8 Segundos
Capítulo 14:
Lua
Estava tomando o meu quarto banho. Esfreguei tanto
minha pele na tentativa de tirar o cheiro dos porcos que ela estava ardendo.
Ainda não acreditava na petulância daquele caipira idiota. Arthur realmente não
tinha amor à vida e muito menos ao emprego. Assim que saísse do banheiro, eu
ligaria para o meu pai e exigiria a demissão do ogro. Confesso que deixá-lo
pelado ao relento não foi muito sensível da minha parte, mas, porra, o Arthur
exagerou: rasgar meu vestido caríssimo, bater na minha bunda e ainda me jogar
aos porcos foi demais. Era muito mais do que eu havia feito, mas tudo isso não
chegaria aos pés do que eu iria fazer. Enquanto terminava meu banho, pensei em
mil maneiras de fazê-lo pagar e acabei descartando a possibilidade de pedir a
sua demissão. Meu pai nunca deixava eu me meter nos assuntos da fazenda. Com
certeza, eu iria dar com os burros n’água, ainda mais do jeito que todo mundo
venerava o dr. Arthur. E, pensando melhor, se eu o queria, tinha que mantê-lo
por perto. Mataria dois coelhos com uma cajadada só: ter Arthur e fazê-lo
sofrer.
— Lua,
mais cinco minutos debaixo da água e você vai derreter! — Mel gritou do meu quarto. E naquele momento foi como se
uma lâmpada acendesse em cima da minha cabeça: quem conhecia o Arthur melhor do
que a Melanie?
— Estou indo! — gritei de volta. Olhei para os meus
dedos, e realmente eles já estavam enrugados. Eu me sequei e saí enrolada na
toalha. Melanie estava deitava na cama, jogando meu travesseiro de pena de
ganso para cima. Ser folgado deveria ser de família, porque aquela ali não
ficava atrás do Arthur. Mas até que ela era gente boa, nada que pudesse ser
comparado à Letícia, mas dava para o gasto, ainda mais ali, quando eu precisava
da sua ajuda. Dei um sorriso e segui até a porta do meu armário. Tinha comprado
muitas roupas e optei por uma calça jeans justa nova, uma t-shirt que eu já
tinha e botas estilo montaria. Sequei o cabelo e o deixei solto.
— Agora, sim, está uma legítima nativa. Digna de pegar
qualquer carinha da região — Mel
me elogiou, sorrindo. Um sorriso sincero. Mal sabia ela que eu não queria
qualquer carinha, eu queria seu primo. E ele seria meu. — Lua? — ela me chamou um pouco nervosa. Me virei e a vi
sentada na cama. Seu sorriso havia desaparecido por completo. — Você vai pedir
para o seu pai demitir o Arthur? — Vi seu semblante triste e, realmente, fiquei
com pena da garota. — É que meu pai é caseiro da Girassol há anos e não quer
sair daqui. — Me
sentei na cama ao seu lado. Naquele momento começava a Operação Segura Peão.
— Não. — respondi, e ela me olhou espantada. — Eu
também passei dos limites, principalmente deixando você beber daquela forma. Eu
deveria saber que mexer com a princesa do Arthur me deixaria em maus lençóis. —
Tentei soar o mais gentil possível. Mel abriu um sorriso de alívio e me
abraçou. Sério, ela me abraçou. Virada de lado na cama, eu fiquei sem saber o
que fazer com meus braços. Estava acostumada a abraçar homens, e aquele
contexto era totalmente diferente.
— Desculpa. — Acho que ela notou o meu desconforto. —
Me empolguei.
— Tudo bem. — respondi ainda incomodada com aquele gesto. — Mas me
conta, por que veio para a fazenda tão cedo? Do jeito que você estava ontem,
achei que dormiria o domingo inteiro. — continuei, mudando de assunto. Mel se mexeu desconfortável na cama e depois se levantou.
Percebi que havia algum problema com ela.
— Eu queria conversar uma coisa com você. — ela disse
de costas para mim, como se estivesse com vergonha de falar. — Sempre fomos eu,
meu pai e o Arthur. Nunca
tive uma amiga de verdade com quem pudesse conversar certos assuntos. — Sua voz
ansiosa deixava claro sobre o que Melanie queria conversar. Era só o que me faltava. Eu,
conselheira sexual. Respirei fundo, tentando me acalmar. Seria uma troca justa.
Mel me ajudava com Arthur e eu transmitia a ela todo o meu conhecimento sexual.
E olha que eu não tinha pouco.
— Pode perguntar o que quiser, Melanie. Acho que depois de um strip-tease juntas nossa
relação se estreitou um pouco, né? — brinquei para fazê-la confiar em mim. —
Você está com algum problema? — Ela me encarava nervosa enquanto passava as mãos nas
coxas.
