Tears In Heaven - Capítulo Único

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Capítulo Único

O vento forte que entrava pela janela da sala de estar fazia as cortinas balançarem. A mulher estava sentada em uma confortável poltrona, apoiando seus pés na mesma e repousando uma de suas mãos sobre sua barriga enquanto a outra segurava algum livro que ela lia para o bebê que ali estava. Lua já estava no último mês de sua gestação, apenas aguardando o momento do nascimento de seu tão esperado filho. 
Desde criança, ainda quando brincava de bonecas, sempre sonhou em ser mãe. Como nem tudo acontece como planejamos, Lu teve uma má notícia assim que atingiu a adolescência: tinha uma doença que tornava o seu sonho quase – ou inteiramente – impossível de acontecer. Após alguns anos de tratamento e após alguns anos de casada, finalmente conseguiu engravidar. Seu marido, Arthur, também estava extremamente feliz e cuidava da esposa de uma maneira admirável, para que tudo corresse bem.
Lua calçou suas pantufas e levantou, colocando o livro que lia em cima da mesa de centro. Caminhou lentamente até a cozinha em busca de um pouco d’água. Seu marido dormia no quarto do casal, visto que já era muito tarde e ele trabalharia no dia seguinte. 
Naquela noite, Lu não estava se sentindo muito bem. As contrações a faziam querer gritar de dor, mas não queria acordar Arthur, não queria deixá-lo ansioso para a chegada do filho, porque as contrações ainda estavam com um longo espaço de tempo. 
Assim que pisou na cozinha, sentiu outra forte contração, ainda mais intensa do que as que havia tido antes. Apoiou-se na parede e respirou fundo, esperando a dor passar. Voltou a caminhar até a geladeira, pegando a água e voltando para a sala. Ao chegar perto de sua poltrona, sentiu outra contração. Durante alguns minutos, elas vinham com mais frequência e ainda mais dolorosas, até Lu sentir um líquido escorrer por suas pernas, avisando o rompimento da bolsa. Àquela altura, a grávida já não conseguia mais segurar os gritos que vinham com a dor, acordando, rapidamente, o marido, que correu assustado até ela. 
Arthur... – dizia com dificuldade e com os olhos marejados, assim como os de seu marido. – Está na hora, meu amor. Ele vai nascer! – Arthur apenas sorriu, ajeitou a esposa no sofá e correu até seu quarto.
Trocou de roupa, buscou um sobretudo e um cachecol para Lu e a bolsa do bebê, que já estava arrumada dentro de seu bercinho. 

Chegaram à maternidade rapidamente. Um dos vizinhos, que havia escutado todo o ocorrido, ofereceu-se para levá-los ao local. Arthur acabou aceitando, assim conseguiria dar apoio à esposa e realmente não tinha condições de dirigir, tamanho era o nervosismo e a ansiedade.
Lu foi levada rapidamente até um dos quartos da maternidade, onde foram realizados exames rápidos para saber se estava tudo bem. 
O médico alegou que estava tudo bem, mas que teria que ser feita uma cesariana, já que o bebê estava atravessado e não teria como realizar um parto normal.

O pequeno Tyler nasceu naquela madrugada. Um lindo e saudável bebê, que havia chegado para trazer àquela família felicidade e esperança. Um sonho que acabara de se tornar realidade. 
Mas, devido a uma complicação no parto, Lu teve seu útero retirado. Arthur foi o primeiro a receber a notícia e foi quem contou à Lua, que, na hora, ficou arrasada. Depois de assimilarem a notícia, chegaram a conclusão de que já estavam tendo uma nova chance com o nascimento de Tyler, uma vez que a gravidez só aconteceu depois de muito tempo de tratamento. Tyler estava ali com eles e era isso que importava.

