Little Anie | 1ª Parte
Pov Arthur
Domingo
| 11 de Outubro de 2015 – Londres, duas e vinte da tarde.
Saímos
de Brighton perto de uma hora da tarde. Já tínhamos almoçado e só demoramos,
porque tivemos que arrumar todas as nossas roupas e coisas de higiene que
havíamos levado – e os brinquedos que Anie havia levado. Estava tudo uma
bagunça, confesso. E Lua fez questão de esfregar na minha cara, que a culpa era
minha. Porque no sábado ela disse que era para nós começarmos a arrumar tudo,
para não deixar para a última hora. Mas eu não concordei e sugeri que fossemos
aproveitar nosso penúltimo dia na cidade, passeando, óbvio – e depois veio todo
aquele sexo. E eu não me arrependo de não ter arrumado a mala antes como ela
sugeriu.
Então
perdemos um pouco de tempo para arrumar tudo e não esquecermos nada. E eu a
ajudei, para que tudo terminasse mais rápido – como se eu tivesse tido escolha.
Eu não queria pegar a estrada no fim da tarde, não queria chegar a noite em
casa. E era bem provável que nesse horário o trânsito estaria bem pior do que o
trânsito que pegamos uma da tarde. Pelo motivo da lentidão toda das pessoas
voltando para casa depois do final de semana em alguma cidade próxima,
demoramos um pouquinho na estrada.
Não
foi ruim, muito menos entediante. Eu e Anie cantamos praticamente a viagem
toda, mesmo sob as ordens de Lua para que calássemos a boca, porque íamos
deixa-la surda. Não que ela estivesse irritada de verdade, ela só estava
querendo nos provocar também. E até cantou duas ou três músicas com a gente.
Rimos bastante das caretas que Lua fazia quando desafinávamos de propósito. O
gritinho agudo de Anie era hilário.
–
Chegamos! – Exclamei ao estacionar o carro na garagem de casa. Anie bateu
palmas e soltou outro de seus gritinhos.
–
Aaaaeeeee... – Ela disse contente. Pegando a mochila que tinha deixado ao seu
lado no banco.
–
Graças a Deus! – Lua exclamou. – Achei que íamos demorar mais. Parece que o
carro não estava correndo. Preciso fazer xixi urgente! – Disse por fim, saindo
do carro. – Tira a Anie da cadeirinha. – Pediu em seguida. Ela realmente
precisava chegar ao banheiro o mais rápido possível.
–
Por que minha mamãe saiu correndo desse jeito, papai?
–
Ela foi ao banheiro. Vem... – Falei lhe tirando da cadeirinha.
–
Vou entar... Quelo ver a Carol, a Carla e a tia Mel, tá papai?
–
Tá bom, meu amor. Pode ir. – Respondi e Anie saiu correndo.
Pedir
para que ela não corresse era tarde demais. Abri o porta-malas e tirei as malas
de lá. Logo a pequena novamente apareceu ali, ofegante por ter indo e vindo
correndo.
–
O que foi? – Perguntei ao encara-la e fechar o porta-malas.
–
Minha mala da frozen, papai! Vim buscar. – Anie me respondeu e eu lhe entreguei
a pequena mala.
–
Não corra, ok? – Pedi.
–
Tááá... Não vou colendo agora mais. – Respondeu me fazendo sorrir de lado.
–
Tá bom.
–
Tia Mel não tá, papai.
–
Não?
–
Não. Ela foi pra casa do tio Mika, a Carol que falou.
–
Aah, bem. Mas logo ela vai voltar. Aí você fala com ela está bom?
–
Tá, papai. E eu quelo fazer uma pergunta, tá?
–
Pode fazer então... – Respondi. Curioso para saber o que ela queria me
perguntar. Caminhamos para dentro de casa. Anie puxando a pequena mala dela e
eu a outra mala. Lua tinha sumido.
–
Papai, por que a tia Mel tá molando aqui? O que aconteceu com a casa dela e do
tio Chay? Eu nunca mais vi ele também. – Perguntou e eu atrasei um pouco o
passo.
–
Olha, isso não é assunto de criança e nem é para perguntar isso para a Mel,
tudo bem?
–
Mas eu quelo saber o porquê, pai.
–
Você não vai entender, filha. Sua tia Mel veio ficar um tempo com a gente. E
logo, logo as coisas se ajeitam e ela volta para a casa com o seu tio Chay. É
isso.
–
Eles bligaram? Então porque ele não vem ver ela? Ela vai ter um bebezinho,
papai.
–
Olha, você não pode falar disso pra ele, se o ver por aí. A Mel quem tem que
contar. Os adultos as vezes se desentendem.
