Belo Desastre - CAP. 20

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Belo Desastre



Capítulo 20 : Promessa

Finch balançou a cabeça.
— Tudo bem, então você está com o Parker ou com o Arthur? Estou confuso.
— O Parker não está falando comigo, então as coisas estão meio que no ar agora. — falei, dando um pulinho para arrumar a mochila nas costas. Ele soprou uma nuvem de fumaça, depois pegou um pedacinho de tabaco da língua.
— Então você está com o Arthur?
— Nós somos amigos, Finch.
— Você sabe que todo mundo acha que vocês dois estão tendo uma espécie de amizade colorida bizarra e que você não admite, não sabe?
 Eu não ligo. Podem pensar o que quiserem.
— Desde quando? O que aconteceu com a Lua nervosa, misteriosa e reservada que eu conheço e adoro?
— Morreu com o estresse de todas as fofocas e suposições.
— Que pena. Vou sentir falta de apontar e rir da cara dela.
Dei um tapa no braço do Finch, e ele riu.
— Isso é bom. Está na hora de você parar de fingir. — disse ele.
— O que você quer dizer?
— Meu bem, você está falando com alguém que viveu a maior parte da vida fingindo. Saquei você a quilômetros de distância.
— O que você está tentando dizer, Finch? Que sou uma lésbica enrustida?
— Não, estou dizendo que você está escondendo alguma coisa. Os cardigãs, a mocinha sofisticada e recatada que vai a restaurantes chiques com Parker Hayes… Essa não é você. Ou você era uma stripper de cidade pequena, ou foi parar numa clínica de reabilitação. Aposto no último. — Ri alto.
— Você é um péssimo adivinho!
— Então qual é o seu segredo?
— Se eu te contasse, não seria segredo, seria? — Suas feições se aguçaram, e ele deu um sorriso travesso.
— Eu mostrei o meu, agora você me mostra o seu.
— Odeio ser portadora de más notícias, Finch, mas sua orientação sexual não é exatamente um segredo.
— Merda! E eu achei que tinha um lance misterioso e sensual rolando pra cima de mim— disse ele, dando mais uma tragada no cigarro.
Eu me encolhi antes de falar.
— Você tinha uma vida boa em casa, Finch?
— Minha mãe é o máximo… Meu pai e eu tivemos um monte de problemas, mas estamos numa boa agora.
— Eu tive Mick Blanco como pai.
— Quem é esse?
Dei uma risadinha.
— Viu? Não é lá grande coisa se você não sabe quem ele é.
— E quem ele é?
— Um cara muito zoado. Esse lance de jogar, encher a cara, ter um gênio filho da mãe… é hereditário na minha família. Eu e a Melanie viemos pra cá para que eu pudesse começar uma vida nova, sem o estigma de ser a filha de um bêbado decadente.
— Um viciado em jogos decadente de Wichita?
— Eu nasci em Nevada. Tudo que o Mick tocava virava ouro na época. Quando fiz treze anos, a sorte dele mudou.
— E ele culpou você.
— A Melanie desistiu de muita coisa para vir pra cá comigo, para que eu pudesse cair fora, mas daí eu chego e a primeira coisa que me acontece é dar de cara com o Arthur.
— E quando você olha para o Arthur…
— É tudo muito familiar.
Finch assentiu, jogando o cigarro no chão.
— Que merda, Lua. Isso é um saco.
Estreitei os olhos.
— Se você contar para alguém o que acabei de te falar, vou chamar a máfia. Conheço alguns deles, sabia?
— Conhece nada.
Dei de ombros.
— Acredite no que quiser.
Finch olhou para mim em dúvida e depois abriu um sorriso.
— Você é oficialmente a pessoa mais cool que eu conheço.
— Isso é triste, Finch. Você devia sair mais. — falei, parando na entrada do refeitório. Ele levantou meu queixo.
— Vai dar tudo certo. Acredito muito nesse lance de que as coisas sempre acontecem por um motivo. Você veio até aqui, a Melanie conheceu o Chay, você arrumou um jeito de entrar no Circulo, algo em você virou o mundo de Arthur Aguiar de cabeça pra baixo. Pense nisso. — disse ele, plantando um selinho em meus lábios.
— Opa! — disse Arthur, me agarrando pela cintura, me erguendo e me colocando no chão atrás dele. — Você é a última pessoa com quem eu tenha que me preocupar com esse tipo de merda, Finch! Tem dó de mim, vai!— ele brincou.
Finch se inclinou para o lado, para me enxergar atrás de Arthur, e me deu uma piscadinha.
— Até mais tarde, docinho.
