"Certezas" - 13º Capítulo

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POV LUA

No capítulo anterior…

- Affs, eu não quero fazer nada! – cruzei os braços de novo e fui pisando forte em direção à saída.
- Não, Lua! – ele começou a rir e veio atrás de mim – Vem, vou te ajudar.

E sem muitas mais demoras, Matheus me levou de novo até à tal garagem, que eu quase saí por teimosia, e pegou a bicicleta para fora. Ele só tinha proteçoes para uma pessoa, o que me causou preocupação.

- E agora?
- Você usa! – ele me deu as joelheiras e o capacete
- Não… é melhor a gente não andar, pode ser perigoso
- Claro que não Lua… eu nem costumo usar. – ele me ajudou a colocar aquele capacete que desfez o meu rabo de cavalo. Depois me ajudou a colocar aqueles negócios complicados nos joelhos – Pronto, agora você está pronta!
- Nós não vamos cair, né? – perguntei ainda insegura
- Você confia em mim? – ele segurou as minhas mãos
- Confio! – disse eu segura do que dizia mesmo. 
- Então pronto, não se preocupa.

Ele trouxe a bicicleta pra perto de nós, ele subiu para cima dela e olhou para trás, esperando que eu subisse também. eu estava com medo, mas como prometi confiar dele, subi e coloquei um pé de cada lado no chão. Segurei o volante com toda a força do mundo e respirei fundo imensas vezes. 

- Agora, eu vou pedalar e você vai manter os pés no ar, entende? Quando se sentir segura, você pedala. Pedalando ou não, a bicicleta vai estar sempre em movimento, porque eu vou pedalar. 
- Posso pedalar quando eu quiser?
- Sim. Está pronta?
- Sim. – respirei pela milésima vez fundo

Matheus deu a partida e começou a pedalar. As primeiras pedaladas foram totalmente desajeitadas, visto que a bicicleta era grande, de dois lugares, e ele estava pedalando sozinho. Não demorou muito tempo para ele seguir rumo para fora da fazendo. O caminho, na fazenda, era de terra ou grama. Lá fora, era asfalto. 

- A sensação de andar de bicicleta é otima Lua. fecha os olhos e deixa-se levar
- Não! – quase gritei – Eu tenho medo.
- Confia em mim, Lua. é so você segurar vem o volante e deixar se levar.
- Por enquanto não…

Continuamos pedalando, digo, o Matheus continuou pedalando. Por um momento, pensei em colocar os pés nos pedais e foi isso que fiz. Parecia que eu realmente sabia andar de bicicleta, mas tenho a certeza que se o Matheus saísse da parte da frente, eu cairia redonda no chão.

- Vamos um pouco mais rápido?
- Não!
- Só um pouco Lua… - ele riu de mim, de novo.

Pedalei à mesma velocidade que ele. Sentia as minhas pernas tremerem, mas a sensação de andar de bicicleta era única. Eu tinha uma sensação de liberdade com o vento batendo no meu rosto, e ao mesmo tempo, sentia um autocontrole enorme quando a gente se desviava de um buraco no chão, um cão que por lá passava, ou pessoas. Eu ficava até meia nervosa. 

Andamos de bicicleta durante uns trinta minutos. Na hora de voltar para casa, o Matheus trocou o lugar comigo e eu é que fui à frente, mas mais devagar enquanto pedalava.

Mais um desejo estava completo da minha lista. Restavam quantos? Bom, a maioria! Restavam-me dezoito. 

De volta à fazenda, o Matheus foi arrumar a bicicleta e pediu que eu ficasse lá esperando ele. Faziam duas horas que eu não comia e começava a sentir algumas tonturas, tudo por conta desta maldita hipertensão arterial. 
A minha vista começou a fincar embaçada, eu detestava quando isso acontecia. Me sentei no chão mesmo e respirei fundo. Não podia baixar a cabeça, caso contrário, ia desmaiar. Estava a ficar em pânico, pois eu não encontrava ninguém perto de mim.

- Lua, vem! – Matheus me chamou ao longe. Ele tinha algo nas mãos que eu não conseguia bem ver. Me levantei, dando uns passos méis atordoados e tentei ir até ele, mas as dores de cabeça começaram também. – Lua, está tudo bem? – ele percebeu que o meu andar não estava bem – Lua! – ele gritou e veio até mim, me impedindo de cair – O que se passa? 
- É esta maldita doença… - eu sorri, fraca. Ele balançou a cabeça e colocou o meu braço de volta do seu pescoço e levou uma das suas mãos à minha cintura.
- A culpa é minha!
- Não! A culpa é minha. Eu sei das minhas responsabilidades…

Andei com os passos todos trocados. Já não estava vendo bem as coisas. Só me apetecia fechar os olhos. A minha cabeça batia muito, os meus olhos estavam cansados. Eu me sentia cansada, esgotada, como se tivesse escalado a maior montanha do mundo. 
Sentados por debaixo de uma árvore, à sombra, Matheus esticou as minhas pernas lá e passou a mão pela minha testa. Logo ele levou um fruto à minha boca e pediu que eu comesse. Logo de seguida, ele colocou uma toalha, com quadradinhos brancos e vermelhos, sobre a grama, e sobre ela colocou pão com manteiga caseira, colocou bolo de chocolate e suco. À volta, mais frutas.