–
Mas quando você e minha mamãe bligam, eu não vejo e também o senhor não sai de casa,
papai. – Observou e me encarou, parando de andar. Eu também parei de andar para
lhe olhar.
–
É que eu e a sua mãe não brigamos, digamos que talvez, tão grave. Você não
entende, meu anjo. Mas é basicamente isso, eu não tenho motivos para sair de
casa quando eu e ela discutimos. Os casais fazem isso, se desentendem as vezes.
– Tentei lhe explicar, mesmo sabendo que talvez Anie não estivesse entendendo
nada. Era pequena demais, mas sua curiosidade e observação não se importavam
com isso.
–
Eu não entendi. – Disse ainda me encarando.
–
Que tal esquecermos esse assunto? E falar sobre outra coisa? Uuuhm... – Lhe dei
um beijo na testa.
–
Amanhã eu vou pra escolinha de dança? – Anie mudou completamente de assunto e
fiquei grato por isso. Mas eu ainda queria saber onde Lua tinha se metido; a
bolsa dela estava jogada no sofá.
–
Vai sim, filha. Por quê?
–
Porque já chegamos em casa né? – Ela me entregou a mala e subimos a escada.
–
Sim, chegamos. – Respondi e deixei a mala dela no quarto dela. E depois fui
para o meu; deixando a mala perto da porta. Anie veio atrás de mim. – Lua? – Chamei, mas ninguém respondeu.
–
Minha mamãe tá lá em baixo.
–
Uhm... – Murmurei saindo do quarto.
Desci
novamente os degraus com Anie atrás de mim. Mas agora ela tinha parado de
falar. Fui até a cozinha e falei com as meninas. Logo Carol deu um pratinho com
torta de morango para Anie que se sentou rapidamente a mesa para comer.
–
Cadê a Lua?
–
Acho que ela ainda não saiu do banheiro. – Carla apontou para a porta que
ficava no corredor.
–
Ainda não? – Indaguei, sem deixar de disfarçar meu tom de preocupação.
–
Bom, eu não vi. – Ela me disse.
–
UHM! Tá tão gostoso. – Anie disse comendo a torta e eu assenti lhe lançando um
sorriso carinhoso e sai da cozinha, indo bater à porta do banheiro.
–
Lua? – Chamei baixo, dando duas
batidinhas na porta. – Lua? – Chamei um pouco mais alto,
num tom de voz mais sério.
–
Oi. – Ela respondeu baixo.
–
Você tá bem? – Perguntei agora baixo, contra a porta. Mas ela não respondeu. –
Lua? Você tá me ouvindo? – Perguntei dando mais uma batidinha na porta. Como
ela demorou para falar, eu levei a mão a maçaneta e a girei. Estava
destrancada. Coloquei minha cabeça pra dentro do banheiro e Lua me encarou,
negando com a cabeça.
–
Aff! Fecha essa porta, Arthur. – Retrucou. Ela estava sentada no vaso. – Isso é
uma coisa muito pessoal e você fica aí me olhando.
–
Aff, digo eu! – Exclamei. – Como se isso fosse mudar alguma coisa. – Revirei os
olhos. – O que você tem? É para eu continuar preocupado? – Perguntei. – Você
disse que queria fazer xixi. E está aqui até agora. – Pontuei.
–
Estou sentindo um pouco de desconforto pra fazer isso. – Agora foi a vez dela
de revirar os olhos. – Tá pior do que na hora que acordei. – Explicou.
–
Por que não me disse antes? – Perguntei um pouco irritado.
–
Por que eu falaria disso com você? – Lua retrucou no mesmo tom. – Fecha essa
porta, Arthur. – Pediu novamente.
–
Porque eu sou o seu marido. – Falei simplesmente. – Preciso saber das coisas.
–
Não de tudo, Arthur. Pelo amor de Deus, fecha a droga dessa porta! – Disse
impaciente. E fez uma careta, levando as mãos um pouco abaixo do umbigo,
pressionando a área.
–
Preciso saber sim! – Exclamei insistente. – Tá sentindo muita dor? Quer ir ao
médico? A gente pode... – Lua me interrompeu.
–
Não. É só um desconforto. Pelo amor de Deus, é constrangedor falar disso com
você. – Suas bochechas ganharam um tom de vermelho adorável.
–
É constrangedor falar sobre isso comigo? – Perguntei sarcástico. – Você não
pode estar falando sério. – Fechei os olhos. – Não me venha com essa conversa
ridícula. Sei de coisas mais íntimas que essa sobre você, Lua.
