram à volta dele involuntariamente.
- OH! – ele exclamou alto, seus olhos revirando enquanto eu o apertava. Quando recuperei o controle sobre aqueles músculos, o apertei novamente, com mais força, quase enlouquecendo com o som totalmente erótico que escapou dos lábios dele.
- Você tá pedindo. – ele disse, com a voz meio estrangulada, em seguida apoiando as mãos com mais firmeza na mesa sobre a qual eu estava e aumentando suas investidas para um ritmo quase selvagem.
Pratos e ingredientes caiam da mesa que agora balançava exageradamente, e eu pude ouvir o som do leite e da minha cobertura derramando, ovos quebrando, o resto da massa de bolo caindo e se espalhando pelo chão. Eu não poderia me importar menos. Eu estava literalmente vendo estrelas, e minha visão se tornara tão turva que eu já não me atrevia a reabrir os olhos. Arthur estava atingindo pontos do meu corpo que eu nem sabia que existiam, me impossibilitando de ter qualquer pensamento racional. Mas quando eu ouvi a mesa rangendo de forma mais perigosa, algo dentro de mim despertou e me deu forças para falar.
Arthur... – eu murmurei, com dificuldade. Ele ergueu a cabeça, antes encostada sobre meu ombro, e me encarou, com a mesma expressão precariamente concentrada que eu sabia estar em meu rosto também. Os movimentos dele não pararam, tornando difícil continuar – A mesa... Vai quebrar...
Arthur pareceu levar um longo momento para entender o que eu dizia, mas assim que o fez, assentiu.
- Se segura em mim. – ele disse, e quando apertei meus braços e pernas ao redor do corpo dele, Arthur me levantou, me carregando até uma parede e batendo as minhas costas contra a mesma, fazendo com que dois quadros pendurados nela caíssem e se quebrasse a nossos pés. Arthur pareceu ignorar isso totalmente, apenas me penetrando de novo em uma estocada que me empurrou com mais força contra a parede, provocando uma brusca onda de dor e prazer que me deixou sem ar. Eu nunca pensei que gostaria daquilo, mas as investidas fortes de Arthur me faziam gritar de pura necessidade e o apertá-lo internamente com mais força, tentando mantê-lo dentro de mim mesmo quando ele se afastava antes de voltar, gemendo e grunhindo tão alto quanto eu. Meus dedos agarraram seus ombros, unhas penetrando em sua pele na busca por algo no qual me apoiar.
Arthur desceu os lábios para meu seio, chupando, mordiscando, me fazendo arquear minhas costas e pressionar meu corpo mais contra o dele. A sutil mudança de posição o fez atingir um ponto sensível dentro de mim com mais força, e o nome dele escapou de meus lábios como uma súplica desesperada. Ele desviou a atenção para meu outro seio enquanto voltava a escorregar uma mão para entre nossos corpo, acariciando meu clitóris novamente. Eu senti outra vez meu orgasmo se aproximando, e por um louco momento tive medo. Aquele prazer havia me sido negado por tanto tempo que eu tinha a forte desconfiança de que, quando finalmente deixasse vir, acabaria desmaiando. Provavelmente notando meu nervosismo, Arthur aproximou os lábios de minha orelha, murmurando com voz baixa e sensual contra ela.
- Vamos lá, pequena... – ele disse, aquele tom reverente de volta – Pode relaxar agora... Eu tô aqui com você... Por favor, Lu...
Com o pedido dele, meu orgasmo me atingiu como um avalanche, forçando um grito primitivo a passar por minha garganta. Foi necessário usar toda minha força de vontade para não desmaiar enquanto onda após onda de prazer ridiculamente intenso me dominava, fazendo minha visão escurecer até que só o que eu podia ver com clareza eram os olhos castanhos que olhavam dentro de minha alma enquanto o dono deles não parava seus movimentos, intensificando ainda mais as sensações. Alguma parte do meu cérebro percebeu que lágrimas agora escorriam livres por meu rosto, me fazendo fechar os olhos com repentina vergonha. 
Vergonha essa que só aumentou, somada a um leve sentimento de decepção, quando eu percebi que Arthur não havia gozado comigo. Mas esses sentimentos tiveram vida curta quando eu senti seus movimentos, que haviam parado momentaneamente, recomeçarem, agora mais gentis em preocupação com a minha passagem muito mais sensível. Seu dedo voltou a me acariciar, em uma intensidade que beirava a dor.
- Abre os olhos, Lu. – ele praticamente implorou, a voz rouca e precariamente controlada.

Eu os abri, só para dar de cara com a expressão mais excitante do planeta.

