Little Anie | 3ª Parte
Pov
Arthur
Londres
| Domingo, 27 de março de 2016 – Sete e cinquenta da manhã.
– Aaaii... – Lua reclamou ao encolher
os ombros. – Eu não acredito que você começou cedo, Arthur. – Sussurrou.
– Amanhã você não vai mais reclamar disso.
– Pontuei mordendo o lóbulo da orelha dela e Lua riu baixinho.
– Mas eu não queria ter que passar
esses dias longe de você. – Confessou ao virar e me encarar. – Já passamos
tempo demais separados. – Acrescentou roçando o nariz na minha bochecha.
– Nem eu. – Afirmei. – Ainda mais
sabendo quem, também, irá nessa viagem.
– Huuum... você não precisa se
preocupar com o Ryan, querido.
– Eu não estou preocupado com ele.
Estou preocupado com você. – Lhe dei um selinho. – Ele te cerca, te intimida,
te provoca, não te respeita... deixa eu ver o que mais... você ainda quer que
eu diga mais alguma coisa? – Indaguei e Lua negou balançando a cabeça em
resposta. – Não consigo entender; já te disse isso milhões de vezes, porque
você continua nesse escritório. Esse homem é escroto demais com todos vocês. E
você sabe que não merece passar por isso. E eu sei que você ama a sua
profissão, mas há outros chefes mais legais, Lua. Acho que você deveria ter
outras experiências.
– Eu tenho uma vaga me esperando em
Nova Iorque. Eu posso aceitar caso você continue insistindo.
– Aqui em Londres têm excelentes
escritórios, querida. Sugeri uma mudança de chefe e não de país. – Ressaltei e
Lua riu.
– Nós temos essa mesma conversa há pelo
menos o quê... uns oito anos? Eu não quero falar sobre o Ryan agora, Arthur.
– Tudo bem... – Suspirei. – Eu não quero ter que brigar com você horas
antes da sua viagem. – Confessei.
– Então me abraça... – Lua envolveu o
meu pescoço com os braços. – Eu vou sentir tanta saudade, Arthur. Sei que só
são três dias, mas eu não queria ficar nenhum dia longe de você e da nossa
filha.
– A gente também não queria ficar longe
de você, pode acreditar, linda. – Lhe dei um beijo na ponta do nariz.
– Tenho que olhar o meu celular...
Hanna ficou de me enviar uma mensagem com o horário do voo. – Lua contou. – É o
que agora no Texas?
– Como assim?
– De estação, de clima.
– Deve ser primavera, até janeiro era
inverno. – Respondi.
– Tenho que separar as minhas roupas.
Eu odeio ter que arrumar malas! – Lua reclamou. – E ainda são treze horas de
voo. – Lembrou. – E sete horas de diferença.
– Você sabe que pode me ligar a hora
que quiser, Lua. Só não vou fazer o mesmo porque não quero atrapalhar você no
trabalho.
– Mas você não me atrapalha nunca, meu
amor. – Lua acariciou minha bochecha.
– Eu não sou esse tipo de marido, você
sabe. – Fechei os olhos quando Lua puxou os meus cabelos. – Sou preocupado e
não inconveniente e possessivo. – Nós rimos.
– Ai, Arthur. – Lua roçou os lábios nos
meus. – Você quase não existe. – Me beijou. – Vamos levantar? Você não
me deixou dormir mesmo.
– Eu nem fiz nada.
– Tá bom. – Ela riu irônica. – Você
pode me levar ao aeroporto? – Lua se sentou na cama e virou o rosto para me
olhar. – Eu só não sei o horário.
– Claro, Luh. – Respondi me
espreguiçando. – Você já vai tomar banho?
– Já. – Ela se levantou da cama.
– Tudo bem. Eu vou depois. – Falei.
Essa era aquela semana que Lua,
simplesmente, não me deixava tomar banho junto com ela ou entrar no banheiro
enquanto ela tomava banho. Enfim, mulheres e seus momentos.
Anie ainda não tinha acordado. Contamos
para ela na sexta-feira mesmo, que a Lua viajaria. Ela não gostou muito da
novidade – e isso nós já esperávamos. Mas Anie estava crescendo e já não
chorava na maioria das vezes quando não aceitava algo.
Lua não demorou tanto assim no banho e
logo que saiu, eu entrei. Ela disse que ia me esperar na cozinha para tomarmos
café da manhã juntos.
– Arthur? – Lua me chamou após alguns
minutos que havia saído do quarto.
– Oi, loira. Você pode entrar caso
queira. – Respondi. Eu já tinha terminado de tomar banho e estava escovando os
dentes.
– Você quer comer waffle? – Me
perguntou ao abrir a porta e colocar a cabeça para dentro do banheiro.
– É você quem vai fazer?
– Claro, Arthur. Se sou eu que estou
oferecendo. – Lua respondeu óbvia.
– Táááá... eu quero. – Respondi. Nem fazia ideia que Lua sabia
fazer waffle.
– Você tá duvidando?
– Eu? Claro que não, Lua. Eu disse que
quero. – Passei por ela lhe dando um beijo na bochecha.
– Você tá me zoando, Arthur. – Lua pontuou.
– Por que eu faria isso, querida? – Me
virei para encara-la. – Só por que eu nem sabia que você fazia waffle? –
Acrescentei sorrindo.
– É porque eu não fazia mesmo. Mas
agora eu sei, tá?
– Tá. Quero provar. Só vou vestir uma
roupa. – Avisei. – Você quer ver? – Indaguei deixando a toalha cair no chão.
– Isso. – Lua apontou para o meio das
minhas pernas. – Não me surpreende mais. – Disse se virando e saindo do quarto.
Dei uma risada e ouvi a porta ser fechada.
Lua ficava danada quando falava sério e
eu levava na brincadeira. Ainda mais quando eu resolvia provoca-la dessa
maneira. Quando ela nem retrucava era porque não queria perder a paciência.
Oito
e cinquenta da manhã.
– Já fez o seu waffle? Quero
experimentar. – Falei quando cheguei a cozinha. Lua estava colocando suco no
copo.
– Você não vai experimentar nada. Se
quiser, faz o seu café ou o que quiser comer. – Ela me respondeu séria.
– Por que isso já? O que eu fiz? – Me
fiz de desentendido.
– Me poupe, Arthur. Eu estava falando
sério e você ficou de graça.
– Que graça já? – Me sentei em um dos
bancos que fica em frente a bancada que divide a cozinha. – Você mesmo disse
que me ver nu não é mais surpreendente. Você ficou ofendida? – Questionei.
– Há limites, Arthur e eu não estava de
brincadeira. – Ela falava muito séria, enquanto eu, queria rir. Ela estava
naquela semana, então tudo ganhava um teor mais sério.
– Eu não brinquei. Eu não fiz nada,
Lua. Eu só ia vesti uma roupa. – Eu tentava segurar a risada de todas as
formas.
– Para de querer rir! Você tá doido?? –
Ela fechou a geladeira com força.
– Para você de grosseria. – Retruquei
pegando uma xícara para pôr o café. – Você fez café?
– Não e nem vou fazer! Não sou eu que
não sei fazer o café do jeito que você gosta? Então, faça.
– Nossa, mas hoje você amanheceu que só
Deus para te aguentar, Lua.
Ela sentou na minha frente e começou a
comer. Como eu estava com preguiça de fazer café, eu me levantei para pegar a
jarra de suco na geladeira.
– Bom dia. – Mel chegou na cozinha.
– Bom dia, amiga.
– Bom dia, Mel. – Coloquei o suco no
copo. – Você vai querer suco? – Lhe perguntei.
– Não, obrigada. Vou fazer um pouco de
leite. Anie ainda não acordou? – Perguntou.
– Não. Estou até estranhando. Ela não
costuma dormir até as nove. – Lua comentou.
– O que é isso, Luh? Está com uma cara
ótima. – Mel perguntou curiosa.
– Waffle. Você quer provar? – Lua lhe
ofereceu.
– Está cheiroso. Deve estar uma
delícia. É claro que eu quero. – Mel sorriu pegando um pedaço para provar.
– Você não vai me oferecer mesmo? –
Indaguei sentando ao lado de Lua. E ela me ignorou. – Lua, para com isso meu
amor.
– Vocês já brigaram?
– Lua que é toda estressada.
– E você é insuportável e eu não estou
dizendo nada. – Ela retrucou.
– Lua, eu não fiz nada. Pelo amor de
Deus! – Exclamei divertido e ela levantou do banco. – Não. Senta aqui. É sério.
– Segurei em sua cintura. – Para, Luh. Pode tomar o seu café da manhã em paz. É
sério. – Afirmei. – Como você passou a noite, Mel? – Mudei de assunto enquanto
Lua voltava a se sentar. Mel não entendeu nada, mas também não questionou mais.
– Passei bem. Aliás, fazem algumas
semanas que estou dormindo tranquilamente. Só estou meio que nervosa sabe...
fico imaginando quando chegar a hora. Embora faltem dois meses... – Contou. –
Passou tão rápido. Também estou ansiosa para ver o rostinho dele. fico
imaginando tudo.
– Esse momento é tão especial. –
Pontuei. – Que bom que você está tranquila agora. Você merece estar em paz.
– Deixei de lado todos os problemas.
Quero curtir esse momento. Sei que no início foi difícil, mas agora, eu não me
assusto mais quando penso que será só eu e ele.
– E nós. Não é Luh? – Olhei para Lua,
mas ela estava, completamente, bem longe da minha conversa com a Mel. – Lua!
Lua! – Chamei.
– Luh. – Mel chamou mais baixo. – Ela
está bem? – Franziu os cenhos.
– Ei?! – Balancei ela pelos braços. –
Lua? Está tudo bem?
– O que foi agora? – Me encarou
impaciente.
– Estávamos falando com você. –
Expliquei.
– Desculpa, amiga. Eu não escutei. –
Lua sorriu de lado ao se explicar para Mel e puxou o braço que eu segurava. Eu
sei que quando ela está de TPM é melhor nem mexer. Nada de pré aqui, tudo piora
mesmo no período da menstruação.
– Tudo bem. – Mel sorriu compreensiva. –
Sabe, eu estava pensando... Você nem vai estar aqui na segunda-feira quando
vierem deixar os móveis.
– É verdade. – Lua lembrou. – Volto só
na quarta-feira.
– Podíamos decidir de que cor
pintaremos o quarto.
– Ele está muito branco mesmo.
– Sim. – Mel riu. – Só que eu também
não quero nada que caracterize um quarto só de bebê. Quero cores neutras...
calmas. Mas nada de desenhos... essas coisas, você sabe. – Agora elas estavam
conversando entre si.