–
Fecha a porta. Não vou pedir novamente e se não fizer, vou ficar chateada. –
Avisou.
–
Lua, só quero ajudar. Fico preocupado, sabe disso. – Falei mais calmo.
–
Eu sei e me desculpa. Mas não precisa se preocupar...
–
Acha que ontem foi um pouco demais o que fizemos? – Sussurrei. – É por isso que
está assim? – Continuei e Lua me olhou com um semblante calmo.
–
Não foi sua culpa, se é isso que está insinuando. – Respondeu calma. – Eu
queria também e não me arrependo. Embora doa um pouquinho pra fazer xixi agora.
– Murmurou.
–
Lua! – Repreendi em um tom baixo.
–
Não estou mentindo. – Assegurou ela. – Só acho que vou precisar mais do que um
dia para me recuperar... sabe?
–
Pelo amor de Deus! – Exclamei, revirando os olhos. – Você me deixa preocupado e
agora fala isso? – Falei e Lua tentou disfarçar um sorriso. – Vou fechar a
porta e se você não sair em três minutos, eu abro de novo. – Avisei. Tentando
permanecer sério. Não queria falar gracinhas no momento.
–
Obrigada. – Agradeceu, fazendo um gesto para que eu saísse logo.
Fechei
a porta e voltei para a cozinha. Anie ainda estava comendo da torta de morango
e me ofereceu, quando me viu sentar ao seu lado.
–
Não quer mais?
–
Não, papai. Eu já tô cheia. – Falou empurrando o pratinho na minha direção.
–
Encontrou a Lua? – Carla me perguntou, parando de lavar a louça. – Tá tudo bem?
–
Encontrei. Ela disse que sim... coisa de mulher. – Respondi erguendo uma
sobrancelha para ela. Óbvio que eu não iria falar que transamos tanto na noite
passada, que agora minha mulher estava sentindo um leve desconforto.
–
Aah, sim. Entendo... – Ela falou e terminou de ensaboar o último prato. – Mel
foi almoçar com Micael e Sophia. Ele veio busca-la as onze e pouco. – Contou,
mudando de assunto.
–
Ela passou bem essas últimas semanas? Acho que ela e Lua conversaram bem pouco.
– Comentei. Terminando de comer a torta. Estava uma delícia. Já comentei que
Carla é uma cozinheira de mão cheia? Pois é, ela é.
–
Passou sim. Bom, pelo menos ela não se queixou de nada. E nem eu e Carol
notamos algo de estranho. – Me respondeu. – Quer mais uma fatia de torta?
–
Quero sim. – Respondi entregando o prato a ela. – Que bom. Voltamos hoje porque
amanhã ela tem uma consulta e quer que Lua vá junto. – Expliquei.
–
Não é querendo me meter... – Carla começou. – Mas você acha isso uma boa ideia?
– Murmurou quando me entregou a torta. – Bom, você sabe do que estou falando...
– Completou.
–
Sei, sim. Bom, eu meio que não sei. Mas Lua pareceu não se importar muito com
isso. Só vamos ficar sabendo se foi uma boa ideia ou não, amanhã quando elas
voltarem. – Me apressei na última parte ao ver Lua entrar na cozinha. Carla
assentiu e olhou para Lua que nos observava um pouco curiosa. – A torta está
uma delícia, você precisa provar. – Falei erguendo a colher para ela que
sorriu, agora confusa.
–
Tudo bem por aqui? – Lua perguntou se aproximando de mim e sentando em meu
colo. Ela levou a colher com um pedaço da torta a boca.
–
Tudo sim. Mel foi para a casa do Micael e da Sophia. – Carla voltou a falar.
–
Aah, sim. Mas ela está bem? Nos falamos umas três vezes só.
–
Sim, está. – Carla afirmou.
–
Eu já ia atrás de você. – Sussurrei próximo ao seu ouvido.
–
Mamãe? – Anie lhe chamou a atenção.
–
Oi, amor. – Lua falou, comendo o terceiro pedaço da minha torta. Ela não tinha devolvido mais a minha colher.
–
Tá gostosa a torta né, mamãe? E é de molango!
–
Sim, está muito gostosa. – Lua concordou, sorrindo para a filha. – E eu adoro
morangos! – Finalizou, virando o rosto para me olhar.
–
Tão gostosa que a senhorita esqueceu de me devolver a colher. – Comentei
distraidamente só para provoca-la; apertando sua coxa de leve.
–
Ai que chato. – Lua deu um tapa em minha mão, me fazendo rir.
