O Poderoso Aguiar | 54º Capítulo

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O Poderoso Aguiar
54º Capítulo – Non tutto è la fine

Pov Lua

Às vezes eu ficava mal com essa minha mente um tanto quanto safada. Passamos por um sufoco, nosso filho estava precisando do nosso apoio, mas bastou Joseph acordar no dia seguinte, dando-me um beijo de bom dia para tudo mudar. Eu já pensava que a vida era linda, maravilhosa e que eu precisava me jogar nos braços do meu homem.

É… isso que fazem meus hormônios pervertidos aliados a presença máscula do meu marido. Mas eu não era só movida a hormônios não. Havia um sentimento maior, um amor forte demais pela minha família que deixava meu peito apertado quando algo de ruim acontecia. Em compensação parecia haver uma explosão de fogos dentro de mim sempre que eu via que tudo estava bem.

O que eu senti quando Joseph me acordou com aquele beijo carinhoso não tinha explicação. Ninguém diria que esse garoto sorridente era o mesmo que estava em choque no dia anterior. Mas ele me garantiu que estava tudo bem. A única coisa que queria agora era tomar um café da manhã junto conosco.

Decidimos fazer uma surpresa para Arthur… que era o verdadeiro alicerce das nossas vidas. Por mais que eu seja forte e sentindo essa força só aumentar mais e mais a cada dia, o grande responsável por isso, sem dúvida era Arthur.

Eu me esforcei para ser a mulher ideal para ele. Aquela que o faria se orgulhar. Confesso que grande parte disso foi por medo de perdê-lo. No entanto eu tinha também esse gênio forte, atrevido feito ele mesmo.

E logo depois do café e de Joseph ter nos deixado a sós eu pude finalmente ser amada de novo. A falta que eu sentia de fazer amor com Arthur me deixava as vezes envergonhada. Mas que culpa eu tinha? Era intenso demais, verdadeiro demais… gostoso demais.

Eu quase ri da expressão dele ao ver o Fogo de Shiva. Realmente eu devia estar muito excitada no dia que comprei aquilo. Desde quando meu poderoso precisava disso? Eu só faltava pedir arrego.

Mas foi bom, nos excitou além da conta. E me deixou em frangalhos também. Tanto que quase implorei para me deixarem quieta quando Joseph apareceu horas mais tarde. Eu queria ficar ali na cama, jogada de qualquer jeito ainda sentindo uma leve dormência nos músculos depois de ser apertada com tanta força pelas mãos de Arthur.

Mulher ciumenta é fogo. É isso mesmo… eu me rasguei de ciúmes por Joseph ter preferido falar apenas com o pai, sem minha presença. Assunto de homens… tive que aceitar não é? Por outro lado fiquei absurdamente feliz por ver o quanto ele entendia e confiava no pai. Não poderia haver amor maior que esse.

Sai do quarto e fui em direção ao de Sophia. Estava sentada na cama, recostada em travesseiros, com a mão sobre o ventre.

– Oi. – Ela sorriu e fez sinal para que eu entrasse. Sentei-me na cama e coloquei a mão sobre seu ventre também.
– Como estamos?
– Muito bem. Está quietinho.
– E você?
– Estou bem. Ainda profundamente envergonhada com o que aconteceu.
– Ninguém teve culpa. E já te falei que Arthur não está bravo. Ele só se preocupa demais com tudo e com todos.
– Joseph estava tão feliz hoje pela manhã.
– Nós o deixamos dormir em nossa cama. Precisava do carinho dos pais.
– Lua… não quero ser enxerida demais… mas tem a ver com aquele homem não tem?
– Lorenzo?
– Sim. Joseph estava aterrorizado e algo me disse que era por olhar pra ele e não pelo momento tenso.
– Eu desconfio que sim, mas não posso afirmar. Ele não disse nada, embora tenha pedido para conversar com Arthur a sós.
– Então só pode ser isso. – Sophia não segurou um bocejo e eu me levantei.
– Vá descansar.
– Não. Pode ficar.
– Nada disso. Precisa estar bem para que o bebê fique bem também. Precisa de alguma coisa?
– Não. Obrigada.