Arthur havia fechado os olhos assim que eu abri os meus, como se olhar para mim fosse mais do que o autocontrole dele pudesse agüentar. Seu maxilar estava travado com força, e sua respiração escapava em suspiros descontrolados. Passaram-se alguns segundos até ele reabrir os olhos, me encarando com um misto de tortura e satisfação. Saber que ele havia se segurado de propósito, apenas para prolongar o meu prazer, me dando tanto quanto eu pudesse agüentar, reacendeu meu desejo com uma velocidade que eu não pensava ser possível. Era o jeito dele de me compensar por ter me feito sofrer esperando tanto.
- Dessa vez nós vamos juntos... Ok? – ele disse, e eu assenti com a cabeça, incapaz de falar.
Os movimentos dele aceleraram apenas um pouco, mas era o suficiente para meu corpo ainda extremamente sensível se aproximar rapidamente de outro orgasmo. Eu sentia seu peito roçando contra o meu a cada investida, sua respiração provocando a pele do meu pescoço e sua voz murmurando palavras sensuais e carinhosas em meu ouvido, e em poucos momentos me vi chegando ao ápice novamente, dessa vez não sozinha. Arthur me seguiu, abafando seu grito aliviado em meu pescoço. 
Enquanto os movimentos dele diminuíam e minhas convulsões passavam, me vi sendo arrastada para a leve inconsciência contra a qual eu antes lutara, e me deixei cair contra o peito de Arthur. Senti ele me carregando de volta para a mesa quando se recuperou, depois de algum tempo. Eu não estava totalmente acordada, mas sabia que ele se sentara em uma das cadeiras, comigo ainda em seu colo.
Eu entrei e saí daquele sono leve por algum tempo, sem ter certeza de exatamente quanto, antes de finalmente erguer minha cabeça e encarar Arthur. Ele sustentou meu olhar, enquanto procurávamos por algo um no outro. Eu não sabia exatamente o que havia lido nos olhos de Arthur, mas foi alguma coisa ao mesmo tempo assustadora e emocionante.

Quando Arthur abriu a boca para dizer algo, o timer do fogão tocou.

Nós trocamos um olhar arregalado antes de, ao mesmo tempo, começarmos a rir.

- É melhor eu cuidar disso. – eu disse, saindo do colo dele com óbvia relutância. 
Com as pernas trêmulas e me sentindo dolorida, eu fui até o fogão, checando o bolo e vendo que ele estava pronto. Eu tirei a tigela do fogo, a colocando sobre a bancada para esfriar antes de desligar o fogão e voltar até a mesa, me sentando na cadeira ao lado da de Arthur. Ele esticou a mão para pegar a minha, entrelaçando nossos dedos.
- Você é incrível, pequena. – ele disse, e eu ergui meu olhar para o rosto dele, metade de mim esperando encontrar sarcasmo naqueles olhos castanhos que eu tanto adorava. Mas ao contrário, só o que eu vi foi a mesma completa satisfação que eu sentia. 
- Você também não é nada mal. – eu disse, e nós dois rimos de leve. 
Não falamos nada depois disso, e o silêncio pesado nos envolveu, carregado com as coisas ainda não esclarecidas entre nós. Eu fechei meus olhos e inclinei minha cabeça para cima, achando a intensidade do olhar de Arthur algo forte demais para suportar. Eu ainda sentia aqueles olhos me estudando, e de repente senti um arrepio apavorado tomar conta de mim.

O que eu havia feito?

Memórias começaram a me assaltar de uma só vez. Imagens de todas as ofensas que Arthur já me fizera, de todas as provocações... Lembranças de momentos “familiares”, fotos que tiramos juntos, jantares dos quais participamos com nossos pais... As memórias se encaixavam como uma grande montagem de todos os motivos pelos quais eu não devia ter deixado isso acontecer. Eu havia passado um ano tendo certeza absoluta de que aquele garoto me odiava... Agora eu sabia que ele me desejava, mas era verdade que o que sentia por mim não era também ódio? Algumas das palavras grossas, extremamente gráficas de Arthur voltaram à minha mente, e eu senti vergonha. Agora que o desejo não dominava mais minha mente, podia lembrar de todas as sacanagens que Arthur havia me dito, e me senti suja. Se ele me odiava, havia apenas me usado... Será que agora ele pensava que eu era uma puta? Eu havia deixado ele falar aquelas coisas pra mim, fazer aquelas coisas comigo... Mas eu o queria, o desejava e gostava de verdade dele, de forma que pra mim não pareceu errado. Mas e se pra ele fosse diferente? E se o que aconteceu significasse para ele só o prazer de ter a única garota no mundo que não podia ter?
Eu puxei minha mão, a tirando do contato com a dele, e abracei meu próprio corpo, ficando extremamente ciente do quão nua eu estava – física e emocionalmente. Eu queria sair correndo dali, mas meu corpo não me obedecia. Doía ficar ali, mas doeria também ir embora.
Para meu horror, eu senti lágrimas começarem a se formar. Se aquilo era só sexo para Arthur, o pior não era ter dado a ele meu corpo.

Não, o que doía é que, de alguma forma, eu havia começado a entregar meu coração.