— Lua,
eu sou virgem. — soltou de
repente. Sei que foi insensível da minha parte, mas não consegui segurar a
risada. Virgem? Sabia que Mel era inexperiente, mas virgem? Porra! Achei que
elas nem existissem mais. — Lua,
para de rir de mim. —
pediu, constrangida. Respirei fundo, me acalmei e pedi desculpas.
— Desculpa, Mel. É que eu vi você no quarto do Chay na noite da
tempestade, então fiquei surpresa com a sua revelação. E eu sou meio louca,
tenho ataque de risos quando estou nervosa. — desconversei. — Mas me diga: o
que está te incomodando?
— Chay
— respondeu sem nem ao menos pensar. — E Arthur. — Bom, eu já imaginava também. Era fácil perceber que,
por causa do ciúme desmedido que Arthur sentia, a coitada da Mel não podia nem
respirar, que dirá transar.
— Mel,
senta aqui. — Apontei para a cadeira da penteadeira. Ela assentiu, ainda
envergonhada, e fez o que eu pedi. — Me conta do começo. — Ela respirou fundo
antes de começar a falar.
— Na noite da tempestade eu fui até o quarto do Chay.
Nós... bem... Nós começamos a fazer algumas coisas, mas, quando ele descobriu
que eu era virgem, praticamente me escorraçou. Isso tudo por medo do meu irmão.
— Na noite em que
fui rejeitada pelo Arthur, Mel sofreu a mesma coisa com o babaca do Chay. O
cara se afastou dela como se virgindade fosse uma doença. Tadinha! Fiquei com
pena. Ela tinha lágrimas nos olhos ao me contar. E a justificativa do Chay era
ridícula. O cara estava com medo do Arthur? Fala sério! Quem era esse Arthur?
Um deus?
— Mel,
é o seguinte... — Inclinei meu corpo para a frente e a encarei. Aquela garota
precisava de uma dose de amor-próprio. Eu tinha tanto que não me importava em
ceder um pouco do meu para ela. — A primeira coisa que eu vou te perguntar é:
você quer o Chay? — O
brilho nos seus olhos quase me cegava. Certo, cegar era exagero, mas tanta
doçura já estava revirando meu estômago.
— Claro. Eu sou apaixonada pelo Chay desde que tinha 13 anos. — Mel respondeu,
e eu revirei os olhos em protesto. Ela não sabia aproveitar a vida. — O
problema é que ele tem preconceito com a nossa diferença de idade. Chay é quase
dez anos mais velho do que eu, e ainda tem o ciúme desenfreado do Arthur, que
faz todos os homens se afastarem de mim, inclusive o banana do Chay. — disse
com raiva.
— Então, vamos fazer o seguinte... —
Comecei a explicar todo o meu plano para a Mel, que
prestava atenção nos mínimos detalhes, como se estivéssemos nos preparando para
a guerra. Mas, se tratando de homens sem atitude como Chay e Arthur, não seria
tão diferente. O primeiro passo seria levá-la às compras. Da outra vez, ela
praticamente não tinha comprado nada, e o que comprou foi de um mau gosto
terrível. Depois, eu a convenci de que deixar Chay com ciúme era a tática mais
acertada. Se não desse certo, pensaria em algo mais radical. Em troca da minha
ajuda, Mel me explicou o que agradava Arthur. Minhas ações precisariam de um
pouco mais de planejamento, já que esse negócio de rodeio e de dançar música
country em um bar lotado não era muito a minha praia. Mas eu sou mulher, e
mulher se adapta a qualquer situação. — Operação Segura Peão? — perguntei, e Mel levantou sorrindo. Estendeu a mão esticada e eu pus a
minha sobre a dela.
— Operação Segura Peão! — ela respondeu. — Mas o que
você viu no meu irmão é que ainda não entendi — disse com um ar de nojo. — Você
deve estar acostumada com os riquinhos da cidade. E se espera galanteios e
gentilezas, cai fora. Arthur é bruto, rústico e sistemático. —
Mel não sabia, mas o que me atraía no Arthur era
justamente o fato de ele não parecer em nada os garotos que eu costumava pegar,
principalmente o Rafa.
— Ah, seu irmão pode ser um ogro, mas ele tem suas
qualidades. — eu disse brincando. — Agora vamos, estou morrendo de fome. — chamei, e Mel me seguiu quarto afora. Chegamos à cozinha sorrindo e
os empregados nos olharam com surpresa. Provavelmente tentando imaginar o que
eu e Mel tanto conversávamos. Tomamos café e comemos enquanto planejávamos as
próximas táticas da nossa operação. Para começar, eu teria que ligar para o meu
pai. Esse negócio de depender dos meninos para nos levar a todos os lugares não
daria certo. Algumas coisas Mel e eu devíamos fazer sozinhas. Peguei meu
celular e liguei. Desde o dia em que ele me deixou na fazenda, ainda não
havíamos nos falado.