– Podemos usar papel de parede também. –
Lua sugeriu.
– Listas. Eu gosto de listas. – Mel
sorriu.
– Pode ser. – Lua sorriu de lado. –
Podemos ver isso hoje.
– Vocês têm alguém que já conheçam para
fazer esse trabalho?
– Aah, tem a empresa que cuidou de toda
a pintura da casa. Recentemente, eles que vieram pintar a parede do quarto da
Anie. Gosto do trabalho deles. – Lua disse.
Como, provavelmente, eu não seria
consultado para nada, terminei de tomar meu café da manhã e lavei as louças que
tinha sujado, e deixei as duas sozinhas conversando na cozinha.
Anie ainda não tinha acordado e eu fui
atrás do Bart. Levei ele para dar uma voltinha na frente de casa e depois lhe
dei água e ração.
Pov
Lua
Dez
horas da manhã.
Compramos um papel de parede listrado
na cor cinza, bege e branco gelo e uma cortina blackout bege. Mel escolheu uma poltrona branca para o
quarto; um jogo de cama azul e branco para mesclar com as cores do enxoval do
berço do bebê; um painel de madeira para colocar a tevê e decidimos pintar o
restante da parede de cinza. Fizemos os pedidos pela internet e como a loja era
em Londres mesmo, eles deram até terça-feira para entregarem as coisas. Ainda
não tínhamos ligado para a empresa de pintura, porque era domingo.
Anie acordou muito dengosa e depois de
tomar chocolate quente, quis ficar no meu colo o tempo todo. Bart estava
deitado perto do sofá e Arthur depois que saiu da cozinha, não tinha voltado
mais.
Fiquei chateada porque ele fica me
irritando à toa. Ele sabe quando eu falo sério e mesmo assim, gosta de zoar.
– Você acha que é cedo para começarmos
a arrumar o quarto? – Mel me perguntou.
– Não. É melhor do que deixar tudo para
cima da hora. – Respondi. – Comecei a organizar o quartinho da Anie nesse
período. Não me arrependo. Pelo menos não faltou nada quando ela nasceu.
– Isso me deixa ainda mais ansiosa. Minha
mãe disse que quer estar presente.
– Aqui ainda temos um quarto
disponível, amiga. Se ela quiser vir, não tem problema.
– Eu não queria estar incomodando
tanto.
– Não é nenhum incomodo, Mel. Eu estou
adorando que você esteja aqui. Embora não quisesse que você tivesse enfrentando
essa situação assim. Você entende, não é?
– Entendo, Luh.
Duas
horas da tarde.
Arthur estava dormindo quando entrei
no quarto. O quarto estava escuro e ele tinha ligado o ar-condicionado. Anie
também dormiu depois do almoço. Arthur não tinha ido almoçar. Não sei se ele
ficou chateado. Me sentei na cama com cuido e comecei a chama-lo.
– Arthur... Arthur... – Chamei baixinho ao toca-lo no braço. –
Arthur... – Ele apenas passou a mão no ouvido e não abriu os olhos. – Você não
vai almoçar? Já são duas horas. – Avisei.
– Não, Lua. Eu não estou com fome. –
Ele respondeu.
– Você ficou chateado com alguma coisa?
– Indaguei.
– Não. Quem estava chateada aqui era
você. – Retrucou.
– Eu não quero brigar com você.
– E você acha que eu quero brigar com
você? – Arthur questionou. Ele ainda estava deitado de costas para mim.
– Não. Mas você me irrita. – Pontuei.
– Tá bom, Lua. Não vou mais irritar
você. Pronto. – Afirmou. – Era só isso?
– Por que você está me tratando assim?
– Assim como, Lua? Poxa, isso é sério?
Eu estava dormindo. – Ele se virou e me encarou.
– Assim desse jeito grosso.
– Grosso? Eu não estou sendo grosso,
Lua. Meu Deus! Eu vou ficar quieto, ok?
– Você sabe que eu fico assim quando
estou nessa semana.
– Antes dela também. Que isso fique bem
claro. Mas tudo bem, eu já passo por isso há muito tempo, então você não
precisa me explicar nada. – Me disse calmo.
– É que eu não quero que a gente fique
nesse clima ruim... – Esclareci. – Eu
não quero viajar brigada com você.
– Não brigamos, Lua. Não se preocupa,
eu já disse que entendi. – Reafirmou.
– Não quero ser chata. – Insisti.
– Mas você é. – Arthur acariciou a
minha mão. – E tá tudo bem, Lua. Por que você tá pensando nisso?
– Só sou um pouquinho chata, Arthur.
– Eu sei. – Arthur riu. – Por que você
não deita e tenta descansar? Cadê a Anie?
– Ela dormiu depois do almoço. –
Respondeu. – Não posso descansar agora. Tenho que separar minhas roupas para
colocar na mala.
– Já sabe que horas vai sair o voo? –
Arthur me perguntou.
– Sim. Hanna me enviou uma mensagem
mais cedo. Ela comprou passagens para às oito horas.
– Da noite?
– Sim. Eu não gosto de viajar a noite,
mas não tem outro jeito.
– Você saindo daqui nesse horário, lá
já vai ser madrugada, duas horas eu acho. E vão chegar lá de tarde... umas três
horas. – Arthur explicou.
– Aqui vai ser de manhã ainda, não é?
– Sim. Nove horas da manhã mais ou
menos. – Arthur bocejou.
– Então eu já vou começar a arrumar
minhas coisas. – Contei e levantei da cama.
Fui para o closet e Arthur ficou
deitado na cama. Separei três vestidos; uma calça comprida jeans; duas blusas;
um sapato de salto alto. Eu não sabia exatamente como estava o clima lá, então
resolvi levar um blazer também. Eu não ficaria muitos dias para levar tanta
roupa assim.
Peguei as roupas e deixei em cima da
cama e depois voltei para escolher as roupas íntimas. Escolhi também o look que
irei vesti para a viagem e peguei meu tênis, que eu havia ganhado de presente
do Arthur.
– O que você acha dessa roupa para eu
vestir para a viagem? Quero ir bem confortável. – Mostrei a ele a roupa que eu
havia escolhido: uma calça de moletom cinza, um cropped manga comprida também
na cor cinza e um tênis azul escuro.
– Gosto da roupa, se você se sente bem
assim, melhor ainda. – Ele respondeu. – Eu acho lindo esse vestido bege. Ele
fica lindo em você.
– Obrigada. – Sorri sem graça.
– Você vai levar esse pijama, neném? –
Arthur riu.
– Vou. É o meu pijama de pizza que eu
gosto.
– Por que você não leva aquele de
sorvete ou o de abacaxi? – Brincou.
– Você é idiota, Arthur. Para... – Pedi
tentando não rir. – Fica zoando minhas roupas de dormir, achei que você
gostasse.
– Aquele pijama de abacaxi é horroroso,
Lua. – Arthur começou a rir.
– Mas você não reclamava antes. –
Joguei a blusa do pijama nele.
– Reclamar de quê? – Ele ainda ria. –
Você sabe que eu não me importo, loira. – Arthur jogou a blusa de volta na
mala.
– A tá, Arthur. A tá. – Ironizei.
– O que, Lua?
– Então você mente pra mim.
– Minto? Em que sentido? – Ele quis
saber.
– Que gosta das minhas roupas. Que acha
linda. – Esclareci.
– Claro que não, Lua. – Ele riu. – Você
sabe que suas roupas são lindas. Eu falei dos seus pijamas infantis. – Expliquei.
– Eu gosto dos meus pijamas que você
diz que são infantis. – Dei de ombros.
– Eu sei, por isso não falo nada. –
Arthur se defendeu. – Além do mais, existem estampas piores do que as que você
tem... tipo, de oncinha. Acho muito brega. Sei que você não gosta também.
– Não mesmo. Eu não acho sexy coisas
estampadas. – Contei. – Mas ainda estou surpresa com esse seu comentário.
– Para, loira. Não tem nada de mais.
Você sabe que eu estava zoando.
– Aham... Vou vestir agora só esses
pijamas. Só pra te encher o saco. – Falei divertida.
– Eu não duvido nada. – Ele riu. – Mas
eu não vou me importar, Lua... vou tirar do mesmo jeito. – Finalizou.
– Safado. – Pontuei.
– Mas você sabe as roupas que te deixam
sexy, linda. Então, eu não preciso dizer nada.
– Não. Eu sou sexy até sem roupa! –
Falei convencida.
–
Com certeza. – Arthur concordou. – Você é muito convencida. Meu Deus! –
Passou as mãos pelo rosto.
– Pega a mala pra mim, por favor. –
Pedi sorrindo de lado.
– Certo. – Arthur suspirou e
levantou-se da cama. Ele abriu as cortinas, antes de ir para o closet. – Você
vai levar qual?
– A azul. – Respondi.
– Não é muito grande só para três dias?
– É que eu vou
levar só ela. – Justifiquei e Arthur colocou a mala em cima da cama.
– Aaa tá, entendi.
– Arthur sorriu e se jogou na cama novamente.
– Você tá doente
ou algo do tipo?
– Eu? Eu não. Por
quê?
– Você não costuma
ficar assim normalmente. – Falei arrumando as roupas na mala.
– Estou com
preguiça, Lua. – Arthur riu cobrindo o rosto.
– Aah, deixa eu te
falar... eu e a Mel já compramos pela internet algumas coisas para a reforma do
quarto. Eles ficaram de entregar amanhã ou terça. A gente só não falou com a
empresa de pintura. Você pode fazer isso amanhã?
– Claro, querida.
– Ele afirmou. – Amanhã eu faço isso. – Garantiu.
Terminei de
colocar as roupas na mala e fechei. Arthur ainda estava deitado e já eram quase
quatro horas da tarde.
– Acabei. –
Coloquei a mala no chão.
– Não está
esquecendo de nada? – Arthur perguntou.
– Acho que não. Já
coloquei as roupas e as coisas de higiene. Os que faltam vou levar na minha
bolsa. – Contei.
Pov Arthur
Seis e quinze da tarde.
– Então a minha
mamãe vai viajar que holas?
– Mais tarde,
filha. – Respondi. Estávamos na sala e Lua estava na cozinha com Mel.
– Mas que holas,
papai? – Anie insistiu. Ela estava com o livrinho de colorir que eu havia lhe
dado de aniversário.
– Oito horas, mas
eu vou levar ela antes para o aeroporto.
– E que holas que
é agola?
– Seis e
pouquinho... Filha, você tá na frente da tevê. Eu quero assisti ao jogo.
– E eu posso ir? –
Perguntou se debruçando sobre o sofá.