Dois anos e alguns meses mais tarde

- Filho, cuidado para não se machucar. Vem almoçar com a mamãe! – Tyler corria de um lado para o outro na cozinha, apenas de fralda e chinelinho do Backyardigans, que prendia seu pé com um elástico atrás. Ele apenas negou com a cabeça e continuou correndo. Lu se levantou para pegar o filho, que agora gargalhava com a tentativa da mãe de chegar até ele. Ela não aguentou e acabou rindo, achando a coisa mais fofa do mundo. 
Pegou-o no colo e o colocou no cadeirão de refeições, logo dando a comida em sua boca para que não demorasse tanto.
Como fazia todos os dias, já terminando a refeição, Tyler começou a fazer manha para não comer mais, ainda mais quando ouviu o barulho da porta da sala batendo, sabia perfeitamente quem tinha acabado de chegar. 
- Papai! – olhou para a mãe com os olhinhos brilhando, levantando os bracinhos em direção a ela, querendo que a mesma o tirasse do cadeirão para que pudesse ir de encontro ao pai. Foi o que ela fez, e seguiu o filho. 
- Não tem coisa melhor do que chegar em casa e ser recebido pelas pessoas mais importantes da minha vida. – Arthur disse, pegando o filho no colo e dando um beijo rápido em sua esposa. 
- Nós amamos quando você chega cedo. Sentimos a sua falta o dia todo. – abraçou o marido desajeitadamente, já que ele ainda segurava Tyler. 
- É, papai. Saudade. – completou, ganhando, de seu pai, um beijo na testa. 
- Mas eu estou aqui agora e tenho uma surpresa. – fez um pequeno suspense, sendo acompanhado pelos olhares atentos e ansiosos de sua esposa e de seu filho. – Vamos ao parque mais tarde e faremos um piquenique para relaxarmos e nos divertimos um pouco, já que não precisarei voltar à empresa hoje. O que acham? – viu Tyler comemorar, batendo palmas e sorrindo. 
- Então ligarei para a agência e avisarei que não voltarei hoje, depois também vou ligar para a babá e dizer que ela só precisa vir amanhã. – Lu, antes mesmo de terminar de falar, já estava à procura de seu celular para que pudesse realizar as ligações. 
Como Lua e o marido trabalhavam muito, quase não tinham um tempo em família. Ela tinha seu escritório de publicidade e ele era um renomado engenheiro civil. Durante o primeiro ano de vida de Tyler, dedicaram-se somente a ele, mas depois tiveram que voltar a trabalhar normalmente, sem encurtar os horários. Por isso, tiveram que contratar uma babá, Amélie. Não gostavam da ideia de ter que deixar o filho em uma creche, não confiavam e tinham medo de que algo acontecesse com aquele que era o bem mais precioso de suas vidas.
Arthur e Lua almoçaram, deram banho no filho e depois foram tomar banho. Montaram uma cesta com muitas coisas gostosas e a típica toalha xadrez, nas cores vermelho e branco. Descansaram um pouco e resolveram sair. 
O parque não era muito longe do prédio em que moravam, mas, mesmo assim, decidiram ir de carro. Sabiam que Tyler acabaria dormindo na volta e era bastante pesado para ser carregado no colo. Além deles, outros casais e seus filhos também estavam naquele lugar. Não muitos, apenas alguns. Cobriram o chão, debaixo de uma das árvores, e arrumaram o local para o piquenique. 
- Plicoé! – Tyler, com a boca cheia de iogurte, apontou um vendedor de picolé que passava perto deles. 
- Filho, você nem terminou de tomar o iogurte e já quer outra coisa? – Arthur foi atrás do filho, que já tinha ido em direção ao vendedor. 
- Chocolate, moço. – pediu o pequeno, esse era seu sabor preferido de sorvete. Pegou o picolé e assim que seu pai pagou, voltaram para onde estavam. 
- Olha a pança desse menino! – Lu brincou, fazendo cócegas na barriga do filho, que gargalhou e se encolheu no colo do pai, quase o sujando com o picolé. Ele acabou com o picolé rapidinho e logo se levantou para brincar com as outras crianças.
Lua sentou entre as pernas de Arthur e apoiou a cabeça em seu peito enquanto observavam o filho brincar. 
- Eu não poderia estar mais feliz, Arthur. Não consigo lembrar como era minha vida antes de vocês e não consigo imaginar o que seria dela se eu os perdesse. – Lu comentou, sentindoArthur passar uma das mãos em seu cabelo. 
- Shh, nós estamos aqui e sempre estaremos. Nunca deixaremos você sozinha. Onde um estiver, o outro também estará. – virou a esposa para ele, unindo seus lábios em um beijo demorado. 
- É engraçado como o tempo passa rápido. Parece que foi ontem que Tyler era um tampinha e gordinho... – foi interrompida por Arthur. 
- Ele ainda é tampinha e gordinho. – riu, fazendo-a rir também. 
- É, mas você entendeu. – completou, vendo-o assentir com a cabeça. – Parece que foi ontem que ele deu os primeiros passinhos ou que falou a sua primeira palavra. – novamente, foi interrompida por Arthur. 
- Que foi papai. – disse, como se fosse óbvio, o que fez com que Lu revirasse os olhos. 
- Só na sua cabeça de pai com inveja porque a primeira palavra dele foi mamãe. – retrucou. 
- Tudo bem, tudo bem. Nós dois sabemos que fomos trocados por “suco”. – fingiu uma cara triste. 
- Tyler é um gordinho até na hora de escolher a primeira palavra. – riu, seguida do marido. 
- E é só nosso. É a nossa vida. – a esposa concordou com as suas palavras e seus olhos seguiam Tyler para qualquer lado que ele fosse. Sentiam uma paz enorme em momentos como esse porque estavam juntos. Era a melhor parte do dia, era a melhor parte da vida de todos eles.