Dei um beijo em sua cabeça, afaguei sua barriga e sai. A porta do meu quarto ainda estava fechada então desci e fui para o escritório. Abri a porta e inspirei sentindo o cheiro tão peculiar. Incrível como o ambiente era totalmente preenchido pelo cheiro de Arthur. Tantas pessoas passavam por aqui, mas apenas o cheiro dele parecia impregnado em cada parede, em cada móvel. Inspirei novamente, minha pele arrepiando-se ao sentir o aroma de homem, perfume e tabaco.

Passei a mão pela mesa, deixando que lembranças assaltassem minha mente. Lembranças de um passado não muito distante, mas bem nítidas. A primeira vez em que estive aqui, furiosa, com o firme propósito de enfrentar o assassino do meu pai. E a primeira coisa que vi foi um par de olhos intensos e verdes no rosto mais lindo que eu já tinha visto na vida. Novo arrepio percorreu meu corpo e cheguei a fechar os olhos ao me recordar como ele me olhou, de cima a baixo, sem contar a voz muito baixa e rouca.

– Você achou sexy… e eu acho isso fodidamente sexy em você. – Ele riu baixinho, rouco, próximo ao meu ouvido. Mordeu levemente o lóbulo da minha orelha fazendo-me arrepiar.
– Aceito. E como iremos fechar isso?

Olhei em seus olhos, dei um sorriso safado e traguei. Fiquei na ponta dos pés e segurando em sua nuca, busquei sua boca. Ele me abraçou com apenas um dos braços, forçando sua boca na minha. A fumaça e um delicioso gosto de menta se misturaram em minha boca fazendo-me gemer e erguer uma das pernas, roçando na dele. Foi um beijo rápido, mas tão intenso que quando nos separamos eu cambaleei um pouco e Arthur riu.

– Pacto fechado. Mas agora comporte-se como uma decente mulher casada. Nosso filho está vindo aí falar com você.
– Oh… – Apressei-me em apagar o charuto e ajeitei meus cabelos. – Algum problema?
– Não. Ele só quer dizer algumas coisinhas. – Uma batidinha na porta e Arthur mandou que entrasse.
– Mãe?
– Oi meu amor… queria falar comigo? – Arthur me pegou pela mão e nos sentamos no sofá de couro. Coloquei Joseph em meu colo.
– Pode falar.
– É só que… eu fico com vergonha de algumas coisas. Por isso quis conversar só com meu pai.
– Eu entendo você meu anjo. Não se preocupe porque não estou chateada. Lógico que fico meio com ciúmes, mas tudo bem.
– Tá… mas eu queria dizer também que… que… eu te amo muito. Muito mesmo.

Eu o apertei com tanta força que tive medo de sufocá-lo. Mas eu não consegui evitar nem meu aperto, nem minhas lágrimas que escorriam livremente pelo meu rosto. Óbvio que sabia do carinho dele por todos, mas juro que nunca esperei ouvir isso de sua boca assim tão espontaneamente. E era tão verdadeiro. Foi emocionante.

– Eu também te amo muito meu amor… muito. Ah Joseph… – Voltei a chorar sem conseguir dizer mais nada.
– Eu falei pai. – Arthur riu e passou a mão em meu cabelo.
– O que… o que você falou?
– Que a gente ia ter que fazer carinho. Vocês mulheres são muito choronas.

Eu ri brevemente e coloquei meus lábios em seus cabelos. Ele passou os braços a minha volta e assim ficamos. Sabia que Arthur nos observava atentamente. Com toda certeza ele deve ter passado por isso quando conversaram no quarto.

– Você é muito especial em nossa vida sabia? Obrigada por ter nos aceitado como pais. – Ele beijou meu rosto e se levantou.
– Agora vou ficar com a Sophia. Ela não pode ficar sozinha.
– Faça isso filho. Eu preciso conversar com sua mãe.

