20/04/2019

Little Anie - Cap. 83 | 2ª Parte



Little Anie | 2ª Parte

Você está tão maravilhosa em seu vestido
Eu amo o seu cabelo assim
A forma como ele cai de lado em seu pescoço
Pelos seus ombros e costas
Estamos rodeados por todas essas mentiras
E pessoas que falam demais
E todas as vozes que nos rodeiam aqui
Elas simplesmente somem enquanto você respira
Eu estou tão apaixonado, tão apaixonado
Tenerife Sea – Ed Sheeran

Pov Lua

Londres | Sexta-feira, 27 de novembro de 2015 – Seis e quarenta da manhã.

Acordei e Arthur estava virado para o outro lado da cama. O que me surpreendeu foi ele não ter tentado me empurrar da cama mesmo que sem intenção. Toda vez que ele dorme de costas para mim, ele rola a cama inteira. Passei as mãos pelo rosto e bocejei antes de pegar o celular para ver as horas – eram seis e quarenta e dois. Deixei o celular de lado e me virei depositando um beijo nas costas de Arthur antes de levantar da cama, ele tem o sono pesado, nem se mexeu. Levantei da cama e fui até o closet separar minha roupa para ir ao trabalho. E em seguida fui para o banheiro.

Hoje é sexta-feira e desde segunda-feira que Ryan não aparece no trabalho. Confesso que estou um pouco nervosa com a possibilidade de encontrá-lo hoje. Eu não faço ideia de como será nossa reação e nem se ele vai querer me chamar para falar do ocorrido. Arthur nem poderia sonhar com essa possibilidade.

Eu não sei como aconteceu, mas desde quarta-feira à noite eu estou recebendo ligações de escritórios de Nova Iorque. Embora eu já tenha negado algumas propostas, outras não param de chegar. Alguns até dizem que ficaram sabendo que meu relacionamento profissional com Ryan está quase insuportável. Eu prefiro ignorar a parte do meu cérebro que fica me lembrando de que eu tenho que contar isso para o Arthur.

Terminei de tomar meu banho e corri para o closet. Vesti minha roupa e penteei meus cabelos, eu já tinha escovado meus dentes, mas voltei para o banheiro para fazer uma maquiagem básica. Embora eu tivesse me acordado no horário em que provavelmente eu não me atrasaria, as horas tinham voado e já eram sete e trinta e cinco. Me passei perfume e corri para pegar a minha bolsa.

Arthur ainda estava dormindo, mas sempre antes de sairmos de casa, nos despedíamos. Me aproximei da cama e me sentei na mesma.

– Arthur... – O chamei baixo, passando uma das mãos pelos seus cabelos. Arthur tem o sono pesado e raramente acorda quando chamamos ele baixo, diferente de mim. – Acordar, amor. – Aproximei os lábios do ouvido dele. – Eu já estou saindo, Arthur. – Avisei apertando um de seus braços. Ele se mexeu e tentou se virar, me afastei permitindo que Arthur se virasse. – Bom dia. – Sorri de lado lhe jogando um beijo.
– Bom dia. Que horas são, loira? – Ele passou as mãos pelo rosto.
– Quase oito. – Respondi e Arthur me olhou sem acreditar.
– Mas já?
– Sim. Eu achei que acordaria com seus beijos, mas se fosse esperar por isso... – Contei e Arthur riu.
– Desculpa. – Arthur me puxou para um beijo. – Hoje eu me atrasei.
– Bastante. – Pontuei e lhe dei um selinho. – O que você vai fazer hoje?
– Primeiro eu vou fazer xixi.
– Idiota! – Falei revirando os olhos e Arthur riu me puxando novamente.
– Estressadinha. – Pontuou beijando o meu pescoço. – Eu vou levar a Anie ao cinema. Ela ficou me pedindo ontem.
– Ela tem balé hoje.
– Eu sei, Luh. Vou levar ela antes da aula ao cinema e depois da aula a gente volta para casa.
– Tudo bem. – Respondi com uma das mãos apoiadas em seu peito. – A gente se ver a noite.
– Tá. – Arthur concordou. – Podíamos sair. O que você acha? A gente nunca mais saiu assim e hoje é sexta-feira.
– Pode ser, Arthur. Eu também estou com saudades de sair... assim... – Falei piscando um olho e Arthur riu outra vez.
– Ai, Lua... quando eu digo que você não existe, eu não estou exagerando, loira. – Ele confessou.
– Eu sei. Sou exclusiva. – Me gabei e Arthur concordou. – Agora eu preciso ir para o trabalho.
– Ok. Mas eu quero um beijo antes. Como eu vou ficar o dia todo longe de você e não te beijar agora?
– Como? – Provoquei e Arthur me puxou para um beijo.
– É isso que eu não quero saber. – Respondeu antes de me beijar daquele jeito que ele sabe que não pode fazer às sete e quarenta e cinco da manhã de uma sexta-feira.
– Assim não... – Sussurrei após o beijo e Arthur tentou iniciar outro beijo quando me afastei.
– Por que? – Um riso de provocação brincava naqueles lábios que eu estava com vontade de morder. – Você não resiste?
– Você sabe que assim não. – Confessei e Arthur sentou-se na cama e segurou uma das minhas mãos.
– Você é linda. – Me elogiou e eu sorri sem mostrar os dentes.
– Obrigada, meu amor. – Agradeci e Arthur se aproximou ainda mais de mim e me abraçou.
– Eu te amo. Você sabe. – Ele sussurrou em meu ouvido.
– Eu sei... eu também amo você e você sabe.
– Eu sei. – Arthur sorriu e mordeu o lóbulo da minha orelha.
– Eu preciso ir para o trabalho, Arthur. – O avisei.
– Tááá... – Ele concordou e me soltou. – Bom trabalho, querida.
– Obrigada. – Falei e me levantei, peguei a minha bolsa e joguei um beijo no ar para Arthur antes de sair do quarto.

Passei pelo quarto da Anie e dei um beijo na pequena antes de ir para o trabalho. Ela dormia profundamente e estava com um pijama muito fofo de cachorrinho. Desci a escada um pouco apressada e peguei a chave de um dos carros do Arthur que eu tinha deixado na mesinha perto do sofá – eu já considero ter ganho esse carro dele – e saí de casa. No caminho eu compro um café.

Londres | Escritório de Advocacia – Oito e meia da manhã.