Senti ele se mover ao meu lado, as mãos tocando meu rosto e limpando as lágrimas. O toque de Arthur acabou com a minha imobilidade, e eu me levantei, começando a catar minhas roupas.
Lu. 
Meu apelido. Dito de forma simples, sem nenhuma indagação, sem se gabar... Apenas meu apelido. Eu parei, me virando em direção a ele e me surpreendendo. Arthur não parecia preocupado. Ele parecia apavorado.
- O que... – ele disse, ainda aparentando medo e me confundindo – O que há de errado, pequena?
- Não me chama assim! – eu exclamei, o medo de ter sido usada me dominando totalmente – Não finja que se importa! Só comece a se gabar de uma vez!
Por um momento ele não disse nada, a confusão estampada em seu rosto.
- Ajudaria se você me explicasse o porquê exatamente eu devia estar me gabando. – ele disse, em tom calmo.
- Não brinca comigo, por favor. – eu pedi, minha voz fraca, e Arthur me encarou, agora sim preocupado – Você teve o que quis, não teve? Pode parar de obcecar agora. Lua Blanco se rendeu a você. Pode ir se gabar pros amigos! – eu concluí, seguindo para a porta.
Lu, não! – ele disse, e eu parei, me voltando novamente para ele. O que eu vi em seus olhos me fez congelar ao entender o que o “não” dele significava.

Não me deixe.

