Mini fic: Página em Branco - 1º episódio

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Personagens principais: Arthur Aguiar e Lua Blanco.




Pov Narrador

Pequenos pontos de luz vão fazendo ligação uns aos outros. Pequenas sensibilidades começam a provocar-lhe oscilações pelo corpo e dão-lhe forças para finalmente se mover. Mas ele quer ir mais longe. Quer tentar aquilo que ao longo de três anos tem tentado fazer e até o dia de hoje não conseguiu.

- Doutor! – Lua gritou e saiu do quarto a correr.

Ele começou a ficar confuso e agitado. Sentia-se perdido e não entendia o que se passava à sua volta.
No segundo seguinte, uma série de pessoas de farda branca levam-no pelos corredores desesperadamente e, numa outra sala, enfiam-lhe um seguimento de tubos e aparelhos.
Os exames são feitos e as conclusões são tiradas: um milagre aconteceu.

- Mas e agora? – Pergunta novamente a enfermeira.
- Temos de ter calma… será difícil para ele.
- Foram três anos… - Lua suspira e olha novamente para Arthur.

O paciente estava a almoçar, sentado na cama, mas de olhos postos na enfermeira e no médico que falavam sobre ele há algum tempo.

- Quem sou eu? O que é tudo isto? Quem são vocês? – Arthur finalmente fala.
- Uma pergunta de cada vez… - O médico aproximou-se dele. – Compreendemos que está confuso… mas tudo, ao seu tempo, fará sentido. – O médico abandonou a sala.
- Ajude-me… - Pediu ele, antes que Lua saísse do cómodo.
- Eu… eu não posso. – Ela saiu também.

Passou-se mais um dia e, como de sempre, logo pela manhã, Lua encaminhou-se ao quarto em que Arthur está hospedado para cuidar dele. Dá-lhe banho, troca-lhe as roupas da cama e coloca-lhe uma flor na jarra da sua cómoda.

- Podemos ao menos ver televisão? – Ele finalmente corta o silêncio.
- Claro. – Ela liga a televisão.

O canal das notícias falava sobre o atentado a Nice, em Paris. Os olhos dele arregalam-se. Pouco depois, passam notícias sobre a festa em que Portugal estava devido ao Europeu, no qual foram vencedores.

- Com… como assim?
- O que se passa? – Lua perguntou enquanto arrumava as roupas.
- 2016?

(…)

- Achamos que estava na altura de conversar com alguém sobre o que lhe aconteceu. Acho que está muito confuso e isso não lhe faz nada bem.
- Só quero saber o que me aconteceu.
- Nós dissemos que a seu tempo iria saber… mas é que também não lhe sabemos dizer ao certo o que é que aconteceu.
- Mas e o que é que sabem? – Arthur endireitou-se na cadeira de rodas.
- Tudo se passou em Setembro de 2013. Recebemos-lhe aqui, entre a vida e a morte, após um atentado ao banco no qual você estava de saída, julgamos nós. Segundo testemunhas, você fez algumas transferências e, quando saiu, uns capangas quaisquer entraram por lá dentro e dispararam por tudo o que era lado. Você foi atingido. – O médico suspirou. Depois, levantou-se e mostrou alguns exames que lhe foram feitos. – Está a ver isto aqui? – Ele apontou para um deles. – Trata-se de uma bala. Está metida na sua cabeça.
- O QUÊ? – Arthur grita desesperado e lágrimas caiem-lhe pelo rosto.

(…)

Passadas duas semanas, Arthur finalmente recebe alta, porém, não sabe o que fazer.

- Devo ir para um hotel… é a única solução. – Ele suspirou. Agarrou a sua bolsa e saiu do quarto no qual passou todo este tempo.
- Espere… - Pediu Lua, no fim do corredor.

(…)

- Tem a certeza disto?
- Não precisas de me tratar dessa maneira… temos a mesma idade.
- Desculpe… quero dizer… - Ele mostrava-se pouco à vontade. – Como é que sabes isso?
- Eu sei tudo sobre ti. – Respondeu Lua, um tanto misteriosa, enquanto abria a porta de casa.
- Eu tenho família?
- Bom… isso eu não sei. Mas sei a tua idade e a tua naturalidade.
- Sou de Lisboa e tenho 28 anos. Já me disseram. – Eles entraram na casa finalmente.
- Vou te mostrar os cantos à casa. Vou mostrar-te ainda o que tens de fazer.
- Exijo mesmo saber. Faz parte da nossa condição.

A quinta em que Lua vivia não era muito grande. Mas era suficiente para os dois e quem sabe mais duas ou três pessoas.
Aquela quinta era já do seu avô paterno. Após o falecimento dos seus avôs, passou a herança para o pai de Lua que falecera no ano passado com cancro. Daí para cá, é Lua quem trata de tudo: dos animais, das flores e da lida da casa.
Mas é na garagem que está o grande mistério: um carro velho. Digamos que a nível de aspecto ele está muito bom, porém, não anda.

- Terás de pôr ele a andar. E só assim te deixarei ficar cá em casa. – Era a condição de Lua.
- Com certeza. – Ele sorriu finalmente.
- Podemos comer sempre juntos. Daqui a pouco passo para fazer a tua cama e arranjar as coisas para passares a noite naquele lado. – Apontou para uma espécie de barracão em que normalmente os empregados da fazenda ficavam.

(…)

Entre as coisas que Arthur tinha, havia um colar que ele ainda não tinha reparado.
Antes de ir dormir, decidiu olhar para o colar e ver do que se tratava. Quem sabe aquilo lhe trouxessem lembranças.
Arthur sentou-se na beira da cara e virou o colar de um lado e de outro. Nada. Passou o fio pelos seus dedos grossos, até aquilo cair no chão, sem querer. Agachou-se perto da cama e viu aquilo aberto.