– Bom dia, Hanna.
– Bom dia, Luh. Tudo bem?
– Tudo bem, querida. E com você?
– Estou bem. Espera só um momento. – Ela pediu se virando para o armário – Eu preciso te entregar uns documentos.
– Tá ok. – Respondi e coloquei a minha bolsa sobre o balcão. – O Adam ainda não chegou?
– Não. Mas deve está quase chegando.
– Eu preciso falar com ele a respeito daquele caso que ele está me ajudando. Eu recebi um novo email e quero conversar com ele.
– Mas vai dar tudo certo, Lua. Vocês vão conseguir. Já vi vocês resolvendo assuntos mais complicados. – Hanna disse e voltou-se para mim com os papeis em mãos. – Estão aqui. – Ela os colocou sobre o balcão.
– Obrigada, Hanna.
– De nada, querida. Sabe, Luh... Hoje eu, o Adam e a Rose marcamos de sair. Você não quer vim com a gente? Chama o Arthur também. É sexta-feira. – Hanna comemorou.
– Ele já me chamou para sairmos hoje, mas a gente pode se encontrar. Por mim não tem problema, mas tenho que avisá-lo antes.
– Tudo bem. Ainda vamos decidir para onde iremos. Vamos almoçar juntos?
– Creio que sim. – Respondi pegando a minha bolsa.
– Então decidimos na hora do almoço. – Ela pontuou e eu concordei.
– Depois nos falamos mais. Beijos.
– Beijos, Luh.

Me despedi de Hanna e segui para o elevador.

Pov Arthur

Depois que Lua saiu do quarto, eu fiquei mais alguns minutos deitado e depois me levantei. Eu nunca consigo ficar na cama por muito tempo. Anie ainda dormia, e isso me deixou surpreso. Ela raramente passa das oito horas. Fiz minha higiene matinal e depois fui tomar meu café.

Anie acordou perto das nove horas da manhã e estava extremamente dengosa. Quando ela acorda assim, o dia será longo.

– O que você quer comer, filha?
– Sorvete! – A pequena exclamou levantando o dedinho indicador.
– Não pode tomar sorvete agora, Anie. Depois do almoço pode, mas agora não.
– Milkshake então!
– Filha, não tem milkshake em casa. Para com isso, Anie. É muito feito, você sabe que eu não gosto. – Avisei e ela me olhou emburrada e cruzou os braços.
– Então eu não quelo comer nada. – Pontuou toda decidida.
– Eu só quero ver se você vai ficar sem comer o dia inteiro. – Respondi e fechei a geladeira.

Estávamos sozinhos em casa. Mel sempre sai antes da Lua para o trabalho, e Carla e Carol tinham ido ao supermercado.

– Eu vou dizer pra minha mamãe então. – Ela passou por mim e seguiu para a sala.
– A tá. Como se eu tivesse medo da sua mãe. – Ri. Porque sabia que isso a deixaria muito irritada.
– Eu não fui englaçada! – Anie chamou a minha atenção.
– A graça está no humor de quem tem.
– O que? – Ela me perguntou confusa.
– Você não vai assistir desenho se não tomar café.
– Mas não tem o que eu quelo!
– Para de querer complicar as coisas, você só toma mingau, vitamina ou chocolate de manhã. Por que quer sorvete e milkshake se sabe que não pode?
– Porque eu tô com vontade de comer!
– É tomar, filha. Se toma sorvete e milkshake e você não vai tomar.
– Então eu não vou comer.
– Sua mãe não vai gostar nadinha disso. – Ameacei.
– Eu não vou contar. – Anie rebateu rapidamente.
– Mas eu vou. – Afirmei.
– Não vai não. Ela vai me bligar. Você não gosta quando ela me bliga, papai.
– Não gosto quando você não faz nada e agora você está sendo muito birrenta. E isso é feio.
– Não é não.
– É sim.
– Mas eu quelo então batata-flita. Tem batata-flita! Eu sei.
– Mas você não vai comer batata agora, Anie. Para! Vem, você vai comer panqueca. Está uma delícia e tem a geleia de uva que você adora.
– Mas eu não quelo panqueca.
– Eu não vou levar você no cinema então.
– Quando?
– Se você comer panqueca sem discursão eu te digo.
– Não. Diz agola então.
– Só se você comer.
– Você não vai me enlolar?
– Não. Quando foi que eu já enrolei você? – Perguntei voltando para a cozinha e Anie me seguiu.
– Agola você quer me enlolar, papai.
– Eu não. De onde você tirou isso? – Indaguei e Anie riu tentando subir no banco da bancada.
– Deixa eu te ajudar, senão você vai acabar caindo. – Avisei e carreguei ela.
– Quando é que eu vou aplender a subir sozinha, papai?
– Quando você crescer mais, filha.
– Tudo só quando eu crescer. Que chato isso!
– Mas é assim com todo mundo, querida. Você vai se estressar com isso também?
– Eu não sou estlessada.
– A não, imagina. – Ironizei e fui pegar o chocolate para fazer para ela, as panquecas e a geleia.
– Onde que a Carol foi com a Carla?
– Ao supermercado, querida.
– Que holas que elas voltam?
– Daqui a pouco elas estão chegando.
– O senhor mandou complar biscoito?
– Eu não, mas elas devem trazer. – Respondi. Esse mês a conta das compras no supermercado é da Lua.
– Que holas que minha mamãe vai voltar?
– De tardezinha. Toma. – Falei colocando o copo com chocolate na frente dela e peguei duas panquecas e comecei a passar a geleia de uva.
– E quando é que a gente vai no cinema?
– Você ainda não comeu. – Lembrei e entreguei uma panqueca a ela.
– Mas eu já vou comer. – Anie pontuou.
– Então coma.

Londres | Leon – Hora do almoço.

Decidimos vir almoçar no Leon. Adam disse que está em uma fase saudável e isso me fez cair na gargalhada. E também é um dos restaurantes mais próximos de Westminster. Como só temos uma hora de almoço, é mais vantajoso almoçarmos aqui por perto mesmo.