Tiveram uma tarde maravilhosa naquele dia, mas na manhã seguinte tudo voltaria ao normal. Os dois iriam trabalhar e Tyler teria que ficar sob os cuidados de sua babá. Saíam tão cedo que não conseguiam ver o filho acordado antes de saírem. 
- Quer dormir com o papai e a mamãe hoje? – Arthur perguntou para o filho enquanto entravam no elevador para subirem até o andar que moravam, o décimo oitavo. 
- Quero! – respondeu, animado. 
- Assim que chegarmos, vamos tomar um banho bem gostoso e correr para o quarto. O que acha de assistirmos algum filme bem legal? – Lua sugeriu. 
- Toy Tory! – Tyler respondeu rapidamente. 
- Ok, Toy Story. – sorriu para o filho, que já entrou em casa correndo para o banheiro. 
Tyler estava deitado entre os pais, segurando a mão esquerda da mãe e a direita do pai. Tinha uma chupeta enorme na boca, que só usava para dormir, e os olhinhos quase fechando. O DVD do Toy Story estava rodando pela segunda vez naquela noite. Assistiam tanto àquele filme, que já deveriam saber todas as falas até de trás para frente. Não demorou muito para que o pequeno Tyler caísse no sono, ainda segurando as mãos dos pais. Desligaram a televisão e o aparelho do DVD, deixando ligado apenas o abajur do quarto, com uma luz bem fraquinha só para não ficarem em completa escuridão. Aproximaram-se mais do filho, unindo as mãos que ele não segurava por cima dele. Se dependesse deles, nada nem ninguém conseguiria separá-los. 
- Eu te amo. – Arthur sussurrou para Lua antes que também adormecessem. 
- Eu também te amo. – sorriu para ele, que levantou o corpo para lhe dar um beijo de boa noite.