— Alô? — Ele atendeu e eu notei o cansaço em sua voz.
Meu pai trabalhava demais, sempre foi assim. Nunca tinha tempo para nada.
— Oi, pai. Sou eu. — respondi naturalmente. Eu precisava dele, então usar
de arrogância não seria bom para os meus planos. — O senhor está bem? —
perguntei antes de fazer o meu pedido.
— Sim, estou bem. E você? Não me diga que ligou porque
quer voltar para a cidade? Olha aqui, Lua... — Ele começou a alterar o tom de
voz, e eu o cortei.
— Nada disso, pai. O combinado de trinta dias ainda
está de pé. Mas eu preciso de um carro. Não dá para ficar dependendo dos
empregados para ir à cidade ou passear pela redondeza. Eu e a Melanie, a babá
que o senhor me arrumou, estamos entediadas aqui na fazenda. — expliquei e meu
pai ficou em silêncio por um tempo. Achei que ele negaria, mas então respondeu:
— Tudo bem, se você prometer não se meter em encrenca.
— Fiz um sinal de positivo para a Mel, que me encarava com os olhos arregalados.
— Vou mandar entregar um carro aí na fazenda, mas
lembre-se, Lua: interior também tem leis de trânsito, e basta uma transgressão
sua para eu mandar tirá-lo de você. — Seu tom de voz, que antes estava
levemente carinhoso, ficou autoritário. Dei de ombros, pois estava acostumada.
— Estamos entendidos?
— Claro, pai. Sem pisar na bola, prometo. — Enquanto
prometia uma postura impecável, minhas intenções eram outras. Lua Alcântara
seguindo regras? Impossível.
— Amanhã o carro estará na fazenda. Preciso ir.
Cuide-se e não se meta em problemas. Não estou aí para salvar sua pele. — Essa
foi a maneira como ele se despediu de mim. Respondi com um simples tchau e
desliguei.
— Amanhã teremos carro. — disse para Mel, que estava sentada na mesa. Eu me aproximei dela e
me sentei ao seu lado.
— Lua,
tem certeza de que isso vai dar certo? — perguntou insegura.
— Relaxa, Melanie! Tá comigo, tá com Deus. — Tentei convencê-la de que
estava em boas mãos.
***
Passei o resto da tarde de domingo conversando com a
Melanie, que me contava tudo sobre o Arthur enquanto eu dava dicas de sedução
para ela levar Chay à loucura de uma vez por todas. Nunca ri tanto na vida, as
expressões que a Mel fazia a cada coisa que eu falava eram hilárias. Almoçamos
uma comida simples, bem caseira. Nada do que eu estava acostumada a comer, mas
tinha que dar o braço a torcer: estava uma delícia. Depois, eu e a Mel
dormimos, ela no quarto de hóspedes, eu no meu. Afinal, não éramos de ferro,
tínhamos praticamente virado a noite. Um tempo depois, acordei assustada com um
sonho, o que não era comum, pois eu sempre dormia como uma pedra e quase nunca
sonhava. Eu me sentei na cama e passei as mãos pelo cabelo, tentando me lembrar
do sonho. Quando levantei meu olhar, encarei a foto da minha mãe em cima da
penteadeira. Então lembrei. Lágrimas brotaram em meus olhos imediatamente.
Havia anos que eu não sonhava com ela. Se não fossem as fotos, eu nem a
reconheceria mais. Levantei e peguei o porta-retratos. No sonho minha mãe
estava em meio a uma plantação de girassóis. Ela usava um vestido simples e
florido. Parecia mais jovem do que nas fotos, seu sorriso era diferente, como
se os sorrisos que eu via nas fotografias fossem falsos. A plantação era
enorme, a perder de vista. Minha mãe sorria e me chamava, mas, quando andei em
sua direção, ela se afastou, como se estivesse sendo puxada por mãos
invisíveis. Então, começou a entrar em pânico, mas eu não conseguia alcançá-la.