Dei mais um beijo nele e Joseph se foi. Assim que a porta se fechou Arthur me pegou pela mão colocando-me em seu colo.

– Agora que já deu seu ataque de mulherzinha, vista novamente a máscara de poderosa. – Soquei seu peito, mas o encarei. – Vou te contar tudo o que o Joseph me disse.

[…]

Meu corpo inteiro tremia. E era de raiva… ódio. Não conseguia acreditar no que Arthur acabara de me contar. E o pior de tudo nem era saber que aquele vagabundo também abusou do nosso filho. O mais chato dessa história toda era saber que talvez poderíamos ter evitado aquele estado de choque que a presença de Lorenzo acarretou em Joseph. Arthur e eu fomos negligentes, omissos, sei lá o que. Por que não procuramos um psicólogo logo que ficamos sabendo sobre Dom Matteo?

Que merda!

Era tudo tão… nojento. Dei um pulo saindo do colo de Arthur e me colocando de pé.

– CHEGA! Estou cansada de ver nossa família, principalmente nossos filhos sofrendo por causa desses vagabundos. Vamos acabar com Lorenzo e é agora. – Corri até a mesa e peguei um charuto.
– Lua o que…
– Está na hora de Lorenzo dar adeus. – Sai do escritório praticamente correndo, ouvindo apenas a voz de Arthur.
– Lua… Lua… espere…

Mas eu já corria, mesmo sabendo que Arthur me alcançaria. Mas eu precisava extravasar pelo menos correndo um pouco. Ou iria matar Lorenzo a unha.

Pov Arthur

Lua deu ordem ao segurança para que levasse Lorenzo. Resolvi não interferir. Ela estava no comando agora. Seguimos no volvo atrás do Mercedes. Dessa vez não iríamos para um dos galpões e sim para um aterro onde costumavam jogar um amontoado de lixo.

– Tem certeza que quer ir para aquele lugar fedido?
– Lorenzo irá voltar para o lugar de onde veio.
– Você é quem sabe. Está no comando.
– Quando acabar isso tudo quero viajar, Arthur. Nossos filhos estão tão novos ainda. Eles precisam de um pouco de diversão. Sei que nossa vida não é fácil e que nós escolhemos viver assim. Mas também escolhemos ser pais. Nossos filhos não podem ser privados da infância.
– Eu sei e concordo com você. Tanto que já conversei com meu pai e eles já estão no jatinho, prontos para voltarem pra casa.
– Não acredito! Mesmo?
– Sim. Em poucas horas nossos três bambinos estarão reunidos.
– Nem acredito. Estou louca pra vê-los.

Sorri e apertei sua mão. Eu também estava louco para vê-los. Foram poucos dias na verdade, mas as crianças mudavam tão rapidamente. Queria ver se John continuava com sua meiguice e bom humor. E Lunna? Ainda estaria com aquela carinha de menina brava feito a mãe?

– Chegamos.

Ficamos no carro enquanto dois dos seguranças arrastavam Lorenzo até a montanha de lixo, jogando-o ali. Eu ri quando Lua pegou um lenço e depois abriu o porta luvas pegando uma adaga. Assim que desceu tapou o nariz com o lenço. O fedor era realmente horrível. Eu já estava acostumado com o fedor da morte. Fedor de carne queimada, de corpos putrefatos. Isso pra mim era café pequeno.

O capuz que cobria o rosto de Lorenzo foi retirado, mas ele permaneceu amarrado, jogado sobre os sacos de lixo. O rosto ainda sangrava um pouco e agora sim eu via o terror em seu rosto. Lua se aproximou e fui atrás. Ela falou abafadamente devido ao lenço em seu rosto.

– Eu deveria mandar que fizessem o mesmo que você fez ao meu filho. Mas não iremos mais perder nosso tempo com gente da sua laia. Isso ainda é muito pouco, eu sei. Mas tudo o que quero é voltar para o meu lar, minha família. Coisa que você não terá mais. Aliás… seja bem-vindo ao seu novo lar.
– Acabe logo com isso sua puta.

