Adivinha quem sou (Adaptada)- Capítulo 60

|




A cada dia acordo mais cedo. Estou tão inquieta nesta casa que mal posso dormir.
Todas as manhãs eu tento pensar que tudo vai mudar. Tudo tem que mudar por Arthur.
Mas quando eu vejo o seu pai, e o cumprimento tentando me aproximar dele, apesar de tudo, uma vez ou outra ele ignora a minha presença. De mim.
Outras manhãs em que está lendo o jornal, junto com meu namorado ou Tony no salão, quando eu entro se levanta e sai. Arthur olha para mim e pisca com cumplicidade. Eu sorrio, mas o que eu queria mesmo era falar umas poucas e boas para esse velho. Que raiva!
Numa tarde, quando eu estava olhando para uma das janelas, o vejo tropeçar e corro para ajudá-lo. A princípio se agarra a mim para não cair, mas quando se dá conta que sou eu, me solta como se tivesse se queimado.
Se vê que chamo o Pulgas, ele prende a coleira e não o solta para que o animal não se relacione comigo. Se eu for para a sala e por acaso está falando com alguém que tenha ido visitá-lo, com voz dura me apresenta como a noiva do seu filho Arthur, mas depois consegue me fazer desaparecer. O Incomodo.
Este homem me deixa perplexa. Às vezes, quando estou com Arthur e ele ri em voz alta por algo que eu digo, sua expressão se suaviza. Parece alegrar-se de ver seu filho rir. Mas quando percebe que o olho, franze a testa novamente.
Outras vezes, quando Arthur e eu voltamos da praia com nossas pranchas de surf, nos olha com expressão serena. Eu acho que às vezes até sorri, mas quando eu abaixo a guarda em especial quando seu filho não pode ouvir, me machuca e isso cada dia me cansa mais.
O velho é um autêntico grosseirão. Isso me dá uma cal e areia, mas me calo. Eu penso em Arthur e não quero sobrecarregá-lo. Em breve vamos embora e, é claro, eu nunca vou voltar.
Certa manhã, quando estava em silêncio na cozinha, comendo Cola Cao ao ler um livro, de repente eu ouço do meu lado:
— Outra vez fazendo a mesma coisa?
Vendo a sua expressão de ogro, me engasguei com o cacau e não poderia remediar ao tossir em cima dele. Seu rosto é um poema; o meu, outro, como sempre, eu caí na risada enquanto penso, "Isso é por me chamar de puta".
Meu riso que aperta os seus botões. Me dedica algumas palavras indelicadas que me tocam a alma e deixa a cozinha com muita raiva.
Minutos depois, enquanto eu estou limpando a bagunça com a ajuda de Tata, que eu disse o que aconteceu, Arthur vem a mim e me pede para explicar. Eu tento explicar-lhe, mas é olhar para Tata e voltar a rir. Meu menino não riu de tudo. Nós duas tentamos parar, mas não conseguimos. Finalmente, Arthur sai com raiva. Agora eu tenho dois Aguiar com raiva de mim.
Quase nada!
Os dias passam e, apesar do muito que me custa, eu começo a entrar no jogo do velho.
Ele tem uma língua afiada e às vezes muito cruel e eu notei que isso fica ainda pior quando se filho não está presente.
Diante de Arthur discutimos, mas quando ele não está, podemos dizer coisas terríveis.
Mas eu também percebi uma coisa: Lhe incomoda me ver rir mais do que com raiva. Então rir é o que vou fazer!
Pulgas e eu chegamos a um entendimento. Dou salsicha secretamente a ele e ele é meu amigo. Pobre cão, o dia em que seu amo perceber que é infiel comigo, espere uma boa.
Às vezes, quando estou sozinha no período da tarde no jardim, eu vejo a garota que veio aquele dia na cozinha. Deve retornar da escola. Traz uma pequena mochila e acena com a mão.
Um dia, enquanto Arthur fala pelo telefone dentro da casa, eu estou deitada na rede, tomando sol e ouvindo música no meu iPhone. Cantarolando baixinho:
Não chore mais, minha preciosa. Você não chore mais, você verá a minha tristeza. Não chore mais, minha preciosa...
De repente, a menina vem correndo e fica na minha frente. Eu tiro os meus fones de ouvido e sento na rede, eu sorrio. Ela caminha, toca meu cabelo loiro e murmura:
— Eu preciosa?
Deve ter me ouvido cantar e respondo:
— Sim. Você é preciosa.
Ela solta uma gargalhada e, como tem sido, se vai. Eu a sigo com o olhar e vejo que corre para a casa onde eu vi naquele dia ela desaparecer com sua tia.
Volto a por meus fones de ouvido e continuo cantarolando enquanto eu sorrio pelo ocorrido com a menina. Naquela tarde, Tony mostrou-me o lugar onde fica. É uma casa além da casa principal. Confessou que prefere ficar lá. A regra do seu pai de não ouvir música o incomoda e mudar para aquela casa, longe da grande, permite-o fazer o que quiser.