– Pra onde, filha?
– Eu a olhei.
– Papai, pro
aeloporto. – Anie respondeu colocando as mãozinhas nos olhos; impaciente.
– Aaaah... pode,
filha. Acho que pode. – Respondi.
– Vou pedir pla
minha mamãe então. – Ela pontuou e saiu correndo. Sempre que ela corria, o
cachorro corria atrás dela. Nem deu tempo de eu falar para ela não correr.
Troquei de canal
porque o jogo tinha acabado e eu nem tinha prestado muita atenção.
– Minha mamãe
disse que pode. Mas só se eu me comportar. Então eu vou ficar sentada aqui no
sofá. – Anie subiu no sofá e sentou-se ao meu lado. Segurei a risada ao pegar
Bart no colo.
– Você pensa que
engana a sua mãe é? – Perguntei divertido.
– Mas eu tô
compotada! – Ela exclamou.
– Aaham... –
Comentei mexendo com Bart.
– Isso que é
impotanti. – Enfatizou.
– É o que, Anie? –
Virei o rosto para olha-la. Eu estava surpreso.
– Impotanti,
papai. – Ela sorriu sapeca.
– Você é demais,
menina. – Não consegui segurar a risada.
– O que vocês
estão aprontando hein? – Lua apareceu na sala.
– Eu nada, mamãe. –
Anie logo se defendeu. – Meu papai que tá rindo alto.
– Seu pai é um
escandaloso.
– Eu? Essa garota
que é engraçada. Você nem imagina as coisas que ela planeja.
– Mas eu não fiz
nada, papai.
– Vou tomar banho.
– Lua avisou.
– Eu vou também.
Me espela, mamãe. – Anie desceu do sofá. – A senhola disse que eu podia ir se
me compotasse.
– Você foi
prometer. – Comentei.
– Tudo bem. Eu
disse isso mesmo. Vem... – Lua chamou a filha.
*
– Você ainda tá no
banheiro? – Perguntei dando duas batidinhas na porta.
– Já vou sair,
Arthur. Pode entrar se quiser. – Ela respondeu. Abri a porta do banheiro e Lua
estava secando os cabelos. Anie estava ao lado dela tentando pentear os
cabelos.
– Eu quero tomar o
meu banho, Luh.
– Só mais alguns
minutinhos, Arthur.
– Já vai dar sete
horas, loira. – Avisei.
– Papai?
– Oi, querida. –
Me abaixei para ficar do tamanho dela.
– Me ajuda a
pentear meu cabelo? – Pediu me entregando a escova.
– Vira aí. –
Continuei abaixado e peguei a escova.
Lua terminou de
secar o cabelo e prendeu rabo de cavalo. Terminei de pentear os cabelos da Anie
e me levantei.
– Obligada, papai.
– De nada, meu
anjo. – Lhe dei um beijo na testa.
– Pronto. Vamos,
filha?
– Vamos, mamãe.
Agola tem que escolher a minha roupa.
– É. Vamos fazer
isso primeiro.
Lua saiu do
banheiro com Anie e fechou a porta. Tirei minha roupa para tomar banho.
Londres
| Aeroporto Inter. de Heathrow – Sete e quarenta da noite.
Achei uma vaga e estacionei o carro.
Lua tinha acabado de mandar uma mensagem para Adam para saber se ele já tinha
chegado ao aeroporto.
Saímos do carro e Lua tirou Anie da
cadeirinha. Peguei a mala dela no porta-malas e caminhamos para a entrada do
aeroporto.
– Adam respondeu? – Perguntei.
– Não. Acho que ele deve estar
chegando. – Lua respondeu.
– E o seu chefe?
– Não faço ideia, Arthur. – Lua revirou
os olhos. Ela estava linda com uma calça de moletom cinza, uma blusa de manga
comprida da mesma cor, um tênis azul e uma bolsa da mesma cor. A mala, também,
era azul, e eu que trazia.
– Que holas que o avião vai voar? –
Anie perguntou ansiosa olhando para a mãe.
– Daqui a pouco, bebê. – Lua pegou Anie
no colo. – Por quê?
– Porque eu não quelia que a senhola
fosse logo. – Anie enterrou o rosto no pescoço da Lua.
– Oh, meu amor. – Lua deu vários beijos
na bochecha da nossa filha.
– A mamãe vai voltar rápido, filha. Eu
prometo.
– Plomete?
– Prometo, amor.
– Luh, você já vai fazer o check-in? –
Indaguei.
– Vou. Eu ia esperar o Adam, mas vai
que ele se atrase. – Explicou.
*
– Boa noite, querida. – Adam abraçou
Lua.
– Boa noite. – Lua retribuiu o abraço.
– Boa noite, Arthur. – Ele sorriu
surpreso.
– Boa noite. – Respondi.
– Vocês voltaram? – Indagou curioso. E
Lua penas assentiu. – Isso é maravilhoso! – Ele exclamou contente.
– Ainda não queremos que as pessoas
saibam. – Lua contou.
– Aah, podem ficar tranquilos. – Adam
garantiu. – E você, bebê? Como está?
– Eu tô bem. – Anie respondeu entretida
com um saco de salgadinhos e Adam sorriu.
– Vou fazer o check-in. Cheguei meio
atrasado. Pelo menos a fila não está grande.
– Vai logo mesmo. Faltam só dez minutos
para eles começarem a chamar para o embarque. – Lua o avisou. Adam deixou a
mala dele e pegou os documentos.
– Olha quem vem ali... – Murmurei e Lua
olhou na direção que eu estava olhando.
– Você nem precisa dar ouvidos a ele. –
Me disse.
– Aham... como se você fizesse o mesmo,
caso eu pedisse. – Retruquei.
– São situações diferentes, Arthur. É
isso que você não entende. – Ela ressaltou.
– Tá bom. Eu nunca entendo nada. Eu não
vou discuti, Lua. – Falei. Ryan caminhou para a fila do check-in.
– Eu também não quero discutir, Arthur.
– Lua deixou claro. – Por que hoje você está extremamente insuportável?
– Meu Deus! O que eu estou fazendo,
Lua?
– Para de fingir que você não sabe.
Odeio isso! – Ela exclamou sem paciência.
– Mas eu não sei aonde você quer
chegar, Lua. É você quem tá diferente hoje. Que saco!
– Vocês já vão bligar? – Anie nos
perguntou.
– Ninguém está brigando aqui, filha. –
Respondi.
– Não estamos brigando, Anie. Estamos
conversando. – Lua acrescentou.
– Não gosto quando vocês bligam. – Anie
voltou a dizer e eu lhe dei um beijo na bochecha.
– Tudo bem, querida. Está tudo bem. –
Afirmei e Lua segurou a mão da pequena. – Acho melhor irmos. – Mudei de
assunto. – O voo já vai sair de qualquer forma. – Expliquei.
– Você vai ficar chateado? – Lua
praticamente sussurrou.
– Com o quê? – Coloquei Anie no chão e
me levantei.
Na verdade, eu só queria evitar uma
eventual; e quase certa, discussão com o chefe da minha esposa.
– Arthur, por favor. Oh coisa pra me
irritar é você fingir que não sabe do que eu estou falando. – Lua voltou a
dizer e eu a encarei sem entender.
– Eu não sei mais de que jeito de dizer
que eu, realmente, não sei do que você está falando. Porque eu estou de boas.
Não estou chateado com nada, Lua. Por que eu ficaria?
– Meu Deus! Eu quero te bater, Arthur.
Isso é sério. – Lua respirou fundo.
– É por isso que eu quero ir embora. –
Ressaltei. – Você está de TPM e eu, apesar de ser bem paciente, hoje eu não
estou muito a fim, Lua. Estou sendo sincero. Não quero brigar com você. Você
vai passar três dias longe. Estou preocupado com algumas coisas. Odeio o seu
chefe pela, sei lá quantas vezes já declarei isso, enfim... Quero que dê tudo
certo na sua viagem, de verdade. Você não precisa se preocupar com a nossa
filha, eu vou cuidar muito bem dela.
– Eu sei, Arthur. Em nenhum momento
essa foi a minha preocupação.
– Pois então, tudo bem se formos agora?
– Perguntei.
Passageiros do voo 857 com destino a
Houston, embarque pelo portão A.
– Acho que sim. – Lua respondeu depois
que ouvimos o anuncio do embarque.
– Já, mamãe?
– Já, meu anjo. – Lua se abaixou para
ficar do tamanho da nossa filha. – Eu vou sentir muita saudade de você, meu
bebê. – Ela abraçou a pequena. – Se comporta, filha. Eu não quero ligar e ouvir
que você fez birra por alguma coisa. – Lua acrescentou e Anie sorriu ao me
olhar.
– Você está ouvindo. Eu vou contar
tudo. – Deixei claro.
– Eu não vou aplontar nada, mamãe. Eu
plometo!
– Ok. Eu vou acreditar, hein? – Lua
sorriu e deu um beijo demorado na bochecha da nossa filha. – Eu te amo.
– Te amo, mamãe.
Lua levantou-se e me encarou. É claro
que eu iria sentir muitas saudades dela. E ela sorriu! Meu Deus, por que ela
tinha que ter, também, um sorriso lindo?
– Vem aqui. – Estendi os braços para
recebê-la. – Eu odeio discuti com você, meu anjo. – Lhe dei um beijo no pescoço
quando ela me abraçou.
– Eu também, Arthur. Mas parece
que você gosta. – Lua comentou.
– Só parece. – Contei. – Eu vou sentir
muito a sua falta, Luh. Muito mesmo. Vou contar os dias. Espero que eles passem
rápidos. – Estávamos abraçados e Lua me deu um beijo demorado no pescoço.
– Eu amo você e não queria ter que
viajar agora. – Confessou. – Eu vou
sentir saudades, Arthur. A gente ainda não teve tanto tempo depois que fizemos
as pazes.
– Ainda vamos ter muito tempo, loira.
Não se preocupe. E eu vou estar aqui quando você voltar. Tudo bem? – Perguntei
e Lua assentiu.
– Eu ia pedir uma coisa...
– Pede. – Sorri. – Acho que até sei o
que é. – Brinquei roçando o nariz no seu.
– É que eu não consigo. – Lua riu.
– Boba! – Exclamei lhe dando um
selinho. – Cuidado, meu anjo.
– Se comporta, Arthur. – Lua sorriu sem
mostrar os dentes.
– Pode deixar, querida. – Pisquei um
olho. – Me liga quando chegar, ok?
– Ok. – Lua me deu um beijo demorado. –
Te amo.
– Te amo. – Falei abraçando-a mais
forte.