Eu rosnei e levei a mão à cintura, pronto para pegar minha arma. Mas Lua simplesmente fez um gesto com a mão para que eu ficasse quieto. E eu obedeci afinal eu disse que ela estava no comando. Ela foi se aproximando, caminhando com cuidado entre os detritos e parou em frente a Lorenzo. Ele ainda estava amarrado e não tinha qualquer chance de movimento.

– Eu sou uma puta não é? Mas é você que irá gritar feito uma. Pena que não seja de prazer.

Rapidamente ela puxou a adaga e cravou em seu pescoço, retirando rapidamente. E então voltou a cravar dessa vez em sua jugular. Fez um movimento com a mão como se girasse a arma. Só me faltava Lua querer tirar as veias do cara pra fora do corpo. Ele, óbvio, não teve reação alguma. Nem ao menos poderia gritar. Apenas o som inconfundível de alguém sufocado, engasgado.

– Eu queria deixar algo mais saboroso para os abutres, mas terá que ser você mesmo.

Lua se afastou e parou ao meu lado, a adaga suja de sangue ainda em sua mão. Desprovidos de qualquer emoção ficamos observando o homem que se acabava em sangue, os olhos esbugalhados e o corpo se mexendo em tremores.

– Missão cumprida chefe? – Eu brinquei e ela sorriu ainda olhando para Lorenzo.
– Praticamente. O resto agora não é conosco.
– Senhor Aguiar? Para onde levaremos o corpo? – Lua se antecipou respondendo a um dos seguranças.
– Deixe-o aí, Roger. Os companheiros dele já estão chegando. – Segui o olhar de Lua e vi dois cães meio esfarrapados com cara de famintos.
– Podem ir, Roger. Ele ficará aí. Quando alguém se dignar a aparecer aqui já não restará nada dele. – Os dois se afastaram e só então Lua me olhou, ainda sorrindo.
– Casa?
– Casa.
– Mas antes… – Ela pegou o charuto no bolso do blazer e levou-o aos lábios. Pegou também o isqueiro, mas eu o peguei e acendi.
– Sou um cavalheiro esqueceu?
– Jamais me esqueceria disso.

Lua deu uma longa e… sexy tragada e em seguida me entregou o charuto. Puxei longamente jogando minha cabeça um pouco para trás e olhando para o céu.

– Hora de programa família senhora Aguiar.
– Não vejo a hora.

Dei outra tragada e dessa vez imitando seu gesto mais cedo eu puxei-a para um beijo. Os gostos se misturaram provocando um frenesi incontrolável em meu corpo. Mordi os lábios de Lua e enfiei minha língua em sua boca.

– Vamos para casa, gostosa. Preciso ter você antes que nossos filhos cheguem.

Ela segurou minha mão e juntos caminhamos até o volvo, compartilhando o charuto que seria a partir de hoje o nosso companheiro nas comemorações.

[…]

Eu ria debochadamente de Lua, da sua ansiedade. Mas no fundo estava igual ou pior que ela. Andava de um lado a outro enquanto ela arrumava as malas que iríamos usar na viagem. Definitivamente ela não tinha paciência. Quantas vezes eu disse que não sairíamos imediatamente após a chegada dos nossos filhos? Eles precisavam descansar, afinal uma viagem sempre deixava o corpo meio dolorido. Tanto que ela fez que Joseph acabou indo ajudá-la. Já tinha feito a própria mala e agora a ajudava com as dela. Olhei as roupas que ela pegava e balancei a cabeça.

– Por mim não levaríamos nada. Chegando lá a gente compra tudo.
– Até parece. Estamos indo para descansar, relaxar. Se sairmos para compras será apenas por diversão e não por obrigação.

Dei de ombros e caminhei até a varanda do quarto. Tinha acabado de chegar quando vi o carro do Micael estacionar. Voltei para o quarto esperando que Sophia entrasse a qualquer momento. Pra ser sincero, eu já sentia falta dela. Agora que tudo acabou, ela voltaria com o marido para a casa que eu dei de presente. Faltava pouco tempo para o bebê nascer. Mas mesmo assim ela insistia em voltar pra casa. Obviamente desloquei alguns seguranças para ficarem na casa deles, apesar dos protestos dela.