– Como vocês não acreditam?
– Porque me contaram que hoje a noite você não vai fazer nada saudável.
– Ei, mas eu estou fazendo agora na hora do almoço. Isso é importante, Blanco. – Ele respondeu enquanto procurávamos um lugar mais sossegado para sentarmos. – Por falar nisso – Ele começou e puxou uma cadeira para a esposa se sentar. – Você e o Arthur virão com a gente né?
– Vou falar com ele ainda. Mas creio que vamos encontrar vocês sim.
– Está bem. – Adam concordou.
– Mas ainda não decidimos onde vamos. – Rose comentou pegando o cardápio.
– Eu falei com a Lua que decidiríamos agora na hora do almoço. – Hanna disse.
– Pode ser no Sky Pod.
– Se tiver guinness eu vou. – Comentei divertida.
– Querida, lá tem o que você quiser. – Hanna brincou.
– Eu quero é aqueles drinks. Eu estou precisando na verdade. – Rose ressaltou.
– Eu já disse que não vou levar gente bêbada para casa.
– Hahaha... Arthur também me diz isso, mas ele sempre acaba perdendo no par ou ímpar. – Comentei e Adam me encarou.
– Não tem par ou ímpar. Rose quer roubar como você faz. – Me acusou e Rose lhe deu um tapa.
– Ei! – Exclamei. – Eu não roubo. Levo a sério esse jogo. – Ressaltei.
– A tá.
– Eu também não roubo. Você que me enrola.
– Eu não faço isso, querida. – Adam se defendeu.
– Tá bom, Adam. – Rose revirou os olhos.
– Ainda bem que eu não preciso ter esse tipo de discussão e nem nenhuma outra. – Hanna comentou distraidamente folheando o cardápio. – Por que escolhemos esse restaurante mesmo? Eu nem estou de dieta.
– Porque vocês são minhas amigas.
– Nesse cardápio só tem salada. Eu não tenho essa classe para comer assim, Adam. – Ela reclamou. – Eu admiro quem consegue, mas eu preciso comer proteína animal tipo carne assada mesmo.
– Você precisa mudar sua alimentação, querida. – Adam começou, mas era só para provocá-la mesmo.
– Tá, e você diz isso porque está mudando a sua hoje? Isso nem vai durar vinte e quatro horas, Adam.
– Não mudei hoje. Fazem dois dias. – Ele deixou claro e nós começamos a rir.

O garçom logo voltou para a nossa mesa e nós fizemos os pedidos. Todos os pratos tinham cara de vegetarianos, mas eu não tinha nenhum problema com isso, contando que eu almoçasse.

– Gente, vocês comem como se estivesse gostoso. Semana que vem a gente vai em outro lugar.
– Meu Deus! Mas você reclama, Hanna. Come logo isso. – Falei empurrando o prato de volta para ela.
– Tem só beterraba e cenoura no meu. Eu não quero. Eu não sou coelho.
– Fala baixo, Hanna. – Rose pediu tentando não rir.
– Você parece a Anie reclamando para não comer legumes. – Contei.
– Mas nem tem graça comer só isso. Eu vou ficar com fome o resto da tarde.
– Droga! Eu deixei meu celular em casa. – Falei depois de procurar na bolsa. Eu já estava terminando de almoçar e lembrei de ligar para casa.
– Você quer o meu? – Hanna ofereceu.
– Não. Eu só ia ligar para casa. Mas depois eu falo com Arthur.
– Tudo bem então...
– Já está quase na hora de voltarmos. – Rose viu no relógio.
– E eu nem almocei direito.
– Mas que chata! – Adam reclamou. – Se continuar assim, hoje a noite você não vai com a gente.
– Mas pra beber eu nem reclamo. – Hanna comentou divertida e nós caímos na risada.

Londres | Escritório de Advocacia – Duas e dez da tarde.

Quando cheguei ao escritório, vim direto para a minha sala. Soube que Ryan estava na sala dele. Eu queria ligar para Arthur para saber como estavam as coisas em casa, embora soubesse que com certeza estaria tudo sob controle.

Deixei a minha bolsa sobre a mesa, peguei o telefone e disquei o número do Arthur. Liguei duas vezes até que ele atendeu a ligação.

LIGAÇÃO ON

– Quem é?
– É a Lua, Arthur.
– Mas esse número não é seu, loira.
– Eu esqueci meu celular em casa. – Contei. – Você não encontrou?
– Eu não – ele começou a rir. – Eu não estava procurando.
– Idiota. – Xinguei revirando os olhos como se ele estivesse me vendo.
– Te amo também, querida. – Ele retrucou. – Aconteceu alguma coisa?
– Não. Liguei pra saber como estão aí...
– Vivos. – Ele disse divertido outra vez. – Parei, Lua.
– Acho bom mesmo. – Avisei.
– Anie está daquele jeito dela que você conhece. Mas estamos nos entendendo. Ela implicou demais no café da manhã. Queria sorvete e batata-frita.
– Você não deu né?
– Claro que não, Lua.
– Ah bom. Só liguei pra saber se estava tudo bem. Você achou o meu celular?
– Onde você deixou? Eu não estou procurando.
– Deixei no criado-mudo.
– Vou ver. – Ele me disse e eu fiquei esperando. – Tá aqui, loira.
– Tá bom. Vou desligar, tá?
– Tá.
– Você ainda vai levar a Anie no cinema?
– Vou. Mas só mais tarde e depois vou levar ela pra aula de balé.
– Tá bom, lindo.
– Um beijo, baby.
– Um beijo.

LIGAÇÃO OF

Pov Arthur

Lua tinha acabado de me ligar para saber como estavam as coisas em casa. Ela raramente fazia isso durante a semana porque sempre sabe que está tudo bem. Me disse que tinha esquecido o celular em casa e me pediu para procurar. Acabei encontrando no criado-mudo como ela havia me dito e quando desbloqueei a tela, apareceu inúmeras ligações de um número que não era aqui de Londres. Achei estranho, mas acabei deixando o celular de volta no criado-mudo. Não costumávamos mexer no celular um do outro, embora soubéssemos as senhas.

Anie apareceu no quarto depois de alguns minutos, eu já estava assistindo uma série. Ela ainda estava de pijama e segurava um álbum e uma caneta nas mãos.

– Que holas que vamos no cinema?
– Só mais tarde, meu anjo. Senta aqui comigo.
– Não vai me enlolar, papai? – A pequena perguntou enquanto colocava o álbum e a caneta sobre a cama.
– Não, filha.
– O que você tá assistindo?
– Uma série muito legal. – Respondi ajudando-a a subir na cama.
– Eu plefilo meus desenhos.
– Eu sei, meu amor.
– Qual é o filme que vamos assistir, papai?
– O novo filme do Peter Pan, o que você acha?
– Eu gosto! – Anie exclamou contente. – E depois eu vou para o balé?
– É. – Respondi.
– Tá. Então eu vou voltar a esclever.
– O que você tá escrevendo? – Falei olhando para o álbum e só enxerguei muitos riscos.
– Uma carta pra minha mamãe.
– A é? Ela vai adorar. – Afirmei sorrindo e Anie concordou.
– Como é que escleve que eu amo ela, papai?
– Como? É o i, o l,  o, v, e.... aí você escreve o y, o, u e depois o m, o, m, m e por último o y. – Falei enquanto escrevia as letras soletradas. – Eu amo você, mamãe.
Aaah intendi! – A pequena disse pegando a caneta da minha mão. – Só faltava essa parte.
– Agora não falta mais.
– Não. Obriglada, papai.
– De nada meu amor.