- Quer mais? A empregada cortou mango fresquinho e eu trouxe. – ele me ofereceu um segundo bocado
- Não… mango é doce, eu não posso comer muito. Aceito antes o pão.
- Você não pode comer coisas doces? – ele perguntou, enquanto me passou o pão
- Não…
- Eu não entendo essa doença. – disse ele, pegando uma fatia de bolo
- É uma doença crónica, hipertensão arterial que pode originar uma ponta de diabetes, devido ao excesso de açúcar no sangue. De vez em quando, eu sinto tonturas, fraqueza constante, visão embaçada e posso até sangrar do nariz. É terrível. Isso tudo acontece por causa de estresse ou falta de comer. 
- Pensei que fosse quebra de tensão, aí é importante que você coma doces.
- Eu devo comer, mas não em excesso.
- Fiquei preocupado agora. – ele passou novamente a mão pela minha testa e suspirou – Eu vi que você estava andando de um lado para o outro, de um jeito meio desorientado. 
- Devo ter pedalado de mais. Mas foi bom. Não trocaria este momento por nada. – sorri pra ele

Continuamos fazendo uma espécie de piquenique. Passou duas borboletas mesmo ao nosso lado. Matheus me contou as travessuras que ele fazia nesta fazenda quando era mais pequeno, fazendo eu soltar belas gargalhadas.

Agora, o que eu tinha em mente era um belo banho quente, bem demorado e logo depois jantar e ir dormir. O dia tinha sido corrido, mas muito bem passado. Fiquei a conhecer mais o Matheus, coisa que me tem agradado muito.

- Quer assistir um filme comigo, à noite? Que tal terror?
- Nem pensar! Eu morro de medo.
- E medo de alturas, você tem?
- Tenho – ri
- Me diz uma coisa que você não tenha medo?
- Bom… - pensei – Eu não tenho medo de cavalos.
- Amanhã vamos andar de cavalo.
- Sério? – me espantei
- Então você acha que a gente vem a uma fazenda e não anda de cavalo? – ele riu de mim
- Eu não sabia que podíamos. – ri junto com ele

A empregada chamou a gente para a cozinha, pois ia servir o jantar. Os pais do Matheus não vinham passar a noite aqui, pois iam ficar de serviço no hospital. A sopa de legumes me fez muito bem. eu não gostava muito, mas aquela tinha um gosto especial. Repeti, inclusive. O calor da lareira deixava a cozinha com um ambiente muito doce. 
Ri várias vezes das caretas que o Matheus fez ao comer a sopa, mas ri muito mais quando a empregada decidiu dar o comer na boca dele. Matheus começou com aquele machismo: “eu sou homem, não preciso que me dêem comer na boca”. Tive vontade de mandar um dedo a ele, mas eu sou educada.

Por volta das 22:30h, liguei para a minha mãe, falando que estava tudo bem. não disse a ela que havia passado mal, caso contrário, ela mandava as forças aéreas me virem buscar de volta para casa.
Depois da chamada, fui para o quarto do Matheus e levei comigo água e chocolate preto. 

- Gritos4! – disse ele, colocando o DVD no seu portátil
- Mentira? Matheus, eu vou gritar muito, você tem noção?
- Que nada. – ele riu – Trouxe pipocas não doces. Pensei em você.
- Lindo! – sorri pra ele – Eu trouxe chocolate preto e água. 

Sentamos na cama, lado a lado. Ele tinha o portátil no colo e deu o Play. O filme começou legal. Não metia muito medo, só no inicio. Mas com o desenrolar da ação, perdi a quantidade de vezes em que desviei o olhar por medo. Aquele homem da mascara era assustador. Eu sei perfeitamente que tudo é apenas ficção, mas acontece que a minha imaginação vai mais longe e pensa que aqueles “monstros” estão até no mesmo quarto que eu.
O barulho do vento na rua parecia o som do instrumento que eles usavam para cortas as pessoas a meio. O roupão pendurado na porta parecia mesmo o protagonista do filme, com a capa preta. O quarto estava escuro, apenas com o clarão do portátil, que fazia com que as nossas sombras fossem transmitidas na parede de trás. Na minha imaginação, essas sombras se mexiam. 

Teve uma parte, no filme, em que as pessoas gritavam por o protagonista matar todos só com o olhar daqueles seus olhos vermelhos e foi nessa parte que eu desisti de ver o filme.

- Por favor Matheus, vamos parar de ver o filme, pelo amor de deus. – deitei a cabeça sobre o ombro dele e agarrei forte o seu braço.
- Tá bom, fraquinha. – ele parou de ver o filme e desligou o computador. Ele queria se levantar da cama, mas eu o impedi. 
- Onde você vai?
- Acender a luz… - ele riu
- Não, não vai.
- Lua, calma! – ele riu de novo e foi acender a luz enquanto eu fiquei encolhida na cama
- E agora? Como eu faço pra ir dormir?
- Quer dormir aqui? Eu durmo no chão e você na cama…
- Não… - na verdade eu queria dizes que sim, mas tinha vergonha 
- Fica à vontade Lua. – ele sentou na beira da cama
- Poderíamos dormir na mesma, mas com uma muralha de travesseiros, o que você acha?
- Legal. Mas… - ele olhou em volta – Eu só tenho dois travesseiros. – ele fez bico
- Tá… faz de conta que tem uma muralha então – eu ri

Deitamos na cama e depois de dar “boa noite” a ele, e ele a mim, tentei logo fechar os olhos rápido para dormir, mas eu estava com medo, mesmo assim. 

Este capítulo foi maior né? Vou tentar postar uma mini web ainda hoje!

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