"Certezas" - 7º Capítulo

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POV LUA

No capítulo anterior…

- Está tão quentinha. – eu coloquei um pé de cada vez e sentei no fundo da banheira. – Vem Arthur.
- E se a sua irmã chega?
- Que nada. Vem! – o chamei de novo
- Tá bom… - ele entrou também comigo na água

Estávamos sentados frente a frente dentro de água. A água estava correndo sobre as minhas costas. Eu adorava ter aquela sensação.
Arthur tentava olhar para tudo menos para mim, o que ficava difícil, pois eu estava mesmo à sua frente. Ele fazia de tudo para não me tocar nem com as pontinhas dos pés. Eu percebi desde logo o seu nervosismo, mas não entendo a razão, pois somos amigos tão chegados e neste momento, deveríamos estar mais à vontade.

- Está com medo de não me resistir? – o provoquei, soltando uma risada da cara que ele fez logo depois
- Resistir? De quê? – ele engoliu seco – Eu só acho que…
- Que o quê? – o interrompi, segurando o riso
- Que não devíamos fazer isso. – ele tentou se levantar mas eu peguei a mão dele
- Arthur, nós não estamos fazendo nada. E eu começo a me irritar com todos os seus medos – ele se sentou de novo na banheiro, olhando para mim – Você me fez um favor tão grande. Está faltando às aulas por mim e eu só te quero pagar tudo isso com um banho quente.
- Mas eu tenho água quente em casa e… - ele tentou de novo se levantar
- Se você for embora, eu fico chateada! – cruzei os braços.

Ele voltou a sentar na banheira. Pedi que ele tentasse ficar mais à vontade. Ele estava tão nervoso que cada vez que eu tocava na mão dele, ele tremia.

- Eu é que estou doente. Eu é que devia de estar com esses medos todos de não resistir a você – eu ri dele

Molhei o meu cabelo, quando me levantei e passei shampo nele. Arthur, dessa vez, me olhava o tempo todo. Ele estava ainda sentado e levava com a água no rosto, mas sem se importar minimamente. Depois foi a vez dele. Eu peguei um roupão e fiz tempo no banheiro penteando os meus cabelos. Queria vê-lo ali, todo sensual.

- Demos temos de falar da sua lista. – disse ele.
- É?
- Lógico! Você tem muitos pedidos estranhos Lua. – ele me olhou, enquanto colocou a toalha de lado
- Como por exemplo? – o encarei. Fomos para o meu quarto e ele pegou as suas roupas
- Aquele em que você necessita de alguém para os realizar… - ele baixou o rosto, meio envergonhado. Fiquei envergonhada também. Quando escrevi aquilo, não pensei realmente que ele fosse ler e me encarar com aquele meu pedido. Talvez aquele seria o segredo em que eu devia ter guardado para mim
- Ahh, já sei… - baixei o rosto também envergonhada.

Peguei as minhas roupas íntimas e pretendia me trocar. Arthur não parava de falar algo bobo sobre todos os meus desejos, e eu nem estava o ouvindo. Quando ele pediu que eu lhe disse-se o que eu sonhava fazer, pensei que fosse mesmo tudo.
Tirei a minha roupa interior por de baixo do roupão e vi que Arthur tinha parado de falar. Eu estava de costas para ele. Peguei a minha roupa interior que havia tirado da gaveta e vesti. Senti um frio imenso passar por de baixo daquele roupão e fui ao armário buscar mais roupa para vestir.