Atordoada, eu olho para os prêmios que recebeu por suas canções e agora eu entendo melhor essa sensibilidade que mal interpretei quando o conheci. Além disso, desde que eu vim para a ilha e sai à noite com os irmãos Aguiar, pude ver o seu sucesso com as mulheres. Arthur não abordam, porque se alguma fizer isso vou arrancar seus olhos, mas o Tony sim, eu desfruto ver o conquistador nato que é. Ele não perde uma. Como diria minha mãe, onde se mira, se acerta.
Em seu refúgio particular, toca para mim o piano e canta a última música que compôs.
É magnifica, romântica e falando naturalmente de um coração partido de amor. Eu escuto encantada enquanto ele toca com os olhos fechados; quando acaba aplaudo e exclamo:
— Que canção mais bela.
— Wepaaaaaa. Me encanta que você goste. – Eu o olho divertida
— Por que você sempre diz isso: “Wepaaaaaaa"? – Tony ri.
— Vem de um rap que diz: "Se você realmente é Boricua grita, Wepaaa!”. –Nós dois rimos e, em seguida, ele olha para mim e diz: — Espero que algum dia deixe-me compor uma canção para você. Sem dúvida, a música vai ser um sucesso. Eu tenho um bom olho para isso e Omar também.
Ouvir ele dizer isso me ruboriza . É algo que, no futuro, eu espero que sim e eu
respondo:
— Uma não. Todas! Para mim seria uma honra.
Com Arthur meu relacionamento é perfeito. Vem para o meu quarto a cada noite e juntos nós desfrutamos do que nos tira a razão, mas fazemos em silêncio. Meu garoto é excitante, quente e possessivo e isso eu gosto cada vez mais. Há ocasiões em que eu vendo os seus olhos e não o deixo opinar ou tomar as rédeas do jogo, ele fica louco com a minha possessão.
Minha relação com Pulgas também vai de vento em popa, algo que eu não posso dizer do Ogro. Depois de vê-lo lamentar naquele dia em seu quarto, olhando filmes, meu pequeno coração se compadeceu dele. Nosso trato não ficou melhor, mas eu tento entender por que sua amargura. No entanto, sou incapaz de fazê-lo. Se ele amava a sua esposa e seus filhos, por que está sempre com raiva?
Uma manhã em que Arthur o acompanha ao médico, depois de falar com a minha mãe ao telefone e deixá-la saber que eu estou como uma rainha para ela não se preocupar, eu começo a ler em um dos belos terraços que tem na casa, quando eu ouço que a Tata consola alguém. Sento-me na rede surpresa, vejo que consola a menina. Está inconsolavelmente chorando, abraçando-a caminha para cima e para baixo com a pequena em seus braços, sussurrando palavras em seu ouvido. Eu me levanto, vou até elas e pergunto:
— O que aconteceu? – Com gesto oprimido, Tata responde:
— Oh, bendito Deus. A menina estava sozinha na praia e uma onda a derrubou. Eu a vi do terraço e fui buscá-la.
Naquele momento apareceu Elsa com uma cara de desgosto. Se aproximou e vendo a menina chorar pergunta, depois de dedicar um de seus olhares malignos:
— O que aconteceu?
— Olha, louca – diz Tata fora de si, surpreendendo-me — acontece que a menina
estava sozinha na praia. Como pode isso ? Por que não estava no jardim de infância enquanto você estava trabalhando?
— Hoje ela perdeu o ônibus e eu não podia levá-la – desculpando-se.
— Bem, nesse caso você podia me dizer – Tata a censurando — E buscaremos uma solução, certamente não pode uma menina tão pequena ficar sozinha.
Elsa amaldiçoou, enquanto eu vejo a criança se escondendo atrás das saias de Tata.
Isso me faz entender o medo que ela tem dessa bruxa e meu sangue ferve.
Finalmente, sem a menor cerimônia, estende a mão para pegar a pequena, algo que não pode fazer, porque a pequena se move com velocidade. Então diz:
— Dê-me a menina. Vou trancá-la em casa enquanto eu estou trabalhando.
Vai trancar a garota? Tata deve ter pensado o mesmo que eu, e diz:
— A menina não pode ficar em casa sozinha trancada. É muito pequena e...
— Não... Sou não. – Resmunga a menina. Quebra meu coração. Mas Elsa, que tem menos coração que uma lagosta, murmura:
— A má vida que você me dá, maldita merdinha.
— Ah, Senhor. Elsa, pelo amor de Deus, não diga isso para a pequena! –Tata protestou.
Logo depois, eu entendi que "merdinha" é como dizer cocô e estou protestando.
Discuto com aquela mulher odiosa, mas não a impressiono. Ela sabe que o Ogro não me engole e se aproveita disso.
— Chega! – Tata grita para nos calar e olhando para Elsa em silêncio, ela diz — a menina não pode continuar. Algum dia vai acontecer alguma coisa e, em seguida, vêm as lamentações.

— O que você quer que eu faça, Tata? – Gritou a mulher. — Não é a minha filha. É a bastarda da minha irmã, mas essa sem vergonha se foi deixando-me este fardo para carregar.


Até segunda :)

4 comentários: