O Poderoso Aguiar | 53º Capítulo | Parte 1

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O Poderoso Aguiar
53º Capítulo – Começo do Fim | Parte 1

Pov Lua

Eu sei que muita gente pode pensar que sou maluca, safada ou até mesmo mulher de bandido. Mas eu pouco me importava. Cada vez mais eu sentia um puta orgulho do meu marido. Seu apelido não era mera coincidência. Ele é mesmo poderoso… em todos os sentidos.

Meu Deus… quando eu poderia imaginar que ele iria descobrir o maldito apenas pelo olhar? Porque sinceramente… eu não o reconheci. Seu rosto estava muito diferente. Mas Arthur enxergava bem além do que qualquer mortal. Confesso que no começo pensei que Arthur estivesse surtando. Sua ânsia em pegar Dom Matteo era tanta que ele bem poderia estar delirando. Óbvio que não falei isso pra ele, senão o coice seria tão forte que eu estaria correndo até hoje. Entretanto bastou Micael colocar os olhos na foto e ele afirmou o que Arthur dizia. Era mesmo o bandido. E meu peito, claro, estufou de orgulho. Depois disso, como não poderia ser diferente, Arthur parecia possuído. Estava nos cascos, pois pra ele tudo tinha que ser na hora. Mas ele bem sabia que nesse caso não poderia haver falha. Todos os detalhes teriam que ser friamente planejados. Vou dizer a verdade: não sei se Dom Matteo era louco ou era burro mesmo. Achava mesmo que Arthur me deixaria sem proteção alguma? Tá... admito que saber que ele sempre mandava investigar os meus “clientes” foi uma novidade. Mas ele sempre estava atento a minha segurança. Aquele velho maluco achava mesmo que iria me pegar tão fácil assim? Eu nunca vi uma reunião com tantos homens em toda minha vida. Nem fazia ideia de que Arthur possuía todo esse “arsenal”. Onde eles ficavam escondidos? Alguns deles nunca vi na vida.

Arthur virou noite juntamente com os rapazes analisando tudo, desde quando foi marcado meu encontro com Dom Matteo. Velho babão… eu consegui perceber suas intenções somente em conversar com ele por telefone. Só deixou meu marido mais sedento por ele. O pior de toda essa situação foram as mudanças que tivemos que fazer em nossa rotina. Sinceramente eu achava que não era necessário, mas Arthur bateu o pé… tanto falou que Lunna e John foram tirados do país juntamente com meus sogros. Foi terrível me despedir deles… e mais terrível ainda ver a dor de Arthur. Era um pai completamente apaixonado por seus filhos.

Através do espelho eu olhei a figura sentada em minha cama, cabisbaixo. Arthur era tão apaixonado pela família que quase desistiu de tudo quando Joseph se recusou a sair do país também. Justo ele que sempre foi obediente, acatava tudo o que falávamos sem nunca retrucar… Seu argumento foi até convincente pra mim: ele queria ficar perto de Sophia. Ela iria precisar dele nem que fosse para segurar suas mãos. Arthur entrou em pânico absoluto. Mas depois de muita conversa, muita choradeira e a promessa de Joseph de que não iria sair de perto de Sophia ele acabou concordando. Triplicou a segurança da casa onde ficaram Sophia, Joseph e Melanie.

– Mãe?
– Sim, Joseph?
– Acha que meu pai ainda está com raiva de mim? – Coloquei a escova de cabelo sobre a penteadeira e me sentei ao lado dele na cama, segurando sua mão.
– Ele não estava com raiva de você, meu amor. Nunca esteve. Ele só ficou nervoso. Ele queria você em segurança juntamente com seus irmãos.
– Mas eu sou o homem da casa depois dele… ele mesmo disse isso. Sophia não pode ficar sozinha mãe. – Torci meus lábios.
– Eu sei disso, mas seu pai sabe ser cabeçudo quando quer. Sophia anda meio nervosa também e Mel a proibiu de viajar. Mas Arthur… bem… você conhece seu pai tão bem quanto eu.
– Sim. Mas hoje ele nem conversou comigo.
– Nem comigo, Joseph. Mas eu conversei com ele ontem… e foi isso que ele me disse. Ele só está nervoso, preocupado com você. Filho… ele jamais irá se perdoar se algo acontecer a você.
– Eu sei… mas eu irei me cuidar. Além disso, ele colocou os melhores seguranças aqui.
– Eu sei… mas nossa segurança já falhou uma vez e sei que ele tem medo de… – A voz áspera e ao mesmo tempo aveludada me interrompeu.
– Já falhou, mas não falhará mais… ou eu mesmo cuidarei de cada um desses seguranças.

Joseph baixou a cabeça novamente ao ouvir a voz do pai. Olhei para Arthur quase suplicando. Mas nem precisava… os olhos dele brilhavam… tristes e cheios de dor. Ele se aproximou calmamente e se sentou ao lado do Joseph, deixando-os entre nós dois. Passou um dos braços sobre os ombros dele e o puxou para mais perto.

– Tem noção do quanto vocês quatro são importantes pra mim? Não vou negar que senti um orgulho imenso de você… por ter esse coração maravilhoso… querendo ficar aqui para fazer companhia a Sophia. Mas entende também que eu queria você em segurança junto com meus pais e seus irmãos?
– Mas eu estou seguro aqui. Eu confio plenamente no senhor e sei que nada de mal vai nos acontecer. – Os olhos de Arthur se encontraram com os meus antes que ele o abraçasse com força.
– Eu espero mesmo que tenha feito a coisa certa. Eu jamais me perdoaria… – Estendi minha mão e afaguei o braço de Arthur tentando mostrar a ele que eu também confiava plenamente nele. Confiava minha vida a ele.
– Cuide bem da duende. Sabe como ela é maluca.
– Eu vou cuidar.

Arthur beijou os cabelos dele e por sobre sua cabeça voltou a me olhar. Eu sorri para ele e ele apenas fechou os olhos sorrindo também.