- Por que? – eu perguntei, simplesmente.
- “Por que” o quê? – Arthur perguntou, vindo até mim – Por que isso aconteceu? – ele apontou para o lixo no qual nós havíamos transformado a cozinha – Você sabe porquê. E não, num foi só por uma droga de obsessão, ou pra me gabar para alguém... Céus, eu realmente te fiz acreditar que te odiava nesse último ano, não é? – a pergunta foi feita com arrependimento claro em seus olhos. Eu apenas permaneci calada, esperando ele continuar – Eu não te culpo por achar que eu sou um cafajeste. Fui eu quem te ensinou a pensar assim. Mas se eu puder te pedir que me ouça, você fará isso? Eu só quero cinco minutos. Só cinco minutos antes de você sair dessa cozinha. Se você não aceitar o que eu vou te dizer, eu te deixo ir embora e nunca mais te perturbo.
Eu assenti, um pouco curiosa, e ele estendeu a mão para mim. Eu a peguei, desconfiada, e deixei que ele me guiasse de volta para mesa, em seguida me sentando novamente ao lado dele.
- Tudo que eu te disse hoje é verdade. – ele começou, cauteloso – Mas não é tudo. O que aconteceu nessa cozinha não foi tesão acumulado. – minha sobrancelha se ergueu em descrença, e ele suspirou – Ok, não foi  tesão acumulado. Tudo o que eu te disse é verdade, eu quero você desde que te conheço. E no começo era sim só isso. No começo eu realmente só queria te pegar. – ele admitiu, sem me encarar – Mas quando eu voltei da Inglaterra e me mudei pra cá... Além de ter que conviver com a tentação que é você vinte e quatro horas por dia, além de ficar pelos cantos querendo te tocar... Além disso, eu passei a enxergar você. Não só seu corpo, mas você. Eu passei a maior parte desse ano te observando quando você estava distraída, Blanco, e dessa forma comecei a aprender algumas coisas... – ele fez uma breve pausa, respirando fundo – Como o fato de que você é uma das únicas adolescentes do planeta que passa mais tempo lendo do que vendo TV. Não só revistas, mas livros... Livros sérios, livros que às vezes eu não entendo nem mesmo o título. – ele disse, e eu ri – Mas ao mesmo tempo, quando você realmente pára pra ver TV, coloca em desenhos quando acha que ninguém está reparando, o que é totalmente contraditório, mas é tão você que nem chega a ser estranho... Eu aprendi que algumas músicas tristes te fazem sorrir enquanto muitas alegrinhas demais acabam com seu humor. Não porque você não gosta de músicas felizes, mas a letra de algumas te faz fazer uma comparação com a sua própria vida e você se sente mal... Porque eu sei que tem algo que você esconde e que anda te fazendo sofrer... E eu desconfio que tenha haver com o seu pai, mas você não precisa me dizer se não quiser. Mas ao mesmo tempo em que você parece ter problemas com ele, você sempre se esforça pra cuidar do seu pai, e isso é demais, porque mostra o quanto você se preocupa com quem você gosta, não importando o que aconteça... – ele sorriu pra mim, afastando uma mexa de cabelo do meu rosto, olhando para o próprio colo em seguida – E quando você lê ou vê alguma notícia ruim, sobre fome, desastres ou destruição da natureza, você estende essa preocupação pro resto do mundo e fica com um olhar distante, como se pensando no que você poderia fazer para mudar isso... E se sentindo culpada por não poder fazer nada, como se todos os problemas do mundo fossem culpa sua. – ele ergueu o olhar até o meu novamente, e eu me forcei a olhar de volta, sentindo meus olhos nublando com mais lágrimas. Nunca pensei que Arthur prestasse tanta atenção – Como eu disse, eu comecei a ver você, Lua. E aos poucos foi deixando de ser só desejo. Eu comecei a... Gostar... De você. E eu tenho a sensação que você gosta de mim também. Mas quando você começou a chorar agora a pouco, eu achei que...
- Que era o fim? – eu perguntei, com a voz fraca, entendendo finalmente o medo dele de antes. Era o mesmo que o meu, afinal. Medo de o que aconteceu não ter significado nada.
- É. – ele disse, simplesmente.
Eu não sabia o que mais dizer. Aquele era o tipo de coisa que eu nunca esperava ouvir de Arthur, de forma que de início, fiquei sem palavras.
- Por que você me disse tudo isso? – eu precisei perguntar, depois de um tempo.
- Porque eu quero que você entenda que tudo depende de você agora. – ele disse, me olhando sério – Você pode sair daqui e fingir que isso nunca aconteceu. Ou... – ele pegou minha mão novamente – A gente pode... Sei lá... Tentar fazer isso funcionar.
- Você quer dizer... Ficarmos juntos? – eu perguntei, sem saber se me apavorava ou começava a fazer uma dancinha feliz.
- Isso. – ele respondeu, me olhando com expectativa. 
Eu respirei fundo antes de continuar.
- Você ao menos sabe fazer isso? – eu perguntei. Eu me sentia mal por ter que perguntar, mas precisava da resposta.
Arthur não pareceu ofendido com a minha pergunta, mas também não parecia ter gostado dela.
- Como assim? – ele perguntou.
- Bom... Você sempre me pareceu meio...
- Galinha? – ele perguntou, levantando uma sobrancelha. Eu assenti, sorrindo como quem pede desculpas, e ele revirou os olhos – E você chegou a essa conclusão depois de nossa longa convivência de um ano? – o tom dele pingava sarcasmo.
- Você me conhece há um ano e tem várias conclusões sobre mim. – eu disse, em tom defensivo.
- É diferente, eu presto atenção. E não te julgo só pelo que aparenta ser verdade. – ele argumentou – Eu confesso que andei saindo com muitas garotas, sim. Mas não porque eu tenho alergia a compromisso ou algo assim. É só que... Bom, eu sou um cara. Todo homem quando tá solteiro e não é totalmente deformado acaba pegando um monte de mulher por aí, é meio inevitável. Se põe no meu lugar. Você é um cara solteiro, não pode ficar com a garota que você quer e tem um bando de mulher atrás de você. O que você faria?
Eu tentei engolir a onda de ciúme doentio que se apossou de mim ao imaginar Arthur solto por aí e à mercê das devoradoras de homens dessa cidade, e precisei admitir que não podia culpá-lo.
- Eu precisava me distrair de alguma forma. – ele continuou – Ficar sozinho e tendo que te ver todos os dias me deixaria maluco. E, sério, nem foram tantas garotas assim. Eu não tenho nenhum problema com monogamia. Pra sua informação, já tive uma namorada e só terminou porque ela me largou. Pra ficar com outro cara, e não por algo que eu tenha feito.
- E você ainda pensa nela? – eu perguntei, antes que pudesse me controlar. Arthur riu.
- Ciúmes? – ele perguntou, me lançando aquele sorrisinho insuportável. Eu só revirei os olhos – Relaxa, já faz um tempo, eu superei. Foi bem antes de te conhecer.
- Mas e se a gente ficar junto e você resolver que era mais feliz galinhando? – eu perguntei, um pouco emburrada.
- Ô criatura difícil, meu Deus. – disse Arthur, olhando pro teto antes de voltar o olhar novamente pra mim – Lu, eu já supri minha cota de poligamia. Sério. Se você quiser ficar comigo, eu não vou querer mais ninguém. Achei que já tinha deixado claro que é de você que eu gosto. Eu quero você comigo, e não só por uma tarde. Isso é claro o suficiente pra você? – ele perguntou, parecendo exasperado.
- É. – eu disse, sorrindo. Porém meu sorriso murchou no momento seguinte – Mas eu ainda vou ter ir pra Yale em breve.
- Você já reparou que você só fala “preciso ir pra Yale”, “tenho que ir pra Yale”... Você nunca disse “eu QUERO ir pra Yale”. 
- Isso é porque eu não tenho certeza. – eu admiti, sentindo as palavras que eu andava sufocando há dias finalmente se libertarem. Arthur não disse nada, apenas me olhou como se aguardando que eu dissesse mais. Suspirando, eu continuei – Você estava certo, sabe? Quando disse que eu nunca me divirto... Quando disse que eu tenho algum problema com o meu pai... Na verdade você estava certo sobre muitas coisas.
- Você logo vai descobrir que eu sempre estou certo. – ele me interrompeu, sorrindo. Diante do meu olhar feio, ele abaixou a cabeça e deixou o lábio inferior formar um meio biquinho, enquanto tentava conter um sorriso – Ok, desculpa, pode continuar.
Eu ri, e não pude resistir a inclinar o rosto e beijá-lo. Ele sorriu e me abraçou, me fazendo encostar a cabeça em seu ombro enquanto eu terminava minha história.
- Meus avós paternos se conheceram em Yale. Eles sempre quiseram que meu pai fosse pra lá, mas ele não conseguiu entrar. Ele se contentou com a Universidade de Seattle, mas no fundo nunca se perdoou por não ter conseguido. Tinha se tornado o sonho dele também, sabe? – eu disse, começando a brincar com meus dedos no peitoral de Arthur. Parte de mim estava ciente de que ambos continuávamos sem roupa, mas a maior parte não se importava – A frustração só piorou depois que os pais dele morreram em um acidente dois anos depois de o meu pai começar a faculdade. É por isso que desde que eu me entendo por gente ele fala de Yale, me incentiva a ir pra lá... Sabe, eu mal conheci minha mãe, e meu pai sofreu muito pra me criar. Por isso eu sou tão ligada a ele, e saber que ele queria tanto algo assim colocou a idéia na minha cabeça. A gente faz planos sobre isso desde que eu era criança... E assim passar pra Yale se tornou meio que o meu objetivo de vida. Eu tive crises de ansiedade esperando o resultado sair... Mas quando aquela carta chegou, e eu vi que estava aprovada, não me senti feliz. Nem triste. Eu não senti nada. – eu expliquei, me aconchegando mais contra o corpo de Arthur – Foi como o fim de um filme, sabe? Durante minha vida toda eu tive um objetivo, e agora que o havia alcançado, parecia o fim. Não sabia o que fazer depois desse ponto. Nunca pensei direito no que eu faria depois de entrar pra Yale. Eu nem procurei conhecer outras faculdades, nem pensei no que queria fazer da vida... E aí eu comecei a perceber quanta coisa eu tinha perdido. Eu estive tão obcecada com estudar, tão dedicada às minhas mil atividades extracurriculares que não saí com meus amigos tanto quanto deveria ter saído... Não fiz tanta besteira quanto devia ter feito.
