MINI WEB: Aquele cruzeiro… (Parte 1)

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POV LUA

Me afastar dos EUA por uns dias ia ser óptimo. Necessitava urgentemente de apanhar novos ares. Ismael, meu ex-namorado, havia sido um canalha comigo, apesar de tudo o que eu tinha feito por ele.
Com 19 anos, eu fugi da casa dos meus pais, viajei sozinha e fui morar para a casa dele. No inicio, tudo ia perfeito. Vivíamos num apê bem acolhedor. Ele era rico, me dava tudo o que eu queria, mas não era por isso que estávamos juntos.
Tudo começo no Facebook. Nos conhecemos por lá, nos tornamos amigos até que ele diz que pagava tudo para eu ir morar com ele. Sim, foi uma loucura. Mas eu não me arrependia… até ao dia em que flagro ele e a amiguinha se comendo no banheiro de uma boate.
Pensei que nesse dia eu ia morrer. Andei pelas ruas perdida, bebi tudo o que vi à frente e só sei que acordei no hospital. 

Felizmente, tenho uns pais que me amam de mais e apesar de eu ter fugido de casa, e de ter feito tanta merda junta, eles me mandavam dinheiro de tempos em tempos. Ismael era rico e não permitia que eu gastasse um único tostão.
Guardei esse dinheiro para um cruzeiro. 

Sem conhecer nada, nem ninguém, é naquele navio onde vou passar as próximas semanas. Irei passar por muitos lugares onde sempre sonhei ir e talvez isto me vá fazer esquecer tudo o que me aconteceu de ruim.

O meu camarote era grande. Tinha uma cama merecida de rainha, um espelho de ponta a ponta do quarto, uma tv enorme, uma janela igualmente enorme e ainda uma mesa pequena com drinks à escolha. E claro, um banheiro privado. 

O primeiro jantar, naquele cruzeiro, ia ser de gala. O comandante pretendia organizar um mega banquente com tudo ao que os passageiros daquele navio tivessem direito: comida à escolha, bebida à escolha, sessão de fotos à entrada, guarda-roupa e cabelos à escola e ainda concertos ao vivo. Não que fosse de gente conhecida, mas ao menos o som era agradável.

Eu me sentia um pouco mal por estar lá sozinha. Haviam vários casais de trintas e quarentas anos, ou então jovens da minha idade todos reunidos, e eu estava numa mesa, sozinha. A mesa estava decorada com flores, que diziam com os guardanapos e ainda com a cor do risquinho mais fino da toalha da mesa. 
À entrada, tirei cinco fotos. Eles queriam o pormenor do meu cabelo, da minha maquilhagem e ainda do meu vestido e salto alto. Não que eu tivesse ido muito provocante, mas aquele vestido vermelho, justo, com um decote, não podia faltar.

- Fico muito feliz por ter este navio cheio de pessoas que gostem de diversão, loucura e mistério. Este navio terá muitas surpresas. Espero que aproveitem ele como se fosse os últimos dias das vossas vidas.

Dito isso, a voz do comandante foi trocada por aquela musica do filme “Titanic”. 

- Quié isso gente, agora é que eu penso que vou mesmo morrer – o cara engraçado ao meu lado, comentou. Não resisti e ri – Tenho ou não razão?
- Tem. Você está certo! – disse eu, ainda rindo
- Eu mesmo já tenho medo desses barcos enormes e então ele fala que temos de aproveitar estes dias como se fosse o ultimo e para piorar a garota canta essa musica! Gente, vamos morrer! – ele colocou as mãos na cabeça, o que me fez dar uma gargalhada maior
- Caio, menos. Muito menos. – o outro garoto, um pouco mais serio, pediu calma ao amigo. – Você tá muito nervosinho. Tenho de te apresentar a umas garotas…
- Eu sei fazer isso sozinho – eu já estava de costas voltadas para eles, mas o cara mais engraçado cutucou no meu ombro – Tá sozinha?
- Sim, estou
- Porque não se junta a nós? – o mais serio perguntou. Ele estava acompanhado de uma loira, talvez a namorada, que lhe encarou e cochichou algo – Ahh, que tem? O Caio tem de se divertir! – disse ele baixo
- Vem, será legal. – ele se levantou, pegou a minha mão e beijou – Eu sou o Caio e você?
- Lua. Lua Blanco.
- Ele é o Arthur e a sua namorada, peguete, o que seja, Madalena.
- Caio! – Madalena o repreendeu – Eu sou namorada mesmo!
- Ahh, claro – ele a encarou e riu. Ela desviou o olhar. Arthur olhou para os dois e depois apenas para mim 
- Senta connosco. Prometo que não se vai arrepender. – ele sorriu, simpático

Levantei e sentei na mesma mesa que eles. Não tinha nada a ganhar, mas também não tinha nada a perder. Queria apenas que a minha primeira noite naquele navio, fosse inesquecível.