– Agora vá se deitar. Já está tarde e amanhã teremos um dia longo.
– Eu já estava indo. Boa noite pai. Boa noite mãe.
– Boa noite meu querido. Daqui a pouco irei lá ver você. – Assim que Joseph saiu, Arthur se jogou na cama com os braços sobre os olhos. – Amor… não fique assim. Já conversamos.
– Estou me sentindo um bundão… me deixando levar por uma criança.
– Ele quer ser útil. E outra… acho que o medo dele de nos perder é tão grande que ele quer ser um dos primeiros a nos abraçar quando estivermos livres do maldito. – Ele tirou o braço do rosto e me encarou com o cenho franzido.
– Acha mesmo?
– Com certeza.
– Mas ainda assim, eu preferia que ele estivesse com meus pais. Aliás você bem que poderia ficar aqui e….
– Pode parar! Argh… você é muito teimoso Arthur. A verdade é que não gosta de ver suas ordens contrariadas.
– Nem comece. Você sabe que estou certo.
– Está certo quanto a segurança. E eles estarão bem seguros aqui.
– E você? Pronta para a nossa festa? – Ele perguntou mudando de assunto e eu me deitei sobre ele.
– Totalmente preparada. Não vejo a hora de ver meu poderoso em ação… pegando aquele vagabundo de jeito.
– Estou com tanta gana dele Lua. Confesso que estou até com medo de mim.
– Medo de você? Então você está com mais sede do que imaginei. Você não tem medo de quase nada.
– Eu preciso me controlar Lua…
– É?

Eu perguntei já abrindo os botões de sua camisa e me esfregando de encontro a ele, rebolando meus quadris de forma convidativa e mordendo e repuxando seus lábios. Ele gemeu, agarrando minha cintura.

– Sim… preciso controlar minha ansiedade ou irei matá-lo com apenas uma mão. Sou capaz de esmagá-lo.
– Uau… então acho melhor extravasar comigo primeiro não é?

Ele nem ao menos me respondeu. Simplesmente girou o corpo colocando-se sobre mim… e extravasou seu nervosismo.

***

Eu estava incrivelmente calma. Arthur repassou o plano milhares de vezes e não teria como dar errado. Lógico que Arthur me lançou um olhar do tipo: “vai ver quando chegarmos em casa”, assim que me viu usando o vestido negro e sexy, perfeitamente ajustado às minhas curvas.

O velhote tinha me ligado horas antes confirmando sua presença. Obviamente quando chegamos os olhos de águia de Micael e Chay imediatamente captaram a presença de dois homens de Dom Matteo. E logo foram aniquilados. Nesse momento tive certeza que o velho realmente achava que estava me enganando. Ah tudo bem… admito que se Arthur não tivesse o cuidado de sempre e pesquisado sobre o tal Juan…. Eu estaria ferrada!

Agora era só esperar o nosso patinho chegar. E pouco tempo depois ele chegava. Tentei enxergar Arthur do outro lado, mas estava absurdamente escuro. Entretanto sei que ele me via. Danado… ele sempre dava um jeito de me deixar sob suas vistas. Cocei meu queixo pensando se ele já havia dado pelo menos um trago. Ele riu de mim quando saímos de casa. A primeira coisa que perguntei foi se ele havia trazido charuto. Arthur fumando era uma imagem fodidamente sexy. E hoje seria ainda mais. Todo de negro, com aquele sobretudo que lhe conferia um ar ainda mais poderoso e aquele chapéu… ah… Jesus… tive pensamentos altamente eróticos com aquilo. Balancei minha cabeça e inspirei. Isso lá era hora de sair do foco? Que coisa mais amadora… e safada.

– Ande logo Pietro. Não vejo a hora de colocar as mãos naquela vadia gostosa. Vai ser a glória ver a queda do maldito Aguiar.

Velho puto, escroto, filho da mãe. Somente meu marido tinha o direito de me chamar de vadia e gostosa. Onde já se viu tanto atrevimento? Pois muito bem, velho maldito… hora de agonizar nas mãos do meu marido. Ergui, minha perna e ajeitei a arma presa em minha coxa. Ajustei minha escuta e assim que a porta do velho galpão se fechou eu sai do “esconderijo” e caminhei até lá. O barulho dos meus saltos absurdamente altos era o único som que se ouvia naquele fim de mundo. A porta estava entreaberta e apenas a empurrei. O sangue circulou rapidamente em minhas veias ao ver o ser escroque sentado na cadeira, completamente à vontade e o seu segurança ao seu lado.

– Boa noite.
– Oh… boa noite senhora Aguiar. Chegamos praticamente juntos.
– Como vai? – Eu falei secamente e fui obrigada a estender a mão e segurar a do vagabundo. Estremeci em repulsa ao sentir sua boca no dorso da minha mão.
– Encantado. É uma mulher belíssima senhora Aguiar.
– Obrigada. É o que meu marido me diz todos os dias.
– É um homem de grande sorte.
– Vamos deixar de conversa e vamos direto ao assunto? Eu tenho outros clientes aguardando por mim.
– Ah… claro. Perdoe-me. É uma mulher muito requisitada.
– Certamente. – Sentei-me e cruzei as pernas tomando o cuidado para que não aparecesse minha arma.
– Hum… posso fazer apenas uma pergunta? – Ergui minha sobrancelha esperando.
– Veio sozinha?
– Obviamente não. Meu motorista ficou no carro.
– Ah… que alívio. Não é bom ficar andando sozinha por aí. Nunca se sabe com quem pode encontrar não é? – Ignorei e o encarei passando a mão pelo cabelo.
– Diga-me… o que espera dos meus serviços?

Ele olhou para o homem feio ao seu lado e deu ordem para que o aguardasse do lado de fora. Mais uma vez Arthur acertou. Era isso mesmo que o porco faria. Enquanto o segurança saía, provavelmente tentando anular o meu… Dom Matteo tentaria contra mim.

– Ouvi falar muito bem de você. Eu não sou daqui, como deve ter visto nos documentos que mandei. Mas antes procurei saber com quem iria poder contar. E me disseram maravilhas a seu respeito.
– Realmente meus clientes sempre ficaram satisfeitos. Proteção total vinte e quatro horas por dia. –  Ele se levantou e deu a volta parando atrás de mim e colocando a mão sobre meu ombro nu.
– Claro… um bom serviço prestado por uma delícia dessa. Deveriam mesmo ficar satisfeitos não acha? – Eu me levantei e andei ficando de costas pra ele.
– Eu acho que você deveria se conter, antes que eu arrebente sua cara. – Ele riu alto.
– Arrebenta mesmo?

Falou e em seguida eu ouvi um clique. Virei-me de frente pra ele e o vi com a arma apontada para minha direção. Dei um passo e me apoiei na mesa, as duas mãos espalmadas. Imediatamente os olhos demoníacos pousaram em meu decote.

– Pode apostar que sim. Eu não sou esposa do poderoso por acaso.

