"Certezas" - 5º Capítulo

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POV LUA

No capitulo anterior…

- Promete?
- Prometo! – apertamos o dedo mindinho um do outro como sempre fazíamos nas nossas promessas.

Eu tinha ido a mais uma consulta de rotina. Os médicos me aconselharam a tomar novos remédios que eram mais potentes, porém, o meu corpo ia sofrer um pouco nos primeiros dias com as mudanças. Estes medicamentos eram mais fortes e ia fazer com que eu sentisse menos dor de cabeça e iam fazer também com que a minha visão não ficasse tão turva.

- Vamos para casa. Você vai começar a tomar os medicamentos hoje. E você ouviu o médico, né? – minha mãe me olhou enquanto dirigia – Repouso, muito repouso. Você vai ver que um dia poderá fazer tudo normalmente, meu amor.
- Eu nunca vou ser uma garota normal mãe. Eu sempre vou ter este problema.
- Mas você vai aprender a lidar com ele. Eu sei que você é nova e que custa, mas você vai ver que um dia tudo se tornará mais fácil.
- O dia em que isto se tornar mais fácil, é o dia em que eu deixarei este mundo mãe. Você sabe… os médicos me deram apenas cinco meses de vida.
- O mundo dá voltas meu amor. – disse a minha mãe com lágrimas no olhos

Eu não gostava de ver a minha mãe chorar, ninguém gosta. Eu apertei a mão dela, transmitindo as poucas forças que eu tinha para que ela não ficasse triste. Eu não gostava de a ver assim.
Ela dirigia devagar, pois a neve na estrada fazia com que o carro derrapasse um pouco, podendo causar um acidente. Passamos por uma pastelaria que tinha na montra bolos com óptimo aspecto. Eu olhei para a minha mãe, passando o língua nos lábios, mas ela negou com a cabeça. Da última vez que eu comi um bolo, desmaiei, pois o meu nível de açúcar no sangue se alterou muito.

- Você acha que o pai olha por mim, lá em cima no céu? – perguntei, sem olhar para a minha mãe. Eu estava debruçada sobre a janela do carro, que ia fechada devido ao frio
- Eu aposto que sim – ela sorriu, olhando para a estrada – Ele é um anjo.

Meu pai havia morrido de cancro. Ele amava mais que tudo a minha mãe e claro, eu e a minha irmã. Dizíamos que os homens que casassem com a gente iriam ser sortudos por terem alguém como nós, ao seu lado. Me lembro muitas vezes de como ele se colocava na cadeira do balanço, em frente à lareira da sala, tocando violão para a gente. Nunca me esquecerei do sorriso dele.

- Você tem surpresa lá em cima no quarto.
- O quê? – perguntei à minha irmã.
- O Arthur. – ela sorriu
- O que ele faz aqui numa hora dessas? – ri – Aquele maluco.
- Eu começo a acha que ele está apaixonado por você, Lua. – disse a minha mãe enquanto colocava os sacos das compras em cima do balcão da cozinha
- Que nada mãe. – sentei na beira do balcão – Ele apenas é meu amigo e se preocupa muito comigo. Faz de tudo para eu sorrir.
- Tenho de agradecer muito a ele. É um cara do bem, com dizem vocês – ela riu – Mas bom, vamos tomar os medicamentos?
- Se tem de ser… - suspirei.

Minha mãe me fez um mini lanche para eu comer e depois me deu os remédios para eu tomar. Desta vez eram três que eu tinha de tomar só de uma vez. Tinham um gosto péssimo. A água que eu tomei foi insuficiente e fiquei com o gosto deles na língua. Queria vomitar tudo aquilo, mas os medicamentos eram caros e eu não podia desperdiçar. Tentei ser mais forte, voltei a beber água e fui para o quarto.
Me sentia estranha. A minha barriga estava fazendo uns sons estranhos e eu sentia uma vontade de vomitar imensa.

