Mini fic - Página em Branco - último episódio

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Primeiro capítulo Leia aqui


     Passou uma semana.
     O carro que Arthur prometeu arranjar começou a andar finalmente. Lua nem queria acreditar quando viu aquela antiguidade a ser guiada pelo rapaz com uma facilidade quase inexplicável. Ele tinha um dote para aquelas coisas mas nem ele sabe bem como. 

- Talvez tu podias ser mecânico. – Tentou ela.
- Achas?
- Claro! – Ela gargalhou. – Um bom mecânico. – Lua aproximou-se para lhe limpar restos de óleo do rosto com uma toalha azul escura. Assim que as peles de ambos se tocaram, ambos sentiram umas vibrações estranhas. – Agora é hora de… - Lua mostrava-se meia confusa ao tentar afastar-se. 
- Hora do banho! – Concluiu ele.

     Arthur agarra do braço de Lua e puxa-a para o lado da lavandaria. Lá dentro, afasta algumas peças de roupa e alguns sapatos da pia e pede que Lua se sente lá. Ela mostrasse reticente, mas não nega o pedido dele. 
     Nisto, ele estica-se para trás e tira a mangueira verde do seu lugar. Liga-a e molha os ombros de Lua.

- O que é que estás a fazer? Estás a molhar tudo! – Ela irritou-se.
- Shiu! – Pediu ele.
- Isto não faz sentido nenhum! – Ela cruzou os braços para tentar esconder os arrepios de frio que aquela água lhe estava a causar.
- O que é que não faz sentido? Os olhares que trocamos durante toda esta semana? O facto de eu não me sentir indiferente a ti passado todo este tempo ao teu lado? Tu ajudaste-me como ninguém.
- Fiz porque é o meu dever.
- Não… tu fizeste porque é o que sentes que deves fazer. Mas não por dever.
- Como é que tens a certeza disso?
- Certeza não tenho… mas o teu corpo tem. 

     E, mais uma vez, ele passa a mangueira pela pele dela e vê-a arrepiar-se uma segunda vez. Ela própria repara no gesto involuntário e não sabe o que dizer para o contrariar. A verdade é que não dava para o contrariar. Ela não queria sentir nada com aquele momento tão próximo dele, mas a verdade é que sentia. 
     Já molhados o suficiente pela mangueira, Arthur deixa ela de lado e o jogo começa entre ele e Lua, que neste momento se encontra desnorteada e com a sensação de que nem o próprio corpo consegue dominar. 
     Ele puxa-a para si, com as mãos postas nas coxas dela, sobe um pouco até à sua cintura fina e atravessa as mãos por baixo da camisa enxadrezada que ela usava. Chega-lhe a cima e toca-lhe ao leve no soutien que ela tinha vestido. Ela, por sua vez, puxa o rosto dele para si e beija-lhe o pescoço. Arthur também se arrepia e, ao ver que ela não vai parar tão cedo, começa a desabotoar a camisa dela e beija-a desde o pescoço a desce pelo seu peito ainda coberto. Lua joga a cabeça para trás e entrelaça as pernas na cintura dele. 
     Agora, num movimento muito rápido, Lua joga Arthur para trás e tira-lhe o botão das calças. Talvez tenha sido um momento de desespero por ter o seu corpo só para si. Desta vez, longe de hospitais, quartos brancos e tristes, médicos impacientes ou enfermeiras rabugentas. 
     Arthur tira-lhe a primeira peça da roupa interior e beija-lhe o seio. Ela deixa escapar um ruído rouco e baixo e depois morde-lhe o ombro. Imediatamente, tira-lhe a camisa e desce a sua própria saia, trazendo para baixo a última peça de roupa interior. Arthur delira. 
     Já ambos sem roupa, completam-se um ao outro. Ele possui-lhe enquanto ela também lhe arranca gemidos roucos porém não baixos nem contidos. 
     A mesa de madeira da lavandeira aguentou com o peso dos dois, com o balanço da penetração e com as pressões feitas que transmitiam prazer por ambas as partes. 

     O jantar foi calmo com o calor da lareira a bater-lhes nos corpos já pouco suados. Trocaram caricias sem saber exatamente a razão. Não falaram sobre o sucedido, mas ao menos não fizeram de conta que aquilo não tinha acontecido. Aquilo realmente aconteceu e ambos gostaram. 