Mal amanhecera e o despertador do quarto começara a tocar, anunciando que já estava na hora do casal levantar para trabalhar. Arthur foi o primeiro a levantar. Deu a volta e foi para o outro lado da cama, onde Lua estava dormindo. 
- Pequena... Está na hora de acordar. – disse baixinho em seu ouvido para que ela não se assustasse e para que não acordasse Tyler. Lu sorriu, ainda de olhos fechados. 
- Amo fingir que o despertador não me acorda só para você me acordar assim... – abriu os olhos, sentando-se na cama lentamente. 
- Você é linda. – elogiou a mulher, que ainda estava sentada na cama com preguiça de levantar. 
- E você é meu lindo. - Lu era extremamente ciumenta quando o assunto era seu marido e seu filho. 
- Só seu... – sorriu. – Agora vamos, o trânsito é ruim a essa hora, não quero chegar atrasado e nem você quer. – debruçou sobre a cama, dando um beijo na testa do filho, e Lua fez o mesmo. 
Depois de fazerem toda a higiene, foram até a cozinha para tomar café. A babá de Tyler já havia chegado e preparado um café para eles. Além de babá de Tyler, também era a cozinheira quando Lu e Arthur não estavam em casa. Somente para a limpeza que a empregada era diferente, porque o apartamento era muito grande e Amélie não daria conta de fazer tudo sozinha. 
- Amélie, por favor, caso aconteça qualquer coisa, ligue para o meu celular e para o do Arthur! – pediu antes de sair de casa, já com Arthur esperando do lado de fora. – Não deixe o Tyler tomar muito sorvete e nem o deixe comer doces antes das refeições, senão ele não vai querer comer. – recomendou. 
- Tudo bem, senhorita Gilbert, pode ficar tranquila. – a babá já havia até decorado o discurso de Lu, era sempre o mesmo, como o de toda mãe coruja e preocupada. 
- Quando ele acordar, diga que eu e o pai dele o amamos muito. – a babá apenas respondeu um “Pode deixar!” antes de Lu fechar a porta do apartamento e ir em direção ao elevador comArthur. 

- Tyler, desça já do encosto do sofá ou vai acabar caindo e machucando! – ordenou a babá e o menino a obedeceu na hora. – Eu estarei na cozinha fazendo o seu almoço delicioso, pode ficar brincando aqui, mas não suba ali de novo, tudo bem? – pediu e o viu concordar. 
O menino tentava montar alguma coisa com seu lego, mas não conseguia formar nada muito elaborado pela sua idade. Ao notar que a babá já estava na cozinha, voltou a subir no encosto do sofá, apoiando as pecinhas do lego na janela para facilitar a montagem. Tentando encaixar uma pecinha na outra, deixou que uma caísse pela janela. Na tentativa de ver onde a peça tinha caído, Tyler se apoiou na janela e subiu na mesma, ficando de pé e escorregando nas pecinhas que ainda estavam ali. Como não tinha grades naquela janela – já que, como tinham ar condicionado, ela vivia fechada -, ele não teve onde segurar e acabou caindo. 