- Não que eu acho que vá ser impossível… - ele continuou, desta vez pegando na sua roupa que antes havia tirado para tomar banho comigo – Só acho que você precisa de conhecer alguém legal, que te ame e que você ame também, pra poder dar esse passo.
- Eu só conheço um alguém legal… - eu me referia a ele, indirectamente. O encarei para que ele percebesse isso
- Então… fala com ele, se aproxima dele e… que sabe dê. – ele se vestiu e e não entendeu nada do que eu havia dito.
- Como eu faço isso?
- Simples. Põem conversa com ele. – ele dizia tudo com naturalidade enquanto se vestia
- Assim? – me aproximei dele e o ajudei a colocar o casaco – Oi lindo! – beijei o seu rosto – Quer sair comigo?
- Bom… - Arthur riu e deu um passo para trás – Podia começar por… não sei. Conversas mais simples.
- Oi lindo! – voltei a me aproximar dele e beijei de novo o seu rosto, num modo irónico – Já viu como está o céu hoje? E o vento? Viu a neve de ontem?
- Lua… - Arthur riu e voltou a se afastar de mim – Você é que sabe, mas…
- Arthur! – cansada dele não entender nada, gritei o seu nome – Você não entende que o garoto legal que eu conheço e que eu amo, é você? – coloquei as mãos na cintura.

Ele ficou um pouco sem reação. Talvez não estava mesmo nada à espera que eu lhe disse-se aquilo assim, daquele jeito tão rápido e direto. Mas ele me conhece. Ele sabe que eu sou insegura e muito inexperiente neste negocio de sentimentos, mas no que toca a ele, eu o amo de verdade. Não sei se é só como amigo ou algo mais, ao ponto de fazer amor com ele (sim, era esse o meu desejo – ter a primeira vez com alguém especial). Eu não sei essas coisas. Não posso perguntar para o meu coração também. ele não fala. Ele só sabe acelerar quando eu estou perto de alguém que gosto e só sabe também me causar dor e aperto quando eu estou triste.

- Lua, não… você não pode confundir as coisas. – ele pegou a sua bolsa – Nós somos amigos. Nós não… não podemos… fazer isso. – ele balançava a cabeça enquanto colocava a alça da bolsa do ombro -  Eu vou embora.

Todo atrapalhado, ele olhou para mim, me deu um beijo na testa e saiu porta fora do meu quarto. Provavelmente foi embora. Eu sentei na cama e comecei a chorar. Vou morrer virgem. Ninguém nunca me vai amar. Nunca vou poder sentir a pele de alguém, nua, encostada à minha.
Eu não estava triste por morrer virgem. Eu estava triste porque ninguém nesse mundo me vai amar. Ninguém nesse mundo se vai apaixonar por uma garota doente. Ninguém.

Arthur ficou três dias sem falar comigo. Em menos de um mês, já ficamos assim duas vezes. Na verdade, já ficamos sem falar duas vezes em duas semanas, ou até menos que isso. Acho que foi o assunto da minha virgindade que o deixou assim.

Passei os dias em casa, fechada, como uma prisioneira. Olhava para a janela e via o onibus amarelo passar levando todas as crianças para a escola. Por incrível que pareça, senti falta da escola, das aulas, dos meus colegas e dos professores chatos. Se bem se lembram – já tinha referido – deixei a escola porque todos me olhavam de lado, falando baixinho, para que eu não ouvisse, do meu problema. Senti falta de fazer algo durante o meu dia a dia, sem ser tomar medicamentos, ir a consultas e ouvir sermões chatos da minha mãe e do meu médico.

- Você e o Arthur brigaram de novo? – eu não respondi à minha mãe – Nem precisa de responder. Eu sei que sim. O que se passa com vocês? Vocês não eram assim.
- Esta doença crónica está acabando aos poucos com a nossa amizade.
- Não diga isso. O Arthur sempre te tratou normalmente, sempre se preocupou com você.
- Mas ele… - suspirei – Eu não sei realmente o que se passa.
- Seu celular! – minha irmã veio correndo me entregar ele que tocava sem parar. Quando eu peguei, parou de tocar
- Era o Arthur – disse eu, com um sorriso enorme.

O celular voltou a tocar. Desta vez, era uma mensagem. Após essa, chegou mais duas. Eram todas do Arthur.

E ai, o que será que o Arthur quer? 

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