Ele gargalhou novamente jogando a cabeça para trás. Num gesto muito rápido eu saquei minha arma e já apontando para sua mão eu disparei. Ele berrou deixando a arma cair no chão.

– SUA VADIA! – Ele avançou sobre mim pegando-me de surpresa, mas rapidamente me recuperei acertando o cotovelo em seu nariz.
– Venha.

Falei pela escuta e no mesmo instante a porta foi aberta. Óbvio… ele já estava a postos. Dom Matteo com a mão ferida ainda deu um passo tentando alcançar sua arma, mas novamente eu fui mais rápida e chutei-a. E ela parou bem ali… aos pés da figura enorme que acabava de entrar. Só eu mesma conseguia ter alguns pensamentos nessa hora. Céus… eu me molhei toda ao ver Arthur entrando todo imponente, o sapato caro sobre a arma que eu acabara de chutar. Dom Matteo arregalou os olhos quando Arthur ergueu um pouco o chapéu deixando seu rosto a mostra.

– Olá… há quanto tempo… DOM MATTEO. – Ele se encolheu contra a parede, olhando para os lados procurando fuga.
– PIETRO! PIETRO!
– Quem é Pietro? Aquele que meus homens acabaram de jogar aos urubus?

Com apenas uma passada larga Arthur ficou cara a cara com ele e antes que eu sequer pensasse no que ele iria fazer Arthur desferiu um soco certeiro em seu rosto jogando-o ao chão. Colocou o pé sobre a barriga dele, forçando levemente e apontando a metralhadora em sua cabeça.

– E então, franguinha… pronto para brincar um pouco?
– Você é louco… maldito… não sei do que está falando. Não sou esse tal Dom Matteo. – Arthur forçou ainda mais o pé em sua barriga fazendo-o berrar de dor.
– Ah não? Que pena. Eu me enganei. Mas vamos nos divertir assim mesmo. Do jeitinho que você gosta, seu pedófilo filho da puta.

Aproximei-me e com o salto fino do meu sapato passei sobre a mão dele que berrou novamente.

Arthur agachou-se e com um gancho de braço ergueu Dom Matteo pelo pescoço. Jogou-o sentado na cadeira com tanta força que ele quase caiu para trás juntamente com a cadeira.

– Olha só se não é nosso homem. – Micael falou entrando juntamente com o Chay.
– Tudo certo chefe. Não há mesmo nenhum homem desse maldito por aqui.
– Excelente.

Arthur se sentou na ponta da mesa de frente pra ele e eu me sentei na outra ponta. João, Bernardo e Enrico se juntaram a Chay e Micel, todos eles apontando armas para o velho.

– Você começa, amor? – Arthur perguntou me olhando de esguelha.
– Hum… sim. – Encarei o velho que tremia sem parar, mas evitava olhar pra mim ou para Arthur.
– Quem mais sabe disso Dom Matteo? Quem mais sabe que você mudou completamente seu rosto?
– Eu não sei do que estão falando. Nunca ouvi falar nesse Dom Matteo.

Arthur suspirou com raiva e se levantou. Parou atrás de Dom Matteo e com as duas mãos deu um tapa forte nos dois ouvidos ao mesmo tempo. O tão famoso “telefone”. E foi um tapa tão forte que o velho gritou e chegou a revirar os olhos.

– Pronto! Acho que agora você deverá ouvir melhor o que minha esposa perguntou. Repita, por favor, Lua.

Repeti a pergunta, mas dessa vez ele apenas se calou. Nem mesmo olhava para nós e sim para o chão. Mais uma vez Arthur se levantou e repetiu o gesto. Dessa vez Dom Matteo chegou a se erguer um pouco da cadeira e pouco depois eu percebi um leve sangramento em seu ouvido direito.

– Não é possível que está tão surdo assim! Agora responda seu filho da puta! – Arthur vociferou, quase trincando os dentes e levando a mão até a arma.
– Só… somente Lorenzo sabe disso.

Lorenzo… eu já tinha ouvido falar nele. Pelo que Arthur tinha dito certa vez ele era uma espécie de braço direito de Dom Matteo. Até onde sabíamos ele entrava apenas com o dinheiro. E foi um dos poucos a escapar na época da prisão de Dom Matteo.

– E onde Lorenzo está agora? Aqui mesmo?
– Eu… eu… não sei. – Seu tom de voz já denunciava sua mentira.
– Micael.

Arthur falou tão baixo que foi quase impossível ouvir. Então Micael se adiantou e fez o mesmo que Arthur. O velho berrou e sua cabeça tombou para frente, o sangue escorrendo em maior quantidade de seu ouvido.

– Ele… ele está… em Roma.
– Excelente. Chay… já sabe o que tem que fazer.
– Perfeitamente.
– Bom… cansei desse lugar. Amarrem-no e levem para o carro. Iremos dar um passeio.

Enquanto os homens cumpriam as ordens de Arthur, ele me segurou pela mão e juntos saímos da pequena sala em direção a limusine. Entramos e pouco depois Chay e João jogavam Dom Matteo lá dentro.

– Viu como posso ser simpático? Estou te levando para dar uma volta de limusine. Aproveite a viagem. – Nisso ele me puxou para o seu colo e beijou minha boca. – Agora começará efetivamente nossa diversão querida. – Sorri e voltei a beijá-lo.


Mesmo depois de entrada na máfia, algumas coisas ainda me chocavam. Tudo bem que já matei e já até cheguei a torturar. Mas certos tipos de tortura eu nunca presenciei e sinceramente não sei se teria estômago pra isso. Mas Arthur tinha um olhar febril, quase insano. Sei que nessa hora ele pensava em Joseph e em todas as crianças que Dom Matteo abusou. Pensava em minha mãe morta a mando dele. E seu ódio só parecia aumentar a cada segundo.

Estávamos em um dos galpões e imediatamente eu notei o quanto ele estava diferente desde a última vez em que estive aqui. Alguns aparelhos que eu bem sabia seriam usados como meio de tortura, mas eu sequer sabia de que forma eram usados ou quais danos causavam ao torturado.

Micael e João entraram arrastando Dom Matteo somente de cueca e já o levaram direto para uma barra de aço. Logicamente isso tudo foi combinado entre eles longe da minha presença. O velho era fraco demais comparado aqueles dois brutamontes. Sério… João e Micael eram muito fortes.

Colocaram-no de cabeça para baixo, as pernas passando sobre a barra e os braços por baixo dela, amarrando-as em seguida, assim como os pés. Sentei-me numa poltrona, a arma ainda em punho enquanto observava meu marido dar a volta ao redor de Dom Matteo checando tudo.

Bernardo trouxe um balde com água e jogou sobre Dom Matteo, a surpresa do gesto fazendo-o engasgar. Com o corpo molhado ele teve fios presos aos seus pés, mãos, ouvido. Os fios estavam ligados diretamente a uma máquina e eu logo deduzi o que iriam fazer.

Não tive tempo para pensar se aquilo iria me fazer mal ou não. Com um sorrisinho diabólico Chay foi até a máquina e a ligou. O grito ensurdecedor tomou conta do ambiente e em seguida parou. Dom Matteo respirava com dificuldade, bufando e se debatendo como se isso fosse ajudar em alguma coisa.

– Sabe… – Arthur começou a falar andando em volta dele.
– Esse grito que você deu não deve chegar perto do grito daquelas pobres crianças que você abusou. A dor que você sentiu agora…

Ele ficou bem próximo a Dom Matteo e de onde eu estava podia ver seu maxilar trincado e se movendo, típico de quando ele estava possesso.

– A dor que você sentiu nem se compara com a dor que você infligiu às suas vítimas. E ao JOSEPH!

Ele berrou e olhou para o Chay que voltou a ligar a máquina. Girei minha cabeça e fechei meus olhos com força como se isso aliviasse o som daquele grito horrendo em minha cabeça. Sinceramente? Apesar disso eu não conseguia sentir pena dele. As palavras de Arthur ainda martelavam em minha mente. A dor do nosso filho… a dor que ele deve ter sentido não só fisicamente quanto psicologicamente. Isso já era mais do que suficiente para que ele sofresse.

Eu não fazia ideia de quais eram os planos de Arthur. Às vezes eu via que ele estava mais do que ansioso para acabar de vez com a vida de Dom Matteo. Mas me parecia que ele mudava de ideia no último segundo. Queria ver a dor do velho.

– Deixem-no aí por enquanto.

Arthur se sentou no chão à minha frente no meio das minhas pernas. Acendeu o charuto, deu uma longa tragada e depois tombou a cabeça para trás colocando-a em meu colo. Seu olhar se encontrou com o meu e fiquei um pouco angustiada. Apesar de tudo… ele não me parecia feliz. Ou eu estava enganada?

– O que foi? – Dom Matteo ainda gritava de dor fazendo com que Arthur desviasse o olhar erguendo a cabeça.
– Ensine-o a ficar calado Chay.

Vi Chay pegar a enorme palmatoria mas nem continuei a olhar. Desviei meus olhos voltando a olhar para Arthur. Os gritos voltaram a dominar o galpão.

– Pensei que estivesse… insatisfeito por… sei lá.
– E estou. Foi fácil demais. Pensei que teria um adversário à altura. Confesso que estou entediado. – Fiquei encarando-o sem saber se ele falava sério ou se brincava comigo. Não me pareceu brincadeira.
– Quando… isso vai terminar?
– Logo. Como disse já estou entediado.

Arthur ainda ficou nessa posição um bom tempo até que por fim com apenas um sinal os rapazes se moveram. Tiraram Dom Matteo e o deitaram no chão.

– Pode tentar fugir se quiser velho. – Obviamente ele nem conseguiu se mexer. Ficou deitado no chão em posição fetal gemendo de dor.
– Ai... ai... que pena… tão fraco. – Arthur se levantou e se aproximou dele. – Detesto ter que fazer isso com gente tão fraca. Bom… mas não se pode ter tudo na vida não é?
– Acabe… logo com isso desgraçado. – Arthur riu alto e os rapazes o imitaram.
– A princesinha está com pressa de morrer? Oh… que dó. Mas eu irei satisfazer seu desejo daqui a pouco. No entanto antes eu irei satisfazer um desejo maior ainda que eu sei que você tem.

Ok. Eu não estava entendendo muita coisa, mas pela risada dos rapazes deveria ser coisa bem pior do que fizeram até agora.

– Lua… acho melhor ficar de costas. Não quero que veja esse velho decrépito nu.

Eu me virei imediatamente, mas ouvia a movimentação. Ouvi o barulho de cordas sendo puxadas e os gritos. Não resisti e olhei para trás. Dom Matteo estava com as mãos para cima e as pernas abertas. Micael e João puxaram as cordas, esticando-o ao máximo. Juro que cheguei a ouvir suas juntas estalando. Credo… aquele velho nojento nu era a visão do inferno.

– Está na hora da salada de fruta chefe?
– Isso aí, Micael. Se bem que pra ele não será uma salada completa, já que ele irá receber apenas a pera.

Pera?

Que diabos era isso? Então eu vi Micael pegar algo e o erguer. Era um instrumento em formato de pera mesmo. Como se quisesse demonstrar Micael girou a base e a pera se abriu. O grito que ouvi foi o mais terrível que já ouvi até hoje.

– Não… eu imploro… me mate…
– De prazer? – Os homens gargalharam.
– Podemos ir Chefe?
– Deve ir Micael. Ele já deve estar excitado.
– Ah… e como está. – Micael foi se aproximando dele, enquanto Dom Matteo se debatia inutilmente, olhando para a pera nas mãos dele.
– Está com medinho? Mas você fez isso com tanta garotinha… E com MEU FILHO, seu desgraçado. VAI MICAEL… ele não vê a hora de se tornar uma mocinha.

Voltei a virar o rosto, a respiração ofegante e os olhos arregalados. Aquele instrumento nas mãos… as palavras de Arthur. Não era difícil imaginar o que eles fariam. E o que aquela pera faria com Dom Matteo. Levei minha mão a testa e fechei os olhos. Sou forte… forte até demais, mas dessa vez não sei se teria estômago para ver isso, ou sequer imaginar o que viria agora.

Pov Arthur

Não protelei muito. Ergui o braço e bati o cotovelo com toda força em seu rosto, ouvindo o som de provavelmente seu nariz sendo quebrado. Ele caiu ao chão eu fui me afastando.

– Bernardo e Chay… cuidem dele. – Fiz meia volta voltando a prestar a atenção na conversa entre Lua e o velho.
– Claro… um bom serviço prestado por uma delícia dessa. Deveriam mesmo ficar satisfeitos não acha?

Apressei meu passo e logo já estava à porta do galpão esperando apenas o sinal de Lua. Já estávamos preparados para um ataque de Dom Matteo e combinamos passo a passo o que iriamos fazer.