–
Eu também gosto de molangos! – A garotinha exclamou. – Sabia Carla e Carol que
meu papai fez uma surplesa pra minha mamãe, lá na viagem? – Contou, nos fazendo
rir. Lua apertou minha mão que estava embaixo da sua.
–
Foi? – Carol indagou e Carla só riu, enxugando as louças.
–
Foi. E foi lindo, né papai? Né mamãe?
–
Sim, foi lindo. – Confirmei. Apertando novamente a coxa de Lua.
–
Foi lindo sim, filha. – Lua também concordou.
–
Como é que foi a surplesa, papai? O nome de surplesa...
–
Como assim, o nome da surpresa, filha? – Eu ri.
–
Aquele nome... quando é bonito. – Tentou explicar, e Lua franziu o cenho ao me
olhar. Carol começou a rir junto com a irmã.
–
Eu não estou entendendo, Anie. – Comentei.
–
Ai! – Ela exclamou impaciente. – Eu não sei falar ele. Eu esqueci.
–
Tenta explicar de novo, filha. – Lua pediu. – A gente vai descobrir qual o nome
da surpresa que você quer falar. – Assegurou e a pequena lhe encarou, sorrindo
sem mostrar os dentes.
–
É quando a surplesa é de namolados. – Começou, nos fazendo rir mais ainda. O
que a fez fazer uma careta, por não ter achando graça na nossa reação. – Não é
pra rir. – Pediu irritada.
–
Eu acho que sei qual é a palavra. – Lua comentou, se ajeitando em meu colo.
–
Qual é então? – Indaguei.
–
Então diz logo, mamãe! – Anie pediu impaciente.
–
Uma surpresa romântica? – Sugeriu, erguendo uma sobrancelha e Anie assentiu
freneticamente antes de responder.
–
É, mamãe! Romântica quando é de namolados. Né papai?
–
Sim, romântica quando é de namorados. – Sorri, depositando um beijo no ombro de
Lua. Ela tinha acabado com a minha torta.
–
É que eles são namolados, por isso Carol. – Concluiu, olhando para a mulher.
–
Namorados, é? – Ela indagou, achando engraçado. Anie sempre se referia a nós
como namorados. Ela achava que todos os casais eram namorados. A pequena não ia
entender se explicássemos que éramos mais que namorados. Ela nem fazia ideia do
que era casamento ainda. E para falar a verdade, o ponto de vista dela sobre
minha relação com a Lua, é a coisa mais fofa do mundo.
–
Ééé... Namolados. – Afirmou, se jogando no colo de Lua e envolvendo a cintura
da mãe com os bracinhos. Lua se debruçou sobre a filha, lhe dando um beijo nas
costas.
–
Coisa mais linda da minha vida da mamãe. – Sussurrou, agora acariciando os
cabelos da pequena.
–
É?
–
É, meu anjo. – Lua afirmou.
–
Mamãe?
–
Oi.
–
Eu quelo dormir de novo. – Contou.
–
De novo? – Falei, tentando apertar o nariz dela, mas Lua acabou batendo em
minha mão. – Onde você arruma tanto sono assim? – Provoquei.
–
Mamãe... – Fez manha. Ela sempre chamava Lua quando eu começava a provoca-la.
–
Tá, vem... eu vou banhar você, tudo bem? – Lua perguntou, se levantando do meu
colo. E ficando de pé, na frente da nossa filha. Que ergueu os braços para que
a mãe a carregasse. – Ai depois, eu coloco você pra dormir, ok?
–
Plecisa mesmo tomar banho?
–
Porquinha... – Provoquei outra vez e Lua carregou a pequena.
–
Precisa, pra dormir melhor. – Lua tentou convencê-la.
–
Não sou porquinha... eu sou cheilosa, papai. – Me disse. – Né mamãe?
–
Sim, meu anjo. Muito cheirosa. – Lua afirmou, cheirando o pescoço da filha, que
acabou se encolhendo.
–
Tá vendo? – Anie me perguntou, e logo enterrou o rosto no pescoço da mãe.
Fazendo todos nós cairmos na risada.
–
Vá logo tomar banho. – Falei, lhe dando uma palmada na bunda.
Três
e trinta e cinco da tarde.
Eu
acabei subindo para o quarto depois que Lua deixou a cozinha junto com Anie. Tomei
um banho e me deitei na cama, esperando por Lua que demorou a aparecer. Peguei
meu celular e comecei a mexer nele, vendo as mensagens que eu tinha ignorado
durante a viagem – inclusive uma da minha mãe: “Preciso falar com você!”
Que se Lua soubesse, ia me ralhar.