– Vem aqui, neném. – Lua se abaixou
outra vez para abraçar nossa filha. – Te amo. – Lhe deu um beijo na bochecha. –
E por favor, isso é pra você também, Arthur, nada de deixar Bart dormir no meu
quarto ou destruir alguma coisa minha. Eu disse que tinha condições.
– Fica tranquila, loira.
– Fica tranquila. – Ela repetiu.
– Eu conheço vocês dois.
– Tá, mamãe. Eu te amo também.
Londres
| Oito horas da noite.
– Agola quando a gente chegar em casa
eu vou ter que dormir logo?
– Não. Tem que jantar primeiro, filha.
– Respondi colocando Anie na cadeirinha.
– Táá... mas e depois é pra dormir,
papai?
– Sim. Depois é pra você dormir. Sem
birra. Dormir bem rapidinho, igual quando a sua mamãe está aqui. – Expliquei.
– O senhor me coloca pla dormir?
– Claro, amor. – Sorri e olhei para
trás e Anie me jogou um beijo.
– Agola a gente vai pla casa?
– Sim.
– Que holas que a minha mamãe vai
ligar?
– Só de manhã, filha.
– O senhor me acoda então?
– Acordo, meu amor. Sabe, Anie? Sua mãe
chega na quinta-feira. Sabe que dia é quinta? – Perguntei.
– Não, papai.
– Quinta-feira é dia das mães, meu
anjo. A gente podia ver alguma coisa pra dar de presente pra sua mamãe.
– O que é que a gente vai compar,
papai?
– Não pensei em comprarmos, filha. A
gente pode fazer alguma coisa.
– O que, papai? Eu não sei o que
fazer...
– A gente pensa em alguma coisa, filha.
Sua mãe vai gostar mais se você fizer o presente.
– Aonde que a gente vai plocular então?
– Podemos ver algumas ideias na
internet. – Contei.
– É surpresa?
– É, meu amor. A sua mãe é muito
especial, filha. Ela merece.
– Ela é a melhor mamãe do mundo!
– Sim. Lua é uma mamãe muito
incrível. – Afirmei e Anie sorriu.
Eu peguei Anie no colo assim que
chegamos em casa.
– Vamos encontrar a Carol. – Avisei. –
Você tem que jantar. Já até passou da hora. – Completei.
– Tem que tomar banho?
– Não. Você já tomou.
– Então tá booom! – Anie ainda estava
no meu colo e me abraçou pelo pescoço. – Papai?
– Oi.
– Eu posso dormir lá no quarto com o
senhor?
– Uhm... vamos fazer um trato? –
Perguntei.
– Tlato de quê? – Ela me indagou
desconfiada.
– Você dorme lá no quarto e depois eu
te levo para o seu quarto. Que tal?
– Nããããooo! Por que então que eu não
posso dormir com o senhor?
– Você tem o seu quarto, filha. O que
foi que eu te pedi? Dormir sem birra, lembra? – Pincelei o seu nariz com a
ponta do meu dedo indicador. – Acho que a Carol nem está aqui. Vamos ver o que
vamos jantar. – Coloquei Anie sobre a bancada. – O que você quer jantar?
– Eu não sei, papai. – Anie apoiou o
queixo com as duas mãozinhas.
– Não é pra você ficar chateada. Você
já está mocinha. Mocinhas dormem em seus quartos. – Expliquei.
– Eu ainda sou bebê! Não quelo ficar sozinha.
– Você não vai ficar sozinha. Eu vou
estar aqui. Não vou a lugar nenhum. – Garanti.
– Plomete?
– É claro que sim, meu bebê. – Segurei
seu rosto com as duas mãos e lhe dei um beijo na testa. – Eu não vou te deixar
só, meu anjo. Você não precisa se preocupar. – Assegurei e Anie me abraçou. –
Agora deixa eu ver o que vou fazer pra gente jantar. – Mudei de assunto.
– Papai, eu não vi o Bart. Onde que
selá que ele tá? – Anie perguntou preocupada.
– Deve tá dormindo. Ele não viu ninguém
aqui. Sua tia Mel também já deve ter ido deitar.
– Mas ele não pode dormir sem eu ver
ele plimeilo!
– Então vai procurar ele. – Coloquei
Anie no chão.
– BAAAAAAAART! EU JÁ CHEGUEI!
– Também não precisa gritar, filha. –
Comentei e ouvi os latidos de Bart e os gritinhos de Anie.
– Cooorree, Bart! – Ela exclamou. – Ele
não tava dormindo não!
– Estou vendo.
*
Anie não demorou para dormir. O medo
dela era que eu saísse de madrugada. Não sei de onde ela tira essas ideias.
Dormir com Anie agora era bem mais
complicado do que quando ela era bebê. Anie é espaçosa, chuta e empurra demais
durante a noite. Lua diz que eu sou assim mesmo, embora eu ache que não.
Entrei no quarto e tirei a minha camisa
para poder tomar banho. Era pouco mais de dez horas da noite. Lua não estava
nem na metade da viagem.
Tomei um banho rápido e vesti somente
um short. Andei até a sacada e vi que a noite estava bastante estrelada. Fechei
a cortina e caminhei até a cama. Eu já estava com muita saudade da minha
mulher. Me deitei do lado dela na cama e puxei o travesseiro. Eu adoro aquele
cheiro de frutas vermelhas que é só dela. Não demorei a dormir.
Londres
| Segunda-feira 28 de março de 2016 – Nove e meia da manhã.
Eu ouvi o celular tocar bem distante e
abrir os olhos rapidamente quando lembrei que provavelmente era a Lua.
Ligação
ON
– Bom dia, meu amor.
– Oi, meu amor. Acho que aí ainda nem
amanheceu. – Sorri.
– Não mesmo. São quatro e pouco da
madrugada. – Lua respondeu.
– E aí, como foi de viagem? – Perguntei
antes de bocejar.
– Foi bem tranquila. Mas eu estou
exausta. Estou com muito sono... e você acredita que meus pés incharam? Fora
que começou a me dar uma leve cólica.
– E mesmo assim foi tranquila? –
Brinquei.
– Foi. – Lua riu. – E aí?
– Aqui está tudo sob controle.
– Anie está dormindo com você?
– Não. Anie já é uma mocinha e mocinhas
dormem em seus quartos.
– Você é demais, Arthur! – Lua riu. – Mas
achei que ela fosse insistir para dormir com você.
– E você acha que não? – Indaguei
divertido. – Mas ela me chuta demais, meu Deus! Amanheço todo dolorido.
– Tá vendo o que você faz comigo?
Quando eu digo, você não acredita. Anie é igual a você.
– Lua, eu não te chuto. Nem vem. – Me
defendi.
– Aah, não? E por um acaso você lembra?
– Se eu te chutasse igual a Anie, você
já tinha me empurrado da cama. Eu te conheço! – Exclamei.
– É provável. Você me deu uma excelente
ideia. – Lua pontuou.
– Hum, engraçadinha. – Resmunguei. – Você
me acorda de madrugada só para dizer que vai me derrubar da cama.
– Ei, foi você quem sugeriu.
– Eu nada. Eu só comentei. – Corrigi.
– Você só não me chuta quando dorme
abraçado comigo.
– Você tá falando isso só porque gosta
quando eu te abraço pra dormir. – Sorri.
– Idiota!
– Hahaha... Lua, você é a mulher mais
irritada e dengosa que eu conheci até hoje.
– Eu não sou dengosa!
– Uhm... tá bom então. Não vamos
discuti por isso. Porque eu estou com a razão. – Falei.
– Eu vou desligar. Quero tomar um banho
e dormir. Ryan vai agora pela manhã para o escritório, mas disse que eu e Adam
podemos ir só pela parte da tarde. – Lua explicou.
– Então aproveita. – Respondi. –
Descansa.
– Eu ligo mais tarde para falar com a
Anie, tá?
– Tá bom. Acho que ela ainda está
dormindo. Não apareceu por aqui. Vai ficar irritada se souber que você ligou e
eu não chamei ela. – Contei.
– Eu já estou com saudades da minha
bebê.
– E do seu marido?
– Bastante. Mas é uma saudade nada
inocente.
– Eu sei e gosto muito. – Provoquei.
– Safado.
– Você não é diferente de mim! –
Exclamei. – Vai dormir, Lua. Daqui a pouco a gente já vai tá falando safadeza. –
Ri.
– Eu não. Você que começa.
– Começo mesmo. Já estou com saudades
da minha mulher safada e gostosa. Isso te ofende?
– Não. Eu sou gostosa mesmo.
– Muito. – Ressaltei e Lua riu alto.
– Vou desligar, Arthur.
– Tudo bem, loira. Bom descanso.
– Obrigada. Te amo.
– Te amo.
LIGAÇÃO
OF
Deixei o celular do meu lado e fiquei
de bruços na cama. Não sei quantos minutos haviam se passado até Anie aparecer
no quarto. Ela ainda estava de pijama.
– Papai? – Ela me chamou baixo. Bart
estava ao seu lado.
– Uhm... – Resmunguei.
– Que holas que a minha mamãe vai
ligar?
– Mais tarde. – Respondi sem mencionar
que ela já havia ligado. – Você acordou agora? – Levantei o rosto para olhá-la.
– Uuuhm nãããoo... eu já até tomei café
com a tia Mel. – Anie respondeu debruçada sobre o colchão.
– E por que você não veio me chamar?
– Porque o senhor tava de pleguicinha.
– Ela riu encolhendo os ombros quando eu a cutuquei. – Você tem cosquinha é?
– É É É É! – Ela riu sem parar.
– Acho melhor levarmos o Bart daqui.
Sua mãe foi bem clara. – Lembrei e me sentei na cama.
Ele é um cachorro tão fofo, que eu nem
consigo imaginar ele destruindo alguma coisa. E talvez seja por esse motivo,
que isso pode acontecer – e ainda por cima, com alguma coisa da Lua. Só para
piorar a situação.
– Vem, vamos sair do quarto. – Peguei Bart
no colo e Anie saiu do quarto na minha frente. – Hoje você tem balé, filha. –
Lhe lembrei.
– É. Não pode faltar?
– De jeito nenhum. – Respondi. – Ter
compromisso e responsabilidade é muito importante. Quando você crescer, vai nos
agradecer. – Expliquei. – Sua mãe não ia gostar nadinha que eu deixasse de te
levar na aula só porque você está com preguicinha. – Acrescentei.
– Mas ia ser só hoje, papai.
– Não. Eu não deixei de te levar nem
quando estava em Liverpool. Não é agora que você vai faltar. – Esclareci. – E
sabe o que a gente pode fazer depois que eu tomar o meu café?