Londres | Sexta-feira, 27 de novembro de 2015 – Duas e quarenta e três da tarde.

– Nossa! Que bailarina mais linda da vida do papai. – Elogiei pegando Anie no colo.
– Gostou da minha roupa de bailalina vermelha, papai? – Anie me perguntou enquanto olhava para a própria roupa.
– É linda, filha. – Afirmei. – Vamos só pegar um casaco, porque você pode sentir frio, amor.
– Tá. Mas um que combine com a minha roupa.
– Táá... vou pedir para a Carol procurar então.
– Eu ploculo! – Anie se ofereceu.
– Nem pensar! Não estou afim de ouvir a sua mãe falar a noite toda que eu deixei você bagunçar as suas roupas.
– Mas eu não bagunço. Eu já sei plocular. – A pequena se defendeu.
– Eu conheço a filha que tenho, Anie. Não imsista. – Falei e fui chamar a Carol para pegar um casaco para Anie e a pequena acabou indo para o quarto para escolher qual queria.


Quando desceu a escada, ela carregava uma bolsa da mesma cor do casaco e da saia – vinho. O collant era vermelho, a meia e a sapatilha eram brancas. Carol tinha feito um coque na cabeça de Anie. Peguei minha carteia e a chave do carro e saímos. Quando cheguei à garagem, percebi que Lua continuava usando o meu carro e o dela estava ali, provavelmente sem gasolina.

Fomos rumo ao shopping, eu já tinha reservado as entradas do cinema pela internet, chegando lá era só retirar.

– Pode complar pipoca e refligelante?
– Pode. Refrigerante pequeno.
– Não. Do outo, papai.
– Não. Eu não dei opções, Anie.
– Bombom?
– Sem bombom. Você nem come bombom no cinema, filha. Que coisa!
– Antes não, mas agola eu quelo. Você viu a minha bolsa?
– Vi. É linda. – Respondi.
– Foi minha mamãe que complou.
– Eu imaginei. – Sorri ao olha-la pelo retrovisor.
– Porque tem uma bailalina na flente. E é muito bonita. – Anie me explicou.
– Sim. É mesmo. – Concordei.
– Já vamos chegar?
– Sim. Só mais uns dez minutinhos.
– Tô siosa pra assistir o filme do Peter Pan.
– Eu também. Eu até gosto.
– Porque é muito legal, papai.
– É mesmo.
– Que ele voa e que tem a sininho que é beeeem pequenininha. Eu sou mais gande que ela.
– Verdade. Você é mais grande que ela. – Concordei tentando segurar o riso.
– Já vamos chegar?
– Sim, filha. Já estamos chegando no estacionamento.
– Então tá.

*

– Ooolha, papai! Tem um monte de filme de clianças!
– Sim, meu anjo. Mas só vamos assistir um, Anie. Porque você ainda tem aula de balé daqui a pouco. – Expliquei segurando na mão da pequena.
– Tá bom... então por isso que eu vesti a minha roupa dessa né?
– Sim, filha. Foi por isso mesmo. Vamos comprar a pipoca?
– Vamos! Quelo uma gaaandona!
– Eu também vou querer uma grande. – Respondi.

Quando saímos do cinema, faltava quinze minutos para começar a aula de balé da Anie. Ainda bem que a escola não ficava tão distante dali. Hoje que teríamos que dar a resposta quando a autorização a respeito dos nossos filhos saírem na apresentação de natal.

Anie estava muito empolgada que tanto eu quanto Lua tínhamos deixado ela participar – como é que se nega algo assim? As crianças estavam bem falantes hoje e todas as mães estavam aguardando o final da aula para que pudessem assinar a autorização, assim como eu. Não sei se já iam falar das roupas, eu esperava que não, nessa parte é melhor a Lua está aqui mesmo.

Quase no final da aula o meu celular começou a tocar, e era a Lua porque é o mesmo número de mais cedo.

LIGAÇÃO ON

– Oi, loira. – Falei e ela riu do outro lado da linha.
– Já decorou o número? – Ela indagou ainda rindo.
– Não. Salvei aqui como: Lua esqueceu o celular.
– Ai que mentira, Arthur! – Lua exclamou e agora foi a minha vez de rir. – Você já está com a Anie na aula?
– Sim, querida. Você não quer vim para cá não?
– Eu ainda estou no escritório, Arthur. Por que já?
– Eu não levo jeito com esse negócio de roupa, nem vou saber te dizer tudo que trataram aqui. Depois não reclama.
– Não vou reclamar seu dramático.
– Eu te conheço, Lua. – Ressaltei.
– Por que? Lily disse que já vai falar das roupas?
– Não, mas eu acho que vai. Semana que vem já é dezembro.
– É verdade.
– Tá vendo? Estou sempre certo!
– Eu não disse isso.
– Eu estou falando sério, amor.
– Vai dar tudo certo, Arthur. Eu confio em você.
– Lua.
– Quando eu chegar em casa você me conta o que decidiram. E ah, eu preciso falar uma coisa com você.
– Eu também tenho uma coisa pra falar com você. – Falei lembrando das ligações no celular dela.
– Então está tudo bem. Quando chegarmos em casa a gente conversa.
– Depois não reclama do que for decidido aqui. – Avisei.
– Eu não vou reclamar, Arthur.
– Vou desligar. A aula já vai acabar.
– Está bem, querido.

LIGAÇÃO OF

Menos de três minutos depois de eu ter encerrado a ligação, a aula acabou. Lily nos avisou de que conversaríamos a respeito da última apresentação do ano e contou que já tinha decidido o nome da apresentação e separado alguns figurinos.

A professora nos entregou um papel para que colocássemos o nome das nossas respectivas filhas e logo abaixo o nosso nome, autorizando assim, as crianças a participarem da apresentação.

Depois que fizemos o que ela havia nos pedido, ela recolheu os papeis e começou a falar como se daria a apresentação, desde os ensaios, o nome da apresentação, como seria dividido, passando pelos figurinos, quem os faria, quanto sairia... em seguida algumas mães falaram suas opiniões, mas eu decidi ficar quieto.

Lily disse que o nome da apresentação será: A Casa da Mamãe Noel. E que os figurinos serão dividos em: Mamães Noéis, Elfos de natal, presentes, renas e biscoitos de natal. Fiquei imaginando a roupa do biscoito e da rena, se a Anie for um desses, eu vou rir muito.