- Por isso você ficou tão descontrolada quando eu joguei isso na sua cara hoje mais cedo? – ele perguntou parecendo culpado, e eu assenti – Eu sou uma mula mesmo. Desculpa.
- Você já pediu, do seu jeito estranho. – eu disse, rindo – Tá tudo bem... É só que agora eu sou maior de idade, tô indo pra uma faculdade que eu nem sei se quero de verdade e sinto como se tivesse perdido a chance de ser adolescente, entende? De cometer erros e aprender com eles. Meus namoros nunca duravam porque eu não me deixava envolver, não arriscava... E agora eu tô assustada. Eu não sei o que quero fazer, e tenho medo de me arrepender se deixar as coisas continuarem acontecendo desse jeito... 
- Que jeito? – Arthur perguntou, acariciando meu cabelo.
- Desse jeito... Primeiro a escola, depois ir direto pra faculdade, e então começar a carreira... Não tem pausa. Não tem nenhum período na nossa vida entre as responsabilidades. E eu tenho medo de acordar um dia com sessenta anos e descobrir que eu nunca vivi minha vida. Nunca tive um tempo só pra viver, sem preocupações. Entende o que eu quero dizer?
- Entendo. Por isso eu e os caras vamos viajar no fim do ano... – Arthur respondeu, fazendo uma pausa como se escolhesse as palavras – E você... Se quiser, claro... Podia vir com a gente.
De início eu achei que ele não falava sério. Mas ao levantar um pouco a cabeça e vislumbrar sua expressão nervosa, eu entendi que ele não estava brincando.
- Ir com vocês? – eu perguntei, chocada.
- É. – ele respondeu – Com um currículo como o seu, não vai ser um problema trancar sua vaga em Yale por um ano. Você podia gastar esse tempo acompanhando a banda... Pensando no que você quer fazer mesmo da vida... E passando mais tempo comigo. – Arthur disse a última parte sorrindo, me fazendo sorrir junto.
- E os caras da banda não se importariam de me ter por perto? – eu perguntei, em tom de brincadeira, mas começando a realmente considerar a idéia. Era algo irresponsável, impulsivo... Exatamente tudo que eu sempre quis fazer.
- Bom, em primeiro lugar acho que eles ficariam aliviados de não precisarem mais ter que lidar com minhas lamentações sobre você toda vez que eu bebo demais. – ele disse, e eu ri, imaginando a cena – Em segundo... A gente tem espaço. O Chay arrumou um trailer grande pra gente. Não é nenhum palácio, está longe de ser totalmente confortável, mas nós pretendemos dormir em hotéis sempre que der. E quando não der, é só você dividir uma cama de solteiro apertada comigo que a gente economiza espaço... – disse ele, com o meio bico de novo. Depois de ver que tinha funcionado da primeira vez, eu tinha certeza de que ele passaria a usá-lo como arma constantemente.
- Não é disso que eu tô falando. – eu disse, depois de largar o lábio inferior que eu não resisti em mordiscar – Ter uma garota por perto pode acabar afastando as groupies... E estragando os momentos de diversão entre amigos. Achei que parte do motivo de vocês viajarem fosse curtir a amizade de vocês.
- Nós podemos fazer isso com garotas por perto. Sexo, drogas e Rock ‘n Roll não é o grande objetivo dessa viagem. Bom, o rock é, claro, e o sexo é sempre bem vindo, mas sair por aí pegando groupies não é nosso objetivo. Ou pelo menos não o único objetivo e não o meu objetivo. E fique tranqüila, você não vai espantar as garotas. Eu já vi o Chay com uma menina em cada braço e ele ainda assim atraía mais, então acredite, você não vai estragar a viagem de ninguém.
- Nem a sua? – eu perguntei, a droga da insegurança voltando com tudo.
- Eu já disse que quero você. – ele disse, e eu admirei a paciência que ele estava tendo comigo – Eu te adoro, você é linda, e a química entre a gente é algo que eu nunca senti com mulher nenhuma. Eu quero ter mais tempo com você, quero te conhecer ainda mais... E, além disso, só de pensar em te deixar pra trás está me dando essa sensação ruim por dentro.
- Tem certeza que os caras não vão se incomodar de me ter por perto? – eu perguntei, já quase convencida.
- Tenho. Acho que você nem vai ser a única garota, já que o Micael está querendo levar a Sophia... A gente até gostou da idéia, porque um ano só com testosterona naquele trailer pode acabar deixando as coisas meio gays... Vocês seriam uma boa dose de estrogênio pra equilibrar as coisas.
- E o meu pai? – eu perguntei, jogando meu último argumento sólido.
- Seu pai vai entender. Ele pode querer que você vá pra Yale, mas também quer que você seja feliz. Ele vai entender se você precisar de um tempo pra pensar, e vai entender se você mudar de idéia quanto a faculdade. Ele me deu apoio quando eu expliquei meus motivos, foi a minha mãe que implicou com a idéia. Seu pai vai aceitar, e se não aceitar, você já tem idade o suficiente para tomar suas próprias decisões. – ele disse, beijando o topo da minha cabeça – Mais algum impedimento? – ele perguntou, rindo.
- Vários. E se depois desse ano eu decidir que quero mesmo ir pra Yale? O que acontece com a gente?
- Não sei, minha linda. Mas se nada melhor aparecer, eu pretendo ir pra faculdade... Eu fui bem nos SAT2, e se eu pedir tenho certeza que alguns dos meus professores podem mandar cartas de recomendação por mim ano que vem... Eu podia tentar uma vaga em Yale.
- Você sabe que não é tão fácil. E se você tentar e não passar? E se vocês receberem uma proposta de contrato irrecusável com alguma gravadora e eu mesmo assim decidir que quero ir pra Yale? E se...
Lu! – ele me interrompeu, rindo – Você já percebeu quantos “e se” você disse? Esquece isso. Não vale a pena deixar de viver o presente pra ficar pensando só no futuro. Foi o que você fez a vida inteira, não foi? Então. Por tudo que eu sei, amanhã um meteoro pode se chocar contra a terra e acabar com a humanidade. Pela primeira vez na sua vida, tenta viver o agora. Eu não sei o que vai acontecer no final do ano que vem. Mas a gente atravessa essa ponte quando chegar nela, ok? Nós vamos dar um jeito, confia em mim.
- Eu confio. – eu disse, relaxando. Já havia me preocupado demais durante esses anos todos. Estava na hora de deixar a vida me surpreender.
- Então... Já esclareci todas as dúvidas? Você vai com a gente? – ele perguntou, sorrindo esperançoso. Eu assenti – E posso te considerar minha namorada?
- Oh, isso não. – eu disse, me controlando para não rir da cara de choque dele – Não vai acontecer. Eu já te tirei do meu sistema, sabe? – eu disse, sorrindo sacana – Nada mais de querer Arthur Aguiar. Não, agora eu tô curada... Agora só quero caras chatos e não tão sexys. Não você. Não mesmo...
Ele levantou uma sobrancelha, deixando claro que sabia que eu estava brincando. Se inclinando na minha direção, ele me beijou, longa e sensualmente, me deixando um pouco tonta.
- Terminou? – ele perguntou ao me largar, sorrindo.
- Aham. – eu disse, retribuindo o sorriso e levantando da minha cadeira de forma a sentar de lado no colo dele. Fazendo isso, eu pude reparar na confusão que nós havíamos feito na cozinha.
- Sua mãe e meu pai teriam um ataque se vissem o que a gente fez com esse lugar. – eu disse, rindo.
- Falta tempo até eles chegarem, a gente arruma. Se eles soubessem o que aconteceu aqui, a bagunça seria a última das preocupações. – respondeuArthur.
- Eles vão enlouquecer quando descobrirem sobre nós dois, não vão? – eu perguntei, suspirando. 
- Vão. Por isso eu acho melhor a gente só contar quando estivermos bem longe. Já vai ter atrito o suficiente nessa casa por causa da viagem. – disse Arthur, franzindo as sobrancelhas – Mas não se preocupe. Eles não vão gostar, mas vão ter que entender. Nós não somos irmãos, e em pouco tempo nem vamos mais morar nessa casa. É só a gente esperar um pouco pra evitar drama desnecessário. – disse Arthur, em seguida sorrindo – O pior é que além de tudo a gente roubou o aniversário deles. 
Nós dois rimos, e o assunto tenso estava oficialmente superado.
- Bom, se você tentar não ser tão sexy, eu posso conseguir fingir que não há nada entre nós por um tempo. – eu disse, me inclinando para beijá-lo. Eu não conseguia mais parar. Estava definitivamente viciada.
- O que você quer que eu faça se eu não posso parecer sexy? Ande com um saco de papel no rosto? – ele perguntou, e eu revirei os olhos.
- Me explica como exatamente seu ego cabe nessa casa? – eu perguntei, rindo.
- Ele escapa um pouco pelas frestas debaixo das portas... AI! – ele exclamou, depois que eu dei um tapinha em seu peito.
- Você é tão convencido que chega a dar nojo, sabia? – eu disse, o beijando novamente e começando a me levantar do colo dele.
- Você gosta de mim assim mesmo. – disse ele, dando de ombros – E onde a senhorita pensa que vai?
- Meu pai e sua mãe chegam em duas horas, é melhor a gente começar a trabalhar. Eu ainda preciso recomeçar a cobertura do bolo. – eu expliquei, pegando a camisa de Arthur no chão e a vestindo antes de pegar a cobertura de caramelo e outra lata de leite condensado. 
- A cobertura? E quem vai limpar a cozinha? – ele perguntou, desconfiado.