– Posso entrar?

Sophia falou pela porta entreaberta. Notei que ela estava com olheiras e uma aparência abatida. Bem que eu quis levá-la para se distrair um pouco, mas Mel foi terminantemente contra. Isso me fez pensar se Sophia não estava tendo alguma complicação e escondiam isso de nós. Bom… acho que ela não esconderia nada de Lua. E Lua não esconderia nada de mim.

– Claro que pode anã. Entre aí. – Ela apenas me olhou com braveza mas não disse nada. Entrou com a mão sobre a barriga caminhando lentamente.
– Precisam de ajuda?
– De jeito nenhum. Você precisa é descansar. Deveria estar na cama.
– Eu ouvi o carro do Micael. Já veio me buscar. – Lua abriu a boca e se sentou pesarosamente na cama.
– Não queria que fosse
– É como dizem Lua: quem casa, quer casa. Micael insiste em irmos e ele está certo.
– Mas nem vai esperar as crianças chegarem?
– Sim. Eu falei com Micael e ele concordou.

Fui até ela e me ajoelhei a sua frente. Coloquei minha mão sobre seu ventre e ela sorriu. Sei que ainda estava temerosa, pensando que eu estivesse com raiva pelo que aconteceu ao Joseph. Mas isso para mim era passado e queria que ela soubesse que eu não guardava raiva alguma. Muito pelo contrário… queria vê-la bem.

– Sabe que eu te amo como se fosse minha irmã não é?
– Eu sei. Você só é… idiota para admitir. – Eu ri, acompanhado por Lua e Joseph.
– Não é fácil admitir que gosto de um dos amiguinhos da Branca de Neve.
– Não vou responder. Falou fingindo raiva, mas acariciou meu cabelo.
– Você sempre será bem-vinda aqui, sabe disso. Você e sua nova família.
– Eu te amo, Arthur.
– Eu sempre soube disso. – Falei rindo baixinho.
– AH MEU DEUS! – O grito de Lua quase me fez pular de susto. – ELES CHEGARAM!

Disparou porta afora com Joseph em seu encalço. Como sempre o jatinho pousou na fazenda e Chay foi buscá-los, já que quando meu pai ligou, Lua e eu estávamos meio… ocupados e não ouvi o celular.

– Vai lá também. Eu vou descendo devagar.
– Nada disso. Vou mandar o Micael subir.

Dei um beijo em seu rosto e sai apressadamente. Desci as escadas de dois em dois e corri até a porta de entrada. Vi o carro parado e Lua correndo. Senti uma coisa estranha no peito, uma alegria, uma euforia ao ver minha mãe descer com John no colo. O sorriso surgiu imediatamente em meu rosto então eu desci, tentando me controlar para não esmagá-los em meus braços. Lua já se abraçava a John com força, e Joseph foi pego nos braços pela minha mãe. Eu já estava perto do carro quando meu pai desceu balançando a cabeça e esticou o braço para tirar Lunna. Nisso Lua já tinha colocado John no chão que vinha correndo em minha direção. Abaixei-me e peguei aquela coisa pequena nos braços beijando seu rosto e rezando baixinho por ver que ele estava bem, forte e saudável.

– Que saudade de você garoto. Te amo tanto…
– Papai…

Levantei-me com ele no colo e então vi minhas duas mulheres se abraçando, beijando e rindo felizes. Apertou os braços curtos em volta do pescoço de Lua e então me encarou. A princípio ela sorriu, mas depois seu semblante se fechou.

Hey… o que eu fiz? Estava brava comigo?

Fui até ela e estiquei meu braço livre para pegá-la no colo. Ela apenas cruzou o braço em frente ao peito. Olhei para Lua e rolei os olhos.

– Os dois são meus filhos ok? John também fica no meu colo. – Passei os dedos pelas bochechas gorduchas e coradas feito as da mãe. – Não sentiu saudade do papai? Senti tanto sua falta princesa.