– Eu acho que você deveria se conter antes que eu arrebente sua cara. – Ele riu alto.
– Arrebenta mesmo?
– Pode apostar que sim. Eu não sou esposa do poderoso por acaso. –  Eu já estava pronto para agir quando ouvi o tiro.
– SUA VADIA! – Sorri pois sabia que a minha poderosa tinha acertado o maldito. Logo depois ouvi sua voz.
– Venha.

Entrei justamente quando uma arma, provavelmente chutada por Lua veio parar aos meus pés. Meu sangue fervia, a fúria tomando conta de mim e eu tentava me controlar ou iria matá-lo ali mesmo, sem sequer fazer com ele tudo o que ele merecia. Ergui um pouco meu chapéu e nesse momento eu vi o terror no rosto dele. Era isso que eu gostava. Ver o medo no rosto daqueles que ousavam me desafiar. E com Dom Matteo tinha um gostinho todo especial.

– Olá… há quanto tempo… DOM MATTEO.

Ele se encolheu contra a parede, olhando para os lados procurando fuga. Porra… como eu queria estar filmando esse momento. Ver aquele rato tentando fugir, quase se borrando nas calças ao ficar cara a cara comigo. Seu medo, seu desespero era pura e simplesmente por ver que ele não conseguiu me enganar, mesmo com a aparência modificada.

– PIETRO! PIETRO!
– Quem é Pietro? Aquele que meus homens acabaram de jogar aos urubus?

Sinceramente eu estava mais puto por ver que ele era um fraco. Como alguém tão frouxo conseguiu escapar de mim por tanto tempo? Coloquei o pé sobre a barriga dele, forçando levemente e apontando a metralhadora em sua cabeça.

– E então franguinha… pronto para brincar um pouco?
– Você é louco… maldito… não sei do que está falando. Não sou esse tal Dom Matteo.

Ele gritou de dor quando forcei ainda mais o pé em sua barriga e em seguida a minha poderosa passou por ele. Os saltos altos e fino esmagando a mão daquele verme. Com um gancho de braço eu o ergui do chão jogando-o contra a cadeira. Era hora de ele começar a sofrer um pouco mais.

Mesmo com um sentimento quase doentio de vingança eu não conseguia desligar minha mente de outras coisas. Uma delas era Lua. Apesar de ter provado infinitas vezes que essa era a vida dela, Lua nunca participou de uma sessão de tortura como essa. Sei que ela é forte e atrevida como ninguém, além de nutrir um sentimento de vingança tão forte quanto o meu. Mas eu me perguntava até quando ela iria suportar? Sem que ela percebesse eu analisava suas ações esperando uma mostra de que estaria demais pra ela como expectadora. Ela não me pareceu abalada quando Dom Matteo foi levado à barra de aço, onde teve seu corpo molhado e depois ligado a fios numa máquina de choque. Pelo contrário, ela estava divinamente sentada numa das poltronas, a arma em punho e as pernas cruzadas. Aquela imagem tentadoramente sexy me fazia ter pensamentos nada apropriados para o momento. Se não estivéssemos cercados por tantos homens eu fatalmente deixaria Dom Matteo na geladeira enquanto me divertia com minha esposa. Mas agora não era hora de pensar nisso, merda. Lua sempre conseguia me fazer perder o foco.

Entretanto quando Chay ligou novamente a máquina, e dessa vez as ondas de choque foram ainda mais fortes Lua virou o rosto e fechou os olhos como se quisesse tirar a visão e o som dos gritos a força de sua mente.

–Deixem-no aí por enquanto.

Sentei-me no chão, entre as pernas de Lua, acendi o charuto e deitei minha cabeça em seu colo, buscando seu olhar. Apesar de tudo eu não estava feliz. De certa forma eu me igualava a Dom Matteo ao infligir esse castigo a ele. Mas era assim que deveria ser. Algumas pessoas não entendiam outra linguagem, portanto… o mal deveria ser pago com o mal.

Fraco… frouxo… abutre dos infernos que nem sabia lutar com dignidade. Era nisso que pensava enquanto observava aquele traste deitado no chão em posição fetal.
Agora seria uma das piores partes. Sei que Lua não aguentaria presenciar isso então dei a desculpa de que não queria que ela o visse nu. Os rapazes tiraram a cueca dele e o corpo medonho ficou exposto.

– Está na hora da salada de fruta chefe?
– Isso aí Micael. Se bem que pra ele não será uma salada completa, já que ele irá receber apenas a pera.

Ao ouvir isso ele gritou, berrou… e implorou. Sim… o maldito estava implorando. Justo ele que nunca se importou com o protesto daquelas crianças, destruindo a dignidade delas, acabando com a infância e torturando a mente delas com atos tão grotescos, para dizer o mínimo. Eu não iria me arrepender disso. Ele precisava sentir na pele tudo o que elas sentiram.

Novamente o corpo nojento daquele velho foi esticado ao máximo enquanto ele berrava de dor. Braços e pernas abertos, amarrados… completamente nu. Lua permaneceu de costas. Ver aquele traste nu a faria ter pesadelos com certeza.

– Podemos ir chefe?
– Deve ir Micael. Ele já deve estar excitado.
– Ah… e como está. – Micael foi se aproximando dele, enquanto Dom Matteo se debatia inutilmente, olhando para a pera nas mãos dele.
– Está com medinho? Mas você fez isso com tanta garotinha… – Aproximei-me dele, a fúria assassina estampada em meu rosto.
– E com MEU FILHO, seu desgraçado. Vai Micael... ele não vê a hora de se tornar uma mocinha.

Micael era perverso… sempre foi. Só ouvi o berro de dor do velho que agora sentia na pele, o que era uma violência sexual.

Olhei pra Lua que estava com a mão sobre a testa como se estivesse prestes a ter um colapso. Ela não viu, mas sabia perfeitamente o que aquele instrumento faria. Dom Matteo gritava, berrava enlouquecidamente. E o pior ainda nem tinha vindo.

Micael continuava sorrindo e me olhou esperando aprovação. Apenas afirmei com a cabeça e então ele girou a ponta da pera. O grito que se ouviu foi o mais agonizante que já ouvi em toda minha vida.

– MALDITO… ESTÁ… ME ARREBENTANDO! – Os rapazes riram e debocharam.
– Vai ficar arrombadinha putinha. Homem nenhum vai querer você de novo.

Pelo canto do olho eu vi que Lua respirava com dificuldade. Corri até ela e a abracei, prensando meus lábios em seus cabelos.

– Você não precisa presenciar isso para me provar que é forte. Você já me provou de várias formas.
– Eu sei. Só que… eu fico imaginando as crianças e… preciso estar aqui para ver o sofrimento dele. Às vezes fico me perguntando se isso não é muito sádico ou…
– Eu sei o que você quer dizer. – O cheiro desagradável tomou conta do ambiente ao mesmo tempo em que cessaram os gritos. Dom Matteo desmaiou… de dor.
– Ele não aguentou chefe.
– Podem tirá-lo daí, mas deixem amarrado de bruços naquela mesa. Quero que ele recupere a consciência logo e nessa posição será mais demorado. – Voltei novamente minha atenção pra Lua deslizando meu dedo pelo seu rosto.
– Vamos lá pra fora um pouco. É bom que vou tentar falar com o Chay ou Tania. O sinal aqui é muito ruim.
– Tania? O que tem ela?
– Ela estava em Roma há uns dias não se lembra? – Falei enquanto a conduzia para fora do galpão.
– Sim, mas em que ela poderia ser útil? Acha que se Lorenzo estiver mesmo lá eles iriam se encontrar assim por acaso? Lógico que ele não ficará dando sopa por aí.
– Eu sei que não Lua. Mas acima de tudo eu a quero em segurança, assim como Narruel. E se ela estiver em Roma ainda eu a quero fora de lá.
– Entendi. E o Chay?
– Ele saiu pouco depois que tiramos o velho da máquina de choque. Ele precisava entrar em contato com algumas pessoas em Roma.

Tirei o chapéu, encostei-me no carro e joguei o chapéu lá dentro. Passei a mão pelo cabelo e puxei Lua de encontro a mim.

– E o que você acha Arthur?
– Não sei Lua. Mas é aquela mesma sensação que tive com Dom Matteo. Algo me diz que ele não está em Roma. Talvez não esteja aqui, mas lá ele não está. Tenho quase certeza. – Nesse instante meu celular tocou e atendi imediatamente ao ver que era o Chay.
– E então Chay?
– Lorenzo não está em Roma Arthur… ele está aqui.
– Merda! – Eu me virei dando um soco no teto do carro.
– Estamos de tocaia perto do casa dele. Ha movimentação lá e acreditamos que ele está em casa.
– Ótimo. Quantos estão aí com você?
– Eu e mais quatro.
– É pouco. Reforce isso. Eu irei acabar por aqui e já estou indo.
– Sim. Eu ligo se tiver qualquer novidade. – Desliguei o celular e liguei para casa.
– O que foi Arthur?
– É como falei Lua… Lorenzo está aqui e não em Roma. – Fiz um sinal com a mão para que ela esperasse enquanto eu falava ao celular. – Sophia? Como estão as coisas por aí?
– Está tudo bem Arthur. Estamos jogando cartas na sala de jogos.
– E Joseph?
– Está conosco é claro. Está havendo alguma coisa?
– Nada demais. Não coloquem nem o nariz pela janela ou arrebento com você quando chegar aí.
– O que deu errado? Alguma coisa não está certa e...
– Sophia cale a merda da boca e apenas faça o que estou mandando. Nada de sair daí. Nem uma voltinha no jardim acompanhada de trinta seguranças, está me ouvindo?
– Perfeitamente seu grosso.
– Ótimo. E peça ao Joseph para tomar conta de você. Sei que não tem juízo.
– Ora seu filho da… – Nem esperei que ela terminasse e desliguei.
– E aí?
– Está tudo bem, mas eu não confio. Vou acabar com a brincadeira e ir atrás de Lorenzo agora.

Puxei Lua pela mão e voltei ao galpão. Dom Matteo já estava consciente e ainda gemia de dor. Fui até ele e me abaixei a sua frente, meus olhos na altura dos dele.

– Foi bom pra você?
– Mal… maldito.
– Imagino como deve estar doendo não é? Agora olhe só… eu posso acabar com isso rapidamente… ou posso prolongar sua agonia por horas. Tudo depende de você. Onde está Lorenzo?

Ele não respondeu. Engasgou com a saliva e também com sangue que escorria de sua boca. Provavelmente Micael andou lhe dando umas porradas assim que saí. Eu sabia que ele não respondia porque não estava conseguindo, mas não me permiti ser solidário nessa hora.

– Micael…

Micael puxou as cordas de um lado e Laurent do outo, estirando os músculos de Dom Matteo até um limite quase insuportável.

– Chega! – Ordenei antes que Micael arrancasse um dos braços ou pernas dele. – Pela última vez… onde está Lorenzo?

Vi o desgraçado desmaiar mais uma vez. E nem era de se espantar. Ele sangrava muito, afinal a pera ainda estava lá… naquele lugar.

– Micael… retire isso e depois coloque-o na dama de ferro.
– Com todo prazer chefe.

Fui até a poltrona onde Lua estava sentada, olhando atentamente pra mim. Assim como eu ela deveria estar pensando que chegamos na reta final. Chega de castigo, chega de tortura. Tudo o que precisávamos agora era acabar com a vida dele, encontrar Lorenzo e assim poder juntar nossos filhos novamente.

– Pronta para passarmos essa página?
– Estou pronta há horas.

Sorri, subindo meu olhar pelas pernas bem torneadas, coxas, cintura, seios… até chegar a sua boca carnuda, os lábios presos entre seus dentes. Mulher de endoidecer qualquer um.

– Pronto chefe.

Micael me tirou daqueles pensamentos libidinosos. Apenas pisquei para Lua e fiz um sinal para que ela me acompanhasse. Paramos em frente ao velho, preso dentro da famosa dama de ferro. O rosto e o dorso molhado denunciavam que Micael andou jogando água nele, talvez como forma de acordá-lo.

– Você ainda tem a chance de não sofrer muito aqui velho. Estou começando a ficar irritado. Onde. Está. Lorenzo? Ele não está em Roma não é? – Ele ainda deu um sorriso cínico.
– Não. Está… bem aqui. Eu… – Meu celular tocou e eu ignorei dando dois passos à frente.
– Diga.
– Ele… ele tem ordens… pra pegar a pequena… e a vadia gostosa.