– O que, papai?
– Procurar as ideias para o presente da
sua mãe. Vai ser legal.
– Tá. Eu espelo então. – Anie sentou do
meu lado.
Tomei meu café em meio a conversas aleatórias
com a Anie. Ela está bastante animada com o fato de elaborarmos um presente de
dia das mães para a Lua. Eu também estou animado. Ainda mais depois do que
aconteceu ano passado.
– Eu gostei das floles de pintar. –
Anie apontou para a tela do computador. Estávamos no escritório.
– Eu nem sei por onde começar a fazer
essas flores de papel, filha. A gente pode continuar vendo outras ideias. –
Sugeri.
– Mas eu quelia escolher o que eu
quelo, papai.
– Eu sei, pequena. Mas tem que ser uma
coisa que eu consiga ajudar também. Ou você acha que sabe fazer isso sozinha?
– Eu não sei fazer, papai. – Anie
colocou as duas mãozinhas no rosto.
– Pois é. Nem eu. – Falei sincero.
– Então tá... vamos plocular outo. –
Respondeu. Não que ela tivesse aceitado numa boa. Ela estava começando a se
chatear.
– Esse aqui é legal. Olha como é...
– Mas eu nem sei esquever...
– Mas eu te ajudo. – Era um quadro com
uma árvore de colagem e tinham algumas coisas escritas nas folhas que eram de
papel. – A gente pode escrever o que você quiser. – Pontuei. – E aí, o que você
acha?
– Eu gostei também. – Anie sorriu ao me
olhar.
– Então a gente faz esse?
– Sim, papai.
– Ok. Quando sairmos da sua aula de
balé, a gente compra os matérias. Porque aqui em casa não tem nada disso. E
você pode escolher a cor que quiser. – Esclareci.
– Tá. Gostei mais agola. – Anie riu e
eu só não rir para não lhe dar confiança. Ela gosta de mandar igual a mãe.
Três
e meia da tarde.
– Agola só falta arrumar o cabelo. –
Anie comentou. Estávamos no quarto dela e eu tinha acabado de ajuda-la a se
vestir. Um collant branco estampado com sapatilhas de bailarina, uma saia
branca, as meias e a sapatilha de balé.
– Aah, isso é com a Carol. Não é você
que diz que eu não sei arrumar? – Indaguei sério e Anie riu assentindo.
– Mas é que o senhor não sabe mesmo,
papai. – Ela assegurou.
– Você nem tem vergonha. – Comecei a
fazer cócegas nela. – Pega a sua bolsa de bailarina! Vou pegar a garrafinha de
água.
– E a minha toalha.
– Então pega aí. Você sabe onde fica.
– Me espela!
– Estou aqui, Anie.
*
Saímos da aula de balé e eu segui com
Anie à procura de uma papelaria. Precisaríamos comprar os materiais para
fazermos o presente da Luh.
– É aqui?
– Sim. Vamos ver se aqui tem. –
Respondi e saí do carro. Dei a volta e abri a porta de trás do carro e tirei
Anie da cadeirinha.
– Por que semple eu tenho que vim na
cadeilinha?
– Porque você é criança e é seguro para
crianças viajarem na cadeirinha. – Coloquei Anie no chão e segurei em sua mão.
– Entendeu?
– Entendi, papai. – Anie balançou a
cabeça freneticamente.
– Boa tarde. – Falei para o atendente.
– Boa tarde. Vocês precisam de alguma
coisa?
– Eu nem sei o nome do papel que eu vim
comprar. Mas você poderia nos mostrar as opções?
– Papel para quê?
– É para fazer colagem.
– De plesente pla minha mamãe. É uma
árvole!
– Aah, para fazer uma árvore? Então
venham aqui. – O atendente sorriu do comentário de Anie.
Ele nos mostrou vários papeis de várias
cores. Anie optou por um de relevo, rosa clarinho. Compramos tinta, canetas em
gel, cola e uma folha de papel adesivo marrom. Vi uma estrutura de quadro
branco e decidi comprar. Era melhor do que eu tentar fazer uma – provavelmente
não daria certo.
– Pode complar essa folha amalela pla
desenhar?
– Você quer?
– Eu quelo. Pode?
– Pode. Por favor, coloque mais esse
pacote de papel. – Pedi para o atendente.
– Oito libras.
Paguei a compra e caminhamos para o
carro.
– A gente vai fazer quando?
– Amanhã, meu anjo. Ok? Agora quando
chegarmos em casa, você vai tomar banho, jantar e depois dormir.
– Mas eu ainda não tô nem com sono,
papai.
– Mas depois você vai ficar. –
Comentei. – Provavelmente a sua mãe vai ligar daqui a pouco.
– Eu tô com saudade da minha mamãe. Vai
demolar muito pla ela voltar?
– Só mais dois dias, filha. Eu também
estou com saudades. – Confessei.
– Já tô ansiosa pla dar o plesente!
– Eu também. – Sorrimos.
*
Anie colaborou na hora do banho e na
hora do jantar. Não fez birra e comeu tudo o que Carla havia colocado no prato.
– Luh ligou? – Mel me perguntou ao se
sentar no sofá.
– Sim. Duas vezes de manhã.
– Eu falei com a minha mamãe! Agola tô
espelando ela ligar de novo. Não é, papai?
– Sim. – Afirmei passando a mão nos
cabelos de Anie.
– Tia Mel?
– Oi, meu anjo.
– Eu e o meu papai vamos fazer um plesente
de dia das mamães para a minha mamãe. Mas é surplesa!
– Que legal! Com certeza a sua mãe vai
adorar, meu anjo.
– A senhola acha?
– Eu tenho certeza. – Mel sorriu
carinhosa.
– Do jeito que a Lua é, é bem capaz de
chorar só de saber que Anie quem fez o presente. – Comentei e Mel riu
concordando.
Lua é um cavalinho comigo, e embora
seja mais rígida com Anie do que eu, ela é muito emotiva com as coisas que Anie
faz e dedica a ela.
Ligação
ON
– MAMÃÃÃEE! – Anie atendeu a ligação
logo no primeiro toque.
Ela riu com alguma coisa que Lua falou.
– Eu também amo você, mamãe. Muito,
muito, muito! – Anie confessou. – Não. – Ela riu alto. – Eu não. Eu me
comportei. Pode perguntar plo meu papai. – Afirmou. – Táá... eu fui hoje pla
aula, mamãe. Tá, eu vou passar plo meu papai. Um beijo, mamãe. Até amanhã.
Tchau!
– Oi, neném... – Falei quando peguei o
celular. – Tudo bem?
– Tudo, Arthur. O que vocês aprontaram
hoje?
– Ora... não aprontamos nada. – Afimei.
– E você? – Indaguei.
– Vim no escritório. Tivemos uma
reunião rápida. Há uns problemas que deveriam ter sido evitados. – Me contou.
– Sérios?
– Agora sim. E o clima ficou bem chato.
Ryan está bem desapontado e irritado.
– Ainda vão voltar quarta-feira?
– Sim. Eu pelo menos vou. Por quê?
– Por nada. Eu só estou ansioso. –
Expliquei.
– Uhm... – Lua desconfiou.
– O que foi, loira? – Perguntei rindo.
– Nada. Eu só queria ouvir a voz de
vocês e, também, aí já está tarde.
– É verdade. Dona Anie só estava
esperando essa ligação. Porque você sabe que eu... ah, querida, eu falo com
você a qualquer hora. – Confessei.
– Eu sei, meu amor. Mas eu também estou
bem cansada.
– Você anda muito cansada. Quando você
voltar, é bom que marque uma consulta. Deve ser sedentarismo.
– Tua cara, Arthur. Você é idiota! Eu
estou ótima, ok?
– Estou vendo mesmo. – Ri e ouvi Lua
bufar. Eu aposto que ela tinha revirado os olhos.
– Você me irrita demais, Arthur. Por
que você faz isso?
– Te amo, loira. Eu te amo, tá?
– Eu também te amo. Amanhã eu ligo,
tudo bem?
– Ok, Luh. Bom descanso, querida. Um
beijo bem grande. – Sussurrei.
– Um beijo. – Ela riu. – Diz pra Mel
que eu mandei um beijo também.
– Digo sim.
Ligação
OF
– Agora vamos dormir? – Perguntei
colocando o celular no bolso. – Lua mandou um beijo, Mel.
– Nãããoo... não quelo! – Anie exclamou
ao se jogar em meu colo.
– Obrigada. – Mel sorriu.
– Vamos, bebê? Dá boa noite pra tia Mel.
– Boa noite, titia.
– Boa noite, meu anjinho. – Mel deu um
beijo na bochecha da Anie.
– Boa noite, Mel.
– Boa noite, Arthur.
Londres
| Quarta-feira, 30 de março de 2016 – Cinco e meia da tarde.
– Agola como é que eu vou esclever? Eu
não sei. – Anie encostou a cabeça no meu braço.
– O que você quer escrever?
– Eu te amo muito melhor mamãe do
mundo! – Anie exclamou e eu sorri. – Pode colocar o meu nome e o nome da minha
mamãe?
– Claro que sim, filha. – Sorri. – Que
cor você quer?
– Essa. – Anie apontou para a caneta
cor de vinho.
– Vou rabiscar aqui e depois você
cobre. – Avisei e Anie concordou.
– Escleve feliz dia das mamães!
– Vou escrever.
– Quelo fazer colações. Eu gosto de
colações.
– Faz com essa tinta. Olha aqui o
pincel. – Lhe entreguei o pincel.
– Aí hoje não tem aula de balé?
– Não. Só na sexta-feira.
– A gente vai terminar o plesente
agola?
– Sim. Depois é só deixar secar, pra
não borrar. Aí colocamos na sacola de presente. E esperamos a sua mamãe amanhã.
– Eu quero ser a plimeila a falar feliz
dia das mães pla minha mamãe.
– Ora, tudo bem. Você é a única
bebezinha dela mesmo.
– É verdade, papai. – Anie sorriu.
Estávamos na sala e a campainha tocou.
Bart saiu correndo em direção a porta e eu me levantei para ver quem era.
– Selá que é a minha mamãe?
– Acho que não, filha. – Respondi e
abri a porta.
– Tia Soph! – Anie exclamou animada.
Mas Sophia mudou totalmente de expressão quando me viu.
– O que você está fazendo aqui? –
Indagou desconfiada. – Ligo, ligo e Lua não me atende. Nem me responde.
– Minha mamãe viajou.
– Ela o quê? Ela não me disse nada. –
Sophia encarou Anie e depois me olhou. – Você ainda não me respondeu o que faz
aqui! – Me lembrou.