Então ela voltou a sorrir e praticamente se jogou dos braços de Lua para o meu. Apertei-a contra o peito e enchi-a de beijos, assim como fiz com John. Fiquei abraçado aos dois, o coração martelando forte no peito, gritando que agora sim, estava tudo como deveria estar. Mas… como sempre Lunna e seu gênio danado. Ela se remexeu e empurrou meu rosto.

– Para papai… – Meu pai riu alto.
– Ela não gosta de muita pegação hein? É durona essa daí.

Coloquei-a no chão e imediatamente ela correu até Joseph, os cachinhos dos cabelos esvoaçando e caindo em seu rosto. Ele riu, pegando a irmã no colo. Aproximei-me dos meus pais ainda carregando John.

– Obrigado. Por tudo.
– Nem precisa agradecer filho. São nossos netos. E foram dias maravilhosos. Eles nos divertiram muito.
– Ah imagino.

Minha mãe e Lua entraram abraçadas e entramos logo atrás delas. Tínhamos muito o que curtir ainda. Muita saudade a ser curada.

Horas depois da volta das crianças meu pai e eu fomos até o escritório. Ele estava com uma expressão séria e pediu para conversarmos. Sentei-me e esperei enquanto ele olhava ao redor. Depois se sentou à minha frente, os olhos astutos me encarando.

– Sabe… eu pensei que você seria sempre o homem, o mafioso frio e implacável pelo resto dos seus dias. Pensei que nunca fosse se prender realmente a alguém, apesar de ser seu desejo mais íntimo. Você é muito diferente dos outros mafiosos, até mesmo de mim.
– Nem tanto. – Respondi sem entender onde ele queria chegar.
– Sim. Você é. Quando eu estava no comando as coisas eram bem diferentes. Os negócios, quero dizer.
– Sim. Sei que está se referindo a prostituição.
– Exatamente. Engraçado que eu sempre ensinei vocês a respeitarem as mulheres, mas eu mesmo não o fazia. – Baixei meus olhos ciente de que ele falava sobre as prostitutas com as quais ele se deitava. – Nesse aspecto como em vários outros você me superou. Se recusou a deixar a prostituição em nosso meio e sempre teve uma mulher de cada vez. Muitas vezes eu ficava angustiado sabe? Sabendo que seus relacionamentos não iriam adiante e você não fosse ter seu herdeiro. Então me aparece aquela maluquinha. – Eu ri ao ouvi-lo se referir a Lua dessa forma. E ri também por me lembrar da sua invasão atrevida em minha vida. – Ah não vou ficar me estendendo. O que quero dizer é que vocês dois me surpreenderam muito. Cuidam maravilhosamente bem dos filhos apesar dos negócios escusos. Sei que você ama ser um chefe da máfia assim como ama ser um chefe de família. Mas está na hora de o criminoso sair um pouco de cena e entrar o chefe de família.
– O que quer dizer com isso?
– Quero dizer que o velho lobo Ricardo volta à ativam enquanto você se diverte um pouco com a família.
– Está querendo dizer que irá reassumir os negócios?
– Reassumir não. Somente ocupar seu lugar. Não ficarei para sempre. Esse lugar é seu e não há ninguém melhor no mundo para ocupá-lo.
– Mas… mas eu tinha pensado no Chay.
– Argh… Chay. Está lá pensando em casamento com a Mel. Não terá cabeça pra isso. E Micael logo será pai. Portanto… eu me encarregarei de tudo.

Surpreso.

Era assim que eu estava. Nunca imaginei meu pai de volta. Dona Rita não iria gostar nada dessa novidade. Mas ele, provavelmente lendo isso em meu rosto se adiantou em responder.