Quando Arthur se virou para me encarar, o sorriso dele sumiu do rosto.
— Por que a cara feia?
Balancei a cabeça, tentando deixar a adrenalina seguir seu curso.
— É só que eu não gosto desse apelido. Ele me traz más recordações.
— Termo carinhoso usado pelo ministro batista?
— Não. — grunhi. Arthur deu um soco na palma da mão.
— Você quer que eu vá lá encher o Finch de porrada? Ensinar uma lição a ele? Acabo com a raça dele! — Não consegui evitar e abri um sorriso.
— Se eu quisesse acabar com o Finch, eu diria que todas as lojas Prada fecharam, e ele mesmo se mataria.  Arthur deu risada, me cutucando para irmos em direção à porta.
— Vamos. Estou definhando aqui.
Nós nos sentamos à mesa de almoço juntos, nos provocando com beliscões e cutucões. O humor de Arthur estava ótimo, como na noite que eu perdi a aposta. Todo mundo na mesa notou, e, quando ele começou uma mini luta comigo pela comida, chamou atenção daqueles sentados às outras mesas.
Revirei os olhos.
— Estou me sentindo um animal de zoológico.
Arthur ficou me observando por um instante, depois olhou para as pessoas que nos encaravam, então se levantou.
— I can’t! — ele gritou.
Fiquei encarando-o, pasma, enquanto todo mundo que estava no salão se voltava para ele. Arthur balançou a cabeça algumas vezes ao som de um ritmo que só tocava em sua mente. Chay fechou os olhos.
— Ah, não.
Arthur sorriu.
— Get no… sa- tis… fac-tion — ele cantou. —I can’t get no… sa-tisfac-tion. Cuz I try… and I try… and I try— ele subiu na mesa e todo mundo ficou olhando. — I can’t get no!
Ele apontou para os jogadores de futebol na ponta da mesa, que sorriram e gritaram em uníssono:
 I can’t get no!
O salão inteiro começou a bater palmas no ritmo da música. Arthur cantava usando o punho cerrado como microfone.
— When I’m drivin’ in my car, and a man comes on the ra-di-o… he’s tellin’ me more and more about some useless in-for-ma-tion… supposed to fire my im -agin-a-tion. I can’t get no! Oh no, no, no!
Ele passou dançando por mim, cantando no microfone imaginário. Todos no salão cantaram juntos:
— Hey, hey hey!
— That’s what I say! — Arthur completou.
Ele mexeu os quadris, e algumas garotas assobiaram e gritaram entusiasmadas. Ele passou por mim de novo, cantando o refrão para o outro lado do salão, com os jogadores de futebol americano fazendo segunda voz.
— Eu te ajudo! — uma garota gritou lá de trás.
 … cuz I try, and I try, and I try, and I try… — ele cantou.
— I can’t get no! I can’t get no! — os jogadores cantaram.
Arthur parou na minha frente e se curvou na minha direção.
— When I’m watchin’ my TV… and a man comes on to tell me… how white my shirts can be. But he can’t be a man ‘cause he doesn’t smoke… the same cigarettes as me. I can’t get no! Oh no, no, no!
Todo mundo bateu palmas no ritmo da música, e os jogadores cantaram:
— Hey, hey, hey!
— That’s what I say! — Arthur completou, apontando para o público. Algumas pessoas estavam em pé e dançavam com ele, mas a maioria só observava, espantadas e entretidas. Ele subiu na mesa e Melanie deu um gritinho, batendo palmas e me cutucando. Balancei a cabeça, eu tinha morrido e acordado no High School Musical. Os jogadores estavam cantarolando a base:
— Na, na, nanana! Na, na, na, na, na! Na, na, nanana!
Arthur ergueu a mão-microfone bem alto.
— When I’m ridin’ ‘round the world… and l’m doin’ this and I’m signin’ that!  Ele pulou no chão e se inclinou sobre a mesa para ficar perto do meu rosto.
— And I’m tryin’ to make some girl who tells me, uh baby better come back later next week, ‘cuz you see I’m. On. A losin’ streak! I can’t get no! Oh no, no, no!  As pessoas batiam palmas no ritmo da música, e o time de futebol americano gritou a parte deles:
 Hey, hey, hey!
 I can’tget no! I can’tget no! Satis-faction! — Arthur cantou baixinho para mim, sorrindo e sem fôlego. O refeitório inteiro explodiu em palmas. Alguns até assobiaram. Balancei a cabeça depois que ele me beijou na testa e então se levantou para fazer uma reverência. Quando voltou para o seu lugar, na minha frente, ele riu.