A
porta se abriu depois de muito tempo e ela entrou, já tirando o vestindo e
jogando no cesto de roupa suja. Soltei um sorrisinho, só para provoca-la –
aquela bunda era maravilhosa e me deixava com vontade de dar uns tapas – e
voltei a olhar para a tela do celular.
Mas Lua não me deu bola e caminhou para o banheiro. Pensei em perguntar
se ela tinha melhorado, mas eu não queria gritar essa pergunta.
Quando
ela voltou, eu tinha acabado de enviar uma mensagem para a minha mãe, e estava
aguardando a resposta. Eu não sabia o que ela queria falar comigo, mas não
devia ser algo tão urgente. Caso contrário, dona Laura teria insistindo
mandando mais mensagens ou até mesmo, ligando. O que seria mais rápido.
–
O que você tá fazendo? – Me perguntou, sentando-se na beirada da colchão.
–
Eu estou esperando que minha mãe responda a minha mensagem. Ela quer falar
comigo, e eu não faço ideia de qual seja o assunto. – Expliquei.
–
Será que é algo grave? Por que você não liga? – Indagou, me encarando. Porque faz quase três dias que ela me mandou
a mensagem. Óbvio que eu não ia contar.
–
Talvez ela esteja ocupada. – Encolhi os ombros. – Quando ela ver, vai me
responder. E você? Melhorou? – Mudei de assunto.
–
Um pouco. – Lua franziu o cenho. – Não quero falar desse assunto o dia inteiro,
Arthur. Pode parar! – Pediu.
–
Eu só fiz uma pergunta. O que é? Não posso mais saber de nada? – Provoquei. –
As últimas semanas foram o quê? Você não foi nada tímida, e agora vem com essa?
– Comentei e Lua me deu um tapa.
–
Para. Para. Para. – Mandou. – Eu sabia que você ia ficar de graça. Paaaraa,
Arthur! Essas coisas acontecem...
–
Eu não disse que não. Só fiz uma pergunta mesmo. Você que fica aí nessa
conversinha chata. – Revirei os olhos. E Lua me imitou.
–
Enfim, não quero falar disso. Então, trate de achar outro assunto.
–
O que vamos fazer hoje, por exemplo? – Perguntei. – Esse tipo de assunto?
–
Você já foi melhor nisso. – Provocou. – Mas se for pra deixar o outro para
trás, esse serve. – Finalizou.
–
Pois bem, então responda.
–
Eu não sei. Eu não quero fazer nada, e acho que a nossa filha também não. Nós
acabamos de chegar de viagem. – Deu de ombros. – Quero descansar um pouco. –
Riu.
–
Mais um pouco, você quis dizer né?
–
É, por aí assim... – Disse fechando os olhos. – E você?
–
Bom, você quer descansar. O que acha que eu vou fazer? Não tenho muita opção. –
Respondi, fazendo Lua rir outra vez.
–
Amanhã tem a consulta da Mel. Acho que vai ser de manhã. Tenho que perguntar,
quando ela chegar. Será que ela vai demorar? Já são quase quatro e dez. –
Falou, olhando para o relógio que ficava sobre a cômoda. – E também ela nem
sabe que já voltamos. – O olhar de Lua cravou no relógio e eu pigarreei para
chamar sua atenção antes de lhe fazer uma pergunta.
–
Hã-hã... Então, e em relação a essa consulta e tal. É uma boa ideia mesmo ir?
Só para saber o que esperar de você quando voltarem para casa. – Indaguei,
mostrando toda a minha preocupação.
–
Não vejo o que tem de ruim ou errado em eu ir. Você ver? – Retrucou, deixando
claramente em seu tom de voz, que esse assunto não era bem-vindo.
–
Não sei. Por isso estou te perguntando. O problema aqui não sou eu... – Comecei
e Lua me interrompeu.
–
Então o problema aqui é eu? – Perguntou, erguendo as sobrancelhas.
–
Você não está deixando eu explicar e está me interpretando errado. – Avisei.
–
Então se explique melhor. – Pontuou.
–
Como eu ia dizendo, o problema não sou eu, – repeti – até porque, eu nem vou a
essa consulta. Eu estou falando de você. Porque estou preocupado com você. E
nem venha bancar a forte ou a desentendida que eu sei muito bem que você sabe o
porquê da minha preocupação. Somos adultos e a essa altura, é até desnecessário
detalharmos o que estamos querendo dizer um ao outro. Sendo que nós dois
sabemos muito bem do que se trata. – Conclui e Lua estava me olhando atenta.
–
Eu não vejo nenhum problema de ir acompanhar a Mel, a essa consulta. Sendo que
ela quer que eu esteja lá, porque não tem outra pessoa para ir com ela. Ou sei
lá, nenhuma outra que ela queira levar. E quanto ao assunto que você está
insinuando... – A interrompi.
–
Não estou insinuando. Eu só não preciso ser direto quando você já sabe o que eu
quero falar. – Corrigi. Estávamos com um pé em uma conversa amigável e com o
outro em uma discussão que não nos levaria a outro lugar, senão a ficar se nos
falarmos.
–
Ok. – Lua fez uma expressão de tédio. – Quanto a esse assunto, eu também não
vejo problemas. Confirmei que ia e não vou voltar atrás.
–
Tenho certeza de que Mel entenderá, caso você queira voltar atrás. – Comentei.
–
Eu não quero. Aliás, isso nem passou pela minha cabeça. Você devia estar me
apoiando, não querendo que eu me esconda disso. – Finalizou chateada. E sua
última frase me deixou muito chateado também.
–
Eu não quero que se esconda. – Pontuei, fazendo um gesto exagerado com as mãos.
– Então quer dizer que eu não te apoio? É isso? Ah, por favor, Lua. Você confunde
cuidado, preocupação com alguma coisa próximo de reprimir! – Exclamei irritado.
– Você tem que entender que eu só quero que fique bem. Que eu não vou suportar,
caso você fique triste com alguma coisa. E não me olha como se eu estivesse
delirando. Eu te conheço como a palma da minha mão e eu sei muito bem do que
estou falando. – Finalizei soltando um longo suspiro.
–
Você é muito exagerado. – Retrucou. – Não quero brigar. – Acrescentou.
–
Estamos conversando. – Falei meio emburrado. – Deveríamos falar mais sobre o
assunto, ainda tem muita coisa para ser dita. Você mesmo admitiu isso semana
passada. Então não venha querer colocar uma pedra em cima de tudo achando que
eu vou esquecer, porque eu não vou. Nem que da próxima vez a gente tenha que
brigar. Não que eu queira, mas se for necessário, não vou ficar vendo você
morrendo aí porque quer guardar as coisas pra você. Precisa falar Lua! Falar!
Se não quer falar comigo, eu acho muito difícil querer falar com outra pessoa.
Mas se quiser, não vou ficar chateado. Isso vai até me deixar aliviado, se isso
te fizer bem.
–
Não quero falar com outra pessoa. Tudo que eu tiver de dizer, digo pra você. –
Me disse, agora mais calma.
–
E por que não começa a me contar logo?
–
É que eu não quero. Agora não, Arthur. Por favor...
–
Há quase um mês você não queria, semana passada também não e hoje também não tá
na hora. Quando Lua? Então, me diz quando.
–
Eu não sei. – Sua resposta saiu um pouco desesperada. Como se ela quisesse esquecer
o assunto.
–
Bom, eu só quero saber se vai ficar tudo bem mesmo. Nada mais que isso. Mas se
você estar achando que eu estou me intrometendo demais, eu posso simplesmente
tentar esquecer, assim como você estar fazendo agora. Eu só não quero que você
venha querer me culpar depois. – Deixei bem claro. – Estamos em um ponto no
casamento que eu tenho certeza, que é até ridículo tentarmos esconder as
coisas, sabendo que isso é de interesse de nós dois. – Fiz um gesto com o dedo no
espaço entre eu e ela. Lua não disse mais nada, ela apenas me encarava. – Ficar
muda, também não ajuda em nada. E você já deveria saber disso. – Acrescentei
meio irritado.
–
Hoje, eu não quero levar esse assunto adiante… Mal chegamos e já estamos assim.
E as últimas semanas foram completamente diferentes.
–
Estávamos ocupados demais transando pra conversar sobre bebês, Lua. – Falei
irônico. Porque sabia muito bem o que ela estava insinuando. Tínhamos feito tantas coisas, e tivemos duas
semanas para conversar e só hoje eu toquei no assunto. Se não fosse isso,
eu nunca mais irritaria ela.
–
E não sou eu que vou negar. – Retrucou se levantando.
–
Você é quem sabe. Depois não vem falar que eu não estou me importando.
–
Aah, Arthur... – Disse antes de sair do quarto e fechar a porta.
Soltei
um suspiro irritado demais. Lua era uma mulher muito difícil de se entender na
maioria das vezes, e se eu não a entendia, outras pessoas entenderiam menos
ainda. Ela me disse que queria conversar sobre o assunto, há alguns dias. E
agora fica fugindo.
Pov
Lua
Eu
não queria falar sobre o bebê dos outros, com Arthur. E muito menos da nossa
perda. Não era um assunto para se ter antes de uma consulta ao obstetra. Queria
que Mel chegasse logo. Anie ainda estava dormindo, e agora Arthur estava
chateado comigo. E nós acabamos de chegar em casa. Ainda faltavam duas semanas
para eu voltar ao trabalho.
Parece
que as pessoas ao meu redor estavam todas engravidando justamente quando eu não
podia mais. E não. Eu não estava triste com isso. Eu sabia o quanto minha irmã
queria um filho; e se fosse menina então, ela surtaria. Amava rosa, e vestidos
rodados e flores. Meu Deus, minha sobrinha seria uma coisinha rosa ambulante e
cheia de lacinhos. Eu adoraria implicar com Sophia por isso. Ela com certeza
ficaria muito irritada. E eu ia me divertir. E Mel também queria tanto um
filho, talvez ele só não tenha vindo em boa hora – mas como ele ia adivinhar? –.
Porque essa bagunça toda que se tornou a vida dela, não ajudou em nada. E Chay
não queria; agora ele nem sabia que um filho estava a caminho. E com certeza
nada disso estava sendo fácil para a minha amiga. Ela também precisava
conversar.
Me
sentei no sofá com um copo de whisky na mão. Não sei como Arthur bebia isso sem
fazer cara feia. Meu Deus! Esse era forte demais para o meu gosto. Quase cuspir
de volta no copo porque saiu queimando meu estômago e me deu enjoo.
Perto
das seis horas da tarde, Mel voltou. Perguntei sobre a consulta e ela disse que
seria as nove e meia. Também disse que estava cansada e que ia tomar um banho e
se deitar. Concordamos em conversar no dia seguinte. E ela foi para o quarto.
Logo Anie acordou e veio ficar comigo na sala. Disse que não queria comer, mas
que queria um mingau. Pedi para que Carol fizesse, porque na verdade eu só
queria ficar ali, deitada com a minha filha no colo. Arthur ainda não tinha
descido do quarto. E Anie não perguntou pelo pai, o que eu achei estranho.
Ela
não demorou a voltar a dormir de novo. E eu fiquei um pouco inquieta, porque
ela estava dormindo demais. E Anie não era assim. Arthur desceu a escada e foi
para a cozinha. O seguir com o olhar, até ele passar pelas portas da cozinha e
sumir.
–
Faz tempo que ela dormiu? – Perguntou ele, sentando no outro sofá.
–
Um pouquinho. – Respondi, sem olha-lo.
–
Mel já chegou?
–
Sim, faz tempo. Ela já foi até dormir. – Falei.
–
Vai demorar aí? – Arthur levantou do sofá.
–
Por que?
–
Porque eu já vou dormir. – Me disse. – Quer que eu leve a Anie para o quarto?
–
Aham... – Assenti, ajeitando a pequena para que Arthur a carregasse.
Ele
queria estender a bandeira branca de paz. E ok. Eu também queria isso. Odiava discutir
com ele.
Arthur
pegou nossa filha no colo e subiu os degraus. Anie já estava de pijama. Então eu
só a cobrir quando ele a colocou na cama. Desejamos bons sonhos a ela e lhe
demos um beijo de boa noite e depois fomos para o nosso quarto.
–
Eu não queria que ficássemos nesse clima. Por isso não queria tocar no assunto
do bebê. Você podia me ouvir de vez em quando. Não achar que eu vivo querendo
fugir do assunto. – Revirei os olhos só para não perder o costume. Arthur
seguiu mudo até a cama. Ele tirou o short e a camisa e se deitou na cama.
Fiquei esperando que ele falasse alguma coisa.
–
E você acha que eu queria discutir e ficar sem falar com você? Claro que não. Mas
é a senhorita quem não me escuta. Então nem vem colocar a culpa em mim.
–
Ok, ok. Reconheço que sou difícil as vezes...
–
Às vezes? – Perguntou irônico. – Você só pode estar de brincadeira. –
Completou. – Você sempre é difícil, Lua. Admite que é melhor. – Pediu. E eu
tirei minha blusa e meu short, deixando as roupas em cima da poltrona. Abri o
feixe do meu sutiã e joguei o mesmo em cima das outras roupas. Ouvi um suspiro
de Arthur e andei até a cama. – Aah, não! Você vai dormir assim? – Indagou.
–
Claro que vou. Qual o problema?
–
Nenhum se fossemos fazer alguma coisa. – Comentou.
–
Eu sempre achei bem mais confortável dormir com pouca roupa. – Arthur me
interrompeu.
–
Nua você quis dizer.