Eu lancei a ele meu melhor olhar de gatinho do Shrek.

- Oh, não. – ele disse, balançando a cabeça.
- Por favor... – eu pedi, piscando os olhos inocentemente.
- Não, Lu. – ele insistiu, cruzando os braços.
- Por mim... Eu ia ficar tão feliz... – eu continuei.
- Não... – ele repetiu, porém com muito menos firmeza.
- Eu ia ficar tão... Grata... – eu disse, abaixando a cabeça me fingindo de triste, enquanto dobrava um joelho um pouco, encostando a ponta do pé no chão e mexendo o corpo devagar de um lado para o outro com as mãos para trás.
- Grata... Quanto? – ele perguntou, olhando minhas pernas.
- Você não vai saber se não arrumar a bagunça pra mim... – eu respondi, sorrindo.
- Argh, tá bom! – ele disse, revirando os olhos e pegando sua calça no chão, a vestindo – Mas só porque você fica sexy com a minha camisa.
Eu sorri e me voltei para os ingredientes na bancada à minha frente, porém me virei de novo ao perceber algo com minha visão periférica. Arthur discretamente havia recolhido minha calcinha, largada no chão, e a colocara no bolso.
Eu clareei a garganta, chamando a atenção dele.
- Com licença, acho que você tem algo que me pertence nas suas calças. – eu disse, cruzando os braços.
- Já tá possessiva assim? – ele perguntou, sorrindo safado – Daqui a pouco vai querer tatuar seu nome no meu...
- Eu quis dizer no seu bolso. – eu interrompi, antes que ele continuasse a falar merda.
- Oh, isso... – ele disse, fazendo o meio bico de novo enquanto eu me aproximava – Eu preciso de algo para me consolar durante as noites que nossos pais estiverem em casa...
- Bem... – eu comecei a dizer, parando na frente dele e tirando a minha calcinha de seu bolso – Se você me prometer que fica bem quietinho... E se for bonzinho o suficiente para ir até o meu quarto buscar isso – eu balancei de leve a calcinha – de noite sem ninguém perceber... Eu posso pensar em outras maneiras de te... Consolar.
Eu nem acreditava que havia dito aquilo. Céus, desde quando eu sou pervertida desse jeito? Nossos pais estariam em casa! 