– Lua viajou e eu estou cuidando da minha
filha. Algum problema? – Questionei e fechei a porta.
– Na casa da minha irmã?
– Por favor, Sophia. Essa casa é minha
também. – Pontuei.
– Lua mandou você ir embora depois de
tudo. Agora você diz que a casa é sua?
– É minha. Custou o meu dinheiro. Alguma
surpresa? Acho que não. Então é melhor você não entrar nesse assunto. –
Respondi sem paciência.
– Mas vocês casaram, então a casa é tão
da Lua quanto sua. – Ela ressaltou.
– Os diretos do meu casamento com a sua
irmã, não te diz respeito. Eu não quero discuti com você.
– Eu quero que você saia daqui. – Ela
mandou e eu a olhei sem acreditar.
– Você o quê? – Ri debochado. – Você tá
viajando.
– Eu cuido da Anie até a Lua voltar!
– Lógico que NÃO! Você pensa que tá
fazendo o quê?
– Você não vai ficar aqui, Arthur. Não
sei o que Lua tem na cabeça.
– Com certeza mais senso do que você,
que chega na casa dos outros com essa tremenda falta de educação. – Pontuei.
– Eu disse que ela podia me chamar para
cuidar da minha sobrinha quando precisasse. Que não precisava te chamar.
– Anie é a minha filha. Você bebeu
alguma coisa? Porque é quase inacreditável que você não saiba que eu jamais vou
deixar de cuidar da minha filha. Então é você quem deve ir embora.
– EU NÃO VOU A LUGAR NENHUM. ESSA CASA
É DA LUA!
– A casa é minha. Eu comprei antes de
casar. Então por favor, para! Eu não quero ser grosso com você.
– Você é um canalha que se finge de
bonzinho.
– Ai, Sophia, tá bom. Pensa o que você quiser.
– Por que você tá glitando com o meu
papai? – Anie perguntou nervosa.
– Porque ele não presta. Ele é um
mentiroso.
– Meu papai não é mentiloso não! – Anie
exclamou irritada. – Ele não é.
– Minha filha é só uma criança. Olha as
coisas que você tá falando! Você tá fora de controle. – Eu já estava perdendo a
paciência. E olha que eu tenho bastante.
– Ele traiu a sua mãe com outra. Então
ele não tá nem aí pra vocês. Agora vem se fazer de bom moço!
– Que confusão é essa? – Mel chegou
depressa na sala. – O que está acontecendo?
– Por que você não me disse nada que
ele estava aqui?
– Eu não sabia que devia te manter
informada, Sophia. Que coisa! – Mel retrucou.
– Lua não me disse nada também! Quem
traiu ela foi ele e ela ficou com raiva foi de mim!
– Lua não te deve nenhuma satisfação. –
Ressaltei.
– Meu papai gosta sim de mim e da minha
mamãe. – Anie começou a choramingar e eu andei até ela. – Papai, é mentila, não
é?
– Eu amo você e a sua mãe, Anie. Amo
mais que tudo. – Sussurrei. – Não chora, por favor...
– Você vai embora!
– Para, Sophia. É melhor você se
acalmar. – Mel pediu.
– Vai, Arthur. Eu já disse que cuido da
minha sobrinha!
– EU NÃO VOU SAIR DA MINHA CASA. VOCÊ
TÁ LOUCA! – Gritei. – VAI EMBORA VOCÊ!
– EU JÁ DISSE QUE NÃO SAIO DAQUI.
– NÃO GLITEM! – Anie pediu. Me senti
tão culpado ao vê-la naquele estado.
– Olha o que você tá fazendo com a
minha filha! – Exclamei.
– Eu cuido dela, eu já disse. – Sophia
tentou se aproximar, mas Anie me abraçou rápido.
– Você não vai tocar na minha filha.
Você tem a sua. Por que não vai cuidar da tua gravidez e me deixa em paz?
– Ainda bem que a Lua perdeu aquele
bebê! Ou senão, estava sendo enganada até agora.
– Meu Deus! – Mel exclamou chocada.
– Cala a boca! Você não sabe o que está
falando! Aquele bebê não tinha e não tem nada a ver com isso. Você não sabe o
que Lua passa até hoje por conta disso. Então, cala a boca, Sophia! Eu nunca
mais quero ouvir você falar desse bebê! Você quer causar? Sai gritando na rua.
Mas não vem falar o que não sabe. Porque você não sabe de porra nenhuma! Era o
meu filho, era o filho da sua irmã. E eu tenho certeza absoluta que jamais ela
abriria a boca para te desejar o que você acabou de falar.
– Filho, filho, filho! Você só se
importa com o menino! E se fosse outra menina?
– A é? E você é quem para me julgar?
Olha pra você! Cometeu o mesmo erro que eu! Então não venha esconder as suas
mãos! Você tem preferência, Sophia. Não me julgue. Você não é melhor do que eu!
E ao contrário do que você pensa, não que eu te deva alguma explicação – deixei
claro –, era um bebê. Me refiro a ele do jeito que eu quiser! Eu não estou
errado! Mas eu aprendi bastante, então pra mim, nada disso importava mais. Já
pra você... você não pode dizer o mesmo, não é? Era eu há cinco anos. Então
antes de apontar todos os seus dedos para mim, olhe pra você. – Finalizei.
Nunca tinha sentido tanta raiva da Sophia. Nunca pensei que um dia pudesse
sentir tanta raiva dela.
– Hahaha que discurso! – Sophia bateu
palmas. Isso só fez com que eu sentisse mais raiva. – Mas eu não acredito. E
– ela falou mais alto – eu não sou você. Nunca vou ser. Pelo menos, eu estava
certa o tempo todo. Já você, nega tanto que ficou desapontado quando soube.
– Você tá sendo ridícula! Lamentável!
Sinto é pena de você. Tão desocupada que precisa entrar na vida dos outros para
arrumar confusão. Vida tediosa, não é? Por que você não vai viajar? Aproveita e
me esquece também!
– Você não tem o direito de falar assim
comigo!
– Você está na minha casa. Você devia
me respeitar primeiro. Então, não cobre dos outros o que você não tem! – Deixei
bem claro e peguei Anie no colo. Ela chorava sem parar. – Fica calma, meu amor.
Eu estou aqui.
– Quelo a minha mamãe. – Ela me abraçou
forte pelo pescoço.
– Se acontecer alguma coisa com a minha
filha, a culpa vai ser sua! – Sophia esbravejou colocando as duas mãos sobre a
barriga. Mas como ela sempre foi dramática e exagerada, eu não liguei. Afinal,
ela veio me desacatar na minha própria casa. A errada ali era só ela.
– Minha? Foi você quem gritou, foi você
quem me ofendeu. Quem devia pensar na sua filha era você! – Falei subindo a
escada. – Mas o que esperar de uma pessoa que vibra porque um bebê morreu? –
Questionei. – Eu realmente desejo que não aconteça nada com a sua filha. E
torço para que ela seja forte pra te aguentar. – Finalizei.
– NÃO FALA DA MINHA FILHA.
– Eu não estou nem aí para sua filha,
Sophia. Eu só quero que você saia da minha casa.
Terminei de falar e vi que até as Carla
e Carol haviam presenciado a discussão. Só espero que nem uma delas resolvam
contar isso a Lua.
Pov
Lua
Texas
| Houston, Aeroporto Intercontinental – Meio dia e cinquenta.
Eu havia ligado para o Arthur e avisado
que o voo era sem escada, ou seja, eu chegarei umas cinco e pouco da manhã em
Londres. Ele atendeu o celular tão diferente, que não fez nenhuma questão de
estender a conversa.
Mais cedo, Sophia me ligou mais de seis
vezes e me mandou sete mensagens no whatsapp. Não atendi nenhuma ligação e nem
visualizei nenhuma mensagem. Meu celular estava praticamente descarregado.
Desliguei logo ele quando vi mais uma ligação da Sophia. Não sei o que ela
tanto quer, mas eu não estou com nenhum pingo de paciência para escutar a
conversa dela.
– Vamos, Luh. – Adam me chamou. Nosso
voo tinha sido acabado de ser anunciado. – Você precisa de ajuda?
– Não. Eu só estou preocupada. Arthur
estava tão estranho. Não sei se aconteceu alguma coisa. Mas se tivesse sido
algo grave, ele teria me avisado. – Comentei.
– Com certeza, Luh. Acho que você só
está cansada. – Adam sorriu.
– É, talvez. – Sorri de volta. – Se
fosse alguma coisa com a nossa filha, ele teria me dito.
– Claro que sim. – Adam voltou a
afirmar. – Vem, vamos embarcar.
– Sua poltrona é ao lado da minha?
– Acho que sim, Luh. A 17.
Londres
| Aeroporto Inter. de Heathrow – Cinco horas da manhã.
– Oi. – Falei assim que cheguei perto
do Arthur. Ele estava na direção da porta de desembarque e sorriu sem mostrar
os dentes.
– Oi. – Me imitou. – Como foi a viagem?
Seu chefe te tirou muito do sério?
– Não. Tivemos que resolver tantos
problemas que nem sobrou tempo para isso. – Respondi. – E por aqui?
– Está tudo bem. – Assegurou. – Vem
aqui. – Me chamou estendendo os braços.
– Achei que você nem fosse me abraçar.
– Murmurei e Arthur me puxou gentilmente pelo braço.
– Por que já? – Indagou divertido e eu
o abracei.
– Você tá estranho. – Observei e ele me
deu um beijo na cabeça.
– Lua, são cinco horas da manhã. Você
queria que eu estivesse como? – Me perguntou.
– Não... desde cedo. Desde a hora que
eu liguei. – Afastei o rosto para olha-lo. – Aconteceu alguma coisa enquanto eu
estive viajando?
– Vamos pegar a sua mala para irmos para
casa e a gente conversa no caminho. Você não está cansada? – Questionou.
– Estou. – Respondi notando que ele
havia mudado de assunto. – Minha bunda tá doendo. – Ri e Arthur me acompanhou.
– Uhm... – Ele sussurrou divertido e eu
o empurrei de leve pelo ombro. – Olha ali a tua mala. – Arthur andou até a
esteira.
– E aí, Arthur.
– Oi, Adam. – Os dois apertaram as
mãos.
– Lua estava toda nervosa. Tive que
aguentar as neuras dela a viagem toda. – Adam comentou e Arthur me olhou.
– Eu estou percebendo. Está me
indagando desde que me encontrou. Parece até que eu vim encontrar com a
advogada e não com a minha mulher.
– Ai, vocês dois são ridículos! – Exclamei.