Deu uma risada fraca. Senti algo ferver dentro de mim. Era como se meu sangue subisse pelas minhas pernas até chegar em meu cérebro com uma velocidade impressionante, queimando tudo. Falar da minha Lunna já me tirava completamente o juízo e ainda por cima Lua também? Isso não… homem nenhum nesse mundo tocaria em minhas mulheres. Cego de ódio eu avancei até ele pegando o punhal na mesa ao lado e cravando-o em sua barriga, o sangue quente rapidamente encharcando minha mão. Seus olhos ficaram arregalados e ele tossiu, quase engasgando. Fora isso nenhum som se ouvia ali dentro, exceto meu celular que continuava tocando sem parar.

– Ele…

Novamente ele tossiu e mais sangue saiu pela sua boca. Puxei o punhal, afinal eu ainda estava ali, segurando-o em sua barriga. Minha fúria agora exigia que eu o perfurasse por inteiro, mas um alerta piscou em meu cérebro e com a mão limpa eu peguei meu celular.

– Fale Chay…
– Arthur… é melhor você vir pra casa.

Senti um aperto, algo esmagando dentro de mim e a certeza de que algo ruim estava acontecendo… em minha casa… com minha família.

– O que está acontecendo? Chay?

Ouvi um estrondo e a linha emudeceu. Meu celular quase foi esmagado em minhas mãos enquanto eu olhava o abutre quase morto à minha frente.

– Micael… ele não vai viver muito tempo, mas ainda assim… mude as lanças de lugar e feche a dama. Quero que o atinja nos órgãos vitais… e o deixe sangrando até a morte. – Eu me virei e peguei Lua pela mão. Seu rosto estava pálido e ela tremia.
– O que… o que….
– Vamos pra casa.
– E vocês quando terminarem venham também.
– Arthur… me diga o que está havendo.
– EU NÃO SEI.

Acabei berrando desesperado enquanto entrava no carro dando a partida imediatamente. Peguei o celular e liguei pra Sophia. Tocava até desligar. Liguei de novo e soquei o volante.

– Atende… atende… porra…

Enfiei o pé no acelerador e Lua arrancou o celular da minha mão, tentando ligar novamente. Nada. Ligou para o Chay e nada de atender também. Em quinze minutos eu estacionava de qualquer jeito, saltando do carro e correndo pelo jardim com Lua em meu encalço. Pude ver algumas das esculturas do jardim tombadas, como se tivesse tido um bombardeio ali. Alguns seguranças corriam de um lado a outro o que só aumentou o meu desespero. Nunca me senti tão pequeno… tão impotente… tão nada.

Parei de supetão ao ver Chay parado, a camisa encharcada de sangue. Lua que vinha correndo logo atrás de mim, bateu o peito em minhas costas e se eu não girasse rapidamente ela teria ido ao chão.

– Oh meu Deus… Chay…
– Você está ferido?
– Nada demais, mas…
– O que houve aqui?
– Ele atacou Arthur. Ele não estava na casa dele como pensávamos.

Olhei ao redor, o coração quase saltando pela boca. As escadas que levavam até a outra ala da propriedade estavam destruídas.

– Mas ele não contava com tantos e seguranças e…
– Joseph? Onde está o Joseph? E Sophia?

Puxei Lua pela mão sem esperar resposta e entrei na casa correndo, chamando Chay para entrar também. O meu desespero era tanto que fiz uma coisa que há algum tempo eu não fazia: rezar.

– Na outra ala, muito bem vigiado.
– Ótimo. Irei resolver as coisas aqui primeiro e depois ficarei cara a cara com ele. Você já olhou esse ferimento?
– Sim. Foi só de raspão mesmo. O sangue é do… do nosso segurança.
– Vá se lavar e depois se encontre com os outros. Quero que vasculhem tudo que puderem na casa de Lorenzo. Não quero ninguém vivo. Acabou a brincadeira.

Pov Lua

Arthur fechou os olhos apertando Joseph em seus braços e eu me apertei a eles. Murmurou um obrigado e Chay sabia que agradecia a ele. Assentiu e se afastou. Mel foi com ele.

– Joseph… o que está sentindo meu amor? Fale com a mamãe. – Deus me livre desses pensamentos, mas ele parecia… morto.
– Não adianta Lua. Está em choque mesmo. – Arthur ergueu a cabeça e olhou com raiva para Sophia, mas em seguida seu olhar suavizou-se.
– Como está?
– Estou bem. Mel ficou monitorando tudo.
– Deite-se um pouco. O dia foi cheio.

Sophia nem retrucou. Sabia que Arthur estava chateado e entrar numa discussão com ele agora só iria piorar as coisas. Ficamos em silêncio, Arthur embalando Joseph no seu colo e eu acariciando seus cabelos. Pouco depois o médico chegou e levamos Joseph para o quarto. Mel se juntou a nós novamente, afinal ela presenciou tudo. Alguns exames superficiais e a tentativa em vão de fazê-lo falar algo.

– Senhor Aguiar eu aconselho levarmos o garoto até minha clínica apenas para mais alguns exames. Creio que não é nada grave, apenas um choque muito grande, mas mesmo assim é melhor eliminarmos todas as possibilidades.
– Com certeza faremos isso.
– Eu irei esperá-los lá fora enquanto se preparam.

Assim que o médico saiu, Arthur me ajudou a arrumar Joseph. Mel voltou para ficar com Sophia. Com certeza o doutor deve ter percebido a bagunça que estava na entrada da casa, mas não disse nada.

– Lua irei apenas trocar umas palavras com os rapazes, não me demoro.
– Tudo bem. Espero no carro. – Arthur acariciou o rosto impassível do Joseph e depois beijou sua testa.
– Vai ficar tudo bem garotão.

Pegou Joseph do meu colo e nos acompanhou até o carro. Ajeitei-me no banco detrás com ele e esperei enquanto Arthur conversava com os seguranças e com os demais rapazes que já tinham chegado. Fiquei olhando o rosto do meu garoto encolhido em meu colo. Por que será que ficou desse jeito? Teria sido realmente apenas o susto? Não sei por que mas algo me dizia que não. Em determinado momento seus olhinhos se moveram procurando meu rosto.

– Nós te amamos. Seu pai não irá permitir que ninguém machuque nenhum de nós. Você está seguro meu anjo.

Apertei-o junto ao peito e assim fiquei até Arthur entrar no carro. Ele dispensou o motorista e tenho certeza que era apenas uma estratégia dele para tentar coordenar os pensamentos.

Assim que chegamos à clínica Arthur pegou Joseph novamente nos braços e entramos. Ficamos sentados lado, as mãos unidas enquanto observávamos o médico realizar os exames em Joseph.