- Oi Lu! – Arthur se levantou da minha cama e veio me abraçar – Já li a lista dos seus desejos. Tem muitos loucos… - ele riu – Espero que dê pra concretiza-los a todos.
- Não vai dar… - suspirei e sentei na cama – Eu estou tomando novos medicamentos.
- E então…?
- O médico diz que o meu corpo vai reagir um pouco mal nos primeiros dias.
- Eu vou ficar aqui com você. Não se preocupe.
- Não Arthur. Eu não quero que você fique. A minha mãe daqui a pouco volta e vai ficar comigo.
- Porque não quer que eu fique? A sua mãe precisa de descansar e…
- Eu não quero que me veja mal.
- Mas eu vou ficar aqui! – ele foi mais pessimista do que eu.

O médico parece que previa mesmo o futuro. Passados uns 20 minutos que eu tomei os medicamentos, a vontade de vomitar se tornou ainda maior. Tive que respirar muitas vezes fundo para que aquela vontade terrível fosse embora. A minha barriga estava doendo muito. A minha mãe disse que era devido aos medicamentos.
Arthur me ajudou a tirar o casaco de pele que eu tinha e logo depois deitei na cama com roupa de sair mesmo. Estava incapacitada de continuar levantada. Ele sentou na cama e pediu que eu deitasse a cabeça no colo dele.

- Vou cuidar de você, tá? Tenta dormir… a dor passará mais rápido.

Eu queria dormir e só acordar quando este pesadelo acabasse, mas infelizmente, este mal-estar prolongou-se durante dois dias. Eu fiz de tudo para não colocar nada para fora e assim consegui.
O Arthur passou esta última noite na minha casa. Ele queria se certificar que eu acordaria bem no dia seguinte.

- Bom dia meninos! – minha mãe entrou no quarto e me despertou. Meu corpo estava quente, muito quente. Ela tinha me enchido de cobertas na noite anterior. As temperaturas tinham registado dois graus negativos, mas felizmente, hoje havia melhorado. – Arthur, como você está? Você é tão teimoso! A cama do sofá é muito mais confortável do que um simples colchão no não. As cobertas foram suficientes?
- Sim, foram. Muito obrigado senhora Blanco. Eu estou muito bem.

Eu abri os olhos e olhei em redor. Custava abrir os olhos e ver todo aquele clarão no meu quarto. Arthur estava sentado no colchão em que ele havia passando a noite e tanto ele como a minha mãe, estavam agora olhando para mim.
A minha mãe havia preparado chocolate quente e aquele pão gostoso que só ela faz.

- Bom dia, princesa. Como você está? – minha mãe perguntou
- Estou bem mãe. – continuei deitada na cama com um sorriso
- Acordou bem mesmo? – perguntou Arthur
- Sim. Bem melhor que ontem. – sentei na cama – Me passa o pão mãe? Estou com fome!
- Claro. – ela me deu uma fatia do pão barrado com manteiga – Eu preciso de ir trabalhar. Arthur, você também tem aulas, né?
- Sim, tenho – ele suspirou.
- Então fique atento à hora. – minha mãe sorriu – Lua, vou trabalhar meu anjo. Qualquer coisa é só ligar para mim – ela veio até mim e me beijou a testa – Fico feliz por você ter acordado bem minha filha. Até logo. – ela sorriu de novo para nós dois e saiu
- Também fico feliz por você ter acordado bem. – Arthur se levantou, voltou a se sentar na beira da minha cama e me deu um beijo na testa – Li a sua lista e já sei o que vamos fazer hoje.
- Lista?
- Sim, a lista dos seus desejos. Aqueles vinte.
- Ahh, já me lembro. – eu ri – Eu não estava lembrada. Mas o que é que vamos fazer?
- Surpresa! – ele riu – Termina só o café da manhã e nós já vamos.
- Mas e a faculdade Arthur?
- Hoje eu não vou
- Porque?
- Greve… os alunos estão fazendo greve. – vi ele meio atrapalhado na resposta
- Não mente pra mim, por favor – o encarei
- Eu não quero ir, quero ficar com você. – ele segurou as minhas mãos – Você é mais importante.
- Não quero que se prejudique por mim
- Não estou nem ai… eu quero só ficar com você. – ele me abraçou

E ai, o que será que ele vai fazer?

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