O barulho de sirene ecoava por todo o bairro. Carros da polícia, corpo de bombeiros e ambulância cercavam o local. Uma multidão de curiosos tentava ver o que havia acontecido dentro do condomínio. Era sempre um passando a informação para o outro, porque lá ninguém podia entrar. Aos poucos, jornalistas também chegavam ao local e a multidão só aumentava. Um casal com a mulher desesperada e aos gritos chamou a atenção de todas as pessoas enquanto o homem a segurava pelo braço, impedindo-a de entrar no condomínio. 
- É o nosso filho, Arthur! Eu preciso vê-lo, eu preciso saber como ele está! – gritava para o marido, que tentava parecer um pouco mais calmo para não deixá-la ainda mais desesperada. – Por favor... Eu só preciso olhar nos olhinhos dele e saber se está tudo bem. – continuava pedindo para chegar perto do menino. – Por que ninguém me diz o que aconteceu? Arthur! Eu sou a mãe, eu tenho o direito de saber. – ele não teve força o suficiente para segurá-la. Todo o desespero que estivera tentando não demonstrar acabou aparecendo e dando lugar a um homem, ao invés de calmo, totalmente nervoso e desesperado. 
A polícia tentava impedir Lu de passar, mas, com muito custo e com Arthur ao seu lado, ela acabou conseguindo e foi acompanhada pelo marido. 
Como moravam na parte da frente do condomínio, assim que entraram, deram de cara com a babá sendo apoiada por um dos bombeiros e algumas pessoas em volta de alguma coisa. Não estavam entendendo mais nada, mas como coração de mãe fala mais alto e, naquele momento, ela sabia que era algo grave com o seu filho, correu diretamente para onde rodeavam algo.
A cena que viu foi a pior de toda a sua vida. Suas pernas perderam as forças e o ar entrava com enorme dificuldade pelos seus pulmões. Arthur chegou logo atrás da mulher, também se deparando com aquela cena trágica. Começou a chorar e a gritar o nome do filho ao mesmo tempo em que tentava colocar a esposa de pé. 
- O nosso bebê, Arthur... – gritava entre soluços enquanto Arthur chorava muito, tentando abraçá-la. – Me diz que isso é um pesadelo, me acorda, eu quero acordar e abraçar o meu menino! 
- Eu queria que fosse apenas um pesadelo, meu amor. Eu realmente queria... – ao dizer isso, Lua gritou ainda mais, soltando-se dos braços do marido e tentando ir em direção ao corpo do filho. 
- TYLER! A mamãe está aqui, Tyler! Vai ficar tudo bem, eu prometo... – repetia para tentar convencer a si mesma de que aquilo não era verdade, mas antes que pudesse chegar perto do corpo, um dos bombeiros a segurou, levando-a para dentro do condomínio junto a seu marido. 
Lua já não tinha mais forças para nada. Estava sentada em um dos bancos do hall e a todo o momento tentava voltar para ver o filho antes que o corpo fosse retirado de lá, mas era sempre impedida por alguém. Arthur não conseguia nem falar mais, estava em estado de choque e fora levado para uma ambulância que o levaria ao hospital mais próximo. Lu, por sua vez, após muito relutar para chegar perto do filho, acabou desmaiando e sendo levada, também, ao hospital. 
Tyler estava naquele chão e em sua volta havia muito sangue. A tristeza que seus pais sentiram não caberia em palavras. Haviam perdido o chão. Haviam perdido uma parte de suas vidas. Haviam perdido o único filho, o tão amado filho. Haviam perdido a felicidade e a esperança. Não restava mais nada a eles, a não ser a enorme dor que jamais poderia ser tirada como o filho foi. Aquela terrível imagem jamais sairia de suas mentes. 

Um ano e alguns meses mais tarde

Lu, eu nunca vou deixar de sentir a dor da perda do nosso filho, mas nós precisamos continuar com as nossas vidas. E se tivéssemos outro filho? – Arthur tentava conversar com Lua. Desde a morte do filho, ela não voltara a trabalhar. Todas as vezes que era obrigada por Arthur para ver se conseguia distrair um pouco, acabava ficando em péssimo estado e era sempre levada à força ao hospital para que a acalmassem. 
- Outro filho? – riu ironicamente. – Eu não posso ter mais filhos, Arthur! Você sabe disso. Não torne isso ainda pior. E mesmo se eu pudesse, nenhum filho substituiria o meu Tyler! Nenhum! – alterou a voz, fazendo Arthur respirar fundo. 
- Amor, eu não disse que substituiria, porque eu sei que não, mas eu quero te ver bem. Você é a única parte da minha vida que restou, eu jamais iria querer o seu mal. Nós podemos adotar... – tocar naquele assunto era sempre difícil para os dois, mas era sempre pior para Lua. 
- Me desculpa, Arthur. – seus olhos ficaram marejados. – Eu sei que tem sido difícil lidar comigo, mas eu só não consigo me acostumar a acordar todos os dias e encontrar a casa vazia, em não encontrar mais os brinquedos do Tyler espalhados por todos os cômodos. Eu não consigo me acostumar a acordar e não sentir mais o perfume do nosso filho, não ouvir mais sua risada ou o seu chorinho por manha. Eu não consigo me acostumar a não poder vê-lo mais. A ausência dele me mata um pouquinho a cada dia que passa. Eu durmo com a esperança de acordar e descobrir que tudo não passou de um pesadelo, que o nosso pequeno príncipe ainda está aqui conosco, que ainda está correndo para lá e para cá com toda a saúde que ele tinha. Eu só... Não consigo. – por fim, sua voz já saía com dificuldade devido ao choro. 
- Eu tento ser forte por você, mas eu também me sinto da mesma forma, não tem que me pedir desculpas, Lu. Eu te amo, eu te entendo e eu sempre estarei aqui. Você é o único motivo que me mantém vivo. – abraçou fortemente a esposa, que tentava se acalmar e controlar o choro. – Nós iremos conseguir lidar com isso, nós dois, juntos, um com o apoio do outro. Eu te prometo! – Lua apenas concordou com um aceno de cabeça, beijando Arthur nos lábios. 
- Somos só eu e você agora, mas se eu tenho mesmo que continuar viva e lidar com a perda, que seja ao seu lado. Eu te amo mais a cada dia. Obrigada por se esforçar para não acabar perdendo o controle como eu, para me manter de pé. Obrigada por ser o meu equilíbrio. – há muito tempo não dizia coisas bonitas para o marido. Do seu coração, uma tristeza imensa tomava conta, não dando espaço para o amor. 
- Eu sei, minha pequena. – voltou a beijá-la nos lábios. – Agora vem aqui, que eu preciso te mostrar uma coisa. – segurou em sua mão e a levou para a sala. 
Pegou seu violão em cima do sofá e sentou-se no mesmo. Desde a morte do filho, voltara a tocar violão e a cantar quando tinha tempo livre. De alguma forma, a música o distraía e o dizia para continuar, que as coisas ruins podem acontecer, mas as coisas boas sempre surgem, na hora certa, para que tudo melhore. – Eu espero que além de você, Tyler escute isso e saiba que ainda o amamos com a mesma intensidade, que ele ainda permanece dentro de nossos corações. - Would you know my name if I saw you in heaven? Will you be the same if I saw you in Heaven? I must be strong and carry on, 'cause I know, I don't belong here in Heaven... Beyond the door there's peace, I'm sure. And I know there'll be no more tears in heaven. 

FIM


Epílogo

Crianças corriam de um lado para o outro naquele grande parque que havia naquele lugar. Lua e Arthur andavam de mãos dadas observando cada uma delas. De tanto insistir, Arthur acabou convencendo a esposa a adotar uma criança. Ambos sabiam que nenhuma seria capaz de acabar com o sentimento de perda, mas também sabiam que precisavam daquilo, que precisavam de um filho para seguir com suas vidas. 
Entre todas aquelas crianças, uma acabou chamando a atenção de Lu. Uma garotinha de, no máximo, quatro anos que, diferente das outras, estava quietinha e sentada em um dos balanços. 
Caminhou até ela junto com Arthur. Sentou-se no balanço que ficava ao lado do dela e o marido ficou em pé ao seu lado. 
- Olá, bonequinha. Como você se chama? – perguntou à garotinha. 
- Tyra. – respondeu baixinho, com vergonha de Lua. 
- Lindo nome, Tyra. – a garotinha abriu um enorme sorriso com o elogio, fazendo-a sorrir também. – O que você acha de dar uma volta comigo e o Arthur? – Tyra ainda estava um pouco desconfiada por ainda não conhecê-los. – Mas e o seu nome? 
- Ah, claro, meu nome! Lua, mas pode me chamar de Lu. – levantou uma de suas mãos, na tentativa de que a garotinha desse a mão a ela e fosse caminhar com eles. 
Lu e Arthur. – repetiu os nomes. – Gostei de vocês. 
- Que bom, Tyra! Também gostamos de você. Tenho certeza que passaremos muitos momentos maravilhosos juntos. Eu, você e Arthur. – segurou uma das mãos de Tyra enquanto Arthur segurou a outra. Assim, começaram o primeiro passeio de muitos que ainda aconteceriam. 


Créditos: Fanfic Obsession


Hey gente! Como prometi, quando chegasse de viajem iria fazer duas maratonas. Então, aí está a primeira. Beijos! Amo vocês! 

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