– Eu só fiquei preocupada. E você está mentindo, Adam. Eu nem falei tanto
assim. – Me defendi e os dois riram.
– Bom, já vou. Tchau para vocês.
– Tchau, Adam. – Eu e Arthur falamos
juntos.
Caminhamos até o estacionamento e
estramos no carro. Arthur colocou a minha mala no porta-malas.
– Não vi o Ryan, loira.
– Ele ficou, Arthur. Eu disse que temos
problemas.
– Achei que tivesse dado de tempo de
resolver.
– Não todos. Tivemos uma reunião
complicada. – Expliquei. – Mas até entendi o estresse do Ryan.
– Você está defendendo as atitudes
dele? – Arthur me provocou.
– Profissionalmente, Arthur. Estamos falando
do meu trabalho. – Ressaltei.
– Você precisava ver a sua cara! – Ele
exclamou divertido.
– Só não te bato porque você tá
dirigindo. – Pontuei. – Mas Arthur, está tudo bem em casa mesmo?
– Sim, Luh. Está tudo sob controle. Eu
te disse isso os três dias que você ficou em Houston. – Ele me lembrou.
– Eu sei. Mas você continua estranho.
Não vem dizer que eu estou maluca.
– Só estou com sono. Só isso. – Deixou
claro. – Podemos falar sobre coisas
sérias só de amanhã de manhã? – Me perguntou.
– Então eu estou certa? Tem coisa
séria? – Insisti.
– Amanhã, Lua. Amanhã. – Arthur
enfatizou.
– Só falta a Kate ter aparecido. Aliás,
Sophia me ligou muito hoje. – Falei, mas Arthur continuou dirigindo sem desviar
os olhos do volante. – Não atendi porque meu celular estava descarregando e eu
também não queria me estressar com ela. – Contei. – Alguém mais ficou sabendo
que a gente voltou?
– Não por mim. – Ele me respondeu.
– Achei muito estranho ela me ligar
tanto assim. Ela é exagerada, mas hoje foi demais.
– Anie está ansiosa. Fizemos um presente
pra você. – Arthur mudou de assunto outra vez.
– Um presente? – Perguntei curiosa.
– Sim. De dia das mães. – Ele me lembrou.
– Ela quer ser a primeira a te dizer isso.
– Vocês que fizeram? – Indaguei já
emocionada.
– Ela gostou da ideia e eu a ajudei. Mas
não vou dizer mais que isso. – Ele deixou bem claro.
– Acho que eu vou chorar. – Confessei.
– Ficou lindo, loira. Acho que você vai
gostar.
– Com certeza eu vou adorar. – Afirmei
e Arthur entrou na garagem de casa.
– Chegamos.
– Ainda bem. – Falei. – Quero tomar
banho e dormir.
– Você não quer comer nada?
–Talvez um sanduiche. – Respondi.
– Eu faço pra você. Pode deixar. –
Arthur me disse e eu sorri agradecida. – Amanhã eu pego a mala.
– Tudo bem. – Concordei e entramos em
casa.
Arthur caminhou para a cozinha e eu
subi a escada e fui até o quarto da nossa filha. Passava das cinco e meia da
manhã. Eu estava exausta e com muito sono. Abri a porta e andei até a cama.
Anie ressonava baixinho e eu lhe dei um beijo na testa; ela nem se mexeu. Saí do
quarto e fechei a porta com cuidado.
Deixei a bolsa sobre a poltrona assim
que entrei no meu quarto. Tirei os sapatos e a roupa e caminhei até o banheiro.
Liguei o chuveiro e tomei um banho bem rápido. Quando saí, Arthur já estava sentado
na cama com o sanduiche e um copo com suco em cima do criado-mudo.
– Eu só vou vestir uma roupa. – Avisei.
– Tudo bem. – Ele sorriu de lado e foi
para o banheiro. – Você viu a Anie?
– Sim. Eu fui dar um beijo nela. –
Respondi e voltei para o banheiro para deixar a minha toalha, mas a porta
estava fechada; Arthur estava fazendo xixi. – Ela deu muito trabalho para dormir?
– Pode entrar, Luh. – Me disse e eu
abri a porta. – Até que não. – Ele respondeu a minha pergunta. – Foi tranquilo.
Ela só queria que eu colocasse ela pra dormir.
– O suco é de quê?
– O seu preferido. – Arthur respondeu e
voltou para o quarto e eu o segui.
Arthur se deitou na cama e eu me sentei
e peguei a bandeja com o meu lanche.
– Obrigada, Arthur.
– De nada, querida. – Arthur deitou de
lado e ficou me encarando. – Ainda bem que você já voltou. – Comentou e eu rir.
– Você já não aguentava mais de tanta
saudade? – Perguntei.
– Não mesmo. – Ele admitiu sorrindo. –
Já é quase seis horas.
– Verdade. você pode dormir se quiser. –
Comentei. – Só vou terminar de comer aqui.
– Eu vou fazer isso mesmo. Qualquer
coisa você me chama.
– Tá. – Lhe joguei um beijo no ar e Arthur
sorriu.
Londres
| Quinta-feira, 31 de março de 2016 – Dia das mães.
– Feliz dia das mães. – A voz
era baixa e eu senti meus pelos se eriçarem. Arthur estava com os braços em
volta da minha cintura. – Anie não precisa saber que eu te desejei feliz dia
das mães primeiro do que ela. – Ressaltou e eu sorri.
– Obrigada, querido. Pode deixar. Não vou
contar. – Assegurei e acariciei seu rosto antes de Arthur aproximar os lábios dos
meus.
– Eu te amo muito, Luh. Você é a melhor
mãe que eu poderia ter escolhido para os meus filhos. Você é uma mulher incrível.
Sou tão grato por ser seu marido, meu amor.
– Você que é um homem incrível. – Respondi.
– Obrigada por sempre estar ao meu lado. Eu não sei como seria se você não estivesse...
– Eu nunca vou te deixar, Lua. Não importa
o que aconteça. Eu sempre estarei aqui para você.
– Eu sei. Obrigada, obrigada, obrigada.
– Agradeci e Arthur me beijou.
O beijo era tão lento e carinhoso. Arthur
puxou o cobertor e levou uma das mãos por baixo da minha camisola até chegar a
minha cintura. Me puxou para mais perto e aprofundou o beijo.
– Sinto tanto orgulho da mãe que você
se tornou. Sempre acreditei que seria assim, Lua.
– Eu tive medo, Arthur... tive tanto
medo.
– Shhh... eu sei, eu sei de tudo isso. E
o melhor de tudo é saber que você fez as escolhas no seu tempo. Eu nunca me
incomodei com isso, Lua. Eu só queria que você se sentisse bem quando decidisse.
– Você sempre me deu segurança, Arthur.
– Confessei. – Agora a gente tem uma filha linda.
– Sim. Ela é tão parecida com você e é
tão parecida comigo, meu amor. É mais do que eu desejei e você sempre soube
disso. Eu só quero que hoje você se sinta ainda mais especial do que você já sabe
que é. Porque você passou por tanta coisa, que se eu pudesse, eu teria evitado.
Com toda a certeza do mundo, eu jamais teria deixado você passar por isso. Hoje
eu sei que você vai lembrar... e eu não quero que se culpe. Porque pra mim,
você continua sendo a mãe mais incrível que toda criança gostaria de ter e a
nossa filha tem sorte e nós, também, temos sorte, Lua.
– É... eu sei que estaríamos mais
felizes se ele ou ela... não sei... ainda estivesse com a gente.
– Sim, Lua. Estaríamos. Mas isso não quer
dizer que não estamos felizes agora. Porque eu estou feliz e quero que você,
também, esteja. Anie já, já vai entrar por essa porta, toda empolgada para te
dizer feliz dia das mães e que te ama muito. Porque foi isso que
ela repetiu esses três dias. – Arthur sorriu ao me contar. Sorri de volta
completamente emocionada.
Eu nem sabia o que falar. Eu ia começar
a chorar assim que tentasse dizer alguma coisa. Eu não estava triste. Eu só estava
emocionada. Muito emocionada.
– Mamãe? – Anie abriu a porta e Arthur sorriu
ao me dar um beijo na testa e deitar ao meu lado. – MAMÃE! – Exclamou quando me
viu. – Meu papai disse mesmo que a senhola já ia tá aqui.
– Vem aqui, meu amor. Sobe aqui. – Lhe
chamei dando dois tapinhas no colchão. – Que saudades. – Anie se jogou em cima
de mim. – Te amo, te amo, meu bebê.
– Te amo, te amo, mamãe. Feliz dia das mães!
– Disse contente e me encheu de beijos nas bochechas.
– Obrigada, filha. Muito obrigada. –
Agradeci lhe apertando em um abraço.
– Eu tenho um plesente! Um plesente bem
legal que eu fiz com o meu papai. – Me contou e olhou pra o Arthur que lhe
jogou um beijo. Anie retribuiu o gesto. – Eu vou buscar que eu esqueci, tá? – Me
avisou e desceu da cama. olhei para o Arthur com os olhos cheio de lágrimas.
– Anie vai pensar que você não gostou
do presente. – Ele brincou passando o polegar pela minha bochecha quando uma
lágrima caiu.
– Você sabe que não é isso...
– Não chora. – Ele sussurrou.
– Aqui, mamãe. – Anie me entregou uma
sacola de presente. A sacola era vermelha e tinha alguns corações dourados.
– Obrigada, meu anjo. – Agradeci e depositei
um beijo na testa da Anie.
– Abe logo! – Ela bateu palmas e eu e Arthur
rimos.
Abri a sacola e tirei algo quadrado de
dentro. Estava enrolado com um papel e tinha uma fita dourada prendendo. Rasguei
o papel e tirei a fita. Era um quadro e era lindo. Uma árvore com folhas rosas
de papel, passarinhos, corações e uma declaração:
Eu
te amo muito.
Melhor
mamãe do mundo.
Feliz
dia das mães.
Lua.
Anie.
– Que presente mais lindo, meu amor. Obrigada,
eu amei demais. – Puxei Anie para o meu colo.
*
– Vocês viram o Arthur? – Perguntei
para as meninas.
Eu já tinha procurado ele em todo canto.
Nem o carro dele estava na garagem.
– Não, Luh. Ele almoçou e vocês foram para
a sala. – Mel comentou.
– Sim, e depois ele foi para o quarto. Eu
fui brincar com a Anie. E agora fui procurar ele e não achei. – Contei. – Ele
nunca sai sem avisar. – Acrescentei e peguei o celular. – Vou ver se consigo falar
com ele.
Saí da cozinha e fui até o quarto. Meu celular
ainda estava desligado. Quando enfim ele ligou, apareceu várias ligações e
mensagens da Sophia; além das que já tinham.
Decidi abrir as mensagens para saber o
que tanto ela queria que eu soubesse.
Mensagem
ON
“Por que você não quer falar comigo?”
“Atende o celular, Luh. É sério! Já liguei
três vezes.”
“Não acredito que você não está vendo as
ligações e nem essas mensagens.”
“É a minha oitava ligação e a quarta
mensagem. Me responde, Lua!”
“Aconteceu alguma coisa?????????”
“Estou preocupada!”
“Lua, eu vou na tua casa. É isso! não aguento
mais ser ignorada. Eu sou a tua irmã!”
“Arthur não tinha o direito de gritar
daquele jeito comigo. EU ESTOU GRÁVIDA! Quem ele pensa que é? A CULPA SERÁ DELE
SE ACONTECER ALGO COM A MINHA FILHA.”
“Por que você não me contou que ele
tinha voltado???”
“Você perdoou ele? Eu não acredito
nisso, Lua!”
“Ele te enganou! Ele foi grosso comigo!
Ele gritou e me expulsou da tua casa. Ele disse que A CASA ERA DELE! Que ele tinha
comprado com o dinheiro dele e antes de vocês casarem!”
“Ele vai e te deixar sem casa. Abre o
olho! Porque a gente não conhece mais esse Arthur.”
“Lua?? Me responde! Você viajou pra
onde? Ou ele fez alguma coisa com você?”
“ME DIZ!!!”
Mensagem
OF
As mensagens tinham acabado e eu fiquei
chocada com o que li. Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa. Só não imaginava
que tinha sido algo desse tipo. E que a Sophia tinha aparecido aqui.
Desci a escada e andei até a cozinha. Eu
precisava saber o que tinha acontecido ontem aqui na minha ausência.
– O que aconteceu aqui ontem?
– O quê? – Carla se fingiu de
desentendida e Mel me olhou preocupada.
– Não tentem esconder as coisas de mim.
Porque a primeira coisa que o Arthur vai fazer quando passar por aquela porta,
vai ser me explicar tudo! Mas antes, quero ouvir de vocês. – Pontuei.
– Acho melhor o Arthur explicar, Luh.
– Ele vai explicar, Mel. Mas se vocês
estavam aqui, eu quero saber!
– Sophia apareceu aqui. Ficou totalmente
exaltada quando viu o Arthur. Gritou e xingou ele. Falou coisas absurdas. Ele perdeu
a paciência quando ela falou do bebê... e a Anie estava aqui. Ela estava
assustada e ele ficou ainda mais irritado. Sophia queria que ele fosse embora. Falou
que cuidaria da Anie. Óbvio que o Arthur disse que não. E ela começou a questionar
o porque não foi informada que ele tinha voltado. Disse que ele não amava vocês.
Que era mentiroso. Anie começou a chorar dizendo que era mentira. Arthur estava
nervoso. Eu pedi que ela parasse com aquilo, mas você sabe como a Sophia é... –
Mel explicou sem aprofundar os fatos.
– Arthur fez alguma coisa com ela? –
Perguntei preocupada. Eu não queria que ninguém o acusasse de nada, caso Sophia
passasse mal.
– Não. Foi ela, Luh. Foi horrível. Ainda
bem que você não estava aqui.
– O que ela falou sobre o bebê?
– Luh...
– Fala. – Olhei para as três. – Por que
ela falaria sobre o bebê?
– Não sei se é uma boa ideia. – Mel
começou e ouvimos o barulho de chaves. Andei rápido até a sala.
– Aonde você estava? – Perguntei sem medir
o tom da minha voz e Arthur me encarou com o cenho franzido.
– Eu esqueci de comprar um presente pra
você. Aí eu aproveitei e fui agora. Demorei porque não estava achando o seu
tamanho e, também, não estava me agradando dos modelos. – Arthur me entregou
uma sacola. – Espero que goste. – Acrescentou. – Aconteceu alguma coisa?
– Eu quero te fazer a mesma pergunta. –
Respondi. – Não precisava de presente.
– Eu sei que não. Eu só... quero
agradar. – Arthur passou por mim e subiu
a escada. Fui atrás dele.
– Eu te disse que a Sophia tinha me ligado.
– Sim. E daí?
– E daí? Você lembra das mensagens
também? – Questionei.
– Se você já sabe o que aconteceu, por que
quer que eu repita? – Arthur indagou.
– Quero saber de você! – Exclamei
fechando a porta. – O que aconteceu?
– O que vai mudar, Lua? Sophia é uma desequilibrada.
Veio aqui me xingar. Fez isso na frente da nossa filha. Falou muitos absurdos e
gritou, meu Deus, e como gritou. No fim, disse que se acontecesse algo com a
filha dela, a culpa era minha. Sendo que foi ela que começou a confusão. Só pra
constar, em nenhum momento eu falei que tínhamos voltado. Eu só disse que você
tinha viajado e que eu estava cuidando da nossa filha. – Arthur me explicou.
– Só isso?
– Você acha pouco? – Me perguntou incrédulo.
– Você deveria ter dito que tínhamos voltado.
Ninguém tem, absolutamente, nada a ver com as nossas decisões. Eu vou conversar
com a Sophia, Arthur. E vou deixar tudo bem esclarecido para que esse tipo de
coisa não volte a acontecer.
– Esquece isso. Eu não quero ainda mais
confusão. Sophia tá grávida. Se acontecer algo com aquela criança, a última
coisa que eu quero, é que você esteja envolvida.
– Sophia não pode achar que é dona da
verdade. Ela veio aqui e ofendeu a minha família. Eu nunca teria esse tipo de
atitude como ela.
– Eu sei que não, Lua. Ainda bem que
você é definitivamente o oposto dela. Só me promete que não brigar, Lua.
– Eu não vou prometer nada, Arthur. Eu vou
falar com a minha irmã. Ela vai ter que me ouvir.
– Lua, por favor...
– O que ela falou sobre o bebê que você
está me escondendo? Mel disse que você perdeu a paciência.
– Pelo amor de Deus! – Arthur passou as
mãos pelo rosto. – Lua, esquece...
– Fala, Arthur Aguiar. Fala! – Mandei.
– Você não merece saber disso, meu
amor.
– Se ela disse, eu quero saber.
– Luh...
– Arthur, eu estou te pedindo.
– Lua...
– Por favor...
– Meu amor. – Arthur se aproximou e
segurou o meu rosto com as duas mãos. – Eu não quero que você fique triste com
isso. Não me faça ter que repetir o que ela disse.
– Por favor. Ela veio aqui. Ela te ofendeu
e você quer proteger ela?
– Eu quero te proteger. Só isso. Eu não
estou nem aí para a Sophia, Lua.
– Não quero que mintam pra mim. A gente
sempre briga quando isso acontece.
– Sophia disse que ainda bem que você
perdeu o bebê, Lua. Foi isso! Foi que me fez perder ainda mais a paciência.
– O QUÊ? – Gritei sem perceber.
– Ela sente uma raiva tão absurda de
mim, que nem me as palavras.
– Não é isso, Arthur. Não é isso! Ela não
tem esse direito. Você não fez nada pra ela. – Eu tentei ser forte. Mas minhas
lágrimas me traíram. – Nem eu fiz... – Comecei a chorar. Arthur me puxou para o
colo dele.
– Era por isso que eu não queria te contar.
Meu corpo inteiro tremia e eu não conseguia
controlar as minhas lágrimas e tão pouco, a minha raiva.
Continua...
SE LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.
N/A: Mil perdões pela demora.
Eu quis compensar com esse capítulo
IMENSO e cheio de emoções. Alguém aí chorou? Porque eu chorei!
Estou ansiosa para saber o que vocês
acharam. Me deem esse retorno.
Comentem!
E abram os links.
Beeeijos e até
a próxima.
Aff essa Sofhia muito sem noção, tomara q a Lua diga umas boas verdade e coloque ela no lugar dela.
ResponderExcluirA Sophia passou dos limites, meu Deus!! Coitado do Arthur e da Lua. E tadinha da Anie por ter ouvido tudo aquilo!! Estou ansiosa pelo próximo capitulo, quero só ver a conversa definitiva que a Lua e a Sophia vão ter
ResponderExcluirAh mds, fiquei com o S2 apertado com essa briga da Sophia cm o Arthur. Ela tá muito errada, principalmente em ter falado as coisas pra Anie, sobre o bebê e ainda mandar ele embora.
ResponderExcluirEspero que tudo se resolva e ela veja que tá errada.
A cada capítulo é uma ansiedade diferente que deixa a gente querendo mais
Fiquei arrepiada, Sophia definitivamente passou de todos os limites. Anciosa pelos próximos capítulos. Posta logo.
ResponderExcluirMuitas emoções, Sophia realmente passou de todos os limites, fala aquilo tudo na frente da própria sobrinha, pesado
ResponderExcluirA lua e o Arthur nao merecem essas acusações
Ansiosa pelo próximo
Já estava com saudades Milly. Esse foi um capítulo e tanto viu. Lua e Arthur no maior amor, depois um estressando o outro. Foi até engraçado a Mel perguntado "vcs já brigaram" tipo mal fizeram as pazes e já estão assim kkkkkk mais é normal né Arthur vive estressando a lua. Anie foi um amorzinho com essa ideia de criar o presente para a lua de dia das mães ♥️
ResponderExcluirSophia passou de todos os limites falando do bebê que a lua perdeu, ela nem pensou no sofrimento da irmã. Lua vai ter q da um choque de realidade nela. Esse final do capítulo me deixou mais ansiosa. Arthur muito preocupado em como a lua ficaria abalada. Ansiosa para o próximo Milly ♥️
eu amo essa web! E amo quando tem essas pequenas intrigas entre o meu casal hahahaha
ResponderExcluirSophia está sendo muito desnecessária e querendo fazer intrigas. Espero que Lua fale umas boas pra ela! E Anie, o que falar dessa pessoinha tão linda, eu amo essa relação dela com o Arthur e Lua <3
Posta o próximo capítulo logo, ein!
TO AMANDOOOOO
ResponderExcluirTO adorado milly
ResponderExcluirA fic ainda tem grupo no wpp???
Olá, boa tarde!
ExcluirTem sim 🤭
Maravilhoso esse cap❤
ResponderExcluirMilly nunca decepciona 😚
A Sophia é muito sem noção
Ps: Keila
Capítulo incrível!
ResponderExcluirEstou muito ansiosa pra conversa da Lua com a Sophia, mal posso esperar.
Não demora pra postar o outro capítulo, por favor