– Sua mãe e eu já conversamos sobre isso. E uma vez dentro da máfia, não se pode dizer que há um fim. Nunca há. Portanto, está decidido. Ou seja… nem adiantaria eu retrucar. – E eu não o faria mesmo. Tudo que sei até hoje aprendi com meu pai. Nada melhor que o grande chefão de volta a esse submundo.
– Eu não iria me opor a isso nunca. Só posso… agradecer mais uma vez. – Nós ficamos de pé no mesmo instante e logo meu pai me abraçou.
– Esses poucos, mas intensos dias ao lado das crianças fizeram um bem a mim e a sua mãe que você não faz ideia. Aquelas crianças são luz Arthur. E está na hora de você e Lua iluminarem um pouco a de vocês.

Conversamos mais um pouco. Expus planilhas e outras anotações para ele apenas para que se situasse. Logo depois voltamos a sala. Eu fiquei parado na entrada apenas olhando a cena. Minha mãe sentada ao lado de Sophia no sofá. E no chão: Lua, Joseph e os gêmeos. Estavam cercados por brinquedos. John no colo de Lua brincava com Joseph ao lado. Lunna estava sentada entre eles com a boca completamente suja de chocolate. Eu sempre ficaria assim, rindo feito um idiota sempre que olhasse minha família. E nessas horas eu me perguntava se realmente nasci para ser um mafioso.

***

Dois dias depois de reencontramos nossos filhos, pisávamos novamente em solo Porto Riquenho. Consegui convencer Lua que não era legal viajar no dia seguinte. Mas ela não abriu mão de esperarmos apenas dois dias. Por um lado eu a entendia. Apesar de todo aquele jeito de chefona ela era sensível demais. Sem contar que é mãe e isso por si só já bastava para que se preocupasse com tudo e com todos. Acabávamos de cruzar o jardim quando vi Evangeline parada, sorrindo e quase chorando ao mesmo tempo. Provavelmente muito emocionada por ver os pimpolhos que ela ajudou a vir ao mundo já tão crescidos.

– Que lugar lindo pai.
– Você vai amar isso aqui Joseph. E mais ainda quando sairmos para velejar.
– Uau… nem acredito que vamos fazer isso.
– Pois pode acreditar. – Lua vinha segurando a mão de Lunna e John.
– Não acredito que estão aqui. Oh meu Deus…
– Oi dinda. – Ela me abraçou fortemente e depois pegou as crianças no colo.
– Como estão lindos. Como estou feliz em vê-los. – Depois se aproximou do Joseph.
– E esse garotão é o Joseph não é?
– Sim dinda.

Eu havia entrado em contato com Evangeline avisando que viríamos. Contei também que Joseph agora era nosso filho. Eu não gostava quando diziam que nós o adotamos. Está certo que foi realmente assim, mas para mim era nosso filho e pronto. Ela e Lua se abraçando falando sobre assunto de mulheres, ou seja, tricotando.

– Joseph vou te apresentar a alguém.
– Quem?
– Dinda, a Brigite está solta?
– Está sim filho.

Eu assoviei e segundos depois ela vinha correndo com a língua pra fora. Já estava velha, coitada. Via a hora que ela iria me deixar. As crianças gritaram eufóricas ao vê-la. Lógico, Lunna foi a primeira a correr e agarrar-se a ela. Pelo jeito a farra estava só começando. Deixei as crianças se divertindo e entrei levando as malas. Troquei de roupa vestindo apenas uma bermuda e fui até a cozinha.

– Está faltando alguma coisa Dinda?
– Nada filho. Assim que me enviou o dinheiro eu sai e reabasteci tudo.
– Obrigado.
– Vai querer que eu fique todos os dias?
– Ficará ruim pra você?
– De forma alguma. Só perguntei porque talvez quisessem privacidade. Entretanto não posso deixar a menina Lua limpando e cozinhando.
– Agradeceria muito se ficasse. Realmente Lua precisa de um descanso.
– E você também. Sabe que já está até com os olhos mais brilhantes do que na hora que chegou?
– Além do lugar ainda tem a companhia.
– Então divirtam-se. Deixe que eu tomo conto de tudo.

Dei um beijo na bochecha rechonchuda e segui para o jardim, de onde vinham gritos e risadas. Estaquei assim que vi a minha família se divertindo. Sorrindo, eu me sentei na grama, as pernas encolhidas junto ao peito. Lua usando short e camiseta esguichava a mangueira nas crianças que estavam apenas de calcinha e sunga. Elas corriam desajeitadamente tentando fugir da água, muitas vezes sendo atropeladas por Brigite. Eu ri alto quando a cadela atropelou Lunna e ela rolou pela grama, mas ainda assim dando gritinhos de pura euforia. Joseph corria com John, ambos rindo loucamente. Eu também ria feito um idiota. E então ela me olhou, sorrindo, molhada dos pés à cabeça.

– Vem amor…
– Daqui a pouco.

Por ora eu queria ser mero espectador da cena mais perfeita que minha mente pequena jamais sonhou presenciar. Às vezes eu pensava ser meio bipolar ou até mesmo alguém que perde sua essência com extrema facilidade. Como pode alguém que já matou, espancou, violentou, tudo friamente sem nem ao menos olhar pra trás de repente se emocionar com essa cena?

Acredito que ninguém é totalmente ruim nem tampouco cem por cento bom. Claro que toda regra tem exceção e alguns são realmente ruins, sem um traço de bondade. Esses nasceram e morrerão assim. Mas eu acredito que bons sentimentos, principalmente aqueles direcionados a uma mulher ou a filhos mudem as atitudes de alguns homens, não a essência.

Eu seria eternamente aquele bronco, implacável e cavalo como Lua dizia. Aquele que não hesitaria em estourar os miolos de quem o merecesse. Mas isso não me impediria de demonstrar o quanto eu amava aquelas quatro pessoas que se divertiam logo à minha frente.

Eu mudei em vários aspectos. Em outros eu não mudaria jamais. E estava feliz assim. Minha esposa e meus filhos assim me aceitavam. Com todos meus erros, acertos, com toda minha bipolaridade. E eles aceitavam simplesmente por saberem que eu os protegeria e amaria acima de qualquer coisa. Anjo e demônio sempre estariam vivos dentro de mim. Mas eu daria um jeito de fazê-los conviver em harmonia, especialmente quando o assunto fosse eles.

– Papai… – John gritou e eu me levantei sorrindo, pronto para me juntar a eles. Enquanto eu me aproximava Lua virou a mangueira em minha direção, molhando-me completamente.
– Hum… você é poderosa, mas não é duas. Não deveria ter feito isso Lua.

A compreensão do que eu pretendia veio tarde demais. Antes que ela pensasse em correr eu já a segurava, apenas um braço fortemente em volta da sua cintura e a mangueira sobre sua cabeça.

– Deus… você vai me afogar Arthur.

Eu ri alto e joguei a mangueira ao chão. Ela tentou me empurrar e ao fazer isso seu pé se enroscou na mangueira. Ela se desequilibrou e antes que ela caísse eu me joguei na grama puxando seu corpo sobre o meu. Rimos feito dois idiotas.

– Amo você meu poderoso.
– Você não sabe, mas eu te amo muito mais.
– Não vamos deixar isso morrer… por favor.
– Per sempre… Lua mia.

Nossos lábios se encontraram apaixonados, mas por um breve instante. Logo uma mão gorducha se enfiou em meus cabelos. Nem precisei abrir os olhos para ver de quem se tratava. Lua se jogou ao meu lado, rindo. Entrelacei nossas mãos e um corpo pequeno e atrevido se enfiou ali no meio de nós. Só queria ver como iríamos driblar Lunna mais tarde. Mas por hora bastaria viver o momento. Era tudo que precisávamos. O diabinho saía de cena e dava lugar ao anjo. Só não sei até quando.

Continua...

Se leu, comente! Não custa nada.

Olá? Boa noite!

Aaah... <3 que finalzinho de capítulo mais lindo! Essa família merece toda felicidade e momentos assim de diversão. Já passaram por poucas e boas... agora chegou a hora de aproveitarem.

Faltam só mais 2 posts e the end </3

Com mais de 10 comentários, postarei o próximo capítulo.

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