(…)

- Arthur! – Lua o chamou assim que chegou a casa. Procurou-o na cozinha, na sala e por fim na garagem onde finalmente o encontrou.
- Não achas que com uma pintura nova não ficava um brinco? – Perguntou ele enquanto sentado no chão admirando a relíquia que agora andava.
- Sim, falamos depois disso…
- Passa-se alguma coisa? – Pergunta ele ao ver o estado em que ela tinha chegado a casa. Levantou-se e beijou-lhe bem rápido. Depois, sentaram-se na beira do carro.
- Falei com um médico especialista e ele conseguiu fazer com que fosses operado. Vais finalmente poder te lembrar do que eras antes… não é fantástico? – O sorriso quase contagiante de Lua desmanchou-se assim que ela viu Arthur levantar-se e a passar a mão pela cabeça.
- Não sei se é… será que é? Será que eu vou gostar da pessoa que eu era antes? 
- Claro que vais! – Garantiu ela. – Ninguém muda da noite para o dia.
- E se eu for ladrão? Drogado? Um político corrupto?
- Se fosses, já teriam dado pela tua falta. – Lua gargalhou. – Deixa de ser pessimista. Além disso, não queres saber do que se trata aquela foto que está no colar em que usas?
- Quero. – Arthur agarra o colar que tem ao peito. – Poderá ser meu filho?
- Provavelmente.
- Como é que conseguiste essa operação assim do nada?
- Deixa isso comigo. Vais no final da semana para lá. 

(…)

     A operação demorou algumas horas mas correu tudo bem.

- Ele vai acordar meio confuso, mas dentro de algumas horas vai se lembrar de várias coisas do passado dele. A bala foi removida da cabeça. Está tudo certo agora.
- Ele vai se lembrar mesmo de tudo?
- Quase tudo. – Respondeu o médico a Lua. 

     Passadas umas horas, Arthur acorda a chamar vários nomes, entre eles “Lucas” e “Cassandra”. 
Enquanto isso, Lua mexe os cordelinhos e procura saber mais sobre Arthur. Ao longo das semanas, tem pesquisado sobre o nome dele e as suas possíveis raízes. Tudo sem ele saber. 
     Na véspera de Arthur sair da clínica em que foi operado, Lua recebe um telefonema que a deixa um tanto nervosa e assustada. 

- Como assim dado como morto? Mas ninguém procurou por ele! – Ela quase gritou. – Como foram capazes? – Lua achou ridículo o que lhe diziam. – Tudo bem. Manda-me tudo o que descobriste para o e-mail. Sim, eu vou dizer-lhe tudo isto. Obrigada. – Lua desliga a chamada.
- Lua?
- Sim, doutor. – Ela coloca o telemóvel na mala e caminha até à porta do quarto de Arthur.
- Ele quer vê-la.
- Claro. – Lua sorri e entra no quarto. 

     Arthur encontrava-se com uma ligadura à volta da cabeça, deitado na cama e com o comando da televisão na mão. Mudava de canais como quem via os carros passar: sem interesse nem paciência. 

- Olá! – Diz Lua. Ela não se sente nada confortável com a situação. Tem medo de como serão as coisas daqui para a frente.
- Comos serão as coisas agora?
- Eu não sei… os médicos fizeram os possíveis.
- Lucas… Lucas é o nome daquele moço do meu colar. Eu acho que ele é meu filho. Acho não… tenho a certeza!
- Porque dizes isso?
- Sonhei… ou lembrei-me do nascimento dele. Tinha uma mulher na cama, com dores e uma enfermeira a entregar-nos a criança. Será que sou casado? – A inocência de Lua deixava-a de rastos.

     Lua anda de um lado para o outro no quarto e tenta arranjar as melhores palavras para lhe contar o que descobriu. 

