Foi apenas obra do destino - 22º Capítulo

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POV LUA

Faltava pouco para a festa do mercado, aqui, no Funchal. Como vivemos no centro da cidade, facilmente escutávamos o barulho desta grande festa.

- Mas o que fazemos nessa festa? – perguntou Arthur
- Bom, muita coisa – disse o meu pai – No centro, no mercado dos mercadores, tem frutas frestas, legumes, bonequinhos de madeira feitos à mão, bordados tradicionais da Madeira e tantas outras coisas. Lá, vão ser cantadas muitas musicas de natal. Fora de lá, tem novamente frutas, quiosques com bebidas e petiscos de lá
- Será que tem bolo do caco? Eu adorei isso!
- Isso é o que não vai faltar – disse eu
- Mas a melhor parte é a partir das 2horas da manhã. A balada vai abrir pra todo o mundo. Aqui se chamam “Vespas”. É super legal!
- Vai até às 8horas da manhã, né?
- Acho que é – meus irmãos conversavam
- Eu quero juízo! – avisava a minha mãe

O almoço tinha sido carne vinho e alhos, prato muito típico de cá. É a tradicional carne de porco, temperada com vinagre ou cerveja preta. Juntamente com isso tem batatas/semilhas que ficam com o gosto da carne. É um comer óptimo!

- Espero que goste Arthur
- Ele tem que gostar! – disse Miguel – É um dos meus pratos preferidos. Tirando lasanha e pizza, claro
- Depois vamos abrir o bolo de mel, ele ainda não provou
- Estou vendo que vou para o Brasil com 10kg a mais
- Bobo! – disse eu, ao seu lado, na mesa

Adorava estes momentos de convívio. O Arthur tem se adaptado muito bem à minha família. Acho que está gostando de estar cá. Pelo menos, aparenta estar a gostar. 
Depois do jantar, foi a hora do bolo de mel. Tem mesmo gosto a isso: mel. Pra enfeitar, leva passas por dentro e nozes por cima. 

- Eu estou partindo com as mãos o bolo, porque é assim mesmo, tá Arthur? – minha mãe riu, ao ver a reação de Arthur vendo a minha mar partir o bolo sem dó nem piedade
- Você lavou as mãos?
- Claro, né Miguel Blanco? – minha mãe encarou ele – Esses mocinhos estão com umas piadinhas nada alegres, pelo contrário
- Ra-ra-ra – disse o meu irmão, dando de ombros
- Prova Arthur, você vai adorar. Vou buscar uns licores ali para…
- Nem pensar! – disse eu – O Arthur já bebeu de mais hoje. Você não vai dar mais álcool pra ele
- A Lua está certa, querido – avisou a minha mãe
- Que é isso, gente? ele é o meu genro. Quando o sogro bebe, o genro bebe. Não é mesmo?! – perguntou o meu pai, já com os copos e a garrafa na mão
- E quando o pai bebe, os filhos bebem, não é pai? – Diogo se chegou à frente
- Bom, hoje é dia de festa, vocês podem beber mesmo
- Opa! – todos se chegaram à frente

Um copo daquele licor de tangerina deu para aquecer aquela noite fria.
As mãos doíam, a ponta do nariz estava gelada, assim como os pés, que apesar de estarem calçados com meias quentes e botas confortáveis, permaneciam frios, ainda, também.

A cidade estava toda iluminada. Era surreal como tantas luzes davam vida a uma cidade que nunca está parada, especialmente em dias de festa como este.
Carros de um lado para o outro, famílias unidas, amigos felizes bêbados unidos.
De um lado, a mulher das frutas gritava chamando à atenção

- FRUTA FRESQUINHA, APANHADA HOJE! A BAIXO PREÇAM! COMPREM, NÃO SE VÃO ARREPENDER! – gritava ela. De outro lado…
- VERDURA A BAIXO PREÇO, VEM CÁ! – gritava o garoto com uns 17 anos



As tasquinhas das carnes vinho e alhos, do bolo do carro, da poncha e dos cachorros quentes e algodão doce, estavam sempre cobertas de gente. Passavam homens disfarçados de Papai Noel, de um lado para o outro, com balões enormes nas mãos.
As crianças ficavam encantadas com o carro vermelho, com o dálmata ou com a minnie, retratados naqueles balões.


Entramos no mercado. Estava cheio de pessoas, estrangeiras ou moradoras desta linda terra. Aos empurrões, sempre conseguimos entrar. Um coro enorme estava alinhado, cantando músicas de natal e animando as pessoas ao som das palmas.
No lado de fora, na entrada, havia um homem com um acordeão, instrumento muito utilizado nos bailinhos (são danças tradicionais de cá). 



Arthur não se cansava de tirar fotos a tudo o que havia para ver. 
Por fim, demos uma volta por tudo o que lá havia. Andamos pelas ruas, vimos presépios e até um famoso cantando fado. Me aborreci, ficando sentada nas escadas do mercado vendo aquele coro de senhores adultos cantar.
Isabel estava igualmente aborrecida. Ela estava assim desde que saiu de casa, porque o meu pai não deixa ela vir para a balada com a gente. Se bem que assim eu me sentia mais segura. 

