A Promessa - Capítulo 2

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Capítulo  2

  Basta a cada dia o seu mal. Costumava imaginar o que isso significa. 
Espero que ainda imagine. 
                         
 
                      Diário de Lua Blanco
  Na manhã seguinte, Fernando acordou, deu-me um beijo no rosto, levantou-se da cama e partiu.Uma hora depois, vesti meu roupão e fui ver como Luana estava. Ainda dormia. Abri um pouco as persianas, e sente-me na cama, ao seu lado.
- Luana – chamei. Ela gemeu e virou para o lado. Colocou a mão na cabeça e começou a chorar.
- Ainda está doendo? – perguntei.
- Minha cabeça está doendo – respondeu. Coloquei a mão em sua testa, mas   não estava quente.
- Como está a sua barriga?
- Também dói.
Esfreguei suas costas.

- Está melhor ou pior do que ontem?
- Está mais ruim – ela respondeu.
Inclinei-me e beijei sua cabeça.
- Volte a dormir, está bem?
Puxei acoberta até seu pescoço, fechei as persianas, e em seguida me arrumei. Liguei para o nosso pediatra, o doutor Paulo, e marquei uma consulta para as onze e quarenta e cinco da manhã. Em seguida, liguei para Melanie.
- Ai, Mel, não posso ir esta manhã. Luana ainda está
muito doente. Melanie resmungou.
- Você sabe, essa gripe chata está se espalhando por ai. Ontem a Jan não foi a escola por conta disso.
- Não acho que seja uma gripe. Ela não está com febre. Eu a levarei ao médico esta manhã.
- Depois me conte o que ele disse. Perguntarei a Amanda se ela pode vir mais cedo.
- Obrigada. Fernando diz que estará em casa esta tarde, então, se quiser, posso ir por volta das duas e trabalhar no turno da noite.
- Assim é melhor. Tenho certeza de que a Amanda vai adorar trocar de turno. Ela é jovem, e ainda tem uma vida noturna.
 Ás dez e meia, levei Luana até cozinha e fiz um café da manhã para ela – mingau de aveia com açúcar mascavo. Ela não queria comer, então a deitei no sofá, de onde podia assistir ao Vila Sésamo enquanto eu me aprontava. Pouco antes do meio-dia, levei-a ao pediatra, o doutor Paulo Ricardo. Consultávamos o Dr. Paulo desde
que Luana tinha apenas seis semanas e sofria de muitas cólicas, por isso,
tínhamos uma boa relação médico-paciente.
  A clínica estava cheia. Quando o tempo muda no vale, há sempre muita gente doente, e a sala de espera fica tão abarrotada quando uma loja de departamento em liquidação. Esperamos mais de uma hora para falar com o médico, e ele se desculpou.
- Sinto muito, Lua – disse, ele próprio um pouco abatido. – Isso aqui está parecendo a Estação Central. Parece que metade do vale está doente, e a outra metade está com tosse. Então, o que acontece com a nossa princesa?
- Ontem, ela voltou mais cedo da escola, com dores de cabeça
e de estômago. Vomitou três vezes.
Ele sorriu para Luana quando se aproximou para apalpar seu pescoço.
- Bem, vejamos se descobrimos o que está acontecendo.
- Meu pai diz que é porque eu como muita banana – falou Luana. – Ele disse que sou uma macaquinha.
Ele sorriu
- Você tem menos pelos que a maioria dos macaquinhos que eu já vi, mas vou levar isso em consideração. Depois dele executar todos os procedimentos habituais.
- Bem – disse, esfregando o queixo. – Sem tosse, sem sudorese e sem febre. Não sei o que lhe dizer, Lua. Ela perdeu um quilo desde sua última visita, e seu rosto parece um pouco inchado, como se estivesse com retenção de liquido. Mas, fora isso e o mal-estar, tudo parece estar bem. Voltou-se para Luana. – Sua cabeça ainda dói?
Ela confirmou com a cabeça.
O doutor Paulo volto-se para mim.
- Ela está com alguma alergia?
- Não que eu tenha percebido. 
- Pode ser um pequeno vírus. Por enquanto, eu daria a ela um Tylenol infantil para a dor de cabeça, e a manteria em casa. Se Luana não melhorar em alguns dias, você talvez tenha de levá-la ao Centro Médico infantil, para realizar alguns exames.
Não estava gostando daquilo.
- Está bem. Obrigada.
- Gostaria de ter mais a dizer.
- Talvez não seja nada. Baixei os olhos para Luana. Ela parecia exausta.
- Vamos embora, querida?
- Vamos.Segurei-a em meus braços.
- Obrigada mais uma vez, doutor.
- De nada. Mande notícias sobre Luana.