Mas a professora nos disse que será sorteado. Desse modo ninguém escolhe nada, e é até melhor mesmo. São vinte e cinco crianças, juntando com a turma da manhã; no caso, a antiga turma da Anie.

São doze crianças a tarde e treze de manhã, Lily nos disse que já fez o sorteio na turma da manhã e que já tinham: três mamães noéis, duas elfos, dois presentes, três renas e três biscoitos. E o modo como ela falou nos fez rir. Ou seja, ainda restavam ser sorteadas: duas mamães noéis, três elfos, três presentes, duas renas e dois biscoitos.

Lily trouxe a caixinha com os papeizinhos com os nomes dos figurinos e fomos pegando. Tirei o da Anie de Elfo de natal. Eu nem fazia ideia de como seria a roupa. E a professora nos avisou de que na próxima semana, mais precisamente na segunda-feira, a pessoa que irá fazer as roupas, virá tirar as medidas das crianças. Concordamos e ela nos disse por último de que nesse dia será nos mostrado o desenho dos figurinos. Concordamos novamente e nos despedimos.

*

– Qual é que eu vou sair? – Anie me perguntou curiosa quando entramos no carro.
– De elfo. – Respondi enquanto olhava pelo retrovisor se vinha algum carro.
– O que é elfo, papai? Eu não me lembo.
– São coisinhas pequenas, mágicas que se parecem com as fadas, filhas. Mas esse é de natal, e no natal eles ajudam o papai e a mamãe noel. É isso, meu amor. Você entendeu?
– Eu intendi agola. – Ela afirmou balançando as perninhas. – Pra onde que a gente vai agola?
– Pra onde? Pra casa, filha. – Respondi rindo. – Pra onde mais você quer ir?
– Quelo ver minha mamãe.
– Eu também.
– Ver a sua mamãe?
– Não. Ver a sua mamãe. – Respondi rindo outra vez e Anie me acompanhou.
– Aaah tá bom. Mas ela ainda não tá em casa.
– É. Eu também acho que não está.
– Ela já sabe que eu vou sair de elfis?
– É elfo, querida. Sua mãe ainda não sabe.
– Mas foi o que eu falei. – Anie se defendeu.
– Tudo bem, tudo bem...
– Quelo dar minha carta que eu esclevi. O senhor lemba?
– Eu lembro, filha. Sua mãe vai adorar. – Afirmei.
– Que holas que ela vai chegar então?
– Ela não vai demorar muito. Já são quase seis e meia da tarde.
– Tudo isso? – Anie me perguntou surpresa como se ela realmente entendesse se seis e meia era muito cedo ou muito tarde.
– Tudo isso. – Confirmei.


*

Quando chegamos em casa Anie foi direto contar a Carol do que ela irá sair na apresentação e eu tenho certeza que ela falará elfis em vez de elfo. Notei que Lua já tinha chegado em casa porque o carro estava na garagem. Subi a escada e fui para o quarto e pelo barulho da água, ela estava tomando banho. A bolsa estava sobre a poltrona como de costume e os sapatos arrumados ali perto. As roupas não estavam jogadas pelo quarto como eu costumava fazer e isso me fez ir rindo até o banheiro. A porta estava destrancada.

– Achei que você fosse chegar mais tarde. – Comentei abrindo a porta.
– Acabei de chegar. – Lua respondeu terminando de lavar o cabelo.
– O que você queria me falar? – Indaguei curioso me aproximando do box e abrindo-o.
– Nossa, mas você chegou curioso né? Eu hein! – Lua comentou tentando conter o riso quando revirei os olhos.
– Um pouco.
– O que decidiram lá? – Agora foi a vez dela de se aproximar de mim.
– Ai, ai... – Comentei vagamente.
– O que foi, querido? – Lua me provocou.
– Eu não tenho medo de me molhar, você sabe. – Afirmei e ela riu.
– Que bom. Porque eu gosto quando nos molhamos. – Lua se aproximou mais ainda e envolveu o meu pescoço com os braços. Desci minhas mãos para a sua cintura.
– Começamos cedo pelo visto. – Comentei.
– Eu adoro isso. – Ela disse antes de me beijar.
– Uuhm... – Gemi apertando a cintura dela. – A gente não vai parar, loira.
– Hahaha... quem é que não resiste mesmo? – Lua sussurrou com os lábios encostados nos meus.
– Eu sempre sei quando você só está me provocando. – Falei me afastando e apertando em seguida seu nariz. Lua riu tentando me abraça. – O que você queria me contar, loira?
– Hanna nos convidou para sairmos hoje com ela, Adam e Rose. Eles irão ao Sky Pod. Fiquei de falar com você, porque já tínhamos conversando que sairíamos só nós dois hoje. – Lua me explicou.
– Ainda podemos jantar só nós dois e depois encontramos com eles. O que você acha? – Sugeri indo pegar a toalha para ela.
– Por mim tudo bem. – Lua concordou. – E você?
– Eu o quê? – Perguntei saindo do banheiro.
– Me espera! – Lua exclamou.
– Mas eu estou aqui no quarto.
– Você me deixa falando sozinha. Sabe que eu não gosto. – Ela reclamou. – Falando nisso... cadê a Anie?
– Está lá embaixo. E está ansiosa para te dar um negócio que ela fez hoje. – Contei.
– O que é? – Lua perguntou curiosa.
– Ela vai te contar.
– Aaathuur!!!
– Não vou falar nadinha. – Respondi e Lua entrou no closet. Fiquei parado na porta.
– O que decidiram lá na reunião então?
– Desde o horário do ensaio até quem vai fazer as roupas. Segunda-feira a costureira já até vai tirar as medidas. – Comecei. – O da Anie é de elfo. Não me pergunte como é, não faço ideia.
– O tema é de quê?
– De natal, meu amor. – Respondi paciente e Lua me encarou com as mãos na cintura assim que vestiu a calcinha.
– O nome, Arthur. Não me irrita. – Pediu e pegou um sutiã.
– Tá, irritadinha... – Provoquei e Lua parou de vestir o short e me encarou. – A Casa da Mamãe Noel. Pronto, esse é o nome, Lua. Aí vai ter elfo, mamãe noel, presentes, biscoito de natal e renas.
– Hahaha vai ser engraçado isso. – Lua riu vestindo uma blusa.
– Fiquei imaginando a roupa da rena e do biscoito. – Contei divertido.
– Ela não mostrou? – Lua perguntou passando por mim.
– Não. Só na segunda-feira. Você vai?
– Posso sair mais cedo, Arthur.
– Mamãe! – Anie exclamou entrando no quarto.
– Oi, meu anjinho. Eu estava com saudades, bebê. – Lua pegou a filha no colo e a encheu de beijos. Anie começou a rir. – Você está correndo por aí com essa meia? Olha, você pode cair. – Lua avisou.
– Vou tomar banho. – Avisei e caminhei para o banheiro.

