Belo Desastre
Capítulo 44 : Fumaça (Parte 3)
Quanto mais corríamos, mais escuras ficavam as salas. Depois de alguns
instantes, minha respiração ficou mais fácil, já que deixamos a fumaça para
trás, mas os gritos não cessaram. Estavam mais altos e mais frenéticos do que
antes. Os sons horrendos atrás de nós estimulavam minha determinação, mantendo
meus passos rápidos e cheios de propósito. Na segunda virada, já estávamos
caminhando às cegas, em completa escuridão. Estiquei o braço, tateando ao longo
da parede com uma mão e segurando forte a mão de Trent com a outra.
— Você acha que ele conseguiu sair? — ele quis saber.
A pergunta minou meu foco, e tentei afastar a resposta
da cabeça.
— Continua andando. — falei, engasgada.
Trent resistiu por um instante, mas, quando puxei a
mão dele de novo, uma luz tremeluziu. Ele ergueu um isqueiro aceso, apertando
os olhos para enxergar melhor no pequeno espaço. Segui a chama conforme ele a
balançava ao redor da sala, e quase perdi o fôlego ao avistar uma porta.
— Por aqui! — falei, puxando a mão dele de novo.
Enquanto eu me apressava para a próxima sala, um muro
de pessoas colidiu comigo, me jogando ao chão. Três mulheres e dois homens, com
o rosto sujo e os olhos arregalados de medo, baixaram o olhar para mim. Um dos
caras esticou a mão para me ajudar a levantar.
— Tem umas janelas ali por onde a gente pode sair! —
ele disse.
— A gente acabou de vir de lá, não tem nada lá. —
falei, balançando a cabeça.
— Você não deve ter visto. Eu sei que é por ali!
Trent me puxou pela mão.
— Vamos, Lua, eles sabem o caminho!
Balancei a cabeça em negativa.
— A gente veio por aqui com o Arthur. Tenho certeza.
Ele apertou minha mão.
— Eu disse pro Arthur que não ia te perder de vista. A
gente vai com eles.
— Trent, a gente veio por ali… Não tem janela nenhuma!
— Vamos, Jason. — gritou uma garota.
— Estamos indo. — ele respondeu, olhando para Trent.
Trent me puxou pela mão de novo e eu me soltei.
— Trent, por favor. É por aqui, eu juro!
— Eu vou com eles. — ele disse. — Por favor, vem comigo.
Balancei a cabeça, e lágrimas escorriam pelas minhas
bochechas.
— Eu já vim aqui antes. A saída não é por ali!
— Você vem comigo! — ele gritou, me puxando pelo
braço.
— Trent, para! A gente está indo pelo caminho errado!
— berrei.
Meus pés deslizaram pelo concreto enquanto ele me
arrastava e, quando o cheiro de fumaça ficou mais forte, puxei com força a mão
e me soltei, correndo na direção oposta.
— Lua! Lua! — ele gritou.
Continuei correndo, mantendo os braços esticados,
prevendo uma parede logo em frente.
— Vem! Você vai morrer se for atrás dela! — ouvi uma
garota dizer a ele.
Meu ombro bateu com tudo em um canto e eu girei,
caindo. Rastejei pelo chão, tateando à minha frente com a mão trêmula. Quando
meus dedos encostaram em uma placa de gesso, segui-a até em cima, pondo-me de
pé, a quina de uma porta se materializou sob meu toque e segui até a próxima
sala.
A escuridão era infinita, mas afastei o pânico,
mantendo cuidadosamente os passos retos, em busca da próxima parede. Vários
minutos se passaram, e senti o medo aumentar dentro de mim enquanto os lamentos
que vinham de trás ressoavam em meus ouvidos.
— Por favor, que seja essa a saída.
Senti outra quina de porta, e, quando passei por ela,
um facho de luz prateado reluziu à minha frente, O luar era filtrado pelo vidro
da janela, e um soluço forçou caminho pela minha garganta.
— T-Trent! É aqui! — gritei atrás de mim. — Trent!
Apertei os olhos para ver melhor, enxergando pequenos
movimentos ao longe.
— Trent? — chamei, as batidas do meu coração vibrando
de um jeito selvagem no peito.
Em instantes, sombras começaram a dançar nas paredes,
e meus olhos se arregalaram de horror quando me dei conta de que aquilo que
achei que eram pessoas na verdade era a luz bruxuleante das chamas que se
aproximavam.
— Ai, meu Deus! — exclamei, erguendo o olhar para a janela. Arthur a
tinha fechado depois que entramos, e ela era alta demais para que eu a
alcançasse.
Olhei ao redor, buscando algo em que eu pudesse subir.
A sala cheia de móveis de madeira cobertos com lençóis brancos, que
alimentariam o fogo até que aquilo se transformasse em um inferno. Peguei um
pedaço de pano branco e o arranquei de uma mesa. O pó formou uma nuvem em volta
de mim enquanto eu jogava o lençol no chão. Arrastei com dificuldade o volumoso
móvel de madeira até o outro lado da sala, debaixo da janela. Encostei-o na
parede e subi, tossindo por causa da fumaça que lentamente penetrava a sala. A
janela ainda estava pelo menos meio metro acima de mim. Soltei um gemido
enquanto tentava abri-la, desajeitadamente tentando virar a trava cada vez que
a empurrava. Mas ela não cedia.
— Vamos, droga! — gritei, apoiando-me em meus braços.
Fui para trás, usando todo o peso do corpo com o pouco
impulso que consegui dar para forçar a janela. Não funcionou, então deslizei as
unhas sob as beiradas, fazendo força até achar que elas tinham descolado da
pele. Observei de relance um lampejo de luz e gritei quando vi o fogo se
espalhando e incendiando os lençóis brancos que se alinhavam no corredor pelo
qual eu tinha acabado de passar. Ergui o olhar para a janela, mais uma vez
enfiando as unhas nas beiradas. O sangue gotejava da ponta dos meus dedos, e as
bordas de metal afundavam na minha carne. O instinto dominou todos os meus
sentidos, e cerrei as mãos em punhos, golpeando o vidro. Uma pequena rachadura
surgiu na janela, assim como sangue, que espirrava e se espalhava a cada golpe.
Esmurrei mais uma vez o vidro, então tirei o sapato,
usando-o para bater mais forte. Sirenes soavam a distância, e eu chorava,
batendo com a palma das mãos na janela. O resto da minha vida estava a poucos
centímetros de distância, do outro lado do vidra. Enfiei as unhas nas beiradas
da janela mais uma vez, depois voltei a bater no vidro com as mãos abertas.
— SOCORRO! — gritei, vendo as chamas se aproximarem. —
ALGUÉM ME AJUDA!
Ouvi uma tosse fraca atrás de mim.
— Beija-Flor?
Eu me virei ao ouvir a voz familiar. Arthur apareceu
em uma porta atrás de mim, com o rosto e as roupas cobertos de fuligem.
— Arthur? — gritei. Desci desajeitadamente da mesa e
corri até onde ele estava, exausto e imundo.
Eu me lancei para cima dele, e ele me abraçou,
tossindo, enquanto tentava respirar. Suas mãos agarraram meu rosto.
— Cadê o Trent? — ele perguntou, com a voz rasgada e
fraca.
— Ele seguiu aqueles caras! — berrei, com lágrimas
escorrendo pelo rosto. — Eu tentei o fazer vir comigo, mas ele não quis!
Arthur baixou o olhar para o fogo que se aproximava e
franziu as sobrancelhas. Inspirei com dificuldade, tossindo quando a fumaça
encheu meus pulmões. Ele baixou a cabeça para mim, com os olhos cheios de
lágrimas.
— Vou tirar a gente daqui, Flor.
Ele pressionou os lábios nos meus num movimento rápido
e firme e depois subiu na minha escada improvisada. Empurrou a janela e virou a
trava, os músculos dos braços tremendo enquanto ele usava toda sua força contra
o vidro.
— Vai pra trás, Lua! Vou quebrar o vidro!
Com medo de me mexer, só consegui dar um passo para
longe de nossa única saída. Arthur dobrou o cotovelo levando o punho para trás,
então golpeou a janela com um grito. Desviei, protegendo o rosto com as mãos
ensanguentadas enquanto o vidro se estilhaçava acima de mim.
— Vamos! — ele gritou, estendendo a mão para mim.
O calor do fogo tomou conta da sala, e eu planei no ar
quando ele me levantou e me empurrou para fora. Fiquei esperando de joelhos
enquanto Arthur subia pela janela, depois o ajudei a se levantar. Sirenes
soavam do outro lado do prédio, e as luzes vermelhas e azuis dos carros de
bombeiros e das viaturas de polícia dançavam nos tijolos dos prédios
adjacentes. Fomos correndo até a multidão parada na frente do prédio,
examinando as faces sujas à procura de Trent. Arthur gritou, chamando o irmão
pelo nome. Sua voz se tornava cada vez mais angustiada à medida que o chamava.
Ele tirou o celular do bolso, para ver se havia alguma chamada perdida, então
fechou com força o flip, cobrindo a boca com a mão enegrecida.