— Eles não estão olhando pra você agora, estão? — perguntou, arfando.
— Obrigada. Você realmente não devia ter feito isso — falei.
— Lu?
Ergui o olhar e vi Parker parado na ponta da mesa. Todos os olhares estavam voltados para mim de novo.
— Precisamos conversar— disse ele, parecendo nervoso. Olhei para Melanie, para Arthur e depois para Parker.
— Por favor— ele pediu, enfiando as mãos nos bolsos. Assenti, seguindo-o até o lado de fora do refeitório. Ele passou pelas janelas e seguiu até a lateral do prédio, em busca de privacidade.
— Eu não quis chamar atenção para você de novo. Sei que você detesta isso.
— Então você podia simplesmente ter me ligado se queria conversar. — falei.
Ele assentiu, olhando para o chão.
— Eu não pretendia te encontrar no refeitório. Eu vi o agito e simplesmente entrei, então te vi. Desculpa.
Fiquei esperando, e ele falou de novo.
— Não sei o que aconteceu entre você e o Arthur. Não é da minha conta… você e eu só saímos algumas vezes. No começo fiquei chateado, mas depois percebi que isso não teria me incomodado se eu não sentisse nada por você.
— Eu não transei com ele, Parker. Ele segurou meu cabelo enquanto eu vomitava mais de meio litro de tequila. Isso foi o máximo de romance que rolou.
Ele deu risada.
— Acho que nós dois não tivemos uma chance de verdade… não com você morando com o Arthur. A questão, Lua, é que eu gosto de você. Não sei por que, mas não consigo te tirar da cabeça. — Sorri e ele pegou minha mão, passando o dedo pela pulseira.
— Eu provavelmente te assustei com esse presente ridículo, mas nunca estive numa situação como essa antes. Parece que estou sempre competindo com o Arthur pela sua atenção.
— Você não me assustou com a pulseira.
Ele pressionou os lábios.
— Eu gostaria de te levar para sair de novo em algumas semanas, depois que acabar o mês que você tem que passar no apartamento do Arthur. Então a gente vai poder se concentrar em se conhecer melhor, sem distrações.
 É justo.
Ele se inclinou e cerrou os olhos, pressionando os lábios contra os meus.
— Te ligo em breve.
Acenei para ele em despedida e voltei ao refeitório, passando por Arthur, que me agarrou e me colocou no colo.
— Terminar é difícil?
— Ele quer tentar de novo quando eu voltar para o Morgan.
— Merda. Vou ter que pensar em outra aposta— ele disse, puxando meu prato na minha frente.
As duas semanas seguintes voaram. Fora o período das aulas, passei cada momento com Arthur, e a maior parte do tempo ficamos sozinhos, só nós dois. Ele me levava para jantar, para beber e dançar no Red, para jogar boliche, e foi chamado para duas lutas. Quando não estávamos rindo que nem bobos, estávamos brincando de lutinha ou aninhados no sofá com Totó, assistindo a algum filme. Ele fez questão de ignorar todas as garotas que o paqueraram, e todo mundo comentava sobre o novo Arthur.
Na minha última noite no apartamento, Melanie e Chay estavam inexplicavelmente fora, e Arthur se deu ao trabalho de preparar um jantar especial. Comprou vinho, arrumou guardanapos de tecido e até conseguiu talheres novos para a ocasião. Dispôs os pratos no balcão e puxou uma banqueta para o outro lado, para se sentar na minha frente. Pela primeira vez, tive a nítida sensação de que estávamos em um encontro.
— Está muito bom, Thur. Você não disse que sabia cozinhar. — falei, enquanto comia a massa com frango à moda cajun que ele havia preparado. Ele forçou um sorriso, e pude ver que estava se esforçando para manter a conversa leve.
— Se eu tivesse te contado antes, você ia querer que eu cozinhasse toda noite.
O sorriso dele desapareceu, e seus olhos se voltaram para a mesa. Revirei a comida no prato.
— Também vou sentir sua falta, Thur.
— Você ainda vai aparecer por aqui, não vai?
— Você sabe que eu vou. E você também vai aparecer no Morgan, para me ajudar a estudar, que nem antes.
— Mas não vai ser a mesma coisa. — ele suspirou. — Você vai estar namorando o Parker, a gente não vai ter tempo… Vamos acabar seguindo rumos diferentes.
— Não vai mudar tanta coisa assim.