Enquanto voltava para casa, um pavor súbito me invadiu. Não sou hipocondríaca – comigo ou com minha família - , mas algo estava errado. Eu sabia. Ás vezes uma mãe percebe essas coisas. Buzinei enquanto manobrava para dentro da garagem. Fernando apareceu na porta e ajudou a carregar Luana para dentro de casa. Ela se agarrou a ele, enfiando a cabeça em seu pescoço.
- O que o médico falou? – perguntou.
- Ele não sabe o que há de errado. Disse que se ela ainda estiver doente daqui a alguns dias, devemos lavá-lo ao hospital para fazer uns exames.
- Ao hospital?
- Apenas para uns exames. Mas vamos esperar até sábado.
- Sábado é Dia dos Namorados – Fernando falou. Olhei-o sem
entender. Em sete anos de casamento, jamais fizemos alguma coisa no Dias dos
Namorados. Francamente, Fernando era tão romântico quanto um par de tênis, e considerava o Dias dos Namorados ’uma conspiração de floricultores fabricantes de doces para engordar as próprias carteiras'.
- Eu fiz reservas para jantar no Paris6.
- Como conseguiu reserva para o Dias dos Namorados?
- Eu agendei três messes atrás
O Paris6 era meu restaurante favorito. Foi lá também que Fernando e eu ficamos noivos.
- Devo cancelara reserva?
Esfreguei as costas de Luana.
- Vamos esperar para ver como ela estará. Quando você vai viajar novamente?
- Preciso estar em Scottsdale na próxima terça-feira. Haverá uma conferência médica no Phoenician. Quer vir?
- Tenho uma doente de seis anos em um emprego. Em que mundo fictício isso seria possível?
Ele abriu um sorriso.
- Eu sei, mas não custa nada perguntar. Você está saindo agora para trabalho?
- Estou. Faltei dias demais. Espero que Felipe não resolva me despedir.
- Ele não consegue viver sem você.
- É, até parece. Ele não consegue nem soletrar o meu nome direito. É melhor eu ir. Até mais. Dei um beijo em Fernando e outro em Luana.
- Até mais, querida.
- Tchau, mamãe.
Quando eu já estava na varanda, Fernando disse:
- Ah, você se importa de levar a minha roupa suja e lavar a seco? Está tudo no banco de trás do meu carro. Ele está destrancado.
- Claro.
- E diga ao Pedro que ele engomou tanto minhas camisas da última vez que dava para fatiar um pão com as mangas.
- Pedro não passa as camisas – respondi. – Direi ás meninas para não exagerarem. Até noite.
- Vou pedir uma pizza. Podemos ter uma noite tranquila em casa.
- Não acho que o estômago de Luana vai aguentar uma pizza.
- Eu quero pizza – ela disse. Balancei a cabeça.
- É claro que sim.
- Desculpe – disse Fernando. – Até mais.
Fernando carregou Luana para dentro. Apanhei sua roupa suja, coloquei no banco traseiro do meu carro, e dirigi até o trabalho. 

            continua... Não percam o próximo capítulo!!


Minha mente girava, e senti a cabeça perder como se fosse desmaiar.
-   Sente-se – disse Melanie, então empurrou uma cadeira em minha direção. – Respire. Pronto, respire, querida.
Sentei-me no momento em que tudo girava á minha volta. Depois de um tempo, não sei quanto, disse:
-     Preciso ir. Desculpe. Preciso ir.
-      Querida, tenha cuidado. Deixa eu levar você.
-    Eu preciso ir, só isso. – Levantei-me e caminhei até o carro. Melanie me seguiu.
-    Querida, não faça nenhuma besteira. O que vai fazer? Diga o que vai fazer.




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