Pov Lua

– Eu só corri agola. Eu tilei meu sapato e a minha saia no quarto. – Anie me respondeu. Ela estava só de collant vermelho. Coisa mais fofa da minha vida.
– Seu pai me disse que você fez birra no café da manhã? Isso é tão feio, filha. Já conversamos sobre isso. Você lembra? – Perguntei me sentando na cama com Anie em meu colo.
– Eu não lembo. Por que meu papai contou?
– Porque eu perguntei.
– Como você sabia, mamãe?
– Eu não sabia. E não muda de assunto.
– Só quelia sorvete ou batata-flita, mas meu papai não deixou.
– É claro que ele não ia deixar. – Falei e Anie ficou me encarando.
– Eu vou sair de elfis. – Ela me contou. E eu sorri.
– É elfo, amor. Seu pai já me contou.
– Mas ainda não sei como que é a roupa. Como é que selá?
– Não faço ideia, filha. – Respondi.
– Eu assisti o filme do Peter Pan com o meu papai hoje.
– Foi? E o que você achou?
– Muito legal. Eu gostei. O Peter Pan de lá é de verdade junto com a sininho. Eu não sabia que eles existam assim. – Anie me contou surpresa.
– Nossa, que legal mesmo. Eu também não sabia que eles existiam assim. – Afirmei.
– Nem meu papai sabia. Ele me disse. Mamãe?
– Oi, meu anjo. – Respondi ajeitando Anie em meu colo.
– Eu fiz uma carta pra senhola.
– Você fez?
– É. Eu esclevi. Eu vou buscar. – Anie desceu do meu colo. – Eu deixei lá no meu quarto.
– Você escreveu uma carta pra mim, meu amor? – Perguntei emocionada.
– Eu esclevi. – A menina afirmou balançando freneticamente a cabeça. – Eu já volto, mamãe. – Me avisou antes de sair correndo.
– Não corra, Anie! – Pedi falando um pouco mais alto.

Arthur saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura e balançando os cabelos molhados pelo quarto. Esse homem não tem mais jeito.

– Você não me disse o que era. – Comentei um pouco baixo.
– O que era o que, Luh?
– O que a Anie tinha feito.
– Ah! Ela já te contou? – Ele perguntou sorrindo.
– Já. O que ela escreveu? – Perguntei tentando imaginar.
– Muitos riscos... e mais alguma coisa que ela me pediu ajuda. – Arthur me respondeu sorrindo e foi para o closet. – Você já está quase chorando e ainda nem leu.
– É que eu sou sensível. – Admiti.
– Só com a Anie, porque comigo... – Ele comentou.
– Você só me irrita, por isso. – Retruquei.
– A tá.
– Olha aqui, mamãe. – Anie estendeu o papel em minha direção. – Eu que esclevi.
– Deixa eu ler...
– Deixa que eu leio, mamãe. Tá?
– Então está bem. Você lê. – Concordei e Anie abriu a carta e apoiou os bracinhos na minha coxa.
– É que eu aplendi a esclever hoje.
– Oh meu Deus! – Exclamei com vontade de apertá-la.
– Eu já vou começar a ler...
– Tudo bem, eu estou te escutando, meu amor. – Respondi tirando alguns fios de cabelo do seu rosto.
– Eu esclevi assim... que você é a mamãe mais linda do mundo, obligada por ser minha mamãe e eu amo você, mamãe. Acabou a carta. – Anie me mostrou. – Meu papai que me ajudou a esclever a parte que eu amo você, mamãe.

Realmente só tinham riscos e a parte do eu amo você, mamãe. Que ela mesmo fez questão de escrever. Senti quando uma lagrima passou pelos meus lábios e Anie me encarou.

– A senhola não gostou? – Me perguntou preocupada e fazendo um biquinho.
– Eu amei, meu anjo. É a coisa mais linda. Obrigada, filha. – Segurei em seu rosto e lhe enchi de beijos e depois a abracei. Anie me abraçou de volta.
– Aposto que já viu a carta. – Arthur voltou para o quarto e sentou-se ao meu lado na cama.
– Eu amo muito você, pequena. – Falei ainda abraçada a ela.
– E eu amo vocês duas. – Arthur nos abraçou.

Pov Arthur

Londres | Sete e vinte e dois da noite.