Ele conseguiu dar uma única risada.
— Quem poderia imaginar, da primeira vez que nos encontramos, que estaríamos sentados aqui agora? Eu nunca teria acreditado, atrás, que ia ficar tão triste de me despedir de uma garota… — Senti um nó no estômago.
— Eu não quero que você fique triste.
— Então não vá embora. — ele disse.
Sua expressão era tão desesperada que a culpa formou um nó na minha garganta.
— Eu não posso morar aqui, Arthur. Isso é loucura.
— Quem disse? Acabei de ter as duas melhores semanas da minha.
— Eu também.
— Então por que eu sinto que nunca mais vou ver você de novo?
Eu não tinha resposta para a pergunta dele. Seu maxilar ficou tenso, mas ele não estava com raiva. A urgência de ir até ele crescia insistentemente em mim, então me levantei e dei a volta no balcão, sentando-me em seu colo. Ele não olhou para mim, e abracei seu pescoço, pressionando meu rosto no dele.
— Você vai perceber o pé no saco que eu era e vai esquecer completamente de sentir a minha falta. — falei ao ouvido dele.
Ele soltou o ar enquanto esfregava minhas costas.
— Promete?
Eu me inclinei para trás e olhei nos olhos dele, tocando cada lado de seu rosto com as mãos. Fiz carinho no queixo dele com o polegar. Sua expressão era de partir o coração. Fechei os olhos e me inclinei para beijar o canto de sua boca, mas ele se virou e beijei mais do que tinha pretendido. Mesmo tendo sido pega de surpresa pelo beijo, não recuei de imediato. Ele manteve os lábios nos meus, mas não foi além disso.
Por fim, eu me afastei e dei um sorriso.
— Amanhã vai ser um dia corrido. Vou arrumar a cozinha e depois vou pra cama.
— Eu te ajudo— ele disse.
Lavamos a louça em silêncio, com Totó dormindo aos nossos pés. Ele secou e guardou o último prato, depois me levou pelo corredor, segurando minha mão com um pouquinho de força demais. A distância entre a entrada do corredor e o quarto dele parecia duas vezes mais longa. Nós dois sabíamos que o momento do adeus estava próximo.
Dessa vez ele nem tentou fingir que não estava olhando enquanto eu trocava de roupa, colocando uma de suas camisetas para ir para a cama. Ele tirou toda a roupa, ficando só de cueca, e se enfiou debaixo do cobertor, esperando que eu me juntasse a ele. Assim que fiz isso, Arthur apagou a luz e me puxou para junto dele, sem permissão nem desculpa. Seus braços estavam tensos e ele soltou um suspiro. Aninhei o rosto em seu pescoço e fechei os olhos com força, tentando saborear o momento. Eu sabia que desejaria ter esse momento de volta todos os dias da minha vida, então aproveitei ao máximo.

Hello Hello :)

Hahaha, adorei o Arthur cantando no refeitório. Realmente lembra High School Musical, eu amava. 
É acho que a aposta chegou ao fim, choremos :/
O que vocês acham que vão acontecer? 
Próximos capítulos estão quentes, haha.

N/A: Estava viajando (de novo) haha por isso não deu pra postar, meninas. Desculpem!


COMENTEM!!! 

12 comentários:

  1. Fiquei imaginando a cena do Arthur cantando hahah
    Esses dois vão sofrer com esse fim viu
    Helena

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  2. Tadinho que do dele triste posta mais

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  3. Esse Parker tem que ir embora logo. A Lua tem que continuar morando no apartamento

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  4. Você não ia fazer maratona ? To esperando kkkk

    by: Naat

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  5. Posta mais , me diz que eles vão ficar juntos logo ?

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  6. Posta maaaaiiissss

    - Viic

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  7. Quero o Arthur logo cm a lua

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  8. Bom, você disse que os próximos capítulos estão quentes, então a única coisa que minha mente pervertida pode pensar é... Você sabe o q é hauahauhaushs
    Não dá pra lidar! Cada dia mais apaixonada. Ah, e se quiser postar mais uma hoje, fique a vontade

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