- Tento em conta que não tinhas documentos contigo, nem nada que provasse a tua identidade, a não ser o facto de apenas sabermos o teu nome, idade e localidade, através dos dados fornecidos do hospital, eu decidi meter mãos ao trabalho e, durante o tempo que estiveste comigo, investiguei o teu nome, as tuas origens e…
- O que é que descobriste?
- Tu és possuidor de uma fortuna. És rico e é estranho que ninguém tenha dado pela tua falta. 
- Ao menos não sou ladrão! – Ele solta uma gracinha.
- Não… mas a parte pior não é essa.
- Então?
- Tu foste dado como morto. Em Paris.
- Em Paris?
- Sim.
- Como? Como é que eu fui dado como morto em Paris se eu estou aqui? O meu acidente não foi aqui?
- Fomos ao local do acidente e a transferência de dinheiro que fazias, no dia do assalto ao banco, era para a conta de uma criança. Fazias isso todos os meses. Os assaltantes, depois de apanhados, confessaram o crime. Não era suposto assaltar o banco, mas sim assaltar-te a ti. Foram contratados para isso. 
- Alguém tentou matar-me? Mas quem? – Arthur exalta-se e levanta-se da cama e logo é apoiado por Lua. – A mulher, com quem provavelmente eras casado, fugiu e deixou a criança num infantário. 
- Foi ela?
- O caso está agora a ser investigado.
- E a criança?
- Está numa instituição.
- E quando é que pensavas dizer-me essas coisas? Eu tenho um filho e tu não me dizias nada? Fui alvo de um assalto planeado para me matarem e só agora é que dizes? Há quanto tempo é que sabes disto? Tens noção da quantidade de informações é que passam agora pela minha cabeça? 
- Arthur, eu fiz tudo pelo teu bem.
- Pelo meu bem? Tu escondeste tudo de mim! Tudo! Eu tenho um filho porra. Sabes o que é que isso significa?
- Desculpa. – Lua começa a chorar e Arthur não consegue olhar para a cara dela.

(…)

     Passados mais uns dias, Arthur volta ao seu local de origem, à sua casa, e encontra dezenas de lembranças que reacendem na sua cabeça. O tempo de namoro, o nervosismo para o casamento e a ansiedade para o nascimento do seu filho. 
     Lucas tem cinco anos e tem a carinha do pai, apesar de dizerem que o moço seja muito parecido com a mão, por ser louro e de olhos castanho-claro.
     Os amigos que Arthur tinha contactam-no assim que sabem do sucedido e não entendem nada do que se está a passar. Julgava que ele estivesse emigrado desde à muito tempo mas que tivesse sido atingido pelos ataques em França no ano presente.

- Pelo menos foi isso que a Cassandra disse. – Conta-lhe Marco, um amigo de Arthur.
- Ela disse isso?
- Sim… - Marco abana a cabeça. – Eu não entendo nada disto. Tu foste dado como morto, rapaz! – Marco cola as suas mãos nos ombros de Arthur e abana-lhe. – Nós choramos a tua morte. Dias depois o puto é abandonado e puta da tua mulher é dada como desaparecida. Foi uma loucura! – Marco passa as mãos pela cabeça. 


(…)

Passado um mês, a vida de Arthur dá uma volta enorme mas aos poucos tudo se recompõe. A situação com o seu filho Lucas é tranquila. O moço não tem ainda noção do que aconteceu. Julga que o pai e a mãe tirou férias. Porém, nota a falta da mãe e Arthur responde-lhe que ela apenas continua trabalhando num país muito distante. Ainda assim, Lucas torna todos os dias a perguntar pela mãe. 

     Após um dia inteiro no banco, tratando de identidades e contas bancárias, Arthur decide ter um momento entre pai e filho. 
     Depois da operação, na qual foi retirada a bala da cabeça, começou a lembrar-se de muita coisa mediante os locais por onde passava. Lisboa era a cidade na qual nasceu. Conheça como a palma da sua mão e, ao passar em determinadas ruas, vinha-lhe à lembrança um sorriso, lágrimas derramadas, desabafos e conselhos partilhados com todos aqueles que o rodeiam.

- O pai lamente estes anos perdidos, meu amor. – Arthur limpa as barbas de gelado do filho. – Foram difíceis para mim, mas acredito que para ti tenha sido muito pior. 

     Na estrada em frente, para um carro com um som estrondoso e que consegue chamar à atenção da maioria das pessoas que por ali passam. Arthur olha de relance e reconhece à primeira aquela cor salmão pintada por ele próprio. 

- Lua… - Sussurrou e sorriu.
- Que carro! – Diz Lucas de boca aberta. 

    Ela sai do carro e tira os óculos de sol. Aproxima-se de Arthur enquanto é alvo de alguns assobios por parte dos mais safados.

- Queres dar uma volta? – Lua sorri. 

     Arthur pega no filho ao colo e embala a cintura fina de Lua no seu braço direito enquanto a conduz até ao carro.

(...)

Notas finais:

Aqui está o último capítulo da mini fic. Espero que gostem do resultado final.


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