– Você nem me disse sobre o que queria conversar comigo. – Lua entrou no quarto. Ela tinha ido dar a janta a Anie que implicou que não queria jantar, assim como fez no café da manhã comigo. E como eu já tinha passado por isso, agora era vez dela.
– Aah... – Lembrei saindo do closet. Eu tinha ido pegar uma calça comprida. – Você já viu seu celular?
– Não. Aconteceu alguma coisa com ele? – Lua perguntou de cenho franzido e eu apontei para o criado-mudo onde o celular estava.
– Não. Ele está no mesmo lugar que você deixou. – Respondi e Lua o pegou e depois me olhou sem entender.
– E daí?
– Vi várias ligações quando peguei hoje de manhã e não eram daqui. Fiquei sem entender. Você sabia? – Perguntei passando por ela e deixando a calça comprida sobre a cama.
– Você atendeu? – Lua indagou desbloqueado a tela do celular.
– Claro que não. Só vi. Não mexi em mais nada. Que pergunta! – Exclamei revirando os olhos.
– Essas ligações são de alguns escritórios de Nova Iorque...
– O quê? – Interrompi ela e ergui uma sobrancelha. – Por que estão ligando pra você?
– De algum modo ficaram sabendo do que aconteceu no escritório e fazem três dias que estão me ligando sem parar me oferecendo emprego.
– Em Nova Iorque?
– Logicamente, Arthur. – Lua respondeu óbvia.
– Ah, você não está falando sério, Lua. – Ri sem vontade. – É claro que você não vai. – Acrescentei.
– É claro por quê? – Lua me perguntou séria. Ela odeia quando eu começo um discurso autoritário.
– Como vamos viver em cidades diferentes e nos vendo só aos finais de semana? Você sabe que isso é uma das coisas que eu não aceito. Já conversamos sobre isso, Lua. Eu não pretendo me mudar e eu acredito que nem você. – Contei. – E estamos falando aqui de país. É bem mais complicado. – Finalizei.
– Uma das ofertas sugere que eu vá obrigatoriamente apenas três dias na semana para o escritório. – Lua me disse e eu ri outra vez.
– Você não está falando sério, Lua. Só pode está brincando com a minha cara.
– É sério.
– É claro que não, Lua. – Pontuei e ela foi para o banheiro. – A gente ainda não terminou esse assunto.
– Só você tá querendo decidir a minha vida profissional. Eu fico impedindo você fazer as suas viagens? – Ela parou na porta do banheiro e me encarou com uma das mãos na cintura. Lua não estava afim de brigar, eu podia notar.
– Não estou impedindo. – Me defendi.
É claro que você não vai. Isso é o que, Arthur? Eu definitivamente não quero brigar com você hoje. – Deixou claro.
– Eu estou percebendo. – Respondi.
– Então acabou a conversa.
– Lua.
– A gente sempre vai se desentender quando o assunto for o nosso trabalho. Isso já fazem uns sete anos, Arthur. Você ainda não percebeu? – Ela me perguntou completamente paciente que eu podia apostar que ela estava rindo da minha cara por dentro.
– Me diz que você não está pensando em nenhuma dessas propostas, por favor? Já é torturador demais aturar o Ryan, agora você vem com essa notícia de propostas em outro país, sendo que eu nem imaginava que você estava pensando em sair do emprego. Você tá me entendendo, Lua? – Tentei calmamente explicar para ela o meu nervosismo. – Sempre que comparamos os nossos empregos eu saio perdendo, Lua. Você sabe. Não posso impedir você de fazer uma coisa que eu sempre faço. Mas agora é diferente, estamos falando de viagens fixas toda semana. Temos uma filha, Lua. Não me diz que pra você vai ser fácil. Eu não vou acreditar!
– Ela vai comigo.
– Não! – Exclamei. – Agora você entende? Não vou abrir mão da minha filha. – Deixei bem claro.
– E você quer que eu abra? – Ela disse rindo sarcástica.
– Você tá me provocando, Lua. Só pode. – Passei as mãos pelo rosto e ela continuou rindo.
– Eu podia continuar te torturando...
– Eu sabia. Eu sabia.
– Ei?! Eu não estou brincando quanto as propostas. Elas são reais. Só não te contei a parte que eu estou recusando todas. Não quero sair de Londres, Arthur e muito menos deixar a minha família. Você que é bobo de acreditar nisso.
– Mas você estava toda séria. Meu Deus, Lua! Às vezes você me faz quer gritar contigo. E eu odeio gritar com você.
– Você tem que relaxar mais, querido.
– Nossa, Lua! – Exclamei aliviado. – Não faz mais isso comigo. Você testa muito a minha paciência. – Contei e ela riu vindo me abraçar.
– Eu percebi. – Comentou beijando minhas bochechas e depois os meus lábios. – E você acha que eu vou embora assim fácil e deixar a minha filha e você para trás? Hein? Hein? – Perguntou divertida.
– Meu medo nem era esse... meu medo era você querer levar a nossa filha. – Admiti. – Nossa, Lua... eu não ia deixar. Você sabe!
– Para de falar bobagem, Arthur. – Ela me pediu.
– Não é bobagem. Você gosta de brincar comigo. Sabe que isso me deixa doido. – Falei e ela riu outra vez. – Para de rir! – Exclamei dando um tapa em seu bumbum.
– Aaii... para! – Lua ainda ria. – Me beija então?
– Eu nem devia beijar você. Depois disso você não merece nada de beijo. – Falei sério, mas Lua roçou os lábios nos meus. – Mas eu não resisto. – Acrescentei e ela riu.
– Eu sei que não. Por isso eu provoco. Você gosta também. – Ela disse toda convencida e eu fiquei apenas encarando-a. – Paaaaraaa de me olhar assim.
– O que é? Tem medo de não resistir também? – Provoquei.
– Não. Mas quando você me olha assim parece que quer ler meus pensamentos. – Me disse e agora foi a minha vez de rir.
– Eu não tenho esse superpoder, querida. Não se preocupe.
– Idiota! – Ela exclamou indo para o banheiro e eu rir tirando o meu short para vestir a minha calça comprida.

*

– Que roupa você vai? – Lua me perguntou assim que saiu do banheiro e eu apontei para a camisa branca e o casaco cor de vinho que estavam sobre a cama e depois para a calça comprida que eu já estava vestido. – Nossa que gostoso. E meu. Que isso fique bem claro. – Ela comentou e passou por mim indo para o closet.


– Depois eu que sou autoritário. – Comentei me sentando na cama para calçar meus sapatos.
– Mas você é. E isso é até engraçado... – Ela disse voltando para o quarto.
– Engraçado por que, Lua? – Indaguei.
– Porque na maioria das vezes você é muito de boa, Arthur. Às vezes eu tenho vontade de rir quando te dá esses ataques tipo o que aconteceu ainda agora.
– Eu sempre tive a sensação de que você se divertia com isso mesmo. – Falei e Lua me jogou um beijo.
– Fecha aqui pra mim. – Me pediu segurando o sutiã. – Só às vezes que eu rio, meu amor. – Ela deixou claro.
– Você me deixa nervoso. Já te disse isso, mas parece que você adora fingir que não sabe.
– Ai, Arthur... Você não entenderia.
– Não mesmo. – Concordei. – Você complica muito as coisas pra mim. – Acrescentei e vesti meu casaco.
– O que você acha desse macaquinho?
– Vai ficar lindo em você, querida.
– Vou vestir ele. – Lua disse. O macaquinho era branco de alcinha e tinha um cinto no meio.
– Não vou tirar os olhos de cima do que é meu. – Brinquei e Lua sorriu sem mostrar os dentes.
– É bom que não tire mesmo. Não vou gostar nadinha de ver que você está olhando para uma vadia qualquer. – Pontuou séria e eu me aproximei dela.
– Para quem eu olharia depois de ter você, querida?
– Eu não sei, Arthur. Estou apenas supondo. Mas é bom que você não se esqueça desse aviso. – Enfatizou.
– Você não vai sentir frio? – Tentei mudar se assunto.
– Vou levar um casaco. – Lua me respondeu.
– Mas as pernas continuarão de fora. – Provoquei e ergui uma sobrancelha. Lua concordou com um balançar de cabeça.
– Sim. Pra você tocar.
– Aah... Você sabe que eu vou tocar em tudo mesmo.
– É. Eu sei. – Ela piscou para mim e se aproximou ainda mais, praticamente colando o corpo ao meu. – Aonde vamos jantar hoje?
– Aonde você quiser. – Respondi.
– Pode ser aqui no quarto mesmo?
– Haha... claro que sim. Mas aí ninguém vai pra balada depois. – Contei pincelando seu nariz.
– Uhm... tentador... mas pena que eu quero ir pra balada hoje.
– Sei bem, Blanco. Conheço a mulher que eu tenho. – Afirmei e Lua riu me dando um beijo rápido e depois se afastou calçando os sapatos; esses eram dourados, bico fino e de salto. Ela já tinha separado uma pequena bolsa de lado branca e foi para o banheiro novamente. – Vê se não demora tanto, quero jantar antes das nove, Lua.