- Arthur, você está gostando? 
- Sim! – ele respondeu a ela – E você, tá triste?
- Um pouco aborrecida de estar aqui. Ao contrário dos meus pais, que amam isso! – meu pai e a minha mãe adoravam canções desse género – Bem fizeram os meus irmãos que já foram com as namoradas
- E você, não vai com o seu namorado?
- Você sabe bem que eu não tenho. Você é demasiado especial para se esquecer tão rápido. – ela sorriu, dizendo a ultima frase olhando para outro lado, que não Arthur. Ele ficou sem jeito com tamanho elogio. Olhou para mim e ficou sem graça. Eu virei o rosto
- Não pense assim… você vai me esquecer rápido. – ele sorriu, sem graça
- Podemos tirar fotos? – antes que ele pudesse responder, ela tirou o iPod da bolsa que tinha e utilizou um aplicativo qualquer que dava efeitos às caretas que eles faziam.

Todo aquele carinho e sorrisos dos dois, só me deixou com mais ciúmes.
Pensei que a minha irmã tinha deixado claro que não ia mais tentar nada com Arthur, mas pelos vistos não é bem assim.
Me sentia com ciúmes de uma garota de 17 anos, pode isso produção?

- Bom, vamos Isabel? A noite agora fica por conta dos adolescentes! – disse o meu pai. 
- Exatamente pai. Fica por minha conta, do Arthur e da Lua. – ela segurou o braço do Arthur – Pai, deixa eu ir com eles? Prometo não fazer bagunça. Eu vou me comportar bem, além do mas, é natal! Por favor pai, prometemos não chegar tarde em casa. – Isabel começou a piscar os olhos, meu pai estava quase cedendo. Minha mãe estava por trás dele. Eu fiz sinal pra ela não deixa a Isabel ir
- Tudo be…
- Não, querido. Isabel, você vem com a gente. É perigoso você ficar aqui, no meio desses jovens loucos. Vão estar podres de bêbados e nessa multidão de gente, o Arthur e a Lua podem perder você
- É… a sua mãe tem razão! – o meu pai concordou e me fez suspirar de alivio
- Bom, sendo assim, até amanhã! – dei, pegando a mão do Arthur e saindo porta fora do mercado

Demoramos uns 10 minutos a sair do mercado. Ele nem é tão grande assim, o problema era mesmo a quantidade de pessoas.
O relógio já marcava a 1hora da manhã e a confusão era ainda maior. As pessoas alteradas arranjam confusões, bebem de mais e algumas se machucam. Isso faz com que crie um “trânsito humano”.

- Pensei mesmo que ela ia vir com a gente
- Você ia adorar, não? – fui irónica
- Eu não me importava. Com certeza não era a primeira saída dela e…
- Arthur! – o repreendi – Jura? Ela estava te cantando, usando aquilo para ficar mais próxima de você e você nem se deu conta.
- Claro que não Lua, não viaja. Ela disse que gostava de mim e tals, mas ela só se queria divertir, como qualquer garota da idade dela
- Você não conhece a minha irmã! – eu cruzei os braços
- Mas você me conhece e sabe que eu só tenho olhos pra você! – ele veio todo meigo para perto de mim, colocando as mãos no meu rosto e dando um selinho longo
- Não vale… - disse, dengosa
- O quê?
- Fazer isso…
- O quê? – perguntou ele, se fazendo de desentendido
- Dizer essas coisas, me beijar… amo você!
- Também te amo! – demos um ultimo beijo antes de nos direccionarmos à balada.

Até à balada “Vespas”, ainda foi um pouco. Pior ainda foi esperar por toda aquela fila de gente. 


- Hoje é ladysnight! – ouvi gente comentando
- O que é esse negocio? – Arthur me perguntou
- Quer dizer que as mulheres hoje não pagam – eu ri da cara dele – Você deve pagar.
- Que saco! – ele puxou a carteira – Sorte de vocês!
- E tem mais…
- O quê?
- A gente pode pedir o que quiser à vontade pra beber
- E eu tenho que pagar a entrada e as bebidas? – ele me encarou e riu – Nossa!
- Mas relaxa. Eu pego pra você.
- Acho bem! – ele colocou as mãos de volta da minha cintura e me beijou

Fomos entrando. Arthur pagou a sua entrada e eu peguei o meu copo. As mulheres, hoje não pagam, e recebem o copo logo à entrada para beberem o que quiserem durante a noite. Isso acontece às sextas feiras e dias especiais como hoje.
O espaço não era muito grande. Já o bar, ia de uma ponta à outra da discoteca. Haviam dois caras no lado de dentro do bar, servindo a mulherada que ansiava as bebidas grátis toda a noite. Eles eram profissionais no que fazia. 



Do outro lado, havia a cabine do DJ que colocava musica sem parar. A galera estava animada. Dançava, cantava, gritava, bebia e beijava muito.
Peguei a primeira bebida da noite. Partilhei com o Arthur o meu vodka cola. A segunda ele pagou, a terceira eu pedi…

Já havia bebido cinco vodkas cola. A verdade é que no colo havia mais gelo do que bebida. Porém, eu fiquei meia tocada. Arthur estava que nem eu. Havia bebido coisas diferentes, mas apesar disso, estávamos animados com tudo aquilo. Tudo era novo e extremamente divertido.
O som bem alto e as luzes faziam eu dançar como nunca. Eu fechava os olhos e me soltava. Pouco me importava com as pessoas que estavam ao meu lado. Eu só queria me soltar e dançar até o sol raiar… 

Do nada, Arthur agarra de mim e olha reto para algum lado…

- O que foi? – gritei no seu ouvido
- Ali… - ele apontou – É ela!
- Quem? – eu olhava e não via nada
- É ela! – ele gritava
- Ela quem? A Minha irmã?
- Não! É a...

Estará ele sonhando ou ele está mesmo vendo alguém conhecido?

Gente, sei que o capitulo passado foi enorme, mas apenas queria despachar aquelas partes. Desculpa, a quem não agradou! Os próximos capítulos terão mais ação! 

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