–
Então, eu sempre gostei e nos últimos dias eu fiquei bem mal-acostumada. Então
a culpa é sua. Agora, terá que me aguentar assim. – Dei de ombros e me deitei
na cama junto dele.
–
Não pense que eu esqueci da nossa conversa.
–
Eu sei que não esqueceu, meu amor.
–
Que bom. Agora estamos entendidos?
–
Acho que sim. E você?
–
Acho que estamos no caminho certo. – Respondeu, me dando um beijo na testa.
–
Se eu dormir demais, me chama antes das oito e meia, tá?
–
Tá bom.
–
Você falou com a sua mãe?
–
Não. Ela não me respondeu.
–
Uhm... ainda acho que você poderia ter ligado.
–
E eu ainda acho que não é nada grave.
–
Se você tem tanta certeza.
–
Huum...
–
Eu estou cansada. – Comentei. – Tomei uma dose daquele whisky e quase coloquei
tudo pra fora.
–
Você odeia aquele whisky, Luh. – Arthur riu.
–
Pois é. E agora mais ainda. – Fiz uma careta e ele beijou a ponta do meu nariz.
–
Vamos dormir. Estou com sono já...
–
Vamos. Boa noite, Arthur.
–
Boa noite, Luh. – Ele me deu um selinho.
Não
precisávamos encarar uma nova conversa para fazermos as pazes. Acho que nem ele
e nem eu tínhamos energia o suficiente para isso.
Era
melhor economizar as palavras, e encontrar um jeito mais fácil de voltar a nos
falarmos sem um clima chato no meio de tudo. E acabamos encontrando e isso era
bom demais. Porque eu não queria dormir chateada com Arthur e muito menos que
ele dormisse chateado comigo.
Continua...
SE
LEU, COMENTE! NÃO CUSTA NADA.
N/A: Boa noite. Demorei um
pouquinho haha mas o que importa é que a atualização está aqui.
O
que acharam do capítulo? E dessa discussãozinha do casal hein? Esse assunto
sempre rende. Quem torce para que eles se entendam logo em relação a isso? \o/ Eeeeeuuuuu!
E
o que foi dona Anie falando da surpresa que o Arthur fez para a Lua? Hahaha que
amor <3 tão linda falando.
Beijos
e até breve!
Lindo capítulo! Anie sempre tão fofa!
ResponderExcluirTá tão amor essa fic que as vezes eu penso que vai dar alguma merda e a cada capítulo se confirmar e meu medo só aumenta,Deus queira que não seja grave, aaah anie falando da surpresa é tão amor, vou te contar vou, lua já tá começando a me irritar sinceramente
ResponderExcluirxxvanessa
Estou amandooo !!!
ResponderExcluirAdorei o capítulo! Lua as vezes muito irritante o Arthur só quer o bem dela,
ResponderExcluirAdorei o capítulo! Lua as vezes muito irritante o Arthur só quer o bem dela.
ResponderExcluirTaty
A Lua ne irritou hj mds. A Anie é um amor, sou apaixonada e o Arthur tem nem o que falar neh? Amo amo
ResponderExcluirAmei o capítulo tirando a Lua que me estressou,a Anie e o Arthur acabam com o meu coração
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCapítulo lindo discussão sempre rende pra esses dois anie um fofa sempre ❤
ResponderExcluirSe antes eu já tinha vontade de apertar a Anie de tanta fofura,nesse capítulo então nem se fala,que amor *___*uma fofura
ResponderExcluirEsse assunto sempre rende, estou torcendo muito para eles superarem isso,mas pelo visto isso vai demorar kkk acho que isso ainda vai dar muito problema.
Amei o capítulo, como sempre kkk mas estou me preparando psicologicamente, porque eu acho que vem coisa ruim pela frente,aí meu coração
Caroline
Não aguentam ficar brigados, já fizeram as pazes.
ResponderExcluirNão aguentam ficar brigados, já fizeram as pazes.
ResponderExcluirAnie sempre fofa,amei ...continua <3
ResponderExcluirAnie, sempre um poço de fofura . Quero uma filha assim pra mim e parecida com o Arthur tbm , acho que vou precisar da ajuda dele pra fazer uma anie tbm kkkkkkkk. Aí Deus, mas esse casal não sabe viver um sem o outro kkkk, não aguentam ficar um dia brigados. XX adaline
ResponderExcluirAnie podia ficar assim pra sempre, não crescer pra continuar sempre essa fofura que ela é!! Arthur todo preocupado com a Lua e ela acha ruim, ele ta perdido com essas duas estressadas em casa! Helena
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