— TRENT! — ele gritou, esticando o pescoço enquanto o
buscava em meio à multidão.
As pessoas que tinham conseguido escapar se abraçavam
e choravam atrás das ambulâncias, observando horrorizadas enquanto os bombeiros
jogavam água pelas janelas e entravam no prédio carregando mangueiras. Arthur
passou a mão na cabeça, desconsolado.
— Ele não conseguiu sair. Ele não conseguiu sair,
Flor.
Perdi o fôlego enquanto observava a fuligem em seu
rosto ficar manchada de lágrimas. Ele caiu de joelhos, e fiz o mesmo.
— O Trent é esperto, Thur. Ele saiu sim. Deve ter
encontrado um caminho diferente. — falei, tentando me convencer disso também.
Ele tombou no meu colo, agarrando minha blusa com as
duas mãos. Eu o abracei. Não sabia mais o que fazer.
Uma hora se passou. Os soluços e lamentos dos
sobreviventes e dos espectadores do lado de fora do prédio tinham virado um
silêncio sombrio. Ficamos observando com uma esperança cada vez mais tênue
enquanto os bombeiros traziam duas pessoas para fora e depois, todas as outras
vezes, voltavam sem ninguém. Enquanto os paramédicos cuidavam dos feridos e as
ambulâncias rasgavam a noite levando vítimas de queimaduras, ficamos à espera.
Meia hora depois, os corpos que eles recuperaram não tinham salvação. O chão
estava forrado de mortos, em número muito maior do que aqueles que tinham
escapado. Os olhos de Arthur não se desgrudaram da porta, esperando que os
bombeiros trouxessem seu irmão das cinzas.
— Arthur?
Nós nos viramos ao mesmo tempo e vimos Adam parado
atrás de nós. Arthur se levantou, me puxando com ele.
— Que bom que vocês conseguiram sair. — disse Adam,
que parecia chocado e confuso. — Cadê o Trent?
Arthur não respondeu. Nossos olhos se voltaram para os
restos chamuscados do Keaton Hall e para a fumaça espessa que ainda se erguia
em ondas das janelas. Enterrei o rosto no peito dele, fechando os olhos com
força, na esperança de que, em algum momento, eu fosse acordar.
— Eu tenho que… hum… tenho que ligar para o meu pai. — disse Arthur, franzindo as sobrancelhas enquanto
abria o celular.
Inspirei fundo, para que a esperança na minha voz
soasse mais forte do que eu a sentia.
— Talvez seja melhor esperar, Arthur. A gente ainda
não sabe de nada.
Seus olhos não deixavam o teclado do celular, e seus
lábios tremiam.
— Essa merda não está certa. Não era para ele estar
aqui.
— Foi um acidente, Arthur. Você não tinha como saber
que isso ia acontecer. — falei, tocando sua face.
Ele comprimiu o rosto, fechando os olhos com força.
Respirou fundo e começou a discar o número do telefone do pai.
Ain coração aflito! O que será que vai acontecer?
Lembrando que o próximo capítulo, já é o penúltimo :/
Com mais 10 comentários, posto o próximo capítulo.
Capítulo tenso!
ResponderExcluirTrent tem que ter sobrevivido
ResponderExcluirAi meu Deus o Trent tinha que ter ouvido a Lua.Ele tem que sair vivo.:(
ResponderExcluirNao acredito que o Trent nao vai sair,tadinho do Thur tb ele ta mega se culpando por causa disso,imagina se o Trent nao aparecer,nao quero nem imaginar,mega anciosa por o proximo capitulo..
ResponderExcluirTrent tem que sair vivo!!!
Trent n pode morrer pelo amor de Deus
ResponderExcluirMeu deuuuuus, tomara que o Trent apareça bem porque se não o Arthur vai se sentir culpado pra sempre. To ansiosa pelos próximos capitulos.
ResponderExcluirby: Naat
Tomara que o Trent esteja bem pq se não o Arthur vai se culpar pelo resto da vida dele
ResponderExcluirOq aconteceu com o Trent? Tomara q ele apareça logo :'(
ResponderExcluirAi tomara que dê tudo certo e o Trent esteja bem!
ResponderExcluir-Viic'
Trent deve estar em outro lugar, Arthur vai se culpar pelo resto da vida se algo acontecer com o irmão.
ResponderExcluirHelena
Meu Deus ele não pode morrer!
ResponderExcluirQ terror meu Deus
ResponderExcluirTomara q nada tenha acontecido.
Será que o trent morreu , meu Deus
ResponderExcluirAhhh meu coração!!! O Trent tem q estar vivo!
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