Definitivamente, Arthur estava me corrompendo.

Depois da surpresa inicial, os lábios dele se curvaram em um sorriso sedutor e ele fez menção de abraçar minha cintura. Eu dei um tapinha em uma de suas mãos antes que ele conseguisse me tocar.
- Depois. Agora limpeza. – eu disse, apontando para bagunça com pose autoritária. Ele me olhou feio mais fez o que eu mandei, resmungando o tempo inteiro enquanto eu voltava para minha cobertura de leite condensado e caramelo, totalmente feliz.

Eu disse que ia fazer ele engolir aquele riso...


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Cerca de duas horas depois, eu estava na sala, sentada em frente ao bolo de chocolate do qual eu não havia resistido a tirar um pedaço. Era ótimo, mas estava longe de ser melhor que sexo.
Lu! – a voz de Arthur me chamou, e em seguida eu o ouvi descendo as escadas – Me ajuda a dar um nó nessa gravata?
Ele estava uma verdadeira visão, assim como da primeira vez que eu o havia visto. Como íamos há um restaurante mais refinado, a mãe de Arthur insistira que ele usasse o smoking. Eu senti uma onda gigante de gratidão por Margaret. Arthur usando black tie era de tirar o fôlego. 
- Você tá linda. – ele disse, me olhando com admiração antes de me beijar. Eu corei, me parabenizando internamente pela escolha da roupa. Era meu melhor vestido, cor de vinho em formato tubinho, nem muito longo e nem muito curto. 
- Você também, mas provavelmente você já sabe disso. – eu respondi, fazendo Arthur rir.
Eu pedi que ele segurasse meu pedaço de bolo enquanto dava o nó da gravata borboleta. Anos morando sozinha com o meu pai haviam me ensinado a fazer todo tipo de nó de gravata.
- Obrigado. – ele disse, com a voz abafada por estar com a boca cheia do meu bolo. Já quase não restava nada do pedaço que eu o entregara para segurar.

Eu já devia saber que entregar minha comida para o Aguiar e esperar tê-la de volta era inocência demais.