– Se você reclamar mais uma vez, eu vou demorar mais só de propósito. – Lua me avisou. E eu sabia que ela faria exatamente isso.

Londres | Restaurante – Oito e quarenta e nove da noite.

Chegamos ao restaurante e fomos atendidos rapidamente. Pedimos fricassê de frango e batata recheada e eu pedi um chardonnay para irmos esquentando logo.

A comida estava deliciosa e a minha conversa com Lua estava bastante descontraída. Se tivéssemos tempo e disposição eu faria questão de sair com ela para jantar todas as noites. Porque esse programa é sempre maravilhoso.

– Você está tão linda, querida. Sinto a necessidade de te elogiar mais de uma vez no dia. – Confessei e Lua sorriu completamente sem graça.
– Eu ainda fico sem graça quando você me diz isso, Arthur. – Ela respondeu e eu me aproximei um pouco mais até tocar em seu rosto.
– Te amo tanto, Lua. Eu sou muito apaixonado por você.  Eu te olho todos os dias só pra reafirmar a certeza que eu sempre tive de que sou um homem de muita sorte por te ter na minha vida. – Contei e Lua apertou levemente a minha coxa. – Quando você me provoca dizendo que vai alisar o cabelo ou que vai pintar e pede a minha opinião mesmo sabendo que eu nunca vou dizer pra você fazer isso porque eu amo você exatamente assim. E eu sou muito louco por você. E toda vez que você vem com essa conversa eu fico desconfiado de que você vai acabar fazendo isso mesmo.
– Tenho vontade de pintar o cabelo, mas fico receando de eu mesmo não gostar do resultado. – Lua confessou.
– Nossa... nem consigo imaginar. Pra mim você vai ser sempre a minha loira. Você sabe que isso é único.
– Eu sei, lindo. Eu também sou louca por você e morro de ciúmes mesmo. Porque você é meu e mesmo assim eu tenho medo de te perder.
– Já te disse tantas vezes que não precisa ter esse medo. – Acariciei seu rosto. – Que eu nunca vou querer deixar você, mesmo você me fazendo perder o controle muitas vezes na semana. – Contei e nós rimos.
– Para... eu sou muito tranquila.
– A tá, loira. Você sabe que é exatamente ao contrário. É a mulher que se irrita com mais facilidade que eu já conheci na vida.
– É que as vezes muitas coisas me irritam.
– Pra mim não importa o que digam, contando que não te ofendam. Você sabe o quanto eu perco o controle quando mexem com você. Mas na nossa relação pra mim, nada vai importar mais do que o que eu conheço de você. – Deixei claro passando o polegar sobre seus lábios.
– Por que você tá falando isso? – Lua me perguntou.
– Porque quando eu te olho nada mais importa do que você, Lua. – Respondi e Lua me beijou. – Eu não mudaria nada em você. Nada. Mesmo você se questionando tantas vezes... mas eu já te disse exatamente tudo em você que me faz te amar ainda mais todos os dias.
– Eu também não mudaria nada em você e já te disse que você é bem mais do que um dia eu pudesse pensar em sonhar. E eu te amo, te amo tanto neném... – Lua me abraçou. – Só sou um cavalinho às vezes, como você mesmo diz. – Nós rimos.
– E é, mas é o meu cavalinho. – Afirmei. – Aah, loira... –Beijei seu pescoço. – Eu não te troco por nada. – A apertei mais forte.
– Não?
– Nunca. – Pontuei.

Continua...

SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.

N/A: Olá, leitores? Olha só quem resolveu dar o ar da graça por aqui hahaha só para não perder o costume de aparecer aqui de surpresa – e de madrugada, 2h37. Gostaram? Eu já estava morrendo de saudades!!! <3

Espero que gostem desse capítulo que veio como presente de páscoa e que comentem a respeito do que acharam – fiquei triste com feedback do último capítulo postado :´(

Foi escrito com muito carinho e grande do jeito que vocês gostam <3 – demorei uma semana para postar. Não foi fácil, @Brenda tá de prova. A meta eram 2 capítulos, mas eu mal consegui postar esse :´(

No mais eu não tenho muito o que falar, eu sempre acabo deixando bem claro nos n/a’s ao decorrer de Little Anie que eu espero um retorno de vocês para que eu possa continuar a escrever e atualizar a fanfic.

Feliz Páscoa!

E até breve... beijos!

8 comentários:

  1. Que capítulo maravilhoso! Já estava com saudades ��

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  2. Eu amoooooo, parabéns pelo talento amo essa fanfic
    Tava com sdds já é já espero pelos próximos ansiosa ����������������

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  3. Amei o capítulo, eles são tão fofos juntos. Lua bem que podia sair desse escritório logo, nem se for pra trabalhar pra ela mesma, certeza que cliente vai ter. Anie como sempre iti malia. A ansiedade só não é tanta para os próximos, pq tem separação 😭😭
    Mas a escrita continua incrível, parabéns Milly

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  4. Que capítulo lindo! Amo Quando Lua e Arthur estão nesse clima de romance. Anie é a coisa mais linda. Amei os looks!
    Lily

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  5. Nossa Milly,sensa sensacional esse capítulo. Mesmo a separação deles chegando já estou ansiosa pelos próximos!!!
    Ana Júlia

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  6. Maravilhoso, Milly!!! Sensacional como sempre! Ansiosa para o proximo!

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  7. Ain que fofa a anie, toda amor escrevendo cartinha para a lua, mesmo sem saber. Quero uma filha assim ♥ esse casal é uma loucura #Amooooooo. Essa web deveria vira novela ou um filme. Xx adaline

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  8. Lua toda derretida com a cartinha da Anie que amooor, Anie é uma fofura mesmo.
    Lua enganou Arthur direitinho kkkk mas ela tinha mesmo que sair daquele escritório sem precisar se mudar!
    A cada capítulo eu amo mais essa históriaaaa!!!!

    Feh

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