– O que acha? – Falei baixinho para Arthur.
– Não sei. Mas é tão estranho… não creio que foi apenas susto.
– Será que ele conhecia Lorenzo?
– Pode ser. Apesar de ele não se misturar tanto nos assuntos de Dom Matteo. Creio que ele só entrou na jogada agora porque não queria perder seus milhões.

Coloquei minha cabeça no ombro de Arthur e ele beijou meus cabelos. Longos minutos se passaram, talvez horas até que o médico nos informou que já havia feito todo e qualquer exame possível. Nada. Só nos restava dar muito carinho e atenção e esperar até que ele saísse desse torpor em que se encontrava. No caminho de volta para casa ele dormiu e então pude conversar novamente com Arthur.

– O que disse aos rapazes?
– Basicamente o que falei com o Chay. Quero que eles não deixem nem pó. Só assim eu terei tranquilidade para trazer nossos filhos de volta. E juro a você Lua… nunca mais me deixarei dobrar. Só de pensar no que poderia ter acontecido ao nosso filho.
– Eu sei, nem posso discutir com você. Mas e Lorenzo? O que pretende fazer com ele?
– Vai ficar algum tempo preso lá até eu ter certeza que não teremos surpresas. E depois… o fim dele não poderá ser outro. Só não irei perder muito meu tempo com ele.

Entendi perfeitamente bem o que ele quis dizer. Nada de torturas. Uma morte rápida, talvez até dolorosa, mas sem muita vontade de castigá-lo.

Arthur nos olhava o tempo todo pelo retrovisor, um vinco em sua testa demonstrando sua preocupação. Era um pai zeloso demais e apostava minhas fichas que ele deveria estar se crucificando agora por ter cedido aos apelos do Joseph e permitido que ficasse. Mas como dizem, não adianta chorar pelo leite derramado. Tudo o que tínhamos que fazer por hora era cuidar do nosso garoto. Quando chegamos em casa Joseph ainda dormia e Arthur o colocou em nossa cama. Depois me abraçou, o rosto enterrado em meu pescoço.

– Preciso ligar para os meus pais. Quero ouvir a voz dos nossos filhos.
– Eu também. Mas preciso tomar um banho. – Arthur olhou para Joseph dormindo em nossa cama.
– Vai você primeiro. Eu irei depois.
– Não vou recusar. Estou me sentindo imunda. – Fiquei na ponta dos pés e dei um beijo em Arthur.

Separei minhas roupas e entrei no banheiro despindo-me rapidamente. Eu me sentia suja e fedida. Para ser sincera, aquele cheiro do velho nojento parecia impregnado em mim. Lavei meu cabelo três vezes e depois lavei meu corpo demoradamente.

Estava mentalmente cansada. Não tanto pela caçada a Dom Matteo, mas por esses últimos acontecimentos. Saber que meu filho correu perigo por termos sidos frouxos demais. E pior ainda tentando imaginar como estaria a cabeça dele nesse momento. Além disso havia Arthur. Conheço meu marido muito bem para saber que a cabeça dele deveria estar a mil. Felizmente os pequenos estavam seguros.

Minha preocupação agora era somente Joseph e Arthur. Sei que haveria uma explosão por parte dele mais cedo ou mais tarde. Estremeci com esses pensamentos. Não foi um tremor de medo e sim de excitação. Me senti péssima por ter esses pensamentos nada puros quando meu filho se encontrava em situação tão delicada. Mas era inevitável, tendo Arthur como marido.

Quando voltei ao quarto Arthur estava deitado na cama, um dos braços atrás da cabeça, olhando para o teto. Joseph ainda dormia. Sentei-me na beirada da cama e coloquei a mão em seu peito.

– O pior já passou Arthur.
– Quero muito acreditar nisso.
– Acha que Lorenzo ainda será problema?
– Não subestimo mais ninguém Lua. Como Chay disse, só não houve luta pior aqui porque Lorenzo jamais imaginou que eu havia descoberto sobre Dom Matteo. – Ele se sentou e segurou minha mão.
– Eles, tanto Lorenzo quanto Dom Matteo acreditavam que iriam nos pegar. Enquanto Dom Matteo pegava você, Lorenzo viria aqui tentar pegar Lunna provavelmente.
– Isso é uma suposição sua?
– Sim.
– Mas você estaria aqui.
– Sim, mas ele veio com um grupo razoável de homens. Como ele iria imaginar que praticamente tripliquei nossa segurança?
– Isso é verdade. E o que fará agora? – Ele suspirou e se levantou.
– Tomar um banho, cuidar da minha família… e Lorenzo eu vejo depois.

Seguiu para o banho e eu me vesti. Aproveitei que Joseph dormia e fui falar com Sophia. Ela estava deitada com uma expressão triste.

– Tudo bem?
– Arthur ainda está muito bravo?

***

– Eu sinto falta de você inteira. Se soubesse a fome que estou de você Lua… Mas não posso e não devo fazer amor com você, não hoje.
– Eu sei. Não irei me chatear com isso. – Ele voltou a beijar e morder meu pescoço, forçando meus quadris sobre sua ereção.
– Mas quando eu te pegar Lua…

Apenas deixei minha cabeça descansar em seu peito enquanto ele prosseguia com suas carícias. Eu sabia que ele sempre cumpria suas promessas.

Continua...

Se leu, comente! Não custa nada.

Com mais de 10 comentários, eu posto o próximo capítulo.

Obrigada aos comentários do capítulo anterior...

Faltam menos de 5 capítulos para o the end...

16 comentários:

  1. Quantas emoções!! Casal de Poderosos!! Amando cada capituloo

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  2. Ai meu coração, o que aconteceu com o Joseph?

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  3. Aí tá perfeita, lindos e poderosos mais o que aconteceu com o Joseph?

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  4. Estou preocupada com o Joseph

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  5. Perfeito continua por favor

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  6. A web ta a cada dia mais perfeita não acredito que já esta acabando

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  7. Web maravilhosa, a cada capítulo ficamos mais ansiosos, meus parabéns ���� Esperado o próximo capítulo �� By: Paula

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  8. Amooo essa Web. Louca pelo próximo capítulo !

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  9. Ansiosa pro proximo capitulo

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  10. ❤❤Amei continua please

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  11. Tadinho do Joseph, tão pequeno e já passou por tanta coisa ruim, tanta coisa traumatica.Tomara que tudo se resolva logo.

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  12. Continua por favor to mega curiosa

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  13. Continua por favor to mega curiosa

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  14. Vai postar hj??? Muito ansiosa para a continuação.

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