- Se veste como um gentleman, se comporta como um porquinho. – eu disse, rindo, e ele olhou feio para mim – O quê? É verdade. – eu dei de ombros, pegando um guardanapo ao lado do bolo que eu colocara sobre a mesa na parte da sala que constituía a sala de jantar e limpando o chocolate que se espalhara pelos cantos da boca dele. Como eu disse, um porco.
- Desde quando você é minha mãe? – ele perguntou, protestando contra minhas tentativas de limpá-lo.
- Desde que você voltou a comer como um recém-nascido. – eu respondi, parando de esfregar o guardanapo quando fiquei satisfeita com o resultado.
Observando Arthur enfiar o resto do meu pedaço de bolo na boca, eu peguei minha bolsa, também em cima da mesa, e a revirei até achar o colar que eu enfiara ali quando desci de meu quarto minutos antes, já que como o fecho era complicado, eu ia precisar de Arthur para colocá-lo.
- Fecha pra mim? – eu pedi, colocando o colar em volta do meu pescoço e me virando de costas para Arthur. Ele assentiu com a cabeça, ainda de boca cheia, e fechou o colar.
- Como estou? – eu perguntei, virando pra ele novamente.
- Linda. – ele me respondeu, sorrindo sincero e em seguida se voltando para o bolo – Posso pegar outro pedaço?
- Gostou, é? – eu perguntei, rindo enquanto me voltava para o espelho de parede, querendo conferir o efeito do colar combinado ao vestido.
- Aham. – Arthur respondeu – Mas acho que mesmo assim a gente respondeu a questão. Definitivamente não é melhor que...
- PAI! MARGARET! – eu exclamei, de forma a impedir que Arthur concluísse aquela frase. Havia acabado de me voltar para o espelho e visto o reflexo dos dois nos olhando boquiabertos.
A porta da rua ficava bem longe da área de jantar, de forma que não havíamos ouvido os dois entrando. Meu pai e Margaret nos encaravam como se houvéssemos saído de outro planeta, e era fácil entender o porquê. Quando eles saíram de casa, nós estávamos há um passo de arrancar a cabeça um do outro. Os dois provavelmente esperavam encontrar o lugar totalmente destruído, e um de nós inconsciente com um galo gigante na testa, no mínimo. Talvez já estivessem se preparando para ligar para o hospital quando atravessaram a porta para entrar em casa. Mas, ao invés de terror e destruição, se deparar com o clima totalmente doméstico entre eu e Aguiar, a tensão que normalmente nos envolvia totalmente superada, devia ser bem assustador.
Eu e Arthur trocamos um olhar, ambos sorrindo nervosos. Será que eles estavam ali desde o beijo? Não, improvável. Não teríamos passado tanto tempo sem perceber a presença deles, e os berros ultrajados dos dois teriam sido inevitáveis. Mas mesmo assim, será que eles haviam percebido algum clima? 
Eles continuavam nos olhando abismados. Margaret parecia não nos reconhecer e meu pai parecia estar esperando que o Ashton Kutcher aparecesse e anunciasse que ele estava no Punked. Eu não os culpava. Mesmo se eles realmente não tivessem percebido nada demais, acreditar que eu e Arthur estávamos sendo amigáveis um com o outro era como acreditar que uma víbora venenosa podia ser amiga de um ratinho suculento.
- Eles não estão gritando. – disse Margaret para meu pai, em tom incrédulo. Senti uma onda de culpa me dominar. O meu péssimo relacionamento com Arthur devia ser algo que realmente preocupava os dois, se ambos pareciam tão chocados com o simples fato de estarmos há mais de trinta segundos no mesmo aposento sem berrar um com o outro.
- Nem se ofendendo. – acrescentou meu pai, como se em um transe – É... Um milagre.
Nenhum dos dois se referiu a nós, de forma que eu e Arthur apenas continuamos com os sorrisos falsos, na tentativa idiota de fingir que não havia nada de errado. Porém quando nem meu pai nem Margaret disseram mais nada, o silêncio começou a ficar estranho. Se deixássemos aquilo continuar, em breve provavelmente começariam as perguntas. Quando o choque passasse, nossos pais iriam querer saber que espécie de milagre havia acontecido naquela casa, e como exatamente nós fizemos as pazes. Se isso acontecesse, provavelmente acabaríamos deixando escapar alguma coisa. Arthur era um péssimo mentiroso e eu sempre gaguejava quando precisava inventar uma mentira de súbito. Não, eu precisava de um pouco mais de tempo para pensar numa história convincente. 

Foi por isso que, alargando meu sorriso nervoso e pegando a bandeja sobre a mesa, eu disse a única coisa que parecia segura no momento.

- Oi, gente. Alguém quer bolo?


Fim.

Happy LuAr day bebês ♥ 

13 comentários:

  1. Muito grande . Mais legal.

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkk Amei e quase morri de rir lendo, eu li pelo celular e tipo foi muito difícil é gigante *o*

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  3. É enorne mas super legal!!!!!!

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  4. to aqui quase chorando porque acabou a autora esta de parabens ficou simplesmente perfeito *-*

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  5. Aah quero mais :( mt perfeita ❤😍

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  6. Poxaa escreve mais o fim ficou tão sem um tom de fim feliz adoreii a fic mais vc poderia escreve mais <3 <3

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  7. Que fic foi essa? PERFEITA! L

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  8. Li essa fanfic a 1 ano atrás e perdi o link hje achei e to vomitando arco íris é tão amorzinho melhor fanfic entre todas q eu já li

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