Depois caiu, e alguém a ajudou a levantar. Eu não reconhecia o homem, ele
estava de chapéu e fazia carinho no rosto dela. Não consegui ver quem ele era,
mas vi o olhar amoroso da minha mãe em sua direção. Mais lágrimas desciam
enquanto eu me lembrava de cada detalhe do sonho. Parecia muito real: minha mãe
estava desesperada antes da chegada daquele homem. Eu também não reconhecia o
lugar, mas minha mãe estava linda, simples como eu nunca tinha visto, mas
parecia muito feliz. Escutei um barulho de carro e me levantei rápido. Fui até
a janela e vi quando Arthur desceu da caminhonete e caminhou até o galpão onde
eu tinha passado a noite. Coloquei o porta-retratos no lugar, fui ao banheiro
lavar o rosto e vesti a roupa que estava usando antes. Calcei as botas e saí do
quarto. Não havia ninguém pela casa, a noite estava começando a cair, mas ainda
não tinha escurecido. Fui até o galpão e encontrei o Arthur carregando algumas
caixas. Ele ainda não tinha me visto, então eu pude apreciar seu traseiro
dentro da calça apertada. Nunca fui ligada em bundas, na verdade eu gostava
mesmo era de um abdômen tanquinho, mas Arthur tinha uma bunda tão gostosa que
eu estava revendo meus conceitos. Foi então que ele me viu e tossiu seco,
fazendo com que meus olhos subissem até seu rosto.
— Pelo amor de Deus — ele começou a falar levantando
as mãos para o alto. — Estou trabalhando, não venha me encher o saco. — disse
ríspido. Quase o mandei ir tomar naquele lugar, mas me segurei.
— Calma lá, gatinho — eu disse de forma manhosa. — Vim
propor uma trégua. — Arthur
deu uma gargalhada e eu fechei a cara. O que ele tinha de lindo, tinha de
irritante.
— Trégua? — perguntou, ainda sorrindo. — E o que você
ganha com isso? Garota, você não dá ponto sem nó — completou, sério. Eu me
aproximei um pouco mais, e Arthur respirou fundo com minha proximidade. Adorava
a forma como eu o afetava.
— Olha... — comecei — nós dois exageramos. Você me
deixou na mão, eu fiz o mesmo. Deixei Mel beber demais, passamos dos limites.
Deixei você pelado fora do quarto. Você rasgou meu vestido e me jogou no
chiqueiro. — Precisei me controlar para não esbofetear a cara dele quando me
lembrei dos vários banhos que tinha tomado para tirar o cheiro dos porcos.
Arthur ainda me encarava desconfiado, provavelmente pensando nas palavras que
eu tinha dito, mas não esboçava nenhuma reação. Infelizmente, e contra a minha
vontade, eu sabia que tinha que dar o primeiro passo. Então, estendi minha mão
em sinal de paz.
— Amigos? — perguntei, esperando uma resposta. Arthur ficou olhando minha mão, e eu podia ver em seus olhos
a batalha que travava internamente. Ai, meu Deus, que olhos!
— Tem certeza de que você não foi abduzida e trocaram
sua mente pela de uma garota suportável? — falou em tom de brincadeira, mas eu
fervi por dentro. Estava pronta para mandá-lo para o inferno quando ele pegou
minha mão e sacudiu. — Vamos tentar. Não é uma promessa. — Sorri gentilmente, mas por dentro estava fazendo a
dancinha da felicidade. Operação Segura Peão! Etapa “conquistar a confiança do
inimigo”: concluída! Eu me despedi do Arthur e o deixei terminando seu
trabalho. Voltei para casa e fiquei orgulhosa do meu desempenho. Olhei para
trás e vi que Arthur ainda me encarava da porta do galpão. Dei um sorriso e ele
acenou com a mão. Minha atuação foi digna de um Oscar.
N/A: Operação Segura Peão começando a todo vapor! Até quando será que vai durar essa trégua do Arthur e da Lua? Curiosas? Próximos capítulos prometem!
Querem mais um hoje???
COMENTEM!!!
A lua vai aprontar aeeeeeee
ResponderExcluirTenho certeza que a Lua vai aprontar, mais to louca pra ver essa operação segura peão. POSTA MAIS TA PERFEITO
ResponderExcluirOhhhh goodd essa web é perfeitaaa... Esses dois sei não são piores que cão e gato.. Querendo muitooo outrooooo!!
ResponderExcluirKkk a Lua podia ser atriz(kkk que irônicokk).Adorei essa parceria delas kkkk,mulheres unidas,jamais serão vencidas kkk.Sim,queremos,com toda certeza...
ResponderExcluirEssa Lua não é mole...rsrs.
ResponderExcluirPosta mais, please *-*
Maaaais uuuuuum. Quero saber oque a lua vai aprontar
ResponderExcluirFany
Esses Dois em Não tem Jeito,A Lua Concerteza vai apronta e o Arthur Vai revida ,To até vendo hahahaha
ResponderExcluirEssa "operacão segura peão" das duas não vai dar muito certo. Lua vai aprontar até com o Arthur tadinho.
ResponderExcluirHelena
Isso vai da ruim
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