- Merda! – Exclamou ele, pensando que o tinha partido.

Agarrou o colar com a mão direita e os seus olhos pararam na foto de um moço que o colar continha no interior.

- Lua! – Gritou ele. – Lua! – Arthur correu para fora do barracão, no qual estava dormindo, e encaminhou-se à casa principal. Bateu na porta sem parar, até dar de caras com Lua, vestida com uma curta camisa de cetim, com o cabelo amarrado à pressa e com os olhos semiabertos.
- O que é que se passa? Sabes que horas são?
- Desculpa… - Ele deu-lhe o colar.
- Eu já sabia…
- Porque é que não me disseste nada antes? – Ele perguntou aborrecido.
- Porque… não sabia como te dizer… além disso, por que razão é que ninguém te procurou?
- Talvez porque… sei lá! – Ele bateu o pé. – Talvez porque não sabem que eu estou vivo. – Disse ele como se fosse óbvio.
- Mas eles nem procuraram por ti no início. Por que razão se iriam lembrar de ti agora?
- Porque é que estás a reagir assim? Achas que eu sou um sem ninguém?
- Acho! – Exclamou ela sem pensar duas vezes. – Ouve… - Pediu ela, ao ver que ele se estava a exaltar. – Eu passei este tempo todo contigo… eu vi o teu desenvolvimento nestes três anos em que estiveste em coma. Eu fui a única que acreditei… quando te vi chegar, já quase sem sinais vitais, todo ensanguentado, com a roupa rasgada e tudo mais, eu não sei, mas eu senti que te devíamos salvar. Tu foste um dos únicos sobreviventes daquele acidente. Outros ainda estão em coma, outros morreram ainda sem ter chegado ao hospital e outros nem falam. A ti, o que te resta daquilo, é a bala na cabeça.
- Mas e então? És enfermeira. O teu dever é ajudar a salvar pessoas. Não me podes impedir de querer descobrir se tenho ou não família.
- Tens razão… - Ela baixou a cabeça. – Só te queria ajudar.
- E estás… acredita que estás. – Ele segurou-lhe a mão e levantou-lhe o queixo. – Não é qualquer uma pessoa que trás para sua casa um desconhecido, lhe dá comida, roupa, tudo isso em troca de um simples carro para ser arranjado.
- Um simples carro?
- Sim… eu dei uma olhadela hoje e em três dias eu ponho-o a andar. – Ele sorriu. – Mas assim que terminarmos o carro, vamos à procura desta criança. – Ele segurou o colar.

Nisto, começa a chover. Ele estava a levar com aqueles pingos grossos sobre os ombros. Nenhum dos dois se mexeu. Em segundos, o chão da quinta cobriu-se de lama.

- Já danças-te na chuva? – Perguntou Lua ao segurar-lhe a mão e a empurrar-lhe para a rua.
- Não… - Ele gargalhou.

Lua trouxe-lhe para o meio do pátio e colocou-lhe os braços à volta do pescoço. Arthur, por sua vez, um pouco tímido, envolveu-lhe a cintura com as mãos sem a puxar para si. Passo contra passo, dançaram como se estivessem a dançar valsa num baile de finalistas qualquer.
Veio imensas memórias à cabeça de Lua: o “quase casamento”, os bailes da escola e as saídas à noite com as suas colegas da universidade. Tudo não passam de memórias.

- Obrigada. – Disse ela, após dançarem, com os olhos cobertos de lágrimas.
- Porque choras?
- Coisas… tontas. – Ela foi para dentro de casa e ele seguiu-a.
- Conta-me. – Pediu ele, seguindo-a até à casa de banho. Do armário, ela tirou duas toalhas e entregou-lhe uma delas. – Obrigado.
- Queres que comece por onde? A minha vida não é nenhuma maravilha. Não te podes vincar nela. Acredito que o mundo seja melhor. Eu é que não tive sorte.
- Não estás, com certeza, pior que eu.
- Não sabes de nada…
- Não me contaste. – Ele insistiu.

Ela suspirou.
Encaminharam-se para a sala. Continuava a chover, por isso, ela decidiu ligar a lareira de modo a projetar calor para o local.
Depois, após se sentarem de frente a frente, e de olhos brilhantes, Lua começou a contar-lhe o seu sonho fracassado de casar. Ser abandonadas aos 23 anos no altar não era a coisa com que ela sonhasse todas as noites. Bem pelo contrário.

- Ele era tudo o que eu sempre sonhava… desde o liceu que namorávamos. Mas decidiu abandonar-me. – Lua suspirou.
- Sinto muito.
- Não mais que eu…
- Mas e depois?
- Depois? Bom, conheces a expressão de “amigos sem compromisso”?
- Sim... vagamente.
- Daí para cá só tive isso… amigos sem compromisso. Mas fartei-me. E há um ano que estou sozinha. E assim vou continuar até… encontrar o tal. – Ela sorriu-lhe e ele sorriu-lhe de volta.



Notas finais:

Eu finalmente voltei à escrita!!!
Quero vos dizer que tenho imensaaaas ideias para escrever, mas tenho falta de tempo.
Espero que gostem desta pequena fic. Em breve vão aparecer mais destas.
Amanhã posto outro capítulo!!


3 comentários:

  1. Acho lindo o jeito como você escreve. Já estou amando essa fic.

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  2. primeiro cap. e a historia ja parece ser encantadora . Vc me deixou com aquele gostinho de quero maisssss, nuito maissss . gosto desse tipo de historia, onde alguem perdeu a memória . me chame de loukaaaa kkkkk Xx adaline

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