Após muita comida, bebida e dança, com o Caio, eu quis apanhar ar. Mesmo sozinha, fui até à varanda do navio, da parte de trás e olhei para todo o mar percorrido até agora. Estava de noite, uma noite bonita. O céu estava totalmente estrelado e a lua estava enorme. 
Olhando para aquele mar escuro, lembrei um pouco do Ismael. Lembro que naquela noite ele havia corrido atrás de mim, por toda a boate, mas eu fui mais rápida e saí pela primeira porta que encontrei. Ele julgava que se ia desculpar com motivos do tipo “foi ela que me beijou”. Mas não. Eu não era boba nenhuma. Ismael era grande, tinha um corpo irresistível e sabia se defender bem. Ela, vadia, era uma “amiguinha” que eu detestava e ele sabia disso, porém, a amizade entre ambos continuava.

- Ahh, sai da minha cabeça droga! – reclamei comigo própria
- Desculpa… atrapalho? – o garoto do jantar se aproximou de mim, com um sorriso tímido. Eu balancei a cabeça de modo negativo – Você viu, por acaso, a minha namorada e o Caio? Eles desapareceram faz 30 minutos. Eu fiquei lá sozinho naquele jantar – ele fez bico
- Não… não os vi. Talvez foram para o quarto
- Impossível. Ela dorme comigo e sou eu que tenho a chave…
- Ahh, então… - eu pensei nunca possível traição entre eles, mas não quis dizer nada
- Então…? – ele perguntou
- Nada… nada. Você vai encontrar eles. Quer dar uma volta pelo navio? Eu não conheço nada. Cheguei e fiquei sempre no quarto. Você já conhece tudo por aqui?
- Eu fui apenas nas lojas de roupa, que a minha namorada queria. Não conheço mais nada também.

Olhei para o relógio, que marcava as 2:24 da manhã. E lá estávamos, eu e Arthur, passeando por aquela navio. Já tínhamos visitado as lojas, o pequeno museu, os bares, um enorme restaurante, o casino e até salas de fitness.

- Talvez seja melhor eu ir para o camarote. Ela deve estar lá
- Sim, talvez ela esteja lá. – concordei – Bom, eu vou também para o meu quarto.
- Boa noite, eu vou por aqui – disse ele
- Boa noite, mas eu também.

Seguimos no mesmo corredor. O quarto dele era o 134 e o meu era o 169. Incrivelmente, ficava quase um à frente do outro, apenas separados pelo corredor. 

- Bom, parece que somos vizinhos – comentei
- É… já sabe, se precisar de alguma coisa… - fomos interrompidos por risadas vindas dos fundos.

Os dois vinham muito animadinhos. Ele tinha o braço de volta da cintura dela, enquanto a loira pegava nos sapatos com as mãos. Ele tinha o pescoço e o rosto marcado do batom dela e ela tinha o cabelo todo despenteado, incluindo o seu vestido amarrotado. Os dois estavam, visivelmente, bêbados.
Arthur colocou uma mão na cabeça, outra na cintura e começou a andar de um lado para o outro.

- Não pode ter acontecido, não pode…
- Arthur? – Madalena se espantou em ver o “namorado” e largou bem rápido o Caio – Arthur, então, eu tava te procurando…
- Onde? No quarto dele? Meu grande filho da mãe! – Arthur partiu para a violência e bateu em cheio na boca do Caio, que quase caiu. Madalena segurou o braço de Arthur, mas ele se afastou ela, quase também a empurrando. Nisso tudo, eu me afastei um pouco, pois Arthur estava violento de mais – Filho da mãe! Cobarde, traidor! – Arthur deu outro soco nele – Eu confiava em você. Te tratei como um irmão e é assim que você me paga?
- Arthur, ele não…
- Calada! – Arthur gritou – Fica na tua! Nunca mais fala comigo. – Arthur pegou a chave do bolso e abriu a porta do seu camarote. Em dois minutos, ele tirou todos os pertencentes da Madalena e jogou para fora – Se vira. Vai para onde você quiser. Desaparece da minha frente. Ou melhor, desapareçam os dois. O navio é grande e…
- O que se passa aqui? – dois seguranças chegaram ao local e olharam para Arthur e depois para o rosto agredido do Caio – Foi-nos informado a confusão que estava aqui acontecendo. O senhor quer nos acompanhar, por favor? – eles pegaram nos braços de Arthur
- Não… deixe ele. Tudo não passou de um engano – disse eu
- Mas ele está incomodando e… - eu interrompi o segurança
- Tudo não passou de um engano. Ele não vai incomodar mais. prometo. - sorri, peguei a mão do Arthur e entramos no quarto.

Madalena, ex-namorada do Arthur, olhou para mim com aqueles olhos de "vagabunda, o que você pensa que está fazendo?", mas pouco me importei. Eu sei bem o que o Arthur está sentindo neste exato momento. Não faz nem uma semana que eu passei pelo mesmo.
Assim que entramos no seu camarote, ele bateu com a porta na cara dos seguranças, da Madalena e do Caio. Andou até à mesa dos drinks, que também tem no seu camarote e colocou as mãos lá, baixando o rosto. Rapido percebi que estava chorando e o abracei, por trás. 

Era pra ter postado ontem, mas não deu :(
Logo posto a continuação! 

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